Instituto Superior de Línguas e Administração
“Coaching”
Influência no Desenvolvimento Pessoal e Profissional
Joana Sofia Esteves Correia
Vila Nova de Gaia
2012
Instituto Superior de Línguas e Administração
“Coaching”
Influência no Desenvolvimento Pessoal e Profissional
Joana Sofia Esteves Correia
Tese submetida para satisfação parcial dos requisitos
do grau de Mestre em Gestão de Recursos Humanos
sob a orientação da Prof(a). Doutora Maria Paula Oliveira Campos
Vila Nova de Gaia
2012
Instituto Superior de Línguas e Administração
“Coaching”
Influência no Desenvolvimento Pessoal e Profissional
Joana Sofia Esteves Correia
Aprovada em ----/----/----
Composição do Júri
_____________________________________________________
Prof.(a) Doutor(a) ……………………….
Presidente
_____________________________________________________
Prof. (a) Doutor(a) ……………………….
Arguente
___________________________________________________
Profa. Doutora Maria Paula Oliveira Campos
Orientador
Tese de Mestrado realizada sob a orientação da
Prof.(a) Doutora Maria Paula Oliveira Campos,
apresentada ao Instituto Superior de Línguas e
Administração de Vila Nova de Gaia para obtenção do
grau de Mestre em Gestão de Recursos Humanos.
“À minha Família, pilar e motivação de minha vida!”
Agradecimentos
Em qualquer objectivo que nos propomos alcançar, seja como um desafio pessoal ou
simplesmente porque desejamos, é imprescindível o apoio dos que nos rodeiam. Por isso,
desta forma agradeço, de forma muito especial, a todos aqueles que vem caminhando a meu
lado, motivando-me e dando-me forças para alcançar as minhas metas, Família e Amigos…
Em particular ao meu Pai por me proporcionar um ambiente descontraído e assim
contribuir para que o meu estado de ansiedade seja diminuído e me demonstrar diariamente
que para ser alguém é preciso erguer a cabeça, lutar e suar.
À minha Mãe por acreditar nas minhas capacidades e me acarinhar nos momentos de
maior tensão.
Ao meu Irmão que pela sua simples presença em minha vida, lhe dá outro sentido.
A toda a minha Família, com destaque pela minha Avó, e Amigos, aos quais nestes
últimos tempos não tive oportunidade de lhes dedicar atenção habitual, nem partilhar com eles
o tempo e os momentos que desejei, demonstrando sempre compreensão e motivando-me
alcançar este meu objectivo. “Já não imagino a tua vida sem tese”, expressão proferida por
uma amiga…
Agradeço também aos meus colegas de mestrado, salientando o apoio do Carlos Silva
e a partilha de informações constantes com o nosso delegado Lopes.
A todos os Professores do curso e principalmente à minha Orientadora, Doutora Paula
Campos, pelos ensinamentos, compreensão e apoio constante.
A toda a equipa do ISLA pela amabilidade e receptividade demonstrada a todo o
momento!
E a mim própria que independentemente dos obstáculos e angústias com que me
deparei, abdicando de momentos de lazer, com familiares e com amigos, acreditei que seria
capaz e concretizaria mais um objectivo ao qual me propus.
XI
XII
Resumo
Face à actual conjuntura com que o mundo organizacional se depara, com as constantes
necessidades de mudança, empreendedorismo e inovação, para que as organizações possam continuar
a “sobreviver” e acompanhar a competitividade necessitam de se munir em termos de novas técnicas e
novas estratégias. A parte humana vem ocupando cada vez mais uma posição de destaque neste meio,
pelo que uma das principais formas das organizações se conseguirem manter competitivas passa pela
forte aposta no potencial humano, inovando em termos de gestão de pessoas, com vista ao seu
desenvolvimento pessoal e profissional.
O Coaching ocupa aqui, segundo a literatura uma posição de destaque, constituindo-se como
uma ferramenta promotora do desenvolvimento de pessoas, com vista ao sucesso organizacional. Mas
será que efectivamente os processos de Coaching contribuem para o desenvolvimento pessoal e
profissional, possibilitando melhorar a performance dos indivíduos? É nesta premissa que a presente
investigação se baseia, pois visa através do método da entrevista e da técnica da análise de conteúdo
identificar um conjunto de indicadores que possam comprová-la. O grupo alvo inclui um conjunto de
indivíduos que já tenham beneficiado de algum dos tipos de processo de Coaching.
Com a investigação empírica da presente investigação conclui-se que, efectivamente, os
processos de Coaching se apresentam como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional
com impacto e influência em vários níveis e áreas do indivíduo.
Palavras – Chave: Coaching, Desenvolvimento Pessoal/Profissional, Sucesso Organizacional
XIII
Abstract
Given the current situation that the organizational world is facing, the constant changing
needs, so that entrepreneurship and innovation organizations can continue to "survive" and follow the
competitiveness, the preparation needed in terms of new techniques and new strategies. Human part is
occupying an increasingly prominent position in this way, one of the main forms of organizations so
they can remain competitive , is by strongly invest in human potential, innovating in terms of people
management, with a view to their personal development and professional. Coaching holds here,
according to the literature, a prominent position. Constituting themselves as a tool promoting the
development of people with a view to organizational success. But is it actually the processes of
Coaching that contribute to a personal and professional development, enabling individuals to improve
performance? It is on this permit that this research is based, it aims through the interview method and
technique of content analysis, to identify a set of indicators that can prove it. The target group includes
a number of individuals who have already benefited some types of Coaching process.
With the empirical investigation of this research we can conclude that indeed Coaching
processes are presented as a tool for personal and professional development with impact and influence
on various levels and areas of the individual.
Keywords: Coaching, Personal/Professional Development, Organizational Success
XIV
XV
Índice
Resumo ……………………………………………………………………………….…….XIII
1. Introdução…………………………………………………………………...……………...1
2. Enquadramento Teórico/Revisão da Literatura ……………………………………………5
2.1Organizações – Evoluir ou Morrer …………………………………………………..5
2.2 Da Gestão de Pessoal à Gestão de Recursos Humanos …………………………….11
2.2.1 Evolução das práticas e do conceito de GRH …………………………………11
2.2.2 Evolução das práticas e do conceito de GRH em Portugal …………………...13
2.3 O Gestor de RH e a Mudança ………………………………………………………16
2.4 “Coaching” ………………………………………………………………………….18
2.4.1 Origem do Coaching – Correntes …………………………………….………18
2.4.2 Coaching em Portugal …………………………………………………..…….20
2.4.3 O conceito “Coaching” ………………………………………………………..21
2.4.4 Os Intervenientes num processo de Coaching ………………………………...23
2.4.4.1 “Coach” ……………………………………………………………..23
a) Qualidades do Coach ……………………………………………………..24
b) Capacidades e Competências Profissionais do Coach ……………………25
c) Formação ………………………………………………………………….25
2.4.4.2 Coachee ……………………………………………………………..26
2.4.4.3 Líder Coach vs Líder Tradicional …………………………………..27
2.4.5 Tipos de Coaching …………………………………………………………….27
2.4.6 Modelos de Coaching …………………………………………………………29
2.4.6.1 Modelo GROW ……………………………………………………..30
2.4.6.2 Modelo ACHIEVE …………………………………………………32
2.4.6.3 Modelo CLEAR …………………………………………………….34
2.4.6.4 Outros Modelos ……………………………………………………..35
2.4.7 Ferramentas de “Coaching” …………………………………………………...35
2.4.8 Coaching e outras práticas de desenvolvimento pessoal e profissional ………36
2.4.8.1 “Coaching” vs Mentoring …………………………………………..38
2.4.8.2 “Coaching” vs Aconselhamento ……………………………………40
2.4.8.3 “Coaching” vs Psicoterapia ………………………………………...42
2.4.8.4 “Coaching” vs Consultoria …………………………………………43
XVI
2.5 “Coaching” Organizacional ………………………………………………………...44
2.5.1 Coaching Executivo …………………………………………………………...47
2.5.2 Efeitos do “Coaching” em contexto profissional ……………………………...49
3. Enquadramento do Estudo Empírico ……………………………………………………..55
3.1 Objectivos …………………………………………………………………………...57
3.1.1 Objectivo Geral ………………………………………………………………..57
3.1.2 Objectivos Específicos ………………………………………………………...57
3.1.3 Questão inicial ……………………………………………………………..….57
3.1.4 Hipóteses ………………………………………………………………………57
3.1.4.1 Hipótese principal …………………………………………………..57
3.1.4.2 Hipóteses secundárias ………………………………………………57
3.1.5 População-Alvo ……………………………………………………………….58
3.1.6 Metodologia da investigação ………………………………………………….59
3.1.7 Técnica de investigação ……………………………………………………….59
3.1.8 Técnica de análise de dados …………………………………………………...61
4. Resultados ………………………………………………………………………………..63
4.1 Perfil Pessoal ………………………………………………………………………...63
4.1.1 Idades ………………………………………………………………………….63
4.1.2 Género …………………………………………………………………………64
4.1.3 Estado Civil ……………………………………………………………………64
4.2 Perfil Escolar/Formativo …………………………………………………….……...65
4.2.1 Áreas de Formação Académica ……………………………………………….65
4.2.2 Ações de Formação ……………………………………………………………66
4.3 Perfil Profissional …………………………………………………………….…….66
4.3.1 Profissão Atual ………………………………………………………………... 66
4.4 “Coaching” ………………………………………………………………………….68
4.4.1 Definição ………………………………………………………………………68
4.4.2 Tipo …………………………………………………………………………….70
4.4.3 Propósito …………………………………………………………………..…...71
4.4.4 Meio de participação …………………………………………………………..72
4.4.4.1 Iniciativa própria …………………………………………………....72
4.4.4.2 Motivo …………………………………………………………...…..73
4.4.3 Sessões …………………………………………………………………….…..74
XVII
4.5 “Coaching e Ambiente Profissional” …………………………………………….….75
4.5.1 Influência no Contexto de Trabalho ……………………………………….….75
4.5.2 Influência/Mudança do comportamento na organização ………………….….77
4.6 Coachee ………………………………………………………………………….…..79
4.6.1 Experiência: aspectos positivos ………………………………………….….…79
4.6.2 Experiência: aspectos negativos …………………………………………….…81
4.7 Grau de satisfação para com o processo/formação de Coaching …………………..81
4.8 Mudanças: nível pessoal/profissional ……………………………………….………82
4.8.1 Principais mudanças esperadas antes de iniciar o processo ………………..…82
4.8.2 Principais mudanças efetivamente ocorridas após processo de Coaching ……84
4.9 Relacionamento Interpessoal ……………………………………………………….86
4.10 Liderança …………………………………………………………………………..87
4.11 Influência na Gestão de vida pessoal ………………………………………………89
4.12 Influência do Coaching no desenvolvimento Pessoal e Profissional ………………91
5. Análise e Discussão de Resultados ………………………………………………………..93
5.1 Hipóteses Secundárias ……………………………………………………………...93
5.1.1 Os processos de Coaching possibilitam melhorias no desempenho dos
indivíduos.……………………………………………………………………………….93
5.1.2 Os processos de Coaching facilitam o Relacionamento Interpessoal ………..95
5.1.3 Os processos de Coaching possibilitam alcançar mudanças no comportamento
organizacional …………………………………………………………………………..96
5.1.4 Os processos de Coaching contribuem para uma melhoria no ambiente
organizacional …………………………………………………………………………..97
5.1.5 Os processos de Coaching influenciam o estilo de Liderança ………………..99
5.1.6 Os processos de Coaching trazem benefícios a nível da gestão de vida
pessoal………………………………………………………………………………….100
5.2 Hipótese Principal: os processos de Coaching influenciam o desenvolvimento pessoal
e profissional das pessoas ………………………………………………………………101
6. Conclusão ……………………………………………………………………………….103
Bibliografia...…………………………………………………………………......................107
Anexos ...………………………………………………………………….............................113
XVIII
Lista de Figuras
Fig. 1 – GROW: o significado – p. 31
Fig. 2 – Modelo GROW com exemplos de questões – p. 32
Fig. 3 – Passos do processo de Coaching no modelo Achieve – p. 33
Fig. 4 – Etapas do modelo CLEAR – p. 34
Fig. 5 – Passos adoptados na investigação empírica – p. 55
XIX
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Fases de desenvolvimento do Coaching – p. 19
Tabela 2 – Diferenças entre Coaching e outras práticas de desenvolvimento pessoal e
profissional – p. 38
Tabela 3 – Diferenças entre Coaching e Mentoring – p. 40
Tabela 4 – Diferenças entre Coaching e Aconselhamento – p. 41
Tabela 5 – Diferenças entre Coaching e Psicoterapia – p. 43
Tabela 6 – Diferenças entre Coaching e Consultoria – p. 44
Tabela 7 - Habilitações Académicas, Formação em Coaching e Profissão Atual dos Inquiridos
– p.67
Tabela 8 – Definições de Coaching por parte dos respondentes – p. 69
Tabela 9 – Propósito de recurso ao Coaching – p. 71
Tabela 10 – Relatos dos respondentes face ao motivo de participação em processos de
Coaching - p.73
Tabela 11 – Perspectiva dos respondentes da Influência do Coaching no contexto de trabalho –
p. 75
Tabela 12 – Perspectiva dos respondentes sobre a influência do Coaching no seu
comportamento na organização – p. 77
Tabela 13 – Aspetos positivos decorrentes da experiência como Coachee – p. 79
Tabela 14 – Principais mudanças esperadas antes de iniciar o processo de Coaching – p. 83
Tabela 15 – Principais mudanças efetivamente ocorridas após processo de Coaching – p. 84
Tabela 16 – Citações sobre a influência do Coaching no estilo de relacionamento interpessoal
– p. 86
Tabela 17 – Citações dos respondentes sobre a influência do Coaching no estilo de liderança –
p. 88
Tabela 18 – Citações dos participantes sobre a influência do Coaching na gestão de vida
pessoal – p. 90
Tabela 19 – Citações dos entrevistados sobre a influência do Coaching no desenvolvimento
pessoal e profissional – p. 92
XX
Lista de Quadros
Quadro 1 – Benefícios Coachee e Organização – p. 50
Quadro 2 – Citações dos respondentes sobre o conceito Coaching – p. 68
Quadro 3 – Respostas dos participantes que espelham o motivo de autoconhecimento/autoreflexão – p. 74
Quadro 4 – Citações que reflectem benefícios de autogestão e equilíbrio pessoal – p. 89
Quadro 5 – Citações dos respondentes que reflectem a influência do Coaching no
desenvolvimento pessoal e profissional – p. 91
Quadro 6 – Citações dos respondentes que reflectem melhorias no desempenho – p. 94
Quadro 7 – Citações dos respondentes que reflectem melhorias no ambiente organizacional –
p. 98
XXI
Lista de Gráficos
Gráf. 1 – Idades dos respondentes – p. 63
Gráf. 2 – Sexo dos respondentes – p. 64
Gráf. 3 – Estado civil dos respondentes – p. 64
Gráf. 4 – Habilitações literárias dos respondentes – p. 65
Gráf. 5 - Tipo de Coaching que os respondentes foram alvo – p. 70
Gráf. 6 – Meio de participação dos respondentes em processos de Coaching – p. 73
Gráf. 7 - Sessões frequentadas pelos respondentes - p. 74
Gráf. 8 – Grau de satisfação dos respondentes para com o processo de Coaching – p. 81
XXII
1.
Introdução
Falar sobre Coaching implica obrigatoriamente falar de recursos humanos e
implicitamente centrar-nos também no mundo organizacional. Não há Coaching sem pessoas
e não há organizações sem trabalhadores. Porém o conceito de Gestão de Pessoas, bem como
de Gestão das organizações tem sido alvo de transformações, o que implica uma aposta em
novas formas e processos de gerar conhecimento, responsabilidade, liderança, motivação,
produção, em busca de um equilíbrio que se traduza sustentável, vantajoso, eficaz,
economicamente viável e lucrativo, traduzido em êxito para a organização.
“As transformações económicas do período mais recente (ou seja, o desenvolvimento
das novas tecnologias da informação e da comunicação, e a globalização do capital e do
trabalho) conduziram a uma redefinição da forma de pensar a vida nas organizações”
(Pereira, 2008, p. 15).
O actual panorama das organizações impele a uma crescente necessidade de mudança
e inovação com vista a assegurar a competitividade no mercado e efectivamente o sucesso e
sustentabilidade empresarial.
A relevância do tema assenta pois, quer na crescente valorização dos recursos
humanos nas organizações, quer na necessidade de incorporar cada vez mais processos que
possam contribuir para a sustentabilidade do negócio através da aposta no potencial humano.
Além disso, o projecto reveste-se de todo o interesse, visto que o Coaching se constitui
como uma temática da actualidade que se encontra ainda em franco desenvolvimento. Um
estudo da revista Pessoal, destaca que 25% das empresas prevêem recorrer a serviços de
Coaching durante o primeiro semestre de 2011, o que indica um crescimento face ao semestre
passado e uma marca da crescente importância do Coaching enquanto ferramenta de
desenvolvimento de pessoas. Muito se fala da sua implementação nas organizações, mas
poucos dados revelam se na prática estas recorrem ou não a processos de Coaching, bem
como se efectivamente os seus intervenientes apresentam um grau de satisfação elevado
quando submetidos a estes processos, e que benefícios isto lhes poderá trazer quer a nível do
seu desenvolvimento pessoal, quer organizacional.
“A preocupação com a gestão de indivíduos surge no início do séc. XX, quando os
teóricos começam a centrar as preocupações organizacionais na questão humana,
compreendendo a existência de factores ocultos que influenciavam o clima organizacional e,
logo, o desempenho da organização” (Pereira, 2008, p. 15).
1
A parte humana ocupa cada vez mais uma posição de destaque neste meio, pelo que
uma das principais formas de as organizações se conseguirem manter competitivas passa pela
forte aposta no potencial humano, inovar em termos de gestão de pessoas, alinhando
sobretudo os seus recursos humanos com os reais objectivos organizacionais.
Os Recursos Humanos passaram a ser considerados o núcleo das organizações, sendo
reconhecidos como o factor que faz a diferença competitiva, gerando uma maior preocupação
com o seu bem-estar e o seu grau de motivação para as tarefas. Revela-se então importante
investir cada vez mais nas capacidades humanas, procurando acrescer o seu valor através da
disponibilização de oportunidades que contribuam para a aquisição de novos conhecimentos e
de outras competências fundamentais para alcançar com sucesso, objectivos pessoais e
organizacionais, tais como o desenvolvimento de processos de Coaching.
“O local de trabalho moderno é um ambiente competitivo e produtivo, no qual uma
vasta diversidade de competências, conhecimentos e acções é solicitada aos empregados. Os
métodos tradicionais de gestão e aprendizagem são, actualmente, inadequados para fazer
face a estes requisitos, abrindo assim a porta à disciplina de Coaching no local de trabalho.
(…) Coaching não é apenas “mais uma moda”, mas um meio eficiente para melhorar os
resultados qualitativa e quantitativamente dentro do local de trabalho” (João, 2011).
Pode-se pois afirmar que os Recursos Humanos fazem parte integrante do
desenvolvimento organizacional, traduzindo o seu desempenho, um dos factores de maior
influência ao nível do progresso das organizações.
Tal como apontam vários estudos, poderá a implementação e desenvolvimento de
processos de Coaching contribuir para melhorar o desempenho tanto dos líderes como dos
colaboradores, potenciando melhorias em vários níveis e, consequentemente a nível do
sucesso organizacional?
A escolha do tema prende-se por um lado com o interesse que suscita num nível mais
pessoal, em explorar de forma mais aprofundada aspectos ainda pouco focados no mundo
organizacional em Portugal, por outro, pela importância que poderá constituir ao nível da
percepção dos resultados para os interessados neste tipo de processo.
Pretende-se pois, com a presente investigação, avaliar de que forma os processos de
Coaching podem contribuir para melhorar a performance dos indivíduos, seja a nível pessoal
ou profissional através da realização de um conjunto de entrevistas semi-estruturadas a uma
amostra constituída por 20 Coachees ou ex-Coachees, ou seja, a um conjunto de pessoas que
já tenham sido alvo de algum tipo de processo/formação de Coaching.
2
Com recurso a uma metodologia de tipo qualitativa, recorrendo-se à análise de
conteúdo pretende-se obter indicadores que possam testar a validade das hipóteses desta
investigação.
Mais especificamente e tendo em conta os aspectos teóricos já apontados, pretende-se,
de forma geral, avaliar de que forma os processos de Coaching influenciam os indivíduos alvo
dos mesmos, seja a nível pessoal ou profissional, considerando sobretudo possíveis melhorias
no seu desempenho.
“A gestão nas organizações exige, sem dúvida, um novo modelo de trabalho, onde a
palavra-chave é responsabilização, em que é pedido ao indivíduo/parceiro a adesão a uma
autoformação permanente, a uma autogestão de carreira e a uma autonomia de trabalho com
respostas adaptativas” (Pereira, 2008, p. 17).
A presente dissertação encontra-se dividida em seis grandes pontos, sendo os mesmos
subdivididos em diversos tópicos, de acordo com as informações que lhes correspondem.
Na introdução salienta-se a relevância do tema e os motivos que levaram à sua
escolha, objectivo geral do trabalho, a estrutura e organização da dissertação com uma breve
descrição de cada capítulo.
O enquadramento teórico/ revisão da literatura corresponde ao ponto 2, sendo
constituído por um conjunto de tópicos centrados na pesquisa bibliográfica sobre o tema e
enquadrados nos objectivos desta investigação. Na tentativa de mapear os conteúdos
relacionados com o tema, foram seleccionados e estruturadas de forma sequencial, centrandose em três grandes níveis: organização, recursos humanos e Coaching, desde o seu conceito
alargado, até ao âmbito organizacional.
No ponto 3, desenvolvimento/aplicação, dá-se início à abordagem orientada para o
estudo empírico da investigação, apresentando-se conteúdos relativos aos objectivos, questão
inicial, hipóteses e caracterização da amostra, metodologia e técnica de investigação e de
análise de dados.
Os resultados são apresentados no ponto 4, efectuando-se a sua apresentação através
da sequência das questões do guião da entrevista. Agrupados e divididos de acordo com o
tema, e tendo por base a análise de conteúdo que permitiu salientar aspectos mais comuns,
destacados nas respostas dos indivíduos constituintes da amostra, este ponto inclui também
uma abordagem inicial aos dados dos resultados.
3
O ponto 5 correspondente à análise e discussão de resultados. Destina-se à
confrontação dos resultados obtidos com cada uma das hipóteses enunciadas e com os dados
da revisão bibliográfica apresentada sobre o tema nos pontos iniciais desta investigação. Esta
integração dos dados teóricos com os empíricos visa testar a validade das hipóteses
enunciadas.
Este trabalho termina com a conclusão onde se apresenta uma síntese do trabalho
teórico e empírico.
Sair da nossa “zona de conforto”, ou seja, adoptar acções com vista à mudança poderá
gerar sentimentos de insegurança face à imprevisibilidade que se avizinha. Por tal, as
organizações, conscientes de que necessitam tomar este rumo, devem munir-se de novas
técnicas, estratégias, ferramentas, novos processos, que possam contribuir para o
desenvolvimento pessoal dos seus recursos humanos e consequente desenvolvimento a nível
organizacional, facilitando deste modo processos que requeiram mudança e adaptação a
diferentes realidades. Poderá o Coaching ser uma resposta facilitadora neste novo tipo de
necessidades organizacionais?
4
2.
Enquadramento Teórico/Revisão da Literatura
Uma investigação centrada em avaliar de que forma o Coaching se poderá constituir
como uma poderosa ferramenta ao nível de desenvolvimento pessoal ou profissional, não
poderia abordar apenas aspectos focados inteiramente neste tipo de processo. Por tal, na
revisão da literatura recorreu-se a artigos científicos, livros, etc., quer sobre a temática do
Coaching, quer sobre as Organizações e a área de Recursos Humanos.
Objectivou-se pois a contextualização do Coaching na área organizacional,
estendendo-se as pesquisas bibliográficas a este contexto de implementação do processo e
outras adjacentes.
O Coaching surge pois como uma possível resposta em busca de sucesso num mundo
em constante mudança, reestruturação, inovação e competitividade. Não faria sentido abordar
o conceito de forma isolada, separado das realidades e implicações que o rodeiam.
Posto isto, a informação e os conteúdos foram seleccionados e estruturados de forma
lógica e sequencial centrando-se nestes três grandes conceitos: Organização, Recursos
Humanos e Coaching. Os aspectos focados serão evidenciados ao longo desta parte mais
teórica da investigação.
2.1 Organizações – Evoluir ou Morrer
Mudança e inovação são conceitos que vêm adquirindo extrema importância ao longo
dos tempos, tal como o princípio evolucionista de Charles Darwin reflecte “Evoluir ou
Morrer”, o que traduz a necessidade de num mundo em plena transformação se optar por
seguir tais preceitos. No actual contexto organizacional não acompanhar estas tendências
significa mesmo isso, morrer!
Chiavenato (1994, p. 54), “o homem moderno passa a maior parte do seu tempo
dentro de organizações, das quais depende para nascer, viver, aprender, trabalhar, ganhar
seu salário, curar suas doenças, obter todos os produtos e serviços de que necessita (...) ”.
As organizações, de forma geral, podem ser definidas como um conjunto de pessoas
que trabalham no mesmo espaço em prossecução de um objectivo, que deverá ser traduzido
em produtividade. Contudo, a forma como a gestão humana e material das organizações é
efectuada tem vindo a sofrer constantes reestruturações.
5
“Nas sociedades contemporâneas, quase toda a nossa vida se desenvolve no seio de
organizações de variados tipos; de facto, um dos fenómenos mais característicos a que a
humanidade tem assistido desde a descoberta da máquina a vapor é o notável aumento – em
número, tamanho e complexidade – das estruturas organizacionais” (Gómez & Rivas, 1989).
Ao longo dos séculos, diferentes teorias foram surgindo ao nível da gestão das
organizações, desde a Mecanicista à Gestão Científica de Taylor, todas foram surgindo para
acompanhar as tendências de mercado, de forma alcançar o sucesso organizacional.
Na realidade o antigo conceito de organização e a sua forma de gestão assentavam
numa visão reducionista e mecanicista, em que as pessoas eram encaradas como “máquinas”,
sendo a sua importância atribuída apenas ao sucesso do exercício das suas funções. Produzir,
cumprir horários, regras e tarefas pré-estabelecidas, independentemente das suas capacidades
ou competências ou ainda do seu bem-estar constituía a política destas organizações. O
trabalhador limitava-se a executar a sua tarefa, cumprindo ordens superiores, sem ter a
oportunidade de manifestar as suas preocupações, angústias ou opiniões pessoais ou
profissionais, ou seja, a comunicação era efectuada apenas no sentido descendente,
acreditando-se que eram incapazes de trabalhar sem receber instruções do seu superior
hierárquico. O salário era visto como o maior estímulo dos funcionários, considerando-se a
sua maior motivação.
“A ênfase nas tarefas é uma abordagem microscópica feita no nível do operário, e
não no nível da empresa tomada como uma totalidade. (...) Representa o primeiro enfoque
administrativo – ainda míope, limitado e reduzido a algumas poucas variáveis da realidade
empresarial” (Chiavenato, 1994, p. 14).
A premissa de que o todo é maior do que o somatório das partes não existia nas
organizações, valorizando-se o trabalho isolado ao invés do esforço colectivo das pessoas, em
suma, do fundamental trabalho em equipa.
Os trabalhadores não detinham poder de decisão, encontrando-se a cargo de uma
chefia com características autoritárias, onde prevalecia a imposição de obrigações sem direito
a um espaço de discussão, marcada por receios múltiplos por parte dos subordinados.
Considerava-se pois a organização como um sistema fechado: “são os sistemas que
não apresentam intercâmbio com o meio ambiente que os circundam, pois são herméticos a
qualquer influência ambiental. Sendo assim, os sistemas fechados não recebem nenhuma
influência do ambiente e, por outro lado, também não influenciam o ambiente. A rigor, não
existem sistemas fechados, na acepção do termo.
6
Os autores têm dado o nome de sistemas fechados àqueles sistemas cujo
comportamento é totalmente determinístico e programado e que operam com muito pequeno
intercâmbio de matéria e energia com o meio ambiente. Também o termo é utilizado para os
sistemas totalmente estruturados, onde os elementos e relações combinam-se de uma maneira
peculiar e rígida produzindo uma saída invariável. São os chamados sistemas mecânicos
como as máquinas" (Chiavenato, 1987, p. 278).
Este tipo de gestão, alvo de algumas mudanças ao longo do tempo possibilitou no
passado o alcance de sucesso a nível organizacional. Contudo, começaram a surgir cada vez
mais limitações a este tipo de paradigmas centrados na produção, redução de custos,
cumprimento de regras, chefia autoritária, comunicação unilateral, primazia do trabalho
isolado, tal como especificam os seguintes autores: “O sistema burocrático clássico de facto
funcionou bem quando os mercados, produtos e tecnologias eram lentos para mudar (Turner
& Keegan, 1999, p. 338). No entanto, revelaram deficiências do sistema, foram expostas
gradualmente com a globalização acelerada e a inovação tecnológica. Neste novo contexto,
as perspectivas de gestão estão sendo transformadas, e os critérios de longa data para
avaliar a eficácia organizacional e de gestão estão sendo revigoradas (Jamali, 2005, p. 338).
Enquanto as mudanças provaram ser perturbadoras para muitos gestores e organizações, as
corporações do século XXI certamente estão traçando novas bases, onde temas familiares e
práticas estão sendo interrompidas e remodeladas (Jamali, 2005, p. 338).”
Evoluir é pois a palavra de ordem! Perante o avanço das novas tecnologias, com o
processo de globalização surgiu a necessidade das organizações mudarem, inovarem,
implementando novas políticas e paradigmas de gestão com vista à sua sobrevivência. O
aumento exponencial do número de organizações instalou uma grande competitividade no
mercado, levando à necessidade de conceber produtos mais ajustados e dar maior ênfase
àqueles que fazem parte de todo este processo de produção.
“As organizações modernas parecem ter pouca escolha além de se adaptar ao ritmo
incessante de mudança ou enfrentar o risco de extinção. Rápida evolução tecnológica, a
globalização, a incerteza, a imprevisibilidade, a volatilidade, a surpresa, a turbulência e
descontinuidade são, na verdade comumente popularizados na literatura como alguns dos
principais desafios ambientais enfrentados pelas organizações no novo século” (Brodbeck,
2002, p. 337; Saban et al., 2000, p. 337; Wang & Ahmed, 2003, p. 337).
7
Estes ventos de mudança no ambiente organizacional geraram pois, novas
necessidades, levando a repensar os paradigmas existentes, surgindo novas formas de gestão
pautadas por outras prioridades e outras características essenciais para assegurar a sua
sobrevivência, competitividade e, mais que do que isso, o seu êxito.
“Na esteira da turbulência global actual, política, económica e social, um vasto
conjunto de valores de gestão e métodos novos estão surgindo dentro do local de trabalho.
Crescente complexidade tecnológica, estilos de vida e novas expectativas, juntamente com a
ascensão dos trabalhadores do conhecimento, têm remodelado processos de gestão e tem
ditado sobre as organizações a evoluir para além do modelo tradicional burocrático para
atender às expectativas sofisticados para o desempenho no século XXI” (Drucker, 1999, p.
338).
Senge (1998), “sob a óptica do pensamento sistémico, conceitua as organizações não
como máquinas, mas como comunidades vivas e considera que o resultado proveniente da
convivência e da interacção não pode ser visto como o somatório das partes envolvidas.”
Nesta citação de Peter Senge encontram-se já implícitas, mudanças essenciais a nível
organizacional, passando a ser consideradas como sistemas abertos e dada importância ao
trabalho em equipa.
Confiança, comunicação, aprendizagem, comprometimento, flexibilidade, trabalho em
equipa e empowerment são as principais características nas quais assenta esta nova filosofia
das organizações. Características estas que giram sobretudo em volta das relações
estabelecidas nas organizações, sucintamente, entre os humanos.
“A orientação nova gestão também é uma inovação como um ingrediente-chave de
sucesso e competitividade (Khalil, 2000, p. 339; Liyanage & Poon, 2002, p. 339). Isto implica
desenvolver o potencial criativo da organização, fomentando novas ideias, criatividade,
aproveitamento das pessoas e entusiasmo, aproveitando o potencial inovador de funcionários
e estimular a proliferação de autonomia e empreendedorismo” (Black & Porter, 2000, p.
339).
A gestão de pessoal assume a denominação de recursos humanos, sendo-lhe acrescido
um maior grau de importância, passando as pessoas a ocupar uma posição de destaque neste
meio, uma das principais prioridades nas organizações. São as pessoas que detém o
conhecimento e são elas quem executa as tarefas e as funções, por isso, tornou-se necessário
investir cada vez mais no potencial humano.
8
“A comunicação eficaz é, portanto, fundamental para descobrir as lacunas de
percepção e incongruências em modelos mentais e desempenha um papel fundamental na
facilitação da aprendizagem e transformação dos modelos mentais dentro de um grupo”
(Holton, 2001, p. 340). Assim sendo, o estilo de comunicação adoptado passou a efectuar-se
quer no sentido descendente, quer no ascendente, possuindo agora os funcionários maior
liberdade para se manifestar. Katz & Kahn, (1978) afirmam “As comunicações – troca de
informações e transmissão de significados, são a própria essência de um sistema social ou de
uma organização”.
“Empowerment é fundado na confiança” (Mayer et al., 1995, p. 341). “A confiança
aumenta a colaboração, empenho e dinâmica de equipas saudáveis” (Holton, 2001, p. 341;
Webber, 2002, p. 341). “Trabalho em equipa aprofunda ainda mais confiança e quebra as
barreiras da comunicação eficaz” (Dwivedi, 1988, p. 341; Drew & Coulson-Thomas, 1996,
p. 341).
Do mesmo modo, também é atribuída às pessoas maior responsabilização, confiança e
empowerment. “Empowerment - com o seu sentido associado de auto-eficácia – incentiva
indivíduos para perseguir seu processo de crescimento, para buscar oportunidades de
desenvolvimento, para a superfície, experiência, desafio e adaptar-se, portanto, nutrir o
impulso para domínio pessoal” (Barker & Camarata, 1998, p. 342-434; Greenberg & Baron,
2003, p.342-343). “Através de um senso de autonomia e autocontrole, a capacitação oferece
perspectivas de sustentar o desempenho dos funcionários e reforçar a dedicação para
aprender, crescer, e auto-realizar-se” (Erstad, 1997, p. 343).
O conceito de líder autoritário passou a estar desactualizado, a expressão até então
utilizada do “faz esta tarefa seguindo estas indicações”, vem sendo substituída pela “como
achas que devemos executar estar tarefa”, assistindo-se à adopção de uma conduta de um
líder que caminha ao lado do funcionário, sem imposições ou instruções rijas, onde o processo
de partilha de conhecimentos ou informações se evidencia. Um líder sensível, que escuta os
seus trabalhadores, os conhece e os motiva para a concretização de suas metas.
Há uma extrema necessidade de colocar a pessoa certa a executar a função certa, daí as
competências e capacidades se terem tornado um factor de avaliação, pois nem todos
apresentamos as mesmas características de personalidade, nem os mesmos perfis
profissionais, daí a satisfação para com a tarefa assumir-se como importante, quer a nível da
motivação, frustração e execução da mesma pelos funcionários.
9
Segundo Idalberto Chiavenato (2003), “Gestão por competências é um programa
sistematizado e desenvolvido no sentido de definir perfis profissionais que proporcionem
maior produtividade e adequação ao negócio, identificando os pontos de excelência e os
pontos de carência, suprindo lacunas e agregando conhecimento, tendo por base certos
critérios objectivamente mensuráveis.”
A gestão por competências constitui-se como uma das formas que gera vantagem
competitiva, promovendo a identificação de perfis de competências ajustados aos perfis de
funções, possibilitando a implementação de processos estratégicos de desenvolvimento de
competências, quer a nível individual quer organizacional.
“As competências humanas ou profissionais são entendidas como combinações
sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional
em determinado contexto ou em determinada estratégia organizacional” (Carbone et al.,
2005; Freitas & Brandão, 2005).
Aprendizagem ao longo da vida é, nos dias de hoje, uma grande referência, não sendo
isto excepção no ambiente organizacional, onde adquirir novos conhecimentos e
aprendizagens se constitui essencial, daí se apostar cada vez mais na formação dos
trabalhadores, bem como em algumas realidades, em novas práticas de desenvolvimento
pessoal e profissional. “Promover a aprendizagem nas organizações tem, simultaneamente,
surgido como um desafio crucial para os gestores, dado o papel central que ela desempenha
em permitir que a capacidade humana de inovação e criatividade floresça” (Porth et al.,
1999, p. 339). É o ser humano que detém conhecimentos e competências, logo nada melhor
que as valorizar e aperfeiçoar para se concretizarem os objectivos delineados pelas
organizações.
Daqui ressalta o conceito criado por Peter Senge (1990, p. 206) de “Learning
Organizacion” ou “Organizações de Aprendentes", onde os membros que as integram “estão
continuamente a reforçar a sua capacidade de criar o seu futuro.”
Este tipo de organizações prima pelo colectivo, onde as pessoas se exercitam
continuadamente em busca de novos conhecimentos, através de uma aprendizagem contínua e
colectiva na prossecução e alcance de suas metas. “As organizações só aprendem através de
indivíduos que aprendem” (Senge, 1990, p.135). Cabe às organizações incutir esta premissa
na sua cultura, de forma a que os seus trabalhadores se comprometam com esta realidade e
elas mesmo criem oportunidades de aprendizagem, derrubando os obstáculos que possam
estar a impedir as necessidades de aquisição de novos conhecimentos ou competências.
10
Peter Drucker (1997, p. 21): “A produtividade do conhecimento e de seus
trabalhadores não será o único elemento competitivo na economia mundial. Entretanto, é
provável que se torne o factor decisivo, pelo menos para a maior parte dos sectores dos
países desenvolvidos”, constatando-se pois que aprendizagem pode constituir-se como uma
vantagem competitiva a nível organizacional. “Quando os objectivos organizacionais e os
objectivos individuais coincidem - ambos girando em torno da aprendizagem - empenho e
domínio pessoal se apoiam e reforçam mutuamente. Altos níveis de compromisso traduzem
uma maior motivação e envolvimento na busca do auto-desenvolvimento, juntamente com
altos níveis de desempenho e satisfação” (King & Ehrhard, 1997, p. 340).
2.2 Da Gestão de Pessoal à Gestão de Recursos Humanos
2.2.1 Evolução das práticas e do conceito de GRH
“Nos últimos tempos, ocorreram muitas transformações no ambiente externo das
organizações, motivadas por vários factores como as mudanças económicas, tecnológicas,
sociais, culturais, legais, políticas, demográficas e ecológicas que actuam de maneira
conjugada e sistemática, propiciando imprevisibilidades e incertezas para as organizações.
Com efeito, torna-se necessário responder às diferentes solicitações, através de inovações,
modificações e adaptações ao nível das estruturas da organização do trabalho e da gestão
dos RH” (Nunes, 2005, p. 79).
A Administração de Pessoal
Inicialmente designada por Administração de Pessoal, esta área debruçava-se
sobretudo sobre os aspectos administrativos da organização, centrando-se os mesmos no
estabelecimento de regras, horários de trabalho, recrutamento de pessoal, contractos de
trabalho e, ainda, a concepção de códigos de disciplina e implementação de centros de
aprendizagem. A produtividade ao invés da inovação constituía o objectivo central deste tipo
de administração, orientado pela direcção da empresa. Surge então neste primeiro período
situado entre finais do século XIX e os anos 50/60 do século XX, a disciplina de estudo
centrada na preocupação com as pessoas, verificando-se o início de intervenções práticas
neste âmbito.
11
A Gestão de Pessoal
No século XX, mais precisamente entre os anos 60 e 80 surge o 2º período dos
Recursos Humanos, designado de Gestão de Pessoal, surgindo agora uma maior preocupação
com o desempenho dos colaboradores e também os departamentos de pessoal, dotados de
responsabilidades, e diferenciação de papéis, com os directores de pessoal encarregues de
gerir os recursos humanos nas questões relacionadas com a remuneração, formação, duração
do trabalho, etc., em suma, aspectos mais administrativos. Começa a focar-se também atenção
noutros pormenores importantes, como a motivação, o desempenho e a satisfação do
funcionário no trabalho. Assiste-se ainda durante este período a um desenvolvimento da
legislação laboral, impulsionada pelo surgimento de sindicatos ou associações profissionais.
A Gestão (Estratégica) de Recursos Humanos
“A gestão empresarial sofreu transformações consideráveis visando aumentar a
capacidade de resposta da empresa face às profundas mudanças ambientais que se fazem
sentir, tornando a competitividade no paradigma dominante da gestão” (Cabral-Cardoso,
1998).
Esta terceira fase surge nos anos 80, sendo inicialmente denominada de Gestão de
Recursos Humanos. Contudo a constante necessidade de operar a mudança devido às
alterações que se fizeram sentir no ambiente organizacional, e de forma às organizações se
manterem competitivas, ultrapassando os desafios sentidos, levou a que tivessem de mobilizar
os seus recursos, particularmente os recursos humanos que começam adquirir um novo
estatuto no seio organizacional, passando a ser mais valorizados. “Assim, as organizações
mudaram os seus conceitos e alteraram as suas práticas: Em vez de investirem directamente
nos produtos e serviços, elas estão a investir nas pessoas que os entendem e que sabem como
criá-los, desenvolvê-los, produzi-los e melhorá-los; em vez de investirem directamente nos
clientes, elas estão a investir nas pessoas que os atendem e os servem e que sabem como
satisfazê-los e encantá-los” (Chiavenato, 1999).
Face ao exposto, actualmente há quem caracterize esta época de Gestão Estratégica de
Recursos Humanos.
12
“O modelo de gestão de recursos humanos vem posicionar-se a um nível mais
estratégico, assumindo-se definitivamente como um domínio da gestão, em evolução ou em
ruptura, segundo as perspectivas, com a administração ou gestão de pessoal. (Cabral –
Cardoso, 1999, p. 225).
A necessidade de inovação e mudança no seio organizacional contribuiu então para
um maior desenvolvimento e evolução da função pessoal, culminando com esta fase que se
considera, tendo em conta as mencionadas, ser a mais significativa. Ribeiro (2003, p. 37),
refere “a função pessoal passa não só a dispor de uma representação específica no seio da
empresa – os departamentos de gestão de pessoal; como também se alarga para outras áreas
da empresa que passam a assumir igualmente responsabilidades neste domínio.”
Em suma, poderão então apontar-se três períodos de evolução na função RH: “o
primeiro, consiste num período embrionário, no qual o seu papel era fundamentalmente
administrativo, passando para um segundo período em que se constituiu especificamente
como área de gestão dentro das empresas, embora caracterizada por uma certa
subalternidade em relação às outras áreas, e finalmente, uma terceira fase em que surge
como uma função estratégica para a empresa” (Brandão & Parente, 1998, p. 20).
2.2.2 Evolução das práticas e do conceito de GRH em Portugal
“Constituindo uma cultura com características próprias e distintas dos restantes
países europeus (Hofestede, 1983), Portugal e as organizações portuguesas fizeram o seu
próprio percurso de adaptação às mudanças vividas pelo mundo dos negócios, e,
consequentemente de evolução nas políticas e práticas de gestão das pessoas que nelas
trabalham, construindo aquilo a que Cabral - Cardoso (2004) diz serem evidências da
existência de um modelo português de gestão de recursos humanos.”
Tal como acontece em outros países, a Gestão de RH em Portugal procura ainda uma
posição de maior destaque no seio das organizações. A evolução da função pessoal em solo
nacional não seguiu os mesmos trâmites que nos grandes pólos dinamizadores e
impulsionadores da Revolução Industrial.
Foram vários os factos históricos, geográficos, culturais e sociais que marcaram a
evolução da Gestão de RH em Portugal e assinalaram a diferenciação da vivência
organizacional em diversos países.
13
A Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos (APG)
numa análise efectuada aos temas dos encontros anuais de reflexão que efectua, considerou a
existência de três períodos de tempo distintos ao nível das tendências na evolução do conceito
e da função pessoal.
O primeiro período, designado de Gestão de Pessoal, que se prolongou até final da
década de 70 onde, segundo Caetano & Vala (2002) os “conteúdos discutidos reflectem, quer
temáticas relacionadas com a função e com o titular, quer temas que evidenciam muito da
influência político-social (luta de classes, transição para o socialismo, conflitos sociais), que
o período de Revolução de Abril representou.”
Iniciado na década de 80 com a utilização da denominação de Gestão de Recursos
Humanos e evidenciando ênfase nas questões relacionadas com a modernização e a
competitividade, institui-se o segundo período.
No terceiro período e, iniciado no final dos anos 80, tendo em conta as tendências
vigentes relacionadas com a globalização e a competitividade, a atenção desta época começou
a centrar-se sobretudo nas questões relacionadas com o desenvolvimento dos recursos
humanos. “Tendo o ano 2000 como horizonte, e o aumento da pressão da competitividade e
da globalização, os temas reflectem a preocupação em desenvolver competências e formar o
potencial humano, bem como a influência das preocupações sociais do momento: o
desemprego e a formação profissional” (Caetano & Vala, 2002, p. 33).
Contudo, é possível diferenciar quatro períodos de tempo relativos às tendências da
evolução do conceito de Gestão de RH em Portugal.
Os encontros iniciais levados a cabo sobre o tema marcam o início do primeiro
período que se estende até finais da década de 1970. Nesta época a denominação utilizada era
a de Gestão de Pessoal e eram abordados assuntos relacionados com a função e temáticas que
evidenciam muita da influência político - social (luta de classes, transição do socialismo,
conflitos sociais) do período da Revolução de Abril de 1974.O perfil da função desejado neste
período para desempenhar funções no âmbito da Gestão de RH encontrava-se sobretudo
relacionado a práticas de natureza jurídico – administrativas. “A acção dos departamentos de
pessoal então existentes (muito poucos), centravam-se principalmente no alcance de
respostas a problemas concretos e imediatos, não se notando qualquer preocupação de
natureza estratégica, nem sequer, uma fundamentação teórica que enquadrasse a sua acção,
sendo a mesma baseada simplesmente no cumprimento de normas, regulamentos e no bom
senso” (Cabral – Cardoso, 1998, p. 35-45).
14
A década de 1980 constitui o segundo período de tempo da evolução deste conceito,
ficando marcada pelas ideias da competitividade e da modernização. Sucintamente, cabe ao
Gestor de RH a planificação de efectivos e análise das funções e dos sistemas de trabalho, a
afectação de pessoas aos postos de trabalho, a higiene e segurança no trabalho, a gestão de
incentivos, a avaliação do desempenho, gestão de carreiras, formação, desenvolvimento do
potencial humano, etc. Ao contrário, da década de 1970 as áreas relacionadas com as Ciências
Sociais e Humanas são as mais valorizadas para o desempenho desta profissão. Na óptica de
Cabral – Cardoso (1998, p. 35-45), “No decorrer dos anos 80 procura-se espaço para
prosseguir novas investigações no âmbito dos conceitos de trabalho, emprego e recursos
humanos, cingindo-se a maioria das referências a casos muito pontuais no contexto
português, privilegiando-se sobretudo, a área da inovação tecnológica e organizacional.”
No final da década de 1980 inicia-se o terceiro período onde se opta simultaneamente
pelas designações Gestão de RH e Gestão de Pessoal para abordar os assuntos relacionados
com as pessoas. Os temas centrais neste período desenrolavam-se sobretudo em redor da
necessidade de desenvolvimento do potencial humano, do desemprego e formação
profissional, constituindo os fundos comunitários de apoio à formação profissional uma maisvalia para a progressão ao nível da formação e desenvolvimento. Valorizava-se,
particularmente, a capacidade de definição e gestão de sistemas de formação no desempenho
da função.
Ainda de referir aquilo que Martins (1994, p. 28, citado por Azevedo, 2010) afirma,
“como habitualmente estamos uns anos atrasados, acreditamos que no ano de 2000 algo se
terá alterado, e que as empresas saberão transformar os problemas de hoje em
oportunidades do amanhã. Se tal acontecer, a função Recursos Humanos ganhará uma
importância acrescida, que nos levará então acreditar (…) que a função Recursos Humanos
se tornará na função estratégica por excelência, e terá a segunda posição na hierarquia
imediatamente a seguir à gestão de topo. Para que tal aconteça é fundamental que a partir de
hoje os directores de Recursos Humanos se transformem, e surja o director de pessoal
fomentador de crítica, inconformista, escultor de um novo perfil cultural interno, que elimine
vícios profissionais e sociais perniciosos.”
15
O quarto período prolonga-se até ao momento actual e teve início na segunda metade
da década de 1990. As pessoas passam a ser consideradas o núcleo das organizações, sendo
reconhecidas como o factor que faz a diferença competitiva, daí ressaltando preocupação com
a sua motivação e o seu bem-estar para o desempenho de funções. A gestão de competências e
de conhecimento, bem como o papel activo dos recursos humanos na competitividade e na
excelência constituem o foco principal deste período.
Tendo em conta todos os constrangimentos e dificuldades ao nível da implementação
de novos paradigmas ao longo da evolução da função Recursos Humanos, tal como refere
Câmara (1994, p. 32, citado por Azevedo, 2010), a gestão de Recursos Humanos procura
“encontrar o seu espaço nas organizações, não já como executante e polícia de costumes,
mas como parceiro dos seus clientes internos, com áreas de especialização valorizadas e
relevantes e, simultaneamente, como garante dos valores e princípios de actuação da
empresa e da sua aplicação equitativa interna.”
Neste contexto e com o objectivo das organizações se tornarem competitivas,
possibilitando a sua manutenção nos negócios, sobretudo através da aposta nas pessoas,
começam também “a surgir programas de desenvolvimento pessoal e profissional dirigidos
às organizações, que, tentando articular os problemas humanos (empregabilidade) e os
problemas organizacionais (competitividade), agregam valor, através da constituição de uma
noção de cultura, de projecto e de visão partilháveis” (Pereira, 2008, p. 18).
Pese embora e tendo em conta o cenário organizacional actual considera-se ainda ser
necessário continuar a investir na área dos Recursos Humanos, pois segundo Marques (2003,
p. 28), “Portugal está a perder qualificações todos os anos, a produtividade quando
comparada com outros países é uma desgraça, a competitividade a mesma coisa, a satisfação
nas empresas está pelas ruas da amargura, a qualidade dos serviços decresce, os índices de
confiança nas instituições são os mais baixos, a inovação não acontece… E então, vai-se
continuar a falar de indicadores sem se fazer mais nada?”
2.3 O Gestor de RH e a Mudança
A mudança constitui uma das realidades que actualmente vem acompanhando a
vertente organizacional, por isso, a capacidade que as organizações apresentam em adaptar-se
ao mundo em constante mudança constitui um factor decisivo para o sucesso.
16
Para levar a cabo processos de mudança é de extrema importância o papel
desempenhado pelos gestores de RH, seja na capacidade que devem evidenciar ao nível da
atenção ao mercado, na perspicácia para actuar atempadamente nestes processos, bem como
na gestão dos seus colaboradores em todas as fases de um processo de mudança: elaboração
de objectivos e planos de acção, transmissão e comunicação da visão e estratégia, resistência à
mudança, revisão de planos, feedback, entre outras. Neste domínio de capacidade de gestão da
mudança, o gestor de RH deve então ser dotado de competências ao nível das ferramentas de
gestão da mudança, técnicas de desenho organizacional, e também neste domínio,
competências relacionais como capacidades de comunicação, liderança, influência…
Em suma, os gestores de RH devem possuir um vasto leque de competências para
gerir assertivamente os desafios gerados pela sua profissão. Estes profissionais, além de
características pessoais como assertividade, persistência, perspicácia, flexibilidade, tolerância,
optimismo devem também possuir importantes competências de relacionamento, liderança,
observação, escuta e comunicação.
De acordo com Stefano, Iatskiu & Lopes (2004, citados por Huzek et al, 2008) “é de
responsabilidade do profissional de RH a integração dos demais profissionais para que
actuem de forma proactiva em busca dos objectivos estabelecidos, sendo que resultados
organizacionais alcançados têm relação directa com o desempenho de seus colaboradores.
Eles são responsáveis pela aplicação e desenvolvimento das políticas da empresa, pelo
planeamento e assessoria à administração geral, direccionando seus esforços para atingir os
objectivos organizacionais.”
O gestor de RH tem de ser capaz de identificar as reais necessidades da organização e
orientar as suas actividades com base nessa premissa, gerindo recursos humanos e não
descurando a parte estratégica e o lado mais económico da empresa. Passa sobretudo por
conciliar os interesses da organização com os interesses dos colaboradores, planeando,
dirigindo e coordenando actividades que contribuam para a realização e satisfação pessoal dos
mesmos, traduzindo ainda maior motivação para a tarefa.
Na óptica de Krepk & Gonzaga (2008, citados por Huzek et al, 2008), “o gestor de RH
deve preocupar-se com a natureza das relações humanas no ambiente organizacional,
procurando criar situações que estimulem as pessoas a se comprometerem com os objectivos
organizacionais. O clima organizacional deve propiciar a iniciativa e a criatividade,
motivando os colaboradores a aproveitar as oportunidades oferecidas pela empresa.”
17
2.4 “Coaching”
“Ora, estas práticas como actividades de desenvolvimento que permitem uma
transformação efectiva no indivíduo, a qual se reflecte na organização e a longo termo (…)”
Pereira (2008).
Face ao ambiente de competitividade gerado no seio organizacional, com a crescente
aposta no potencial humano, além da premissa da aprendizagem ao longo da vida com a
consciência da importância da formação para os colaboradores, foram surgindo e sendo
implementadas práticas de desenvolvimento pessoal e profissional, para enfrentar os desafios
gerados neste meio, de forma a garantir a sustentabilidade do negócio.
“Parece-nos comum a ideia de que este processo de desenvolvimento pessoal, que
pretende conduzir e treinar aptidões pessoais (e, daí, a sua utilização na realidade
desportiva), trata-se de um processo holístico de aprendizagem ao longo da vida através do
desenvolvimento de todos os aspectos pessoais e profissionais de uma Pessoa” (Stevens,
2005, citado por Pereira, 2008, p. 50).
2.4.1 Origem do “Coaching” – Correntes
A origem desta prática de desenvolvimento pessoal e profissional assenta em
diferentes abordagens e diferentes correntes, tendo em conta a cultura, a época e o local. De
acordo com Sztucinski (2001, citado por Ferreira, 2008, p. 34), “o termo foi introduzido por
volta do ano 1500 como referência a um tipo específico de carruagem.” Considera-se que
daqui surgiu a primeira corrente sobre a sua origem, advinda do termo francês “coche”,
carruagem.
Daí, Dingman (2004), Sztucinski (2001), Evered & Selman (1989) (citados por
Ferreira, 2008, p. 34) apontarem “a disseminação do termo teria ocorrido a partir de França,
alcançando a Inglaterra e, a partir de então, se popularizado pela Europa e pela América do
Norte.”
Algures, há muitos anos atrás, numa cidade húngara chamada Kocs, foi construída
uma carruagem que era utilizada no transporte de correspondência e passageiros, à qual lhe
atribuíram a designação de Koczi Szerer – carruagem dos Kocs. Desta forma surgiu uma
segunda corrente, que possibilitou o alargamento do termo Koczi, com o significado de
carruagem, a toda a Europa.
18
Com o decorrer do tempo outros conceitos lhe foram sendo atribuídos, como aponta
Ascama (2004, citado por Pereira, 2008, p. 23), “a palavra Coach foi introduzida no
desporto, a partir de uma gíria estudantil nas universidades do séc. XV utilizada para
designar o técnico desportivo, ocasião em que alunos pertencentes à nobreza britânica eram
conduzidos por um cocheiro (Coacher).”
Numa fase posteior, os autores Evered & Selman (1989, citados por Ferreira, 2008, p.
34), centram o Coaching “na actividade do gestor no desenvolvimento dos subordinados”,
considerando então o surgimento do Coaching no contexto organizacional. Porém, Grant
(2003, citado por Ferreira, 2008, p. 35) afirma “que a associação do Coaching com
actividades de desenvolvimento de profissionais teria ocorrido no início do século passado.”
Contudo, considera-se que foi o contributo de Gallwey, com a publicação do livro
“The Inner Game of Tennis em 1974”, que transportou o termo “Coach” para o sector
profissional. “There is always an inner game being played in your mind no matter what outer
game you are playing. How aware you are of this game can make the difference between
success and failure in the outer game” (Gallwey, 2006, citado por Pereira, 2008, p. 23).
“Gradativamente, o sentido actual do Coaching é introduzido no meio corporativo, e
a contratação de um Coach externo é defendida tendo em vista aspectos como confiança,
confidencialidade, transparência, segurança” (Dawdy, 2004, citado por Ferreira, 2008, p. 35)
“e, não menos relevante, uma preocupação com possíveis conflitos de interesses entre a
organização, o Coach e o Coachee” (Kilburg, 2004, p. 246).
Fase
Período
Característica
Coaching interno; actividade exercida pelo superior hierárquico; forma de
Actividade Interna
1930 a 1960
treinamento; desenvolvimento gerencial e, ao final do período, desenvolvimento
executivo.
Período em que documentos submetidos à apreciação de pares começam a ser
Rigor Académico
1960 a 1990
publicados; pesquisas e discussões atendem a um maior rigor académico; as
primeiras teses de doutorado são desenvolvidas.
Ciência Aplicada
(Scientist
Practitioner)
Crescimento do número de teses, dissertações e artigos académicos sobre
A partir de 1990
actividade de um Coach externo nas organizações; maioria dos estudos continua
a ser fenomenológico.
Tabela 1 – Fases de desenvolvimento do Coaching
Fonte: Desenvolvido a partir de Grant e Cavanagh (2004) e Grant e Zackon (2004) (citados por Ferreira, 2008, p. 36
19
“O Coaching surgiu, então, de uma evolução do papel de mentor/professor, em que
uma pessoa mais velha e mais sábia transmitia a sua sabedoria e a sua aprendizagem para o
desenvolvimento de um formando/aluno, para uma prática focada num processo holístico de
aprendizagem ao longo da vida através do desenvolvimento de todos os aspectos pessoais e
profissionais de uma pessoa” (Pereira, 2008, p. 24).
2.4.2 “Coaching” em Portugal
Em Portugal, a temática do Coaching encontra-se ainda em franco desenvolvimento,
considerando-se uma prática recente e de actual inserção no mercado de trabalho, vejamos
pois que apenas em 2005 surgiu a primeira associação de praticantes de Coaching.
As informações, estudos e bibliografia nacional sobre esta prática de desenvolvimento
pessoal e profissional, apesar de estar em fase de crescimento, são ainda escassas.
No nosso país, o Coaching encontra-se sobretudo associado ao contexto profissional
centrando-se as intervenções no desenvolvimento do potencial humano individual ou grupal.
“O Coaching em Portugal, à semelhança da indicação encontrada na literatura de outros
países, situa a sua intervenção essencialmente ao conteúdo do trabalho, onde o investimento
no desenvolvimento de apenas um profissional promove o desenvolvimento da equipa como
um todo como consequência natural” (Pereira, 2006, p. 10).
O facto do Coaching em Portugal ainda não se encontrar devidamente popularizado,
havendo efectivo desconhecimento desta prática e dos resultados da sua aplicação, bem como
os custos que se lhe encontram associados, condiciona aposta das organizações na sua
incorporação, tal como refere Pereira (2006, p. 12): “O estudo empírico indicou como
dificuldades da prática do Coaching em Portugal: o desconhecimento da prática por parte do
mercado, por se tratar de uma prática recente, em que ainda não se consegue dar aos
clientes o retorno sobre o seu investimento (ROI), e por se verificar uma falha na divulgação
da mesma; a falta de credibilidade da prática, devido à falta de qualificação e à utilização
indevida por parte dos profissionais que se encontram a oferecer este tipo de serviço; e as
ideias pré-concebidas relativamente ao tipo de “trabalho pessoal e de abordagem
introspectiva”.”
20
2.4.3 O conceito “Coaching”
“Coaching é o acto de inspirar o indivíduo ou a equipa para produzir o resultado
desejado através de aprendizagem personalizada, de expansão de consciência e de ambientes
projectados” (Pereira, 2008, p. 25).
Existem actualmente uma panóplia de definições sobre o Coaching, advindas de
diversos autores, associações, federações, escolas de diversos países. Desde a sua origem até
ao momento presente o conceito sofreu diversas restruturações, que caracterizam a sua
evolução. Centrado sempre num relacionamento, foi transmitindo constantemente a ideia de
apoio e desenvolvimento voltado para a concretização de uma meta/objectivo.
“O Coaching é um tipo de relacionamento no qual o Coach se compromete apoiar e
ajudar o cliente para que este possa atingir determinado resultado ou seguir determinado
caminho. Todavia, o Coaching não significa apenas um compromisso com relação aos
resultados, mas com a pessoa em si. Com seu desenvolvimento profissional e sua realização
pessoal” (Chiavenato, 2002).
O Coaching assenta então num relacionamento humano, no qual uma pessoa (Coach)
se compromete a apoiar outra (Coachee) alcançar um determinado objectivo, seja ele o de
adquirir competências e/ou produzir uma mudança específica. Este processo permite que os
colaboradores se conheçam a si próprios identificando os seus pontos fortes e fracos,
permitindo ainda a tomada de consciência dos recursos que se dispõe, para melhor integração
a nível grupal.
Segundo Devillard (2001, citado por Pereira, 2008, pp. 25-26), Coaching define-se
como “uma intervenção que visa desenvolver, junto de uma pessoa ou de uma equipa, os
elementos de potencial ligados ao talento, ao estilo e às sinergias, para além dos obstáculos
que os constrangem. O Coaching não é nem uma aprendizagem de uma técnica, nem um
conselho sobre o saber - fazer, mas sim um meio de descobrir e de experimentar os aspectos
inutilizados do seu próprio potencial. De facto, ele não visa tanto a resolução de problemas,
mas antes facilitar o desenvolvimento pessoal numa perspectiva de produção.”
É um processo que não visa essencialmente aprendizagens específicas, mas antes o
despertar dos talentos/capacidades pré – existentes dentro de cada indivíduo, com vista ao seu
desenvolvimento seja numa vertente pessoal ou profissional. Espera-se que esta tomada de
consciência e desenvolvimento de capacidades e competências funcione como facilitadora no
alcance das metas por si fixadas.
21
“Através do processo de Coaching novas competências surgem, tanto para o Coach
(aquele que treina e desenvolve) quanto para seu cliente, o Coachee (aquele que é treinado
passando pelo processo de desenvolvimento), não só apenas em termos de competências ou
capacidades específicas, das quais um bom programa de treinamento poderia dar conta
perfeitamente. Coaching, é mais do que treinamento, o Coach permanece com a pessoa até
ao momento em que ela atingir o resultado. É dar poder para que a pessoa produza, para que
suas intenções se transformem em acções que, por sua vez, se traduzam em resultados”
(Chiavenato, 2002).
No processo de Coaching existe uma responsabilidade partilhada, onde os
funcionários são considerados como facilitadores e gestores responsáveis pelas suas acções e
consequências. Blanco (2006, citado por Ferreira, 2008, p.39), comenta “o Coaching
caracteriza-se como um processo de interacção colaborativa voltado à promoção e ao
estímulo da aprendizagem; onde o objectivo não é ensinar, mas sim auxiliar o outro
aprender.”
Sucintamente outras definições a seguir se explanam:
International Coaching Federation – ICF:
“Coaching é uma relação permanentemente focada no Cliente e na sua tomada de
medidas no sentido da realização dos seus sonhos, metas ou desejos. Este processo utiliza um
processo de inquérito e de descoberta pessoal, por forma a construir no Cliente um nível de
consciência e de responsabilidade e proporciona-lhe uma estrutura de apoio e feedback. O
processo de Coaching ajuda o cliente a definir e atingir os seus objectivos pessoais e
profissionais de uma forma mais rápida, e com uma facilidade que seria impossível de outra
forma” (Catalão & Penim, 2010, p. 247).
International Coaching Community:
“Aplicar o Coaching não significa dizer às pessoas o que fazer; mas sim ajudá-las a
controlar as suas vidas; ajudá-las a avaliar o que estão fazendo num determinado momento
levando em consideração seus objectivos, sonhos, valores e intenções. Isso lhes dá novas
chances e conduz à mudança. O Coaching ajuda uma pessoa a ir além de seus bloqueios
mentais, a ir além do que acreditava possível” (Pereira, 2008, p. 25).
22
European Coaching Institut – ECI:
“Coaching é um processo simples e interactivo, orientado para resultados, destinado
a promover a mudança. O Coaching facilita a cada pessoa a oportunidade de viver de forma
feliz, saudável e pacífica, ao maximizar o seu potencial pessoal e profissional” (Catalão &
Penim, 2010, p. 248).
Associación Española de Coaching – ASESCO:
“O Coaching é a arte de trabalhar com os outros, para que eles obtenham resultados
fora do comum e melhorem a sua actuação. É a actividade que gera novas possibilidades
para a acção e que permite resultados extraordinários no desempenho” (Catalão & Penim,
2010, p. 248).
2.4.4 Os Intervenientes num processo de “Coaching”
Em todo e qualquer processo de Coaching necessitam estar presentes pelo menos dois
participantes, o Coach (aquele que orienta) e o Coachee (alvo da intervenção). A nível
organizacional, a empresa por si só constitui-se também como mais um interveniente,
podendo ainda esta prática de desenvolvimento pessoal e profissional abarcar um grupo, logo
diversos participantes.
2.4.4.1 “Coach”
Segundo o “The American Heritage Dictionary”:
“A palavra “Coach” foi adoptada do francês “coche”, no inglês medieval. No inglês
contemporâneo, “Coach”, que significa carruagem, ônibus, carro, veículo de transportes de
passageiros, etc. A palavra sempre transmitiu a ideia de conduzir ou transportar. Após ser
adoptada no mundo do desporto, adquiriu o significado de treinar, ajudar, inspirar, motivar,
apoiar as pessoas a se dedicarem e a manterem o entusiasmo e motivação na elaboração e
realização de suas metas e objectivos.”
23
O Coach auxilia os seus colaboradores na descoberta das áreas que apresentam maior
potencial de desenvolvimento, a desenvolver a sua inteligência emocional, definir os próprios
objectivos, realizar opções, analisar os seus erros, causas e formas de correcção dos mesmos,
disponibilizando-lhes informações que os orientem para decisões mais assertivas.
Paralelamente a este apoio, o Coach deve criar uma parceria com os seus colaboradores com
vista ao estabelecimento de uma relação de confiança, posteriormente deve ser criada a visão
de futuro, examinada a “bagagem de mão” e, ainda, traçado o plano de acção. Tal como realça
Araújo (1999): “De entre os inúmeros papéis do Coach, destaca a necessidade de instituir
uma relação de confiança com o cliente, de forma a que permita a identificação e análise
conjunta dos aspectos importantes de sua trajectória de vida pessoal e profissional, bem
como das características de perfil e do potencial que favoreça ou dificulte o alcance de suas
metas.”
Ser Coach exige características de personalidade muito específicas, uma forte vocação
profissional para o Coaching e o domínio de uma série de áreas, conceitos, técnicas e
ferramentas relevantes para desempenhar com êxito as funções que lhe são adjacentes.
Trabalhar com “pessoas” exige talento próprio, implica minuciosidade, cada ser é diferente,
daí a complexidade deste tipo de tarefa ser enorme.
Esta diversidade humana leva a que um Coach tenha de apresentar diferentes
“abordagens”, diferentes “posturas” de acordo com aquilo que espera de determinado
funcionário. Sendo que, a base de actuação se foca sempre nos mesmos princípios procurando
que através de um processo de apoio contínuo, os colaboradores consigam identificar os seus
potenciais, as suas principais competências e se motivem com autonomia e responsabilidade
para alcançar os objectivos.
O Coach deve então possuir determinadas qualidades, capacidades e competências
profissionais específicas para ser bem-sucedido num processo de Coaching.
a) Qualidades do Coach
Stevens (2005, citado por Pereira, 2008, p. 46) aponta cinco qualidades pessoais de um
Coach profissional:
- facilidade nas relações interpessoais;
- empatia e respeito;
- colaboração sustentável;
24
- disponibilidade para ajudar os outros;
- auto – gestão/mente aberta.
Vergne – Cordonnier (2003 citado por Pereira, 2008, p. 46) considera as seguintes
qualidades como necessárias para um Coach: carisma; autenticidade/franqueza; equilíbrio
psicológico; confiança em si mesmo; autonomia; integridade; rigor; criatividade; optimismo.
b) Capacidades e Competências Profissionais do Coach
Independentemente do modelo em que se baseie a sua intervenção ou das ferramentas
a utilizar, o Coach deverá reunir uma série de capacidades e competências, entre as quais, ser
capaz de criar confiança, rapport e empatia, fomentar a escuta activa e estruturada, dar
feedback, saber comunicar e colocar “questões poderosas”, motivar.
A literatura considera ainda que o Coach deverá apresentar (Pereira, 2008, p. 48):
- capacidade de análise e diagnóstico;
- capacidade de questionamento;
- capacidade de se manter informado sobre as organizações em que opera e o mundo
empresarial em geral;
- capacidade de se manter actualizado relativamente às técnicas e ferramentas
necessárias ao desempenho das suas funções como Coach;
- capacidade de uma procura constante de conhecimento de si;
- capacidade para respeitar os aspectos deontológicos inerentes à actividade.
c) Formação
Tal como na maioria das profissões que advém da conclusão de uma formação
superior, traçada por um plano de estudos semelhante a várias instituições de ensino, o
Coaching não obedece a esta tendência. O Coach pode possuir uma formação base oriunda de
diferentes áreas, seja das ciências sociais, políticas, económicas, humanas, entre outras.
Convém contudo que apresente conhecimentos específicos em áreas contíguas à sua prática e
domine um conjunto de técnicas e metodologias.
Será importante que invista em formação contínua, seja especificamente em Coaching
ou noutras áreas adjacentes. Postula-se ainda que sentir na prática os efeitos deste processo,
sendo primeiramente alvo dos mesmos, poderá contribuir para enriquecer conhecimentos e
melhor reflectir sobre o experienciar do lugar do outro.
25
Tal como refere Stevens (2005, citado por Pereira, 2008, p. 50), “Passando por um
processo de Coaching, os Coaches, terão a possibilidade de experimentar inúmeras
interacções de Coaching e competências de treino, que os irá capacitar para sentir,
compreender e beneficiar de diversos estilos de Coaching”.
Para reger a sua actividade e conduta profissional deverão respeitar um código
deontológico.
2.4.4.2 Coachee
O Coachee é considerado o alvo do processo de Coaching, é aquele que beneficia do
apoio e auxílio do Coach no seu desenvolvimento pessoal ou profissional.
Ao longo de um processo de Coaching, o Coachee tem oportunidade de desenvolver o
seu potencial individual, podendo melhorar competências pessoais que podem influenciar
positivamente os seus relacionamentos interpessoais. Além destas competências quando
beneficia de um processo de Coaching relacionado com a vertente profissional, tem ainda a
oportunidade de melhorar outras competências, tais como as de auto – gestão e auto – crítica.
“O Coaching exige uma atitude positiva e forte motivação das pessoas em relação ao
crescimento pessoal” (Chiavenato, 2002).
Um dos aspectos relevantes para o Coaching ser bem-sucedido é a postura e a atitude
que o Coachee assume, assim, o seu real comprometimento, vontade e empenho funcionam
como facilitadores do seu próprio processo de desenvolvimento.
No contexto organizacional, o Coaching é sobretudo dirigido aos gestores ou chefes de
equipas, com vista ao desenvolvimento de competências que possibilitem uma gestão e uma
liderança assertiva, pretendendo-se generalizadamente “manter os colaboradores realizados
no seu percurso profissional” (Pereira, 2008, p. 43). No entanto, poderá constituir-se como
Coachee qualquer membro da organização desde que se encontre motivado para o processo.
“Se as pessoas estiverem felizes no seu trabalho, irão ter um desempenho
consistentemente bom. A chave para conquistar corações e mentes é o líder criar a atmosfera
ideal para a alegria prosperar” (Hooper & Potter, 2003, citados por Pereira, 2008, p. 43).
26
2.4.4.3 Líder Coach vs Líder Tradicional
Os estilos de liderança considerados mais tradicionais tal como já foi mencionado, tem
vindo a sofrer mudanças significativas ao longo do tempo. Factores como a competitividade e
a globalização, bem como a constante necessidade de mudança e inovação têm contribuído
para a emergência de um novo conceito de líder nas organizações.
Com estas novas mudanças, o papel do líder chefe, autoritário, dominador,
controlador, centrado na premissa: “eu quero, posso e mando” vem sendo substituído pelo do
líder que se foca sobretudo nos colaboradores e os apoia continuadamente no
desenvolvimento das suas capacidades individuais e profissionais com o objectivo de facilitar
o alcance das metas propostas. Neste novo conceito de liderança, emerge o líder – Coach que
visa ainda dotar as pessoas de poder e responsabilidade nas suas acções, bem como quebrar as
barreiras que muitos líderes chefe instituíam e prejudicavam a relação líder – colaborador,
facilitando assim o relacionamento entre ambos e melhorando ainda o ambiente
organizacional.
“O líder-Coach representa um estilo mais humanizado de liderança (comparado aos
estilos antigos) e mais eficiente em criar equipes e empresas de alta performance. O líder Coach é resultado da implantação de processos de Coaching no mundo empresarial, mais
abrangente nos últimos 20 anos” (Di Stéfano, 2005, p. 25).
2.4.5 Tipos de “Coaching”
“Para ter sucesso no mundo que avança, precisaremos de um novo conjunto de
modelos mentais. Teremos de deslocar nosso pensamento do comandar e controlar para o
coordenar e cultivar” (Malone, 2004, citado por Rego et al., 2007, p. 31).
Segundo a literatura, existem diferentes tipos de Coaching, que são variáveis e
distintos de acordo com a perspectiva de diversos autores. Não se verifica concordância entre
os mesmos relativamente a este assunto, constatando-se que em alguns casos o que varia é
apenas a denominação que atribuem a cada tipologia, integrando objectivos comuns e
conteúdos semelhantes. Assim, segundo a literatura, entre as diversas tipologias existentes
aqui se focam algumas:
27
A Association for Coaching e Stevens (citado por Pereira, 2008, p. 36) que considera
os seguintes quatro tipos de Coaching:
- Coaching pessoal ou de vida: focado na colaboração e orientado para resultados, no
qual o profissional explora as experiências de trabalho ou de qualquer outra área pessoal do
destinatário;
- Coaching de executivos: direccionado para um nível superior de administração, e o
principal objectivo é o melhoramento do desempenho individual, e são tocados assuntos
relacionados com o negócio e o desenvolvimento pessoal;
- Coaching corporativo ou de negócios: focaliza a sua intervenção no apoio a
colaboradores, quer individuais, quer inseridos numa equipa e/ou organização, de forma a
conseguir melhorar o desempenho no negócio ou a eficiência operacional;
- Coaching de grupos: trabalho com mais do que um indivíduo em simultâneo, quer
para alcançar um objectivo comum, quer para criar um ambiente favorável ao
desenvolvimento mútuo.
Cinco tipos de Coaching são identificados por Arrivé & Frings-Juton (2004, citados
por Pereira, 2008, p. 35):
- Coaching de dirigentes – em que o profissional de Coaching serve de “espelho” para
o dirigente, que se encontra sozinho no processo de tomada de decisões;
- Coaching organizacional – que se destina aos altos cargos hierárquicos, e que terá
como principal objectivo, acompanhar indivíduos no processo da sua integração em cargos de
topo;
- Coaching de executivos – acompanhamento de funcionários que exercem
temporariamente lugares de chefia. Este acompanhamento recai sobretudo em áreas de gestão
financeira, gestão de recursos humanos e no desenvolvimento do potencial da chefia;
- Co-Coaching – trata-se aqui de um programa de Coaching aplicado a dois gestores
em simultâneo;
- Coaching de equipa – acompanhamento na construção de trabalho em equipa.
28
Apesar de cada tipo de Coaching apresentar objectivos e focos específicos, todos eles
se centram no “indivíduo” e pretendem potenciar e desenvolver as suas capacidades, quer
sejam pessoais ou profissionais. Mesmo os tipos que se destinam, mais especificamente, a
melhorar o rendimento profissional, requerem uma necessidade de introspecção e análise de
capacidades, metas, objectivos, pensamentos, sentimentos, acções, não só direccionadas com
o desempenho profissional, mas também a nível individual, que focalizem o essencial para
desenvolver o potencial pessoal, com vista nesta articulação, alcançar a meta pré-estabelecida.
Posto isto, constata-se que independentemente do objectivo concreto do tipo de Coaching a
desenvolver, o Coaching de tipo pessoal ou de vida parece ser transversal a qualquer
processo.
Daí ressaltar a importância da aplicação ao Coaching da frase “conhece-te a ti
mesmo”, pois para ultrapassar os obstáculos que possam surgir no alcance dos objectivos é
essencial que cada pessoa se conheça a si próprio.
O tipo de Coaching a ser implementado varia conforme os objectivos que se
pretendem alcançar. É, então importante que o Coach, antes de programar a sua intervenção,
seja em casos individuais ou em solicitações organizacionais, possua conhecimento detalhado
destes objectivos.
2.4.6 Modelos de “Coaching”
“Existem vários modelos de Coaching e cada um deles parte de uma fundamentação
teórica específica que tende a enfatizar alguns aspectos do processo, atender à demanda de
um segmento do mercado ou ajustar-se a alguma aplicação específica” (Krausz, 2007, p. 49).
Tal como sucede na Psicologia e, noutras práticas de desenvolvimento pessoal e
profissional, em que os profissionais devem delinear a sua intervenção tendo por base os
modelos existentes, verifica-se tal semelhança no Coaching. Existem já modelos específicos
de Coaching que, segundo Pereira (2008, p.65), não obstante das suas diferenças de conteúdo,
têm por base as mesmas estratégias:
- reconhecer e utilizar as qualidades e os talentos do cliente;
- mover-se em direcção a uma acção voltada para o terreno;
- decidir o que terá de ser acrescentado e o que terá que ser removido para o caminho
do progresso;
29
- definir onde o cliente poderá obter suporte (emocional, financeiro, físico, etc).
Citam-se alguns dos modelos de Coaching existentes: Modelo GROW; Jogo Interior;
Modelo Achieve; GCP (o processo de Coaching Goldsmith); C.R.A.; C.L.E.A.R..
2.4.6.1 Modelo GROW
Optou-se por aprofundar este modelo pelo facto de ser um dos mais antigos e citados
na literatura e, provavelmente, um dos mais utilizados nas sessões de Coaching.
Este modelo foi desenvolvido por Graham Alexander e adoptado em 2004 por John
Whitmore, constituindo-se como um modelo de referência no desenvolvimento da relação
entre Coach e Coachee.
“GROW sem um contexto de consciência e responsabilidade, mais a habilidade de
questionamento que as gera, tem pouco valor” (Whitmore, 2004, citado por Krausz, 2007, p.
51).
Na óptica de Whitmore (2005) qualquer programa de Coaching deve pautar-se por
objectivos claros, prazos e metas mutuamente acordadas. Cabe ao Coach a “condução do
Coachee” rumo a uma reflexão pessoal, onde este deverá definir alternativas próprias tendo
em conta “o que e o quanto” está disposta a assumir.
De acordo com Dembkovski & Eldridge (2003, citados por Krausz, 2007, p. 51), tendo
em conta um levantamento efectuado pela Escola de Coaching e a Work Foundation em 2002,
34% dos respondentes afirmavam usar este modelo.
Constituindo-se como o modelo mais difundido em toda a Europa, considera-se difícil
especificar precisamente onde teve a sua origem (Ravier, 2005, p. 246).
É uma ferramenta de Coaching simples e prática utilizada na estruturação e orientação
das sessões e processos de Coaching.
O significado da própria palavra “GROW” visa aquilo que mais se pretende no
Coaching: o desenvolvimento humano. Este termo constitui um acrónimo de:
30
Reality (Realidade)
Goal (Meta)
GROW
Will (Vontade)
Options (Opções)
Fig. 1 – GROW: o significado
Fonte: Própria
Poderá considerar-se que este modelo incorpora quatro fases, ao longo das quais o
Coach recorre à técnica das perguntas para orientar e conduzir o processo. Tendo em conta a
perspectiva de Rosa Krausz (2007, p. 51) o GROW propõe-se:
- Auxiliar e apoiar o Coochee a estabelecer os seus objectivos/metas (Goal), ou seja,
aquilo que ele pretende alcançar. O Coach deve assegurar-se que os objectivos/metas
definidas são realistas, alcançáveis, mensuráveis e com prazo estipulado;
- Assegurar que Coach e Coachee tenham clareza sobre onde se encontram num
determinado momento e verificar a viabilidade de suas metas e finalidades. É necessário que o
Coachee tenha noção da sua posição relativamente às metas/objectivos fixados e do caminho
que necessita percorrer para os alcançar;
- Analisar e explorar as opções disponíveis, testar a validade de cada uma delas e
seleccionar a mais válida para o Coachee naquele momento. O Coach propõe-se auxiliar o
Coachee, na análise das vantagens e desvantagens de cada opção seleccionada para alcançar a
meta desejada, incentivando a sua decisão.
- Testar e confirmar o desejo e a disponibilidade do Coachee para executar as acções
necessárias, em suma, garantir que se encontra preparado e comprometido para seguir o
percurso que o leve a alcançar a sua meta/objectivo. Transformar a sua decisão num plano de
acção.
31
REALITY
GOAL
Acordar o objectivo para a sessão
de Coaching.
- O que pretende atingir no final
desta sessão de Coaching?
- Como saberá que o conseguiu?
WILL
Fazer acontecer.
- O que vai fazer? Quando?
Como? Onde? Quanto?
- Esta acção atingirá a sua meta?
- Que obstáculos poderão surgir?
- Que dúvidas necessita sanar?
- Considera-se motivado para a
acção?
- Quer falar de mais alguma coisa
em relação a esta situação?
GOAL
REALITY
WILL
OPTIONS
Onde está e o que se está a passar
agora.
- O que está acontecer agora (o
quê, quando, onde, frequência…)?
- Que resultados/efeitos isso
origina?
OPTIONS
O que pode fazer para atingir o que
pretende.
- Que opções tem? Que passos dar?
- Quem o pode apoiar?
- O que é necessário?
- E se não acontecer o que você espera, o
que pensa fazer?
Fig. 2 – Modelo GROW com exemplos de questões
Fonte: Própria
Para melhor entendimento deste modelo, Catalão & Penim (2010, p. 117), citam a
metáfora sobre a realização de uma viagem em que:
1.
GOAL: estabelecimento de um destino onde o cliente quer chegar;
2.
REALITY: é o ponto de partida, centra-se na identificação do “local” onde o
Cliente se encontra e de onde parte;
3.
OPTIONS: exploração dos caminhos possíveis e meios que o Cliente irá
utilizar para conseguir chegar ao destino definido;
4.
WHAT/WRAP UP: garantia de que o cliente está preparado e comprometido
para enfrentar a caminhada e os eventuais obstáculos com que se irá deparar, através de um
plano de acção.
2.4.6.2 Modelo ACHIEVE
Modelo criado por The Coaching Centre, sob licença de Dembkowski & Eldridge e
sob o registo de The Achieve Coaching Model (Ravier, 2005, p. 260).
Caracteriza-se pelo desenvolvimento do processo de Coaching por meio de sete
passos:
- Avaliação da situação actual (Access Current Situation);
32
- Brainstorm sobre alternativas criativas para a situação actual do cliente (Creative
Alternatives);
- Apurar as metas (Hone Goals);
- Iniciar a geração de opções (Initiate Options Generations);
- Avaliação das opções (Evaluate Options);
- Estabelecimento de um plano de acção (Valid Actions Plan);
- Encorajar a acção (Encourage Momentum).
AVALIAÇÃO
DA
SITUAÇÃO
ACTUAL
ENCORAJAR
ACÇÃO
BRAINSTORMING
PLANO DE
ACÇÃO
APURAR
METAS
AVALIAR
OPÇÕES
GERAR
OPÇÕES
Fig. 3 – Passos do processo de Coaching no modelo Achieve
Fonte: Adaptado de Ravier, L. (2005, p. 267)
Sucintamente este modelo parte da reflexão sobre a situação actual através de factos
passados até ao momento da acção, ou seja, onde o Coachee é encorajado pelo Coach na
concretização das metas estabelecidas, com vista ao encerramento do processo de Coaching.
Até chegar a esta fase final é necessário efectuar um levantamento de possíveis alternativas
para lidar com a situação e definir as metas que se pretendem alcançar. Posteriormente será
importante avaliar cada uma das opções, estabelecendo prioridades, e proceder à construção
de um plano de acção válido.
33
2.4.6.3) Modelo CLEAR
C.L.E.A.R., cuja tradução para português significa claro, constitui-se como um
acrónimo de Contracting, Listening, Exploring, Action e Review (Catalão & Penim, 2010, p.
139). Desenvolvido por Peter Hawkins, é um modelo que se apresenta dividido em cinco
etapas, que são precisamente as mencionadas na constituição do acrónimo C.L.E.A.R.
CONTRATO
ESCUTA
ACTIVA
EXPLORAÇÃO
ACÇÃO
REVISÃO
Fig. 4 – Etapas do modelo CLEAR
Fonte: João, M. (2011, p. 40)
De acordo com os relatos de Maggie João (2011, p. 40) o desenrolar da acção deste
modelo pressupõe em cada uma das etapas o seguinte:
1ª etapa: denominada de contrato, deverá definir-se o problema, os resultados que se
pretendem alcançar nas sessões seguintes, as regras básicas para a relação de Coaching, bem
como a duração e frequência.
2ª etapa: a capacidade de escuta activa e o desenvolvimento de uma atitude empática
são competências fulcrais; Listening/Escuta, que se baseia em ouvir o interlocutor e conseguir
compreender o problema desde a sua e de outras perspectivas.
3ª etapa: exploração, centra-se em auxiliar o cliente a identificar o impacto que a
situação tem para ele e na reflexão sobre possibilidades e oportunidades de acção futura para
resolver a situação.
4ª etapa: acção, baseia-se na selecção de medidas a implementar com vista auxiliar o
cliente na escolha do melhor caminho e na definição dos passos a seguir.
5ª etapa: última do modelo, denominada de Revisão, onde é efectuado um resumo com
vista a identificar o progresso feito, as decisões tomadas e o valor agregado. O cliente fornece
ao Coach feedback que permite validar o resultado prático do que foi negociado no Contrato
inicial.
34
2.4.6.4 Outros Modelos
Apesar de apenas se citarem alguns dos modelos de Coaching, descrevendo
sucintamente apenas 3, existem ainda mais de 20 modelos diferentes. É nas teorias das
ciências sociais, sobretudo na Psicologia que estes modelos se baseiam.
Considera-se então, de acordo com Pereira (2008, p. 66), que os modelos mais
utilizados pelos Coaches neste âmbito são:
- Análise Transaccional;
- Programação Neuro-Linguística;
- Teorias da Personalidade, como a de Jung;
- Modelo sistémico;
- Gestalt;
- Psicanálise;
- Psicologia diferencial.
Refere ainda o autor que os principais instrumentos metodológicos que vem sendo
utilizados no Coaching são:
- Testes e inventários de personalidade;
- Avaliação a 360º;
- Testes de assertividade;
- Eneagrama;
- Questionário “pequenas vozes”;
- Processo de comunicação gerencial;
- Teste de percepção sensorial;
- Etc.
2.4.7) Ferramentas de “Coaching”
“A ferramenta não pode definir o Coach: ele é que define a ferramenta” (Catalão &
Penim, 2010, p.3).
35
Num processo de Coaching, o Coach para sustentar a sua actuação com o Coachee,
recorre a determinadas ferramentas úteis para alcançar os objectivos propostos. É importante
que o Coach se encontre familiarizado com as ferramentas que utiliza e as seleccione de
acordo com cada caso específico. Deverá ter em conta que trabalha com pessoas, e que estas
possuem características únicas, singulares, pelo que deverá considerar que cada caso é um
caso, e que determinada ferramenta poderá ser útil numa situação concreta, mas noutras nem
tanto. Além disso, na escolha da ferramenta deverá ainda considerar o tipo de Coaching e os
objectivos requeridos. Contudo, convém salientar, tal como defendem Catalão & Penim
(2010, p.3), “que o Coach é, ele próprio, a melhor ferramenta de Coaching”.
Existem diversas ferramentas de Coaching, como por exemplo: Roda da Vida, Janela
de Johari, Feedback 360º, Linha do Tempo, entre outras.
2.4.8 “Coaching” e outras práticas de desenvolvimento pessoal e profissional
“Uma acção sistematicamente programada para provocar mudanças válidas nas
pessoas, com um grau razoável de permanência. Essas mudanças incidem nos
conhecimentos, na compreensão, nas competências, nos desempenhos, e na qualidade de vida
e bem-estar. Estas acções são preparadas por profissionais que têm algum tipo de
reconhecimento ou certificação” (Pereira, 2008, p. 27).
A citação supracitada constitui uma base de actuação entre o Coaching e outras
práticas de desenvolvimento pessoal e profissional, pelo que se verificam constantes
confusões ao nível da sua distinção. Porém, diferenças existem, pelo que não podemos
apelidar Coaching de mentoring, formação, consultoria, aconselhamento ou psicoterapia.
No entanto, assiste-se a uma falta de congruência e consenso entre diversos autores ao
nível do esclarecimento, definição, diferenças, objectivos e resultados esperados entre
diferentes práticas de desenvolvimento pessoal e profissional.
Verifica-se ainda na literatura existente, descrições de autores que podem gerar uma
maior controvérsia ao nível do esclarecimento de cada uma das práticas de desenvolvimento
pessoal e profissional, como é o caso de Hudson (1999, p.5) que se refere a “mentoresCoaches” e considera o mentoring um modelo para o Coaching (Krausz, 2007, p. 31).
36
“As frequentes e contínuas mudanças no contexto organizacional impõe aos
executivos e às organizações a necessidade de constantes actualizações técnicas e
comportamentais com o intuito de obter e aprimorar a eficácia de suas decisões, acções e
resultados. Nesse contexto, cresce a adopção de iniciativas que visam preparar e capacitar
os executivos a analisar e decidir conforme a mudança do ambiente, tanto externo quanto
interno à organização. Em ambientes mais instáveis e complexos, verifica-se que tem pouca
eficácia o uso de múltiplos processos, regras e acções prescritivas” (Eisenhardt, 2002, citado
por Ferreira, 2008, p. 9).
As diferentes práticas de desenvolvimento pessoal e profissional surgem então como
uma forma de resposta às necessidades que as constantes mudanças geram no ambiente
organizacional, perspectivando que as organizações possam manter-se competitivas
adaptando-se assertivamente ao contexto de negócios. Kram (1980), Higgins & Kram (2001),
Kram & Isabella (1985), Hudson (1999), Dotlich & Cairo (1999), Whitworth et al. (1998) e
Hunt e Weintraub (2004) (citados por Ferreira, 2008, pp. 9-10), referem que “uma das
alternativas para facilitar a capacitação dos executivos são os programas de
desenvolvimento profissional das actividades de mentoring, counseling e Coaching.”
As diferentes práticas distinguem-se pelo propósito, pelo desenvolvimento do
programa e pelos resultados esperados. O mentoring tem enfoque na transferência de
conhecimento e de experiência do mentor ao mentee, com uma perspectiva de longo prazo. O
counselling busca a reflexão da história passada da pessoa para o aconselhamento de carreira
ou a compreensão de comportamentos disfuncionais no presente que comprometam seu
projecto de carreira. O Coaching, por sua vez, busca desenvolver o executivo com orientação
nas actividades do profissional, dirigida às suas funções organizacionais.
Objectiva-se pois estabelecer limites à utilização de cada uma destas práticas de
desenvolvimento pessoal e profissional, pelo que tem surgido na literatura vários autores
interessados em estabelecer diferenças e semelhanças entre elas. Contudo, convém salientar
que as mesmas se podem complementar, cabendo a cada profissional que as adopte a função
de estabelecer a sua actuação mediante a prática de desenvolvimento na qual exerça a sua
actividade profissional (Pereira, 2008, p. 29).
Face ao exposto e de forma sucinta o quadro a seguir apresentado estabelece as
diferenças entre o Coaching e outras práticas de desenvolvimento pessoal e profissional.
37
Práticas de Desenvolvimento Pessoal e Profissional
Categorias
Propósito
Objectivos
Foco
Coaching
Mentoring
Pró-actividade, descoberta
Transferência
e crescimento;
(beneficiário-destinatário);
Alcançar
objectivos
saber
conhecimento
e
Psicoterapia
Consultoria
Alternativas possíveis,
Envolver
conselhos
psíquicas e relacionadas
sobre
o
questões
Apoio numa escolha a
partir
de
conselhos
específicos, vantagens
caminho a seguir;
com a saúde emocional;
Potenciar/preparar para
Desenvolvimento
Estabelecer alternativas
e desvantagens;
pessoais/profissionais;
experiências profissionais;
a tomada de decisão;
pessoal;
para a mudança;
Presente e Futuro;
Presente e Futuro;
Passado e Presente;
Passado;
Presente e Futuro;
Objectiva
novos
conhecimentos,
Resultados
Partilhar
de
Aconselhamento
habilidades e valores com
resultados
pessoais
e
Ascensão
na
carreira
e
desenvolvimento pessoal;
Eliminação das causas
Operar a mudança;
do
mal-estar
e
das
dificuldades sentidas;
Dar
organização.
profissionais;
Tabela 2 – Diferenças entre Coaching e outras práticas de desenvolvimento pessoal e profissional
Fonte: Adaptado de Dingman (2004, p. 19, citado por Ferreira, 2008, p. 21)
2.4.8.1) “Coaching” vs Mentoring
O significado destes termos tem sido alvo de transformações ao longo dos tempos,
sendo apontados por abordagens distintas, resultantes da construção de conceitos próprios ao
invés de partilhados, por diferentes autores. Tal facto, gera contradições e dificuldades ao
nível do estabelecimento dos limites de cada uma destas práticas de desenvolvimento pessoal
e profissional, criando uma certa instabilidade e até confusão quer na definição, quer na
adopção dos termos. Exemplo disso são as afirmações de Hudson (1999, p.6), “Mentoring é
um modelo para o Coaching. Eu considero a palavra mentor muito formal para o propósito
de um modelo de treinamento. Neste contexto eu prefiro o termo Coach. Com sentido de
actividade física, o Coach é mundialmente aplicado para um profissional que facilita o
aprendizado na prática, que resulta em futura habilidade orientada”.
Na visão deste autor, Coaching e Mentoring prosseguem o mesmo propósito,
constituindo-se como intercambiáveis. “Com um apelo à actualidade, o autor faz opção por
denominar as actividades indistintamente Coach, associado à ideia de treinamento, uma vez
que o mentor remontaria ao século XVII a.C. e, por conseguinte, não corresponderia à
dinâmica do quotidiano do executivo contemporâneo.”
Apesar da controvérsia relativa às afirmações existentes ente Coaching e Mentoring,
tornou-se essencial proceder à definição clara das diferenças e semelhanças entre ambas
(Clutterbuck, 2008, p. 9).
38
retorno
à
Segundo Dingman (2004, citado por Ferreira, 2008, p. 20) é nos objectivos e na
estrutura da relação estabelecida que residem as principais diferenças, constituindo-se o
Coaching como um processo facilitador do Coachee na prossecução de suas metas e o
Mentoring na transferência de conhecimento do beneficiário para o destinatário. Logo, o
Coach não necessitaria ser um especialista no tema de interesse do Coachee, contudo o
Mentor, deveria possuir reconhecida e notória competência no tema.
“Se houver uma diferença genérica, é que o Coaching na maioria das aplicações
aborda o desempenho em algum aspecto do trabalho de um indivíduo ou a vida, enquanto
mentoring é mais frequentemente associado com o desenvolvimento muito mais amplo,
holístico e com progressão na carreira” (Clutterbuck, 2008, p. 9).
Poderá então salientar-se, tal como a autora Guest (1999, citada por Krausz, 2007, p.
34) afirma, que são duas abordagens complementares e não mutuamente exclusivas.
De acordo com Dingman (2004, p.19, citado por Ferreira, 2008, p. 27), “Mentores são
indivíduos com experiência e conhecimento em uma área de especialidade que se
comprometem a construir o relacionamento com seu protégé a fim de prover ascensão e
suporte na carreira.”
Na perspectiva de Garvey (2004) o mentoring focaliza-se sobretudo no
desenvolvimento de uma carreira profissional no sector organizacional. É um processo
centrado na transferência de saber, que visa aprendizagem do destinatário através dos
conhecimentos e competências do mentor, caracterizado por ser alguém mais entendido e com
mais experiência numa determinada área. “O mentor é alguém que trabalha numa
organização e assumiu o papel (oficial ou voluntário) de orientador de uma pessoa mais
jovem e em início de carreira” (Guest, 1999, citado por Krausz, 2007, p. 34).
Apesar de diferenças existirem, algumas semelhanças entre estas duas práticas
também estão presentes. Considerando os testemunhos de Clutterbuck, D. (2008, p. 9) é cada
vez mais aceite que Coaching e Mentoring podem, em contextos específicos:
- ser relativamente directivas ou não-directivas;
- exigir e contar com a experiência do auxiliar;
- ser de curta ou longa duração;
- envolver aconselhamento;
- trabalhar com metas estabelecidas pelo beneficiário ou para o beneficiário;
- envolver acordos com transições significativas que o beneficiário pretende fazer;
- abordar grandes ambições de crescimento pessoal.
39
A tabela apresentada espelha as diferenças existentes entre estas duas práticas de
desenvolvimento pessoal profissional.
Diferenças
Coaching
Mentoring
- A potência do Coaching repousa na capacidade do Coach
- A potência do mentoring repousa no conhecimento
de fazer questionamentos estimuladores e relevantes;
específico e na sabedoria do menor;
- Transferência de saber adquirido pelo destinatário
(beneficiário-empresa);
- Transferência de saber (beneficiário-destinatário);
- Actor, com papel interventivo no desenvolvimento da
- Sujeito passivo, recebendo as instruções de como trabalhar
organização;
numa determinada organização;
- Facilita a aprendizagem (Edwards, 2003, pág.299);
- Orienta e ensina;
- Introdução na empresa de mais-valias baseadas em
- Centrado na cultura organizacional e nos aspectos
aprendizagens do destinatário;
operacionais da empresa;
- Focaliza questões profissionais, alinha valores pessoais e
- Focaliza a carreira representa e transmite valores, visão e
organizacionais, é uma actividade profissional específica
padrões da empresa. Trata-se de uma função e não de uma
com programas de formação e supervisão;
actividade profissional;
- As técnicas pelas quais se leva um indivíduo a descobrir o
potencial e o conhecimento que ele já possui e para utilizálo para se tornar mais eficaz (Copeman, 2005);
- As técnicas por meio das quais são sugeridas possibilidades
para uma pessoa, mediante compartilhamento da experiência e
do conhecimento de um determinado assunto para descortinar
novas perspectivas;
- Enfatiza a análise dos valores individuais e seu
alinhamento com os da organização para estimular o avanço
e o desenvolvimento da pessoa e da organização.
- Tende a reproduzir os padrões, valores e visão da
organização.
Tabela 3 – Diferenças entre Coaching e Mentoring
Fonte: Adptado de Krausz (2007) & Pereira (2008)
2.4.8.2 “Coaching” vs Aconselhamento
“É uma actividade especializada com um propósito terapêutico claro na qual agenda
é estabelecida pelo cliente. O aconselhamento focaliza o indivíduo” (Garvey, 2004, citado
por Krausz, 2007, p. 33).
Apesar de se constituir como uma prática de desenvolvimento pessoal e profissional
com identidade própria é comum ser confundida com o Coaching. Na verdade, este processo
recorre ao uso de técnicas idênticas às que os profissionais de aconselhamento utilizam, no
entanto, os Coaches devem respeitar o campo de actuação dos outros técnicos, sabendo qual a
sua intervenção e os limites/fronteiras entre qualquer prática de desenvolvimento, evitando
desta forma intervir em áreas que não são da sua competência, prevenindo desta forma
fracassos na sua conduta profissional (Clutterbuck, 2008, p. 23).
40
Na óptica de Patterson & Eisenberg (1998), a relação entre o profissional de
aconselhamento e o cliente é conduzida a uma análise da sua carreira profissional que pode
envolver diversas reflexões sobre aspectos susceptíveis de a influenciar, entre eles: mudanças
comportamentais, constructos pessoais e as preocupações emocionais, capacidade de ser bemsucedido, possibilidade de aumentar as oportunidades e minimizar as condições ambientais
adversas, o desenvolvimento de habilidades e de conhecimentos para tomada de decisão.
Segundo os mesmos, a tomada de consciência do profissional torna-se viável a partir do
momento de conhecimento do “eu” e do contexto, seguido do desenvolvimento da capacidade
de tomada de decisões, por meio de um enfoque cognitivo e afectivo capaz de promover
mudança nos comportamentos emocionais.
Centrando o foco no contexto profissional, e através do recurso ao aconselhamento de
carreira, objectiva-se uma análise conjunta de resultados entre o conselheiro e o beneficiário,
de forma a estabelecer as alternativas possíveis para o mesmo, tendo em conta o seu perfil
(Pereira, 2008, p. 31).
Na tabela que se segue apresentam-se resumidamente diferenças entre Coaching e
Aconselhamento.
Diferenças
Coaching
Aconselhamento
- Enfatiza o empoderamento, as forças e o potencial do
- Está voltado para o bem-estar emocional do cliente. Embora
Coachee/cliente e como esse poderá usá-los para melhor
não constitua uma terapia, é considerado por muitos uma
obter os resultados;
abordagem curativa;
- Corresponde aos factores de “motivação” de Herzberg
- Corresponde aos factores “higiénicos ou de manutenção” de
(Edenborough, 2005, pág.8);
Herzberg;
- Há diferença de poder entre conselheiro e aconselhado. Este
- Há nivelamento de poder entre Coach e Coachee;
último tem o problema e o primeiro terá a solução;
- Provoca uma tomada de consciência que conduz a uma
tomada de decisão pelo cliente;
- É um processo com começo, meio, fim e constatação de
resultados;
- Dá conselhos sobre o caminho a seguir;
- É ocasional e pontual. Dá-se episodicamente diante de uma
determinada dificuldade e propõe-se a encaminhar o
aconselhado para uma solução;
- É orientado para acções do presente ou futuro próximo,
para pessoas que desejam operar as mudanças necessárias
para alcançar determinados resultados;
- É orientado para a solução de dificuldades que surgem a
partir de experiências passadas;
- Analisa os resultados em conjunto com o cliente, mas
- Analisa os resultados em conjunto com o cliente e indica
caberá ao cliente encontrar as suas próprias soluções;
quais as alternativas possíveis perante o perfil do cliente;
- É proactivo, sua finalidade é reconhecer e solucionar os
problemas antes que surjam;
- Seu foco é nos comportamentos reactivos e sua mudança;
Tabela 4 – Diferenças entre Coaching e Aconselhamento
Fonte: Adptado de Krausz (2007, p.33-34) & Pereira (2008, p.28)
41
2.4.8.3 “Coaching” vs Psicoterapia
“O Coach, diversamente do terapeuta, está mais focado no futuro do que no passado,
na acção do que na introspecção, no como as coisas podem acontecer em vez do porque
aconteceram” (Harrington, 1998, citado por Krausz, 2007, p. 36).
Não se apresentaria relevante estar aqui a abordar estas duas práticas de
desenvolvimento pessoal e profissional conjuntamente, caso as mesmas não apresentassem
semelhanças e diferenças.
A literatura assume que partilham características comuns, tais como a alteração de
condutas e atitudes e rendimento no posto de trabalho, visando procurar solucionar
dificuldades através da busca de suas próprias soluções para uma melhoria na qualidade de
vida. Ambas se centram no estabelecimento de um relacionamento com o cliente, pelo que,
tanto Coaches como terapeutas devem dominar um vasto conjunto de técnicas como a escuta
activa, forte capacidade de questionamento, empatia e concentração (DeLisle et al., 2006, p.
23-25).
Tendo por base a óptica de Bluckert, o foco do Coaching centra-se no presente,
voltando-se sobretudo para indivíduos que ambicionem ir mais além ou alcançar determinada
meta. Ao invés, a terapia é mais focada no passado e predominantemente voltada para atender
a questões dolorosas ou patológicas que levaram as pessoas a recorrer ao tratamento (DeLisle
et al., 2006, p. 23-25; Krausz, 2007, p. 37).
Contudo, Barosa-Pereira (2008, p. 30-31) aponta que “na sociedade contemporânea, a
psicoterapia deixa de ser olhada como o tratamento exclusivo para patologias graves, e
começa a ser procurada para o desenvolvimento pessoal do destinatário. Uma vez que em
contexto terapêutico, o indivíduo é observado como um todo, havendo necessidade de
trabalhar sobre as causas de uma determinada situação, o Coaching vem complementar essa
prática, dedicando o tempo de interacção exclusivamente a aspectos profissionais presentes,
e centrando a acção no futuro.”
Com vista a destacar algumas das diferenças entre Coaching e Psicoterapia apresentase a tabela seguinte:
42
Diferenças
Coaching
Psicoterapia
- Embora tenha em consideração o indivíduo como um todo,
- Observa o indivíduo como um todo, não especificando
está mais centrado na vida profissional;
qualquer sector da sua vida;
- A duração do programa não ultrapassa os 12 meses;
- A sua duração pode ser muito longa;
- Não é necessário estabelecer previamente os objectivos que
- Tem objectivos precisos e previamente definidos;
se pretende alcançar;
- Trabalha aspectos comportamentais;
- Mexe com a estrutura psíquica;
- Não interessa a causa de determinado comportamento, mas
sim a sua compreensão presente.
- Faz a ligação entre a situação passada e o momento presente.
Tabela 5 – Diferenças entre Coaching e Psicoterapia
Fonte: Adptado de Pereira (2008, p. 28)
2.4.8.4 “Coaching” vs Consultoria
Algumas questões e contradições se têm também levantando ao nível da definição e
foco destes termos, na tentativa de elucidar para os campos de intervenção de cada uma delas.
Porém assiste-se na literatura a descrições de autores que podem contribuir para
confundir ainda mais estas duas práticas de desenvolvimento pessoal e profissional. Como é o
caso de Schein, E. (1967, p. 117, citado por Krausz, 2007, p. 36) que postula o Coaching
como “uma consultoria individual”, isto é, “um subconjunto de consultoria”. Para o autor, o
Coach terá de evidenciar capacidade, como consultor, de estabelecer um relacionamento de
ajuda com o seu cliente.
Centrando-se na complementaridade entre estas duas práticas, Pereira (2008, p. 30)
aponta: “A consultoria surge quando é sentida uma necessidade de avaliação ou de mudança,
mas não se saberá o rumo a tomar. Muitas vezes, a intervenção de pessoas externas à
organização torna-se indispensável para introduzir um olhar imparcial sobre a vida da
empresa. Esses consultores externos indicarão alternativas possíveis para a mudança.
Contudo, poderá ser apenas necessária a mudança de apenas um indivíduo dentro da
organização, para que se efective uma transformação de carácter geral, e aqui entra-se no
domínio do Coaching.”
Constituindo-se o Coaching e a Consultoria como práticas com propósitos e objectivos
diferenciados, apresentam-se a seguir de forma mais detalhada algumas diferenças mais
significativas:
43
Diferenças
Coaching
Consultoria
- O consultar traz soluções e linhas de acção a serem
- O Coach colabora com o cliente na busca de soluções;
implementadas;
- O Coach busca, juntamente com o cliente/Coachee, opções
- O consultor é contratado para solucionar problemas e
para lidar com dificuldades deste, disponibilizando apoio e
fornecer informações específicas sobre uma determinada
instrumental, quando necessário;
questão;
- O Coach não dá conselhos, nem apresenta a sua opinião;
- Trabalha sobre os conhecimentos e as experiências do
destinatário;
- O Coach não e um especialista na área de actuação do
cliente;
- Contribui para que o cliente haja de modo a resolver os
problemas existentes.
- O Consultar poderá dar conselhos específicos e indicar
vantagens e desvantagens numa escolha;
- Utilizada para imputar conhecimentos e experiências;
- O consultor é um especialista em sua área de actuação;
- Propõe-se a resolver problemas específicos do cliente.
Tabela 6 – Diferenças entre Coaching e Consultoria
Fonte: Adptado de Krausz (2007, p. 35-36) & Pereira (2008, p.28)
2.5 Coaching Organizacional
“O local de trabalho moderno é um ambiente competitivo, no qual uma vasta
diversidade de competências, conhecimentos e acções é solicitada aos empregados. Os
métodos tradicionais de gestão e aprendizagem são, actualmente, inadequados para fazer
face a estes requisitos, abrindo assim a porta à disciplina de Coaching no local de trabalho.
(…) Coaching não é apenas mais uma moda, mas um meio eficiente para melhorar os
resultados qualitativa e quantitativamente dentro do local de trabalho” (Noble Manhattan,
citado por João, 2011, p. XVI e XVII).
O valor e o prestígio que as pessoas têm vindo adquirir no mundo organizacional tem
levado a que um dos investimentos primários das organizações seja no potencial humano. Daí
ressaltar a necessidade de desenvolver competências individuais e profissionais de líderes e
colaboradores no sentido de promover a auto-satisfação pessoal e a auto-realização
profissional para alcançar o sucesso da organização. Os escassos métodos até então utilizados
para promover aprendizagem e o desenvolvimento dos colaboradores tornaram-se obsoletos,
surgindo a necessidade de adoptar novos processos, daí a crescente importância do Coaching
a nível organizacional.
Um vasto conjunto de definições de Coaching centradas no contexto organizacional
vêm sendo apresentadas por diversos autores.
44
Para Douglas & Morley (2000, p. 40, citado por Baron et al., 2011, p. 848), o
Coaching constitui-se como “o processo de equipar as pessoas com as ferramentas,
conhecimentos e oportunidades de que necessitam para se desenvolverem e se tornarem mais
eficazes”.
Fabossi (2009) confere ao processo de Coaching o valioso papel de “desenvolver a
capacidade de liderança, melhoria do trabalho em equipa, alinhamento entre metas do
profissional e da organização, de modo a elevar a produtividade e a qualidade de vida de
quem se submete ao processo.”
Considerando ainda uma publicação da série Harvard Business Essentials (HBSP,
2004, citada por Blanco, 2006) o Coaching apresenta-se como “um processo interactivo
utilizado por gerentes e supervisores com o objectivo de solucionar problemas de
desempenho ou desenvolver competências profissionais. Trata-se de um processo construído
por meio da colaboração e baseado em três componentes: ajuda técnica, apoio pessoal e
desafio individual. Esses componentes se entrelaçam e sustentam-se pela existência da
conexão emocional entre líder e liderado ou gerente e subordinado (Coach e Coachee).”
Segundo a International Coach Federation (ICF) “há Coaching organizacional
quando uma organização contrata um ou mais Coaches para trabalhar com pessoas e
equipas, tendo em vista facilitar mudanças organizacionais, nomeadamente no contexto
cultural da organização por forma a atingir resultados acima do esperado. O Coaching
organizacional... permite "customizar" e dar significado ao esforço de mudança.”
No Coaching Organizacional pretende-se alcançar as metas da organização através do
investimento nos Recursos Humanos, ou seja, na integração, retenção e desenvolvimento de
talentos. Em suma, “o Coaching aparece nos dias de hoje para promover um
desenvolvimento e adaptação saudável do indivíduo X consigo mesmo, com a sua equipa e
com a sua empresa, sem que este tenha que seguir conselhos ou orientações do indivíduo Y
que pode ter vivenciado situações muito diferentes das suas, e, por isso, este indivíduo Y, e
como a palavra indivíduo indica, ter construído um quadro de referências que são
individuais, muito suas, e por vezes intransmissíveis na sua essência e naqueles aspectos que
dão resultados” (Pereira, 2008, p. 90).
Para que qualquer tipo de processo de Coaching implementado numa organização se
concretize com sucesso é fundamental que os seus alvos, não estejam apenas presentes, mas
que percebam e considerem pertinente a sua integração e se envolvam com convicção no
mesmo.
45
Revela-se fundamental que o Coachee ou a equipa destinatária do processo
percepcione o Coach como um parceiro de confiança que corre a seu lado em busca da
concretização de seus objectivos. Estudos comprovam que “a eficácia do Coaching é
provável que dependa do acordo mútuo entre as metas, os caminhos escolhidos para alcançálos, e o nível de conforto interpessoal entre o treinador e Coachee” (Joo, 2005; Latham &
Heslin, 2003, citados por Baron, 2011, p. 849). Kampa & White (2002, citado por Baron,
2011, p. 849) e Lowman (2005, citado por Baron, 2011, p. 849) apuraram que “uma aliança
de trabalho positiva entre o treinador e Coachee é uma condição essencial do sucesso
Coaching.”
É ainda importante que além desta aliança, o Coaching seja percepcionado como um
processo que ofereça um ambiente seguro, de confiança, onde seja possível abordar
experiências, objectivos, metas sem qualquer tipo de preconceito ou crítica.
Como ponto de partida, e antes de qualquer processo destinado aos gerentes ou
colaboradores, é necessário que a organização em si compreenda a necessidade que evidencia
em aderir ao Coaching, mudanças que terá de efectuar, objectivos, metas a concretizar. “Ao se
concentrar nas pessoas e ajudá-las a atingir seu potencial, Coaching pode demonstrar o
compromisso da empresa para alcançar o crescimento do negócio através das pessoas”
(Sweeney, 2007, p. 171). A cultura da organização deverá ser percepcionada de forma
idêntica por todos os seus membros.
De acordo com Pereira (2008, p.90) “uma empresa solicita ou implementa um
processo de Coaching quando se perspectivam desafios ou oportunidades, quando há
necessidade de tomar decisões, quando se pretende melhorar a comunicação interpessoal,
ou, simplesmente, quando se sente necessidade de redefinir projectos pessoais e
profissionais.”
Numa organização o tipo de Coaching a implementar pode ser variável conforme os
objectivos que se pretendem alcançar.
“Uma relação de ajuda formada entre um cliente que possui autoridade gerencial e
responsabilidade em uma organização e um consultor que utiliza uma ampla variedade de
técnicas e métodos comportamentais para auxiliar o cliente a alcançar um conjunto de metas
mutuamente identificadas de melhoria de sua performance profissional e satisfação pessoal e,
consequentemente, elevar a eficácia da organização desse cliente dentro de um acordo de
Coaching formalmente definido” (Kilburg, 2000, p. 65).
46
Assim, segundo Stevens (2006, citado por Pereira, 2008, p. 36), o Coaching nas
organizações pode ser:
- Coaching Executivo: dirigido a níveis de topo da organização, tem em vista o
desenvolvimento das capacidades de liderança, fomentando melhorias ao nível da
comunicação e de relacionamento interpessoal.
“É o processo pelo qual a capacidade e eficiência dos líderes são incrementadas. A
essência do Coaching Executivo é ajudar líderes a resolver seus dilemas e transformar o que
aprenderam em resultados positivos para sua organização” (O´Neil, 2000).
- Coaching Corporativo ou de Negócios: “quando existe necessidade de adaptar
missões ou valores das empresas à missão e valores de colaboradores” (Pereira, 2008, p.91).
Pretendendo melhorar o desempenho no negócio ou a eficiência operacional.
- Coaching de Grupos ou Equipas: “quando se regista a urgência de efectuar o mesmo
tipo de intervenção a vários colaboradores do mesmo nível hierárquico ao mesmo tempo.
Neste tipo de Coaching, e não obstante de se poderem considerar momentos em conjunto com
todos os colaboradores no mesmo espaço, a intervenção é sempre individual e personalizada.
Tem a denominação de Coaching de Grupos por ser efectuada a mais do que um
colaborador, ou Coaching de Equipa quando se destina a todos os elementos de uma mesma
equipa” (Pereira, 2008, p.91).
- Coaching Pessoal ou de Vida: “quando o foco da intervenção é o colaborador, que
pretende melhorar ou alterar um comportamento específico, ou mudar uma situação
concreta, como por exemplo (re) definir projectos de carreira” (Pereira, 2008, p.91).
2.5.1 “Coaching” Executivo
“O Coaching é uma forma de intervenção eficaz procurada pelas organizações
actuais, por incluir na sua aplicação, técnicas de desenvolvimento pessoal dirigidas para
aqueles por onde deverá começar um programa de mudança organizacional – os líderes
formais” (Pereira, 2008, p. 75).
A adopção de um bom estilo de liderança encontra-se na base de relacionamentos
interpessoais assertivos, gerando melhorias no ambiente de trabalho, percepcionado como
seguro, estimulante, motivador, capacitado para potenciador um maior envolvimento dos
colaboradores quer na execução das tarefas, no cumprimento dos objectivos organizacionais,
47
na colaboração com os outros, na transmissão, assimilação e interiorização da cultura da
organização e até em situações que requeiram mudanças.
Focando a atenção no Coaching Executivo, processo de intervenção que vem
crescendo rapidamente, vários estudos se têm debruçado nesta área, sobretudo nos efeitos
deste tipo de Coaching. “Coaching Executivo tem vindo a desempenhar um papel chave no
campo de desenvolvimento de liderança e gestão” (O'Leonard, 2009; Bono et al., 2009,
citados por Baron, 2011, p. 847).
De salientar que apesar da crescente evolução da incorporação deste tipo de Coaching,
sobretudo na área dos negócios, os estudos empíricos não têm acompanhado esta tendência,
registando-se um escasso número de rigorosas investigações. “Poucos estudos empíricos
rigorosos quantitativos foram realizados, e a maioria deles têm-se centrado sobre a eficácia
do coaching” (Kampa-Kokesch & Anderson, 2001; Smither et al., 2003, citados por Baron,
2011, p. 847).
Estudos efectuados revelam que o tipo de relacionamento estabelecido entre o Coach e
o Coachee assume particular relevância no efeito do processo de Coaching. Joo (2005, citado
por Baron, 2011, p. 849), Latham & Heslin (2003, citados por Baron, 2011, p. 849)
argumentam que “é provável que a eficácia do Coaching dependa do acordo mútuo entre as
metas, os caminhos escolhidos para alcançá-las, e o nível de conforto interpessoal entre o
treinador e Coachee”, daí salientarem a importância da aliança de trabalho criada entre estes
intervenientes.
De igual modo (Kampa & White, 2002; Lowman, 2005, citados por Baron, 2011, p.
849) referem que é condição essencial para o sucesso do processo de Coaching, o
estabelecimento de uma aliança positiva entre Coach e Coachee.
Importa ainda destacar o estudo retrospectivo de McGovern et al. (2001, citados por
Baron, 2011, p. 850) onde 84% dos Coachees identificam a qualidade do relacionamento com
o seu treinador como fundamental para o sucesso do Coaching.
Parece então existir consenso entre estudos efectuados por diferentes autores de que
aliança de trabalho instituída tem um impacto significativo no Coaching Executivo.
“Não basta que os indivíduos estejam motivados, é preciso que essa motivação seja
orientada para os objectivos estratégicos da organização. Assim, a vinculação afectiva à
organização, ou implicação organizacional afectiva (Caetano & Tavares, 2000, citados por
Pereira, 2008, p. 78) constitui um parâmetro fundamental do comportamento organizacional,
48
uma vez que permite atribuir sentido ao próprio esforço e cria disponibilidade no empregado
(…) também para aprender e desenvolver novas competências requeridas pela organização.”
2.5.2) Efeitos do “Coaching” em contexto profissional
“O conceito de "gestor como Coach" surgiu e ganhou popularidade considerável.
Enquanto treinador foi concebido como o paradigma da nova gestão, (Evered & Selman,
1989; Orth et al., 1987, citados por Ellinger, 2008, p. 241) um número crescente de livros com
foco em artigos e praticantes tornaram-se disponíveis sugerindo que o Coaching é um papel
essencial que os gestores e os líderes precisam desenvolver” (Antonioni, 2000; BiancoMathis et al., 2002; Hunt & Weintraub, 2002; Kraines, 2001; Piasecka, 2000; Ragsdale, 2000,
citados por Ellinger, 2008, p. 241).
A excentricidade à volta do tema do Coaching como uma prática de sucesso a nível
organizacional, tem gerado algumas pesquisas no sentido de apurar se efectivamente os
resultados se coadunam com a popularidade do conceito.
“Apesar de alguns esforços de pesquisa recentes terem começado a estabelecer uma
base mais robusta da literatura sobre eficácia (positivo) dos comportamentos de Coaching
gerenciais (Hamlin et al., 2006; Longenecker & Neubert, 2005, citados por Ellinger, 2008, p.
241) a pesquisa empírica explorando ineficácia (negativo) de comportamentos tem recebido
pouca atenção académica”.
Visto constituir-se como um processo demasiado actual, não se encontram ainda na
literatura um vasto leque de estudos empíricos, pelo que se revela pertinente continuar a
efectuar investigações nesta área, sobretudo porque as pesquisas se tem debruçado nos
benefícios da implementação do Coaching em detrimento de aspectos que possam ser
negativos ou ineficazes para as organizações.
“A verdadeira vantagem de um programa de Coaching correctamente implementado é
que ele se torne auto sustentado, produzindo resultados por um período indefinido. O
processo de Coaching não deve terminar no momento em que a empresa de Coaching (…) vai
embora. Uma abordagem estratégica de Coaching é capaz de gerar um ambiente de trabalho
de apoio mútuo, totalmente afinado com a geração de resultados significativos, valiosos e
duráveis” (Freas, 2003, citado por Pereira, 2008, p. 77).
49
Caracterizado por gerar benefícios para as organizações, através do investimento no
potencial humano, o Coaching revela-se desta forma como uma vantagem competitiva de
longa duração para as organizações. “Pesquisas recentes têm sugerido que o Coaching é um
elemento essencial de uma gestão eficaz, e os benefícios da criação de uma cultura de
Coaching resulta em melhorias na produtividade e desempenho” (Yu, 2007, citado por
Ellinger, p. 241).
Na óptica de Arrivé & Frings-Juton (2004, citados por Pereira, 2008, p. 77-78) a
incorporação de um programa de Coaching numa organização poderá trazer benefícios a dois
níveis, quer para o Coachee, quer para a organização.
1º Nível - Coachee
Benefícios cognitivos: aperfeiçoamento da sua capacidade de análise;
Benefícios profissionais: competências de gestão e de liderança;
Benefícios psicológicos: gestão do stress e possibilidades de libertação interior.
2º Nível - Organização
Eficiência da chefia;
Melhor gestão de equipa;
Melhor aplicação dos recursos internos da organização, assim como, a capacidade de reter o saber - fazer organizacional.
Quadro 1 – Benefícios Coachee e Organização
Fonte: Adaptado de Arrivé & Frings-Juton (2004) & Pereira (2008, p.78)
Estudos de índole mais prática, efectuados em contextos reais de trabalho tem
contribuído para recolher resultados, estabelecer hipóteses e conclusões relativas a
implicações sobre o Coaching.
Exemplo disso é o estudo sobre líderes e Coaching publicado por Clinton O.
Longeneck (2010, p. 33-34) que se baseou em explorar a prática do Coaching no local de
trabalho, através de uma amostra de 219 gestores que foram inquiridos com uma série de
questões que visaram obter um melhor entendimento da sua experiência nesta área.
Entre os resultados obtidos com implicações mais relevantes para a prática do
Coaching salientam-se:
- 82% dos gestores concordam que o Coaching é extremamente importante para o
sucesso de um gerente;
- 68% dos gestores afirmou que conhecer o seu “povo” era extremamente importante
para a sua eficácia como treinador;
50
- 93% dos gestores concordam que os funcionários querem e precisam de feedback e
Coaching para melhorar seu desempenho;
- 74% dos gestores afirmaram que eles acreditavam que a maioria dos funcionários
não recebia feedback suficiente e orientação sobre como melhorar seu desempenho;
- 69% dos gerentes acreditam que um gestor deve ajustar a sua abordagem ao
Coaching para atender às necessidades de desempenho de cada funcionário;
- 78% dos gerentes acreditam que a capacidade do funcionário e motivação pode
influenciar abordagem de um gerente para o treinar;
- 43% dos gerentes acreditam que outros gerentes são eficazes no seu papel como
treinador;
- 66% dos gestores afirmaram que se esforçaram para dar tempo para treinar em uma
base contínua;
- 80% dos gerentes acreditam que eles poderiam melhorar suas habilidades de
Coaching.
Wise, P. & Voss, L. (2002) apontam na sua publicação estudos que também referem
benefícios do Coaching a diversos níveis, entre eles referem-se os seguintes:
- Os ganhos em desempenho corporativo: assente num estudo com 100 executivos
onde se registaram benefícios na produtividade, qualidade, força organizacional, atendimento
ao cliente, retenção de executivos, e rentabilidade, bem como reduções nas reclamações de
clientes e custos (Anne Fisher, 2002).
- Melhoria nos relacionamentos: inclui também o grupo-alvo dos 100 executivos,
verificando-se uma melhoria nas relações de trabalho com responsáveis directos, supervisores
imediatos, colegas e clientes externos à organização.
- Aumento da eficácia da liderança: ainda no âmbito do estudo com os 100 executivos,
Coachees
alegaram
melhorias
no
trabalho
em
equipa,
desempenho,
satisfação,
comprometimento organizacional e na redução dos níveis de conflito.
Além dos benefícios que vem sendo apontados, revela-se fundamental avaliar se
efectivamente os programas de Coaching, além de produzirem ganhos para os recursos
humanos, se revelam lucrativos a nível do crescimento económico da organização. Daí
existirem já alguns estudos que se debruçam em avaliar o retorno sobre o investimento (ROI).
51
“Estudos revelam retornos acima dos 500%” (Barosa-Pereira, 2008, p. 78), contudo alguns
críticos consideram estes valores como uma estratégia de marketing utilizada por grandes
consultores internacionais.
Parece pois ser consensual que devem surgir cada vez mais estudos centrados em
avaliar o retorno sobre o investimento (ROI) para efectivamente se apresentarem resultados
mais específicos relativos aos reais benefícios financeiros do Coaching executivo.
Três estudos publicados por Wise, P. & Voss, L. (2002, p. 8) apontam valores de ROI
entre 500 a 1000%. Um estudo de Coaching bem sucedido anunciou um ROI de 1000%,
porém outro de 358 organizações afirmaram um ROI de quase 600%. Um estudo mais
recente, divulgou um valor inferior, atribuindo um ROI em excesso de 500% (Anderson, M.,
2002).
Organizações ligadas à área do Coaching têm também divulgado resultados de estudos
efectuados neste âmbito, considerando-o como um dos investimentos de desenvolvimento
organizacional mais atractivo na relação custo – benefício, considerando que tem vindo a
adquirir cada vez mais aceitação no mundo das organizações.
Segundo a International Coach Federation (2009), as organizações que recorrem ou
recorreram ao Coaching profissional por motivos comerciais obtiveram um retorno médio
sobre o investimento sete vezes maior. Os clientes individuais relataram um retorno médio de
3,44 sobre o investimento, demonstrando ainda este estudo que 86% das empresas que usam
ou usaram a ajuda de Coaching relataram pelo menos um retorno de 100% sobre o
investimento inicial e um grande impacto nas metas dos clientes. 80% dos clientes de
Coaching mencionaram ainda que tiveram uma mudança positiva na sua autoestima/confiança devido a esta parceria com um Coach profissional. Além de aumentar a
auto-estima/confiança, também se destacam os resultados relativos ao impacto positivo nos
relacionamentos, habilidade de comunicação, habilidade interpessoal, desempenho do
trabalho e divisão trabalho/vida particular devido a esta parceria com Coaches.
Uma maioria esmagadora, 82,7%, dos indivíduos que tiveram ajuda de Coach
profissional relatou estar “muito satisfeito” com a experiência com Coaching e 96,2%
disseram que repetiriam a experiência.
Pereira (2007) verificou que o Coachee ao encontrar satisfação profissional, aumenta a
rentabilização do seu potencial, promovendo em simultâneo o desenvolvimento da equipa
como um todo.
52
Tendo em conta um estudo levado a cabo pela Behavioral Coaching Institute (BCI)
em 2010, empresas que realizaram Coaching com Executivos, apontam benefícios na cultura
organizacional, relatados pelos próprios executivos, em: produtividade (53%), qualidade
(48%), atendimento ao cliente (39%), redução de queixas dos clientes (34%), retenção dos
Executivos que receberam Coaching (32%), redução de custos (23%), lucro final (22%),
relacionamento com a equipe (77%), relacionamento com líderes imediatos (71%), trabalho
em equipe (67%), relacionamento com os pares (63%), satisfação no trabalho (61%), redução
de conflitos (52%), comprometimento organizacional (44%), relacionamento com os clientes
(37%).
De acordo com o estudo realizado pela AMA/ Institute for Corporate Productivity
Coaching Survay, nas projecções de 2008 até 2018, foram apontadas as principais
necessidades para a contratação de um processo de Coaching nas Organizações: 79% – para
aumento de produtividade e performance individual, 63% – para desenvolvimento de
liderança e planos de sucessão, 60% – para aumentar os níveis de habilidades individuais dos
funcionários, 56% – para melhorar o desempenho organizacional, 44% – desenvolver
habilidades específicas para gerir crises e problemas.
Apesar de até ao momento a investigação se vir debruçando sobretudo nos benefícios
e nas vantagens de incorporação de programas de Coaching em contexto organizacional,
alguns estudos, ainda que escassos, apontam já algumas críticas centradas neste tipo de
processo.
Duck (1994, citado por Ellinger, 2008, p. 242) argumenta que “as "negativas" e os
"positivos" elementos da relação precisam ser incorporados juntos, teoricamente, em um
conjunto de princípios que possam lidar com ambos, e que os dois são peças conjugadas de
relações que precisam ser examinadas por pesquisadores para captar adequadamente a
totalidade de uma experiência relacional.”
Um processo de Coaching implica pelo menos a existência de dois indivíduos, o
Coach e o Coachee, e o seu desenvolvimento centra-se sobretudo numa relação que irá ser
partilhada por ambos. Nem todos os relacionamentos que estabelecemos com os outros são
saudáveis, nem o ser humano tem a capacidade de criar empatia e estabelecer contactos
assertivos com todo o indivíduo.
53
Logo, centrando-se esta prática de desenvolvimento num relacionamento, caso este
não funcione, os efeitos esperados do programa de Coaching podem não ser alcançados,
verificando-se este constrangimento, principalmente em casos de opção por um Coach interno
“é razoável prever que relações de Coaching possam estar também susceptíveis a problemas,
com incidentes desagradáveis e experiências negativas, sendo uma característica comum de
qualquer tipo de treinamento relacionado com desenvolvimento de relações interpessoais, no
mínimo aquelas existentes entre gerentes e subordinados” (Ellinger et al., 2008).
Poderá então salientar-se que experiências negativas prévias em relacionamentos
interpessoais poderão gerar uma intervenção ineficaz entre os intervenientes num processo de
Coaching.
“O Coaching tem sido tradicionalmente visto como um remédio para o mal
desempenho e como uma abordagem que une a eficácia individual com o desempenho
organizacional” (HR Focus, 2001, citado por Ellinger, p. 243).
Objectiva-se pois através de um processo de Coaching executivo melhorar o
rendimento dos recursos humanos, através de melhorias a nível individual e do ambiente
profissional, com vista alcançar um maior crescimento económico da organização, de forma a
torná-la sustentável e competitiva.
“Conclusivamente, Coaching Corporativo é acreditado para trazer benefícios para a
organização de financiamento sob a forma de aumento da actividade individual que conduz a
um aumento no desempenho, a melhoria da comunicação que leva a relações melhores com o
cliente e trabalho em equipa, bem como aumento da motivação, o que deverá melhorar a
satisfação no trabalho e o compromisso com a organização” (Herzberg et al., 1959).
54
3.
Desenvolvimento/Aplicação
“O futuro do Coaching como um serviço profissional efectivo e legitimado depende de
dados empíricos confiáveis que suportem sua efectividade como ferramenta de
desenvolvimento focada no talento executivo” (Douglas & Morley, 2000, citados por Blanco,
2006).
Tendo por base as informações de índole mais teórica relatadas ao longo do trabalho e
os objectivos do presente estudo pretende-se construir uma ponte que fundamente os
resultados obtidos no desenvolvimento desta investigação.
Objectivando-se uma avaliação da forma como os processos de Coaching podem
contribuir para melhorar a performance dos recursos humanos, seja num nível mais pessoal ou
mais orientado para a vertente profissional, através de testemunhos de uma amostra
constituída por 20 indivíduos que foram alvo de algum tipo de processo de Coaching
(actualmente Coaches ou ex-Coachees), recorreu-se ao método qualitativo, através da
construção de um instrumento para obter resultados que possam validar ou rejeitar as
hipóteses deste estudo.
Questão/Hipóteses
Método
Entrevista
Semi-Estruturada
Análise de Conteúdo
Validade Hipótese
Fig. 5 – Passos adoptados na investigação empírica
Fonte: Própria
55
“As pesquisas qualitativas interessam-se mais pelos processos do que pelos produtos
(Bogdan & Biklen, 1994, p. 49, citados por Gouvêa et al., 2007, p. 12) e preocupam-se mais
com a compreensão e a interpretação sobre como os factos e os fenómenos se manifestam do
que em determinar causas para os mesmos” (Serrano, 2004).
Visto que a escolha da metodologia de uma investigação deve ter em conta a natureza
da questão a estudar, optou-se pela qualitativa por privilegiar a compreensão dos problemas a
partir da perspectiva dos sujeitos.
Bogdan & Biklen (1994, citados por Gouvêa et al., 2007) consideram que esta
abordagem permite descrever um fenómeno em profundidade através da apreensão de
significados e dos estados subjectivos dos sujeitos pois, nestes estudos, há sempre uma
tentativa de capturar e compreender, com pormenor, as perspectivas e os pontos de vista dos
indivíduos sobre determinado assunto.
“O objectivo principal da abordagem qualitativa é o de compreender de uma forma
global as situações, as experiências e os significados das acções e das percepções dos
sujeitos através da sua dilucidação e descrição” (Bogdan & Biklen, 1994, citados por
Gouvêa et al., 2007).
A escolha da metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho, tendo como
ponto de partida a questão e as hipóteses formuladas baseou-se inicialmente na exploração
bibliográfica sobre a temática do Coaching, com maior ênfase na vertente organizacional.
Neste sentido, foram efectuadas pesquisas em teses de mestrado, artigos científicos,
abordando quer conteúdos mais teóricos, quer estudos efectuados nesta área, livros publicados
e na internet em sites de associações/escolas/federações e outras ligadas ao Coaching.
Uma vez, delineados os objectivos e definida a população-alvo do estudo, procedeu-se
à construção do instrumento de avaliação que se considerou ser o mais adequado, o guião de
entrevista. Técnica de pesquisa qualitativa que possibilita uma compreensão detalhada do que
os sujeitos opinam, pensam, sentem ou fazem sobre o assunto exposto.
De forma sucinta e esquematizada se apresentam os conteúdos chave que serviram de
base à investigação no terreno.
56
3.1 Objectivos
3.1.1 Objectivo Geral: avaliar de que forma os processos de Coaching influenciam os
indivíduos alvo dos mesmos, seja a nível do seu desenvolvimento pessoal ou profissional,
considerando sobretudo possíveis melhorias no seu desempenho.
3.1.2 Objectivos Específicos:
Salientar
as
implicações
dos
processos
de
Coaching
no
comportamento
organizacional;
Destacar os aspectos positivos decorrentes dos processos de Coaching;
Destacar os aspectos negativos dos processos de Coaching;
Avaliar o grau de satisfação com o processo de Coaching;
Destacar as mudanças esperadas/ocorridas a nível pessoal;
Destacar as mudanças esperadas/ocorridas a nível profissional;
Perceber a influência no estilo de relacionamento interpessoal;
Perceber a influência no estilo de liderança;
Perceber a influência na gestão da vida pessoal;
Perceber a influência no contexto de trabalho.
3.1.3 Questão inicial: Qual a influência dos processos de Coaching a nível pessoal e
profissional?
3.1.4 Hipóteses:
3.1.4.1 Hipótese principal: Os processos de Coaching influenciam o desenvolvimento
pessoal e profissional das pessoas.
3.1.4.2 Hipóteses secundárias:
1. Os processos de Coaching possibilitam melhorias no desempenho dos indivíduos;
2. Os processos de Coaching facilitam o relacionamento interpessoal;
3. Os processos de Coaching influenciam o estilo de liderança;
57
4. Os processos de Coaching possibilitam alcançar mudanças no comportamento
organizacional;
5. Os processos de Coaching contribuem para uma melhoria no ambiente
organizacional;
6. Os processos de Coaching trazem benefícios a nível da gestão de vida pessoal.
3.1.5 População-Alvo: 20 indivíduos que já tenham sido alvo de algum tipo de
processo de Coaching (actualmente Coaches ou ex-Coachees).
Para obter as melhores respostas, nada melhor que envolver participantes com algum
grau de conhecimento nesta área.
Direccionando-se a investigação na avaliação da influência dos processos de
Coaching, seja num nível pessoal ou profissional, sobretudo nas possíveis melhorias no
desempenho/performance, procurou-se envolver uma amostra de indivíduos que já tenham
beneficiado ou ainda beneficiem de processos de Coaching.
As características da amostra, além do requisito supracitado, não impunham muitas
outras especificidades, além dos elementos serem detentores de nacionalidade Portuguesa e
beneficiado de processos de Coaching em território nacional. A investigação poderia então
englobar indivíduos de ambos os sexos, várias idades, raças, reformados, desempregados ou
no activo.
Buscando encontrar a população-alvo do estudo, numa fase inicial foram estabelecidos
contactos com indivíduos mais próximos ligados a esta área. Visto desta forma não se
conseguir englobar amostra desejada, nem obter as informações esperadas, recorreu-se a
páginas da internet relacionadas com formação ou outros serviços da área do Coaching, onde
foi possível aceder a um vasto leque de contactos electrónicos de presumíveis detentores dos
requisitos estipulados.
Os contactos dos participantes na investigação foram recolhidos, à excepção de um
número reduzido, que resultaram de conhecimentos de participação em formações pessoais ou
de outros colegas, nas seguintes páginas da internet:
- APCOACHING – Associação Portuguesa de Coaching;
- Portal Coaching Portugal;
- Portal do Ser;
- Incubit;
58
- LIFE Training;
- Rh.Coaching – Transformação, Desenvolvimento e Consultadoria Organizacional;
- Key – Centro de Formação Profissional;
- Human Resources Portugal.
Foram contactadas via correio electrónico e convidadas a participar na presente
investigação cerca de 100 pessoas, entre as quais, 45 manifestaram interesse em colaborar.
Contudo, apenas 21 se prontificaram a responder à entrevista, procedendo-se anulação de uma
delas pelo facto de se encontrar muito incompleta.
3.1.6 Metodologia de investigação: qualitativa.
Perspectivando-se analisar a questão central de forma aprofundada, partindo dos
testemunhos da população-alvo, considerou-se que a metodologia de investigação qualitativa
seria a mais ajustada para melhor compreender e interpretar o significado das suas ideias,
opiniões e visões, possibilitando desta forma a confirmação ou rejeição das hipóteses
enunciadas.
3.1.7 Técnica de investigação: entrevista.
A selecção e construção do instrumento de investigação teve como base os objectivos
definidos, a população-alvo, a questão de partida e as hipóteses formuladas e fundamentou-se
nas pesquisas bibliográficas efectuadas.
Procedeu-se à construção de um guião de entrevista constituído por um conjunto de
questões abertas e fechadas segundo o seu grau de classificação, caracterizando-se quanto à
sua tipologia como entrevista semiestruturada.
“ [...] as entrevistas semiestruturadas combinam perguntas fechadas e abertas onde o
informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve
seguir um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz num contexto muito
semelhante ao de uma conversa informal [...] permite cobertura mais profunda sobre
determinados assuntos e a interacção favorece respostas espontâneas e exploração de
significados pessoais. Tem a possibilidade de utilizar recursos visuais como cartões,
fotografias e fazê-lo lembrar de factos” (Boni & Quaresma, 2005, p. 73).
59
As questões foram agrupadas, tendo em conta o seu grau de relacionamento no assunto
e ordenadas de forma lógica, partindo-se de questões mais particulares para questões mais
gerais.
Primou-se pela utilização de uma linguagem simples adequada ao público-alvo com
questões sobretudo centradas em experiências pessoais e profissionais, não evasivas,
motivantes e que não envolvessem demasiado esforço na produção da resposta.
Planeou-se utilizar a técnica da entrevista, de forma presencial, procurando que o
entrevistado respondesse a questões orientadas no contexto de uma conversa informal,
contudo todos os constrangimentos que surgiram para conseguir chegar até à população-alvo,
impediram que se concretizasse dessa forma. Assim sendo, e em alternativa recorreu-se às
novas tecnologias para alcançar os objectivos definidos, respondendo o público-alvo às
questões apresentadas, com recurso à internet, via correio electrónico e por contacto
telefónico.
No caso das entrevistas enviadas por correio electrónico, para o primeiro contacto
estabelecido, foi elaborada uma mensagem electrónica introdutória contemplada por uma
breve apresentação pessoal, os objectivos da investigação, amostra alvo, procedimentos a
utilizar, bem como a forma em que se chegou ao contacto do possível entrevistado, apelando
em jeito de convite à sua participação no estudo. Procedeu-se ainda à contextualização da
dissertação, abordando-se o seu propósito e âmbito de contexto de desenvolvimento,
acrescentando-se na parte final que caso tivessem interesse lhes seriam facultados os
resultados da investigação.
Desta forma agiu-se tendo em conta a perspectiva de Gunther (1999, pp. 236-237):
“no cumprimento (a introdução) reconhece-se o outro e estabelece-se o nível de confiança
apropriado e necessário. Segue-se a transacção social em si, a interacção pergunta-resposta.
Na despedida reforça-se qualquer sinalização de benefícios (futuros) já demonstrada.”
Poderá então referir-se que foram seguidas as fases comuns de qualquer interacção social, que
consistem em um cumprimento, em uma interacção e em uma despedida, às quais um
instrumento de pesquisa deve obedecer.
Aos elementos alvo deste primeiro contacto, que manifestaram interesse e vontade em
colaborar na investigação, foi-lhes enviada nova mensagem de correio electrónico com as
devidas orientações, anexando-se o guião da entrevista.
60
3.1.8 Técnica de análise de dados: análise de conteúdo.
Perante uma metodologia qualitativa com recurso à técnica de investigação da
entrevista, primou-se por uma análise de dados centrada na análise de conteúdo.
Análise de conteúdo revela-se segundo a definição mais popular como “uma técnica
de investigação que tem por finalidade a descrição objectiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto da comunicação” (Berelson, 1952, citado por Silva et al., 2004, p.73).
Objectivou-se pois descodificar o conteúdo das respostas dos participantes, através de
uma análise objectiva e comparativa das informações recolhidas por categorias de análise. Em
suma, tomando como ponto de partida os dados das entrevistas aplicadas efectuou-se uma
análise e interpretação aos mesmos para daí se realizarem as devidas inferências, por forma a
estabelecer uma conclusão.
Desta forma, a análise de conteúdo efectuada centrou-se nas três fases fundamentais
de pré-análise, exploração do material e tratamento de resultados, descritas Godoy (1995,
citado por Silva et al., 2004, p. 74).
Não obstante, os procedimentos utilizados tiveram ainda por base as etapas de análise
de conteúdo apontadas por Laville & Dionne (1999, citados por Silva et al., 2004, p.74): “o
recorte de conteúdos, a definição das categorias analíticas e a categorização final das
unidades de análise.”
Sucintamente, tendo por base os pressupostos da análise de conteúdo, e com o recurso
a um modo de análise mais pessoal, utilizando-se uma matriz desta técnica de análise,
procurou-se descodificar e interpretar a informação através da sua subdivisão em: Tema,
Categorias, Subcategorias, Indicadores/Unidades de Registo, Unidades de Contexto.
Em toda a análise e interpretação dos dados tomou-se como ponto orientador os
objectivos, a questão inicial e as hipóteses formuladas.
61
62
4.
Resultados
Os resultados encontram-se apresentados de forma esquemática, lógica e sequencial,
de acordo com as questões da entrevista, procurando partir-se de aspectos mais particulares,
para mais gerais.
Para maior especificação do texto escrito, resultante da análise de conteúdo, são
apresentadas algumas tabelas, quadros e gráficos variados.
A primeira parte corresponde aos dados associados à caracterização dos 20 indivíduos
que constituem amostra da presente investigação. Centrando-se uma segunda parte nos dados
que vão servir de base para testar a validade das hipóteses enunciadas.
4.1 Perfil Pessoal
4.1.1 Idades
IDADES
45%
20%
30-39
40-49
35%
50-59
Gráf. 1 – Idades dos respondentes
Fonte: Própria
O gráfico 1 espelha as idades dos participantes por intervalos, verificando-se maior
prevalência de idades compreendidas no intervalo de 50-59 anos (47%).
A média de idades situa-se nos 46 anos, possuindo o respondente mais novo 34 e o
mais velho 57.
Pelas idades aqui representadas poderá inferir-se que os indivíduos se vêm
interessando em explorar esta área após atingirem a idade adulta e adquirirem algum grau de
maturidade e conhecimentos.
63
4.1.2 Género
Género
40%
Masculino
60%
Feminino
Gráf. 2 – Sexo dos respondentes
Fonte: Própria
Na variável género não se registam diferenças significativas entre o sexo do público alvo, 60% do sexo Feminino e 40% do Masculino.
4.1.3 Estado Civil
Estado Civil
0%
0%
Solteiro
15%
25%
Casado
Viúvo
Divorciado
60%
União de Facto
Gráf. 3 – Estado civil dos respondentes
Fonte: Própria
Tal como é possível visualizar no gráfico 3, representativo do estado civil dos
respondentes, a grande maioria (60%) refere estar já casado. Esta percentagem, poderá
encontrar-se interligada às idades dos participantes, visto a maior parte da amostra ser
constituída por indivíduos que se encontram em plena fase adulta.
Dos 20 indivíduos, registam-se 5 (25%) solteiros, 3 (15%) divorciados e nenhum caso
viúvo ou em união de facto.
64
4.2 Perfil Escolar/Formativo
Habilitações Literárias
5%
10%
Doutoramento
25%
40%
Mestrado
MBA
Pós-Graduação
10%
10%
Licenciatura
Ens. Secundário
Gráf. 4 – Habilitações literárias dos respondentes
Fonte: Própria
A amostra de participantes desta investigação, com excepção de um elemento
apresenta um percurso académico extensivo, com elevados graus de habilitação de ensino
superior.
A maior parte dos respondentes apresenta estudos equivalentes à Licenciatura (8 –
40%) e Mestrado (5 – 25%), seguindo-se os que adquiriram o grau de Doutoramento (2 –
10%), MBA (2 – 10%), Pós-Graduação (2 – 10%) e Ensino Secundário (1 – 5%).
Uma das inferências que se pode levantar relaciona-se com o facto dos indivíduos que
se debruçam na área do Coaching, seja por envolvimento num processo a nível pessoal ou
profissional ou de âmbito formativo, possuírem elevados graus de habilitações académicas.
Constituindo-se como uma área de interesse de indivíduos que apostam nos estudos, na
aquisição de conhecimentos e novas aprendizagens, em suma num constante desenvolvimento
pessoal.
4.2.1 Áreas de Formação Académica
Da análise dos dados constata-se ainda que os participantes que recorrem ou tiveram
de recorrer a processos ou formações na área do Coaching não apresentam obrigatoriamente
áreas de formação académica similares.
65
Poderá referir-se com base na amostra da investigação, que o Coaching não se
restringe a indivíduos de áreas de estudo específicas, mas sim diversificadas. Desde a área de
Gestão, com inquiridos com formação em Economia, Gestão…, à área Social, apresentando
estudos em Psicologia, Serviço Social…, e até à da Saúde representados pelas Ciências
Farmacêuticas, Terapia Ocupacional…, entre outras, com cursos em Informática, Direito,
Geografia Física, Engenharias… inserem-se os elementos alvo da entrevista desta
investigação.
4.2.2 Acções de Formação
Todos os respondentes além dos estudos que lhes conferem diferentes graus de
habilitação, apresentam formações variadas na área do Coaching. Assim sendo, podem
encontrar-se indivíduos com certificação profissional em Coching, no geral (curso de
certificação em Coaching), em diferentes níveis de Coaching (Coaching I, II,III) ou em
assuntos específicos desse âmbito (Business Coaching; Executive Coaching; Coaching
Profissional; Coaching Trainers; Life Coaching; A arte e a prática do Coaching; Coaching e
PNL orientado para liderança e Excelência Pessoal-Nível I, II; Master Coach).
O desenvolvimento Pessoal e Profissional foi o principal impulsionador deste público
– alvo na selecção do Coaching como uma área de formação complementar. Aquisição de
novas competências, melhorias ao nível do relacionamento interpessoal, desempenho
profissional, bem como a necessidade de definição e concretização de objectivos, tomada de
decisão, maior autoconfiança e valorização pessoal, foram os principais benefícios alcançados
pelos inquiridos na frequência de formações neste âmbito.
4.3 Perfil Profissional
4.3.1 Profissão Actual
Regista-se entre a maioria dos participantes no estudo, actividade profissional actual
como Coach, Consultor e Formador. Salientando-se que desempenham qualquer uma das
actividades citadas em simultâneo com outra profissão, acrescentando-se que a maioria
desempenha duas ou três destas actividades.
66
Após aposta na formação em Coaching deduz-se que a experiência se revela
gratificante, seja a nível pessoal ou profissional, visto a maioria dos respondentes seguirem o
seu percurso profissional centrando-se neste âmbito, abandonando por vezes actividades
relacionadas com a sua área de estudos superiores, desinvestindo desta forma da sua formação
académica. Contudo, e em menor percentagem, alguns deles seguem a sua actividade
profissional na área em que investiram o seu estudo de âmbito académico, constituindo-se o
Coaching como uma experiência e uma forma de ampliar os seus conhecimentos. Surgem
ainda alguns casos em que existe uma junção de actividades profissionais desenvolvidas na
área de formação académica e também na do Coaching, como por exemplo, Psicoterapeuta e
Coach.
A tabela a seguir apresentada retracta a informação supracitada, reflectindo o percurso
dos indivíduos, tendo em conta as suas habilitações académicas, a frequência de formação em
Coaching (independentemente da designação/objectivo) e a profissão actualmente exercida,
de forma a se proceder à comparação do seguimento da área de estudos principal ou adopção
da formativa, a nível profissional.
Entrevista
Nº
1
2
3
Habilitações Académicas
Formação na área do
Coaching
Profissão Actual
Mestrado
Sim
Gestor/Formador/Professor
Doutoramento
Sim
Engenharia Civil
Sim
Coach/Consultor
Mestrado em Comportamento
Organizacional (escolar)
4
Mestrado
Sim
Coach/Consultor/Formador
5
Licenciatura em Serviço Social
Sim
Coach/Consultor/Formador
6
Licenciatura em Psicologia
Sim
Psicoterapeuta e Coach
Sim
Consultor
Sim
Coach/Formador
Sim
Consultor
Sim
Terapeuta/Coach
Sim
Coach/Consultor/Formador
Sim
Coordenador de Equipas
Sim
Coach/Consultor
-
Farmacêutica
7
8
9
10
11
12
13
14
Licenciatura em Ciências
Farmacêuticas
Licenciatura em Geografia Física
Licenciatura em Engenharia Técnica
Electrónica e Telecomunicações
Licenciatura em Terapia Ocupacional/
Pós-Graduação em Psicologia
Licenciatura em Direito/MBA Gestão
Mestrado em Engenharia Química
Optimização Energética
Ensino Secundário
Licenciatura em Ciências
Farmacêuticas
15
Licenciatura em Psicologia Clínica
Sim
Coach/Consultor/Formador
16
Licenciatura em Economia/MBA
Sim
Coach
67
17
18
Licenciatura em Informática de
Gestão
Doutoramento em Engenharia
Mecânica
19
Mestrado
Sim
Informático
-
Coach
Sim
Coach/Consulor
Sim
Professor/Coach
Licenciatura em História e Ciências
20
Sociais/Pós-Graduação em História
Insular e do Atlântico (séc. XV-XX).
Tabela 7 - Habilitações Académicas, Formação em Coaching e Profissão Actual dos entrevistados
Fonte: Própria
4.4 “Coaching”
4.4.1 Definição
Perante a questão apresentada “Como define o Coaching?” surgiram uma panóplia de
respostas que convergem no mesmo sentido, orientando-se o seu significado, de forma geral,
para o desenvolvimento pessoal e profissional. Eis algumas das afirmações recolhidas:
- “O Coaching é uma ferramenta de desenvolvimento pessoal que pode ser utilizada em diversas áreas de vida pessoal e
profissional.”
- “Parceria entre dois especialistas: o cliente é o especialista em si próprio, o Coach o especialista nas perguntas que levam o
primeiro a descobrir as respostas que farão a diferença no seu desenvolvimento pessoal, social e profissional.”
- “Através do desenvolvimento do seu autoconhecimento, considerando a realidade que o envolve e a ecologia própria, o/a
Coachee apreende a redefinir estratégias e a escolher aquela(s) que lhe permitam atingir, de modo claro, o sucesso pretendido.”
- “É um processo orientado para a acção, assente na relação profissional entre Coach e Coachee, que facilita, acelera e apoia o
desenvolvimento do Coachee para revelar o seu potencial e atingir os seus objectivos, através da auto-reflexão e das escolhas
deste e com o foco no seu presente e no seu futuro.”
- “É um serviço profissional, em que um indivíduo que contrata um Coach pretende alcançar uma meta encontrar a solução
para uma situação (reequilibrar ou mudar de vida, melhorar as relações, melhorar a comunicação, tanto a nível pessoal como
profissional, entre outros.”
- “O Coaching é um processo que promove a mudança positiva, dos indivíduos ou organizações, partindo da sua realidade
presente rumo ao desenvolvimento pessoal e profissional, que consiste na co-criação de novas possibilidades.”
Quadro 2 – Citações dos respondentes sobre o conceito Coaching
Fonte: Própria
Numa análise mais pormenorizada, com recurso ao recorte dos conteúdos, definição
de categorias e unidades de análise, encontram-se nas definições dos participantes, que além
de integrarem o desenvolvimento pessoal e profissional, merecem destaque pela frequência de
resposta.
68
Assim ressalta como parte integrante da caracterização do conceito de Coaching, pelos
respondentes, a definição e concretização de objectivos/metas, a auto-reflexão, autoexploração, o processo de relacionamento de apoio, a motivação, superação de obstáculos e a
mudança.
Tema Coaching
Categoria – “O Conceito”
Subcategoria – “Descrição”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de contexto
- “É um processo que permite facilitar a execução de objectivos e
metas.”
- “Processo de tomada de consciência por parte do cliente (Coachee) do
seu objectivo primordial, das suas crenças e de como pode alcançar os
seus objectivos através do seu próprio plano de acção, a partir de uma
Definição e Concretização de Objectivos/Metas
conversa estruturada com o Coach.”
- “Permite-lhe identificar, alinhar os seus valores, aptidões e interesses
com os seus objectivos o que lhe possibilita assim, mais rápida e
eficazmente o caminho para a excelência.”
- “Um processo que uma pessoa nos apoia a atingir os objectivos que
definimos.”
- “O Coaching tem como princípio a exploração dos recursos inerentes
ao indivíduo (…).”
- “Baseia-se numa metodologia que ajuda o Coachee (Cliente), a
Auto-reflexão/Auto-exploração
aprofundar o conhecimento de si próprio através da estimulação da
autodescoberta, a tomar consciência das suas opções/soluções (…)”
- “O Coaching é um processo: participado; dinâmico e evolutivo,
introspectivo e reflexivo directamente relacionado com a avaliação e
dirigido para resultados.”
- “É um processo orientado para a acção, assente na relação profissional
entre Coach e Coachee (…).”
- “O Coaching é sempre um trabalho de parceria entre o Coach e o
Processo de relacionamento de apoio
cliente.”
- “O Coaching é um processo em que o cliente (Coachee) é apoiado por
um profissional (Coach) (…).”
- “O Coaching é um processo: participado; dinâmico e evolutivo (…).”
- “Foca-se muito na importância do ser humano e tem de partir de nós;
sem essa vontade própria não é viável o Coaching!”
Motivação
- “Os resultados deste processo dependem da vontade do Coachee e do
nível de aprofundamento que se permite alcançar em cada sessão de
Coaching.”
- “Para mim, Coaching é uma metodologia que nos ajuda em qualquer
situação do dia-a-dia, a resolver desafios que à partida seriam não muito
Superação de Obstáculos
fáceis de ultrapassar.”
- “(…) para adopção de estratégias de ultrapassar problemas, fazer parte
das soluções e assim melhorar toda a condição.”
69
- “O Coaching permite um trabalho individual ou em grupo, sendo
facilitador da mudança (…).”
Mudança
- “É um modo de pensar que nos faz abrir a mente e o coração para não
ficarmos resistentes à mudança.”
Tabela 8 – Definições de Coaching por parte dos respondentes
Fonte: Própria
Tendo por base as similaridades entre as respostas, em jeito de síntese poderá associarse a definição de Coaching a um processo assente num relacionamento entre pelo menos dois
indivíduos, que potencia o autoconhecimento, a auto-reflexão com vista à definição de
objectivos e de um plano de acção para a sua concretização. Daí se considerar ser orientado
para a acção, potenciador de maior facilidade ao nível da superação de obstáculos e
conducente à mudança. Ressalta também importante a motivação do Coachee e do seu
comprometimento com o processo.
4.4.2 Tipo de Coaching
De entre os diferentes tipos de Coaching existentes, a grande maioria dos respondentes
apontou ter beneficiado de Coaching Pessoal ou de Vida (52%), seguindo-se ainda com larga
distância o Coaching de Executivos (20%) e o Coaching Corporativo ou de Negócios (20%).
Verifica-se pois que os participantes deste estudo foram alvo quer de um tipo de
Coaching mais direccionado para o desenvolvimento pessoal, quer para o desenvolvimento
profissional, salientando-se ainda que 5 dos respondentes afirmaram ter sido submetidos a
dois tipos de Coaching.
Tipo de Coaching
8%
Coaching Pessoal ou de
Vida
Coaching de Executivos
20%
52%
Coaching Corporativo ou
de Negócios
Coaching de Grupos
20%
Gráf. 5 - Tipo de Coaching que os respondentes foram alvo
Fonte: Própria
70
4.4.3 Propósito
Com o intuito de obter conhecimento sobre o motivo que levou os respondentes a
recorrer ao tipo de Coaching de que assinalaram ter sido alvo, procedeu-se ao seu
questionamento nesse sentido.
O principal motivo, tendo por base análise das respostas registadas, visou sobretudo o
desenvolvimento pessoal/profissional, considerando-se o desenvolvimento de competências, a
definição/ concretização de objectivos e o relacionamento interpessoal, também como razões
mais específicas de recurso a processos de Coaching.
Na tabela a seguir apresentada podem visualizar-se as respostas agrupadas pelos
indicadores supracitados.
Tema Coaching
Categoria – “Tipo”
Subcategoria – “Propósito”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Encontrar forma de superar os novos desafios pessoais.”
- “O objectivo foi de melhorar o meu desempenho a nível profissional
(…)”
- “Mas concluí também que ajuda no dia-a-dia a nível pessoal.”
- “(…) auto-reflexão em questões específicas de perspectiva de vida
(…)”
-
“Desenvolvimento
pessoal,
aumento
de
recursos
pessoais,
crescimento, amadurecimento.”
- “Alinhar-me como pessoa; melhorar a minha vida em todos os
aspectos; conseguir um equilíbrio entre a minha vida pessoal e
profissional; desenvolver-me como pessoa e poder por isso, ajudar
melhor outros a desenvolverem-se também.”
Desenvolvimento Pessoal/Profissional
- “Desenvolvimento pessoal – resolução de questões comportamentais
que comprometiam a auto-estima e a satisfação pessoal e profissional.”
- “Numa 1ª fase- o meu desenvolvimento pessoal, no sentido do
crescimento – ser mais e melhor ser humano.”
- “Melhorar a eficácia pessoal.”
- “Numa 3ª fase – no presente estou em transição entre o Coaching,
como profissão, e o ensino, ainda em parceria; acredito que o Coaching
faz e fará parte do leque de conhecimentos para o desenvolvimento
humano/ sua realização.”
- “Tratou-se de uma sessão integrada numa formação acreditada de
Coaching em que participei.”
- “Melhorar o desempenho (…)”
- “Estava incluído no curso de Coaching nível I.”
- “Desenvolvimento Pessoal e Profissional.”
71
- “Desenvolver competências pessoais e profissionais.”
- “O objectivo foi melhorar o meu desempenho profissional na
Desenvolvimento de Competências
liderança de uma equipa e na comunicação e relações interpessoais
(…)”
- “Melhorar competências de Coach, enquanto aluna na EEC.”
- “(…) uma vertente muito importante, diria mesmo crucial na obtenção
dos objectivos e sucesso!”
- “Definição de objectivos de vida pessoais e profissionais.”
- “Facilitar o processo de clarificação e implementação de objectivos.”
- “Para validação de objectivos e tomada de decisão.”
- “Ajudar a atingir os objectivos pessoais e profissionais.”
Definição/Concretização de objectivos
- “Melhorar o desempenho com vista a se atingir um conjunto de
objectivos.”
- “Exercer uma missão e perseguir uma visão para a vida ou certa
vertente dela.”
- “Numa 2ª fase – o impacto do Coaching foi e é tão significativo que
comecei a ‘levá-lo’ comigo na vida, profissão e no desenvolvimento de
uma actividade paralela, como Coach.”
- “O propósito foi a melhoria das condições laborais, com mais diálogo,
Relacionamento interpessoal/equipa
maior interacção, mais motivação, melhor funcionamento da equipa e
relação com os superiores hierárquicos.”
- “ (…) e relação com outras pessoas.”
Tabela 9 – Propósito de recurso ao Coaching
Fonte: Própria
4.4.4 Meio de Participação
4.4.4.1 Iniciativa Própria
Tal como é possível visualizar no gráfico a seguir apresentado, com excepção de 2
participantes, equivalente a 10%, todos recorreram a processos de Coaching por iniciativa
própria.
Os 2 casos mencionados apontaram a participação em processo de Coaching, no
âmbito do desenvolvimento profissional, relatando: “O meu processo de Coaching foi
proposto pela minha chefia” (Entrevista 14) e “Todo o processo de Coaching a que fui
submetida teve sempre como objectivo o desenvolvimento da minha actividade profissional”
(Entrevista 7).
72
Meio de Participação
Inicitiva Própria
10%
Afirmativo
Negativo
90%
Gráf. 6 – Meio de Participação dos respondentes em processos de Coaching
Fonte: Própria
4.4.4.2 Motivo
Com o intuito de complementar a questão anterior, o grupo alvo da amostra foi
questionado relativamente ao motivo que suscitou a sua participação em processo de
Coaching.
O desenvolvimento pessoal/profissional foi uma vez mais o registo mais apontado,
salientando-se a tentativa de crescimento e evolução o motivo que incentivou à participação
em processos de Coaching.
A tabela a seguir apresentada evidencia a análise dos relatos mais semelhantes dos
participantes, agrupados no indicador comum de desenvolvimento pessoal/profissional.
Tema Coaching
Categoria – “Meio de Participação
Subcategoria – “Motivo”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Todo o processo de Coaching a que fui submetida teve sempre como
objectivo o desenvolvimento da minha actividade profissional.”
- “O meu processo de Coaching foi proposto pela minha chefia.”
- “No âmbito de uma formação acreditada em Business Coaching em
Desenvolvimento Pessoal/Profissional
que participei.”
- “No âmbito do desenvolvimento pessoal e na formação/certificação e
Business Coaching e Master em PNL, áreas que foram exploradas
paralelamente a uma vida profissional na área das TI.”
- “Acho que é importante melhorarmos continuamente (…). Mantenho
o processo.”
73
- “O processo foi desenvolvido no âmbito da formação para Coach
profissional, em primeiro lugar temos que testar o processo em nós
próprios.”
- “O processo de Coaching fazia parte dos momentos de aprendizagem
na EEC.”
- “Necessidade de evolução (…)”
- “Sendo Business Coach, é essencial que siga o mesmo processo.”
- “Decidi abraçar esta profissão.”
- “Proceso de Certificação em Coaching.”
- “Melhorar a eficácia pessoal.”
- “Numa fase menos boa da minha vida, precisei de encontrar as minhas
próprias respostas para o caminho a seguir.”
Tabela 10 – Relatos dos respondentes face ao motivo de participação em processos de Coaching
Fonte: Própria
Ainda que com menor ênfase e tendo implícita a necessidade de desenvolvimento
pessoal/profissional, o registo de autoconhecimento/auto-reflexão também motivou o recurso
ao Coaching. Salientam-se algumas das respostas:
“Melhorar a capacidade de reflexão.”
“Necessitava de um maior autoconhecimento.”
“Numa fase menos boa da minha vida, precisei de encontrar as minhas próprias respostas para o caminho a seguir.”
Quadro 3 – Respostas dos participantes que espelham o motivo de autoconhecimento/auto-reflexão
Fonte: Própria
4.4.3 Sessões
De forma a procurar ainda complementar a caracterização dos processos de Coaching
de que amostra foi alvo, os participantes tiveram de mencionar o tipo de sessões, individuais
ou de grupo que participaram. As sessões individuais são, tal como é possível visualizar no
gráfico nº 7, as mais concorridas (65%), salientando-se ainda a participação de 6 indivíduos
em ambas (30%).
Sessões
Individuais
30%
Grupo
5%
65%
Ambas
Gráf. 7 - Sessões frequentadas pelos respondentes
Fonte: Própria
74
4.5 “Coaching” e Ambiente Profissional
4.5.1 Influência no Contexto de Trabalho
Um aspecto importante desta investigação centra-se em perceber qual a influência do
Coaching no desenvolvimento profissional, daí salientar-se como relevante explicitar a sua
influência no contexto de trabalho. Da análise realizada aos dados da amostra observa-se uma
certa constância a nível das respostas, apresentando as mesmas várias similaridades.
Dividindo as respostas em indicadores de análise por forma a melhor definir e
especificar a influência no contexto de trabalho, salientam-se, além das afirmações
directamente direccionadas para efeitos no desenvolvimento pessoal ou profissional, uma
maior valorização, bem-estar pessoal, mudanças de atitude, melhorias ao nível da definição e
concretização de objectivos e no relacionamento interpessoal, como evidencia a tabela a
seguir apresentada.
“De forma objectiva não influenciou nada, pois o meu processo de Coaching não era
sobre trabalho” (Entrevista 17). Esta afirmação é a única resposta oposta à dos restantes
participantes, salientando-se ausência de influência do processo de Coaching no contexto de
trabalho, pela razão citada. Não obstante, outro respondente que foi alvo de um processo de
Coaching também ele não centrado em objectivos profissionais referiu “Não procurei o
Coaching por questões profissionais, mas claro que o trabalho realizado beneficia todas as
áreas da vida do individuo” (Entrevista 10). Poderá então qualquer processo de Coaching ter
implicações em áreas diversas do sujeito, independentemente do seu tipo e objectivo?
Tema: “Coaching e Ambiente Profissional”
Categoria – “Contexto de Trabalho”
Subcategoria – “Influência”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Descobrir novos talentos (…) ”
- “Ganhei maior (…), autoconfiança e reduzi o stress (…) ”
- “No aumento da auto-estima (…) ”
- “Ganhei mais autoconfiança, que me permitiu desempenhar as minhas
Auto valorização/Bem-estar Pessoal
funções com mais tranquilidade e objectividade.”
- “ (…) o meu papel na organização (…) passou de um frete a algo que
justificava a minha necessidade e utilidade social.”
- “ (…) muito mais satisfação.”
“ (…) capacidade de controle de emoções.”
75
- “Passei a dar menos relevância aos aspectos menos importantes para
mim e a estar mais atenta para agarrar oportunidade (…) ”
- “Mudou a perspectiva que eu tinha sobre o meu papel na organização
Consciencialização/Atitude
(…) ”
- “Tornou-me mais consciente dos pontos a melhorar.”
- “Permitiu-me ter um novo olhar sobre questões que considerava
difíceis, ou mesmo impossíveis.”
- “Potenciou escolhas e levou a mudanças.”
- “O que preciso de fazer é muito mais claro e o estabelecimento de
prioridades tem-me ajudado imenso a chegar mais longe, mais depressa,
com menos esforço e muito mais satisfação.”
- “ (…) a compreender, definir melhor objectivos pessoais e/ou de
equipa.”
- “(…) o que me permitiu encontrar espaço para realizar projectos
Definição/Concretização de metas
pendentes há anos.”
- “Ganhei maior foco, (…), identificando as minhas reais prioridades e
motivações.”
- “ (…) desenvolver uma nova actividade profissional.”
- “Melhor organização pessoal, tomada de iniciativa, melhor
planificação, gestão de ideias, orientação para a execução e finalização
das tarefas.”
- “ (…) na melhoria da postura para com os outros, pois ao darmos
importância ao colaborador como ser humano e não como máquina
garantimos uma rentabilização a partir da motivação caminhando para o
sucesso do trabalho.”
- “Ajudou no relacionamento com as equipas de trabalho (…) ”
Relacionamento Interpessoal
- “Melhorou as relações laborais com colegas e com fornecedores e
clientes.”
- “Conquistei um espaço/relação mais confortável/confiável com as
chefias de topo, o que facilitou a intervenção da equipa de Coaching
junto das chefias de 2ª linha.”
- “Influenciou a forma como eu trabalho e consequentemente a equipa
em que me integro.”
Tabela 11 – Perspectiva dos respondentes da Influência do Coaching no contexto de trabalho
Fonte: Própria
Perante as evidências supracitadas o Coaching poderá gerar influências no ambiente
de trabalho a vários níveis do indivíduo, seja no âmbito pessoal, através de maior
autovalorizarão, melhorias na auto-estima, satisfação e motivação laboral, autoconfiança e
gestão emocional, na clarificação de crenças, pensamentos representados por modificações de
atitude, centrada em aspectos mais positivos e na definição, organização, acção e
concretização de objectivos. No âmbito mais relacional, ao nível de melhorias na relação com
os outros, sejam colegas de equipa, fornecedores, chefias ou clientes, motivadas por
mudanças de postura e atitude.
76
4.5.2 Influência/Mudança do comportamento na organização
Perspectivando-se aprofundar as possíveis influências do Coaching no ambiente de
trabalho procedeu-se ao questionamento sobre possíveis mudanças de comportamento na
organização.
As mudanças de comportamento registadas, ainda que, de forma não directa, foram
motivadas, na generalidade, por alterações de atitude, desenvolvimento de competências,
valorização pessoal, positivismo e autoconfiança e ainda na interacção com o grupo de
trabalho.
De forma contrária ao exposto, um dos inquiridos referiu “De forma objectiva não
influenciou nada” (Entrevista 17), justificando a sua resposta com o facto do processo de
Coaching que beneficiou não ser sobre trabalho.
Para melhor compreensão destes dados se apresenta a tabela seguinte:
Tema: “Coaching e Ambiente Profissional”
Categoria – “Comportamento na Organização”
Subcategoria – “Mudanças”
Indicadores/ Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Consegui deixar de ser tão perfeccionista o que na maioria
dos casos me bloqueava e me impedia pura e simplesmente de
conseguir ter uma organização efectiva.”
- “Mudança de atitude (…) desenvolvimento de uma atitude
Coach.”
- “Libertação de crenças limitativas e de bloqueios à
Atitude
progressão.”
- “A forma como passei a aceitar as diferenças de atitude
contribuiu, em muito, para esta mudança.”
- “A minha empresa unipessoal tem crescido de forma
sustentada e tem-se implantado de forma sólida também graças
a toda a planificação que faço nos meus projectos
profissionais.”
- “Ajudou no trabalho de equipe e a contornar dificuldades.”
- “ (…) e influenciando positivamente todos os que comigo
trabalham.”
Grupo de Trabalho
- “Ajudou-me bastante a ultrapassar barreiras/obstáculos
sobretudo a nível de relações interpessoais (…) ”
- “ (…) o que se reflectiu nas relações e comunicação com os
colegas.”
77
- “Ajudou no melhor entendimento e relacionamento com
quem tinha de interagir. Ajudou ainda na melhor mobilização
de toda a equipa para atingir os objectivos da equipa.”
- “Na organização em geral houve uma influência positiva
junto dos colegas, dando motivação.”
- “Tornei-me atenta e solidária na relação com os parceiros
(fossem chefes ou colaboradores) e uma pessoa feliz!”
- “ (…) maior capacidade de escuta (…)”
- “ (…) passando a ser uma pessoa mais aberta à
comunicação.”
- “Maior organização e foco.”
- “Escuta activa e comunicação mais eficiente permitiram-me
Desenvolvimento de Competências
aumentar a eficiência da gestão de equipas, de conflitos
internos dos colaboradores (e alunos), motivação, etc (…)”
- “Tornou-me mais assertivo e mais eficaz.”
- “Agora consigo um nível organizacional aceitável mas
existente e coerente.”
- “Visão pragmática, positiva e mais empreendedora.”
- “Proactivo, apreciativo e generativo.”
- “Tornei-me mais positivo, mais focado (…)”
- “Passei a ser uma pessoa positiva e mais alegre (…)”
- “ (…) e uma pessoa feliz!”
- “Sinto que estou mais confiante, mais madura (…)”
- “Melhorei muito o meu autoconhecimento (embora achasse
que não precisava…).”
Positivismo/Autoconfiança/Valorização
- “ (…) melhorando o meu desempenho (…)”
- “ (…) o meu trabalho passou a ter um maior
reconhecimento.”
- “Ao me manter responsável e “acima da linha.”
- “O meu comportamento foi-se transformando e consolidando
na direcção do meu EU SUBLIME – feliz, porque positivo e
proactivo! Alinhado com os meus valores.”
- “Também foi influenciado.”
Comportamento (respostas mais directas)
- “De forma objectiva não influenciou nada.”
- “Não se registaram grandes alterações.”
Tabela 12 – Perspectiva dos respondentes sobre a influência do Coaching no seu comportamento na organização
Fonte: Própria
Da análise efectuada constata-se que os processos de Coaching vêm produzindo
efeitos ao nível do comportamento dos indivíduos nas organizações. A capacidade que exerce
na mudança de atitude dos Coachees possibilitando uma maior tolerância e a construção de
crenças mais assertivas, bem como o grau de valorização pessoal e autoconfiança que este
processo lhes possibilita alcançar geram as mudanças de comportamento.
78
O desenvolvimento de novas competências, bem como alteração de postura para com
a equipa de trabalho suscitam juntamente com as alterações já referidas melhorias também no
desempenho, sucesso no trabalho, motivação laboral e alcance de metas.
4.6 Coachee
Não obstante às influências que os processos de Coaching podem repercutir no
ambiente organizacional e no comportamento profissional, avaliar a experiência para com o
processo, ou seja, o antes da partida para a realidade, para o terreno na totalidade, reveste-se
também de interesse para complementar os dados desta investigação.
4.6.1 Experiência: aspectos positivos
Análise efectuada aos dados recolhidos nas respostas dos participantes da investigação
aponta diversos aspectos positivos do decorrer da experiência como Coachee. Num nível mais
individual, salientam-se, agrupados por indicadores, aspectos centrados no autoconhecimento,
valorização e crenças pessoais; num nível mais laboral e relacional, o estabelecimento e
alcance de objectivos, e as mudanças nos relacionamentos interpessoais.
Os entrevistados responderam à questão mencionando as principais vantagens que
colheram por ser alvo de processos de Coaching, em suma, considerando-as os aspectos mais
positivos da experiência.
O quadro seguinte destaca as respostas mais similares agrupadas de acordo com o
significado que reflectem.
Tema: “Coachee/Formando”
Categoria – “Experiência”
Subcategorias – “Aspectos Positivos”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “ (…) melhoria dos meus relacionamentos socioprofissionais.”
- “Motivou-me a tentar dialogar mesmo quando não parece possível e a
Relacionamentos
esperar quando o momento não é o mais oportuno (…) ”
- “Maior atenção aos outros, um maior respeito pelo silêncio (…) ”
- “Sentir um excelente trabalho de parceria com o meu interlocutor.”
Autoconhecimento
- “Apreensão do que sou e dos meus conflitos internos.”
- “Maior conhecimento de mim mesma (…) ”
79
- “Foi o desenvolver do autoconhecimento (…) ”
- “Com o Coaching consegui conhecer-me melhor (…) ”
- “Com maior clareza sobre o que realmente era importante para mim
(…) ”
- “Perspectiva realista do que, para mim, é sucesso, realização e
felicidade.”
- “Aumento da minha autoconsciência.”
- “ (…) conhecer-me melhor (…)”
- “Ter um espaço onde posso desenvolver a auto-reflexão e onde sou o
protagonista, porque o Coach escuta activamente.”
- “As perguntas que espelharam palavras proferidas por mim durante a
sessão, produziram uma reflexão mais profunda (…) ”
- “Fez-me parar para pensar e apreciar os aspectos positivos em
detrimento dos negativos, alargou-me horizontes e sobretudo aumentou
a minha motivação que andava pelas ruas da amargura nos últimos
tempos.”
Auto-reflexão/valorização
- “ (…) uma maior capacidade de reflexão.”
- “Maior auto-motivação e maior auto-percepção. “
- “Capacidade para olhar para nós como o actor principal da nossa
vida.”
- “Estímulo à geração e análise de ideias.”
- “ (…) reflexão mais profunda e desenvolveram um estado de
consciência que nunca tinha experimentado.”
- “ (…) melhorar auto-estima (…)”
- “Tomada de consciência de que o que quero depende de mim própria.”
- “Abertura mental perante o livre arbítrio, a diversidade das
características humanas.”
Clarificação de Crenças/Valores
- “ (…) enfrentar crenças limitativas (…) ”
- “ (…) percebendo que parte dos meus bloqueios residiam em crenças
limitadoras que nunca tinha analisado.”
- “Melhor planificação dos meus objectivos e mais rapidez e facilidade
no atingimento das minhas metas.”
- “ (…) atingir objectivos pessoais, ser mais feliz.”
- “ (…) consegui planear a acção necessária aos meus objectivos e
assumir o compromisso da sua concretização.”
- “Ensinou-me a definir objectivos e sobretudo datas de apresentação.”
- “ (…) apoiando a ultrapassar os desafios.”
Definição/Concretização de objectivos
- “Visão sistematizada sobre como definir objectivos e traçar planos
para os mesmos.”
- “ (…) objectivar o futuro, passar a construir o futuro em lugar de fazer
tudo para que corra bem.”
- “Aumento do meu foco e da minha auto-directividade nos meus
planos de acção.”
- “ (…) o facto de eu descobrir as minhas próprias soluções e
comprometer-me de imediato para agir.”
Tabela 13 – Aspectos positivos decorrentes da experiência como Coachee
Fonte: Própria
80
4.6.2 Experiência: aspectos negativos
Na análise aos aspectos negativos da experiência como Coachee, constatou-se que a
grande maioria dos clientes não assinalou qualquer aspecto negativo, “Não se verificaram.
Tudo foi positivo e de desenvolvimento para a ‘excelência’” (Entrevista 20); “Não identifiquei
aspectos negativos neste processo” (Entrevista 5); salientando alguns deles dificuldades que
podem ser sentidas ao longo do processo “(…) doeu, por vezes, descobrir-me…mas gostei do
produto final” (Entrevista 3); “Não considero negativos, mas penso que é necessário termos
consciência que neste processo vão existir momentos difíceis” (Entrevista 10); e na ligação com
o Coach, “Inexperiência do Coach” (Entrevista 9); “(…) alguma dependência do Coach”
(Entrevista 18);
“Falta de autoconfiança no interlocutor” (Entrevista 7).
Esta ausência de nomeação de aspectos negativos poderá constituir-se como um forte
indicador de satisfação para com os processos de Coaching de que são alvo, considerando-se
que correspondem às suas expectativas.
4.7 Grau de satisfação para com o processo de Coaching
Para avaliar o grau de satisfação para com o processo os participantes tinham que
seleccionar uma das seguintes subcategorias:
– Muito Insatisfeito;
– Insatisfeito;
– Pouco Satisfeito;
– Satisfeito;
– Muito Satisfeito.
O gráfico seguinte ilustra as respostas dos respondentes.
0%
Grau de Satisfação
0%
0%
25%
75%
Gráf. 8 – Grau de satisfação dos respondentes para com o processo de Coaching
Fonte: Própria
81
Muito Insatisfeito
Insatisfeito
Pouco Satisfeito
Satisfeito
Muito Satisfeito
Como é possível visualizar o grau de satisfação para com o processo é elevado,
apresentando-se a maior parte das respostas num nível muito satisfatório (75%). Mais se
salienta o facto de nenhum dos indivíduos ter classificado a sua satisfação abaixo do grau
“Satisfeito”.
4.8 Mudanças: nível pessoal/profissional
4.8.1 Principais mudanças esperadas antes de iniciar o processo
“É difícil identificá-los nesta altura…apenas sei que os resultados atingidos foram
muito superiores aos expectados” (Entrevista 3).
Previamente a qualquer nova experiência o ser humano tem tendência a construir
variadas expectativas que podem ou não ser superadas. Neste sentido e com o intuito de
avaliar a pré e pós experiência procedeu-se ao questionamento sobre as principais mudanças a
nível pessoal e profissional.
Centrando-nos nas mudanças que esperavam alcançar através das sessões do processo
de Coaching, e agrupando a informação por indicadores, destacam-se o desenvolvimento de
competências diversas, melhor compreensão dos outros e do relacionamento interpessoal e
expectativas de melhoria das capacidades de definição, selecção e concretização de
objectivos.
A melhoria de resultados, a autodescoberta face à novidade do processo e o retorno do
investimento foram, ainda que em menor frequência também apontadas como mudanças
esperadas, salientando-se as seguintes expressões: “Abertura total. Esperava, pelo menos, que
o investimento de tempo e dinheiro tivesse algum retorno” (Entrevista 9); “Penso que na
altura… fui sem expectativas, tendo-as. Isto é, acreditei que iria obter conhecimento muito
útil para a minha mudança, mas sem ´pressão’. Foi um processo de ‘flow’” (Entrevista
20);“Esperava
alavancar os meus resultados” (Entrevista 4); “ (…) mudança nas várias áreas
da vida” (Entrevista 10).
Mais se acrescenta que apesar da maioria dos respondentes ter sido alvo de processos
de Coaching de vida, as mudanças esperadas, tal como se pode melhor compreender através
da seguinte tabela, centram-se em questões direccionadas para o âmbito profissional.
82
Tema: “Mudanças”
Categoria – “Nível Pessoal/Profissional”
Subcategoria
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “ (…) melhorar o autocontrolo e a motivação
pessoal e profissional (…) ”
- “Perceber melhor o processo de Coaching”
- “Competências para transformar situações
negativas em positivas.”
Desenvolvimento de Competências
- “Maior resiliência.”
- “Capacidade para a tomada de decisões
autónomas.”
- “Melhor conhecimento de mim próprio (…) ”
- “Maior conhecimento sobre mim mesma (…)
”
- “ (…) e permitir-me ter um relacionamento
diferente com colaboradores e clientes.”
- “Compreensão das reacções das pessoas.”
- “Melhoria do autoconhecimento e dos
Relacionamento Interpessoal
processos de trabalho no que respeita à
comunicação com os outros.”
- “Escutar o silêncio das palavras do outro,
escutar o meu silêncio.”
Esperadas
-
“
(…)
melhor
entendimento
do
comportamento pessoal dos outros.”
- “ (…) construir uma carteira de clientes maior
e ampliar os meus serviços tanto na formação,
como fora dela, enquanto Coach de pessoas.”
- “ (…) definir objectivos e a partir destes
traçar as etapas com respectivos prazos (…) ”
- “ (…) fazer escolhas conscientes sobre o
caminho a seguir, face a uma mudança muito
grande na minha vida que era inicialmente,
Definição/Selecção/Concretização de objectivos
externa à minha vontade.”
- “Maior foco e determinação no alcance de
objectivos.”
- “Maior capacidade de análise dos meus
objectivos e de levar a cabo os meus planos de
acção.”
- “Esperava deixar de fumar sem grandes
sacrifícios, o que era algo à partida difícil de
equacionar.”
Tabela 14 – Principais mudanças esperadas antes de iniciar o processo de Coaching
Fonte: Própria
83
4.8.2 Principais mudanças efectivamente ocorridas após processo de Coaching
“O impacto foi de tal modo UAU que desenvolvi a vontade de ser Coach profissional,
muito embora seja professora do quadro” (Entrevista 20).
Tendo por base as principais mudanças esperadas antes de iniciarem o processo de
Coaching, considera-se que através da análise às respostas apontadas como efectivamente
ocorridas, as suas expectativas foram satisfeitas e até superadas.
Assim sendo, registam-se mudanças ao nível do desenvolvimento de competências
diversas, quer num âmbito mais pessoal, com foco, sobretudo, na área profissional, algumas
delas no relacionamento interpessoal e nos pensamentos com a substituição de crenças
limitadoras por outras mais assertivas. Com maior destaque encontram-se as mudanças
ocorridas a nível da definição e concretização de objectivos, culminando os mesmos até com
criação de negócios pessoais ou alterações de actividade profissional e o autoconhecimento,
valorização e satisfação pessoal, que se reflectiu num maior bem-estar de vida.
Tema: “Mudanças”
Categoria – “Nível Pessoal/Profissional”
Subcategoria
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Maior capacidade de ouvir e observar.”
- “Capacidade de estabelecer ancoragens.”
- “Mais organizada (…)”
-
Desenvolvimento de Competências
“
(…)
muito
mais responsabilidade
e
propriedade.”
- “ (…) mais autoconsciência, sentido de
responsabilidade e acção!”
- “Capacidade para lidar com a frustração e
aprender a gerir as emoções em momentos de
tensão.”
- “Em termos relacionais, a comunicação tornou-
Ocorridas
se mais eficaz, melhorando as relações.”
Relacionamento Interpessoal
- “Estar mais atenta aos outros e às suas
necessidades.”
- “Melhoria nas relações interpessoais.”
- “Deixo, actualmente, que as coisas fluam em
vez de pensar como controlá-las - e resulta mais
Atitude/Pensamentos (Crenças)
surpreendente e eficaz.”
- “Aceitação do risco.”
- “Libertei-me de algumas crenças limitadoras.”
- “Passei a pensar naquilo que quero, o que me
84
permitiu ter mais recursos e estar mais conectada
com a realidade, com os outros e comigo
própria.”
- “Tenho vindo adquirir os meus objectivos
profissionais (…). ”
- “Mudança na área profissional, abertura de um
negócio próprio.”
- “Nova actividade profissional.”
-“Iniciei a minha própria empresa de consultoria
Definição/Concretização de objectivos
em RH.”
- “ (…) comecei a desenvolver actividade
Profissionais
profissional no âmbito do Coaching.”
- “Percebi que precisava de apostar no meu
desenvolvimento/crescimento pessoal e prepararme para mudar de profissão.”
- “ (…) e deixei realmente de fumar.”
- “ (…) definir objectivos de vida e a arranjar
Pessoais
formas de ultrapassar desafios de uma maneira
mais positiva!”
- “Execução de muitos projectos pessoais e
profissionais que tinham ficado adiados.”
- “Maior foco e determinação no alcance de
objectivos.”
- “Auto-estima e amor-próprio elevado – assim
como conhecer os processos em que estes baixam
e conhecer os processos internos que provocam
isto e a reacção contrário, isto é, como repô-los
novamente.”
- “Autoconfiança para a tomada de decisões.”
- “Melhor compreensão de quem eu sou, do meu
comportamento
e
reacções,
da
minha
personalidade e de como tudo isso influencia o
relacionamento com os outros.”
- “Tornei-me numa pessoa com pensamento,
Valorização Pessoal/Autoconfiança/
Autoconhecimento
discurso e linguagem positivos.”
- “Resgatei o poder de acreditar em mim e nos
meus sonhos pessoais e profissionais.”
- “Aumentou bastante a minha auto-estima.”
- “Maior satisfação e realização pessoal e
profissional.”
- “Passei a assumir que o meu destino está na
minha mão, quase nada na dos outros.”
- “E, principalmente, o querer viver o e em
Coaching – ‘levá-lo’ comigo no meu dia-a-dia,
que se tornou muito mais autoconfiante.”
- “Vivo mais a minha essência, sem limitações
externas.”
Tabela 15 – Principais mudanças efectivamente ocorridas após processo de Coaching
Fonte: Própria
85
4.9 Relacionamento Interpessoal
Partindo da análise às respostas dos indivíduos poderá afirmar-se que o Coaching
produz efeitos no relacionamento interpessoal. Seja na alteração da percepção do outro, da
atenção disponibilizada, sua aceitação como pessoa com características próprias, preocupação
e disponibilização, seja ao nível do desenvolvimento de competências que permitem adopção
de uma postura mais cuidadosa, englobando os aspectos acima mencionados e outros,
potenciadores de relacionamentos interpessoais mais assertivos.
Segundo as respostas dos participantes desta investigação poderá presumir-se que o
desenvolvimento da autoconfiança, do autoconhecimento, a valorização pessoal aliada ao
positivismo, bem como, características mais directamente relacionadas com a relação com os
outros, como a escuta activa e a capacidade de comunicação potenciam o estabelecimento de
relacionamentos interpessoais mais saudáveis e produtivos. As competências supracitadas
foram desenvolvidas pelos entrevistados ao longo dos seus processos de Coaching,
potenciando mudanças no estilo de relacionamento.
As melhorias no relacionamento interpessoal podem gerar um maior entendimento e
desenvolvimento no trabalho em equipa e, consequentemente, no desempenho dos
colaboradores e da organização em geral.
Para melhor compreensão das informações citadas, apresenta-se a seguinte tabela com
as respostas mais semelhantes agrupadas por indicador.
Tema: “Relacionamento Interpessoal”
Categoria – “Estilo de Relacionamento”
Subcategoria – “Influência do Coaching”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Permitiu-me encarar de forma diferente o meu relacionamento
interpessoal (…) ”
- “Entendimento diferente das pessoas e situações.”
- “Relações em que o respeito é o valor fundamental o que origina
Relacionamento Interpessoal (Mudanças)
diferente modo de aceitar os outros – e recebo dos outros idêntica
aceitação.”
- “ (…) a minha disponibilidade para ouvir os outros e a minha
preocupação com o bem estar dos outros.”
- “Ao tornar-me mais consciente de mim mesma mais facilmente
consigo criar relações saudáveis com os outros.”
86
- “O meu estilo de relacionamento interpessoal tornou-se mais aberto,
apelativo, interessante e mais natural. Ao acreditar em mim, passei a
confiar mais nos outros.”
- “Tendo a minha auto-estima aumentado, dá-se mais valor ao outro
(…) ”
- “Melhorou.”
- “Mais positiva e com um enfoque mais apreciativo e generativo.”
- “Apoiou no desenvolvimento de um maior sentido do outro,
promovendo em mim uma responsabilidade clara quanto ao modelo
que queria ser. Eu tinha e tenho bons relacionamentos interpessoais,
que se tornaram mais pacíficos, de tolerância e integração.”
- “Passar a ter atenção ao outro (…) ”
- “Desenvolvi a escuta activa e recebi um excelente feedback das outras
pessoas.”
- “Maior atenção às diferenças. Maior silêncio.”
- “Partilha de conhecimentos (…) ”
- “Ao perceber quem sou eu, como reajo às situações, e de como as
minhas reacções provocam influência nas reacções dos outros, veio
ajudar, em muito, o mobilizar as pessoas para os objectivos (…) ”
- “ (…) aumentou a minha resiliência, (…)”
- “Melhoria de autoconfiança.”
Desenvolvimento de Competências
- “Aceitar os resultados e não colocar as coisas em termos de bom ou
mau.”
- “Desenvolvi a minha capacidade de comunicação, tomei consciência
da importância de não fazer pré-julgamentos, aprendi a escutar melhor
as pessoas, melhorei a minha capacidade de desenvolver empatia a um
nível mais profundo, comecei a perceber a importância da minha
intuição e a usá-la.”
- “Tornei-me numa pessoa muito mais positiva e capaz de “contagiar”
positivamente os que me rodeiam.” - “Maior escuta activa.”
- “Maior tranquilidade, maior capacidade de trabalho, maior
produtividade.”
Tabela 16 – Citações sobre a influência do Coaching no estilo de relacionamento interpessoal
Fonte: Própria
4.10 Liderança
Perspectivou-se avaliar de que forma os processos de Coaching podem influenciar o
estilo de liderança ou se não se registam influências a este nível.
A partir das entrevistas realizadas e dos dados recolhidos constatou-se que a
frequência em processo de Coaching potencia influências ao nível do estilo de liderança.
Permite um desenvolvimento de um conjunto de competências que impelem a mudanças no
estilo de liderança adoptado que, por sua vez, poderão repercutir efeitos no relacionamento
87
interpessoal e na própria actividade profissional. Apenas um dos respondentes referiu
apresentar ainda algumas lacunas ao nível da sua competência em liderar, presumindo-se
associadas a características de personalidade e desempenho de função não ajustada ao seu
perfil: “Continuo a ter alguma dificuldade em liderar, não porque me ache superior mas
porque tenho alguma dificuldade em pedir que façam e acabo por fazer eu própria” (Entrevista
14).
Na tabela que se segue podem observar-se com maior rigor quais as influências mais
precisas em cada um dos indicadores comuns apresentados.
Tema: “Liderança”
Categoria – “Estilo de Liderança”
Subcategoria – “Influência do Coaching”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “ (…) o desenvolvimento de uma escuta activa (…)”
- “Deixar mais espaço aos outros para colocarem as suas ideias.”
- “Mais sintético, mais compreensível e mais assertivo.”
- “Capacidade de dar feedbacks com maior ênfase e que produzem
resultados adaptados às necessidades.”
Desenvolvimento de Competências
- “Sou mais flexível, mais polivalente, mais resiliente também.”
- “Maior confiança.”
- “Desenvolvimento das capacidades de liderança de nível 5.”
- “Desenvolvi mais sentido de partilha, delegação e escuta activa.”
- “Gestão de conflitos, de tempo e de pessoas mais eficaz.”
- “Equilíbrio na gestão de expectativas.”
- “ (…) uma maior preocupação no desenvolvimento dos outros.”
Relacionamento Interpessoal
- “Aceitação inquestionável (pelos outros) da minha liderança.”
- “Um trabalho em equipa mais eficaz e mais gratificante.”
- “Uso muito algumas técnicas ligadas ao Coaching junto dos grupos
cuja formação facilito (…).”
Atividade Profissional
- “Desenvolver recursos humanos pelas suas competências.”
- “Continuo a ter alguma dificuldade em liderar, não porque me ache
superior mas porque tenho alguma dificuldade em pedir que façam e
acabo por fazer eu própria.”
- “Deixou de ser uma liderança autoritária, directiva para ser uma
auto liderança multifacetada e adequada às situações e às
necessidades do grupo.”
- “Facilitou muito a forma de adaptar o estilo em função da pessoa e
Mudança/adaptação do estilo de liderança
da situação, o que facilitou a relação 360º dentro da equipa e mesmo
entre outras equipas.”
- “Há pessoas que vêm em mim um modelo/exemplo a seguir,
enquanto pessoa positiva, enérgica, empreendedora, eficiente e mais
feliz.”
88
- “Tendo melhorado na auto-estima e nas relações interpessoais,
influenciou em incutir motivação e num estilo de liderança mais
assertivo.”
- “Percebi os meus pontos fortes ao nível da liderança e sem esforço,
passei a utilizá-los de forma consciente e com resultados muito mais
positivos.”
- “De um estilo “agressivo-democrático”, passei a actuar mais como
Coach, como não podia deixar de ser.”
- “Assumir diferentes tipos de liderança consoante as situações (…) ”
Tabela 17 – Citações dos respondentes sobre a influência do Coaching no estilo de liderança
Fonte: Própria
4.11
Influência na Gestão de vida pessoal
“A todos os níveis, de forma muito positiva, porque mais questionada (?) e clarificada”
(Entrevista 20).
Denominado como um processo de desenvolvimento presumiu-se que reflectisse
alguma influência a nível da gestão de vida pessoal, confirmando-se esta afirmação através
das respostas dos participantes do estudo, “Claro que a minha vida pessoal também absorveu
elementos de desenvolvimento” (Entrevista 16).
Registam-se um conjunto de respostas que apontam para um maior equilíbrio e
autogestão a diversos níveis (organização, tempo, emoções …), como é possível observar
pelas seguintes afirmações:
- “Equilíbrio e harmonia entre a vida pessoal, profissional e social.”
- “Faço uma boa gestão vida pessoal-vida profissional. Divirto-me muito.”
- “Passei a ter mais tempo para mim e para o que gosto efectivamente de fazer.”
- “Passei a dedicar mais tempo àquilo que é mais importante para mim e a gastar o tempo necessário e suficiente para executar
o menos importante, sem perder a eficiência.”
- “Estando mais organizada na planificação das tarefas, por consequência houve uma melhoria na gestão do tempo (…) ”
- “ (…) melhor gestão do meu tempo.”
- “A nível do alinhamento pessoal e gestão das minhas emoções.”
- “Melhorou a ansiedade e a ânsia do perfeccionismo.”
Quadro 4 – Citações que reflectem benefícios de autogestão e equilíbrio pessoal
Fonte: Própria
89
O público-alvo aponta ainda para o desenvolvimento de um conjunto de competências,
como a assertividade, autonomia, autoconfiança, resiliência… que poderão constituir-se como
impulsionadoras de uma melhoria ao nível da gestão de vida pessoal, com influências também
nos relacionamentos com familiares e na concretização de metas, também no domínio
profissional: “ (…) obtendo-se mais eficácia, sucesso no atingir dos objectivos/sonhos
pretendidos” (Entrevista 12) “Melhoria de resultados em termos de satisfação e financeiros”
(Entrevista 18).
Postula-se pois que uma gestão de vida pessoal equilibrada e satisfatória poderá
contribuir também para melhorias no desempenho profissional.
Regista-se apenas o caso de um entrevistado que referiu não se registarem alterações
significativas a este nível pessoal.
A tabela seguinte apresenta algumas das respostas registadas.
Tema: “Nível Pessoal”
Categoria – “Gestão da Vida Pessoal”
Subcategoria – “Influência do Coaching”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Mais sintético, mais compreensível e mais assertivo.”
- “Maior capacidade de fazer o que quero sem influências externas.”
- “Na priorização de tarefas, sobretudo.”
- “Tomei consciência de que para mim, é muito importante definir bem
as minhas prioridades para ganhar maior foco na acção.”
- “ (…) mais escuta, mais tolerância, mais flexibilidade.”
Desenvolvimento de Competências
- “Sou mais tolerante. Sinto-me mais adulta e mais assertiva.”
- “Autoconfiança.”
- “Agilizando e facilitando a “focagem” em objectivos (…) ”
- “ (…) ajudando a desenvolver maior adaptabilidade às situações,
principalmente a situações adversas.”
- “Melhor organização e grau de finalização.”
- “Passei a ser mais pró-activo (…) ”
- “Maior capacidade de planeamento e foco, foco, foco no alcance de
objectivos!”
Relacionamento Interpessoal
- “Relações sem conflitos (com pais, filhos e marido).”
- “Melhorou as relações com familiares, (…) ”
Tabela 18 – Citações dos participantes sobre a influência do Coaching na gestão de vida pessoal
Fonte: Própria
90
4.12) Influência do Coaching no desenvolvimento Pessoal e Profissional
“Sendo o Coaching uma metodologia a nível do desenvolvimento pessoal, haverá uma
auto - motivação devido ao melhor autoconhecimento e consequente processo de mudança”
(Entrevista 12).
Caracterizado pela literatura como um dos processos de desenvolvimento pessoal e
profissional procurou-se apurar esta premissa através dos testemunhos de quem efectivamente
já beneficiou de Coaching.
Assim sendo, e tendo em conta os relatos dos respondentes confirma-se uma
influência dos processos de Coaching quer a nível do desenvolvimento pessoal, quer
profissional.
- “Processo fundamental em qualquer um dos contextos.”
- “Ao nos desenvolvermos como pessoa tudo o que nos rodeia é afectado por esse mesmo desenvolvimento.”
- Com ele, ocorreu uma mudança verdadeiramente radical em mim. O Coaching catalisou a minha mudança e com isso
permiti-me evoluir.”
- “Essas mudanças são em todos os aspectos da minha vida.”
- “A partir do momento em que resgatei o poder de acreditar em mim, tudo se tornou possível em termos pessoais e,
consequentemente, isso reflectiu-se em todas organizações com as quais colaboro.”
- “ (…) promover a minha mudança, que se reflecte nas dimensões pessoal e profissional, alinhando-me cada vez mais com os
meus valores, metas-objectivos de vida.”
Quadro 5 – Citações dos respondentes que reflectem a influência do Coaching no desenvolvimento pessoal e profissional
Fonte: Própria
Segundo os mesmos além de mudanças ocorridas a diversos níveis no
desenvolvimento pessoal e profissional, permite aperfeiçoar e integrar competências mais
assertivas, promovendo o autoconhecimento e a auto - valorização, facilitando a concretização
de objectivos.
Na tabela a seguir apresentada podem visualizar-se algumas das respostas dos
entrevistados no âmbito desta questão.
91
Tema: “Desenvolvimento”
Categoria – “Pessoal/Profissional”
Subcategoria – “Influência do Coaching”
Indicadores/Unidades de Registo
Unidades de Contexto
- “Sim, pois permitiu-me perceber que há várias técnicas e ferramentas
disponíveis que podem e têm sido utilizadas por mim, quer em
contexto pessoal quer em contexto profissional, com clientes e
colaboradores e mesmo formandos e alunos.”
Desenvolvimento de Competências
- “Aprendi a dizer não com assertividade (…) ”
- “Sinto-me mais adulta e mais assertiva.”
- “Melhor capacidade para trabalhar sob pressão.”
- “ (…) e passei a escalonar as tarefas por ordem de prioridade e a
escrevê-las de facto para ser mais fácil lembrar.”
- “Sou um ser humano muito melhor…o que se revela a nível pessoal,
profissional e social.”
- “ (…) ampliou o meu nível de auto-aceitação, a minha autopercepção
e autoconsciência. Isso trouxe-me maior equilíbrio, autoconfiança e
respeito por mim própria.
- “Passei a olhar para mim própria como a principal protagonista da
minha vida.”
- “Faço uma boa gestão vida pessoal-vida profissional.”
- “O Coaching desenvolveu em mim uma atitude permanente de
autocrescimento e autovalorização mais consciente que aplico em
permanência.”
- “ (…) estando bem connosco próprios haverá uma transmissão de
Autovalorização/Autogestão/Autoconhecimento
positivismo.”
- “ (…) encontrei no Coaching uma forma de aprofundar o
autoconhecimento para as mudanças que quero ver realizadas em
mim.”
- “ (…) os limiares de perfeição na execução de tarefas já não estão tão
elevados o que me permite reduzir a ansiedade em executá-los e
consequentemente o bloqueio que por vezes daí advinha (…)”
- “O principal é que hoje sinto muito mais o poder nas minhas mãos e
raramente penso que “não há nada a fazer, tenho que entregar os
pontos”.”
- “Essencialmente no sentido de me conhecer melhor (…) ”
- “ (…) promove em nós um nível de potenciamento interno que nos
‘alimenta’ a motivação, porque centrado em crenças potenciadoras que
se vão sobrepondo às limitadoras.”
- “ (…) esta forma de ser e estar tem trazido resultados excelentes à
minha vida pessoal e profissional.”
Concretizações Pessoais/Profissionais
- “Através do alinhamento de valores, aptidões e interesses com
objectivos o que possibilita assim, mais rápida e eficazmente o
caminho para a excelência.”
Tabela 19 – Citações dos entrevistados sobre a influência do Coaching no desenvolvimento pessoal e profissional
Fonte: Própria
92
5.
Análise e Discussão de Resultados
Tomando como ponto de análise os resultados apresentados e abordados na secção
anterior, expõe-se agora uma discussão tendo como referencia as hipóteses formuladas, com
vista à sua aceitação ou rejeição. Esta verificação inicia-se a partir de cada uma das hipóteses
secundárias, analisando-se posteriormente, já com maiores informações e assim maior rigor, a
hipótese principal.
A análise assenta numa confrontação entre os resultados obtidos, as hipóteses
formuladas e a investigação teórica.
5.1 Hipóteses Secundárias
5.1.1 Os processos de Coaching possibilitam melhorias no desempenho dos indivíduos
“O Coaching permite um trabalho individual ou em grupo, sendo facilitador da
mudança e potencializador do desempenho” (Entrevista 10).
Os indivíduos que incluem a amostra desta investigação orientam o conceito de
Coaching, tal como a literatura específica, para o desenvolvimento pessoal e profissional
constituindo-se ainda o principal motivo pelo qual recorrem a qualquer um dos tipos de
processo. Consideram, na generalidade, a participação em processo de Coaching como uma
oportunidade de crescimento e evolução em diversas áreas.
Constatando-se também que a participação em processo de Coaching contribuiu para o
desenvolvimento de competências, como a assertividade, eficácia, eficiência, organização e
gestão pessoal/profissional, entre outras, poderá reflectir-se que impulsiona melhorias no
desempenho e rendimento profissional. O desenvolvimento de capacidades aliado à
valorização pessoal registada direcciona-se no sentido de melhorias a nível global, com
implicações particulares no desempenho.
Tendo ainda em conta algumas das afirmações dos entrevistados, apresentadas no
quadro seguinte, e as informações acima mencionadas poderá confirmar-se a hipótese nº1, ou
seja, os processos de Coaching possibilitam melhorias no desempenho.
93
- “Tornei-me mais positivo, mais focado melhorando o meu desempenho (…).”
- “Eu acredito e sinto, ao longo destes 4 anos, que o Coaching me facilitou, de forma inigualável, um crescimento pessoal e
profissional muito significativo que continua em curso…”
- “ (…) esta forma de ser e estar tem trazido resultados excelentes à minha vida pessoal e profissional.”
- “Melhoria de resultados em termos de satisfação e financeiros.”
- “Execução de muitos projectos pessoais e profissionais que tinham ficado adiados.”
- “Ao me manter responsável e “acima da linha.”
- “Crescimento, transformação e realização.”
- “Melhor organização pessoal, tomada de iniciativa, melhor planificação, gestão de ideias, orientação para a execução e
finalização das tarefas.”
- “A minha empresa unipessoal tem crescido de forma sustentada e tem-se implantado de forma sólida também graças a toda a
planificação que faço nos meus projectos profissionais.”
- “Agora consigo um nível organizacional aceitável mais existente e coerente.”
- “O objectivo foi melhorar o meu desempenho profissional na liderança de uma equipa e na comunicação e relações
interpessoais.”
- “Melhorar o desempenho com vista a se atingir um conjunto de objectivos.”
Quadro 6 – Citações dos respondentes que reflectem melhorias no desempenho
Fonte: Própria
Procurando contextualizar as informações supracitadas no âmbito da investigação
teórica realizada, de forma a apresentar evidências que apontem na mesma direcção ou no
sentido oposto, toma-se como ponto inicial o testemunho de Thorne (2004, p. 132) em que “O
efeito corporativo da transformação individual – crescimento e desempenho – pode elevar o
desempenho organizacional, entretanto esse efeito só será possível se o indivíduo identificarse com os objectivos da organização.”
A influência que os processos de Coaching podem gerar no desempenho individual
pode repercutir-se a nível do crescimento e desenvolvimento organizacional, contudo para
que o indivíduo alcance mudanças é de extrema importância, em primeiro lugar, que se
encontre motivado para o processo, como referem alguns dos entrevistados, “Os resultados
deste processo dependem da vontade do Coachee e do nível de aprofundamento que se
permite alcançar em cada sessão de Coaching”, além disso é também importante que
desempenhe uma função gratificante e se coadune com os objectivos organizacionais.
Pereira (2008) verificou que “o Coachee ao encontrar satisfação profissional,
aumenta a rentabilização do seu potencial, promovendo em simultâneo o desenvolvimento da
equipa como um todo.”
O impacto do Coaching na melhoria do desempenho tem-se revelado tão significativo
que existe já o denominado Coaching do desempenho.
94
“O Coaching de Performance é a atitude mais importante do gestor para aumentar a
produtividade e atingir metas pois é implementar a estratégia: missão, visão, valores, metas,
produtos e pessoas. O Coaching de Performance é uma metodologia com resultados tangíveis
e mensuráveis, e normalmente implementado em equipes de vendas e serviços” (Wikipédia,
2012).
A definição apresentada sobre Coaching do desempenho assenta na análise efectuada
aos relatos dos entrevistados, visto assentar também no desenvolvimento de competências, no
autoconhecimento, valorização pessoal, na construção de crenças mais assertivas com vista
alcançar objectivos.
5.1.2 Os processos de Coaching facilitam o Relacionamento Interpessoal
Ao longo de toda a entrevista, os indivíduos foram fazendo referência, de forma
implícita ou não ao relacionamento interpessoal, apontando sempre uma influência positiva
do processo de Coaching a este nível. Potenciador de relações interpessoais mais assertivas,
quer ao nível do grupo de trabalho, chefias, fornecedores ou clientes, âmbito profissional, “
(…) melhoria dos meus relacionamentos socioprofissionais” (Entrevista 4), quer no contexto de
vida mais pessoal e social, “Melhorou as relações com familiares (… )” (Entrevista 5).
Posto isto e acrescentando abordagem já efectuada a nível dos resultados interpessoais
(ponto 4), afirma-se que os processos de Coaching influenciam o relacionamento interpessoal,
considerando-se que o desenvolvimento de competências de escuta activa, comunicação,
valorização pessoal, autoconhecimento, autoconfiança, entre outras, poderá contribuir para
estabelecer relações mais produtivas e assertivas com os outros, passando ainda a dar-lhes
mais valor, importância e disponibilização de respeito e atenção, “Ao tornar-me mais
consciente de mim mesma mais facilmente consigo criar relações saudáveis com os outros”
(Entrevista 10).
As competências adquiridas ao longo dos processos de Coaching, bem como o
desenvolvimento de uma atitude mais motivadora, positiva, ambiciosa, …, assertiva,
potenciam a adopção de novos estilos de relacionamento interpessoal mais ajustados.
Em suma, poderá afirmar-se que os processos de Coaching facilitam o relacionamento
interpessoal, confirmando-se assim esta hipótese, direccionando-nos no sentido de alguns dos
estudos empíricos apontados na parte teórica desta investigação.
95
Salientam-se especificamente de alguns dos estudos mencionados os seguintes
aspectos:
- Melhoria nos relacionamentos: verificando-se uma melhoria nas relações de trabalho
com responsáveis directos, supervisores imediatos, colegas e clientes externos à organização
(grupo-alvo dos 100 executivos) / (estudo publicado por Wise, P. & Voss, L., 2002);
- Benefícios na cultura organizacional, relatados pelos próprios executivos, em:
relacionamento com a equipe (77%), relacionamento com líderes imediatos (71%), trabalho
em equipe (67%), relacionamento com os pares (63%), redução de conflitos (52%),
relacionamento com os clientes (37%) (Behavioral Coaching Institute (BCI)).
Uma vez mais se pode concluir que o relacionamento interpessoal é influenciado pelos
processos de Coaching, seja no caso de indivíduos que o procuram com vista a obter
melhorias a este nível, seja de forma indirecta em participantes que adquirem competências
durante o processo que influenciam positivamente a forma de interacção com os outros.
5.1.3 Os processos de Coaching possibilitam alcançar mudanças no comportamento
organizacional
“O meu comportamento foi-se transformando e consolidando na direcção do meu EU
SUBLIME – feliz, porque positivo e proactivo! Alinhado com os meus valores” (Entrevista 20).
Como a afirmação de um dos elementos da amostra acima apresentada reflecte, os
processos de Coaching possibilitam alcançar mudanças no comportamento organizacional,
confirmando-se assim esta hipótese.
Ainda que as respostas dos entrevistados se direccionem para campos como mudanças
de atitude, auto - valorização, positivismo, autoconfiança e relacionamento com os outros,
considera-se que implicitamente impulsionam e geram as mudanças de comportamento.
Tal como já foi apontado no ponto 4, a mudança de atitude gera substituição de
crenças limitadoras por outras mais assertivas, fruto também do aumento da valorização
pessoal gerada pelos próprios processos de Coaching, bem como o desenvolvimento de
competências que possibilitam adopção de uma postura mais gratificante e satisfatória que
permite o estabelecimento de melhores ligações de trabalho impelindo a mudanças no
comportamento organizacional, seja numa vertente pessoal e social, seja também na
concretização de metas e alcance de sucesso.
96
Em suma, as alterações no nosso comportamento são motivadas seja por estímulos
externos ou internos que nos levam a desenvolver determinadas capacidades ou eliminar
barreiras que levem à concretização de nossos objectivos ou bem-estar pessoal… isto suscita
verdadeiramente
mudanças
comportamentais,
contextualizando,
as
mudanças
no
comportamento organizacional!
“Melhor compreensão de quem eu sou, do meu comportamento e reacções, da minha
personalidade e de como tudo isso influencia o relacionamento com os outros” (Entrevista 8).
“Conclusivamente, Coaching Corporativo é acreditado para trazer benefícios para a
organização de financiamento sob a forma de aumento da actividade individual que conduz a
um aumento no desempenho, a melhoria da comunicação que leva a relações melhores com o
cliente e trabalho em equipa, bem como aumento da motivação, o que deverá melhorar a
satisfação no trabalho e o compromisso com a organização ” (Herzberg et al., 1959).
Tendo em conta esta afirmação destacada da parte teórica desta dissertação e a
necessidade que as organizações apresentam em mudar para se manter competitivas, salientase a importância dos recursos humanos.
Para que as organizações mudem, é necessário que as pessoas tomem consciência que
precisam desenvolver competências, modificar atitudes, crenças, posturas… ou seja, se
comprometam com a mudança e assumam condutas/comportamentos mais assertivos e
ajustados às necessidades vigentes.
O Coaching poderá assumir-se como um processo de renovação pessoal e profissional,
facilitador de mudança de comportamentos “um método que se baseia na expansão das
capacidades humanas com o intuito de criar um futuro extraordinário, envolvendo a
reinvenção pessoal e organizacional, e que se dá no domínio da realização, não da terapia”
(Hargrove, 2002, citado por Blanco, 2006, p. 92).
5.1.4 Os processos de Coaching contribuem para uma melhoria no ambiente
organizacional
Para Alencar (1996, citado por Blanco, 2006, p.62), “as qualidades de um ambiente
favorável incluem práticas interpessoais de valorização do potencial humano e de promoção
97
de condições que estimulem os indivíduos a liberar suas habilidades por meio do
desenvolvimento da confiança e da segurança. A construção desse ambiente propícia a
geração de ideias criativas e produtivas, alinhadas com as demandas da empresa e com as
necessidades de realização profissional dos indivíduos.”
Numa organização é de extrema importância para o desenvolvimento e execução das
tarefas, bem como alcance dos objectivos, a forma como o indivíduo executa, valoriza e se
satisfaz ao realizar as suas funções, o seu bem-estar a nível pessoal e o tipo de relacionamento
que estabelece com os superiores hierárquicos, colegas, fornecedores e clientes. A presença
ou ausência de posturas assentes nestas características pelos elementos constituintes de uma
organização contribuem para a definição do ambiente organizacional.
Atendendo à hipótese enunciada, e partindo da análise às informações recolhidas,
afirma-se que os processos de Coaching ao potenciarem mudanças significativas quer a nível
mais pessoal, quer no âmbito profissional, com registos de maior auto - valorização,
autoconfiança, gestão emocional, motivação, clarificação de crenças, adopção de atitudes
mais assertivas, eficácia e eficiência na concretização de objectivos e no estabelecimento de
relações interpessoais, contribui para um ambiente organizacional mais saudável e
harmonioso. Podendo desta forma confirmar-se a hipótese 5, os processos de Coaching
contribuem para uma melhoria no ambiente organizacional.
Apresentam-se algumas das afirmações dos entrevistados que comprovam a
veracidade das informações supracitadas.
- “Influenciou a forma como eu trabalho e consequentemente a equipa em que me integro.”
- “Na organização em geral houve uma influência positiva junto dos colegas, dando motivação.”
- “Ajudou no melhor entendimento e relacionamento com quem tinha de interagir. Ajudou ainda na melhor mobilização de
toda a equipa para atingir os objectivos da equipa.”
- “Escuta activa e comunicação mais eficiente permitiram-me aumentar a eficiência da gestão de equipas, de conflitos internos
dos colaboradores (e alunos), motivação, etc (…) ”
- “Ajudou no trabalho de equipe e a contornar dificuldades.”
Quadro 7 – Citações dos respondentes que reflectem melhorias no ambiente organizacional
Fonte: Própria
Tendo em conta o estudo já mencionado na parte teórica desta dissertação, levado a
cabo pela Behavioral Coaching Institute (2010), empresas que realizaram Coaching com
Executivos, apontam benefícios na cultura organizacional, relatados pelos próprios executivos
98
em: produtividade (53%), qualidade (48%), atendimento ao cliente (39%), redução de queixas
dos clientes (34%), retenção dos Executivos que receberam Coaching (32%), redução de
custos (23%), lucro final (22%), relacionamento com a equipe (77%), relacionamento com
líderes imediatos (71%), trabalho em equipe (67%), relacionamento com os pares (63%),
satisfação no trabalho (61%), redução de conflitos (52%), comprometimento organizacional
(44%), relacionamento com os clientes (37%).
5.1.5 Os processos de Coaching influenciam o estilo de Liderança
“Coaching executivo, que surgiu há mais de uma década como uma prática de
desenvolvimento de liderança, agora está entre as técnicas de desenvolvimento mais
utilizados em executivos” (McGovern, J., Lindemann, M., et al., 2001, p.1).
O conceito de Coaching encontra na literatura forte associação ao desenvolvimento da
liderança, encontrando-se o tipo de Coaching de Executivos, na perspectiva de alguns autores
destinado a promover competências em executivos ou líderes de organizações, “O Coaching
executivo é um processo empírico e individualizado de desenvolvimento de líderes que
constrói a capacidade de um líder atingir metas organizacionais de curto e longo-prazo”
(The Executive Coaching Forum, 2004, citado por Blanco, 2006, p. 76).
Daí se enfatizar a liderança como uma das características que ressaltam ao abordar o
Coaching, no entanto, sabe-se que o mesmo não objectiva apenas isso. Contudo, centrandonos neste âmbito, cita-se Michelman (2005, citado por Blanco, 2006, pp.87-88) e a pesquisa
que apresentou em 2004, pela Right Management Consultant, em que se regista que 86% das
empresas alegam fazer uso de Coaching com o objectivo de aprimorar habilidades de futuros
líderes organizacionais. O artigo também indica que a empresa IBM possuía, na época mais
de 60 Coaches certificados em seu quadro de colaboradores.
Aliando as informações supracitadas e outras existentes na literatura sobre o tema,
com os dados desta investigação empírica, através das citações dos respondentes, tais como
“Deixou de ser uma liderança autoritária, directiva para ser uma auto - liderança
multifacetada e adequada às situações e às necessidades do grupo” (Entrevista 5); “Tendo
melhorado na auto-estima e nas relações interpessoais, influenciou em incutir motivação e
num estilo de liderança mais assertivo” (Entrevista 12) pode confirmar-se a hipótese 3, os
processos de Coaching influenciam o estilo de liderança.
99
“Liderar é obter resultados extraordinários de pessoas absolutamente comuns”
(Abraham Lincoln, citado por Zaharov, 2010, p. 125).
5.1.6) Os processos de Coaching trazem benefícios a nível da gestão de vida pessoal
“Ao superar obstáculos e crenças limitantes, as pessoas podem obter mais
autoconfiança, satisfação pessoal e também maior qualidade de vida – alcançando um estado
de preenchimento interior. Cada indivíduo, ao suplantar suas barreiras internas, também
transforma a percepção de si mesmo, elevando a auto-estima, a autoconfiança, ampliando
sua visão, mais voltada para o “possível” e menos para o “impossível”” (Zaharov, 2010, p.
24).
Partindo da abordagem efectuada no ponto 4.11 onde se evidenciam um conjunto de
afirmações dos indivíduos alvo da presente investigação, registam-se a partir da sua análise o
desenvolvimento de um conjunto de competências que possibilitam melhorias a nível da
gestão de vida pessoal, seja na adopção de uma postura e atitude diferente consigo próprios,
seja com os outros, permitindo desta forma maiores facilidades no alcance dos objectivos.
“Os recursos humanos assumem-se na dupla vertente de factor de produção e de
objectivo primordial do sistema social, traduzido essencialmente no bem-estar generalizado”
(Dias, 1997, citado por Pereira, 2008, p. 76).
Ao longo das questões realizadas, independentemente do seu foco, os respondentes
invocam frequentemente melhorias a nível de gestão emocional, “A nível do alinhamento
pessoal e gestão das minhas emoções” (Entrevista 19), gestão do tempo, “Estando mais
organizada na planificação das tarefas, por consequência houve uma melhoria na gestão do
tempo” (Entrevista 12) e organização, “Melhor organização e grau de finalização” (Entrevista 9),
em suma, necessárias para o equilíbrio e gestão de vida pessoal e interacção com outras áreas
de actuação “Equilíbrio e harmonia entre a vida pessoal, profissional e social” (Entrevista 3).
“O trabalho de transformação demanda disciplina e persistência. A potencialização
da energia de cada um passa a ser utilizada para galgar objectivos profissionais e de vida
pessoal” (Zaharov, 2010, p. 24).
Posto isto, e com as evidências teóricas e empíricas apresentadas pode desde já
confirmar-se também a hipótese 6, de que os processos de Coaching trazem benefícios a nível
da gestão de vida pessoal.
100
5.2 Hipótese Principal: os processos de Coaching influenciam o desenvolvimento
pessoal e profissional das pessoas
“É um processo que contribui para que as pessoas e os grupos se transformem,
reflictam a respeito de sua visão de mundo, de seus valores e crenças, aprofundem sua
aprendizagem, incorporem novas habilidades e capacidades, expandam sua prontidão para
agir de forma de provocação construtiva, de desafio e estímulo para o desenvolvimento e a
aprendizagem contínuos” (Krausz, 2007, p. 27).
Partindo da abordagem já realizada aos dados empíricos desta investigação sobre a
influência dos processos de Coaching, verificou-se que se apresentam como catalisadores do
desenvolvimento pessoal e profissional.
Tal como os dados recolhidos na literatura, tal como evidência a citação supracitada,
direcciona-se no mesmo sentido, reflectindo as mudanças que se pretendem alcançar, e as
competências que se adquirem ao longo do processo que geram atitudes e comportamentos
mais assertivos, um desenvolvimento a nível pessoal e profissional “um processo no qual o
Coach e seu cliente trabalham juntos na definição de uma meta de desenvolvimento, pessoal
e profissional, estabelecendo metas concretas que melhorem o comportamento em prazo
definido (…) ” (Pryor, 1994, citado por Ferreira, 2008, p. 47).
Postula-se que independentemente do Coaching ser mais orientado para os aspectos
pessoais ou para os profissionais, a sua influência recai sobre os dois níveis, “em geral,
Coaching é um processe de orientação prática que promove desenvolvimento pessoal e
profissional por meio de mudanças autopromovidas (…) ” (Maynard, 2006, citado por
Ferreira, 2008, p. 47).
Mais se acrescenta que confirmando-se todas as hipóteses secundárias, e verificandose que as mesmas geram mudanças e desenvolvimento em diferentes aspectos, seja a nível
pessoal ou profissional, afirma-se que os processos de Coaching, através do relacionamento
instituído com o Coachee, contribuem para o desenvolvimento pessoal e profissional,
orientando os indivíduos para a concretização de seus objectivos. “O profissional de
Coaching actua como um estimulador externo que desperta o potencial interno de outras
pessoas, usando uma combinação de paciência, insight, perseverança, e interesse para
ajudar os receptores de Coaching activar os seus recursos internos e externos e, com isso,
melhorar seu desempenho” (Clutterbuck, 2008, p. 11).
101
Poderá então confirmar-se a hipótese principal desta investigação apontando que os
processos de Coaching contribuem para o desenvolvimento pessoal e profissional, passandose a comprovar a designação do conceito como uma prática de desenvolvimento, através dos
dados empíricos desta investigação.
102
6.
Conclusão
A literatura aponta o Coaching como uma das possíveis alternativas das organizações
face à manutenção da competitividade e sustentabilidade no ambiente organizacional, pelo
que se implanta como uma resposta positiva face às adversidades deste contexto.
A questão central, de partida desta investigação centrou-se em perceber se os
processos de Coaching se constituem, efectivamente, como uma prática de desenvolvimento
pessoal e profissional, tal como denomina a literatura. De modo mais particular se os
processos de Coaching influenciam os indivíduos alvo dos mesmos, seja a nível pessoal ou
profissional, considerando sobretudo possíveis melhorias no seu desempenho.
A investigação empírica centrou-se sobretudo na recolha de dados que visassem testar
a validade das hipóteses enunciadas, contudo o conteúdo das questões enunciadas na
entrevista permitiu aprofundar outras informações relevantes para o tema do Coaching.
Partindo-se dos dados apurados nas entrevistas, e de uma abordagem inicial à
caracterização dos participantes constatam-se informações como as que a seguir se
apresentam.
A nível do perfil pessoal dos entrevistados salienta-se o facto de todos eles se
encontrarem já na idade adulta, o que poderá indicar um interesse por esta área, numa fase
posterior à concretização de estudos ou experiência de trabalho alongada.
Do perfil escolar/formativo salienta-se, com excepção de um dos entrevistados, a
frequência de ensino superior em áreas de estudo diversas. O interesse pelo Coaching surge
posteriormente, culminando com frequência em formações a este nível ou processos de
Coaching de diferentes tipos.
Regista-se a nível da profissão actual desempenhada uma maioria de indivíduos a
exercer funções de Coach acumuladas com outra actividade laboral, mais predominantemente,
como consultor ou formador.
O Coaching pessoal ou de vida foi o mais procurado pela maioria dos indivíduos,
sendo o objectivo o desenvolvimento de competências diversas para superação de
determinado obstáculo e concretização de objectivos. Os que não recorreram ao Coaching por
iniciativa própria (2 casos) foram orientados pelas entidades patronais, para os tipos de
Coaching executivo e o corporativo ou de negócios.
103
Estes motivos vão de encontro ao propósito pelo qual os entrevistados desta
investigação recorreram ao Coaching, o desenvolvimento pessoal/profissional, considerandose o desenvolvimento de competências, a definição/concretização de objectivos e o
relacionamento interpessoal.
As sessões individuais são as mais comuns nos processos de Coaching, segundo os
dados desta investigação.
Regista-se um grau de satisfação muito elevado para com os processos de Coaching,
correspondendo na óptica dos entrevistados os processos às suas expectativas, ocorrendo quer
as mudanças esperadas antes de iniciar o mesmo, quer outras não previstas, mas positivas,
revelando em algumas situações superação de objectivos previstos.
Na análise já apresentada, pode-se pois constatar a influência dos processos de
Coaching a diversos níveis. Conclui-se que são influentes no sentido mais lato, no
desenvolvimento pessoal e profissional, facilitando a concretização de objectivos, o
relacionamento interpessoal, a liderança, a gestão de vida pessoal, através da aquisição de
competências que potenciam também melhorias no desempenho profissional, no ambiente de
trabalho e, consequentemente, no sucesso individual, de equipa e organizacional.
Postula-se pois, que em contexto laboral, para além de potenciar o desenvolvimento
pessoal e profissional dos sujeitos, os processos de Coaching contribuem para o sucesso da
organização, “Impactos tangíveis sobre negócios incluíram aumentos de produtividade,
qualidade, força organizacional e serviço ao cliente” (McGovern, et al., 2001, p. 6).
Na parte teórica desta dissertação foram mencionados alguns estudos que salientaram
algumas críticas ao processo de Coaching, pelo facto de ser centrado num relacionamento,
podendo caso este não seja saudável, influenciar negativamente o processo e não se alcançar
os objectivos desejados. Porém na presente investigação empírica apesar de apenas se terem
registado críticas positivas ao processo, quando se questionou os participantes do estudo sobre
os aspectos negativos, alguns deles referiram dados centrados no relacionamento estabelecido
entre Coach e Coachee. Salientaram não como crítica mas como um possível factor de
influência no desenvolvimento do processo a “Inexperiência do Coach”; “ (…) alguma
dependência do Coach”; “Falta de autoconfiança no interlocutor.” Poderá assumir-se que
estas citações se coadunam com esses estudos mencionados centrados na relação entre os
intervenientes do processo de Coaching.
104
“Como uma estimativa final do valor percebido, pedimos aos participantes se eles
recomendariam o Coaching (ou seja, o tipo de intervenção e da organização que forneceu os
treinadores) para os outros. Uma esmagadora de 93 por cento respondeu afirmativamente”
(McGovern, et al., 2001, p. 8).
Evidências bibliográficas e empíricas, quer da presente investigação, quer de outros
estudos mencionados se direccionam no mesmo sentido, afirmando-se portanto que o
Coaching se reveste como uma excelente prática de desenvolvimento pessoal e profissional,
capaz de cativar, motivar e influenciar positivamente os seus alvos e o seu meio envolvente.
Ao longo da execução da presente investigação foram surgindo alguns aspectos que se
considera pertinente serem explorados de forma aprofundada, pelo que aqui se mencionam,
como uma possibilidade de sugestão para futuros estudos.
Assim sendo, e tendo em conta o facto dos processos de Coaching se centrarem no
estabelecimento de um relacionamento, considera-se importante avaliar os factores que
possam estar na sua base. Mais especificamente, de que forma as características pessoais do
Coach e até profissionais, podem influenciar o processo de desenvolvimento pessoal e
profissional do Coachee.
De igual modo, e centrando-se ainda na “relação”, outro aspecto suscitado recai sobre
a ligação que pode ser estabelecida com o Coach. Em suma, investigar de que forma os
processos de Coaching podem também contribuir para o estabelecimento de relações de total
dependência do Coach, prejudicando a co-responsabilização e autonomia pessoal.
A aposta na investigação científica centrada na temática do Coaching será importante
para um maior reconhecimento desta actividade profissional, bem como para o
enriquecimento dos profissionais da área e demais interessados, visto encontrar-se ainda numa
fase embrionária que necessita de amadurecimento.
105
106
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112
Anexos
113
INSTITUTO SUPERIOR DE LÍNGUAS E ADMINISTRAÇÃO - VNG
Mestrado em Gestão de Recursos Humanos
Dissertação: “Coaching como ferramenta de desenvolvimento Pessoal e Profissional”
GUIÃO DE ENTREVISTA
A presente entrevista constitui-se como parte integrante do trabalho de dissertação do curso de
Mestrado em Gestão de Recursos Humanos. Pretende-se, através da realização de um conjunto de
entrevistas a uma amostra constituída por elementos que já tenham beneficiado de algum tipo de
processo de Coaching, testar a premissa de que esta ferramenta possibilita o desenvolvimento da
performance pessoal ou profissional dos indivíduos e consequentemente contribui para o sucesso
organizacional.
Será respeitada a confidencialidade dos dados facultados.
I. Dados Sociodemográficos
•Nome: ___________________________________________________________________________
•Data de Nascimento: ____/____/________
•Género:
M___ F___
•Estado Civil:
Solteiro___ Casado___ Viúvo___ Divorciado___ União de Facto___
114
II. Dados Escolares e Profissionais
•Habilitações Literárias: ______________________________________________________
•Cursos de Formação:
Sim___ Não___
Em caso afirmativo…
Benefícios Pessoais, Profissionais
Curso/Acção de Formação
e/ou Sociais
•Profissão Actual: ___________________________________________________________
Percurso Profissional…
1º Emprego
_____________
Profissão
Local
Cargo/Função
Grau de
Satisfação
Razão de
Cessação
115
_____________
_____________
III. Dados “Coaching”
•Como define o “Coaching”?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
•Qual o tipo de Coaching de que foi alvo?
Coaching Pessoal ou de Vida___
Coaching de Executivos___
Coaching Corporativo ou de Negócios___
Coaching de Grupos___
Outro:_______________________________________________________________
•Qual o propósito?
•Beneficiou de um processo de Coaching por iniciativa própria?
Sim___
Não___
Justifique:
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•Foi alvo de sessões individuais ou de grupo?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
116
•De que forma o processo de Coaching de que foi alvo, influenciou o seu contexto de trabalho?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•E o seu comportamento na organização?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•Quais os aspectos positivos decorrentes da sua experiência como Coachee?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
• E os negativos?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•Classifique o seu grau de satisfação para com o processo de “Coaching”?
1 – Muito Insatisfeito___
2 – Insatisfeito___
3 – Pouco Satisfeito___
4 – Satisfeito___
5 – Muito Satisfeito___
117
•Quais as principais mudanças a nível pessoal e profissional esperadas antes de iniciar o processo?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•Quais as principais mudanças pessoais e profissionais efectivamente ocorridas após processo de
Coaching?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•De que forma influenciou o seu estilo de relacionamento interpessoal?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•Influências do processo no seu estilo de liderança?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
•De que forma influenciou a gestão da sua vida pessoal?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
118
• Constitui-se como um processo influente no seu desenvolvimento pessoal? E organizacional? De que
forma?
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Observações:
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Grata pela Colaboração!
Data:___/___/_______
Joana Correia
119