© 2018 Editora F6rum Ltda
11proibida a reprodugaototal ou parcial destaobra.por.qualquermeio eletr6nico.
inclusive por processosxerogrfficos, sem autorizagao expressa do Editor.
Conselho Editorial
Adilson Abreu Dallari
A16ciaPaolucci Nogueira Bicalho
Alexandre Coutinho Pagliarini
Andre Ramos Tavares
Carlos Ayres Britto
Carlos Mario da Silva Velloso
Carmen Lucia Antunes Rocha
Cesar Augusto Guimar5es Pereira
Clovis Beznos
Cristiana Fortini
Dinor6 Adelaide Musetti Grotti
Diogo de FigueiredoMoreira Nets
Egon Bockmann Moreira
Emerson Gabardo
Fabricio Motta
Floriano de Azevedo Marques Neto
Gustavo Justino de Oliveira
lads Virginia Prado Soares
Jorge Ulisses Jacoby Femandes
juarez Freitas
Luciano Ferraz
Lucio Delano
Marcia Carla Pereira Ribeiro
M6rcio Cammarosano
Marcos Ehrhardt Jr.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Ney Jose de Freitas
Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho
Paulo Modesto
Romeu Felipe Bacellar Filho
Fernando Rossi
F16vio Henrique Unes Pereira
Sergio Guerra
Walber de Moura Agra
fjP6PUU
Luis Claudio Rodrigues Ferreira
Presidentee Editor
Agradecimentos
Coordenagao editorial: Leonardo Eustfquio Siqueira Araujo
Av. Alonso Pena, 2770 -- 15' andar -- Savassi -- CEP 30130-012
BeloHorizonte- MinasGerais- Tel.:(31)2121.4900
/ 2121
.4949
www.editoraforum.com.for - editoraforum@editoraforum.com.for
Dados Intemacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) de acordo com a AACR2
C736
Compliance: perspectivas e desafios dos programas de
conformidgde/ RicardoVillas Bias Cueva,Ana Frazio (Coord.)
Belo Horifonte
: F6rum, 2018.
527p.; 14,5cm x 21,5cm
ISBN: 978-85-450-0564-3
1.Direito Econ6mico. 2. Economia. 3. Govemanga Corporativa. I
Cueva, Ricardo Villas Bias. 11.Frazao, Ana. m. Titulo.
CDD 341.3772
CDU346
Elaborado por Daniela Lopes Duarte -- CRB-6/3500
Informagao bibliogr6fica deste livro, conforme a NBR 6023:2002da Associagao
Brasileira de Normal T6cnicas (ABNT):
CUEVA, Ricardo Villas Saas; FRAZAO, Ana (Coord.). Comp/malice:
perspectivas
e desafios dos programas de condom\idade. Belo Horizonte: F6rum, 2018.527p
ISBN 978-85450-056+3.
Agradecemos a Juliana Imperiano e a Angelo Gamba Prata de
Carvalho,pelo auxilio inestimfvel que deram para a organizagaodo
presente livro.
166
RICAR00 VILLAS B6AS CUED/X,ANA FRAZAO(COORS.)
COA4PL/ANCE:PERSPECmIAS E DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
LOPES, ElizabeUl; AFFONSO, Julia..Corrupgao desvial:$ 200 bi, por ano, no Brasil, diz
coordenador da Lava Jato.'(http://politica.estadao.com.for/blogs/fausto-macedo/comipcao.
desvia-r-200-bi-por-ano-no-brasil-diz-coordenador-da-lava-cato/>. Acesso em 15 set. 2017.
NASCIMENTO, Juliana Oliveira. ComplfaPzce
pablico: O caminho para a integridade na
Administragao Publica. Disponivel em: <http://www.lecnews.com/artigos/2016/09/23/
compliance
co-o-caminho-para'a'integridade-na-administracao-publican.
em 16 fev. 2018
Acesso
CO]WPL]ANC£ SOB A PERSPECTIVA
RIBEIRO, Marcia Carla Pereira;[)INIZ, Patricia Dittrich Ferreira. Compliance e Lei
DACRIMINOLOGIAECONOMICA
Anticorrupgao nz=,Empresas'ReufstadeIrtjormafdolzgfs/atfoa. Brasilia, ano 52, n. 205,P'
87-105,jan./mar. 2015.
'' '
SAAD-DINIZ, Eduardo. Novos modelos de responsabilidade empresarial: A agendado
direito penal corporativo. In: SAAD-DINIZ, Eduardo(Org.). TerzdPncfas
emgowrlzalzfa
c07poratiua
e compliance.
SioPaulo:LibersArs,2016.
SILVA, Jorge Vieira da. A franspar?zzcfa da democracfa
Prefeitura de Sio Paulo. Sio Paulo: Annablume, 1993.
'
estudo sobre o orgamento da
EDUARDOSAAD-DINIZ
SILVEllqA, Renata de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo Compliance, direito peat e lei
alzticorrzzpgdo.
Sio Paulo:Saraiva,2015.
XAVIER, Christiana Pires Guerra. Programasdecomplfatzce
a zficorrupfdo/zocolztextodaI
I
12.846/13;elementos e estudo de casa. Dissertagao de mestrado. Escola de Direito de Sio
Paulo da Fundagao GetQlio Vargas, S5oPaulo, 2015.
Introdugao'
Nos dltimos, anos tem-seobservado certatend6ncia intemacional
a avaliagaodos programas de compZ£fznce
baseadaem evid6ncias
cientificas, com 6nfase nas "m6tricas de efetividade".2 No entanto,
o mercado brasileiro parece ainda bastante refratfrio e, em grande
Informagao bibliogr6fica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Assodagao
Brasileira de Nomtas T6cnicas(AUNT)
POMINI, Anderson. Comp/lancesob a perspectiva do govemo: uma visio sobre
a estrutura da Controladoria-Gerd do Municipio de Sio Paulo e sua atuagao
no trabalho preventivo e combatea corrupgao.In: CUEVA, Ricardo Villas Bias;
FRAZAO, Ana(Coord.). Compliance:perspectivas e desafios dos programas de
conlon\idade.
Belo Hlorizonte: F6rum, 2018. p. 153-166. ISBN 978-85450-0564-3
medida, desorientado a respeito da cultura de comp/lance.Pouco se
tem noticiado sobre medidas inovadoras em gestao e, na maioria dos
castes,
os programas de compZfarzce
acabam se confundindo com outros
controles da empresa, reduzidos a "fachada", ou, o que 6 ainda pior, a
apaMncia de "renovagao utica".'
No campo das iniciativas de er1lorcemenf,as investigag6es, tanto
aquelasmotivadas pelo alcanceextraterritoria] do FC]'A(ForeignCorrupt
Practices
Acf, EUA), quanto as baseadasno marco normativo dom6stico
(Lei Anticorrupgao n' 12.683/2013), nio t6m repercutido nos indicadores
l
muito
Agradecimentos a Profa. Ana Frazio e ao Ministro Ricardo Villas Bias Cueva peso
distinto convite em integrar estaobra. Esteensaio6 parte do prqeto de pesqulsa."Vitimologia
corporativa: um novo campo de pesquisa nas ci6ncias criminais'(FAPESP/CNPQ) e da
Grupo de PesquisaCNPQ ;Violagao de direitos humanos no fmbito corporativo
At its core, the idea is as simple as it is crucial: Firms cannot design effective compliance
programs without effective measurement tools. For many firms, apprflpriate measurement
can spur the creation of leaner and ultimately more-effective compliance programs. Put
simply, better compliance measurement leads to better compliance management", CHEN,
Hut SOI.TES,Eugene.Why complianceprograms fail -- and how to fix them. Harvard
Bz£siness
Reofew,2/2018
3
Extensamente sobre. SAAD-DINIZ, Eduardo. Brasil vs. Gohas; os 30 anon da responsabilidade
penal da pessoa juridica e as novak tend6ncias em compliarzce.ReufsfadosTribunals, 988/2018,
P.25-53
168
EDUARDOSAAD-DIN]Z
COMPLIANCESOBA PERSPECTIVA
DA CRIMINOLOGIA ECON6MICA
RICAR00 Vn,LAS B6AS CUEVA,ANA FRAZAO(COORS.)
COA{PLIANCE: PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
de forma minimamente satisfat6rianem para demonstrar sucessode
suas opera96es,nem mesmo atestar sua qualidade regulat6ria.4 As
sobreas reais necessidades de compZiarzce,
qual o perfil dos ofensores,
estrat6gias padronizadas que caracterizam as iniciativas de integridade
da OCDE jf cumprem maid de dual d6cadassem superar o baixo impacts
Penalistas e publicistas t6m concentrado deus esforgos de pesquisa
comportamento corporativo socialmente danoso, quaid seriam as
altemativas preferenciais de restauragao. E 6 precisamente a partir
da{ que a pesquisa crimino16gica pode fazer a diferenga. Desde os
fundamentos da criminologia p6s-c16ssica,a necessidade de dados
no estudo dogmftico das alterag6es legislativas, independentemente
empiricos consolidados em analitica de evid6ncias cientificas 6 o caminho
em termos
de modificag6es
substanciais
de governanga
e comp/fatzce.
de maior esforgoempirico sobreos amos
lesivos, ofensorese vitimas a
que das se destinam. Te6ricos do direito administrativo sancionador
e penalistas
t6m muito
mais festejado
a euforia
em porno da irzdfuidz£ai
accounfabf/{fy, debatido intensamente a causalidade omissiva nas
fung6es de gzzfekeeper
ou infragao de dever do complianceoWzcers
do
que propriamente formulado alternativas vifveis de atribuigao de
responsabilidade is empresas Alega-se incremento na "detecgao" de
escfndalos de corrupgao corporativa e esquemasfraudulentos, sob a
lideranga de juristas formados por modelo de ensino juridico ments
queme como 6 vitimizado, quais as dimens6es do dano movido pele
inequivocopara a formulagao de estrat6giasde agro politico-criminal.
Nadamuito distinto da "criminologia old school"de Howard Becker:
coleta de dados, analitica de evid6ncias, recomendag6esde ideias
estrat6gicas.'
A abertura para a pesquisacientifica no fmbito da criminologia
econ6mica encontra sua delimitagao na avaliagao da cultura de comp/lance
baseadaem coleta maid consistente de dados empiricos e no amadurecimento das evid6ncias cientificas. Assim 6 que se tornam vidveis
recomendag6es mais s61idas sobre as political regulat6rias, estrat6gias de
anacr6nico,o sem que, no entanto, essasnovas t6cnicas de investigagao
e74#orcemerzf
e ag6esconcretas de autorregulagao corporativa, promovendo
denham sido acompanhadas de modificag6es maid sensiveis em termos de
uma profunda redefinigao do conceito e do impacto dos programas de
comportamento 6tico na empresa. A verdade 6 que o debate piblico sobre
complfalzce
no Brasil. Sob esseporto de vista 6 que seespera a construgao
de um diflogo mais efetivo, demonstrando evid6ncias sobre as praticas
sociaisque poderiam de cato trazer mudangas significativas no ambiente
negocial. Em fungao dessespressupostos, a estrutura do ensaio se divide
os programas de comp/ialzceou bem se limita a narrativas corporativas
de autoemulagao,movendo ret6rica da goodcorporatecftfzelzshipque
pouco acrescentana construgao social de conhecimento sobre a materia.
ou bem se presta a ret6rica politica de autoridades pablicas, fortemente
inspiradas por cerro fanatismo moral e obsessio por megaoperag6es
punitivas.
O que falta mesmo6 a revisio crimino16gica do regime brasileiro
em quatro panes principais: (1) organizagaodas principais lig6es do
pensamentocrimino16gico para o estudo da criminologia econ6mica;
(2) an61ise das transig6es dos street crimes para os mhffe-collar crimes
e dos w/life-co/Zfzr crimes para os coTorate crimes; (3) organizagao das
de prevengio is infrag6es econ6micas. A cultura de comp/fence tem
principais contribuig6es da pesquisa crimino16gica comparada, com
sido uma das principais representag6esdesseregime, mas o problema
delimitagaona descrigaodos principais instrumentos normativos de
controle social formal das organizag6esempresariais; (4) discussio
nio consisteapenasno dominio do conhecimentosobrea materia.Ha
uma defici6ncia maid bfsica na verificagao empirica das evid6ncias
especifica
das combinag6es
possiveis
entre iniciativas
de en#orcemetzt
e comp/iarzce.
Os dados publicados pda CGU apresentam at6 o momento rendimento insatisfat6rio frente
a complexidade da corrupgao no ambiente empresarial:30 penalidades, sendo 7 publicag6es
extraordin6rias e 23 multas sabre o faturamento brute anual(R$ 12.010.130,21).
Nas demais
esferas administrativas(com base na lei anticorrupgao): 14 punig6es, sends 4 publicag6es
extraordinfrias e 10 multas(R$ 6.081.468,07).
Muito interessante panorama desta discussio pode ser encontrado em COFFEEJR.,
John. Understanding Enron: it's about the gatekeepers, smpid. Columbia Law & Ecorzomfcs
}Vorking Paper,207/2002. Em reflexio critica sobre estas tend6ncias, SAAD-DINIZ.
MARTINELLI,
Eduardo=
Sofia. Gafekeqers e solug6es de compifarzce.Reufsfados Trzbunafs,979/2017, p
2
Algumas lig6es do pensamento crimino16gico
O pensamento crimino16gico p6s-clfssico assume como
premissa maior a verificagao empirica das causas e consequ6nciasdo
comportamento criminoso, determinando-se a analitica do crime e da
criminalidade a partir da explicagao dos fatores que levam a conduta
FALCAO, Joaquim. 'La va Jato' crib nova geragao de juizes, promotores e advogados. Rmisfa
dosTributzafs,967/2016.
'
169
7 BECKER, Howard. Eufdence.C:hicago: Chicago Press, 2017, p. 4 e ss
EDUARDOSAAD-DINE
COMPLIANCESOBA PERSPECTIVA
DA CRIMINOLOGIA KCONOMICA
RiCAROO vn.i.AS S6AS CUEVA, ANA FRAZAO(cooRO.)
COIUPU.ANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
170
desviante. Assim homo em Freda Adler, Gerhard Mueller e William
Laufer, "os crimin61ogos mensuram".' A pesquisa crimino16gica
se dedica a determinagao concreta do comportamento criminoso e a
diferenciagao destas condutas e das alternativas possiveis de reagan,
da regulagio de comportamentos e da fundamentagao moral das
modernasformas juridical.:'
crimin61ogos tamb6m conduzem a pesquisa cienHfica para a avaliagao
Em oposigao ao universalismo dos te6ricos do controle,:sganhou
oroemin6ncia a interpretagao socio16gicade Edwin Sutherland sabre
oscrimes de colarinho branco. Sutherland partiu da diferenciagaoentre
o comportamento desviante convencional e o ocupacional, buscando
explicar o cato de que esta 61tima criminalidade vem, duriosamente,
acompanhadade predominante respeito ao ordenamento juridico e is
regras sociais. E apenas em fungao das estruturas de oportunidade e
com a finalidade de promover estrat6gias de redugao da criminalidade
e de deusimpactos negativos na sociedade inclusive em relagaois
consequ6ncias delet6rias da criminalizagao de comportamentos na
vida das pessoase da comunidade em que vivem. Quer dizei', os
das iniciativas do Sistema de Justiga Criminal e seu impacts na sociedade.
aprendizagem no fmbito das organizag6es que os individuos encontram
Originalmente, foiassim que Marvin Wolfgang inscreveu seu nome entre
os cfnones do pensamento crimino16gico, mensurando o comportamento
ascondig6esnecessfriaspara se engajarna criminalidade econ6mica- e
ipso,tamb6m curiosamente, sem que este mesmo individuo deixe de
desviante e extraindo dele a construgao de tipologias em Patterrzs f7z
reprovar moralmente aquele que comete um crime tradicional. Desde
crimftza/ /zomfcide (delta m6trica a nogao de "precipitagao
Sutherland,a16mda compreensaoda delinqu6ncia do tipo associativo(o
que explica o crime 6 o resultado da interagao com valores antissociais
vitimal"
e
a ideia de colaboragaoda vitima na realizagaodo crime).9E nio foi
de outta forma que Edwin Sutherland, ao analisar a criminalidade
relacionada a atividade empresarial, consagrou-secom a ideia de crime
do colarinho branco (w/lite-co/Zarcrime).:'
A seumodo, a interpretagao funcional de Emile Durkheim repre-
e padr6esde comportamento criminoso aprerzdfdos
nas organizag6es
empresariais),:'ja se reconhecea dificuldade de se delimitar a vitima
da criminalidade corporativa, a produgao de provas e as estrat6gias
de intelig6ncia corporativa para evitar a incid6ncia de en$orcemerzf.:'
Os
sentou um avango muito significativo para o pensamento crimino16gico.
principais desdobramentos das teses de Sutherland couberam a Donald
O crime n3o este mais limitado a compreensao do comportamento do
homem delinquente, nem mesmo circunscrito a imposigao de limites
Cressey(com a nogao de respectable
crimfrzaJ os individuos de maior
reputagao na sociedade em regra sio os respons6veis pdas maiores
metafisicos a vio16ncia de Estado. O crime 6 um cato sociale nio deve
ser interpretado fora da dinfmica da sociedade.Desdeo Dfzdfoisdodo
frabaZho
social,com asnog6esde que o crime 6 "normal" e "funcional",:'
passando pdas Regrasdo m6todosocfo16gico,
em que o crime se definiu
violag6es):'e a diverg6ncia de David Weisburd, o qual questionou a
equiva16ncia do "colarinho bronco" com a ideia de "ofensores de elite
(amaior parte dos casoslevados ao Sistema de Justiga criminal dizem
respeito a clausemedia sem os privi16gios da primariedade).'9
A criminologia critica, por sua vez, posiciona suasreflex6esna
como a "antecipagao da moral futura", expressando a moral coletiva,i:
at6 0 suicfdio, em que se concretizou a ideia de anomia (desintegragao
atuagaoreativa do Estado e na compreensao do dano produzido peso
da ordem social como resultado da perda do referencial valorativo),:; a
interpretagao funcional de Durkheim abriu espagopara a compreensao
14
LUKAS, Steven; SCULL Andrew. Darkheim a?zdfhe I,azo.2. ed. London: Palgrave, 2013, p. 2.
As tesesdo controle e as explicag6es universalistas da personalidade delinquente que se
sucederama interpretagao funcional de Durkheim nio tiveram repercussaono campo
da criminologia econ6mica. Travis Hlirschi, refer6ncia mais expressiva das teorias do
8
controle, nega expressamente a especificidade do crime econ6mico. Essencialmente, o
ADLER, Freda; MUELLER, Gerhard; LAUFER, William. CrfmflzoZo8y
arid fhe Criminal /usffce
System. 6. ed. New York: McGrall
9
crime n5o passaria de "violagao a lei", e a tese de Sutherland serra inconsistente, ao explicar
Hill, 2007, p. 28-29.
a conformidade do comportamento da mesma forma em que explica o comportamento
WOLFGANG, Marvin. Patternsfpzcrfmi?zalhomicide.New Jersey:PattersonSmith, 1975,
desviante,HIRSCHI, Travis. Causesofdeli7zqzzefzq.
2. ed. New Brunswick: Transaction, 2002,
p.9 e19
413 P.
0
l
2
3
SUTHERLAND, Edwin. Whiteco!/arcrfme:fhe nc t uerslozz.
New Haven: Yale University
16
Press,1983, p. 4 e ss.
17
DURKHEIM,
Emile. Da diufsdo do frabaJ/zosocial.Sio Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 30 e ss.
L8
DUlZKHIEIM,
Emile. Regras do mdfodo socfoZ6gica.Sio Paulo: Martins
19
DURKHEIM,
Emile. O szffcfdio; esf do social(igfco.Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 188 e ss.
Fontes, 2007, p. 86.
171
SUTHERLAND, Edwin. White collar crime. .. c t., p. 245.
SUTHERLAND. Edwin. White collar crime... cff., 218 e ss
CRESSEY.Donald. "'r'he respectable criminal".
7'ra/zs-actiozz,2-1965, p. 12-15.
WEISBURD, David et a!(Org). Crimes of fhe middle classes;white-collar offenders in the
Federal Courts. Chelsea: Yale Press, 1991, p. 74 e ss.
EDUARDOSAAD-DINIZ
COMPLIANCESOBA PERSPECTIVA
DA CmMINOLOGiA ECON6MiCA
RiCARoo vn.LAS B6AS CUEV:A,ANA FRAZAO(COORO.)
COA4PL/ANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
comportamento
corporativo
socialmente danoso.20 Recentemente.
em critica contundente ao comportamento corporativo socialmente
oaraa efetividade na implementagaodos programas de c07zzp/[fzzzce
e
dos mecanismos sancionat6rios."
oso{ Gregg Barak discutiu a incorporagao de t6cnicas de rotinizagao e
A pesquisacientifica no campo da criminologia econ6mica
neutralizagaopelo mundo corporativo (racionalizag6esque minimizam
demanda enorme esforgo. Requer, antes de judo, habilidade para acessar
a moralizagao da infragao econ6mica e a rejeigao emocional espontanea
coho as estrat6giasde gestao motivam as empresase os individuos,
avaliando como a estrutura sociedade, em sua relag5o intrinseca com
a conjuntura econ6mica e a infiltragao nas tramas de coesio social das
comunidades em que opera pode chegar a favorecer mecanismos de
do crime, comonos termos retributivos de Durkheim),:: o que vale
universalmente para as estrat6gias de gest5o que recorrem ao uso
cosm6tico dos programas de comp/lance.
O estudo das escolas de pensamento crimino16gico oferece
s61idoreferencial explicativo para orientar a investigagaodos fatores
que levam a criminalidade econ6mica.Esseestudo 6 o que nos permite
discutir a pluralidade desses fatores e nos posicionar, criticamente.
173
controle social, ou ainda como as relag6es de comando e controle dos
CEOSe alto escalio da empresa, a maier ou menor autonomia dos
frente is interpretag6es tradicionais sobre a motivagao da criminalidade
profissionais de compZiatzce:
a postura nio colaborativa do juridico e a
cumplicidade da contabilidade criativa podem ser decisivasna pratica
de infrag6es econ6micas. E isso sem mencionar que a divisio entre
econ6mica,permitindo superar as leituras reducionistas do custo e
comportamento 6tico e crime, apesar de atender a investigag6es causais
beneHcio e as ideag6es sobre a ambigao desmesurada dos gestores. O
de certa forma bastante semelhantes, nem sempre 6 tio facilmente
comportamentoracional/utilitfrio e a ambigio no fmbito corporativo
(corporczfegreed) s5o explicag6es, quando muito, apenas parciais.z
lgualmente, 6 preciso muito maid do que "estruturas de incentive
perceptivel na investigagao crimino16gica, imiscuindo comportamentos
ilicitos em atividades legitimas.:'
Para a criminologia econ6mica, o que importa mesmo e que
a criminalidade corporativa 6 fundamentalmentecriminalidade do
colarinho branco. A partir dessa nogao bfsica, pode-se entender a
:' BOX, Steven. Pozuer.crf meand /trysfzHcafzorz.
London: Tavistock, 1983, 257 P.; PUNCH, Maurice.
Dfrfy .fuse/less,expZori/zg
c07'rotatemfscondzfcf.London: Sage,1996, p. 22 e ss.; LEIGHTON
Paul.Corporatecrimeandthecorporateagendafor crimecontrol:disappearWwareness
of corporate crime and increasing abusesof power. Wesfer/zCrfmi/zoZo8y
Reuiezo,14/2013,P.
:'
BARAK,
Gregg.
U?zc/deckedc077orafe Famer: why
the crimes of multinational
corporations
are
routinized away and what we can do about it. London: Routjedge, 2017,p. 11; demonstranda
homo as racionalizag6es de fachada nio apenas evitam a atuagao do ertjorcenrenf,mas
tamb6m acabam criando ambiente propicio a comiss5ode infrag6es econ6micas,BAUGH.
Todd. The criminalization of compliance. Notre DameLaw Rmzew,92/201i, p 1215-1269
(::) Rationalizations are the'pkeycomponent in the psychologicalprocess necessary for the
commission of corporate and ' white collar crime--they allow potential offenders to square
their self-perception as"good people' with the illegal behavior they are contemplating thus
allowing bad conduct to go forward. Criminalized compliance fuels these rationalizations,
and in turn, bad corporatebehavior.By virtue of its origins in and fidelity to the criminal
diferenciagao entre as ocupag6esno imbito da estrutura empresarial
e a organizagaoempresarial em si como resultado densecontexto maid
amplo e complexo de processes decis6rios e interag6es socials que
integral a atividade empresarial.:s Essa compreens5o 6 decisiva para
uma interpretagao mats consistente dos programas de conzp/lance
e de
sua importancia nas organizag6es. 11nesse particular que se recobra
a relevincia da investigagao cientifica sobre as causas, controles e
23
Eine rechtsvergleichende Analyse des Strap-und Ordnungswidrigkeiteruechts
und den USA. Berlin: [)&H, 2012, p. 703 e ss
24
law, criminalized complianceimports many of he criminal law's delegitimizing features into
the corporation -- from vague and overlapping rules, to aggressiveand onerous monitoring,
to inconsistent enforcement and adjudication. Employees recognize this illegitimacy and
employeemisconduct, are actually helping to createit. This insight, which offers a new
way of conceptualizing corporate compliance, not only helps explain the ineffectiveness
of many compliance programs, but also how corporations might go about axing them"(p
a HEATH, Joseph.Businessethics and moral motivation: a crimino]ogica] nersnective [oi£rrzar
ogBusfrzessEfhfcs, 83/2008, P. 595-614.
'
'
'
''''"
""
in Deutschland
H6 ampla literatura discutindo a especificidade dasestruturas organizacionaise ascausasda
criminalidade econ6mica.Tradicionalmente, GELS,Gilbert; STOTLAND, Ezra.Organizational
structure and organizational crime. GELS,Gilbert ef al(Org) White color crime: theory and
research.Beverly Hills: Sage,1980,p. 52-76;ALBANESE, Jay. What Lockheed and La
CosaNostra have in common: the effect of ideology on criminal justice policy. Crimefztzd
Incorporate.It into their own thought processes,thus creatingan environmentripe lor
rationalizations. Once rationalizations take hold, there is little stopping an employee from
committing an unethical or illegal act, regardless of the compliance pmgram in place. The
result is that many compliance regimes, by mimicking the criminal law in hopes of reducing
Em sentido contrfrio, ENGELHART, Marc. Szztzktionieratzg
oon enter?ze;zme7z
u/zdComp/lance
Delfnqllency, 28/1982, p. 311-323; ALBANESE, Jay. Organfzafional (!genders: why solutions
25
fail to political, corporate, and organized crime. Niagara Falls: Apocalypse, 1982,p. 6 e ss
Corporate crime is white-collar crime; but of a particular type. Corporate crime actually
among boards of directors, executives, and managers, on the one hand, and among parent
corporations, corporate divisions, and subsidiaries, on the other. This concept of corporate
with the broader area of crime in the so-called white-collar occupations", CLINARD,
Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime. . . cft., p. 17
RlmDO
174
EDUARDOSAAD-DINE
COMPLIANCESOBA PERSPECTIVA
DA CRIMINOLOGIA ECON6MICA
viLAS B6AS cuEVA, ANA
COA4PLIANCE:PERSPECIWAS E DESAFIOS DOS r
noliticas seletivas de encarceramento e higienizagao urbana, foi sends
estrat6giasde regulagao.Por um dado,adquire-se solidez na individualizagao dos agentes,dimens6esdo dano, processosde vitimizagao,
em que medida se pode f dar em efeito intimidat6rio(deferre7zce)ou
aradualmentesubstituida pda criminalidade corporativa. No lugar do
preventive,
da criminalidade como "gestaodo medo" da classemedia em face
da escaladada vio16nciana sociedade tem cedido espago,de forma
r'
avaliagao da qualidade
das iniciativas
de eri#orcement,
atorias e inciativas corporativas.26Por outro, superando a
mentalidade repressiva e o apegoao cantrole social formal, discutlndo
as posslbilidades de estabelecervinculos colaborativos entre a agro do
rticular e os 6rgaos fiscalizadores e reguladores.:'
3
Dos street crimes aos white-coiZzzrcrimes e dos whitecoZZarcrimes aos corporcztecrimes
Para fins didfticos, 6 bem possivel encontrar certos divisores
para interpretar as prioridades da politica criminal ,jnternacional
I criminalidade corporativa foi por muito tempo negligenciadano
apelopda segurangaurbana, as autoridades fiscalizadoras e reguladoras
t6m se apegado a seguranga negocial. A compreensao tradicional
igualmente gradual, ao reforgo punitivo da confianga nos neg6cios e
na alocagaode recursos, motivado por esquemasardilosos do crime
corporativo. Em vez da interpretagao jurisprudencial movida pda
seletividade e o populismo da higienizagao dos centres urbanos, os
esquemas dogmfticos passam a reconhecer a necessidade de anfecipafab
la no fmbito empresarial, forgando o cumprimento de determinados
padr6es de comportamento pdas vias da imposigao de deveres na
empresa,com reduzidas exig6ncias na verificagao do comportamento
doloso. Esquematicamente,seria possivel articular uma (1) perspectiva
macropolitico-criminale outra(2) micropolitico-criminal:
Sistema de Justiga Criminal. Alguns poucos casos isolados ganharam
(1) PERSPECTIXn.MACROPOLiTIC0-CRIMINAL
maior exposlgao, coma os escindalos de financiamento da campanha
Crimlnalidade tradicional
(street crlmeJ
incid6ncia significativa na prftica. Uma boa sintese hist6rica da politica
criminal predominante na Guerra Fda, sobretudo na Era Reagan, 6 a
orientagao ostensiva pda guerra is drogas(war.otz drz4gs),notadamente
como medida de contengaodo avangodo regime comunista intema-
Criminalidade corporativa
lcorporate crimea
Segurangaurbana
Seguranganegocial
Gestdodo medo
Gestio da confianga nos
neg6cios e alocagao de recursos
Vio16ncia
Ardil/engano
(2) PERSPECTIVAMICROPOLiTIC0-CRIMINAL
cional O loco na guerra is drogas arrasta suas consequ6ncias at6 os dias
atuais, com repercuss6essensiveis,tanto nos EUA coma no Brasil, na
Criminalidade tradicional
(street crimea
Criminalidade corporativa
(corporate crfmeJ
obsessio pelo encarceramento de massas(massincarcerati07z)seguinao
Dole (mens rea)
Normativizagao e tend6ncia a
responsabilidade objetiva
a anflise crimino16gicade John Hagan, ao mesmo tempo em que se
endliam os carceres de traficantes dos Colombianbabies,experimentava-se
Seletividadee higienizaQao
urbana
a aus6ncia de regulagao da atividade empresarial.u
Maid recentemente, dos anos 90 at6 os dias atuais, a abertura dos
Imposigao de deveres.fg no
imbito empresarial
mercados internacionais e a intensificagao da globalizagao econ6mica
ii claro que os quadros explicativos nio representam de todd
desafiou o perfil da politica criminal internacional. A priorizagao
da criminalidade traditional, la em grande medida "estfvel" pdas
uma inovagao.29Essa transigao foi investigada hf quase setenta anos
29
26
SIMPSC)N, Sally Corporate cringe,law, and social control. Cambridge: Cambrige Press, 2002,
27
LAUPER, William. A very specialregulatory milestone.Uniuasfly of PelznsyZuanfa
Working
Pal)er, 9/2( 17. p. 16 e ss
a
the p(lliHcs of crimepojicy
fromtheAge
of Roosevelt
Em outro contexto, discutimos como Nelson Hungria pensava -- de forma extraordinfria - que
esta transigao da criminalidade "violenta" para a dos "artificios do engano" ja se encontrava
em curso algumas d6cadas antes de Sutherland, HUNGRIA, Nelson. Frazzde
pe/zaZ.
Rio de
Janeiro; Est. Graphics, 1932, p. 6 e ss.A percepgao de Nelson Hungria sabre a vio16ncia era
bastante limitada a pequena criminalidade patrimonial, o que certamente limita a leitura dele
De if pra c6, 6 preciso niveis mais sofisticados de compreensao do problema das drogas, nio
apenas pda intensificagao da guerra is drogas, mas tamb6m pda configuragao das modemas
175
mCARDO VILLAS BIAS CUED, ANA FRAzAo(COORD.)
EDUARDOSAAD-DINH
compuamcE SOBA PERSPECTrV:A
OA CRiMiNOLOGIA ECON6MICA
COA4PL1ANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFOjtMIDADE
por Edwin Sutherland. Apesar disso, nem os estudos originais dessa
transigao,nem esseesforgo explicativo dos quadros esquem6ticos dia
conte dessa transigao desde a perspectiva da indiferenga moral frente
ao colarinho e dos customda criminalidade
(nao apenas os econ6micos.
mas tamb6m os sociais e morais). Gilbert Geis foi dos primeiros a
apontar que a criminalidade corporatiya pode ser mais danosaque a
maior parte dos crimes tradicionais, de certa forma denunciando que as
federal and state statistical compilations of crime pay more attention
to 'muggers' and ignore 'smoggers"'.ao
Quando se pensa em crime, a
indignagao moral3i recai, comodamente, sobre a criminalidade de mas.
Essaindiferenga em relagao aos crimes corporativos, por muito tempo
obstruida peta nogao de crimes sem vitima, deveria ser superada por
uma mats exata compreens5o dos processor de vitimizagao e dos datos
causados pelo comportamento corporativo socialmente danoso.3z
A partir de entao, soma-seao estudo dos mhffe-co//arcrimesa
investigagao cientifica dos c07porafecrimes.Com certo pioneirismo,
Marshall Clinard e Peter meagersistematizaram o estudo da criminalidade
corporativa e empenharam anilise detalhada do comportamento
ol crimes)e subdividida em tMs tipos principais: convencional(ou
ordinfrio); ocupacional; organizacional. Crimes convencionais incluem
oscrimes violentos (loweratzdb/zle-coZZczr
classes)cometidos por meio de
atividades ilegitimas, em afronta ao ordenamento juridico. Nos crimes
ocupacionais, o comportamento socialmente desviante 6 produzido no
imbito de atividadeslegitimas epor individuos que,em regra,mant6m
respeito ao ordenamento juridico, salvo em determinadas oportunidades
que encontram para delinquir em suas ocupag6es. Pode chegar a ser
cometido por b/zze-collarem suas ocupag6es, sem corresponder, no
entanto,a um montante significativo. Os crimes organizacionais,por
sua vez, sio cometidos por organizag6es empresariais.
O esforgoclassificat6riode Clinard e Yeagertamb6mfoi importancepara discriminar as estruturas frzferzzas
e os fatores exfernos
do comportamentocorporativo socialmentedanoso.O interesse
crimino16gicoHessecampo pode se dedicar a compreensio dos fatores
econ6micos(superando o reducionismo da motivagao da "pressao
financeira"), o paper determinante da cultura corporativa(respeitando,
por exemplo,
a observagao
do hist6rico
de continuidade
corporativo socialmente desviante. Surge com des a classificagao das mais
da empresa) e a personalidade,
representativas violag6es,3; com base na seriedade no crime (serious/fess
societ6ria na qual se insere a figura dos gestures.34
corporag6es e a evolugao social das drogas, especialmente as inddstrias farmac6uticas.
H6 ampla e muito interessante hteratura a respeito, a exemplo de WAINWRIGHT, Tom
«11W##$W
$
BHH
LAUFER, William. Where is the moral indignation over corporate crime?. BRODOWSKI,
iiuminK et al. (urg). Kegularing coyorafe crfmfna! ifabfiffy. Heidelberg: Springer, 2014, p.
"=B:HnHnE$=j!:H;laH::S
no imbito corporativo, Jeffrey Reiman refirma os elevados custos socials; "k takes far more
de compZfarzce
formagao e a interagao com a estrutura
De forma um tanto maid ampla do que os esforgosiniciais
"classificat6rios" de Clinard e Yeager,a proposta de Braithwaite
talvez tenha fido a primeira a promover a necessidade de integragao
das v6rias correntes crimino16gicas na explicag3o da criminalidade
ocorrida no fmbito das organizag6es. Braithwaite dedicou indmeros
estudos a anflise das circunstfncias que levam icriminalidade no
imbito das organizag6es. De forma bem convincente, integra os modelos
explicativos para analisar a criminalidade corporativa: teoria da tensio
para a distribuigao de oportunidades legitimas e ilegitimas, teoria do
etiquetamento para se compreender a estigmatizagao e a formagao de
subculturas de resist6ncia.;5Se bem 6 verdade que a estigmatizagao da
dollars from our p.ocketsthan aU the FBI Index crimes combinedL REIMAN, Jebey. 77u
rich gef ric/zer and fhe poor get prfsozz;ideology, crime and criminal justice. 4. ed. Bostoru
Allyn&Bacon, 1995,p 109.Discutimosetta questiolongamenteemSAAD-DINIZ. Eduardo.
Wflozaiogfacoyoraffoa(em preparagio)
34
" =188U=E=lil=m:nn:
CLINARD, Marshall; YEAGER, Peter. Corporate crime.. . cft., p. xl-xli. A mentalidade
ZJ::: HM
classificat6ria, no entanto, talvez deixe desapercebida uma maid consistente compreensao
of products; abusesof competition that restrain trade such as antitrust and agreements
corporag6es influenciam direta ou indiretamente na criminalidade convencional --a partir
de sua infiltragao na coesio social e de sua irresponsabilidade -) mas tamb6m porque nio
apreende uma s6rie de tzz7"ming
poi/zfse sucessivos processosde etiquetamento no curso da
da personalidade. Nio apenas pda dinfmica do comportamento desviante -- homo as
labor practices;the manufacture and sale of hazardous products and misleading packaging
among corporations to aUocatemarkets; false and misleading advertising; environmental
;n::=:=:==m=u'n
EH=BUeeln;U!
vida da empresa
35
BRAlmA]TE,
John. Criminological Uteory and organizational crime. CrlmfnaZogica/
Theory,
6/1989,P.333-358
177
EDUARDOSAAD-DINIZ
RICARDO VILLAS B6AS CUEVA, ANA FRAZAO (C00RD.)
. . .. ..---- "-
an.
COMPO/ANCE SOB A PERSPECTiVA DA CRIMINOL(:)GIA ECON6MiCA
COMIPLIANCE:
PERSPECIWAS
EDESAF10S
DOSPROGRAMAS
DECUNFUKmiunuc
- 6 bastante controvertida
empresa -- o processo de c07porateshamitz836
(como
visto
supra, a criminologia
e de dificil demonstragao empirica
reflex6es sobre neutralizagaa
critica supera essaquestao a partir das
e rotinizagao, uma vez que as empresas acabam representando "maid
o fanatismo moral das campanhas de "limpeza utica".40A priorizagao
dacriminalidade corporativa e as iniciativas de autorregulagao devem
elevado potencial
lan Aires, Braithwaite
fiscalizadores e reguladores. Juntamente com
4
bem do que dano", more good thats harm), a questao da formagao
das subculturas como resist6ncla a regulagao e ao controle revela
explanat6rio cla relagao entre particular e 6rgaos
regz£Zatio?z),
que
desenvolveu a nogao de regulagao responsiva jrespotzsiz'e
escalonamento de condutas e formas
se revere a regulagao baseada em
controle, ou "autorregulagao regulada"
correlatas e proporcionais - de
de acordo com maier
(etz$orced
seF-regulation),"revista, logo em seguida
em
desenvolvimento.38
hstitucional dos parses
sensibilidade a realidade
O aperfeigoamento te6rico a partir
das teses de Braithwaite
abre
novas possibilidades para a compreensao da experiancia brasileira
Tomando-se como ponte de partida a instabilidade e o desarranjo das
rcionaldos
instituig6es, seguido da reagio indiscriminada e despropo
mecanismos sancionat6rios, o que se tem na verdade 6 um processo
continuo de desacoplamentoentre autorregulagao e regulagao.39
A16m disso, os entraves para um modelo responsive a criminalidade
estabilidade institucional
O contexts brasileiro nos remete a regime democrftico em franco
processo de maturagao, ainda pendente ae superagao de resquicios
pend6ncia econ6mica
do passado autoritario e forte relagao de de
e da presengade multinacionais para promover suas iniciativas de
corporativa nio consistem apenas na falta de
economica
desenvolvimento S( ) CI tJCL \J I 6mico. Uma criminologia
eminentemente brasileira deve atuar no enfrentamento da relagao
incestuosa entre empresa e autoritarismo, entre marginalizagao da
criminalidade de rdas, indiferenga com a criminalidade corporativae
serprofundamente redefinidas, se for mesmo o casade manifestagao
genuina de acerto de contas entre as organizag6es empresariais e a
sociedadebrasileira, mediado pda integridade nos neg6cios.
Pesquisacrimino16gica comparada e controle social
formal das organizag6es
A criminologia econ6micaorienta a an61isedo controle social
das organizag6es. Por agora, interessa apenas o estudo do controle
socialformal em perspectiva comparada, buscando intercimbio entre
asexperi6nciasinternacionais e aprendizagens hist6ricas. Semelhante
estudo,no entanto, encontra determinadas barreiras com a maltade
dadosmais precisos sobre o controle social formal em navel global. Se
bem 6 cerro que a anilise das experi6ncias internacionais pode servir
dereferencial para incrementar o conhecimento nacional sobre causas,
consequ6ncias,
perfil criminoso, paper das multinacionais, exercicio
deseletividade, insufici6ncia de engorcemelzt
e possibilidades de global
regz4Zafi07z,
6 igualmente certo que a pesquisa comparativa tampouco
atendea parametros claros. Pouco se conhece a respeito da tradigao
juridica norte-americana e suas influ6ncias na configuragao global da
criminalidade das organizag6es. At6 mesmo estudos de priorizagao
politico-criminal sio desconhecidos,limitando-se a investigagao
em ci6nciascriminais, no maid das vezes, a anflises descritivas dos
instrumentos normativos.
E bastante incomum na discussio ibero-americana encontrar
avaliag6esdos modelos pioneiros da Holanda ou Franca.Como bem
destacado por John Vervaele, o referencial holand6s poderia ser bastante
significativo para situar detemlinados aprendizados na materia. Vervaele
demonstra que o art. 15 da lei WED dos anos 50 posicionava a fungao
ss Para (n fundamentos do shaming,BRAITHWA]'l'E, John. Crime, Sha17re,
and Reintegration.
ss.
,
debate. New York: Oxford Press, 1992, p. 101 e
.
n , I,'--Ht
38 BRAITHWAITE,John. Responsiveregulation and developing economies.marla uewtuf'""""
econ6micacomo determinante para o reconhecimentoda autoria e
punibilidadeda empresa,justificando o regime de necessidadede
regulamentagaosocioecon6mica. No CP holand6s de 1965,atribui-se
10 Em outra ocasiao,questionamos a certa coincid6ncia entre asestruturas de financiamento
corporativo da Ditadura Militar e os esquemas empresariais evidenciados na Operagao Lava
cato,SAAD-DINIZ, Eduardo; SPONCHIADO, JessicaRaquel. La financiaci6n corporativa
39
dela Dictadura militar en Brasil: en bdsqueda de la reparaci6n de las v:ictimas.VELEZ
RODRIGUEZ,Luis A.; RODRIGUEZCAMACHO, David Andres(Org.). Socfedad
ylierza
pdb/fcaante Zosreposde /a Paz: justicia transicional, vfctimas y consolidaci6n democrftica
Contexto, 2016, P. 103-116.
Bogota:lbafiez,2017,p.435-457
179
EDUARDOSAAD-DINIZ
COMPLIANCESOBA PERSPECnVADA CRIMINOLOGIA ECONOMiCA
RICAROO vn.LAS BOAS CUEV:A,ANA FRAzAO(COORO.)
COMPLY.ANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOSDOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
180
responsabilidade aos diretores por conduta de terceiros na empress.
Por6m foi em 1976 que o art. 51, CP holand6s, introduziu a responsabilidade penal empresarial, atingindo relevante consequ6ncia prftica
o catode que "a punigio da pessoaJuridica 6 muito importante para a
punigao dos responsfveis funcionais dentro da empresa. A qualidade
de autor da pessoa juridica n5o 6 apenas a base da punibilidade penal
propostas de responsabilidade penal empresarial e crimes relacionados,
;16m dos aspectos processuais. As recomendag6es sio orientadas peta
ideia de prevengao especial e melhoria das estruturas empresariais,
concebendoas infrag6es corporativas a partir do beneficio obtido ou
que deveria a empresa obter, ou a partir da infragao de dever relacionado a empresa, na medida em que etta violagao n5o se refira a uma
da pessoajuridica, mas tamb6m a de pessoasfisicas que efetivamente
dirigiram a conduta ilicita".':
autolesao.A fundamentagao crimino16gica, no entanto, deve questionar
A discuss5o europeia tem evidenciado certa lideranga na Espanhaa
determinando-se, com precisao e a partir de evid6ncias cientificas, quaid
e na Italia" e, salvo as influentes ideias penais econ6micas de Klaus
os comportamentos, que typo de associagaoempresarial, a modalidade
Tiedemann,a permanecendo a persist6ncia hist6rica dos alemies.a Recen-
sancionat6ria, a efetividade das medidas, danos a comunidade, as
formal de restauragao.Em puma,a criminologia corporativa requer
revisao dos padr6es tradicionais de responsabilidade empresarial e da
realizagaopr6tica cotidiana do Sistemade Justigacriminal, de tal forma
temente, at6 se observam
propostas
legislativas,
des Landis Nordrhein-Westfalen den Entlourfeines
como o /zzstfzmf7zisferizzm
Vabandsstrafgesetzbuchs
(2013y ' e o KdZ7zerEnfmzzr/ eflzes Uerbrzndssanktiorzerzgesetzes
(2017)."
Especificamente em relagao a estedltimo, foram elaboradas promissoras
41
4:
Veja-se,por todos, NIETO MARTIN, Aden. Cumplimiento normativo, criminologfa y
nador segue sendo bastante incisivo em alguns ordenamentos juridicos,a
penal de personas juridicas.
NIETO
MARTIN,
Aden. .A4fzlzuaZ
de cramp/imre/zfo
FIORELLA, Antonio. Alla ricerca dei comuni denominatori dell'illecito dell'ente da reato.
e mercfzf{emergenf{.Roma: Sapienza University Editrice, 2017, p. 7 e ss.
45
De todd modo, mesmo em vista das inovag6es no campo da
imputagao penal a empresa, o legado do direito administrativo sancio-
FIORELLA,Antonio; VALENZANO, Anna Salvina(Org.). J<esponsab
lite deg/ierzffdareato
44
que a pesquisa comparada e a fundamentagao com base em evid6ncias
poderiam ser bastante promissoras.
coma modelo para a Espanha?. Reuisfa Lfberdades,14/2013, p. 93-130.
pena/ en /a empress.Valencia: Tirant lo Blanch, 2015, p. 50 e ss.
43
asestrat6giasde atribuigao de responsabilidade penal bs empresas,
VERVAELE, John. Societal/universitas delinquere ed puniripotest: a experi6ncia holandesa
responsabilidad
TIEDEMANN, Klaus; ENGELHART, Marc. WlrtschaftsstrflPecht.
5. ed. Mtinchen: Fraru
inclusive no brasileiro. Traz consigo, no entanto, uma s6rie de limitag6es
processuais (poderes de investigagao, apreensao, confisco), ademais
de embotar a capacidade de enderegamento do juizo de reprovag5o ao
comportamento corporativo socialmente danoso.'PNa America Latina,
Vahlen, 2017, p. 176 e ss.
a hist6ria da responsabilidadepenal empresarial ainda 6 bastante,
E contundente a critica dogmatica demi tradicional. Por todos, FRISCH, Wolfgang
com regulamentag6es recentes e poucas repercuss6es na investigagao
Strafbarkeit juristischer Personen und Zurechnung. GesamteSfra#echtswissensc;zr$tilz
ffzferizaff07zaZerDfmelzsfalz, Fesfschrl/t,ftZr J irgen Walter. Berlin: D&H, 2013, p. 349-373
46
Cfr. anflise critica em HIOVEN,Elisa.Der nordrhein-westfilische Entwurf eines
Verbandsstrafgesetzbuches;Eine kritische Betrachtung von BegrUndungsmodell und
48
Voraussetzungen der Straftatbestdnde. Zeifschr@.Mrl7zfer?zati07zaZe
Sfra#echfsdogmatfk,1/2014,
P.19-30.
4:
181
HENSSLER,
Martin;
HOVEN,
Elisa;
KUBICIEL
Michael;
WEIGEND,
Thomas.
em naveljuddico quanto pratico. Na maioria dos Estados-Membros da Uniio Europeia os
poderes de investigagao, apreensao, confisco, etc. sio muito mais limitados em termos de
Direito sancionador administrativo que no Direito Penal.Ao contr6rio da Alemanha, onde
existem, em certa medida, vasos comunicantes entre as mat6rias administrativas e penais
abrangidas na persecugao,todos os outros sistemas conhecem sang6esadministrativas e
penais completamente diferentes; os procedimentos administrativos s5ocaracterizados por
KdZtzer
Entw ryeilzesVerba7zdssanktfotzelzgesefzes
Universitit zu K61n,2017.Toda a t6cnica legislativa
parte do seguinte constatag5ode natureza crimino16gica: "Untemehmen und Verb:inde
haben einen Einfluss auf die Gesellschaft, der die Wirkungen des Handelns nattirlicher
Personen erheblich iibersteigt.I Einerseits tragen sie entscheidend zur Welt- s(h6pfung
und damit zum Wohlstand der Gesellschaftbei, andererseitsk6nnen Straftaten,hinter
meios de investigagao,apreens6es,etc., muito mais limitados do que no processopenal
denen die Macht eines Unternehmens steht, weit gr6Bere Schiden anrichten als dies bei
den Takenvon Individuen der Fall ist. Das geltende deutscheRechtwind dieter Situation
night gerecht.(. ..) Auth wirtschaftspolitische Erwagungen sprechen nicht gegen eine
Umgestaltung des Untemeh- menssanktionenrechts. Im Gegenteil: Eine sachgerechte Reform
liuft den Interessender Unternehmen nicht zuwider, sondem dient der Gleichheit der
Wettbewerbsbedingungen sowie der Vorhersehbarkeit der -- bislang undurchsichtigen und
uneinheitlichen - Rechtsanwendungund erm6glicht eine Hlonorierungvon ComplianceMalgnahmen". Maiores detalhes sabre,KUBICIEL Michael; COVEN, Elisa. JANN, Matthias
et al(Org.). I)as Unternehmensstra#echf
utzdseineAlfertzatfoen.Baden-Baden: Nomos, 2016,
P.160.
Analisando a experi6ncia europeia, Vervaele critica que: "(...) o Direito sancionador
administrativo 6, em muitos parses,uma importante forma de subdesenvolvimento,tanto
49
Claramente quando se fda da persecugao das empresas 6 primordial dispor de meios
importantes para a obtengao de provas". VERVAELE, John. Societal/universitas... cif
A produgao cientifica nacional, no entanto, tem se articulado em torno da consolidagao
da responsabilidade penal da pessoajuridica. Desde a fundamentagao politico-criminal
(derivada de imperativo
constitucional),
SARCEDO, Leandro. Compliance e responsabilfdade
pe?zaZ
da pessoaj rfdfcfz.Sio Paulo: Liberals, 2016; em critica ao legado autorit6rio do direito
administrativo sancionadorbrasileiro, BARlZILARI, Claudia Cristina. .'hforregu/fzfaorqu/ada,
criminal compZfaJlce
e mecanisn70ssfz/zcion£zt6rios.
S5o Paulo: Tese-USP, 2017; recentemente,
recorrendo ao estudo dogm6tico do "injusto da organizagao",VELLUDO SAl:VADOR
NETTO,
Alamiro.
RespotzsabfZ dade penal da pessoa /zzrfdica. Sio Paulo: RT, 2018.
EDUARDOSAAD-DINIZ
mCAROO vn.,LASB6AS CUEV:A,ANA FRAZAO(COORO.)
182
COMPLIANCE SOB A PERSPECmA DA CRIMINOLOGIA ECONOMICA
COA4PLli4NCE:PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
crimino16gica:
Chile (Ley20.393/2009),
Argentina(Ley27.401/2017),
e
Ainda na linha de Lauder,as iniciativas para evitar a atribuigao de
Peru (Ley 30.424/2018).
responsabilidade proativa estariam concentradas nas estrat6gias dos
alton executivos e conselhos de administragao voltadas a relat6rios
O centenfrio modelo norte-americano 6 fortemente orientado
a realizagaode determinadas metal sociais (aplicagaodo controle
social, desencorajar vinganga privada, expressao a moral e a opiniio
publica, intimidagao do comportamento desviante), conferindo-lhes
is estrat6giasde controle social formal a devida importancia do
reconhecimento da personalidade das empresas.so
Em Colporafebodies
rztzdgzlfZy mfrzds,William Lauder introduz a interpretagao construtivista
da atribuigao de responsabilidade is empresas. Essainterpretagao parte
de compoance, avaliag6es peri6dicas e dazediZf8e/zcedefensiva.sa A sua
vez, a culpabilidade reativa (reactivecoWoratejau/t RCF) serve para
identificar falhas nas medidas corretivas p6s-delitivas. Ela desloca
a interpretagao da culpabilidade e responsabilidade do fmbito dos
comportamentos anteriores a prftica da conduta tipica (acfzzsrevs)
ra o comportamento de reagao apes realizada a conduta tiplca.u As
teorias do ethos corporativo (coWorateethos
CE) apega-se a falha na
do pressupostode que a intencionalidade da empresaexpressauma
cultura organizacional ou personalidade que leva ao envolvimento
nogao de culpabilidade
com infrag6es econ6micas ou mesmo comportamento anti6tico. O ethos
genuina da empresa (gerzHflze cozporafelaz4lt),a
qual substitui os crit6rios da responsabilidade vicariante por elementos
caracteristicos geafzzres),
dimens6es (aspects),e qualidades essenciais
(atrfbutes) da empresa.s: Precisamente a estes atos que expressam os
corporativo seexpressanas estruturas hierfrquicas, finalidade, political
e nos esforgosdemonstrados em termos de comprometimento de
compZiarzce
e alinhamento aos padr6es regulat6rios,ss por6m enfatizando
elementos caracteristicos, dimens6es e qualidades essenciais da empresa
aomissao dos gestores nio apenas na comissio de infrag6es econ6micas,
corresponde o estado mental corporativo.sz
mas tamb6m na reagao p6s-delitiva. E, por fim, a politica corporativa
Lauder analisa quatro modelos para a compreensao da culpabihdade da empress: 1) culpabilidade proativa; 2) culpabilidade reativa; 3)
(coporate poZfcy CP) se dedica a configuragao dos processos decis6rios
ethoscorporativo; 4) politica corporativa. Na interpretagao de Lauder,a
culpabilidade proativa (profzctfuecoyoratelau/f -- PCF) identifica falhas
nas prfticas corporativas ou procedimentos de prevengao is infrag6es
econ6micas. A evid6ncia de falhas na preveng5o leva a atribuigao de
183
comunicados na empress que refletem tanto a estrutura da organizagao
como sua cultura a partir de decis6es individuais.n
A critica de Laufer a essesmodelos toma por base a necessidade
de reorientagao normativa da responsabilidade penal empresarial em
torno de uma culpabilidade
corporativa
genuina
(gerzuitze c07porate
responsabilidade penal, podendo ser demonstrada a partir de suas
political preventivas e da consist6nciana vedagao de condutas em
c ipabilify)e, do ponto vista t6cnico-juridico, um mais acuradodesen-
forma
RCF e CE negligenciam
de c6digos
de conduta,
utica ou treinamentos
de compZfance.
volvimento dos conceitos e crit6rios de aplicagao do direito penal (PCF,
as exig6ncias de intencionalidade
-- me/zsrea)
e reconhecimentoda culpabilidade com basena agro, circunstincias
50
O centenfrio modelo norte-americano 6 amplamente debatido. Para uma anflise dos
prindpais fundamentos, da forma como 6 recepcionadapelo ordenamentoe dosinstrumentos
dogm6ticos necessfrios a sua aplicagao pritica, KHANNA, Vik. Corporate liability standards:
when should corporations be held criminally liable?. Amerfcrz?z
Criminal I,aw Rmiazu,37/2000,
p. 1239 e ss.;recentemente,discutindo em detalhesos distintos modelos de imputagao penal
a empresa,
DIAMANT]S,
Mihai]is.
Corporate
crimina]
minds.
]Vot/"e Dame I,aw Reaiezo,
91/2016,p. 2050-2090;em rejeigao a responsabilidade penal empresarial, HASNAS, John
The centenary of a mistake: one hundred years of corporate criminal liability. Amerfcatz
Crfmilza/ Law Rmfew, 46/2009, p. 1329-1358
51
52
LAUFER, William. C07'porafe
bodiesa zdguf/fy m£zzds.
Chicago: Chicago Press/ 2006, p. 57
Estescrit6rios sio necess6riospara sedeterminar a conduta punfvel da empresa: tamanho,
complexidade, formalidade, funcionalidade, processo de tomada de decisao, estrutura da
organizagao corporativa, LAUFER, William. Corporate bodies... cff., p. 72.
Constructive culpabMty considersawide rangeof statesof mhd derived from organizational
atributes, features, processes,and structures in relation to the actions of corporate agents
[n contrast to ott\er models of corporate fau]t. constructive cu]pabi]ity considers corporate
intention, knowledge, reddessness, and negligence", LAUFER, William. Corporate bodies. ..
czf., P.77.
53
54
55
56
LAUFER, William, Corporate bodies... cft., p. 58.
LAUFER, William. Corporate bodies... cff., p. 57-58.
LAUFER, William. Corporate bodies... cft., p. 58.
LAIJFER,William. Corporatebodies... cif.,p. 59.As teoriasdapolitica corporativaremontam
aosestudos de Peter French. Maid sabre, FRENCH, Peter. Coiiectiz7e
atzdco7orafe respotzsibi/iy.
New York: Columbia Press,1984.E muito precisaa anflise de Laudersobre as ideias de
French:"According to PeterFrench,the componentsof the corporation's intemal decisions
structure(CID structure), consisting of the corporation's flowchart and procedural and
recognition rules, make up the elements that define corporateintentionality. Whether the
action is legal or illegal, the corporation establishescertain goals and objectivesfor the
purposeof carrying forth the action or intention. Corporate intention may befound in the
expresscorporate policy when an illegal act is accompanied by any one of He following three
criteria:(1)'a corporate practice or policy violates the law;(2) it was reasonably foreseeable
that a corporatepracticeor policy would result in a corporateagent'sviolation of the law;
or(3) a corporation adopts or ratifies a corporate agent's violation of 6e law", LAUFER,
William. Corporate bodies... cit., p. 59.
EDUARDOSAAD-DINIZ
COMPO/ANCESOBA PERSPECTrVA
DA CmMINOLOGIA ECON6MICA
mCARDO VILLAS B6AS CUEVA,ANA FRAZAO(COORD.)
184
COA4PLIANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOSDOS PROGRAMAS DE CONFOlZMIDADE
e resultado da conduta.5'Na linha de Lauder,significa entio que
qualidades essenciais da empresa, tal qual concretizado no cano State
uma percepgao mais madura da c07porafemerzsrea nio apenas permi-
af W7scolzsirzu. Richard Krzzzfsotz,/?zc.,7.26.1995.61
tiria a recepgaomais consistentede uma responsabilidade penal
'
empresarial "genuina" como tamb6m viabilizaria
a pesquisa crimino16gica comparada pode ser decisiva na condugao
decis6es juridical
melhor orientadas a culpabilidade proativa e reativa, inclusive coho
elementos de atenuagao ou agravamento da pena.w RCF e CE deveriam
limitar-se a interpretagaop6s-julgamento, uma vez que dificilmente
poderiam influenciar na motivagaoda sentenga.Mais delicado do
que isso, PCF e RCF poderiam motivar decis6es equivocadas sabre as
dimens6esda culpabilidade, gerando ou um "falso positivo" sobreo
comportamento da empresaem condenagaoou um "falso negativo'
na absolvigao.SP
Nenhum dessesquatro modelos corresponderiaa
interpretagao construtiva da culpabilidade, por sehmitarem a meramente
reproduzir o mesmo esquema 16gico-juridico(proxy) da responsabihdade
individual.
O carfter inovador da tese de Lauder consiste em "construir '
Ainda que incipiente e apesar de today as limitag6es cientificas,
de melhorias significativas do controle social formal das organizag6es.
Trata-sede passe fundamental para a mellor compreensao do pr6prio
dosprogramasde compZfance
na melhoria do ambience6tico negocial.
5
En/orcement e compliance
A criminologia econ6mica n3o apenas auxilia na investigagao das
causal das infrag6es econ6micas, mas tamb6m no estudo das formas de
controle do comportamento corporativo socialmente danoso, do controle
socialdo neg6cio e da avaliagao do funcionamento do Sistema de Justiga
Criminal. No que diz respeito ao funcionamento do Sistema de Justiga
a culpabilidade semmaior apegoao elemento subjetivo, extraindo o
criminal, sua realizagao cotidiana 6 a mediagao que preenche o percurso
sentido da responsabilidade a partir de datos,circunstancias, condutas e
intengao da organizagao. A construgao da responsabilidade poderia ser
adquirida a partir de infer6ncias razofveis sobre as relag6es possiveis
da realidade do crime a realidade do comportamento corporativo
entre a conduta da corporagao, as circunstfncias e a possibilidade
de conhecimento sobre as consequ6nciasda conduta, ou ainda pda
aut6nticas de manifestagao do comportamento 6tico e colaborativo.6:
aferigao de que, pelo tamanho, estrutura, complexidade seria razo6vel
185
socialmente danoso. Sua maior ou menor estabilidade 6 essencial para
a configuragao de programas de compZirznce
que expressemformas
John Hasnas,de forma bastante criativa, discute os crimes de
o conhecimento do risco da atividade empresarial.60Apesar de que a
colarinho branco particularmente envolvidos com comportamento honesto
e a partir das fung6es da comp//ance.No entanto, para se alcangar a "justiga
aferigao do subjetivo vem bem ancorada no objetivo, do ponte de vista
organizacional"(or8anfzatio?zaZ
da realizagaoprftica do Sistema de JustigaCriminal, na verdade as
inteng6es e a personalidade da organizagao importam bem pouco, se
o que de rata interessa sio os elementos caracteristicos, dimens6es e
quanto as orientag6es de compZfarzce
e gestao organizacional devem ser,
justice),
tanto as medidas
de el!#orcemerzt
senio profundamente redefinidas, ao ments revisadascriticamente.
No que diz respeito is medidas de eptjorcemerzf,
H.asnasrecupera
o estudodasbasesliberais do direito norte-americano (1) exig6ncia
de mensrea;(2) aus8nciade reponsabilidadevicariante;(3) principio
da legalidade; (4) presungao de inoc6ncia; (5) exig6ncia de prova a16m
57
58
S9
LAUFER, William. Corporate bodies... cit., p. 59.
LAUFER, William. Corporate bodies... cft., p. 60.
'RCFalso failsto capturea genuinecorporateadpability to He extentthat a reactiveprogram
of a corporationreflectsanentity's responseto the discoveryof an illegal act ratherthan he
de dQvida razofvel; (6) sigilo profissional
(af torrey c/ietzte-prius/ege);(7)
direito de nio se autoincriminar(prfuiZege aga£7zsf
self-itzcrimilzatfozz)
- para
demonstrar a certa inadequagao com as demandas de efetiva investigagao
commission of the act itself. CE model explain little in the way of organizational culpability.
They aremodelsof organizationalliability ratherthan culpability, which is madeapparent
by a summaryof circumstancesin which corporatefault may befound", LAUFER,William.
61
Corporate bodies... cit., p. 60.
60
'Constructivefault permits factfinders to move beyondthe stricturesof subjectiveevidence
of culpability in order to find corporatestatesof mind that maybe morereasonablydeduced
or inferred - with or without the assistanceof subjective evidence of the defendant. The search
is for the best possible estimation of a corporate mental state through actual knowledge,
as well as Htrough reasonableinferences",LAUFER,William. Corporate bodies.. . cft., p.
71-73
62
WALID,Steven;LAUFER, William. Why personhood doesn't matter: corporatecriminal
liability and sanctions. America?zJourlzaZ
of Cr mf7ziz!
Law, 18/1991,p. 263-287.
Excellent regulators, therefore, should seek out opportunities to encourage enterprises
to go beyond compliance, where there hold out the prospect of lifting the performance of
all regulates, or at the very least, of improving the performance of those who go beyond
compliance in a cost-effective manner", GUNNINGHAN4, Neil. Compliance, enforcement,
and regulatory excellence. COGLIANESE, Cary(Org.) Achieoi7zgreguiatoq/ excelielzce
Washington:
'r'heBrookings/
2017,
p. 199.
186
EDUARDOSAAD-DINIZ
COMPLIANCESOBA PERSPECTIVA
DA CjtIMINOLOGIA ECON6MiCA
RiCAR00 VILLAS B6AS CUEVA,ANA FRAZAO(COORO.)
COA4PU.ANCE:PERSPECTIVASE DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
da criminalidade empresarial.a Mas se as motivag6ese o car6ter nio
violento do comportamento enganosonos crimes de colarinho bronco
("there is usually no corpz£sdeZicti or 'smoking gun ' to introduce into
evidence"u), a complexa dinfmica das organizag6esempresariais deixa a
questao ainda mais delicada. Descentralizagao das estruturas societfrias,
A hist6ria recentenos EUA 6 bastanteelucidativa sobrea desorientagaoou maltade regime politico criminal na atuagaofuncional dos
6rgaos fiscalizadores. Do p6s-Guerra Mundial
ao fim da Guerra Fda, a
regulagao do comportamento corporativo socialmente danoso foi, em
linhas gerais, absorvida pdas disputas politicas de desregulamentagao
delegagao de deveres e certa pulverjzagao dos responsaveis pelos
dos mercados.
processos de tomada de decisio representam verdadeiros entraves ao
Crjmj7zfzJ
C/barges.Agailzst Corporatiotzs," o Departamento de Justiga
(Dqartmenf o#lustice-- 00D procurou especificar a discricionariedade dos
funcionamento do Sistemade JustigaCriminal justificaram determinadas
evolug6es" em tMs campos principais: (1) revisio do conceito de
responsabilidade penal empresarial; (2) produgao legislativa de novak
condutas ilicitas (com 6nfase em menor exig6ncia em termos de mezzs
rea); e a especializagao das atividades de engorceme?zt
por meio das (3)
U.S. Sentencing Commission's Sentencing Guidelines .for Organizations.a
A realizagio da justiga nos programas de compliancetem enfrentado quest6es fundantes da utica negocial nio menos decisivas, tail
como confianga, privacidade, confidencialidade e sigilo. Por um lado,
as estrat6gias de gestio, assim como analisado por Hasnas, criam determinados "bloqueios organizacionais"
(orgalzfzaffotzaZblocks), filtrando o
fluxo de informag6es e uma identificagao mais coerente entre decisio,
responsabilidade e risco.a Por outro, ao trazer para o imbito interno
as investigag6es internas e as t6cnicas de obtengao de informagao dos
instrumentos de compZia7zce,
a pr6pria empresa se assenhora do manejo
da confianga e da confidencialidade das informag6es.67
63
187
Apenas
em 1999, por meio do Holder Maemo -- Brf7zgitzg
6rgaosfiscalizadores, estabelecendotito fatores a seremconsiderados
no processo de atribuigao de responsabilidade.
As autoridades fiscalizadoras deveriam levar em consideragaoas
consequ6nciascolaterais da investigagao criminal(11. 7), especialmente
no que diz respeito ao "dano desproporcionala investidores inocentes
(sMreholders),os quaid poderiam ser injustamente lesados pdas iniciativas
de en#orcemerzt,e a incriminagao de empregados sem prova de respon '
sabilizagaoindividual. Em grande medida, o Holder.N4emo
veiculou
a crenga na capacidade de introduzir os 6rgaos fiscalizadores como
possivel estrutura de govemanga, a partir da percepgao de que a atuagao
de erljorcement impactaria em mudangas significativas na condugao utica
dos neg6cios, mas a imprecisao no emprego do crit6rio de dado colateral
foi considerada, por muito tempo, um entrave no funcionamento do
Sistema de Justiga Criminal em face da alta criminalidade corporativa.
Com a escaladados escSndaloscorporativos, com especial
6nf ase nas consequ6ncias do mundo p6s-Enron (post-ftzron world),
By making it more difficult for the prosecutionto obtain convictions,the liberal features
of the criminal law reduced its deterrent value and thereby reduced its effectivenessin
suppressing crime. Thus, Anglo-,American criminal law pur(based individuals'.protection
insistiu-se na tele da infragao do dever de vigilancia por parte dos
gatekeepers
e despertou intensa ret6rica da efetividade na prevengio is
against erroneous or abusive governmental action at the cost of individual's reduced
protection againstthe criminal activity of their fellows", HASNAS, John. Trapped;when
acting ethically is against the law. Washington: CATO, 2006,p. 18
6' HASNAS, John. Trappedt .- cff., p. 18.
of damaging their careers. By using employee hotlines, ombudsmen, or ethics officers,
organizations seekto circumvent both organizational blocks and the information-distorting
6s "The Organizational Sentencing Guidelines are designed to govem the sentencing of corporate
effects of bureaucracy and personal interest. To leam of potential legal problems( organizations
entities convicted of violating federal !aw. Becausesuch entities cannot be imprisoned, He
guidelines consist of a schedule of fines to be levied against corporate violators that are
determined on the basis of the offensecommitted and tt\e organization's corporate character
as captured by a 'culpability score"', HASNAS, p. 45" Por conseguinte, os modelos de infragao de dever nio podem se limitar a dimples violagio
de obrigag6es. Assim como pensamos, cumpre is empresas o dever positivo de criar as
condig6esnecessfrias para o cumprimento de dever: "(...) corporate managers cannot meet
their obligation to ensure that their organization is functioning both ethically and legally
67
merely by renewing the information that reaches their desks. They must actively seekout
the information necessary to form na accurate picture of what is taking place within their
organization. Thus, organizations have a positive duty to engagein ethical legal-assessment",
HASNAS, John.Trapped. . .. cit., p. 82; discutimos estasquest6esem SAAD-DINIZ, Eduardo
Brasil vs. Golias... cft., p. 45 e ss.
To learn of potential ethical problems, organizations setup altemative, usually confidential
channles of communication that allow employees to voice ethical concems without fear
authorize their corporate counsel to gather information and conduct intemal investigations
under the protection of the attorney-client privilege. This allows organizations to avoid
68
organizational blocks by going directly to the source of the information and to overcome
the obscuring effects of self-interest by assuring employees that their statements to counsel
will not be used against them at a later time. These mechanisms allow corporate.managers
to gather the information necessaryto prevent or correct ethical lapses or legal violations",
HASNAS, John. Trapped. . . cit., p 82
<https://ww.justice.gov/sites/default/files/criminal-fraud/legacy/2010/04/11/dnrging-corps'
PDFS."GezzeraZ
Pr£tzcipZe:
Corporations should not be treated leniently becauseof their
artifidal nature nor should they be subject to harsher treatment. Vigorous enforcement of
the criminal laws against corporate wrongdoers, where appropriate, nsults in great benefits
for law enforcement and the public, particularly in the areaof white co]]ar crime. indicting
corporations for wrongdoing enablesthe govemment to address and be a force for positive
change of corporate culture, alter corporate behavior, and prevent, discover, and punish
white collar crime'
EDUARDOSAAD-DINIZ
COA4PLIANCE
SOBA PERSPECTIVA
DA CmMINOLOGIA ECONOMICA
RICARoo vn.LAS B6AS CUEV:A,
ANA FRAZAO(COORO.)
188
COa,{PI./.ANCE:PEjZSPECmAS E DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
em 2003, o .rhompsolz
de corrigir excessostrazidos pdas novak t6cnicas de investigagao.A
Memorandum -- Principles of Federal Prosecution ofBusiness Organizations
questao da verificagao de direitos hmdamentais recebeu maior atengao,
infrag6es
econ6micas.'9
Derivado
deste contexto,
acrescentou a questao da responsabilidade individual em hip6teses de
revendoo sigilo profissional do advogado (fzttorrzey-elie?zt
prim;f/ege)
e
comportamento corporativo socialmente danoso. Apesar disso, nio
foi suficiente para resolver a questao da centralidade do dano, apenas
o imbito de protegao da Quinta Emenda (r€fta Ametzdmerzf)." Pouco
enfatizando a ainda mais porosa --.nogaode ("in great benefits for
law enforcement and the public"), somando ao item 11.7a "impact on
the public arising from the prosecution".'o
No entanto, a principal mudanga talvez tenha sido a an31iseda
colaboragaocom a investigag5o criminal, o que deu aos fiscalizadores
serefletiu na compreensao da efetividade da colaboragao. Autoridades
fiscalizadoras e 6rgaos reguladores passaram a debater se as empresas
um persuasivo mecanismo juridico de avaliar a resist6ncia na produgao
Criminal segue sendo bastante desorientada.'5 Como se nio houvesse
de provas e obstrug5o do Sistema de Justiga Criminal. O problems 6 que
a cooperagao, concebida inicialmente a partir da voluntariedade coma
aprendido com o fracasso das teses sobre as falhas de gatekeepers,
em
2nL5,o YatesMemo Individual AccountabiliQjor CorporateWrongdoing
sua qualidade essencial, tem fido a partir de entio sistematicamente
reW a prioridade do Departamento de Justiga, concentrando os esforgos
substitufda por t6cnicascoercitivas, desnaturando o que em tesese
concebia como regulagao responsiva. Desacompanhadas do devido
naatribuigao de responsabilidade individual.76 Em vista das mudangas
controle judicial (legislativo e jurisprudencial)
n WEISMAN, Andrew; STAIJFFER, Robert; BIJGAN, Ana. DOJ replaces Thompson
das novas estrat6gias de
politica criminal persecut6ria ': a adequagaodessasnovak t6cnicas de
investigagio com o modelo constitucional de protegao de liberdades
pessoaistem merecido a preocupagaodos juristas, tanto nos EUA
quanto internacionalmente. A oposigao/integragao entre os modelos
normativos de cooperagao e coergao representa um dos temas maid
candentes da criminologia econ6mica, ainda carente de mais s61ida
investigagao cientifica.
tempo depois,
a desorientagao
apenas apresentavam
da atuagao
programas
das autoridades
de engorcelne7zf
de "uso cosm6tico""
ou se os
programasrepercutiam de catono cotidiano da atividade empresarial.
'
Mesmo nos EUA, a realizagao prftica do Sistema de Justiga
Memorandum
74
with Mcnulty
Memorandum.
White CoZ/ar Practice 4/e7"t. 12-2006, p. 3.
NIETO MARTIN, Adan. Cosmetic Use and Lack of Precision in Compliance Programs: Any
Solution?.Eucrim,3/2012,
p. 124e ss
75
Corporatecriminal enforcementhasexploded in this country. Billion-dollar fines arenow
routine, where they were unimaginable a decade ago, across a range of industries, from Big
Pharma to the largest megabanks to defense contractors and energy companies. We have
federalprosecutorsand the Department of Justice("DOJ"), togeher with the white-collar
bar, to thank for this. Their innovations have transformed what was, in decadespast, a
backwaterareaof criminal practice, in which corporate enforcement was uncommon and any
resulting fines often quite minor, into a rapidly changing and exciting field of practice. Yet
Em 2007, o A4cNz£l@Mlemorandz£m,que manteve o name de Prfn-
deep concems remain. General Motors recently received an out-of-court deferred prosecution
cfp/es ofFeder£zZProseczztion of Business Orgarzizafforzs,72foi uma tentativa
agreementthat permits the company to avoid a conviction for concealingdefectsover many
years - actions that cost over a hundred people their lives - accompanied by no charges for
69
WEISMAN, Andrew; NEWMAN, David. Rethinking corporate criminal liability. /?zdfa?za
anyemployees. We have seenmajor financial institutions like AIG, Barclays, Credit Suisse,
HSBC,Jpmorgan, Lloyds, and UBS prosecuted repeatedly in a spaceof just a few years.Just
<http://www.americanbar.org/content/dam/aba/migrated/poladv/priorities/
imposingeye-catchingcorporatefines is not enough to generatelasting accountability
GARRET, Brandon. Response:the metamorphosis of corporate criminal prosecutions.
privilegewaiver/2003Jan20.privwaiv.dajthomp.authcheckdam.pdfs.
Virginia LazoReofew, IO1;2015, p. Apesar de que a descrigao objetiva de Garrett sejabastante
Law Jour?zaZ,
82/2007, p. 441e ss.
70
General Principle:
Corporationsshould not be treated leniently becauseof their artificial nature nor should
71
they be subject to harsher treatment. Vigorous enforcement of the criminal laws against
elucidativa, suas recomendag6espara a melhoria do Sistema de Justiga Criminal sao, no
entanto,imprecisas:(1) acordos nio devem ocorrer fora dos Tribunais;(2) deve-se dar maier
corporate wrongdoers, where appropriate results in great benefits for law enforcement and the
publicidade aos acordos, especialmente em relagao is multas efetivamente pagas e dedugao
public, particularly in the areaof white collar ci:ime.Indicting corporationsfor wrongdoing
de impostor;(3) processosdevem ser acompanhados de responsabilidade individual("(...)
enablesthe govemment to address and be a force for positive change of corporate culture,
alter corporate behavior, and prevent, discover, and punish white collar crime
'Even a casual reading of the Holder and Thompson Memos leads to the conclusion that
prosecutors used their vast discretion to craft a new set of liability rules, widxout legislative
assistance,that largely abandon principles of vicarious liability and attempt to replace the
substantive law with recognition of corporate personhood. But both sets of guidelines are
no substitutes for the substantive law. While purporting to part of a rigorous program of
corporate prosecution, the guidelines reveal an equivocation that is remarkable", LAUFER,
corporationsthat receivenon-prosecution and deferredprosecution agreementstypically
manageto insulate individuals from prosecution, although they invariably agreeto fully
cooperatewith prosecutors.When individuals are charged,they are typically low-level
William. Corporate bodies. .. cft., p. 63
employees,not higher-ups, and they often do not receive jail time";(4) 6rgaosfiscalizadores
necessitammaier recursos para atividades de etljnrcemetzt
<https://www.justice.gov/archives/dag/file/769036/downloads. "One of the most effective
ways to combat corporate misconduct is by seeking accolmtability from the individuals who
perpetrated the wrongdoing. Such accountability is important for several reasons:it deters
future illegal activity, it incentivizes changesin corporate behavior, it ensuresthat the proper
<https://www.justice.gov/sites/default/files/dag/legacy/2007/07/05/mcnulty.memo.pdfs.
partiesareheld responsiblefor their actions,and it promotesthe public's confidencein our
72
r6
189
1' "
EDUARDOSAAD-DINIZ
mCARDO VILLAS BIAS CUEXn, ANA FRAZAO (C00RD.)
COMPLJzqNCf: PERSPECTjlVASE DESAF10SDOS PROGRAMAS DE CONFORMIDADE
190
COMPLIANCE SOB A PERSPECTIVADA CRIMINOLOGIA ECON6MICA
recentesde orientagao,que retomam a imputagao penal a empresa,
talvez tenha sido precocementefestejado por doutrinadores contr6rios
a responsabilidadepenal empresarial." Mais recentemente,em 2015,
a Divisio de Fraude do DOJ sintetizou as recomendag6espara uma
a relevanciado comp/lance
ol$cernio apenasna evitagaode resultado
delitivo, mas sobretudo na promogao de melhorias substanciaisno
comportamento 6tico na empress. Ao estudo do comportamento antis-
avaliagao de efetividade
vitimizagao, qual a natureza do dano, quaid as medidas preferenciais de
restauragao)devem-se somar iniciativas que evidenciem comportamento
Eoalz£afforzof Corporate Comp/fa7zcePrograms.n
No campo da m6trica da efetividade, hf varifveis e pr6ticas bastante
decentes para media a efetividade dos programas, e ressalvas quanta
a possiveis incompletude etc.n, parece haver ainda muito terreno para
social (quem sio as organizag6es ofensoras, como sio os processor de
pr6-social e medidas de autorregulagao privada, informando novos
padr6es de controle social informal.w
investigag5o na criminologia econ6mica. A busca por evid6ncias cientificas sobre o que exerce real influ6ncia na mudanga de comportamento
Talvez assim, buscando essay converg6ncias e orientag6es
normativaspara a16mdo sensocomum da rafforza/choicee das leituras
6tico a partir de iniciativas de erljorceme7zt
segue sendo um problems
superficiais da anflise de Gustoe beneffcio e estruturas de incentivo, seja
cientifico de primeira grandeza.
possivel alcangar uma determinagao mats consistente das estrat6gias
de responsabilidade penal empresarial e uma orientagaomais coerente
A titulo de conclusio
para a realizagao cotidiana do Sistema de Justiga Criminal. Nio 6 apenas
uma questao de imposigao de deveres, nem muito menos sobrecarga das
6
As estrat6gias
de combinagao
entre enllorcemenf e comp/farzce
merecemainda maior esforgoda pesquisa crimino16gica.Por agora,
bastaria apresentar alternativas mais imaginativas do que a respon-
fung6esde complfarzce
ou mesmo a hysteria da comunicagao de operag6es
suspeitas ({7'!jormafforzouerZofzd).
O que a criminologia econ6mica tem
a ensinar aos programas de complfa?zce
6 a necessidade de priorizar
sabilidade do compZiatzce
o#icer ou dos gatekeepers.Maior sofisticagao
o controle social formal da empresa e encontrar as evid6ncias do
entre e?t#orcemelzf
e compZfa7zce
pressup6e a verificagao empirica sobre
comportamento corporativo pr6-social. Esta parece ser uma promissora
agenda de pesquisa, a partir da qual se espera que os programas de
justice system". Reconhece,no entanto, que "in large corporations, where responsibility
can be diffuse and dedsions are made at various levels, it can be difficult to determine if
someonepossessedthe knowledge and criminal intent necessaryto establish their guilt
beyond a reasonabledoubt. This is particularly true when determining the culpability
of high-level executives, who may be insulated from the day-to-day activity in which the
misconduct occurs. As a result, investigators often must reconstruct what happened based
on a painstaking review of corporate documents, which can number in the millions, and
which may be difficult to collect due to legal restrictions'
compliancepossam apresentar alguma evid6ncia de sua efetividade,
superando as narrativas corporativas convencionais e a ret6rica do
enforcement.
Informagao bibliogr6fica deste texto, conforme a NBR 6023:2002da Associag5o
Brasileira de Normas T6cnicas (ABNT)
77
AssamJesus-Maria Silva Sin(hez: "(...) Parece claro que(el YatesMaemo)conlleva un volpe
de tim6n en elAmerican Wi4/de afrontar la delincuencia de empresa y que, de algtin modo,
sevuelve al principio: a dar prioridad a la responsabilidad individual. Muchos de nosotros
tan ufanos hablando de la identidad corporativa, del "ef/zos"y el "paf/zos"de la persona
SAAD-DINIZ, Eduardo. Co/tip/lancesob a perspectiva da criminologia
econ6mica.In: CUEVA, Ricardo Villas Bias; FRAZAO, Ana (Chord.)
Comp/fence:perspectivas e desafios dos programas de conformidade. Belo
Horizonte: F6rum, 2018. p. 167-191. ISBN 978-85-450-0564-3.
juridica, de su ciudadania... Tan contentos con que la eximente de Modelos de Prevenci6n
de Delitos de julio 2015supuestamentereforzabaesaidea de autorresponsabilidad y, al
final, resulta que los americanos nos salen con que hay que centrarse en los individuos y,
en especial, en los administradores y directives", Sll.VA SANCHEZ, Jesus-Maria. Yates
Memorandum. llzDref PelzaZ,
4/2015
78
79
Companies routinely produced large binders of policies and procedures and counted the
number of controls in their financial systems. And yet they offered no evidence of having
tested those policies, procedures, and controls, nor did they track how many breachesthey
had experienced.A company might cite its long-standing internal whistle-blower program,
for instance, but not have data on the program's rate of usage by employees. Firms also
routinely reported how many times they had trained wrongdoers on the very topic of their
misconduct, apparently blind to the irony of defending their compliance efforts that way
CHEN, Hlui; SOLTES,Eugene.Why compliance programs. .. cft.
CHEN, Hui; SOLVES,Eugene.Wrhy compliance programs. . . cit.
BOPARKER, Christine. 7be opetzCoyorafiolz; e#ecfizieself're8z£llztfo
z atzddemocrat. Cambridge
Cambridge Press,2002, p. 31e ss.;LAUFER, William. A very special regulatory milestone.
cft., p- 16 e ss
191