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Nuno Resende
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA
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Lúcia Rosas
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SÉCULOS XVI - XXI
MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SALZEDAS
O MOSTEIRO E O BURGO
ANA SAMPAIO E CASTRO
NUNO RESENDE
O lugar do Burgo, situado às portas da igreja e mos-
estava o dito lugar de Argeriz. A reforçar a hipóte-
teiro de Santa Maria de Salzedas (figura 1) constitui a
se de um povoado antigo neste local temos ainda
materialização urbanística das relações de indivídu-
as evidências arqueológicas. De facto, na encosta
os leigos ao serviço da comunidade cisterciense, ou
oeste da elevação da capela de Nossa Senhora da
dela dependentes, quase desde a sua fundação, no
Piedade, encontram-se numerosos vestígios de frag-
século XII, até à atualidade (figura 3 cat. 22).
mentos de cerâmica comum medieval e cerâmica
Aquando do início de construção do mosteiro, em
de construção. A este exemplo junta-se o do Burgo
1168, provavelmente existiria já um pequeno aglo-
próximo do mosteiro de S. João de Tarouca, situado
merado populacional nas suas proximidades. Como
a poucos quilómetros de Salzedas, que já existiria an-
refere A. de Almeida Fernandes (FERNANDES, 1995:
tes do estabelecimento monástico (SEBASTIAN et alii,
203) o território, designado por Argeriz, que se tornou
2008: 143).
couto monástico tinha como povoado principal Villa
É após a implantação do mosteiro que este núcleo
Plana de Argeriz, situado no sopé da elevação onde
se terá transferido para o local presente, designado
se ergue atualmente a capela de Nossa Senhora da
por Burgo (figura 2). Atualmente este pequeno aglo-
Piedade. Esta capela, edificada no século XVIII sob
merado, na sua maior parte desabitado, é constituí-
égide monástica, deverá ter substituído uma mais an-
do por um conjunto de estruturas justapostas, onde o
tiga, possivelmente a igreja de S. Salvador de Argeriz
espaço privado é mais representativo, originando um
a qual, segundo um documento datado de 1153, o
tecido denso e irregular com ruas estreitas, sinuosas e
seu presbítero trocou pela de S. Silvestre de Britiande
descontinuadas (figura 3).
(FERNANDES, 1984: 28).
De um modo geral este conjunto apresenta habi-
Uma das primeiras referências documentais onde
tações com dois pisos, paredes exteriores em alvena-
encontramos Villa Plana de Argeriz data de 1144
ria de pedra no andar inferior, normalmente utilizado
(FERNANDES, 1995: 204) e em 1150 é mesmo referida
para guarda das alfaias agrícolas e/ou de gado, e
a villa de Argeriz numa carta de venda de propriedades efetuada a D. Teresa Afonso (FERNANDES, 1984:
15). Fr. Baltazar dos Reis (2002: 23-24) no manuscrito
Breve relação da fundação e antiguidade do Mosteiro de Santa Maria de Salzeda de início de século
XVII menciona um local denominado por vinhas de
Argeriz, localizado num vale, junto da igreja de S. Salvador de Argeriz, edificação então ainda existente,
onde no dito sittio de Argeriz se achão oje alicesses
e vestigios de edificios antigos, aonde parece que
Figura 1 | Fachada a igreja de Salzedas. Foto Pedro Martins © DRCN
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Figura 2. Ana Sampaio e Castro
Figura 3 | Arruamento do Burgo de Salzedas. Foto Luís Sebastian
de tabique no piso superior e nas divisões internas.
deve-se a fatores como o clima ou a facilidade de
Esta técnica encontra-se, sobretudo, na designada
acesso a materiais autóctones, evitando um custo
arquitetura vernacular das regiões do Alto Douro,
acrescido na construção das habitações e paralela-
Trás-os-Montes e Beira Alta. Consiste na aplicação
mente criando um ambiente mais estável no interior
de terra argilosa, amassada com água e fibras ve-
das divisões.
getais (palha) como enchimento e sob elementos de
Até à época moderna o lugar parece indissociável
madeira que são colocados na vertical, horizontal
do mosteiro. No foral outorgado, em 1504, ao Cou-
ou inclinados. Embora só se encontre documentada
to de Salzedas ainda se não refere qualquer povoa-
entre nós a partir de século XVII, é contudo provável
ção nomeada como Burgo ou Salzedas, sendo ape-
que tenha uma cronologia mais recuada, uma vez
nas indicados os lugares de Granja Nova, Ucanha,
que na Europa terá sido utilizada desde a Idade Mé-
Cimbres, Meixedo, Murganheira, Vila Pouca, Formilo
dia (PINTO, 2013: 32). A popularidade desta técnica
e Valdevez (CASTRO, 2014: 36). Porém, no Numera-
mento de 1527 aparece referido o mosteiro da Cer-
século XVII, colhemos algumas expressões da vivência
zeda, com 14 moradores o que poderia incluir a co-
humana à sombra do Mosteiro. E a própria autonomi-
munidade monástica e eventuais leigos (COLLAÇO,
zação do lugar, revelada na alteração das designa-
1931: 130). Efetivamente se aos 14 moradores corres-
ções Burgo e Mosteiro, empregadas sistematicamen-
1
te até 1696 e depois substituídas definitivamente no
podemos calcular o número de habitantes do Burgo
formulário da documentação paroquial por Salzedas
através de uma indicação cronologicamente próxi-
(ADL, Paroquiais, Mistos 1690-1723, fls. 2-2 v.º).
ponder um número entre os 60,2 e os 67,2 indivíduos
ma. Trata-se da referência do visitador cisterciense
Titulava-se então a paróquia como do Bom Jesus
D. Edme de Selieu que, tendo passado em Salzedas
de Salzedas ou do Santíssimo Nome de Jesus de Sal-
em Janeiro de 1533, indicou para o mosteiro 23 pro-
zedas, sendo regida por um cura apresentado pelo
fessos e 3 noviços (BRONSEVAL, 1970). Subtraindo os
abade do mosteiro. Os livros paroquiais revelam-nos
ocupantes do mosteiro aos 60-67 indivíduos atrás re-
a inconstância dos ciclos curas nomeados, que se su-
censeados talvez possamos contabilizar pouco mais
cedem em pequenos intervalos – alguns de menos
de três dezenas de indivíduos a habitar o Burgo no
de um ano.
início do século XVI.
A cartografia antiga também não indica, quer
Infelizmente sabemos muito pouco sobre os ho-
gráfica, quer toponimicamente nem o Burgo, nem
mens e as mulheres que ali viviam que formariam
Salzedas. Na região, apenas a carta de Fernando
uma mescla de lavradores, oficiais mecânicos e,
Álvaro Secco (SECO, 1559-1561) assinala São Pedro
porventura, alguns comerciantes e serviçais com
das Águias e as de d’Abeville (D’ABEVILLE, 1654), F.
vínculos ao mosteiro. É provável que a edificação
de Wit (WIT, 1670) e de Jaillot (JAILLOT, 1711) sinalizam
do novo complexo monástico no século XIII enredas-
o topónimo Tarouca. Na cartografia de setecentos
se na sua órbita vários oficiais e obreiros, foreiros e
surge a Ucanha, indicada na Província da Beira por
outros colonos atraídos pela pujante atividade cons-
Carpinetti (CARPINETTI, 1769 - 1779). Mas em nenhu-
trutiva e humanizadora que implicava acalentar a
ma outra carta, até ao século XIX, surge o Mosteiro
formação de comunidades laboriosas, não apenas
ou o Burgo de Salzedas.
para a construção, mas para o arroteamento e cul-
É, contudo, um memorialista das luzes, o Padre Luís
tivo de terra bravia. Seriam talvez alguns destes ho-
Cardoso que, através do seu Dicionário Geográfico
mens que no dia 6 de Janeiro de 1533 assistiram à
de 1751 nos traz as primeiras notícias monográficas
sagração do novo abade de Salzedas, na presença
sobre o Burgo. Segundo a sua descrição era lugar da
do visitador D. Edme que, não obstante ter conside-
Provincia da Beira, Bispado, e Comarca de Lamego,
rado o lugar solitário e desabitado, se espantou com
Concelho, e Termo da Villa de Ucanha, sendo Dona-
a multidão assistente (BRONSEVAL, 1970: 517-519).
tarios delle os Religiosos do Mosteiro de Santa Maria
Dos registos paroquiais de Salzedas, iniciados no
de Salzedas (CARDOSO, 1751: 307). Tinha 75 vizinhos
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e a paróquia, com um altar, estava dentro do lugar,
dos registos de casamentos, baptismos e óbitos no
com o orago Bom Jesus2. O cura era, como já refe-
lugar de Salzedas, entre 1690 e 1799, obtivemos o se-
rimos, da apresentação do Dom Abade. Para além
guinte gráfico:
da invocação patronal, cultuava-se dentro da igreja
matriz S. Caetano e S. Sebastião. Na paróquia existiam ainda três irmandades, a do Rosario, das Almas,
e do Bom Jesus e cura dela estendia a sua jurisdição
pelos lugares de Meixedo, Cortegada, Murganheira,
e Vila Pouca, em cujas aldeias erguiam-se as «Ermi-
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das de S. Salvador, S. Barbara, S. Marinha, S. Antonio,
S. André, S. Luzia, e Espirito Santo. Acrescentava ainda o memorialista que os frutos, que em mais abundancia recolhem os moradores desta Freguesia, são,
trigo, milho painço, centeyo, azeite, vinho, e castanha em abundancia; tambem cria muita caça, de
coelhos, lebres e predizes» (CARDOSO, 1751, II: 307).
Sem dados estatísticos regulares disponíveis até ao
Fonte: Livros de Registos Paroquiais de Salzedas (Arquivo Diocesano de Lamego).
século XIX, apenas podemos comparar a indicação
do Numeramento de D. João III que indicava os 14
O pequeno Burgo do século XVI converteu-se, pois,
moradores da Cerzeda com os 75 vizinhos referidos
ao longo dos séculos XVII e XVIII num lugar com no-
no Dicionário Geográfico de 1751. Naturalmente
tável vitalidade demográfica. Ao nível de nascimen-
notamos um incremento da população, que acom-
tos, o lugar de Salzedas manteve-se abaixo do regis-
panha a tendência nacional e até internacional.
to anual de 100 indivíduos para, a partir do primeiro
Contudo como se terá processado este movimento
quartel do século XVIII, evidenciar um considerável
demográfico localmente? Sob a jurisdição espiritual
aumento quer em número de casamentos, quer de
e temporal do mosteiro, como se reflectiria esta rela-
nascituros/batizados. E a progressão continua expo-
ção na demografia?
nencialmente até finais do século XVIII, em particular
Valioso documento do tipo qualitativo, os registos
a partir da década de 1770.
paroquiais são, também, fontes de teor estatístico
A que se deveu tal crescimento? Só um estudo
que permitem uma análise da demografia local,
mais aturado sobre a exploração da terra e dos seus
cujo movimento pode ajudar-nos a compreender a
recursos e a sua administração pela principal entida-
relação dos seus habitantes com o mosteiro sob cuja
de dominial local – o mosteiro – poderá explicar com
sombra habitavam. A partir de uma contabilização
rigor este aumento demográfico. Mas um aspeto, o
da proximidade a uma estrutura arquitetónica de
ção começou pela capela-mor.
grandes dimensões, explica, em parte, a fixação hu-
O documento contabilístico de 1750 explica a ra-
mana no local. A necessidade de assegurar o traba-
zão da obra: por ameaçar ruína a igreja necessitou de
lho braçal, a deslocação de matéria-prima e a sua
intervenções que começaram pelos fundamentos da
transformação – processo destinado a abastecer os
cabeceira – a qual e pela aspereza do terreno onde
habitantes do mosteiro e a sustentar a maleabilidade
se situava exigiu um gasto considerável. Para o proje-
arquitetónica do complexo, poderá ter contribuído
to foram chamados a Salzedas Gaspar Ferreira, para
para o incremento demográfico, sobretudo ao longo
fazer o risco da mesma capela e António de Andra-
do século XVIII.
de, para o desenho da tribuna e coro. A descrição
São conhecidos dois períodos de grande atividade construtiva em Salzedas: um no início da época
do decurso da obra é reveladora da complexidade e
grandeza (a expressão é do redator) do projeto:
moderna que corresponde aos abadessados de D.
[…] Em quebrar pedraria para a Capela Mor, fac-
Brás de Cimbres e D. Damião Rodrigues e outro, já
tura della, e forro com muro arroda, materaes perten-
em pelo século XVIII de que é testemunho a estrutura
centes a ella, como madeira para andaimes, pregos,
actual da igreja. Embora nos centremos no espaço
varios ferros, Grades para as frestas, arame e feitio
eclesial, a atividade construtiva e reconstrutiva man-
das [...] Cal, tijolo para as abobedas, e factura dellas,
teve-se ao longo do século XVII, nomeadamente na
telha e Conducção aguço de picos, ferragem de
edificação da ala sul e segundo claustro (CASTRO,
Carros e para madeira para elles, Carpinteiros e as
2014: 34). Muitas destas intervenções, à falta de do-
muitas juntas de boys que se comprarão para condu-
cumentação são atestadas por cartelas datadas e
zirem a pedraria, e mais materiaes para a ditta obra
breves referências esparsas pela documentação
polvora e, chumbo, vidros que vierão do Porto para
(COSTA, 1984: 540).
as vidraças das frestas; e mas Couzas […] (TT, Mosteiro
No entanto a obra que definiu, cremos, uma rutura
de Alcobaça, 3.ª Inc., mç. 4, doc. 184, fl. 3)
com o edifício medieval foi a que marcou o abades-
Esta obra, quase fundacional, em nada reflete,
sado trienal de frei Pedro Castelo Branco (1747-1750)
portanto, o trabalho de Carlos Guimach que durante
– a quem José Leite de Vasconcelos indica como fi-
algum tempo foi indicado pela historiografia da arte
lho de Salzedas (VASCONCELOS, 1933: 399). Na folha
como o obreiro da nova igreja de Salzedas. De resto,
contabilística referente ao seu primeiro período de
a sua presença em Portugal a partir de, pelo menos,
governo assinalam-se várias intervenções dispersas,
o ano de 1690 (GOMES, 1996) não coincide nem com
quer pela cerca, quer fora dela (em moinhos, muros,
a cronologia de edificação da estrutura de Salzedas
etc.ª), quer nos dormitórios e celas (TT, Mosteiro de Al-
(iniciada por volta de 1747), nem com a linguagem
cobaça, 3.ª Inc., mç. 4, doc. 184). É, contudo, a igreja
arquitetónica do frontispício cuja construção deverá
que mereceu a atenção do abade, cuja reedifica-
ter ultrapassado os limites do século XVIII.
61
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Já quanto à presença em Salzedas do arquiteto
contabilística. A partir da década de 1730 registam-
Gaspar Ferreira esta é corroborada pela vasta obra
se várias alusões a mortes relacionadas com obras
que deixou nas regiões da Beira Alta e do Mondego
no convento: em 1734 Jerónimo, solteiro, carpintei-
tendo trabalhado como mestre entalhador e arquite-
ro da Província de Entre Douro e Minho faleceo de
to em projetos para Coimbra (Biblioteca, 1718), Viseu
um desastre no real mosteiro de Salzedas (ADL, Pa-
(1720 e 1733), Mangualde (1721), Santa Comba Dão
roquiais, Salzedas, Óbitos 1710-1739, cx. 3, l.º 1, fl. 80);
(1737), Arouca (Mosteiro, 1744 e 1746) e Montemor-
em 1750, José, solteiro, cahio das obras do convento,
o-Velho (Hospital, 1752-1754) estes últimos trabalhos
(ADL, Paroquiais, Salzedas, Óbitos 1739-177, cx. 3, l.º
registados contratualmente (ALVES, 2001, I: 335-341;
2, fl. 27); em 1755 Manuel de Araújo, cayo nas obras
FERREIRA-ALVES, 2008: 123), a que agora se acrescen-
deste Mosteiro de Salzedas, de que logo falleceo
ta a referência ao risco da capela maior de Salzedas,
(ADL, Paroquiais, Salzedas, Óbitos 1739-177, cx. 3, l.º 2,
executado por volta de 1750.
fl. 49). É de resto pertinente assinalar a proveniência
Os livros de registo paroquial são consentâneos
minhota destes e de outros oficiais que muito embora
com o frenesim atrás descrito pelo redator da folha
não tenham falecido nas obras do mosteiro viviam
Figura 4 | Sacristia da igreja de Salzedas: paramenteiro e pinturas de Bento Coelho da Silveira (1677-1685). Foto Pedro Martins © DRCN
em Salzedas nesta época, como Manuel Gomes, ofi-
Leal à época em que a obra foi suspensa acrescenta
cial de pedreiro natural de São Mamede de Ferreira,
às suas palavras uma importância que não podemos
arcebispado de Braga, falecido naquele lugar em
ignorar. Segundo ele, quando Junot invadiu Portugal
20-9-1754 (ADL, Paroquiais, Salzedas, Óbitos 1739-177,
em 1807, a obra da fachada de Salzedas parou, e
cx. 3, l.º 2, fl. 43). É, pois, natural que esta migração de
nunca mais, até hoje, se concluiu (LEAL, 1878: 373).
oficiais cuja mão-de-obra servia o estaleiro da nova
É provável que o conturbado clima político e eco-
igreja monástica influísse no crescimento da comuni-
nómico contribuísse para o abandono do projecto
dade de Salzedas dando expressão à vitalidade de-
arquitectónico. No entanto, as razões inerentes à pa-
mográfica a partir da década de 1730.
ragem das obras ou de, pelo menos, ao seu abranda-
Mão anónima assinalou, num códice pertencente
ao espólio de Leite de Vasconcelos, a paragem das
mento em finais do século XVIII, são-nos ocultas pela
documentação disponível e para já reconhecida.
obras durante o abadessado de Gregório Pereira
Não obstante, no início do século XIX constituía Sal-
(1796-1797), mas não o explica. Segundo o redator
zedas um núcleo urbano onde se registava a preva-
do dito códice, o abade Gregório Pereira, de Lisboa,
lência de mão-de-obra especializada nos ofícios da
continuou com o frontispício e o deixou no estado
cantaria, como testemunham as várias referências a
em que actualmente se acha e se não fora a sus-
pedreiros dali naturais a trabalharem em igrejas da
pensão que ouve de obras a deixaria completa por
região (ALVES, 2008: 48, 71).
que se conhecia nelle hu grande desejo de o mandar acabar […]3.
Embora reconhecido pela ausência de referências
Em finais do século XIX Salzedas tinha 251 moradores, sendo o lugar mais populoso do termo da Ucanha (SERRÃO, 1970: 40).
à origem das suas fontes, a proximidade de Pinho
Figura 5 | Claustro novo de Salzedas e vista sobre o remate inacabado do frontispício da igreja. Foto Pedro Martins © DRCN
1. Para cálculo do número de habitantes por fogo adoptámos a proposta de J. José Alves Dias que afina a média anteriormente desenvolvida de 4/5 indivíduos
para os valores coeficientes de 4,3 e 4,8 pessoas p/ fogo (DIAS, 1996, I: 39).
2. A esta igreja refere-se frei Baltasar dos Reis, nestes termos: Junto desta Igreja [a monástica] á porta principal della mandou esta Sñora [Dona Maria de Sousa]
fazer hua Cappella para a gente secular poder ouvir missa, porquanto era Custume usado, não entrar pessoa algua Leiga nas Igrejas dos Mosteiros desta
Religião como ainda oje se uza em alguns Mosteiros de outros Reinos, a qual Igreja oje serve de Capella E freguesia de alguns Lugares que tem aobrigação
de virem a ella ouvir Missa. Tem esta igreja, da porta principal da Igr.ª do Mosteiro ata porta della sette varas E de largo tem quatorze (REIS, 2002: 22). A igreja
paroquial teria, assim, sido mandada edificar em vida de D. Maria de Sousa (século XIV), assinalando a existência de um pequeno núcleo de habitantes que
justificasse tal fundação.
3. Museu Nacional de Arqueologia, Espólio de José Leite de Vasconcelos, Códice sobre a fundação do Mosteiro de Salzedas, fl. 25 v.º.
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