N.º 12// julho 2020 // www.cta.ipt.pt
ARQUEOLOGIAS
E SEUS CONTEXTOS
2
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N. 12 // julho 2020 // Instituto Politécnico de Tomar
PROPRIETÁRIO
Instituto Politécnico de Tomar - Centro das Arqueologias
EDITORA
Ana Pinto da Cruz, Instituto Politécnico de Tomar
EDIÇÃO E SEDE DE REDACÇÃO
Centro das Arqueologias, Instituto Politécnico de Tomar
DIVULGAÇÃO
Em Linha
DIRECTORES-ADJUNTOS
Helena Moura, Rodrigo Banha da Silva, Vasco Gil Mantas, Thierry Aubry
CONSELHO CIENTÍFICO
Ana M. S. Bettencourt, Professora Auxiliar com Agregação, Departamento de História, Universidade
do Minho
Professora Catedrática Doutora Primitiva Bueno Ramírez, Universidad de Alcalá de Henares
Professor Catedrático Doutor Rodrigo Balbín Behrmann, Universidad de Alcalá de Henares
Doutor Rossano Lopes Bastos, Arqueólogo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional/Superintendência Estadual em Santa Catarina/Brasil (IPHAN/SC)
Doutor e Livre Docente pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade De São Paulo,
(MAE/USP)
Doutor Thomas W. Wyrwoll, Forschungsstelle für Archäoikonologische Theriologie und Allgemeine
Felsbildkunde (FATAF) / Institut für Theriologie und Anthropologie
DESIGN GRÁFICO
Gabinete de Comunicação e Imagem, Instituto Politécnico de Tomar
PERIODICIDADE
Semestral
ISSN 2183- 1386
LATINDEX folio nº 23611
ANOTADA DA ERC | REGISTADA NA INPI
© Os textos são da inteira responsabilidade dos autores.
3
Índice
EDITORIAL
Ana Cruz ...…….……………………………………………………………..…….…. 05
O CONTRIBUTO DA SEMIÓTICA PARA O ESTUDO DA ARQUEOLOGIA
FUNERÁRIA – ALGUMAS NOTAS ACERCA DOS RITUAIS FUNERÁRIOS NO
BRONZE REGIONAL ALENTEJANO
Ana Rosa …………………………………………………………...………..……..…. 15
ARQUEOLOGIA NO ENGENHO DO MURUTUCU: UM SÍTIO HISTÓRICO NA
AMAZÔNIA BRASILEIRA
Diogo Menezes Costa ….……..………...…………………..…………………….…….30
LE SAVOIR LOCAL AMAZIGH: LA TRANSMISSION À L’ÉPREUVE
Fatima Ez-zahra Benkhallouq, Wahiba Moubchir, Farid El Wahidi ………..……..…. 59
INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NO PORTO DO TOPO. CONTRIBUTO PARA
O PATRIMÓNIO CULTURAL SUBAQUÁTICO DA ILHA DE SÃO JORGE
João Gonçalves Araújo, João Moniz, José Luís Neto, Pedro Parreira
………………………...…………………………………………...……...............………..….. 81
LA ESTACIÓN RUPESTRE DE HUAYLLANQORI, PROVINCIA DE ANTABAMBA
(APURÍMAC, PERÚ)
Raúl Carreño-Collatupa …………………………………………...…….........……… 118
GRAVURA RUPESTRE DO CORUTO (ESCARIZ, AROUCA): ESTUDO,
SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
Paulo A. Pinho Lemos, Ana M. S. Bettencourt, João Ralha ...................………...…… 139
A PAISAGEM DE LONGA DURAÇÃO DO ALTO VALE DO JEQUITINHONHA –
OS VESTÍGIOS DE OCUPAÇÃO HUMANA DO HOLOCENO MÉDIO NA SERRA
DO ESPINHAÇO MERIDIONAL, MINAS GERAIS – BRASIL
Átila Perillo Filho .…………………………………………………….......………..... 173
ASPECTOS DA COLONIZAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DO LITORAL SUL DO BRASIL
E SUA PATRIMONIALIZAÇÃO: OS VESTÍGIOS DA OFICINA LÍTICA NO SÍTIO
ARQUEOLÓGICO DA PONTA DO RETIRO, FLORIANÓPOLIS, SANTA
CATARINA
Márcio Mota Pereira …………………………………………………………..…..… 222
TESTEMUNHOS RECENTES DE TEÓNIMOS PRÉ-ROMANOS NA LUSITÂNIA
José d’Encarnação …………………………………………………….....………...... 249
4
ANÁLISE ANTROPOLÓGICA DO ESPÓLIO OSTEOLÓGICO PROVENIENTE DAS
INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS REALIZADAS NO PÁTIO SUL DA IGREJA
NOSSA SENHORA DO PÓPULO, CALDAS DA RAINHA (LEIRIA)
Daniel Alves, Augusto Ferreira, Cláudio Monteiro, Alexandra Figueiredo, Ricardo Lopes
………………………...…………………………………………...…….........………...... 274
CASA DO CORPO SANTO – 1531 A 1714. ARQUEOLOGIA, CONSERVAÇÃO E
MUSEALIZAÇÃO
Luís Neto, Patrícia Trindade Coelho ..…………….……………..............………..…. 298
UNIDADES DOMÉSTICAS DO SÉCULO XIX DO BAIRRO DA BOA VISTA DO
RECIFE: UM ESTUDO DO PERFIL TÉCNICO E DAS CARACTERÍSTICAS
ESTILÍSTICO-ARQUITETÔNICAS
Clara Diana Figueirôa Santos, Henry Sócrates Lavalle Sullasi ..……….…………..… 327
Antrope // N. 12 // julho (2020) // 139 – 172 // ISSN 2183-1386 //
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GRAVURA RUPESTRE DO CORUTO (ESCARIZ, AROUCA): ESTUDO,
SALVAGUARDA E VALORIZAÇÃO
CORUTO ROCK ART ENGRAVING (ESCARIZ, AROUCA): STUDY,
SAFEGUARDING AND VALUATION
Recebido a 16 de abril de 2020
Revisto a 08 de junho de 2020
Aceite a 03 de julho de 2020
Paulo A. Pinho Lemos
Arqueólogo
Araducta – Arqueologia Unipessoal Lda.
paplemos@gmail.com
Ana M. S. Bettencourt
Professora Auxiliar com agregação do Departamento de História da Universidade do
Minho/Investigadora do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2pt).
anabett@uaum.uminho.pt
João Ralha
Engenheiro Geotécnico
joao.r.ralha@gmail.com
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Resumo
O presente artigo surge na sequência das ações de acompanhamento arqueológico
efetuadas no âmbito do projeto de execução do Interface Logístico do Parque de
Negócio de Escariz, pela empresa Araducta Arqueologia Unipessoal, Lda. Os trabalhos
realizados possibilitaram a descoberta de um afloramento ostentando uma gravura
rupestre, designada por Gravura Rupestre do Coruto. A descoberta deste sítio
arqueológico determinou, numa primeira fase, a limpeza do afloramento gravado e a
escavação da sua área envolvente. Posteriormente, foram realizadas ações de registo e
de estudo, bem como de corte, remoção e transporte para outro local, acompanhada de
um placard explicativo.
Palavras-chave: Idade do Bronze, Gravura rupestre, Levantamento, Escavação, Modelo
Residual Morfológico, Valorização.
Abstract
This article follows the archaeological follow-up actions carried out in the context of the
project of execution of the Logistic Interface of the Business Park of Escariz, by the
company Araducta Arqueologia Unipessoal, Lda. The works made possible the
discovery of a rock engraving, called The Rock Engraving of Coruto. The discovery of
this archaeological site determined, at first, the cleaning of the recorded outcrop and the
excavation of its surrounding area. Subsequently, actions were carried out to study,
register, remove/cut and transport the surface where the rock engraving is implanted
and, consequently, its implantation in another location, accompanied by an explanatory
placard.
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Keywords: Bronze Age, Rock engraving, Recorded, Excavation, Morphological
Residual Model, Valuation.
1. Introdução
A descoberta da gravura rupestre do Coruto, localizada na freguesia de Escariz,
concelho de Arouca, às coordenadas geográficas em graus, minutos e segundos,
segundo o sistema WGS 84, de 40º 56’ 43.7’’ N e 08º 24’ 15.0’’ O, a 482 m de altitude,
insere-se no âmbito do projeto de execução do Interface Logístico do Parque de
Negócio de Escariz, desenvolvido pela Câmara Municipal de Arouca (Lemos, 2018, p.
4).
A área de implementação do projeto foi alvo de trabalhos arqueológicos de
estudo patrimonial, nomeadamente de prospeção arqueológica, sob a designação
“Projeto Alto do Coruto (Escariz, Arouca) - Estudo Patrimonial – Prospeção
Arqueológica”, datado de 16 de novembro de 2011 (Lemos, 2011, pp.1-57). Decorrente
da execução deste estudo foram identificados, na área de implantação do mesmo 8
elementos patrimoniais a saber: Mamoa 1 da Urreira; Mamoa 2 da Urreira; Mamoa 3 da
Urreira; Mamoa 4 da Urreira; Mamoa 5 da Urreira; Mamoa 10 da Urreira; gravuras
rupestres de Selada 1 e de Selada 2.
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A intervenção arqueológica foi efetuada pela empresa Araducta Arqueologia
Unipessoal, Lda., sob a responsabilidade do arqueólogo Paulo Lemos, visando dar
cumprimento ao preconizado no mencionado estudo patrimonial, tendo os trabalhos
decorrido entre 10 de abril de 2017 e 28 de fevereiro de 2018 (c).
Figura 1. Localização do projeto de execução do Interface Logístico do Parque de
Negócio de Escariz. Fonte: Carta Militar de Portugal, Folha n.º 144.
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2. Caraterização Geral da Região
O concelho de Arouca localiza-se no centro norte de Portugal, próximo do
litoral, aproximadamente a 30 quilómetros em linha reta, no extremo NE do distrito de
Aveiro, entre os rios Douro e Vouga. Situa-se na NUT III - Região Entre Douro e
Vouga, na província do Douro Litoral. Faz fronteira com os municípios de São Pedro do
Sul, Castro Daire, Cinfães, Castelo de Paiva, Gondomar, Santa Maria da Feira, Oliveira
de Azeméis e Vale de Cambra.
Atualmente constituído por 16 freguesias, o município de Arouca viu os seus
limites serem definitivamente fixados em inícios de 1917, altura em que Covelo de
Paivô foi anexado (Pedrosa, 1988, p. 223). Exibe uma área de cerca 327 km2, situandose as altitudes dominantes entre os 200 e os 600 m, excetuando quer a parte sul do
concelho, que abrange a maior parte da serra da Freita, quer o seu limite nordeste que
corresponde ao extremo poente da serra de Montemuro, onde as altitudes ultrapassam os
1100 m.
Os principais cursos de água que cruzam o concelho são os rios Arda e Paiva,
pertencendo ambos à bacia hidrográfica do rio Douro. O rio Paiva, que corre na direção
SE/NO, é o maior e mais caudaloso de todos. Litologicamente, e de acordo com a Carta
Geológica de Portugal, nº 13 B – Castelo de Paiva, na escala 1/50.000, a freguesia de
Escariz, nomeadamente o local de achado da gravura rupestre, corresponde a uma zona
de rochas eruptivas, tratando-se, de um modo geral, dum granito leucomesocrético, de
grão médio, de duas micas. Quanto à composição mineralógica este granito é formado
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por quartzo, albite-oligoclase, oligóclase, microclima, microclima-pertite, micropertite,
biotite e moscovite.
Em termos de jazidas mineiras há referências a mineração antiga em diversas
freguesias do concelho de Arouca, designadamente em Canelas (Covadas; Cancela;
Cortada do Sequeiro; Coto da Massa; Coto do Moinho; Costa do Carvalho e Gralheira
d’ Água), em Espiunca (Cadaval; Alvariça e Vale da Avó), em Tropeço (Carraceira e
Gralheiras) e em Janarde (Barco; Arieiro e Fundo da Leira) (Figueiredo & Silva, 2005,
p. 196). De acordo com os referidos autores o ouro era “o principal motivo da
exploração mineira nesta região, o que não obsta, naturalmente, a que outros minérios,
como a prata, o estanho ou mesmo o cobre não possam também ter sido explorados”
(idem, p. 201). Ainda no concelho de Arouca a investigadora Carla Martins (2008, p.
33) identifica como sendo de cronologia romana as minas de Regoufe (Covelo de
Paivó) e como provavelmente romana as de Rio de Frades (Cabreiros).
3. Contexto Arqueológico
A ocupação humana da região de Arouca documenta-se desde tempos muito
recuados, como se prova pelo facto de possuir um número bastante elevado de
monumentos megalíticos, bem como vestígios do período proto-histórico. Na freguesia
de Escariz, que se explana por 17,13 km2, há uma grande densidade de monumentos
megalíticos funerários estando contabilizados 67, o que a torna num dos polos da
investigação arqueológica no domínio do megalitismo na região (Silva, 2004, pp. 86145). Neste âmbito salta “à vista na cartografia um curioso alinhamento de
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monumentos que se desenvolve a partir das imediações da estrada Chão de Ave –
Carregosa [Mamoas 1 a 3 da Farrapa e Mamoas 1 a 5 de Couto de Mós], acompanhando
depois, com evidente regularidade, um caminho antigo até aos lugares do Coval
[Mamoas 1 a 4 do Coval] e da Venda da Serra, após o que se dispersa um pouco entre a
Aliviada [Mamoas 1 a 7 da Aliviada] e Alagoas [Mamoas 1 a 12 das Alagoas], sem no
entanto perder o sentido geral Sudoeste-Noroeste. Este traçado, com toda a
probabilidade, corresponde a um eixo de circulação de origens remotas, que neste caso
poderão porventura recuar até à pré-história, e terá sido depois aproveitado para a via
romana que descia de Manhouce e dos Altos da Freita para seguir por aqui na direção
do litoral” (idem, p. 108, Pereira da Silva, 1989, pp. 315-316, 1993, pp. 17-47, 2004, pp.
51-68).
Nas proximidades do núcleo megalítico da Urreira destaca-se o conjunto de
gravuras rupestres conhecido por Selada. Na Selada 1 foram identificadas várias
gravuras (círculo com covinha central, cruciformes, covinhas e tabuleiros de jogo) que
Silva et al. (2017, pp. 67-68) incluem entre a Idade do Bronze e a Idade Média. A
Selada 2 apresenta apenas covinhas, a Selada 3 covinhas em associação com motivos
lineares em forma de V e U, por vezes ligando covinhas e a Selada 4 que foi
considerada como sendo um possível esteio da câmara megalítica da Mamoa 3 da
Urreira, descontextualizado (Silva et al., 2017, p. 68).
Ao período proto-histórico pode atribuir-se o povoado do Monte Coruto,
existente nas imediações das mamoas da Urreira. Este terá tido ocupação desde o
Bronze Final à Idade Média (Silva, 2004a, p. 352, Silva et al., 2017, p. 65), assim como
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o castro de S. João de Valinhas (Santa Eulália), no vale do Arda (Silva 1995, pp. 199220, 2004a, pp. 238-246, Silva & Ribeiro, 1999, pp. 363-369) (Figura 2).
Figura 2. Localização dos elementos patrimoniais existentes na envolvente
imediata do projeto de execução do Interface Logístico do Parque de Negócio de
Escariz. Fonte: Ortofo Câmara Municipal de Arouca.
Durante a romanização e o período do domínio romano há vestígios e achados
relativamente esparsos, se bem que nos últimos anos, fruto do esforço de sistematização
de dados e de prospeções resultantes do levantamento da Carta Arqueológica de
Arouca, a informação arqueológica tenha sido significativamente ampliada e,
naturalmente, melhor contextualizada (Silva 2004a, pp. 208-246).
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O referido castro de S. João de Valinhas parece ser, por enquanto, o único
povoado proto-histórico com vestígios de arquiteturas e objetos de época romana (Silva
1995, pp. 199-220, 2004a, pp. 208-246, Silva & Ribeiro, 1999, pp. 363-369). Já a
ocupação romana de vale e de meia vertente é mais abundantemente tipificada,
sobretudo, pelo casal da Malafaia (Várzea), com ocupação entre o Alto Império e a
tardo-antiguidade (Silva, 2004a, pp. 256-261).
Notícias antigas referem a localização de várias sepulturas e necrópoles,
provavelmente romanas, sendo a mais conhecida a de Alvariça (Espiunca), escavada em
meados do século XX (Silva & Ribeiro, 2002, pp. 523-542, Silva, 2004a, pp. 264-272),
que aliás não fica muito distante do sítio romano da Bóca, em Canelas. Na época
romana, cruzava a região uma rede de caminhos tradicionais, com arranjo viário, sendo
um dos mais importantes o que ligava á atual cidade de Viseu à via ex olissipone ad
bracaram, nela entroncando por altura de Fiães da Feira. Em sentido aproximadamente
perpendicular a carraria antiqua ligava o Douro ao vale de Arouca, se bem que seja
bem mais impreciso o traçado desta via antiga (Silva 2004a, pp. 274-279, Lima, 2004,
pp. 310-315).
A fonte mais antiga que faz referência ao topónimo Arouca (Aravoca) é o
“Paroquial Suévico”, fazendo então “Aravoca” parte da diocese de Lamego. “Arouca
era uma enorme “freguesia” que se estendia por um território muito mais extenso do que
era o seu na época romana” (Silva, 1993, p. 1).
1
Nomeadamente à Dr.ª Anabela Lebre.
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Assim, Arouca primitiva nada tem a ver com a atual vila1, tendo-se registado
uma transposição do corónimo referente a uma região para a particularização de um
burgo, nascido nos arredores do Mosteiro, fundado em 1092.
4. A gravura rupestre do Coruto
Em consequência dos trabalhos de acompanhamento arqueológico foi possível
identificar, a 10 de abril de 2017, a gravura rupestre do Coruto. A descoberta deste sítio
arqueológico foi comunicada à Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) que
determinou a limpeza do afloramento, o registo das suas gravuras e a escavação da área
envolvente ao motivo gravado (Figura 3).
Figura 3. Gravura rupestre do Coruto, à data da sua descoberta. Fonte: Fotografia de
Paulo A. Pinho Lemos
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4.1. Trabalhos arqueológicos
As ações concernentes à escavação arqueológica foram executadas entre 13 e 21
de abril de 2017, tendo sido encetados pela limpeza e corte da vegetação arbustiva e
arbórea, seguidas do levantamento topográfico da rocha com a gravura2,
Figura 4. Planimétrico final da Sondagem 1. Fonte: Desenho de Paulo A. Pinho Lemos.
2
Tarefa executada pelo topógrafo José Carlos Santos, da empresa Paviazemeis - Pavimentações de Azeméis
Lda. do seu registo fotográfico e do seu decalque sobre plástico polivinilo (Figura 4).
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Os trabalhos de escavação arqueológica foram executados numa superfície de 45
m2 (Sondagem 1)3, em toda a envolvente do afloramento gravado. A quadrícula, assim
como o espólio recolhido foram georreferenciados sobre base cartográfica fornecida
pelo dono de obra. Os estratos foram decapados manualmente até ao substrato
geológico recorrendo-se a pequenos instrumentos, como o colherim e o pico. Os dados
arqueológicos foram registados em fichas manuais onde constam as descrições
Figura 5. Sondagem 1, UE 001. Fonte: Fotografia de Paulo A. Pinho Lemos.
Foram, igualmente, registados fotograficamente e em desenho, os perfis e os
planos intermédios e finais. O registo estratigráfico foi efetuado pelo método de Harris
(Harris, 1991, pp. 24-32), (Figuras 5 e 6).
3
A equipa de trabalho para a execução das sondagens arqueológicas de avaliação foi composta, além do 1º
signatário, por Sara Almeida e Silva (arqueóloga) e por Raúl José Freitas da Costa (técnico de arqueologia).
estratigráficas e do espólio recolhido.
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Figura 6. Sondagem 1, plano final visto de SE. Fonte: Fotografia de Paulo A. Pinho
Lemos.
A escavação revelou uma potência estratigráfica média de 0,30 m. Após a
unidade humosa (UE 001 foi identificada uma unidade de depósito (UE 002) composta
por sedimentos homogéneos, de cor castanho-escuro, compactos, de grão fino, com
abundantes raízes e frequentes calhaus angulosos de granito de pequenas a médias
dimensões. Após a remoção destas unidades ficou patente, na totalidade da área
escavada, o substrato rochoso em granito (UE 003)4 (Figura 7).
4
Todas as informações respeitantes à área em estudo, de que se destacam os registos fotográficos, os
desenhos e os materiais arqueológicos exumados, encontram-se arquivados nas instalações do Centro de
Arqueologia de Arouca.
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Figura 7. Sondagem 1, cortes sul e este. Fonte: Desenho de Paulo A. Pinho Lemos.
Os trabalhos de escavação permitiram a recolha de escasso espólio lítico e
cerâmico, especificamente um fragmento de lâmina em sílex, de seção trapezoidal,
parcialmente retocada na proximidade proximal (com 4,9 cm de comprimento), um
pequeno fragmento de seixo rolado de rio (7,3 cm de comprimento) com marcas de uso,
e cinco pequenos fragmentos cerâmicos (<3 cm) em mau estado de conservação,
conotados com recipientes de fabrico manual, de aspeto algo grosseiro, com pastas
arenosas com desengordurantes compostos por minerais de feldspato potássico, quartzo
e mica. Ostentam coloração externa escura em resultado de cozedura em ambiente
redutor (Lemos, 2017, p. 45). Todos os registos de campo e materiais foram
identificados com o acrónimo ILPNE.17 (Figura 8).
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Figura 8. Espólio recolhido na Sondagem 1, UE001. Fonte: Desenhos e Fotografia de
Paulo A. Pinho Lemos.
Na limpeza a seco do afloramento foi somente identificada um motivo gravado.
Este localizava-se numa área que, à data da sua descoberta, sobressaia do solo, cerca de
20 cm. Após a escavação, foram igualmente detetados diferentes entalhes resultantes de
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antigos trabalhos de extração de pedra (uma vez que o afloramento em análise, assim
como a sua envolvente, se localizam em área de antigas pedreiras). Foram, ainda,
registados diversos rasgos mecânicos (a cerca de 1 metro da gravura) provocados pelo
revolvimento de terras no âmbito das obras do Projeto Alto do Coruto, que afetaram o
afloramento gravado.
Na limpeza a seco do afloramento foi somente identificada um motivo gravado.
Este localizava-se numa área que, à data da sua descoberta, sobressaia do solo, cerca de
20 cm. Após a escavação, foram igualmente detetados diferentes entalhes resultantes de
antigos trabalhos de extração de pedra (uma vez que o afloramento em análise, assim
como a sua envolvente, se localizam em área de antigas pedreiras). Foram, ainda,
registados diversos rasgos mecânicos (a cerca de 1 metro da gravura) provocados pelo
revolvimento de terras no âmbito das obras do Projeto Alto do Coruto, que afetaram o
afloramento gravado.
4.2. Processo decisório da tutela
Findos o trabalho de escavação arqueológica foi executado uma Nota Técnica
remetida à DRCN a 21 de abril de 2017 (Lemos, 2017, pp.1-40). Em resposta, a DRCN,
no seu ofício datado de 18 de maio do mesmo ano, refere que “porque se trata de um
contexto de obra em que por um lado, as decisões têm de ser tomadas de forma rápida,
por outro, a implementação do projeto aprovado aporta a destruição do referido
afloramento rochoso e com ele a sua gravura, consideramos necessário equacionar em
primeiro lugar, a possibilidade de o promotor da obra proceder à alteração do projeto, de
forma a promover a salvaguarda da rocha, permanecendo no local e num futuro
Paulo A. Pinho Lemos, Ana M. S. Bettencourt, João Ralha // Gravura Rupestre do Coruto (Escariz, Arouca):
Estudo, Salvaguarda e Valorização //
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próximo, poder vir a ser devidamente estudada e valorizada. Como segunda opção,
admitindo a destruição da rocha, o seu estudo terá de ser efetuado por especialista na
área, permitindo caracterizar cientificamente e patrimonialmente a gravura, indicando
posteriormente medidas adicionais adequadas à salvaguarda daquele vestígio
arqueológico, designadamente levantamentos a laser scâner e MRM. Poderá haver
necessidade de se ter que retirar a rocha, procedendo ao corte pontual da superfície onde
se encontra implantada a gravura. Esta ação tem de ser executada por empresa
especialista em cortes de precisão em rocha granítica.” Perante esta situação o promotor
da obra, a autarquia de Arouca, optou pela segunda hipótese – a sua remoção.
4.3. Estudo da gravura rupestre do Coruto
Deste modo, o promotor da obra, a autarquia de Arouca, aprovou um plano de
trabalhos e de estudo da gravura, que obedeceu às determinações impostas pela tutela,
tendo solicitado ao primeiro subscritor deste texto a coordenação dos mesmos.
4.3.1. Descrição do afloramento e motivo gravado
Primeiramente foi solicitado o estudo morfotecnológico da gravura rupestre do
Coruto por especialista na área, com o intuito de realizar uma caracterização científica e
patrimonial da mesma. Este estudo foi solicitado à segunda subscritora deste texto que,
após visita ao local, a 2 de junho de 2017, elaborou um relatório científico sobre o
mesmo (Bettencourt, 2017, pp.1-11).
O afloramento gravado é de granito de tendência alcalina, com duas micas, de
grão médio, de contorno bastante irregular e parcialmente destacado do solo atual, antes
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dos trabalhos de limpeza. A sua extremidade mais elevada fica a oeste. A partir do topo,
ocorrem diversos declives de pendor acentuado a norte, noroeste, oeste e sudoeste, e
menos acentuado a sudeste e este. Trata-se de um afloramento com inúmeras diaclases
que se orientam de nordeste para sudeste e de oeste-sudoeste para este-nordeste (idem,
pp. 4-5).
Foi parcialmente gravado sendo constituído, apenas, por um painel. Este é
composto somente por um motivo que se localiza no início do declive sul-sudeste,
embora pareça estar “voltado” para sudeste.
O motivo mede cerca de 50 cm de altura, por cerca de 41 de largura. Foi
formado por um sulco semicircular, com as extremidades abertas para o exterior, após
um ligeiro estrangulamento. A extremidade é afilada e pontiaguda. Do topo do
semicírculo, virado para a parte superior do afloramento saem dois sulcos arqueados
para o interior que terminam de forma espessada através da gravação de covinhas. Os
sulcos são assimétricos, sendo um deles mais alto e com maior espessamento na parte
final, o que resulta de um estalamento no momento da gravação (Figura 9).
Figura 9. Afloramento gravado após a limpeza e decalque do motivo gravado sobre
plástico polivinilo. Fonte: Fotografia e Desenho de Paulo A. Pinho Lemos.
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A gravura foi efetuada por percussão profunda, seguida de abrasão, pelo que
apresenta sulcos de seção em U. Os sulcos do semicírculo inferior medem entre 0,6 cm
a 1,5 cm de largura. Os sulcos superiores medem entre 1,8 cm e 2,6 cm (estalamento
incluído).
Pela profundidade do sulco o motivo seria bem visível por parte da audiência ou
dos passantes pelo território. Para a sua melhor visibilidade a audiência teria que estar
localizada a sudeste do afloramento, ou seja, virada para noroeste, onde ocorre o ocaso
durante o solstício de verão (idem, pp. 6-7).
Não são evidentes paralelos para este motivo embora ele sugira o contorno de
uma cabeça com esboço dos ombros, eventualmente provida do que poderiam ser
hastes. Ao ser assim, teríamos uma gravura dos finais da Idade do Bronze, por paralelo
com alguns dos motivos encontrados em diversas estelas do Sudoeste ibérico, como por
exemplo os capacetes de cornos, relativamente comuns entre as bacias do Guadalquivir
e do Tejo (Díaz-Guadarmino, 2010, pp. 255-258, entre outros). De destacar, na bacia do
Tejo, algumas estelas com esta simbologia, como as de São Martinho 2 ou de
Aldeanueva de S. Bartolomeu. Na bacia do Guadiana, referimos as estelas de
Esparragosa de Lares 1, de El Viso 1 e 6, de Magacela, de Alamillo, de Fuente de
Cantos, etc. (Díaz-Guadarmino, 2010, p. 410, p. 412, p. 433, entre outros). Há também a
registar a existência de capacetes de cornos na pintura esquemática, como no abrigo de
Pinho Monteiro, em Arronches (Gomes, 2010, p. 352) ou em gravuras do vale do Tejo,
nomeadamente nos núcleos de Fratel - rochas F.175.1 e F.203.14 (Gomes, 2010, p.
352).
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Esta cronologia estaria de acordo com a ocupação mais antiga existente no
povoado do Monte do Coruto, localizado a cerca de 200 m, a oeste do afloramento
gravado. De destacar que a estela de São Martinho 2 também foi encontrada nas
imediações de um povoado do Bronze Final - o castro de São Martinho, em Castelo
Branco (Pinto, 1987, p. 20, Vilaça, 1995, pp. 403-405). As cerâmicas pré-históricas
encontradas no decorrer das sondagens realizadas na parte fronteira do afloramento,
apesar de estarem aparentemente descontextualizadas, dada as suas dimensões e de não
terem fornecido formas, constituem mais um dado para colocar a hipótese de que as
gravuras seriam antigas. No entanto, não se pode deixar de colocar a hipótese de que os
materiais cerâmicos e lítico sejam provenientes de algum monumento megalítico,
entretanto desmantelado.
Ao comprovar-se a interpretação dada para esta figura, ela revelaria mais uma
via de intercâmbio entre o sul e o norte da Ibéria, e a adoção de objetos e de liturgias a
eles associadas, de origem mediterrânica, desta feita no litoral Centro-Norte.
Não se conhecem micro-topónimo e lendas associadas a este afloramento, nem
evidências de cristianização pelo que o lugar não permaneceu simbolicamente ativo na
longa duração, sendo provável que tivesse caído no esquecimento já durante a Idade
Média, o que mais uma vez indicia a sua antiguidade.
4.3.2. Levantamento por laser scâner e MRM da superfície gravada
A digitalização tridimensional e estudo morfológico do afloramento rochoso
com gravura rupestre do Coruto foi realizada por Hugo Pires com o objetivo de se obter
um registo tridimensional de alta resolução espacial do afloramento gravado; uma
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réplica digital de todo o afloramento que possibilitasse a reconstrução física do
monumento e que permitisse detetar e contrastar irregularidades morfológicas não
visíveis macroscopicamente na superfície pétrea (Pires, 2017, pp. 1-2) (Figura 10).
Figura 10. Modelo Digital de Superfície com sombreamento virtual e Modelo Residual
Morfológico em escala de cor – Gravura Rupestre do Coruto. Fonte: Hugo Pires.
Como metodologia a proposta contemplava as seguintes tarefas: 1. inspeção ao
local de trabalho e planeamento das restantes fases; 2. colocação de alvos de pontaria na
zona em estudo; 3. campanha de registo fotogramétrico das superfícies em estudo através
de câmara fotográfica digital calibrada para o efeito; 4. processamento fotogramétrico das
imagens recolhidas com vista ao cálculo do modelo digital de superfície; 5. aplicação do
algoritmo de análise morfológica MRM ao modelo digital de superfície que detetasse e
contrastasse resíduos de gravuras degradadas, através da segmentação e contraste do
micro-relevo das superfícies; 6. edição gráfica de imagens de síntese com os resultados
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obtidos e 7. exportação de modelos tridimensionais para formatos convencionais (Pires,
2017, pp. 1-2).
Esta metodologia incluía a elaboração, após o registo e processamento de dados,
de uma imagem ortofotográfica segundo a direção dominante do afloramento com detalhe
adequado à escala 1:10 (2mm/pixel); de um ortofotomapa com altimetria representada
através de curvas de nível com equidistância de 5 cm; imagens de síntese com resultado
da aplicação do MRM à superfície em estudo e um modelo digital de superfície em
formato convencional (OBJ, PLY ou STL) (Pires, 2015, pp. 415-421). Os trabalhos de
campo foram executados no dia 17 de julho de 2017.
4.4. Corte e transporte do bloco granítico gravado
4.4.1. Levantamento geológico-geotécnico e estudo para trabalhos de remoção e
transporte
Para a execução dos trabalhos de salvaguarda foi elaborado um estudo
geológico-geotécnico com o intuito de remover o bloco gravado, tendo sido realizadas
visitas ao local nos dias 31 de maio e 6 de junho de 2017 por parte de uma equipa
especializada (Ralha & Marques, 2017, pp. 1-24). Para tal foi feita uma observação
cuidada do maciço e executados ensaios esclerométricos para analisar o nível da sua
alteração e resistência. Este estudo permitiu uma análise preliminar de avaliação dos
meios e procedimentos de corte e remoção do mesmo.
Deste modo foi estabelecida uma metodologia que determinou o seguinte: que o
desmonte do bloco fosse executado com recurso a serras de corte e a fio diamantado, de
modo a possibilitar a recuperação intacta dos elementos pretendidos; que o desmonte
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dos blocos para vazadouro ou aterro, na área a leste da afloramento gravado, com o fim
de abrir a frente leste para o trabalho de corte, deveria ser realizado através de cunhas
hidráulicas, de modo a não impor tensões demasiado próximas sobre o maciço a cortar;
que sempre que possível, a execução dos cortes aproveitasse as diaclases e fraturas
existentes garantindo a representatividade do maciço e a menorização da sua
perturbação, na perspetiva de limitar os danos e de provocar uma leitura o menos
antropomórfica possível do corte; que o corte do bloco fosse dividido em dois blocos,
por questões de resistência do mesmo, aquando do corte e no transporte. Também teve
de ser levada em conta a limitação de dimensões e ângulos de ataque das ferramentas de
corte.
A ideia geral era a de evitar a criação de formas demasiado delgadas que se
partissem no transporte ou com demasiado peso o que impossibilitaria o seu transporte
com os meios existente na obra. Uma vez que a distância do transporte era inferior a 20
m seria importante que se pudesse usar uma giratória com capacidade para levantar
mais de 10 toneladas.
4.4.2. Ações de corte e remoção do bloco gravado
Terminados os estudos prévios passou-se à execução do corte e remoção do
afloramento gravado. Estes trabalhos foram executados pela empresa Argonvia –
Serviços de Engenharia, sob a orientação do engenheiro geotécnico João Ralha, entre os
dias 7 e 11 de agosto de 2017 e desenvolveram-se em cinco etapas a saber:
1) Saneamento e limpeza (trabalhos preparatórios). Esta 1ª etapa consistiu no
saneamento da zona e limpeza de blocos graníticos em volta do afloramento gravado.
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Para tal o sector oeste do afloramento foi limpo previamente à intervenção da equipa
especializada no desmonte, o que foi realizado com recurso a equipamento de escavação
mecânica pesada (vulgo giratória). Tal possibilitou uma área propícia aos trabalhos de
pré-corte. As ações de remoção dos blocos soltos, de modo a não atingir a área do bloco
gravado, foram executadas com cuidado e a utilização do martelo hidráulico foi mantida
ao mínimo indispensável. Esta atividade teve acompanhamento arqueológico;
2) Pré-corte com cunha hidráulica. A 2ª etapa correspondeu ao desmonte e
remoção de parte mais frágil do afloramento com recurso a cunhas hidráulicas. Os
trabalhos iniciaram-se na frente leste, com o desmonte de pequenos blocos. Estes foram
removidos pelo empreiteiro com o auxílio de uma giratória. Posteriormente, iniciaramse os trabalhos delimitativos da estereotomia final dos blocos;
3) Corte e desmonte de material para vazadouro. A 3ª etapa centrou-se no corte
de blocos para vazadouro com recurso a serra de disco. Estes foram cortados com serras
de corte de rocha, com discos apropriados. Os elementos cortados foram facilmente
removidos e não ofereceram muita resistência. Nesta fase foi possível verificar que, em
profundidade, o afloramento encontrava-se mais alterado do que à superfície e que a
meteorização dos elementos plagioclásicos era notória e agravada pela utilização de
água no corte. Procedeu-se ao corte do topo pelo alinhamento este-oeste e as laterais
pelo alinhamento norte-sul. Com o evoluir dos trabalhos foram removidos os
“excessos” e delimitados os topos e lados dos mesmos. Finalmente fez-se o corte
superior de separação dos blocos (Figura 11);
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Figura 11. Pormenor dos blocos após os primeiros trabalhos de corte. Fonte: Fotografia
de Paulo A. Pinho Lemos.
4) Corte dos blocos. A 4ª etapa equivaleu ao corte dos blocos a transportar e
musealizar com recurso a serra de disco. Efetuou-se, primeiramente, o desmonte do
bloco 2 (não gravado) que serviu para testar a metodologia usada e, se necessário,
alterá-la e adequá-la no desmonte do bloco 1 (gravado). Procedeu-se à realização de
furos de sondagem na base do bloco 2 para verificação das condições de corte e
medidas que fossem necessárias a fim de garantir o transporte do mesmo. Em termos de
dimensões realizadas aproveitou-se ao máximo o diaclasamento presente e cortou-se o
bloco com 2,12 m de comprimento, 0,66 m de largura e 0,64 m de altura média. O corte
do bloco 1 foi executado seguindo-se os alinhamentos sub-horizontais laterais. Este
acabou por ficar com dimensões maiores do que as previstas no projeto para permitir a
manutençãoda área de diaclases que se mostravam frágeis. Ficou com cerca de 2,12 m
de comprimento por 1,30 m de largura, não ultrapassando os 0,80 m de altura (Figura
12);
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Figura 12. Trabalhos de corte do bloco 1. Fonte: Fotografia de Paulo A. Pinho Lemos.
5) Transporte dos blocos cortados. Por fim a 5ª etapa culminou com o
acondicionamento e transporte dos blocos 1 e 2. O transporte do bloco 2 processou-se
com o auxílio de cintas (forradas nos encontros das superfícies esquinadas); o transporte
do bloco 1 seguiu os mesmos parâmetros do anterior.
Figura 13. Trabalhos de transporte do bloco 1. Fonte: Fotografia de Paulo A. Pinho
Lemos.
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Apenas foi necessário o uso de mais cintas e de maior cuidado no seu transporte,
pois nas condições verificadas o equipamento tinha de manobrar com o elemento mais
próximo para ter capacidade de carga. Após o seu transporte pode proceder-se ao
desmonte do restante afloramento granítico, para dar seguimento à execução de obra
(Figura 13).
4.5. Valorização da gravura rupestre
Os dois blocos foram colocados lado a lado, no seu alinhamento original, tendo
sido transladados simplesmente 12 m para NO do seu local original. Previamente à
trasladação do afloramento gravado para a sua nova localização, foram realizados
trabalhos de acondicionamento, assim como a criação de uma base impermeável e
estável, em cimento, para garantir a fundação e estabilidade do conjunto dos dois
blocos. Finalmente foram realizadas ações de colagem dos blocos com uma calda de
cimento fina, devido à suscetibilidade do maciço à meteorização. O processo de
valorização da gravura rupestre do Coruto culminou com a elaboração de uma placa
informativa, em metal, disposta nas imediações do afloramento gravado com textos
didáticos bilingues, em língua portuguesa e inglesa, da responsabilidade dos dois
primeiros subscritores deste trabalho, acompanhada pelo levantamento 3D do
afloramento original. O local foi ajardinado e provido de passeios que facilitam o acesso
à gravura (Figuras 14 a 16).
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Figura 14. Projeto de execução do Interface Logístico do Parque de Negócio de
Escariz com a implantação da gravura rupestre e o local de translado da mesma. Fonte:
José Carlos Santos (Paviazemeis: Pavimentações de Azeméis Lda.).
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Figura 15. Trabalhos de colagem dois blocos. Fonte: Fotografia de Paulo A. Pinho
Lemos.
Figura 16. Gravura rupestre do Coruto, na sua nova localização. Fonte: Fotografia de
Paulo A. Pinho Lemos.
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5. Algumas Considerações
Na sequência das ações de acompanhamento arqueológico efetuadas no âmbito
do projeto de execução do Interface Logístico do Parque de Negócio de Escariz foi
identificada a gravura rupestre do Coruto. A descoberta deste sítio arqueológico levou a
que o município de Arouca em diálogo com a DGPCN, optasse pela sua preservação e
valorização para visitação futura.
As medidas de estudo, registo, conservação e salvaguarda que foram necessárias
implementar para a sua consecução implicaram um conjunto de metodologias
interdisciplinares que se dão conta neste texto.
Trata-se de um caso de estudo onde imperaram as boas práticas e a boa vontade,
possibilitando a preservação, divulgação e dignificação do património arqueológico,
assim como o seu conhecimento pelas populações futuras.
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