1
JOSUÉ 4
Memoriais da fidelidade de Deus
Questões Introdutórias:
O que aquelas doze pedras significavam?
Por que os líderes deveriam pegar as pedras?
Por que a Arca teve que ficar todo o tempo dentro do Jordão?
Que memoriais nós temos que ter hoje?
Esboço Sintético
1. As 12 pedras carregadas pelos 12 líderes das tribos de Israel simbolizam o Poder e
a Fidelidade de YHWH (vs. 1-18);
2. As 12 pedras colocadas em Gilgal eram (vs. 19-24):
a. Um legado para que as próximas gerações temam a YHWH;
b. Um símbolo do Poder de YHWH para as nações vizinhas de Israel;
Esboço Expositivo
1. Jesus o nosso memorial deve ser lembrado com frequência para não esquecermos
o Poder e a Fidelidade de YHWH;
2. A vida, morte e ressurreição de Jesus deve ser símbolo de:
a. Um legado aos nossos filhos para que eles temam ao Senhor;
b. Uma demonstração clara do Poder de Deus para todos os povos.
Resumo
Os monumentos memoriais erguidos por Josué, e os representantes das 12 tribos,
serviam como uma lembrança às próximas gerações de Israel que eles deveriam temer ao
Senhor e para as nações que cercavam Israel do Poder do Deus de Israel.
2
Introdução
Esta introdução do livro de Josué parece um paralelo direto com o Êxodo:
ÊXODO
YHWH esteve com Moisés
YHWH abriu o mar
YHWH pediu para Moisés tirar as sandálias
(diante da sarça ardente)
Israel saiu do Egito no 10º dia do 1º mês
(nisã – Março/Abril) – Celebraram a páscoa
JOSUÉ
YHWH esteve com Josué
(assim como com Moisés)
YHWH abriu o rio Jordão
(assim como com Moisés – Js 4.23)
YHWH pediu para Moisés tirar as sandálias
(diante do general do Exército de YHWH)
Israel cruzou o Jordão no 10º dia do 1º mês
(nisã – Março/Abril) – Celebraram a páscoa
O livro de Josué é a conclusão do livro de Êxodo, 40 anos depois, no mesma data da
saída do Egito, Israel entra na terra prometida, os pontos de semelhança entre os eventos
é incrível, o texto aponta para a frase de YHWH para Josué, mostrarei que estou com você
“assim como estive com Moisés”, e não poderia ser mais precisa a semelhança. Deus
cumpre suas promessas nos mínimos detalhes.
OS CARREGADORES DA ARCA
Os levitas que carregavam a arca pisaram nas águas do Jordão e o rio parou de correr,
uma parede de água enorme se formou e o chão seco apareceu. O fundo do Jordão é
pedregoso e cheio de seixos, a terra da região é arenosa.
O povo de Israel se santificou, estavam puros para admirarem a ação de Seu
poderoso Deus, Ele abre as portas da terra prometida, com chave de ouro, para eles
entrarem. E Israel entra na terra, contra todas as possibilidades, um rio caudaloso e
violento, em sua estação de cheia, chuvas e desgelo das montanhas ao norte, as bordas
transbordantes, nada disso, nem toda força pujante da natureza podia impedir a entrada
de Israel na terra que Deus lhes havia prometido.
Mas, antes de olharmos para o memorial que caracteriza este capítulo, gostaria de
focar em uma pequena informação dada nos vs. 9-11, onde é dito que os levitas que
carregavam a arca ficaram no meio do rio até que todo o povo atravessasse, e que os dois
memoriais fossem construídos, um na margem e outro dentro do rio.
Em Levíticos 10.8 (cf. tb. 1Cr. 15.2) são os levitas encarregados de carregarem a arca,
que pesava em torno de 120 kg, eram quatro homens, para carregar a Arca, o peso era tão
grande que mais tarde (1 Crônicas 15.26) YHWH precisou ajudar os levitas a cumprirem
essa função.
O texto de Josué afirma que o povo passou apressadamente, mas quanto tempo
esses homens ficaram em pé ali no meio do rio sustentando a pesada arca que simbolizava
a presença de YHWH entre Seu povo.
Eles foram os primeiros a se lançarem nas águas bravias, eles ficaram talvez uma hora
ou mais em pé segurando a pesada arca e esperando o povo todo atravessar, além dos dois
memoriais, foram os últimos a cruzar o Jordão.
3
Este é o papel dos sacerdotes, ir à frente, lidar com o peso, servir aos propósitos de
Deus, para o bem do povo de Deus, e ser o último a desfrutar dos benefícios da alegria de
cruzar o Jordão.
Antes de falarmos do memorial, outra pausa deve ser feita, 12 homens, deveriam
pegar cada um uma pedra, pesada, de 30 a 50 kg, conforme conseguissem carregar, estes
eram os líderes políticos da nação, os príncipes de Israel, representantes de cada uma das
12 tribos de Israel.
Os líderes são responsáveis por carregar as pedras, eles deveriam fazer a força bruta,
para construir um memorial da ação de Deus, do poder do Senhor, da força do Senhor,
para a glória do Senhor, esta mensagem é enfática.
Em tempos onde sacerdotes estão cercados de conforto, onde muitos são servidos
pelo povo, onde eles são os primeiros e não os últimos, os que menos fazem força, que
menos colocam a mão na massa, que menos server, não pegam fila, têm camarim com
coffee breaks luxuosos, gabinetes suntuosos, que recebem salários altíssimos e constroem
prédios e ministérios para exaltação de seus próprios nomes, este texto é incrível e
revelador.
Os sacerdotes são os que fazem o trabalho duro e pesado para que o povo desfrute
da terra, os sacerdotes são os primeiros a demonstrarem força, coragem e fé, pondo o pé
nas águas para que o povo cruze, os sacerdotes e líderes são os que carregam nos ombros
as pesadas rochas que lembram ao povo o poder e a glória de Deus. Que este seja também
um memorial eterno para todo sacerdote do Senhor.
Estes homens representavam a Cristo, Ele Jesus, era o verbo e a Lei de Deus como as
tábuas da Lei de Moisés dentro da Arca, Ele é o pão que desceu do céu, como o pote de
maná dentro da Arca, Ele é o símbolo máximo do poder de Deus, como a vara de Moisés
dentro da Arca que os sacerdotes seguravam, dEle era o trono que a arca simbolizava, onde
hoje Ele está assentado à direita do Pai, Ele foi o primeiro a pisar as águas da morte para
dar a ressurreição, Ele é quem trabalhou para fazer o povo de Deus entrar na terra
prometida, Ele é a própria terra prometida, Ele é a pedra angular, a rocha da salvação,
sobre a qual toda a igreja é edificada e se sustenta, Ele Jesus, é o memorial da ceia que
tomamos, é seu sangue e seu corpo que lembramos, é a Ressurreição dEle, que garante a
nossa, tudo aqui é sombra do que Jesus era, e os sacerdotes são os instrumentos de Deus
que representam o sacerdócio de Jesus Cristo.
“A pesar de que, o nosso Deus é todo poderoso, e nada lhe é impossível,
Ele não faz milagres desse tipo todo dia. Por isso, a necessidade de um
memorial, exatamente para Ele não ficar abrindo rio todo dia, Ele abriu
um e fez um memorial. Eu sei que tem muita gente que quer que Deus
faça milagre todo dia, mas grande parte dos milagres Bíblicos estão
relacionados com a história da redenção. Deus agindo na história, até que
ele culminasse na vinda de Seu Filho, Jesus Cristo, que é a revelação final
de Deus. Nós não esperamos que Deus faça hoje milagres deste tipo, como
abrir um rio para um milhão de pessoas atravessar. Ou fazer chover pão
do céu 40 anos, para sustentar um povo no deserto. Ou fazer com que o
sol pare, nós não esperamos que Deus faça isso hoje. Embora, Ele seja
poderoso para fazer. Por quê? Porque estas revelações extraordinárias
faziam parte do plano de Deus de se revelar progressivamente, de
preparar a história para a chegada dAquele que seria o acontecimento
mais miraculoso de todos, que foi quando Deus tomou forma humana e
4
veio habitar entre nós, que é a Sua revelação final, maior e última. Então
eu não estou negando que Deus não possa fazer milagres hoje, o que eu
estou dizendo é que Ele não promete que Ele vai fazer, esses milagres
extraordinários hoje. E é por isso que nós temos a Bíblia, é por isso que
nós temos este memorial, porque aqui nós temos os registros destes
sinais, para que lendo esses registros, pra que meditando a respeito deles
nós creiamos no Deus todo poderoso”.1
Agora, eu posso estar falando besteira, mas é evidente em o AT que os sacerdotes e
levitas deveriam ser um exemplo para o povo, eles só poderiam tocar a Arca da Aliança,
para carrega-la, se tivessem puros. Além disso são claras as exigências feitas para seus
casamentos e filhos. Estes homens também iam à frente do povo do Senhor com a arca e
somente atrás deles é que vinham os 40 mil homens armados, eles iam à frente do próprio
exército de Israel, deixando claro sua confiança no Senhor, para vencer as batalhas, mais
do que na espada. Israel vencia a batalha porque o Senhor ia à frente, e não porque tivesse
um grande exército e poderio militar suficiente. De nada adiantariam os milhares de
homens diante do rio caudaloso. Os inimigos deveriam temer a chegada da Arca de YHWH,
o Deus de Israel, e era o que de fato acontecia, vide as palavras de Raabe no capítulo 2 do
livro.
É interessante lembrar que no Novo Testamento, quando se fala dos presbíteros,
líderes da Igreja, é também exigido deles que eles sejam padrão para os fiéis de santificação
e pureza, também é ordenado à eles que apontem para os memoriais de Deus; as
Escrituras, o Batismo e a Ceia. Dentro de suas casas é exigido que suas famílias sejam cristãs
e de bom testemunho, tanto esposas quanto filhos, mostrando que primeiro de tudo ele
pastoreia sua própria casa. Também é dito que ele deve ser respeitado pelos de fora da
igreja, mostrando uma vida de temor reverente e de manifestação do poder de Deus em
sua vida. Ou seja, os paralelos são inúmeros, e não devem ser ignorados.
Não basta ser um brucutu forte para carregar a arcar do Senhor, é preciso ter um
espírito servil e humilde, ser o servo de todos, precisa ir à frente da batalha, com a cara, a
coragem e a fé, sabendo que as batalhas do povo de Deus são vencidas pela fé e não por
espadas e braços habilidosos, eles também precisavam cuidar de si mesmos, de sua
santificação, e família, que era o que os qualificava para segurar a Arca do Senhor. Sua casa
precisava viver em fidelidade ao Senhor, e os seus filhos deveriam ser os primeiros a nunca
se esquecerem do temor do Senhor. Também os outros povos, não seguidores de YHWH,
deveriam ver, através dos memoriais estabelecidos por Deus, a ação do Poder do Senhor
nEle e assim, glorificarem ao Senhor, como Raabe.
Esta é uma obrigação para os Presbíteros no Novo Testamento também, porém, se
considerarmos o sacerdócio universal de todos os crentes, estas são características que
todo crente deve obrigatoriamente ter e buscar também.
1
NICODEMUS, Augustus. Memorial das 12 pedras - Rio Jordão - Josué Cap 4. Publicado em 10/11/2016. In:
https://www.youtube.com/watch?v=NpUcvpWIPcw (acessado em 09/05/2019).
5
YHWH VAI À FRENTE DE SEU POVO
Além disso, precisamos lembrar que a Arca da Aliança representava o trono de Deus,
e sendo assim, Sua presença em meio ao Seu povo. Desta forma, Deus também juntamente
com Seus sacerdotes foi à frente do povo, foi Ele, Sua presença e Poder que abriu as águas.
Este fato é bastante importante em termo dos deuses de Canaã, os Canaanitas eram
adoradores de Baal, e Baal era um deus admirado em seu panteão por ter derrotado seu
irmão Yam, o deus das águas. Ao abrir o mar de vermelho, ao fazer jorrar água da rocha,
ao parar o curso do Jordão em sua cheia, YHWH está mostrando para Israel que Ele é
superior à todas as divindades cridas pelos canaanitas.
Waltke ainda nos lembra a questão do julgamento dos deuses através das águas:
“No antigo Oriente Próximo, uma prática comum para conseguir um
veredito dos deuses era fazer com que o acusado concordasse em ser
lançado no rio. Caso se afogasse, os deuses o estavam declarando
culpado; se isso não acontecesse, os deuses o estavam declarando
inocente (cf. Nm 5.16-28). A ser o primeiro a entrar no Jordão e
permanecer no leito do rio durante todo o tempo em que a nação faz a
travessia, Eu Sou passa pelo ordálio da água. O triunfo de Eu Sou e de seu
povo na travessia do rio comprova que é justa a reivindicação da terra.
Não é de surpreender que os reis cananeus ficassem amedrontados
(5.1)”.2
UMA REPRESENTAÇÃO DAS 12 TRIBOS
Aquelas pedras não são simplesmente 12 pedras quaisquer, elas representam as 12
tribos, sim, as mesmas 12 tribos pecadoras que não creram em Deus, as mesmas que
mesmo depois de muito tempo, foram ingratas no deserto e murmuraram e reclamaram
dos pães de Deus, da água que Deus proveu, dos líderes que Ele estabeleceu, eram as
mesmas 12 tribos que ainda desejavam voltar para o Egito onde eram escravos, as mesmas
tribos que morreram em 38 anos de deserto. Estas tribos ingratas e pecadores, e que
estavam cruzando as águas e experimentando o poder da Graça, do Amor, da
Longanimidade, das Misericórdias de Deus.
Estas doze tribos precisavam ser lembradas disso, de que Deus salvou Israel e os fez
cruzar o Jordão por amor de Seu próprio nome, para louvor de Sua glória. Sim, eles
precisavam ser lembrados porque facilmente esqueceriam.3
É por isso que a Bíblia precisa ser pregada, precisa ser relida todo ano, precisa ser
estudada em Escolas Dominicais e Devocionais, precisa ser cantada em nossos hinos, é por
isso que precisamos decorar versículos, é por isso que precisamos ouvir pregações culto
após culto, porque facilmente esquecemos do que Deus fez por nós, facilmente nos
2
3
WALTKE, Bruce K. Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética, canônica e temática. São
Paulo: Vida Nova, 2016. p. 582-583.
Como, de fato, esqueceram, o livro de Juízes na sua introdução nos relata que a segunda geração após
Josué já não lembrava mais quem era YHWH, nem de Seus grandes feitos por Israel. A geração seguinte,
como vemos na história de Eúde, ergueu outros memoriais, à Baal, a quem adoravam e serviam.
6
tornamos ingratos, facilmente abandonamos o Senhor, duvidamos de Seu poder e
negamos Sua Glória.
UM DEUS MEMORÁVEL
Além disso, esse não era um memorial que se via todos os dias, os judeus não
passavam semanalmente ali, este memorial era só o símbolo visível que os pais deveriam
apontar para os filhos em uma das viagens épicas da família para negociar mercadorias no
Egito, ou para visitar parentes das duas tribos que ficaram na Cisjordânia. Era um marco
para ser mencionado, como os grandes símbolos do mundo moderno, a torre Eiffel de
Paris, a Estatua da Liberdade em Nova York, o monumento às bandeiras no Ibirapuera.
Estes monumentos têm o propósito de contar a história de um povo, de marcar seus pontos
autos, suas maiores vitórias, esses monumentos descrevem uma cultura, um estilo de vida,
uma fundação de um povo, e no caso de Israel, demonstrava que a nação tinha seu
fundamento mais firme em YHWH, o Deus que abriu o Jordão, o Deus das doze tribos, de
Abraão, Isaque e Jacó, o Deus da Lei de Moisés, o Deus do Maná no deserto, o Deus que
criou o céu e a terra e controla todos os elementos.
As repetições são extremamente importantes no Hebraico, e neste texto não é
diferente, o ponto central deste texto é o motivo do memorial repetido duas vezes na
passagem, na primeira vez é YHWH quem fala com Josué e a ênfase é dada na necessidade
e importância do memorial, a segunda repetição está na fala de Josué ao povo e a ênfase
está no motivo do memorial.
YHWH fala para Josué:
“Elas serão um monumento entre vocês.
No futuro, seus filhos perguntarão: ‘O que significam estas pedras?’,
e vocês dirão:
‘Elas servem para nos lembrar que o rio Jordão parou de correr quando a
arca da aliança do Senhor passou por ele’.
Essas pedras serão uma recordação no meio dos israelitas para sempre”
(Josué 4.6-7)”.
Três palavras diferentes são usadas no texto aqui, a primeira delas é ’( אוֹתôt) a
palavra descreve um “sinal”, o equivalente do grego shmei``on (sēmeîon), ou seja um sinal
distintivo pelo qual alguma coisa é conhecida, descrita ou representada (como logotipos
de marcas de roupas e carros hoje em dia). Assim, em Gênesis 1, Deus coloca o Sol e a Lua
como sinais das estações do ano, e o sinal do Arco-íris, um alo colorido formado pela luz
solar atravessando gotículas de água, e dado à Noé mostrando que Deus não destruiria
mais a terra com água. A circuncisão era um sinal da aliança por meio de filhos com Abraão.
“A palavra ’ôt algumas vezes significa “indício”. Por exemplo a vara de
Arão deveria ser um “sinal (indício) para os rebeldes” (Nm 17.10). Na
mesma categoria se encontram as pedras do Jordão (Js 4.6), “as lâminas
7
para cobertura do altar” (Nm 16.38[17.3]) e a coluna de testemunho no
Egito (Is 19.19, 20)”.
Ou seja, as pedras apontavam para um fato passado, o cruzar do Jordão à seco, que
serviam de clara indicação, prenúncio, de que o Senhor sempre livraria Seu povo, e sempre
os traria de volta para a terra que Ele lhes prometeu dar à Eles. Isso deveria leva-los a temer
o Senhor.
ָ ( ִזzicārôn), esta palavra descreve
A segunda palavra usada aqui na passagem é כּרוֹן
um “memorial”, em geral um objeto que serve para relembrar alguém de alguma coisa,
sendo assim, registrar um acontecimento para que seja memorável. Deste modo, a festa
da Páscoa e a subsequente festa dos pães ázimos eram um memorial (Êxodo. 12.14, 13.9)
do livramento da escravidão no Egito.
Josué fala para Israel:
“Então Josué disse aos israelitas:
“No futuro, seus filhos perguntarão: ‘O que significam estas pedras?’,
e vocês darão a conhecer:
‘Aqui o povo de Israel atravessou o Jordão a pés enxutos’.
Pois o Senhor, seu Deus, secou o rio diante de seus olhos e o manteve seco
até todos vocês atravessarem, como fez com o mar Vermelho quando o
secou até que todos vocês tivessem atravessado.
Fez isso para que:
todas as nações da terra saibam que a mão do Senhor é poderosa
e para que vocês temam o Senhor, seu Deus, para sempre”
(Josué 4.21-24).
A terceira palavra se na repetição da ordem, quando Josué a transmite ao povo, e é
o verbo תּם
ֶ ( הוַֹדְעhôda‘etêm – Perf. Hifil 2ª MS de “ – ידעtu darás a conhecer”) no Hifil
o verbo expressa a manifestação, a revelação ou a indicação de um certo conhecimento
algo que deve ser utilizado para ensinar, instruir, explicar algo a alguém. O verbo tem uma
forte conotação do ensino parental.
Portanto, as pedras em si não tinham poder algum, elas não deveriam ser adoradas,
não se deveria prestar culto à elas ou qualquer coisa do tipo, rituais não seriam realizados
ali e aquele não era um local de culto, seu propósito era lembrar as futuras gerações os
grandes atos que o Senhor fez no passado.
Os pais, todas as vezes que passassem naquele local deveriam lembrar aos seus filhos
que eles só estavam naquela terra porque YHWH a deu para eles. Que seus pais receberam
a terra do Senhor, como cumprimento da promessa e da Aliança feita com Abraão.
Conhecendo as crianças tenho certeza que perguntas se seguiriam: Por que Deus
prometeu uma terra para Abraão? De onde Abraão era? Como ele veio parar aqui? E por
que o povo de Israel saiu da terra que Deus tinha prometido para Abraão? E por que eles
foram para o Egito? Etc...
8
Crianças são curiosos, sempre foram, e com certeza ao passarem por aquela pedra
suas perguntas obrigariam seus pais a recontarem as histórias de Gênesis, Êxodo e
Números. E assim, de pai para filho de geração em geração.
Quais são os memoriais que temos em nossas vidas hoje que mostram aos nossos
filhos a nossa fé o tamanho do nosso Deus e como Deus é grande e poderoso na história
de seu povo? Em que lugares passamos e vemos a ação de Deus em nossas vidas?
ILUSTRAÇÃO
Ano passado fui passar o Ano Novo em Ribeirão Preto, cidade onde
me criei, tive oportunidade de levar os meus filhos para um passeio, os
levei na escola onde estudei, na casa e no bairro onde cresci e na Igreja
onde me converti. Em cada um desses lugares contei para eles histórias
de como Deus trabalhou em minha vida e me salvou.
Também sempre conto para eles as igrejas onde já pastoreamos, já
levei eles no apartamento onde eu e Arite fomos morar assim que nos
casamos, contei como foi o trabalho naquela igreja o que fazíamos,
quanto ganhávamos de salário, como Deus nos sustentou, como ele nos
abençoou para arrumarmos nosso carro quando quebrou.
Enfim, também na parede de nossa casa temos quadros e objetos
que são memoriais, da história deles e nossa, de como Deus tem
abençoado nossa família, de como Deus tem demonstrado seu Poder e
Fidelidade para conosco.
O ATO MEMORÁVEL DE YHWH
A nação de Israel estava diante de um obstáculo intransponível para entrar na terra
prometida, o Rio Jordão em seu período de cheia. Não havia nada que eles pudessem fazer,
se tentassem cruzar o rio morreriam antes mesmo de entrar na terra. Então, YHWH toma
a atitude, Ele mesmo entra no rio mortal, e para suas águas, Ele permanece assentado em
Seu trono permitindo que Seu povo seja livre da morte e entre na terra prometida.
Nós também estamos diante de um rio intransponível para entrarmos no céu, a
morte e o pecado. E não há nada que possamos fazer de nós mesmos para tentarmos cruzar
este rio. Porém, o Pai enviou Seu Filho Jesus Cristo, que adentrou as águas mortais e para
seu fluxo, Ele com seu poder venceu a morte, e ressuscitou, e agora está neste momento
assentado em Seu trono intercedendo por nós, para que todo aquele que nEle crer, cruze
o rio mortal e adentre a terra prometida.
UMA MEMÓRIA COLETIVA
Porém, não podemos cometer uma injustiça aqui com este texto, o memorial não é
sobre o que Deus fez na vida de um indivíduo, mas sobre o que Deus fez na vida de um
povo. Também não se trata para o que desejamos passar aos nossos filhos, mas ao que
9
devemos passar para a próxima geração do povo de Deus.
Nós somos bons em contar aos nossos filhos nossas histórias, mas será que sabemos
contar para eles as histórias de nosso povo, do que Deus fez na Igreja Batista, do que ele
fez em nossa igreja local, de como ele tem agido no meio dos cristãos brasileiros e no resto
do mundo. Será que conhecemos essas histórias, será que temos nossos próprios
memoriais como Igreja Batista? Como Igreja local? Como povo evangélico brasileiro?
A PODEROSA MÃO E O TERROR DE YHWH
O último ponto a se destacar, quanto a necessidade do memorial, é o testemunho
para a nações de que a mão do Senhor é poderosa. A mão do Senhor é um termo muito
usado em todo o Antigo Testamento, geralmente se referindo à mão direita, e geralmente
se referindo a força e poder. No caso aqui, a mão do Senhor poderosamente parou o Jordão
e represando suas águas caudalosas.
A questão em foco aqui, como na anterior não é o povo de Israel, mas a reputação
do nome do Senhor, o Senhor é Temível e Poderoso, Ele deve ser por isso temido e os povos
em torno de Israel devem reconhecer o poder dEle, seja por rendição, como Raabe ou os
Gibeonitas, seja por aniquilação, como Jericó e Aí, mas o fato é que Senhor será honrado
através de Suas ações poderosas por meio de Israel.
Estas duas afirmações a cerca de Deus nos mostra que Ele quer ser temido por Seu
povo e reconhecido como Poderosa através de Suas ações em favor do seu povo. Ele deseja
ser reconhecido conforme Seu caráter, Sua natureza.
Sabemos que o povo de Jericó temia ao Senhor, porém ao invés de adorá-lo se
colocaram contra seu povo, com exceção de Raabe. Porém, também sabemos que apesar
de todas as maravilhas e sinais que Deus havia feito para Israel, o temor não foi algo muito
comum à Eles.
Este contraste entre quem teme e se rebela, pois não reconhece Sua Soberania
(poder) e quem vê e recebe o Poder mas não teme é impressionante na conclusão do texto,
e abre um panorama para toda a realidade de Israel e seus vizinhos no Antigo Testamento.