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OPEN ACCESS CIVITAS Revista de Ciências Sociais Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 e-ISSN: 1984-7289 ISSN-L: 1519-6089 http://dx.doi.org/10.15448/1984-7289.2020.2.31448 ARTIGOS/ARTICLES Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying In capturing of a crafty agency: lessons from an ethnography with children about uses of the notion of bullying En captura de una agencia astut: lecciones de una etnografía con niños sobre los usos de la noción de bullying Juliane Bazzo1 orcid.org/0000-0001-6196-3482 bazzojuliane@gmail.com Recebido em: 19 jul. 2018. Aprovado em: 2 out. 2019. Publicado em: 4 ago. 2020. Resumo: Este artigo aborda interpelações teóricas, metodológicas e éticas le- vantadas ao se abraçar crianças enquanto sujeitos de pesquisa em uma etnografia da agência da noção de bullying na contemporaneidade brasileira. Para situar esses desafios em um contexto empírico, a exposição delimita como estudo de caso as conexões que as crianças hoje estabelecem entre o agenciamento desse conceito e a atribuição de apelidos pejorativos entre pares escolares. Palavras-chave: Bullying. Agência. Infância. Educação. Etnografia. Abstract: This paper deals with theoretical, methodological and ethical questions raised when embracing children as subjects of research in an ethnography of the agency of the bullying concept in Brazilian contemporaneity. In order to situate these challenges in an empirical context, the paper delineates as a case study the connections that children today make between the agency of this concept and the attribution of pejorative nicknames among school peers. Keywords: Bullying. Agency. Education. Childhood. Ethnography. Resumen: Este artículo aborda interpelaciones teóricas, metodológicas y éticas planteadas al abrazarse a niños como sujetos de investigación en una etnografía de la agencia de la noción de bullying en la contemporaneidad brasileña. Para situar estos desafíos en un contexto empírico, la exposición delimita como estudio de caso las conexiones que los niños hoy establecen entre el agenciamiento de este concepto y la atribución de apodos peyorativos entre pares escolares. Palabras clave: Bullying. Agencia. Infancia. Educación. Etnografía. Introdução Bullying designa em língua inglesa o ato decorrente do substantivo bully, que significa algo próximo a “brigão” ou “valentão” em português. De autoria atribuída ao sueco Dan Olweus (2006), professor e pesquisador em psicologia na Universidade de Bergen (Noruega), o bullying é um construto científico da década de 1970, que se alastrou mundialmente desde então, na função de nomear intimidações repetitivas entre pares escolares. No Brasil, o conceito de Olweus (2006) experimenta uma vultosa popularização somente ao longo dos anos 2000. Artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. 1 Minha pesquisa de doutoramento em Antropologia Social buscou destrinchar, sob uma perspectiva etnográfica, as “agências” (Ortner 2007) Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Juliane Bazzo Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying 249 que a noção de bullying tem recebido no cotidiano da “iluminação recíproca” propiciada pela inser- brasileiro, especialmente desde o estado do Rio ção simultânea de finalidade comum nesses Grande do Sul (Bazzo 2018). Nesse quadro, o estu- ambientes. Nesse sentido, identifiquei entre as do atentou para a atuação dos “empreendedores duas escolas mais traços de similaridade que morais” (Becker 2008): indivíduos, instituições, de diferença nos agenciamentos da noção de iniciativas e documentos responsáveis hoje por bullying, sintonizados, por sua vez, com os dados agenciar esse conceito em uma variedade de coletados nos demais campos investigados. contextos e, assim, alavancar uma série de filosofias, políticas e práticas, de fins diversificados. Em tal panorama, as investidas de campo – efetuadas entre 2014 e 2017 – incluíram pesquisa em órgãos públicos e redes científicas, principalmente na capital Porto Alegre (RS), como também a análise de conteúdos midiáticos, de produtos de mercado e de documentos de referência, tanto nacionais quanto internacionais, em que o bullying aparece como mote. Não obstante, uma parte crucial dessa imersão ocorreu em duas escolas, uma pública e outra privada, situadas na região de Gramado e Canela, municípios de pequeno porte da Serra Gaúcha, onde residi por três anos. Este artigo coloca em relevo justamente a empreitada de campo nos ambientes escolares, uma vez que aborda interpelações teóricas, metodológicas e éticas levantadas ao se abraçar crianças enquanto sujeitos de pesquisa nesses universos. Para situar empiricamente tais desafios, a exposição delimita como estudo de caso a hoje corriqueira agência da noção de bullying por Observações na escola pública Um dos espaços escolares no qual me introduzi como pesquisadora é uma instituição pública estadual, à época do estudo com cerca de 70 educadores e um mil alunos de camadas socioeconômicas médias, distribuídos entre o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos. As observações nessa entidade se articularam pela imersão no cotidiano de três turmas discentes. Considerada a definição do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) de que são crianças os indivíduos de até 12 anos de idade incompletos, um dos grupos sob observação reunia infantes stricto sensu e outro abrangia sujeitos que tinham acabado de deixar essa condição. Dessa forma, entendeu-se oportuno abarcar ambos na análise aqui desenvolvida.2 Nesse contexto, inseri-me em uma turma de segundo ano e em outra de sétimo ano do Ensino Fundamental, as quais contavam com alunos de, em média, 7 e 12 anos, respectivamente. Ao longo de um ano letivo completo, permaneci em crianças para rechaçar a costumeira atribuição média dois meses e meio em cada uma delas, com de apelidos pejorativos entre pares nos espaços um mínimo de duas visitas semanais. educacionais. Tal recorte deriva de minha atenção etnográfica às “práticas culturais” infanto-juvenis cristalizadas atualmente nas chamadas “zoeiras” nas escolas (Pereira 2010). Com esse termo, crianças e jovens estudantes de diferentes regiões brasileiras têm definido suas relações de “socialidade jocosa”, as quais contemplam, mas não se restringem, a “gozações” de feitio discriminatório classificadas como bullying. A exemplo da etnografia de Noel (2009) sobre conflitualidades cotidianas no cenário escolar argentino, meu estudo não se propôs a uma “comparação sistemática” entre as instituições de ensino pesquisadas. A análise serviu-se, sim, 2 A inserção nas turmas ocorreu sob chancela da equipe diretiva e dos respectivos docentes que, nas primeiras visitas, explicaram aos estudantes o propósito de minha presença, com adaptações para as faixas de idade envolvidas. No transcorrer dos encontros, fui procurando ocupar lugares diferentes no interior das salas de aula, com o fim de variar ângulos de observação. Dia após dia, meu trabalho quase sempre iniciou pelo desenho de um espelho de classe, para exercitar o reconhecimento dos estudantes pelo nome, identificar os locais geralmente ocupados por eles, bem como mapear as socialidades tecidas nesse entorno. O terceiro grupo observado englobava jovens, já estudantes de Ensino Médio. 250 Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 Com a expansão da convivência, além de re- desenho, registrei em que tipos de circunstâncias flexões escritas em diários de campo, desenvolvi o construto do bullying surgia; em que medida sociogramas para pensar acerca dos relaciona- minha presença como pesquisadora do tema mentos entre os alunos. Nessas figuras, busquei o suscitava; assim como situações nas quais, delimitar os grupos internos de cada turma e os embora favoráveis ao agenciamento, o conceito vínculos de dominância, subalternidade, oposição simplesmente não dava o ar da graça. A Figura 1 e solidariedade entre eles. Assim, entre escrita e exemplifica um desses sociogramas. Figura 1 – Sociograma de um grupo discente3 Fonte: Elaborado pela autora. Certas peculiaridades a cercar meu trabalho de hoje condenáveis no ambiente escolar. observação mostraram-se similares àquelas de ou- No começo das observações, a despeito do zelo tras etnografias realizadas com crianças e adoles- em esclarecer meu papel não fiscalizador, os estu- centes, em escolas ou não (Lewis 2015; Cohn 2013; dantes evidenciaram desconfiança das notas que Horn 2013). À semelhança dessas investigações, fazia em minha caderneta. Os menores me pergun- embora apresentada às turmas como pesquisa- tavam se registrava os nomes dos que conversavam dora, passei muito brevemente a ser enquadrada ou bagunçavam durante as atividades letivas. Esse como docente pelos estudantes. Diante disso, clima se desanuviou, entretanto, à medida que lhes especialmente na aproximação com o alunado, dei provas de que não estava ali para monitorá-los. esforcei-me em demonstrar que minha posição Entre os maiores, um momento propício para tanto não era de autoridade ou de avaliação, elementos se configurava quando, na ausência transitória de esses conectados à docência. Tal investimento, em um professor, pequenas regras eram infringidas e, meu caso, assumia uma feição singular, dado meu perante isso, eu mantinha discrição. tema de estudo remeter-se a comportamentos 3 Os nomes expostos no desenho são todos fictícios. Em linha com as etnografias mencionadas Juliane Bazzo Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying 251 acima, minhas observações entre os infantes, par- vernamental porto-alegrense Mahatma – Paz nas ticipantes ou não, procuraram considerar outros Escolas que, à época, promovia gratuitamente a recursos expressivos para além da fala. Dessa prática da meditação em cerca de 300 instituições maneira, brincadeiras e jogos; desenhos, danças de ensino pelo Brasil.4 Minha iniciativa em procurar e encenações; risos e choros; posturas de isola- essa entidade, cuja atuação incluía a Serra Gaúcha, mento e interatividade, todos marcantes na rotina pautou-se pela possibilidade de identificar, graças infantil, receberam tanta atenção quanto palavras à amplitude e singularidade de seu trabalho, um ditas. Certamente, tais elementos se evidenciam ambiente educativo capaz de gerar contrastes ana- entre jovens, mas em meio às crianças alcançam líticos factíveis com a escola pública pesquisada. uma pungência peculiar, propícia ao investigador, Nesse sentido, o colégio que me foi indicado segundo Horn (2013, 5), na tarefa de traçar “[...] pela organização, além de privado, inseria a estratégias para [...] compreender as culturas in- meditação em um conjunto de ações escola- fantis e o seu modo de ser e de estar no mundo”. res a reverberar filosofias contemporâneas tais Para essa autora, cônscio desses códigos, o como a “cultura de paz” e o “aprendizado socio- etnógrafo pode, antes de tudo, aproximar-se das emocional”. Dentre outros objetivos, iniciativas crianças de um modo por elas aprovado. Esse inspiradas nessa direção vêm almejando coibir consentimento, não pautado pela assinatura comportamentos entendidos como bullying, sob de documentos, ocorre pela “convivência ética” adesões e restrições (para um debate crítico, ver (Horn 2013, 5), que leva em conta linguagens Smolka et al. 2015). De qualquer modo, trata-se singulares e, assim, respeita termos relacionais de uma proposta que não existia, sistematizada, diferenciados daqueles existentes entre adultos. na instituição estatal sob estudo. Tal conjuntura esclarece por que a entrevista Dessa maneira, estabeleceu-se na escola par- estruturada individual pode ser improdutiva na ticular um grupo de controle produtivo, mas que pesquisa antropológica com crianças. A atmosfera exigiu uma estratégia de pesquisa diferenciada da demandada por essa técnica, com hora e lugar empregada no colégio público. Isso deveu-se tanto marcado, bem como exigência de sentar-se às minhas possibilidades temporais de dividir-me por certo tempo, acaba por obstruir as formas para a investigação simultânea de duas realidades expressivas infantis, cuja preciosidade é melhor educativas, quanto ao espaço de inserção ofertado captada por observações e conversas informais. pela instituição privada. Ajustada a tal conjuntura, ao longo de um semestre, realizei quatro grupos Grupos focais na escola privada Ao espaço público de ensino, aliou-se minha inserção em um colégio particular, integrante de um conglomerado educativo de atuação nacional. A unidade em que o estudo aconteceu, ao longo de um semestre, reunia naquele momento em torno de 50 educadores e 400 alunos, alocados entre Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Profissionalizante. Os estudantes também provinham de classes médias, porém, ocupavam com mais recorrência estratos superiores desse segmento em relação aos discentes da escola estatal investigada. A pesquisa no universo particular de ensino viabilizou-se por meio da organização não go- focais com alunos de duas turmas de 5.º ano do Ensino Fundamental, ambas dentre as engajadas na prática da meditação há mais tempo na escola. Em etnografias do campo da educação, o grupo focal tem aparição recorrente como técnica de pesquisa – alguns usos recentes estão em Lewis (2015), bem como em Maggie e Prado (2014). No caso específico de sua realização com crianças, o grupo focal se revela vantajoso porque os participantes, para além de conversarem com o investigador, dialogam, sobretudo, entre si e em seus próprios termos, quando confortáveis. Em busca de tal fluidez, segui o conselho de Lewis (2015) sobre deixar claro aos estudantes a não Essa instituição interrompeu suas atividades no final do ano de 2017, quando eu também finalizava meu doutoramento. Para saber mais, recomendo buscar na rede social Facebook por Mahatma Meditação. 4 252 Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 implicação avaliativa da atividade, bem como de uma mesma turma, na faixa dos 10 anos de a premissa de anonimato de tudo que ali seria idade, individualmente engajados ou não na dito. Uma vez criado esse ambiente, essa autora prática meditativa, visto a adesão ser voluntária. afirma que a “[...] técnica [...] abre uma ampla pos- As questões postas a eles foram adaptadas a sibilidade de negociações de sentido em que o partir das exploradas em entrevistas estruturadas indivíduo e sua carga cultural são constantemente individuais, de respostas abertas, efetuadas com interpelados pelo grupo” (Lewis 2015, 259). jovens e adultos na escola pública e na privada. O Cada grupo focal durou em média uma hora, quadro 1 reúne exemplos dessas interpelações. com o envolvimento de quatro participantes Quadro 1 – Questões-chave de pesquisa Fonte: Elaborado pela autora. Como as intervenções na entidade privada Em fins de 2014, esse grupo de trabalho apre- tiveram caráter mais circunscrito, optei pelas faci- sentou uma minuta de resolução considerada lidades da gravação sonora para os grupos focais, adequada aos seus fins que, a princípio, foi intei- nos quais o registro escrito fica dificultado pela ramente rejeitada pela Conep. Em virtude disso, interlocução simultânea dos participantes. Na insti- o documento acabou levado em 2015 à consulta tuição estatal, ao contrário, o gravador mostrava-se pública e, graças a um volume expressivo de um impeditivo à fluência do trabalho de campo de manifestações, terminou aprovado em sua quase maior prazo, não só por inibir a espontaneidade totalidade no ano seguinte, como Resolução n. dos indivíduos no cotidiano, mas também porque 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). a mim me parecia mais ágil e efetivo fazer registros Porém, antes que fosse possível conferir opera- escritos imediatos em diários de campo daquilo cionalidade a tal instrumento, a Conep desfez o que, dia sim, dia não, vivenciava na escola. grupo de trabalho encabeçado pelo FCHSSA. Até a finalização de meu estudo, tal controvérsia Da atenção ética No transcorrer de meu doutoramento, esteve em ação um grupo de trabalho, capitaneado a partir de 2013 pelo Fórum das Associações de Ciências Humanas e Sociais (FCHSSA), voltado à confecção de uma resolução sobre ética específica aos estudos dessas áreas do conhecimento. Esse esforço continuava em aberto, com as associações integrantes do fórum ainda militantes no sentido de reocupar seu espaço retirado (Sarti et al. 2017). Solidária a essa disputa, optei por não submeter minha proposta de pesquisa à apreciação de comitê universitário de ética. Obviamente, essa escolha teve um facilitador: nenhuma das instituições nas quais decorreu da discordância quanto à hegemonia de ingressei para a efetuação do trabalho de campo critérios biomédicos, aplicados a quaisquer investi- exigiu-me tal submissão. A decisão por esse cami- gações com seres humanos, por parte da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), subordinada ao Ministério da Saúde (Sarti et al. 2017). nho, entretanto, não implicou, em hipótese alguma, qualquer desatenção à ética; muito ao contrário, o estudo cercou-se de um conjunto de cuidados. Juliane Bazzo Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying O primeiro deles diz respeito à investigação nas instituições de ensino com crianças e ado- 253 manutenção de significado, que é o realmente interessante ao exame antropológico. lescentes em situação de menoridade legal. Em ambas as escolas nas quais ingressei, prestaram-se esclarecimentos sobre minha atividade enquanto pesquisadora a pais e responsáveis, seguidos pela assinatura de termos de consentimento livre e esclarecido. Tal procedimento coadunou-se, em primeira instância, com medidas de proteção e de tutela estabelecidas, respectivamente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/1990) e pelo Código Civil Brasileiro (Lei n. 10.406/2002). Seja no universo privado de ensino, seja no público, há no estudo o resguardo do anonimato, tanto das escolas, quanto dos interlocutores que nelas dialogaram comigo, em situação de menoridade legal ou não. Entendeu-se que tal postura seria a mais apropriada para preservar a identidade, a privacidade e a confiança que todos eles depositaram em mim, ao me confidenciarem episódios de vida muitas vezes dolorosos e constrangedores, não apenas a si próprios, mas a terceiros. Trata-se de um cuidado imprescindível em espaços institucionais em que não raro o relato de um sujeito implica outros, ainda mais em cidades pequenas, onde há intensivo grau de conhecimento entre pessoas. Em virtude disso, ao problematizar situações que ouvi ou presenciei, além de empregar nomes fictícios, precisei lançar mão do recurso de modificação de certas circunstâncias sem, contudo, impactar o campo semântico coberto pelos fatos, algo fundamental à consistência reflexiva. Dou um exemplo por excelência: as dinâmicas de agenciamento do bullying comumente envolvem, como já dito, a atribuição de apelidos pejorativos que, se revelados, fatalmente permitiriam a identificação de certos indivíduos por outros. Ao mesmo tempo, seria danoso analiticamente ocultar tais alcunhas, posto parte intrínseca dos processos em estudo. O que importa, no entanto, não reside nos cognomes em si, mas nos significados que carregam. Assim, a despeito de sua substituição por outros apelidos, priorizou-se a 5 Na captura de uma agência astuciosa Para situar em um contexto empírico as demandas teóricas, metodológicas e éticas de minha investigação antropológica com crianças, quero compartilhar agora a história de Marina. Em meio aos seus colegas de turma em fase de alfabetização, Marina se diferenciava: pela vaidade, desenvoltura e liderança. Ia à escola sempre adornada, com maquiagem e outros adereços. Mesmo ainda sem saber contar direito, comercializava docinhos que ela mesma fabricava. Era estudante destacada, fato que fazia a professora lhe convocar constantemente para auxiliar outras crianças. Quando a docente não estava por perto, a maioria dos colegas reconhecia em Marina alguém capaz de ajudá-los em necessidades individuais ou de restabelecer a ordem em conflitos coletivos. Fartamente comunicativa, Marina não demorou a se entrosar comigo. Conversava sobre assuntos dos mais diversos, dentre eles, minha própria pesquisa, sobre a qual demonstrava curiosidade. Certo dia, perguntou-me: “Profe, como a gente tá de bullying?”.5 Fui pega de surpresa, ao que ela reiterou: “Disso que tu tá estudando, de bullying, na turma”. Devolvi, então, o questionamento: “Você acha que tem bullying aqui?”. De imediato, relatou-me que, no ano anterior, possuía um colega, já egresso, que lhe dizia cotidianamente: “Marina, sua baleia!”. E completou sobre o tempo presente: “Na nossa turma, acho que não tem bullying. Só um colega me chamou de gorda uma vez”. No período em que acompanhei Marina na escola, estava em crise o relacionamento dela com sua melhor amiga, Valéria. Naquele ano, essa colega havia se aproximado de uma outra – Fabiana – e ambas vinham rejeitando a presença de Marina. Em um certo recreio, observei a tentativa de Marina em participar de uma brincadeira capitaneada pelas duas meninas, junto de outras garotas. A antes melhor amiga de Marina vetou “Profe”, diminutivo de professora, configura um vocativo empregado por alunos e docentes no cotidiano escolar brasileiro. 254 Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 sua integração, dizendo-lhe: “Minha mãe disse eles [colegas] aprendam tem que deixar irem sozi- pra eu não brincar com você porque tu és muito nhos”. Mas, naquele dia, foi um dos garotos, Bruno, chata”. Marina virou as costas e, com o semblante quem se embrabeceu diante do protagonismo de profundamente entristecido, sentou-se ao meu Marina. Colérico, o menino exclamou: lado, em um dos bancos do pátio. Confidenciou-me não ser a primeira vez que tais advertências lhe eram dirigidas: “Ela era minha melhor amiga e agora é inimiga. Eu não sei por quê. Outro dia, ela ainda falou ‘tu é gorda, tu é negra e minha mãe disse que não é pra eu brincar com você’”. Marina, de fato, detinha for- – Sua gorducha! – Tu sabias que isso é bullying, Bruno? – falou firmemente Marina, com as mãos na cintura, após lançar um rápido olhar para mim. – Parece a Dona Redonda, vai estourar! – prosseguiu sem intimidação o garoto, que conquistou expressivas risadas dos colegas em volta. ma corporal ligeiramente desviante de padrões hoje impostos de magreza. Mas, a observação Para ultrajar Marina, Bruno metaforizou uma sobre a cor da pele me gerou estranhamento personagem de “Saramandaia”, novela de Dias por não refletir, à primeira vista, o fenótipo da Gomes exibida pela Rede Globo em 1976, objeto menina. Perguntei-lhe então: “E tu, considera de refilmagem da emissora em 2013. Na trama, que é negra?”. Ela respondeu que não, mas me Dona Redonda era uma mulher que comia sem contou, no decorrer de nossa conversa, que um parar e, devido a isso, acaba por explodir, per- de seus avôs era e que, talvez, se originassem daí fazendo uma das cenas emblemáticas dessa as colocações de Valéria. “Sabe o que eu acho? produção televisiva. Ao receber essa afronta, Que elas têm inveja de mim, do meu jeito, porque Marina não prosseguiu no embate com Bruno. sou mais adulta”, conjecturou ao final. Apanhou seu laptop e se retirou para um canto, A despeito das animosidades, houve situações em que verifiquei Fabiana e Valéria buscarem acompanhada de algumas garotas interessadas em explorar seu mais novo brinquedo. a companhia de Marina. Isso acontecia, quase sempre, quando as duas primeiras sentiam ne- Apelidos: vetores de agência cessidade de auxílio em alguma tarefa de sala Em meus diários de campo, os apelidos pipo- de aula. Todavia, testemunhei uma vez em que cam a todo tempo em meio às vivências estu- Marina conseguiu barganhar a atenção delas dantis registradas. Não me causou estranheza, durante um recreio: foi no dia em que trouxe à portanto, a repetição de um ponto de debate escola um laptop de brinquedo que havia ganho nas discussões contemporâneas que presenciei de presente. Não só Valéria e Fabiana se interes- entre profissionais da educação: como controlar a saram, mas outras diversas crianças rodearam superabundância desses termos nos ambientes Marina no pátio. No entanto, havia nesse contexto de ensino para frear o bullying? um concorrente de peso: um parquinho novo na Muito antes da popularização desse construto, escola. Os estudantes, então reunidos em torno não obstante, tais alcunhas mostram ser parte inte- do laptop, logo se dirigiram para lá. grante da socialidade infanto-juvenil. Em artigo de Tudo corria bem: praticamente todos os alunos 1944, Fernandes (2004) já apontava a centralidade da turma estavam brincando juntos, algo incomum. delas no cotidiano das “trocinhas”, agrupamentos A certa altura, contudo, algumas crianças começa- de crianças e adolescentes que, à época, povoa- ram a pedir a ajuda de Marina, posto não se senti- vam ruas de bairros populares paulistanos. Tem-se rem seguras para certas manobras que as demais aí uma versão primeva do que, atualmente, crianças estavam fazendo no parquinho. A garota, como e adolescentes chamam de “zoeiras” (Pereira 2010), sempre, demonstrou-se prestativa. Entretanto, sua uma marca de suas relações escolares. postura não agradava a todos. Alguns dias antes, Os educadores sabem, melhor que ninguém, Fabiana já a tinha admoestado: “Se você quer que que os apelidos têm um espaço longamente de- Juliane Bazzo Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying 255 marcado no cotidiano dos ambientes de ensino. cias enquadradas como bullying demonstram-se Assim, nos debates que testemunhei, os professores recheadas de um componente contingencial a nunca chegavam a respostas fechadas à pergunta eles fundamental: as figuras de linguagem e, colocada na abertura desta seção. As suas próprias dentre estas, especialmente as metáforas, ca- falas, em maioria, reconheciam a fluidez desses pazes de condensar várias e inusitadas camadas cognomes que, à primeira vista, podiam soar tanto de interpretação – vide a inculpação de Dona humilhantes, quanto inofensivos, sempre sob a pos- Redonda. Tais recursos abastecem o idioma ritual sibilidade de, mais tarde, revelarem-se em contrário. em sua economia e agilidade, em prol de funções Identificava-se, portanto, nos debates docentes cruciais como problematizar dilemas, expressar um atributo fundamental aos apelidos: a contin- conflitos e trabalhar relações de poder. gência que, na atualidade, também repercute Se os rituais portam um vocabulário particular, sobre a agência da noção de bullying. Na narrativa do mesmo modo se definem por comporta- das vivências de Marina, verifica-se que sobre ela mentos singulares, os dois não raros reversos recaem termos vexatórios considerados clássicos a protocolos publicamente naturalizados (Tam- pelas comunidades escolares na intimidação biah 1985). Assim sendo, há que se considerar a entre pares: baleia e gorducha, em referência à conduta indicadora de eficácia discursiva para obesidade enquanto marcador de “desvio” (Velho práticas hoje tipificadas como bullying escolar: 1981) de um certo status quo. O domínio público, a risada corporificada. A exemplo das metáforas todavia, não garante qualquer estabilidade a essas a circundar os apelidos, o riso não se presta à expressões que, embora se perenizem, também se previsibilidade. Sob viés batesoniano, Lagrou transmutam em sinonímias das mais elaboradas. (2009, 172) explica que o propósito de fazer rir Ao prosseguir na história de Marina, vê-se que, pressupõe ser “[...] inferido pelos envolvidos ao perante o insulto de gorducha, ela responde à “acu- longo do desenrolar da cena”. sação” (Velho 1981) do colega com outra, ciente de Nem tudo, porém, é flutuante nesse quadro. minha presença enquanto investigadora daquele tipo Os rituais de “agressividade verbal” em análi- de acontecimento. “Tu sabias que isso é bullying?”, se aqui, como quaisquer outros, perfazem uma indagou de modo responsivo a garota. Uma vez “reencenação da vida”: apontam “sistemas de desafiado, Bruno trabalha com o imprevisto e apela valores” a orientar a ação dos sujeitos envolvidos para o não óbvio: evoca como ofensa a personagem e, especialmente, tensões em curso nesses arran- televisiva Dona Redonda. Dessa forma, consegue jos (Duarte 1981). Por conseguinte, chega-se ao roubar risadas generosas das testemunhas ao redor paradoxo intrínseco aos ritos: se esses só podem do confronto e, em seguida, calar Marina. ser compreendidos contextualmente, há neles Em minha investigação, problematizei episódios sempre um nível de redundância, que trabalha classificados como bullying na contemporaneidade pelo didatismo e pela eficiência. Esse conteúdo brasileira como “rituais acusatórios” (Velho 1981). de repetição decorre, justamente, da cosmolo- Nesses eventos, com recorrência, o conceito em gia na qual os agentes se encontram imiscuídos foco materializa-se como uma contra-acusação, que, uma vez iluminada etnograficamente, pode posto quase sempre agenciado em resposta a uma revelar dinâmicas de humilhação, mas também primeira imputação. Isso se deve à capacidade de mutualidade ou até mesmo de insurgência ímpar que o construto vem demonstrando de iman- mobilizadas por apelidos, apesar da impossibili- tar-se a marcadores de “desvio” dos mais diversos dade de controlar a fluidez deles no mundo social. – como os estéticos e os étnico-raciais referidos na história de Marina –, eles mesmos mobilizadores de longa data de uma profusão de “acusações”, a À guisa de classificação sustentar uma conjuntura de segregação no Brasil. O quadro 2 apresenta um apanhado de ape- Uma vez na posição de ritos, em concordância lidos pejorativos registrados ao longo de meu com abordagem de Tambiah (1985), as ocorrên- trabalho de campo em instituições de ensino. 256 Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 Quadro 2 – Categorização de apelidos pejorativos no universo escolar de pesquisa* Fonte: Elaborado pela autora. Graças a um exercício classificatório, verifi- escravista, que se pensa elitizada, branca, mascu- cou-se que uma expressiva quantidade desses lina, heteronormativa, corporalmente escultural e apelidos se cola, de imediato, a “categorias de intelectualmente racional, tendo neste conjunto acusação” de “desvio” (Velho 1981) históricas de características um padrão idealizado de “nor- na sociedade brasileira e, ao mesmo tempo, malidade” desejável (Souza 2009). em grande tensão nos anos recentes devido Ainda no levantamento que realizei, emergiram a transformações sociopolíticas no país. Essas três coletivos singulares de apelidos, cujo ponto mudanças, em boa parte, alavancaram-se por comum reside no caráter de transversalidade intervenções estatais pioneiras em favor da in- em relação aos demais já citados. Um primeiro clusão econômica e da diversidade sociocultural grupo nesse status longitudinal engloba termos durante os mandatos presidenciais do Partido injuriosos referentes à higiene pessoal. De acordo dos Trabalhadores (2003-2016). Tais políticas com Elias e Scotson (2000), polemizar a sujeira encontraram nas instituições de ensino espaços coloca-se como meio eficaz de destacar a ano- essenciais de operacionalização. 6 Boa parte dos termos vexatórios identificados refere-se, dessa forma, a desigualdades étnico-ra- mia de quaisquer desviantes – ainda que isso não se paute em evidências reais –, com o fim de estabelecer distinção diante deles. ciais, de gênero, de orientação sexual, socioeconô- Um segundo conjunto transversal de apelidos, micas e estéticas. No grupo de apelidos focados ainda mais robusto, mobiliza nomes de animais em atributos comportamentais, por sua vez, vê-se dos mais diversos. Essa recorrência conduz à como pano de fundo outros três tradicionais tipos abordagem clássica de Leach (1983) acerca das de imputações: em torno da capacidade cogniti- categorias animais que perpassam insultos ver- va, da deficiência e da religiosidade dos sujeitos. bais em diferentes sociedades. Nessa análise, o Tal resultado reflete uma sociedade de herança autor postula que ganha “contrapartida linguística” São exemplos emblemáticos: o Programa Bolsa Família (Lei n. 10.836/2004); as cotas étnico-raciais de ingresso no ensino universitário federal (Lei n.12.711/2012); o Programa Brasil sem Homofobia lançado em 2004; além da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, datada de 2008. 6 Juliane Bazzo Na captura de uma agência astuciosa: lições de uma etnografia com crianças sobre usos da noção de bullying 257 tudo aquilo que é “tabu”, ou seja, todos aqueles tipo de comportamento, passível de punição após elementos considerados ameaçadores a hierar- a emergência da noção de bullying. A construção quias de poder dentro das ordenações sociais. do termo LV demonstra lógica parecida: trata-se Em embates “estabelecidos-outsiders” (Elias e da abreviatura da grife francesa Louis Vuitton, tam- Scotson 2000) como aqueles em análise aqui, a bém famosa por bolsas caras. Uma professora humanidade desses últimos aparece, permanente- confidenciou-me que estudantes utilizavam a sigla mente, desautorizada pelos primeiros, por meio de para denominar, de forma constrangedora, alunos uma alegada não adequação aos padrões reconhe- agraciados com bolsas de estudos, demarcando cidos de “normalidade”. É desde esse ponto de vista, assim desigualdades de poder aquisitivo. portanto, que fazem sentido os apelidos animalescos. Se as ofensas com animais indicam, portanto, serem assertivas para erguer fronteiras de distinção, resta problematizar porque estes e não outros seres não humanos surgem repetidamente empregados. Uma argumentação reside na igualmente clássica análise de Lévi-Strauss (1986) sobre o fenômeno do totemismo. De acordo com ele, animais emergem em profusão, seja como totens, seja em insultos, porque conformam uma “realidade sensível” imediatamente disponível aos homens para refletirem sobre e classificarem as diferenças humanas. As conexões mentais que se estabelecem nesse panorama não são arbitrárias, utilitárias ou contíguas, mas lógicas, relacionais e metafóricas. Ou seja, eficazes para pensar e trabalhar a alteridade em um âmbito intelectual. O terceiro e último grupo perpendicular de apelidos abrange referências chamadas de figurativas, no interior das quais a exploração de recursos de linguagem se revelou deveras astuta. Dois apelidos desse conjunto, certamente, mostram-se enigmáticos no quadro antes exposto: Victor Hugo e LV, ambos coletados no universo privado de ensino. O primeiro faz menção ao estilista uruguaio, radicado no Brasil, famoso por suas bolsas de valores nada singelos. Contou-me uma docente que o pai de um aluno foi ao colégio queixar-se do bullying perpetrado por colegas contra o filho, posto chamarem-no cotidianamente de Victor Hugo. A educadora, de imediato, pouco entendeu. O pai então explicou-lhe que se tratava de um eufemismo para a imputação de gay. Os colegas, desse modo, retiraram uma referência do mundo da moda, onde a presença de sexualidades desafiadoras do padrão heteronormativo se evidencia comum, para elaborar uma intimidação velada, porquanto a escola estar muito atenta a esse Considerações finais O construto de bullying certamente nomeia comportamentos que não são novidade nos meios educacionais. A despeito disso, emerge na contemporaneidade brasileira como uma categoria que dá nova voz a sensibilidades sobre segregação, violência, sofrimento e reparação em meio às vivências estudantis. Essa noção traz consigo, portanto, um novo vocabulário, desencadeador de “efeitos performativos” sobre a realidade. Tais impactos ultrapassam as fronteiras acadêmicas do termo e revelam a “inteligência social dos atores” mirins, a explorar no dia a dia “dimensões táticas” (Fassin e Rechtman 2009) em torno do construto, seja para se defender, seja para subalternizar. O estudo de caso aqui exposto buscou ilustrar essa conjuntura. À semelhança do observado por Lewis (2015), a etnografia que realizei demonstra uma percepção de mundo das crianças nada inferior ou incompleta, mas sim peculiar. Tal singularidade de visão demandou, por conseguinte, um protocolo próprio de pesquisa antropológica, que privilegiou a fluidez de observações sistemáticas, conversas informais e interlocuções diretas entre pares via grupos focais, em detrimento, por exemplo, da fixidez de entrevistas pessoais estruturadas. Ao apostar nesses métodos, constatou-se que os infantes “[...] interagem ativamente com os significantes e práticas sociais que compõem suas vidas diárias” (Lewis 2015, 255), inseridas em uma ordem sociológica segregacionista. A etnografia com esses sujeitos abre assim espaços para visualizar, por certo em termos particulares, determinados fatos com uma “[...] clareza que elas (as crianças) nos cospem na cara” (Cohn 2013, 239). Dentre tais constatações, está a inverossimilhança da aspiração de certos educadores de vetar termos risíveis nos ambientes 258 Civitas 20 (2): 248-258, maio-ago. 2020 de aprendizagem, apesar da propagação da noção de bullying como recurso acusatório. Logo, à luz do ferramental teórico-metodológico a balizar essa etnografia, argumento que as crianças conhecem e exploram com perspicácia as propriedades rituais do riso canalizadas, segundo Douglas (1993), para fomentar socialidades na mesma medida com que canalizam animosidades. A profusão destas últimas, na forma de atribuição de apelidos e da demarcação de casos de bullying, não conforma surpresa ou coincidência na cena cotidiana escolar do Brasil. Um país secularmente recheado de desigualdades, muito recentemente colocadas em turbulência, tanto pelo que políticas públicas de inclusão e diversidade precursoras transformaram ao longo dos anos 2000, quanto pelo que de iniquidade, apesar delas, ainda permanece intocado. Referências Leach, Edmund R. 1983. Aspectos antropológicos da linguagem: categorias animais e insulto verbal. In Leach, organizado por Roberto DaMatta, 170-198. São Paulo: Ática. Lévi-Strauss, Claude. 1986. O totemismo hoje. Lisboa: Edições 70. Lewis, Liana. 2015. Infância e agenciamento sobre representações raciais. In Antropologia em novos campos de atuação: debates e tensões, organizado por Mónica Franch, Maristela Andrade e Lara Amorin, 251-270. João Pessoa: Mídia Gráfica e Editora. Maggie, Yvonee e Ana Prado. 2014. 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