Comércio Internacional
Caderno
António Neto
FEP 2009/2010
Nota Prévia: O material aqui apresentado destina-se única e exclusivamente para fins
académicos. Tratando-se de um trabalho amador, não está livre de erros ou de qualquer outro
tipo de falhas, pelas quais o seu autor não se responsabiliza.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
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Parte I – Introdução
Definimos Política Comercial como o conjunto de medidas que os governos tomam
para influenciar, directa ou indirectamente, os fluxos de comércio, importações e
exportações, entre a economia nacional e o resto do mundo.
Tem como Objectivo alterar o nível de concorrência existente entre produtores
internos e externo; obter receitas fiscais; obter dividendos políticos a nível interno
e/ou externo.
Os Instrumentos mais comuns são: tarifas; quotas; regras técnicas e administrativas,
etc.
Parte II – Instrumentos de Política Comercial Externa
1. Tarifa
2. Quota às importações
3. Subsídios às Exportações
4. Imposto às exportações
5. Quota às exportações
1. Tarifa1
Definição: corresponde a um valor ou % de valor que é cobrado quando o bem é
importado.
mais vulgar e mais antigo dos instrumentos de PCE
imposto alfandegário: cobrado quando os bens importados cruzam a fronteira
nacional, elevando assim o seu preço
1
A análise aqui apresentada é muito sussinta. Para aprofundar, consultar o texto de apoio no Sigarra.
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Existem três tipos de tarifa
Específica – imposto de montante fixo por unidade do bem.
Ad-valorem – definida como um valor percentual que recai sobre o preço
unitário do bem importado.
Mista – específica + ad-valorem
Tarifa ad-valorem vs Tarifa específica
Tarifa ad-valorem
Tarifa específica
É mais equitativa
É regressiva
Proporciona sempre o mesmo nível de Proporciona um nível de protecção
protecção
inverso ao nível geral dos preços (com
inflação, o nível de protecção degrada-se
progessivamente)
Só pode ser aplicada após determinado o Facilidade de aplicação
preço do bem importado.
Os principais Objectivos da Tarifa são: proteger a produção nacional da concorrência
externa; elevar o rendimento do governo (particularmente relevante nos países menos
desenvolvidos); e redistribuir o rendimento, a favor do Governo e produtores, e contra
consumidores)
Análise da Imposição de uma Tarifa
Hipóteses de Base
Dois países: A (economia nacional) e B (resto do Mundo)
Produzem 2 bens (X e Y) em condições de concorrência perfeita
Custos de transporte nulos
Preços determinados na moeda de cada um dos países
Taxa de câmbio mantém-se inalterada, mesmo perante medidas de PCE
Inexistência de mobilidade internacional de factores
Em autarcia, PxA > PxB (expressos na mesma moeda)
Em situação de comércio livre, balança comercial sempre equilibrada
Análise de equilíbrio parcial (o que sucede no mercado do bem X?)
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Efeitos Genéricos
Aumento do preço dos bens importados, que perdem competitividade ao entrar no
mercado nacional;
Proteccção parcial dos produtores nacionais, com a concorrência externa a ser
reduzida/iludida pela intervenção do governo no mecanismo de formação de
preços;
Aumento da receita fiscal
...
Análise do equilíbrio parcial
Comparando o equilíbrio de mercado com o comércio protegido pela tarifa versus o
equilíbrio inicial com o comércio lire permite-nos identificar:
Os efeitos de mercado: preços, quantidades produzidas, consumidas, e
importadas/exportadas;
Os efeitos de bem-estar: variação dos excedentes de produtores e consumidores e
das receitas fiscais;
A interpretação económica dos efeitos referidos em termos de eficiência
económica, e redistribuição de rendimento.
É ainda preciso referir que podemos ter dois casos em análise, isto é, a tarifa pode ser
imposta por uma Economia Pequena (quando a economia não tem capacidade de
alterar o preço de equilíbrio em vigor no mercado mundial: price-taker); ou por uma
Economia Grande (economia com uma quota no mercado mundial suficientemente
elevada para que alterações nas suas exportações ou importações tenham impacto no
preço de equilíbrio do mercado mundial do bem em causa: price-maker)
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Economia Pequena
Efeitos de Mercado
A oferta agregada diminui e o preço tende a subir no mercado protegido, com efeitos
consequentes na produção, consumo e importação. Em termos finais teremos:
Preço do bem x aumenta (no montante da tarifa)
Produção interna aumenta
Quantidade procurada interna/consumo diminui
Importações diminuem
Efeitos de bem-estar
Aumento do excedente dos produtores: área (a)
Perda de excedentes dos consumidores: área (a) + (b) + (c) + (d)
Aumento da receita fiscal: t * Qimp = área (c)
Resultado Global: perda líquida de bem-estar em (b)+(d)
(b) é a substituição que ocorre no consumo
interno de produção eficiente do mercado
mundial (ao preço Pw) por produção menos
eficiente (ao preço pw + t) – perda de eficiencia.
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d ep ese ta a edução do o su o a ue os o su ido es fi a o igados
em virtude da subida do preço das importações e, por arrastamento, do preço
do mercado interno.
Assim, (b) corresponde à distorção na produção que resulta do facto dos produtores
nacionais estarem a produzir mais do que deveriam (face à correcta afectação de
recursos à escala mundial – pw), e (d) corresponde à distorção no consumo, que
resulta no facto de os consumidores nacionais estarem a consumir menos do que
deveriam (face à correcta afectação dos recursos à escala mundial – pw).
Interpretação Económica dos Efeitos
Redução da eficiencia económica
o Menor racionalidade na utilização dos recursos pela economia
importadora, tanto na produção como no consumo.
Redistribuição do rendimento dos consumidores, do bem em causa, para os
produtores domésticos do mesmo e para o Estado.
o Os produtores do bem x são protegidos da concorrência externa
o Os consumidores pagam preços mais elevados
o As tarifas são inequivocamente pró-produtores e anti-consumidores.
Economia Grande
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Efeitos de mercado
Preço do bem x aumenta (mas menos que o montante da tarifa)
Produção Interna aumenta
Consumo interno / quant. Procurada diminui
Importações diminuem, e o preço de importação também é inferior ao de
comércio livre.
O País g a de expo ta pa te dos efeitos de
e ado da ta ifa pa a o
exterior (produção e exportações diminuem e consumo aumenta no País B).
Efeitos de Bem-estar
Aumento do excedente dos produtores: área (a)
Perda de excedente dos consumidores: área
(a)+(b)+(c)+(d)
Aumento da receitas fiscal: t * Qimp = área (c)+(e)
Resultado Global: variação líquida de bem-estar em:
(e) – [(b)+(d)], sendo que:
(b) é a distorção na produção
(d) é a distorção no consumo
(e) é a melhoria dos termos de troca – com a diminuição das importações de A,
o p eço
u dial di i ui Pt* e, po ta to, A passa a
o pa
o e
x ao País
B a um menor preço.
Assim sendo, o saldo final da aplicação da política é indeterminado:
Há redução na eficiência económica em virtude das distorções na produção e
no consumo: -(b+d)
Mas existem ganhos nos termos de troca: + (e)
|b+d| = |e| - efeito nulo no BES de A e negativo no BES do resto do Mundo.
|b+d| < |e| - efeito positivo no BES de A e negativo no BE do resto do Mundo.
|b+d| > |e| - efeito negativo no BES de A e negativo no BE do resto do Mundo.
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Conclusão
A imposição da tarifa pode resultar num balanço positivo em termos de variação do
bem-estar.
Demostra-se que tal resultado é
posível para valores relativamente
baixos da tarifa, e que existe uma:
tarifa óptima.
Tarifa óptima: aquela que maximiza os
ganhos nos termos de troca face às perdas
de eficiência económica.
Contudo, essa política é potencialmente conflituosa pois aos ganhos nos TT de A
correspondem perdas de igual valor nos TT de B. Existe assim a possibilidade de
retaliação, i.e, guerra comercial com consequências negativas para as economias
envolvidas.
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2. Quota às importações
Definição: Corresponde a uma restrição quantitativa sobre as importações.
As quotas podem ser:
Globais (ou abertas), se é definida a quantidade total a importar pelo país, sem
especificar quem pode importar;
Licenças de importação, que são atribuidas directamente aos importadores
(gratuitamente ou contra pagamento)
Objectivos: protecção da indústria nacional; aumentar a receita do governo
(assumindo que as licenças são vendidas); redistribuição interna do rendimento
(geralmente a favor de produtores e governo e contra os consumidores)
Note-se que, para cada quota de importação, existe uma tarifa equivalente que teria
exactamente o mesmo efeito de mercado. Contudo, os impactos de bem-estar podem
ser distintos: dependendo da forma como as quotas são atribuidas; quem se apropria
da receita da tarifa equivalente.
Economia Pequena
Efeitos sobre o bem-estar
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
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-a-b-c-d
+a
+c
-b-d
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A a álise at ás efe tuada ad ite ue a a li e ça é ve dida ao p eço justo , ou seja, ao
preço que assegura que a receita arrecada pelo governo é igual à obtida com a tarifa
equivalente. Contudo, a licença pode ser vendida, por exemplo, a metade do preço,
aos consumidores, aos vendedores, ou até mesmo a agentes exteriores. Cabe-nos,
então, analisar estas situações.
Licença vendida p/ metade do preço
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var BES
Consumidores
-a-b-c-d+c/2
+a
+c/2
-b-d
Produtores
-a-b-c-d
+a+c/2
+c/2
-b-d
Agentes exteriores
-a-b-c-d
+a
+c/2
-b-d-c/2
Economia Grande
Efeitos sobre o bem-estar
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
-a-b-c-d
+a
+c+e
-b-d+e
Analogamente, teremos de considerar situações onde a licença não é vendida ao preço
justo.
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Licença Vendida por metade do preço
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var BES
Consumidores
-a-b-c-d+1/2(c+e)
+a
+1/2(c+e)
-b-d + e
Produtores
-a-b-c-d
+a+1/2(c+e)
+1/2(c+e)
-b-d + e
Agentes exteriores
-a-b-c-d
+a
+1/2(c+e)
-b-d+e – 1/2(c+e)
3. Subsídio às exportações
Definição: montante ou percentagem paga por unidade exportada.
Tipos: Específico (um montante por unidade exportada); Ad-valorem (percentagem
sobre o valor); Mista
Objectivos: aumentar as exportações; redistribuição interna do rendimento (a favor
dos produtores e contra o Estado e consumidores)
Os seus efeitos são exactamente inversos aos de uma tarifa. Note-se que estes efeitos
podem ser contraproducentes se o país importador impuser uma tarifa exactamente
igual ao subsídio atribuido às exportações no país exportador (o único efeito passará a
ser uma transferência directa de rendimento do governo do país exportador para o
governo do país importador).
Economia Pequena
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Efeitos sobre o bem-estar
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
-a-b
+a+b+c
-b-c-d
-b-d
Economia Grande
Efeitos sobre o bem-estar
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
-a-b
+a+b+c
-b-c-d-e-f-g
-b-d-e-f-g
Nota: na análise em questão, não é tomado em conta o País B. Para efeitos de rigor, a
parcela correspondente às aréas [efg] é compensada pelo ganho no País B [b*]:
-e-f-g: corresponde à perda dos termos de troca – o País A, para exportar mais
do bem teve de diminuir o preço.
b*: corresponde ao ganho nos termos de troca – o País B passa a importar mais
barato.
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4. Imposto à Exportação
Definição: corresponde a um montante ou percentagem que é cobrada por unidade
ou valor exportado.
Tipo: Específico (montante por unidade exportada) ou ad-valorem (percentagem do
valor exportado).
Objectivos: aumento da receita do governo; redistribuição do rendimento (a favor do
Governo e dos consumidores; contra Produtores e Resto do Mundo)
São particularmente eficientes quando uma economia domina o mercado mundial de
um qualquer produto:
porque nessa situação, ao restringir as suas exportações, é possível à economia
em causa melhorar os seus termos de troca.
no limite, a economia exportadora pode comportar-se como monopolista nos
mercados internacionais, mesmo que a estrutura concorrencial seja, no
mercado doméstico, de concorrência perfeita.
Economia Grande
P
P
Sa exp
P
SbX
SaX
Pib
Pw
Pia
Pib
f
a
b
c
d
Pw
i
e
a*
b*
DbX
Pa
Db imp
DaX
Daw Dai
Sai Saw
Q
Qi Qw
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Q
Q
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Efeitos de Mercado
País A
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
+a+b
-a-b-c-d-e
+f+d
-c-e+f
País B
Var. EC
Var. EP
Var. RG
Var. BES
-a*-b*
+a*
---------b*
Note-se que (f) corresponde a (b*), ou seja, em termos de BES Mundial, o resultado é:
-c-e, sendo que:
(f) resulta da melhoria dos termos de troca, ou seja, A passa a vender mais caro
o bem exportado, face à correcta afectação de recursos.
(b*) resulta de perdas nos termos de troca, ou seja, o país B passa a comprar
mais caro o bem importado, face à correcta afectação de recursos à escala
Mundial.
5. Quota às exportações
Definição: limitação da quantidade que pode ser exportada
Tipo:
Globais ou abertas: quando há limitação da quantidade exportada, mas não se
especifica quem pode exportar.
Licenças de exportação: há limitação da quantidade exportada e é especificado
quem pode exportar
Voluntárias: por acordo entre países
Involuntárias: decididas pelo país exportador.
Objectivo: aumento da receita do governo e redistribuição do rendimento (a favor do
Governo e consumidores, e contra resto do Mundo e produtores).
São uma das formas disponíveis para explorar posições monopolistas no mercado
mundial – em particular quando a indústria nacional não está concentrada. São uma
limitação quantitativa e têm um efeito semelhante a um imposto sobre as exportações
(existe sempre um imposto equivalente que teria os mesmos efeitos de mercado).
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Restrição Voluntária das Exportações (RVE)
Pode ser implementada através de tarifa ou de quota sobre as exportações. É
adoptada pelo país exportador, normalmente, sob pressão e ameaça do país
importador (nomeadamente através de ameaças de imposição de tarfias antidumping).
As principais vantagens relativamente às tarifas são:
para o País Exportador, o facto dos seus exportadores beneficiarem de um
preço elevado no mercado importador, ou seja, apropriam-se do que seria a
receita da tarifa no importador.
para o País Importador, esta opção limita os custos políticos que qualquer
restrição alternativa às importações necesariamente teria.
Exemplo
Existe um acordo entre EUA e Japão, na medida em que os EUA aplicam uma quota à
exportação, nos automóveis, por exemplo. Analisando:
Japão – País A – com a restrição voluntária à exportação pode ganhar ou perder
EUA – País B – com a restrição voluntária à exportação perde de certeza.
EUA – com a tarifa (outro instrumento para limitar as exportações), ganha ou
perde.
Japão – com a tarifa, perde de certeza.
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Então, o Japão aceita, pois fica numa situação mais favorável. E qual é o objectivo do
EUA? Estes preferem a restrição voluntária à exportação porque se aplicar a tarifa iria
ter problemas com a OMC.
Nota: só faz sentido quando o país exportador é grande.
Outros Instrumentos
1) Requisitos de Conteúdo local/nacional/regional
As empresas deverão utilizar na produção uma percentagem (em quantidade ou em
valor) de imputs nacionais.
É muito utilizado no caso do IDE: às empresas são-lhe concedidos benefícios (fiscais,
entre outros), e como contrapartida terão de usar imputs nacionais.
Os visados são normalmente empresas estrangeiras com actividade produtiva no
mercado nacional.
2) Procura Pública / Consumo Público dirigido a bens nacionais
É frequente os governos – que são grandes consumidores e investidores, darem
preferência aos produtores nacionais (mesmo que mais caros e/ ou de pior qualidade),
o que constitui uma clara limitação à livre concorrência dos produtos importados –
logo é também uma barreira às importações.
3) Barreiras técnicas, legais, administrativas e fiscais
Regras de etiquetagem
Regras de higiene
Regras de segurança
Regras de saúde pública
Independentemente da justa razão que possa explicar aquelas práticas, a verdade é
que ao serem muito distintas de mercado para mercado, funcionam como verdadeiros
obstáculos na circulação internacional de bens e serviços. A liberalização do comércio
exige uma maior uniformização daquelas práticas – a exemplo da experiência da UE.
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4) Subsídios do crédito à exportação
Juros bonificados às empresas exportadoras
Atribuição de montantes a fundo perdido
5) Cartéis Internacionais
Acordos entre Estados e/ou empresas e a Estados com o objectivo de repartição do
mercado mundial: OPEP; Diamante; Café; Tabaco; Aviação Civil.
Considerações Finais
Taxa de Protecção Nominal: diz respeito à tarifa aplicada sobre um
determinado bem final.
Taxa de Protecção Efectiva atende à protecção do bem final, mas também à
protecção de imputs usados no bem final.
Fórmula de cálculo TPE = V’ – V) / V ]* 100, sendo:
V’ = valor acrescentado a preços internos
V = valor acrescentado a preços mundiais
Exemplo
Bem final: x
Para produzir x é preciso: 1 Y e 1 Z
Pxw = 30; Pyw = 10; Pzw = 5
Cenário A:
Tad-valorem sobre x = 50%
TPN = 50%; V = 30-10-5 = 5; V’ =
TPE = (30-15)/15 * 100 = 100%
Cenário B:
Tad-valorem sobre x = 50%
Tad-valorem sobre y = 25%
Tad-valorem sobre z = 100%
TPN = 50%; V = 30-10-5 = 15; V’ =
TPE = (22,5 – 15)/15 * 100 = 50%
+5 % – 10-5 = 30
+5 % – 10(1+25%) – 5(1+100%) = 22,5
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Parte III – Argumentos a Favor / Contra do Comércio Livre
I. Argumentos a Favor do Comércio Livre
1) Eficiência Económica
Na análise anteriormente elaborada, foi demonstrado que o proteccionismo gera
ineficiência, quer no consumo, quer naprodução. Note-se que mesmo no caso de
países grandes, as situações de ganho na sequência de restrições ao comércio são
pouco frequentes. Assim, o comércio livre será gerador de eficiência.
Partindo de uma situação de restrição total de
comércio externo, para uma situação total de
comércio2, assistimos a:
Diminuição do excedente dos produtores:
áera (a).
Aumento do excedente dos consumidores:
áera (a)+(b)+(c)
Resultado global no país A: ganho de bem-estar pela diferença: área (b) + (c)
2) Argumentos Dinâmicos
a. Economias de Escala Internas (EEI)
Economias de Escala Internas (EEI) – diminuição do custo unitário de produção
com o aumento do volume de produção da empresa, independentemente da
dimensão da indústria.
Economias de Escala Externas (EEE) – diminuição do custo de produção com o
aumento do volume de produção da indústria, independentemente da
dimensão das empresas.
2
Para a análise é irrelevante se o país é grande ou pequeno: sem comércio, à partida, não há efeito nos
termos de troca.
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Nota:
Se existirem EEI, e se o bem for homogéneo, uma grande empresa consegue diminuir
os custos à medida que aumenta a produção, logo consegue, no limite, afastar todas
as rivais: oligopólio. Se o bem não for homogéneo: concorrência monopolística.
Se existirem EEE, não existe incentivo à criação de uma grande empresa, no sentido de
que não ganha nada com isso. No limite, será concorrência perfeita.
Exemplo – Indústria X, caracterizada por EEI
Output
1
5
7,5
10
15
20
25
30
35
Imputs (horas-trabalho)
3
10
12,5
15
20
25
30
35
40
Imputs/Outputs
3
2
1,6(6)
1,5
1,1(3)
1,25
1,2
1,1(6)
1,148
Os países A e B precisam de 15 unidades do bem x para consumo doméstico.
Em Autarcia, a melhor situação será uma empresa a produzir as 15 unidades,
necessitando apenas de 20 horas-trabalho. (Por exemplo, se cada empresa só
produzisse uma unidade, então necessitaríamos de 45 horas-trabalho). No total, serão
40 horas-trabalho (são dois países).
Em Livre-troca, será preferivel uma empresa abastecer os dois países (consumindo
apenas 35 horas de trabalho). Assistimos a uma poupança de recursos em 5 horas.
b. Oportunidades de Aprendizagem e inovação
Em mercados protegidos (autarcia), os incentivos para melhorar as práticas de gestão,
produtos e processos são insignificantes.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
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Em mercados sujeitos à concorrência internacional (livre-troca), a manutenção no
mercado, a competitividade, exige a busca permanente de boas práticas de gestão e
I&D. (bom para países menos desenvolvidos)
3) Argumento Político
Mesmo nas situações em que se verifique que a protecção seja visivelmente preferível,
o que é difícil de encontrar, a verdade é que a protecção é geralmente motivada por
interesses particulares e não por interesses colectivos e, portanto, a via que há para
evitar a protecção de interesses particulares é a abertura ao comércio internacional.
II. Argumentos a Favor do Proteccionismo
1) Argumento dos termos de troca
No caso do país grande, a limitação das importações – tarifa ou quota – pode
aumentar o bem estar total no país:
fazendo diminuir o preço das importações, que, ceteris paribus, melhora os
termos de troca (ou razão de troca internacional, RTI)
é demonstrável que os ganhos estão associados a tarifas positivas, mas baixas;
a tarifa óptima é o valor que maximiza esses ganhos.
A limitação das exportações num país grande – imposto ou quota – poderá também
aumentar o bem estar nacional:
fazendo subir o preço das exportações melhora os termos de troca.
Em qualquer dos casos:
o efeito será tanto mais forte quanto maior for a quota do mercado mundial do
bem controlada pelo País
geram-se perdas de eficiência quer na produção, quer no consumo
os ganhos nos termos de troca são potencialmente conflituosos em termos
comerciais.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
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Contra-argumentos: defende alguma proteccção, não
autarcia; só faz sentido em países grandes, tendo sempre
em conta que existe a possibilidade de retaliação por parte
dos parceiros comerciais, bem como a OMC.
2) Argumento baseado nas imperfeições/falhas de mercado doméstico
Quando existem falhas ou imperfeições de mercado, o excedente de produtos não nos
mede todos os benefícios associados ao aumento da produção. Por outras palavras, o
valor privado do bem (preço de mercado) pode não coincidir com o respectivo valor
social. Neste caso, a produção/consumo do bem tem efeitos não considerados nas
decisões tomadas por produtores e consumidores do mesmo, isto é, tem associado
externalidades (positivas ou negativas)
Significa que o mercado em causa não funciona plenamente, tem imperfeições/falhas,
que impedem a solução óptima/eficiente, isto é, que se produzam/consumam as
quantidades que maximizam o bem estar social. Uma das políticas utilizadas para
tentar eliminar/reduzir as ineficiências causadas pelas externalidades é a política
comercial externa.
Economia Pequena – proteccionismo na presença de externalidades positivas
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À parte (z) correspondem externalidades positivas, como por exemplo:
quando a produção local beneficia outras indústrias via spillovers de know-how
e tecnologia ao nível da produção ou gestão ou aumento da qualificação dos
trabalhadores
quando a produção aumenta a segurança nacional
quando a produção aumenta o orgulho nacional
quando a produção do sector melhora a distribuição interna do rendimento
quando se cria emprego na presença de rigidez no mercado de trabalho
(funcional, regional), como elevado desemprego.
Economia Pequena – susbídio às exportações de um bem c/ externalidade positiva
Economia Grande
Relembre-se da análise atrás elaborada que, da limitação das importações (tarifa ou
quota), bem como da limitação das exportações (imposto ou quota), um país Grande
beneficiava de uma melhoria dos termos de troca, podendo o BES ser positivo;
negativo ou nulo. Ora, entrando em linha de conta com as externalidades positivas,
torna-se mais provável que o saldo do BES seja positívo.
Falhas de mercado e externalidades negativas: em alguns casos, a produção do bem
pode acarretar externalidades negativas, como o aumento dos custos de produção das
indústrias clientes; poluição, utilização de recursos estratégicos, destruição de
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ambientes naturais de interesse nacional, imagem internacional negativa para o país e
seus cidadãos (ex. Droga).
Nestes casos, ao custo marginal da produção teria que ser somado o seu custo social
(valor da externalidade): um aumento da produção em resultado de uma política
comercial proteccionista poderia ter custos superiores aos identificados na tradicional
análise custo-benefício em equilíbrio parcial.
Contra argumentos: defesa de alguma proteccção temporária, até que a falha seja
corrigida; o uso de isntrumentos de PCE para corrigir falhas de mercado internas
geram situações de ópti o elativo, isto é, soluções de segu do
elho
“e o d
Best); quando a falha é de mercado interno, a solução óptima absoluta (primeiro
óptimo, first best) é obtido com o uso de instrumentos de política interna.
Por exemplo, se o objectivo é eliminar o desemprego (falha de mercado de factores), a
política óptima é ao nível do mercado de trabalho; considerando que existe uma
externalidade positíva ou negativa associada à produção, esta deve ser internalizada
na estrutura de custos das empresas subsidiando ou tributando directamente a
produção.
Tarifa à importação vs subsídio à produção de um bem com externalidade positiva
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3) Argumento da Indústria Nascente
Este argumento pressupõe bens homogéneos e a ausência de economias de escala
internas, ou seja, todas as empresas vão ser pequenas e produzir bens idênticos, sendo
o mercado de concorrência perfeita.
Na sua base está a existência de economias de escala externas:
associadas à indústria: quanto maior a produção de um sector, mais baixo é o
custo médio de todas as empresas participantes;
o argumento pode ser facilmente expandido para englobar economias de
aprendizagem ao nível da empresa.
Economia de Escala Externa: diminuição do custo unitário com o aumento do
volume de produção da indústria, independentemente da dimensão da
empresa – no limite, concorrência perfeita e o preço será igual ao custo
marginal.
Economias de Escala Dinâmica: diminuição do custo unitário com o aumento
do volume da produção acumulada (reflectindo a experiência)
Deste argumento resulta que empresas estabelecidas há muito tempo num país terão,
ceteris paribus, custos mais baixos que produtores do mesmo bem localizados em
países emergentes: beneficiaram de economias de escala externas, ao contrário dos
produtores de países com fraca tradição nessa indústria.
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Nestas circunstâncias, os padrões de especialização tendem, por vezes, a preduram
para além do que seria previsível pela análise da evolução das vantagens relativas
tradicionais: as economias de escala externas poderão compensar total ou
parcialmente a perda de vantagens relativas.
Por exemplo, a concentração geográfica favorece:
a especialização de fornecedores;
o desenvolvimento de um mercado comum de trabalho;
spillovers de conhecimento:
o ao nível das técnicas e tecnologias de produção
o ao nível da inovação de produtos
o em termos de acesso a novos mercados e a novos clientes
Exemplo: mercado de relógios com dois países produtores
Pressupostos
Bem homogéneo (relógios), transaccionado em concorrência perfeita mas com
economias de escala externas:
o muitos pequenos produtores que beneficiam de economias de
aglomeração;
Duas localizações alternativas: Suíça e Tailândia
Suíça é actualmente o produtor mundial de relógios:
o teve, no passado, uma vantagem competitiva que permitiu o
desenvolviemnto do sector;
Tailândia é, potencialmente, o produtor mais eficiente:
o evolução recente dos custos relativos de produção faz com que, para
uma mesma quantidade produzida pelo sector, produzir na Tailândia
tem um custo inferior a produzir na Suíça.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
25
Equilíbrio Inicial
VC
EEE
A presença de economias de escala externas faz com que o custo médio na Suíça seja
P1, enquanto na Tailândia é Co;
qualquer nova empresa produtora de relógios terá custos mais baixos se
escolher a Suíça do que se optar pela Tailândia.
As economias de escala externas vão fazer perdurar o padrão de especialização,
gerando um sub-óptimo mundial:
porque cada nova empresa é muito pequena (não há economias de escala
internas significativas), em livre comércio, nenhuma empresa se vai instalar na
Tailândia, que é o país mundialmente mais eficiente na produção de relógios;
como estamos em concorrência perfeita, preço = cmd.
Existindo um mercado interno forte (que lhe permita obter um preço inferior ao
mundial, neste caso, da Suíça), faz sentido a Tailândia fechar-se ao exterior.
Exemplo 1
António Neto – Comércio Internacional – FEP
26
A Intervenção do governo Tailandês e, por conseguinte, a proibição temporária das
importações de relógios suíços vai criar um mercado local para os relógios nacionais.
Em autarcia, o equilíbrio será o ponto ET:
a procura doméstica atrairá produtores locais;
à medida que novas empresas entram no mercado, os custos médios de todas
vão diminuir;
no novo equilíbrio, a oferta doméstica será QT, com preço PT;
Nesta altura, o livre comércio pode ser reposto:
empresas tailandesas passaram a ser internacionalmente competitivas: PT < P1
novas empresas vão começar a produzir na Tailândia, agora para exportação,
reduzindo cada vez mais os custos médios;
Equilíbrio Final
A produção deixa de se fazer na Suíça, passando a ser feita na Tailândia;
Porque a Tailândia tem vantagens relativas sobre a Suíça, comparando com o
equilíbrio inicial, ao novo equilíbrio (E2) corresponde:
o um preço mais baixo no mercado mundial
o uma maior quantidade transaccionada
o maior bem-estar dos consumidores em todo o mundo;
A Tailândia ganha no processo: desde que os custos da protecção temporária
(suportados pelos consumidores) sejam inferiores aos ganhos na produção e no
consumo nos anos posteriores.
Considerações finais:
Se, por outro lado, o mercado interno
não permitir obter um preço inferior ao
mundial, então não fará sentido a
Tanlândia fechar-se ao exterior.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
27
Este argumento é tanto mais viável: quanto maior a vantagem comparativa
(VC) e quanto maior for o mercado interno.
Embora o argumento decorra da existência de EEE, este também pode decorrer
das Economias de Escala Dinâmicas: diminuição do custo unitário com o
aumento do volume da produção acumulada (reflectindo a experiência).
Validade do argumento das indústrias nascentes
O argumento das indústrias nascentes só faz sentido enquanto protecção
temporária:
o a protecção só deve estar em vigor o tempo suficiente para que a
indústria se torne internacionalmente competitiva;
O mercado doméstico tem que ser suficientemente grande para que o sector se
torne internacionalmente competitivo;
Os ganhos futuros devem compensar perdas incorridas durante o período em
que a indústria é protegida:
o custos esses suportados sobretudo pelos consumidores
António Neto – Comércio Internacional – FEP
28
4) Concorrência Imperfeita e política comercial estratégica
A política comercial estratégica justifica-se perante a ausência de concorrência perfeita
no mercado internacional (Spencer & Brander, 1983):
a falha de mercado localiza-se no mercado internacional, logo a política
comercial é um primeiro-óptimo;
Caso o mercado mundial seja de oligopólio ou monopólio, a intervenção do governo
nacional pode alterar a distribuição de riqueza, favorecendo o produtor nacional e,
com isso, a economia doméstica:
o objectivo é deslocar benefícios de produtores estrangeiros para produtores
nacionais.
Exemplo
Por simplificação, vamos assumir que existem no sector apenas duas empresas à
escala mundial; é desenolvido um novo produto que ambas são capazes de produzir;
as estuturas de custos e de procura sugerem que produtor sobreviverá no mercado
mundial; vamos assumir também que as empresas têm apenas duas opções: produzir
ou não produzir.
Equilíbrio Inicial
Matriz custo benefício
Suponhamos que a empresa B se antecipa, decidindo começar a produzir antes da A;
Nestas condições, A não terá qualquer incentivo para iniciar a produção do novo bem:
teria um prejuízo com essa produção; o resultado será, então, o quadrado superior
direito.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
29
Intervenção do Governo de A
O Governo de A concede à sua empresa um subsídio no valor de 25: a matriz custobenefício passa a ser:
Agora, qualquer que seja a decisão de B, a empresa A produz o bem: em resultado, a
decisão óptima de B passa a ser não produzir: o subsídio governamental de 25
proporcionou a A um ganho de 125, que são transferidos da empresa B; país A ganha
100; país B perde 100.
Retaliação por parte de B
E se o Governo de B decidir apoiar também a sua empresa, concedendo-lhe um
subsídio idêntico de 25?
Ambas as empresas tomariam a decisão de produzir: cada empresa ganharia 20, mas
governos contribuem com 25; relativamente à situação inicial, o país A perde 5 e o país
B perde 105.
Intervenção com premissas erradas
Outro riso da intervenção é a possibilidade de uma errada avaliação da situação de
mercado por parte do governo de A. Suponhamos que a verdadeira matriz custobenefício não era a tabela 1, mas a seguinte:
António Neto – Comércio Internacional – FEP
30
B dispões de uma vantagem competitiva, pelo que o equilíbrio será B produzir e A não
produzir.
Nestas condições, a concessão de um subsídio de 25 por parte do Governo de A (que
decidiu com base na tabela 1), resultaria na tabela seguinte:
A Intervenção do governo de A teria por consequência a entrada de A, sem o
abandono de B, gerando um resultado sub-óptimo: empresas A e B passam a ganhar 5
cada um, mas à custa de subsídio de 25 de cada um dos governos; o país A perde 20 e
o país B perde 120.
5) Outros argumentos a favor da protecção
5.1 – Argumento anti-dumping:
particularmente popular nos EUA nos útimos anos;
tem regulamentação cuidada por parte da OMC
Dumping não é mais que a discriminação internacional de preços. Para ser posto em
prática exige que os mercados estejam completamente separados (por barreiras
geográficas ou outras).
Existem várias formas de dumping:
Dumping persistente: possível se os mercados domésticos são imperfeitos e a
procura doméstica e internacional têm diferentes elasticidade-preço;
António Neto – Comércio Internacional – FEP
31
Dumping predador: corresponde à entrada em novos mercados com preços
extremamente baixos (incluindo com prejuízo) para eliminar as empresas
instaladas; é sempre temporário: uma vez a concorrência eliminada, o preço
subirá.
Dumping esporádico: operações pontuais de forma a eliminar stocks
acumulados.
Dumping Persistente: explicação
A
discriminação
de
preços
implica barreiras à entrada de
importações:
seja através de restrições
de
política
comercial
externa;
seja pela capacidade da
empresa em diferenciar
os seus produtos no mercado doméstico;
O monopolista doméstico tem um forte incentivo em aumentar a produção para q 0,
exportando a diferença (q0-qh):
passa a produzir com a máxima eficiência: min CTM = Pw
mesmo que exporte a um preço de Pw (com lucro supra-normal nulo), aumenta
os seus lucros no mercado doméstico para [P HAFPW]: lucro supra-normal
aumenta [ECFPW]
Dumping recíproco
Um dos riscos desta estratégia é a erosão da capacidade da empresa em discriminar
preços: pressão política para remover protecção do mercado; perda de capacidade de
diferenciação de produtos;
Os produtores estrangeiros têm o mesmo incentivo para entrarem no mercado
doméstico que o produtor nacional teve para exportar: procurarão aumentar a
produção para reduzir custos e tornarem-se mais competitivos;
O resultado final será a destruição do monopólio nacional, com as consequências de
mercado e bem estar atrás estudadas.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
32
5.2 – Argumento da Segurança Nacional
tarifas (ou outros instrumentos) devem proteger indústrias vitais para a
segurança/defesa da nação.
mas... o que são indústrias vitais?
5.3 – Argumento da Protecção da Saúde Pública
ex. transgénicos; BSE
5.4 – Retaliação
Tarifas para contrariar subsídios às exportações atribuidos por governos estrangeiros:
o governo que impões a tarifa apodera-se do valor do subsídio
a situação de mercado inicial é reposta
António Neto – Comércio Internacional – FEP
33
Parte IV – Integração Económica
Introdução
O
princípio
da
não
discriminação
(GATT/OMC)
admite
excepções,
nomeadamente a constituição de uniões aduaneiras e zonas de comércio livre.
a criação de blocos comerciais é possível ao abrigo desta excepção aos
princípios gerais da OMC
No início do século XXI, cerca de metade do comércio mundial ocorria dentro
de blocos comerciais.
A discriminação proporcionada pela criação de blocos comerciais é positíva ou
negativa? Quais os efeitos dos processos de integração económica?
Conceito, Elementos Essenciais e Critérios de Classificação da Integração
Económica
1) Conceito
Sentido Lato: integração de mercados (bens, serviços, factores de produção) –
elemento essencial: liberdade de circulação.
Objectivos: aumento da eficiência (na afectação dos recursos) – elevação do
bem-estar.
Estáticos: aumento da eficiência económica
Objectivos
Dinâmicos: aumento da taxa de crescimento
2) Critérios de Classificação
1) Critério do âmbito económico
Integração Sectorial: abrange apenas sectores delimitados da
actividade económica (exs: CECA, CEEA, EFTA,..)
Integração Geral: quando abrange a generalidade dos sectores
económicos (exs. CE/UE)
António Neto – Comércio Internacional – FEP
34
2) Critério político-geográfico
Integração Económica Nacional: integração de regiões dentro das
fronteiras de um Estado-Nação.
Integração Económica Internacional: processo ou situação em que
economias nacionais separadas se constituem numa região económica
alargada, nomeadamente instituída por acordos entre países (Regional)
Integração Económica Mundial: Integração de mercados, mas à escala
global (Multilateral)
3) Critério do método de integração
Integração Negativa: processo de integração caracterizado pela simples
remoção das restrições à liberdade de circulação; deixa-se ao
funcionamentos dos mercados e à acção dos agentes económicos a
concretização efectiva da integração das economias.
Integração Positiva: implica a adopção pelos Estados participantes de
acções positivas, em particular: a modificação dos quadros institucionais
e instrumentos legais, administrativos e técnicos existentes; e,
sobretudo, a instituição de políticas comuns, vinculativas para todo o
espaço integrado.
Níveis / Formas de Integração Económica
i.
Zona/Área de Comércio Livre (ZCL/ACL)
Livre comércio intra-áreas: abolição de todas as restrições aduaneiras e
quantitativas no comércio entre parceiros (livre circulação de Bens &
Serviços entre Estados-membros)
Manutenção de autonomia na política comercial relativamente a países
terceiros (cada EM mantém uma pauta externa própria)
É necessário a existência de certificados / regras de origem
para evitar deflexão do comércio.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
35
€
€
,5€
A
B
C
ta = 150%
tb = 50%
,5
+ 5 % = , 5€
,5 +5 % = ,75€
Caso ão exista esse tipo de eg as, o país C pode expo ta pa a o país B
,75€< € e,
daí, para o país A, sem passar pela tarifa.
Exemplo: EFTA
ii.
União Aduaneira
Livre comércio intra-área e adopção de uma política comercial comum
(nomeadamente uma pauta externa comum – PEC), sendo que a
receita é distribuida de acordo com as regras negociadas.
iii.
Mercado Comum
União Aduaneira e liberdade de circulação de factores de produção
(trabalho e capital)
Relações com terceiros (a este último nível) regulamentadas por normas
nacionais ou por normas comuns ou por um misto de ambas.
iv.
1) União Económica
Mercado comum e coordenação (ou mesmo unificação) de um
importante número de políticas económicas: regulação de mercados;
política fiscal / orçamental; política monetária; política de redistribuição
de rendimentos, etc.
iv.
2) União Monetária
Mercado comum e sistema de câmbios fixos com convertibilidade
absoluta das moedas dos Estados-membros ou existência de moeda
única.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
36
v.
União Económica e Monetária
Conjuga as características da UE e da UM
Dada a forte interligação dos dois domínios, normalmente os avanços
são em simultâneo nestas duas formas.
vi.
União Económica Total
Nível de integração atingido é identico ao de uma economia nacional,
com políticas comuns em todas as áreas relevantes.
Implica alguma forma de integração política, eventualmente do tipo
federal.
Não há uma divisão estanque entre cada nível de integração – na prática, num
dado processo de integração, verificam-se, com frequência, combinações de
características de algumas das formas.
As formas de integração descritas requetem sempre alguma decisão do tipo
político, envolvendo em particular:
Concordância com as regras do jogo: procedimentos para se atingirem objectivos
traçados e se implementarem as medidas decididas
Criação de Instituições Internacionais, por forma a tornar eficiente a
implementação do processo de integração
Transferência de competências de instituições nacionais para organismos
supranacionais, sobretudo para níveis mais avançados de integração.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
37
Razões para Integração Económica
Razões Políticas
o Normalmente importantes, embora não suficientes para a sua
sobrevivência
o O exemplo da UE: razões políticas na sua génese e evolução
Razões Económicas
o Existência de ganhos económicos potenciais
o No que diz respeito às razões económicas para liberdade de circuçação
(bens,
serviços,
factores),
assentam
fundamentalmente
na
possibilidade de melhorar a eficiência da estrutura produtiva
(perspectiva estática) e de potenciar o crescimento económico dos
Estados envolvidso (perspectiva dinâmica)
Efeitos Estáticos da Liberdade de Circulação de Bens e Serviços: o caso da UA
As principais características da União Aduaneira (UA) são: abolição das restrições
aduaneiras às importações provenientes de Estados-membros; adopção de uma pauta
externa comum; distribuição das receitas aduaneiras entre Estados-membros segundo
uma forma previamente estabelecida.
Efeitos Estáticos, sobre a produção (ignorando efeitos sobre o consumo)
Motivação em direcção à livre-troca: livre-troca em Estados-membros
o Efeitos positivos – Criação de Comércio – quando, na sequência de
formação da UA, há substituição de produção com origem numa fonte
de curto > (produção doméstica) por produção com origem numa fonte
de curto < (um Estado-membro)
Motivação em direcção à protecção: dos Estados-membros em relação ao
Resto do mundo
o Efeitos negativos – Desvio de Comércio – quando, na sequência de
formação da UA, há substituição da produção com origem numa fonte
de curto < (resto do mundo) por produção com origem numa fonte de
curto > (um Estado-membro)
António Neto – Comércio Internacional – FEP
38
1) Criação de Comércio
2) Desvio de Comércio
Considerações finais:
Criação de Comércio: elemento de livre comércio
Desvio de comércio: elemento de proteccionismo
Nota – os exemplos anteriores apresentam simplificações que devem ser tidas
em conta, nomeadamente: admite-se que a produção é integralmente feita
num dos países (veja-se, em particular, o exemplo 1; e ignoram-se os efeitos
sobre o consumo.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
39
Teoria das UA
Trata-se dos efeitos da criação da UA, fazendo uma análise de estática
comparativa e de equilíbrio parcial, sendo a maioria dos pressupostos idêntica
aos da teoria pura do comércio internacional:
Concorrência perfeita nos mercados de bens e factores
Mobilidade perfeita dos factores entre sectores, mas não entre países
Custos de transporte irrelevantes
Direitos aduaneiros específicos são as únicas barreiras ao comércio
Preços reflectem correctamente os custos de oportunidade de
produção
Pleno-emprego dos factores
Três países, com 2 (H e P) a constituirem uma UA e o terceiro a
representar o Resto do mundo (W), que é excluídos da UA e, como tal,
discriminado
A análise centra-se nos efeitos sobre a afectação dos recursos, na
especialização e no bem-estar, ignorando os efeitos de termos de troca
(pressuposto: pequeno país/pequena união)
António Neto – Comércio Internacional – FEP
40
Criação de Comércio
António Neto – Comércio Internacional – FEP
41
Desvio de Comércio
António Neto – Comércio Internacional – FEP
42
Criação e Desvio de Comércio
António Neto – Comércio Internacional – FEP
43
Conclusão
O efeito líquido da constituição da UA sobre o bem-estar depende da dimensão
de cada um dos efeitos (criação de comércio e desvio de comércio), não sendo
a p io i possível esta ele e se é positivo ou egativo:
dependerá de cada situação concreta
em particular, da situação tarifária de partida e do nível médio de
protecção adoptado face ao resto do Mundo.
É possível estabelecer algumas circunstâncias em que a formação de uma UA
favorece potencialmente mais a ocorrência de criação de comércio e menos a
ocorrência de desvio de comércio:
quanto maior for a área económica da UA e quanto maior o nº de países
membros;
quanto maior for a redução tarifária intra-UA e a redução média do nível de
protecção na adopção da PEC
quanto mais ompetitivos forem os parceiros e menos complememtares as
respectivas estruturas produtivas (composição sectorial)
dada a semelhança das estruturas produtivas, será maior a probabilidade de
criação de comércio quando for maior a diferença nos respectivos custos de
produção
Efeitos Estáticos da Liberdade de Circulação de Bens e Serviços
União Aduaneira e Termos de Troca
A análise feita, no contexto de pequenos países / pequenas uniões, sem hipótese de
ocorrência de efeitos de termos de troca entre UA e o RM não é realista para várias
situações, nomeadamente o caso da CE/UE:
Se a UA tiver grande dimensão face ao RM, terá algum poder de monopsónio
no mercado internacional, logo capacidade de afectar os preços mundiais
Nesse caso, ao afectar negativamente a procura de bens no RM, a
constituição da UA provocará uma elevação dos termos de troca entre da UA
com o RM
António Neto – Comércio Internacional – FEP
44
Assim, a elevação dos termos de troca tem um efeito amortecedor sobre as perdas de
bem-estar associadas ao desvio de comércio:
Nos casos estudados, torna-se possível a coexistência, no país H, de produtos
importados do parceiro e do RM, reduzindo a amplitude e o impacto negativo
do efeito de desvio de comércio.
A maximização do bem-estar da UA ocorrerá (tal como indica a teoria da
Política Comercial ExternaI) na situação de imposição da tarifa óptima.
Assim sendo, a UA pode revelar-se superior às políticas comerciais individuais:
quando os países têm poder sobre os termos de troca, é possível que, da sua
ação conjunta na constituição da UA e adopção da PEC, possam resultar níveis
de bem-estar superiores relativamente aos que se obteriam pela acção
individual.
a alteração dos termos de troca deteriora o bem-estar do RM e este poderá
retaliar: nesse caso, o resultado final em termos de determinação dos termos
de troca dependerá da força negocial de cada parte, podendo este factor ser
visto como uma possível motivação económica para a constituição de uma
UA.
Efeitos Dinâmicos da Liberdade de Circulação de Bens e Serviços
A Teoria Dinâmica mostra que a formação de uma UA, devido ao alargamento do
mercado que proporciona, pode desencadear outros tipos de efeitos sobre o bemestar dos países intervenientes, em particular:
i.
Efeitos decorrentes de um aumento da concorrência
ii.
Efeitos decorrentes do aproveitamento de economias de escala
iii.
Efeitos de correntes de alterações no nível (e mesmo natureza) do
investimento
António Neto – Comércio Internacional – FEP
45
i.
Aumento da Concorrência
Igualdade de acesso de todas as empresas da UA ao mercado interno de cada país
participante – acréscimo de concorrência.
Eficiência e produtividade tornam-se preocupações fundamentais, gerando
alterações nos métodos de produção e contribuindo para a redução dos custos;
Eliminação ou mudança de atitude de produtores marginais;
Estímulo à eliminação de insuficiências ou erros de gestão, nas indústrias
exporadoras e nas que concorrem com as importações.
ii.
Economias de Escala
Resultam do alargamento do mercado e da possibilidade de exploração nesse mercado
de oportunidades de crescimento externo (fusões, aquisições, etc), gerando ganhos
derivados da redução de custos (e não devido a efeitos produção ou a efeitos
consumo – criação de comércio).
Os ganhos podem ser particularmente importantes em:
Indústrias onde o processo de aprendizagem que acompanha a repetição seja
relevante;
Indústrias de alta tecnologia, distribuindo os elevados custos do investimento
por um volume maior de produção;
Indústrias de exportação, caracterizadas por rendimentos crescentes à escala,
realizáveis através do aumento das exportações.
iii.
Alterações no Investimento
A UA pode provocar um aumento no volume de investimento:
Acompanha-se de uma maior estabilidade de regras e comportamentos
(nomeadamente comerciais), fazendo elevar a confiança dos investidores;
O acréscimo da concorrência suscita necessidade de inovação, reestruturando
e reequimento das empresas;
António Neto – Comércio Internacional – FEP
46
Os produtores de fora da área poderão ter interesse em realizar
investimentos dentro da UA, por forma a evitarem a pauta aduaneira e
acederem a mercados mais alargados, isto é, de maior dimensão.
A UA pode provocar alterações no padrão qualitativo (natureza) do investimento,
através de:
Introdução de métodos mais sofisticados e eficientes
Aproveitamento de economias de escala
Reafectação de recursos das indústrias estagnadas ou em declínio para as
indústrias em expansão
Realização de joint-ventures e difusão de know-how (quer relativamente a
empresas de países da UA quer relativamente a empresas de países terceiros)
Em suma:
Aumentos significativos do crescimento económico e da eficiência na
afectação de recursos para os países participantes são a consequência provada
da formação de Uniões Aduaneiras (e mais genericamente de processos de
integração que conduzam efectivamente à abertura dos mercados e à livre
i ulação de e s e se viços, ai da ue a u a es ala egio al )
Estes efeitos resultam muito mais da acção dos elementos dinâmicos
decorrentes do processo de integração que dos resultados esperados da
análise feita em termos estáticos.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
47
Parte V – Exercícios
Exercício 1
Relativamente ao País A, de pequena relevância económica no Mercado Mundial do
bem x, são conhecidos os seguintes elementos:
SAx = 50 + 10P ; DAx = 350 – 5P ; Pw = 10
a) Determine o equilíbrio em situação de autarcia e situação de livre troca.
[Autarcia: PAeq = 20; QAeq = 250; Livre-troca: SAw = 150; DAw = 300; Imp = 150]
b) Preocupado com a elevada dependência exterior deste bem, o Governo do País
A pretende, através do lançamento de uma tarifa específica, reduzir a
quantidade importada do bem x em 50%. Determine o valor da tarifa e os
efeitos de mercado.
[Tarifa = 5; Imp. = 75; PAT = 15; P e SAT aumentam; DAT e imp diminuiem.]
c) Quantifique as consequências desta medida em termos de bem-estar social.
[Var. E.C = -1437,5; Var. E.P = 875; Var. R.G = 375; Var. BES = -187,5]
Exercício 2
Supondo que o País A é um País pequeno e que importa o bem x ao preço Mundial de
10. Sendo que as curvas da procura e da oferta são, respectivamente:
DAx = 400 – 10P e SAx = 50 + 5P
a) Determine o equilíbrio de autarcia
[PAeq = 23,(3); QAeq = 106,(6)]
b) Determine o equilíbrio de livre-troca
[Pw = 10; DAw = 300; SAw = 100; Import. A = 200]
António Neto – Comércio Internacional – FEP
48
c) Determine os efeitos de imposição de uma quota de apenas 50 unidades.
[PAq = 20; DAq = 200; SAq = 150; P e S aumentam; D e imp diminuem;
Var. E.C = -2500; Var. E.P = 1250; Var. R.G = 500; Var. BES = -750]
d) Indique a tarifa específica e ad-valorem equivalentes.
[Tarifa específica = 10; Tarifa ad-valorem = 100%]
Exercício 3
No País A, de pequena relevância económica a nível Mundial, produz-se, entre outros,
o produto x, relativamente ao qual são conhecidos os seguintes elementos:
SAx = 75 + 15P; SAx = -75 + 25P; Pw = 11.
O País A pretende aumentar as exportações em 25%, através da atribuição de um
subsídio específico. Determine o valo do subsídio e justifique os efeitos de mercado e
bem-estar resultantes da aplicação do subsídio.
[Pw = 11; SAx = 240; DAx = 40; ExpAx|pw = 200]
[C/ subsídio: Ps = 13; SAx|ps = 270; DAx|ps = 20]
[Var. E.C = -60; Var. E.P = 510; Var. R.G = -500; Var. BES = -50]
Exercício 4
As funções de procura de Madeira na Libéria são as seguintes:
P = 5 + 0,05SLmad; P = 100 – 0,9DLmad
Sabe-se ainda que o preço Mundial é de 30 u.m. Acompanhando sempre as suas
respostas com uma representação gráfica adequada, responda às seguintes questões.
a) Determine o preço e a quantidade de equilíbrio para a Libéria, caso o País
estivesse em autarcia.
[QLeq = 100; PLeq = 10]
b) Determine as quantidades produzidas e consumidas e o volume de comércio
externo de equilíbrio de livre troca.
António Neto – Comércio Internacional – FEP
49
[DLmad = 77,(7); SLmad = 500; SLexp = 422,2(3)]
c) Supondo que a Libéria decidia fixar um imposto sobre as exportações de 5.u.m
por u. exportada. Determine os efeitos deste impacto sobre o preço, a
produção e consumo domésticos e as exportações. (efeitos de mercado).
[PLi = 25; SLmad|PLi = 400; DLmad|PLi = 83,(3); SLexp|PLi = 316,(6)]
d) Determine os efeitos deste imposto sobre o bem-estar social/rendimento
[Var. EC = 402,75; Var. EP = -2250; Var. RG = 1583,35; Var. BES = -263,9]
António Neto – Comércio Internacional – FEP
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