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SOS Bestança!...

1994, Jornal Miradouro

Artigo sobre a necessidade de salvaguarda do património natural e construído local, nomeadamente sobre o vale do Rio Bestança

S. O. S. Bestança! O Bestança corre perigo! Urge criar rapidamente a zona protegida da área da foz do Bestança (do chamado Poço das Aveleiras a Porto Antigo), pois é aqui, de momento, que se verifica o maior perigo de descaracterização e destruição. As causas deste perigo são várias e vão desde a destruição das margens, através da construções de carácter duvidoso e arquitectura medíocre, que vão proliferando aleatóriamente desde a zona das Cinco-Rodas até Porto Antigo, enquanto as tradicionais casas de arquitectura popular se desmoronam, abandonadas ou são simplesmente destruídas (!!??), até à iluminação nocturna de algumas zonas particulares, que a falta de gosto, aliada a uma provável necessidade de ostentação de contornos exibicionistas, fazem parecer cascatas sanjoaninas ou árvores de natal, no que constitui um manifesto exemplo do que é vulgar considerar-se poluição luminosa. A zona das Cinco-Rodas encontra-se massacrada a todos os níveis. Apesar dos nossos protestos aí se ergueram os tanques da truticultura, portentosas estruturas de betão, que hoje se verifica estar mal colocadas e que vieram tornar mais difícil (mas não impossível) a criação da PRAIA FLUVIAL, há tanto tempo prometida, tanques estes que, afirmámos então, deveriam estar colocados numa zona superior, junto à levada sobranceira, que se encontra seca e que, defendíamos, deveria ser recuperada e reactivada. O tempo acabou por nos dar razão, pois que se pensa agora recuperar o açude e a mesma levada, ter-se-ia evitado a construção da truticultura naquele local e seria completamente dispensável andar a fazer acessos e estradas à sucapa, para a beira rio, destruindo as margens e a paisagem, fazendo mais muros de betão e destruindo aquele magnífico local de lazer, que se vai tornando cada vez mais difícil e dispendioso recuperar e que se deveria manter natural, intacto e impoluto. Evitar-se-ia, pois, mais este ATENTADO contra ao rio Bestança (ver fotografia 1). Desta forma nada se conseguirá a não ser a destruição total da zona da foz do Bestança... Contudo, outros problemas coexistem de gravidade acentuada que convém não descurar e que se prendem como o excesso de veraneantes que confluem, cada vez mais, às Cinco-Rodas e que, a não serem tomadas as medidas necessárias, poderá acarretar problemas, não só para o rio, como para as próprias pessoas. Aqui, o principal problema prende-se com a higiene e a limpeza, pois tratando-se de um local natural não possui meios de receber o lixo que as pessoas, desrespeitosamente deixam por todo o lado e que depois, temos que juntar e queimar. O facto de também não haver sanitários torna- se grave, havendo, com o tempo, perigo de infecções e contágios. Neste momento o Poço do Morangueiro, nas Cinco-Rodas, recebe mais pessoas do que as que pode comportar e por isso corre sério perigo de destruição (ver fotografia 2). É urgente a criação da PRAIA FLUVIAL das Cinco-Rodas, (para que o Poço do Morangueiro possa sobreviver sem mais atentados), uma estrutura que permita receber condignamente os visitantes/veraneantes do Bestança, que lhes dê as condições necessárias e ao mesmo tempo preserve e melhore, inclusive, o rio que sem dúvida o merece. Uma estrutura que, à dimensão da sua localização, tenha todas a infra-estruturas necessárias, desde: praia fluvial, campismo, sanitários, chuveiro, piscina, lazer, esplanada, zona de lanches e merendas, ancoradouro, barcos de recreio (gaivotas), etc... Cinfães já tem Plano Director e isso é importante, porque é importante planear, diria mais, é urgente e neste caso cada minuto que passa sem o devido planeamento é um sério risco, a não ser que a estrada que agora construíram para a truticultura já estivesse no Plano Director, o que não parece ser o caso, pois que não a conseguimos descortinar... Neste momento a criação da Zona Protegida da Foz do Bestança, integrando um plano de pormenor que contemple o seu desenvolvimento nos mais variados aspectos, incluindo a criação da praia fluvial das Cinco-Rodas, não é apenas mais um velho sonho ou uma obra urgente; não é apenas uma necessidade...é um imperativo! Legendas das fotografias: 1. Zona das Cinco-Rodas, em que se vê o acesso construído para os tanques da truticultura, (que poderia ter sido evitado), feito sem o mínimo de cuidado. Um local privilegiado, que o próprio Plano Director Municipal contempla como zona protegida. 2. Poço do Morangueiro, junto às Cinco-Rodas, em dia de grande movimento (15 de Agosto de 1994). O espaço torna-se exíguo e sem condições para receber tão grande fluxo de pessoas, aportando problemas ecológicos para o rio e de saúde para as pessoas. (Uma estimativa apontaria, nesse dia, para cerca de meio milhar de veraneantes entre Pias e as Cinco-Rodas). Manuel da Cerveira Pinto [Membro da Associação Para a Defesa do Vale do Bestança] Setembro de 1994 [Publicado no Jornal Miradouro n.º 970, de 14 de Outubro de 1994]