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O Desenho no Ensino da Arquitectura

2016

Reflexão sobre a importância do Desenho no ensino da arquitectura. Conferência proferida em 2016 na Ordem dos Arquitectos, no Porto

O DESENHO NO ENSINO DA ARQUITECTURA Introdução Vejo com alguma preocupação a forma como o desenho vai perdendo lugar no ensino da arquitectura. Alguns alunos que vêm de outros países chegam mesmo a afirmar que a disciplina não existe nas suas faculdades. Como poderá o arquitecto expressar-se, “materializar”, visualizar a sua ideia sem o auxílio dessa “ferramenta” que é o desenho? 1. Do “Zeitgeist” e da importância do desenho. O desenho como reflexo do “espírito do tempo” Os desenhos de apontamento, ou esquisso, nem sempre tiveram a expressão actual. Creio que o que hoje temos como expressão dominante é um reflexo do modernismo, sobretudo da escola “corbusiana”, em que predomina a linha caligráfica. (Exemplos de desenhos de arquitectos) Sant’Elia, MacKintosh, etc. A necessidade de responder rapidamente às solicitações do mundo moderno levou a um desenho de apontamento rápido e despojado, também de acordo com as características do movimento moderno. É eliminado qualquer elemento tido como supérfluo e até a côr. No entanto o desenho é sempre o aspecto pelo qual a arquitectura segue o “espírito do tempo”. É no desenho e através dele que melhor se verifica e entende a “contemporaneidade” da obra, a qual, no entanto, não deverá ficar-se só pelos aspectos aparentes. É também através do desenho que melhor se nos é revelado o “Genius Locci”, o espírito do lugar. 2. “Pensar com as mãos” e as dimensões da arquitectura (Campo Baeza) O desenho como “ferramenta” do arquitecto. Vemos a história da arquitectura pelo ponto de vista do historiador e não do arquitecto. Para a arquitectura o tema central é o espaço e cada época atribui à arquitectura uma “dimensão”1. Neste sentido, é sempre pelo desenho que o arquitecto “resolve” os problemas da sua época. Talvez a única dimensão que não foi alcançada com recurso ao desenho tenha sido a simbólica. A arquitectura só faz sentido se ajudar a resolver os problemas da sua época. Esse foi o enorme legado do Movimento Moderno, que caracterizou e atribuiu uma nova dimensão à arquitectura que não podemos olvidar. 1 As dimensões da Arquitectura 3. Desenho. Expressão e arte. O desenho como forma de expressão Voltando ao desenho apresentado no início. Para Le Corbusier a arquitectura era o equilíbrio entre a arte e a técnica. Hoje a técnica parece adquirir uma prevalência relativamente à arte. O afastamento da arquitectura relativamente às outras artes tem-se revelado empobrecedor da arquitectura e está-se a perder a forma de expressão. Conclusão É sobretudo através do desenho que o arquitecto se expressa. A obra construída é sempre um resultado, embora depurado e extremamente condicionado dessa expressão. A complexidade aumenta, os projectos apresentam formas cada vez mais arrojadas e esquecemo-nos que, como referia Mies Van der Rohe: “o que prevalece são as ideias e não as formas”. Manuel da Cerveira Pinto Dezembro de 2016