O Mooc de Lovelace Acessível: Uma Chamada de Meninas Surdas
para as Carreiras de Computação
Introdução ao Pensamento Computacional
Márcia Gonçalves de Oliveira†
Ana Carla Kruger Leite
Instituto Federal do Espírito Santo
Vitória, ES, Brasil
marcia.oliveira@ifes.edu.br
Instituto Federal do Espírito Santo
Vitória, ES, Brasil
kruger-leite@hotmail.com
Lucineia Barbosa Costa Chagas
Mônica Ferreira Silva Lopes
Instituto Federal do Espírito Santo
Vitória, ES, Brasil
cliklucineia@gmail.com
Instituto Federal do Espírito Santo
Campus Serra, ES, Brasil
ferreirasilvalopes@gmail.com
Gabriel Silva Nascimento
Instituto Federal de São Paulo (IFSP)
Registro, SP, Brasil
tilgabriel@gmail.com
ABSTRACT
This paper introduces Lovelace's Mooc course on Computational
Thinking for the female audience and accessible to the deaf
community. The course's video lessons are produced together with
a deaf translator who expresses in LIBRAS the contents of the
classes in sync with the teachers' speech in a deaf to deaf
communication. The differentials of this MOOC proposal are to
rescue the principles of simplicity and collaboration of Distance
Education, to promote the accessibility of deaf and to implement a
meta-active course methodology oriented to the development of
Computational Thinking skills and the generation of new
knowledge from collaborative work without tutoring. Moving
forward in this proposal, we have already started the Robotic
Lovelace's MOOC accessible with some video lessons translated
into LIBRAS. In addition to video lessons, another important
contribution of the deaf translator of the Lovelace’s MOOC video
lessons was the creation of the sign in LIBRAS for Ada de
Lovelace, in celebration of Ada Lovelace’s day.
KEYWORDS
Mooc, Pensamento Computacional, Surdos, Acessibilidade
Clara Marques Bodart
Instituto Federal do Espírito Santo
Vitória, ES, Brasil
clara.marques@ifes.edu.br
Jussara Pinto Pancieri
Instituto Federal do Espírito Santo
Vitória, ES, Brasil
jussara.pancieri11@gmail.com
XI Computer on the Beach
2 a 4 de Setembro de 2020, Baln. Camboriú, SC, Brasil
1
Oliveira et al.
Introdução
Na atual Sociedade da Informação e do Conhecimento, a
multiplicação da informação favorecida pelas tecnologias de rede e
de nuvem ampliou a demanda por formação, seja para a
qualificação profissional, para a aquisição de conhecimentos
específicos ou apenas para a complementação dos estudos dos
cursos da educação tradicional.
Mas essa alta demanda por formação, sendo muito onerosa, não
é plenamente suprida pela modalidade presencial de ensino. A
Educação a distância surge, dessa forma, como uma possibilidade
de formação com uma oferta maior de vagas para vários cursos. No
entanto, o aumento de vagas implica no aumento de recursos
humanos, isto é, de tutores e professores e, por conseguinte, no
aumento dos custos de implantação de cursos a distância para
atender as demandas de formação.
Esses custos, porém, não compensariam no caso das demandas
por formação serem para aquisição de conhecimentos específicos
ou apenas para a complementação dos estudos de cursos
tradicionais.
Os Moocs são cursos online, massivos, abertos e sem tutoria
[16]. A ideia de um Mooc como uma comunidade virtual de
aprendizagem que gera conhecimento, conforme a Figura 1,
consiste em, a partir das interações entre aprendizes, evoluir um
conhecimento inicial disponibilizado pelo especialista nesse
conhecimento. Dentro dessa ideia, as principais características dos
Moocs são as seguintes: têm fundamentos construtivista e sócioconstrutivista, emergiram com o avanço da informatização; a
aprendizagem reside nas interações sociais por trocas de
informações; o conhecimento é distribuído e compartilhado por
uma rede de conexões; há uma redução da ação do educador; e
implementam um modelo de aprendizagem em que alunos
pesquisam, criam e compartilham conhecimentos [13].
Atualmente os Moocs têm muitas aplicações no contexto do
ensino superior [3] e são cada vez mais utilizados para aquisição
de conhecimentos e complementação de estudos.
As vantagens dos cursos Moocs são estimular a aprendizagem
autônoma, gerar conhecimentos a partir das interações das pessoas,
formar um grande repositório de informações sobre conteúdos e
pessoas (útil para análise de aprendizagem) , em geral são gratuitos
ou de baixo custo, têm ampla oferta de cursos livres e úteis para as
pessoas, exploram as potencialidades de construção da Web 2.0 e
caracterizam-se por uma aprendizagem mais informal.
Os Moocs aparecem então como uma possibilidade de formação
em larga escala que atende às necessidades de formação tanto para
aquisição de conhecimentos específicos quanto para
complementação de estudos. Já para a educação formal, ainda há
vários desafios a serem vencidos para que os Moocs se estabeleçam
como solução de formação profissional em larga escala,
principalmente quando, no projeto desses cursos, subtraindo-se a
tutoria, busca-se reduzir a distância transacional.
A distância transacional é um conceito que descreve o universo
de relações professor-aluno que se dão quando alunos e tutores
estão distantes no tempo e no espaço [6] e abre-se uma lacuna na
comunicação dos envolvidos.
Figura 1: A Essência de um Mooc
De acordo com [6], esse universo de relações pode ser ordenado
segundo uma tipologia construída em torno de três componentes: a
estrutura dos programas educacionais, a interação entre alunos e
professores e o grau de autonomia dos estudantes. Dessa forma,
sem tutoria, a estrutura educacional de conteúdos e atividades de
um curso a distância precisa ampliar a qualidade, favorecer o
trabalho colaborativo dos estudantes e desenvolver cada vez mais a
autonomia dos estudantes em seus processos de aprendizagem.
Mas o planejamento da estrutura educacional de um curso a
distância, incluindo os Moocs, além de contemplar a qualidade do
material instrucional, a interação e o potencial de desenvolver a
autonomia, deve atentar para os recursos e metodologias de
acessibilidade para pessoas com necessidades especiais.
No caso de pessoas surdas, a acessibilidade em cursos a
distância ainda enfrenta vários desafios no desenvolvimento de
soluções para facilitar a interação com pessoas surdas em
ambientes online. Considerando os Moocs, em que a tutoria é
reduzida ou suprimida, os desafios aumentam, uma vez que os
surdos têm dificuldades em aprender apenas em ambientes online e
dependem de acompanhamento especial na tutoria, principalmente
na aprendizagem de conteúdos mais complexos como a
programação de computadores.
Neste trabalho, atentando para as dificuldades dos surdos em
aprender programação por terem que lidar com três linguagens
(Libras, Português/Inglês e Linguagem de Programação) e para o
apelo de uma estudante surda para que mais soluções acessíveis
sejam desenvolvidas para os surdos aprenderem computação [10],
este trabalho apresenta uma ação de popularização do ensino de
computação baseada em Moocs para o público-feminino da
comunidade surda. Os Moocs desenvolvidos, que chamamos de
Moocs de Lovelace Acessíveis em referência à primeira
programadora do mundo, a Ada de Lovelace, são direcionados para
o ensino de Pensamento Computacional, Programação e Robótica.
Os Moocs de Lovelace Acessíveis estendem a proposta do curso
a distância de programação Python desenvolvido por [9]
direcionado para o público feminino, dentro da proposta do
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e eram distribuídos ao longo das cinco semanas. As principais
ferramentas usadas para preparar os exercícios foram: perguntas de
múltipla escolha, perguntas de múltiplas respostas, perguntas de
entrada, exercícios de arrastar e soltar e revisão por pares.
Programa Meninas Digitais da SBC de resgatar uma maior
representação feminina nas carreiras de computação1 .
Avançamos, porém, a proposta de curso a distância de [10] com
os seguintes diferenciais: resgate dos princípios da simplicidade e
colaboração no projeto de cursos a distância, videoaulas com
comunicação de surdo para surdo, implementação de uma
metodologia meta-ativa de curso orientada ao desenvolvimento de
habilidades do Pensamento Computacional e a uma metodologia de
geração de novos conhecimentos a partir de um trabalho
colaborativo sem tutoria. Avançando nessa proposta, já iniciamos
os Moocs de Lovelace da Programação e da Robótica.
Em 2018, pesquisadores do Institute of Information Systems
Engineering localizado na Austria, desenvolveram um Mooc para
Introdução à programação em JAVA, o curso tinha como públicoalvo jovens na fase de transição entre ensino médio e faculdade. A
linguagem escolhida se deu pelo fato de ser considerada pelos
pesquisadores de fácil entendimento, o que facilita a criação de
software para desenho ou animação, sendo um motivador para os
alunos, por se concentrar em gráficos e animações com base em
coordenadas, o que oferece resultados instantâneos e visíveis [15].
Apresentamos neste trabalho o projeto piloto dos Moocs de
Lovelace, que é o curso Mooc de Lovelace Acessível do
Pensamento Computacional. Esse curso contém as primeiras
videoaulas produzidas pela professora do curso junto com uma
estudante surda que atuou como tradutora de Libras, promovendo
a acessibilidade ao curso em uma comunicação de surdo para surdo.
No Brasil já existem várias pesquisas que giram em torno de
aprendizagens de programação utilizando Moocs [8][11], avaliação
de atividades de programação com o uso de Moocs [7], dentre
outros. Todavia, são raras as pesquisas publicadas envolvendo
aprendizagem de Pensamento Computacional, Programação e
Robótica utilizando Moocs com tradução/interpretação em Libras.
Para apresentar a proposta do Mooc de Lovelace Acessível do
Pensamento Computacional e as recomendações para dar
continuidade a essa proposta, este trabalho está organizado
conforme a ordem a seguir. Na Seção 2, destacamos alguns
trabalhos relacionados. Na Seção 3, apresentamos algumas
orientações para inclusão de surdos em ambientes de cursos a
distância. Na Seção 4, descrevemos a estratégia do Mooc de
Lovelace Acessível do Pensamento Computacional e as videoaulas
produzidas com a participação de uma estudante surda. Na Seção
5, concluimos com as considerações finais.
De acordo com [5], as plataformas Moocs ainda são difíceis de
serem utilizadas por cegos e surdos. Por isso, mais pesquisas são
necessárias para compreender como torná-los acessíveis. Este
trabalho é, portanto, um passo inicial, mas relevante para o
desenvolvimento de Moocs acessíveis para surdos, a começar pelo
público feminino da comunidade surda, para o qual se destina a
proposta deste trabalho.
3 Acessibilidade de Surdos em Moocs
2 Revisão de Literatura
Pensar a elaboração de um curso de programação de forma mais
autônoma como prevêem os cursos Moocs, por si só constitui uma
tarefa desafiadora. Incluir nele recursos inclusivos, sobretudo para
surdos, amplia ainda mais esse desafio. Isso porque lidamos com
uma comunidade cuja língua e cultura se organizam de forma
visual, isto é, de forma independente dos sons a que estamos
habituados enquanto ouvintes.
Nesse sentido, a proposta de incluir a língua de sinais por meio
da tradução dos conteúdos e orientações relativas ao curso
representa uma inovação tanto nessa modalidade de curso quanto
na temática aqui no Brasil, por visar oferecer simultaneamente aos
surdos e ouvintes os conhecimentos tão caros no campo da
computação.
Para além da aplicação da língua de sinais por meio de vídeos
sinalizados, é preciso atentar que as traduções dos Moocs de
Lovelace serão realizadas por uma profissional tradutora e
intérprete do par linguístico Libras-Português que é surda e vêm
participando ativamente de grupos de pesquisa do grupo Corte de
Lovelace2, responsável pelo desenvolvimento desses Moocs.
Na aprendizagem de Programação, os Moocs têm sido muito
utilizados, como em [14], com o desenvolvimento de um Mooc para
o ensino e aprendizagem de Fundamentos de Programação
utilizando o ANSI - C.
Esse curso teve como foco o treinamento de conceitos básicos
de programação, além de examinar sua aplicação prática através do
desenvolvimento de programas em Linguagem C, fornecendo
ferramentas necessárias para gerenciar o processo de
desenvolvimento de programas estruturados, tanto na teoria, como
a análise de técnicas de programação, quanto na prática no
desenvolvimento de aplicativos.
No ano de 2016, o Mooc também foi usado para cursos de
programação introdutória na linguagem JAVA [1]. O Mooc havia
duração de cinco semanas e foi projetado para promover a
aprendizagem dos alunos, sendo aplicados um total de 578
exercícios, além de 70 vídeos com duração de cinco a seis minutos.
Mais de 90% dos exercícios correspondiam à avaliação formativa
1
Programa Meninas Digitais: http://meninas. sbc. org. br
A Corte de Lovelace é um projeto parceiro do Programa Meninas Digitais. Mais
informações podem ser acessadas em
http://meninas.sbc.org.br/index.php/portfolio/corte-de-lovelace/
2
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Considerar esse perfil profissional é essencial com base naquilo
que os estudos no campo da tradução e interpretação vêm pensando
enquanto modelo de competência tradutória [12]. Dentre eles as
noções de subcompetências propostas por [2] do grupo Pacte Proceso de Adquisición de la Competencia Traductora y
Evaluación - da Universidade Autonoma de Barcelona (UAB).
Com relação às subcompetências elencadas por Hurtado, é possível
apontarmos no perfil da tradutora de Libras que deve participar do
projeto dos Moocs de Lovelace:
surdos. No caso do sinal pensado para representar visualmente a
Ada Lovelace, existe uma motivação estética que une
características da programadora, como o coque do cabelo,
respeitando os parâmetros gramaticais de Libras. Assim, os sinais
elaborados ampliam o repertório lexical em uma área pouco
explorada.
• Subcompetência bilíngue - que compõe os conhecimentos que
são essencialmente operacionais para transitar entre a língua
portuguesa e a LIBRAS garantindo uma comunicação com
qualidade;
• Subcompetência extralinguística - cujos conhecimentos
extrapolam a esfera das línguas e se relacionam com a percepção
de mundo;
• Subcompetência de conhecimentos sobre a tradução assegurada pelos quatro anos de formação da tradutora no curso de
bacharelado em tradução;
• Subcompetência instrumental - com relação direta a área do
curso que se vale não somente de recursos da informática como
tecnologias audiovisuais e produção de conteúdo;
• Subcompetência estratégica - desenvolvidas pela tradutora a
partir das orientações no próprio grupo de pesquisa e que
asseguram a linguagem e terminologia adequadas ao campo da
computação;
Componentes psicofisiológicos - aqui consideramos o próprio
interesse da tradutora surda em participar do grupo de pesquisa e
do projeto, produzindo materiais audiovisuais como o vídeo com a
explicação do sinal em Libras da Ada de Lovelace ou mesmo de
artigos apresentados em eventos nacionais e internacionais.
Considerar essas competências na escolha do perfil da tradutora
se mostra extremamente relevante no sentido de produzir conteúdo
que seja de fato acessível aos surdos usuários da língua de sinais,
garantindo a qualidade tradutória e didática dos materiais a serem
desenvolvidos.
Em relação aos procedimentos e inserção dos recursos
envolvendo Libras, o trabalho foi organizado conforme a Figura 2.
É preciso esclarecer que a escolha por uma tradutora humana e
não predominantemente softwares de tradução automática para o
Mooc de Lovelace se deu pelo fato de que, apesar dos avanços com
esses softwares e aplicativos, o processo tradutório ainda não
alcança a qualidade desejada e não é suficiente para contemplar as
nuances específicas, regionais e expressivas da língua de sinais, em
muitos casos apresentando traduções divergentes das pretendidas
conforme nos apontam [4]. Deste modo, incluir estes recursos pode
não ser uma alternativa viável dentro do que propomos.
Além disso, retomando os aspectos de subcompetências, o fato
de a tradutora estar diretamente envolvida com a formação, também
enquanto pesquisadora possibilita pensar formas mais objetivas e
didáticas da produção dos conteúdos em língua de sinais e, a partir
disso, incorporar os áudios em língua portuguesa e legendas que
podem ser ativadas ou desativadas.
A produção terminológica envolvendo também o campo da
computação se mostra mais fértil com a presença de pesquisadores
Figura 2: Procedimentos para Inserção de recursos nos Moocs
de Lovelace
A produção dos conteúdos diretamente em Libras e com
autonomia de escolhas tradutórias pela pesquisadora surda
representa ainda uma quebra de paradigma em relação à produção
de materiais bilíngues, considerando que normalmente o processo
acontece de forma inversa, isto é, primeiro se produz em Português
para em seguida traduzir, normalmente com um profissional
ouvinte, para a língua de sinais. Inverter esse fluxo pode contribuir
para o pensar metodológico de forma mais direta e clara na língua
de sinais brasileira.
4 O Mooc de Lovelace Acessível
A ideia do Mooc de Lovelace veio de uma iniciativa de
popularização da computação através da Educação a Distância
iniciada como um curso a distância de programação Python
direcionado para o público feminino [9]. Nessa proposta de curso
de programação Python são destaques: o uso de metodologias
ativas orientadas ao desenvolvimento das habilidades de
programação, os fóruns de discussão e de trabalho colaborativo, a
tutoria realizada por meninas de um curso de Bacharelado em
Sistemas de Informação e a integração de diferentes mídias em um
material ativo, prático e atrativo. O objetivo desse primeiro trabalho
foi ampliar as possibilidades de formação em programação para
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mulheres de diferentes contextos sociais através da Educação a
Distância. Em um novo trabalho [10], essa proposta foi estendida
para uma abordagem híbrida considerando as dificuldades de
aprendizagem de uma estudante surda em aprender programação
por ter que lidar com três linguagens (Português, Libras e a
Linguagem de Programação em inglês) em seu processo de
aprendizagem de programação.
Nesse último trabalho, em resposta ao apelo da estudante surda
à comunidade de Meninas Digitais da SBC para que mais ações de
inclusão de meninas surdas na computação fossem desenvolvidas,
neste trabalho criamos uma proposta de Mooc acessível a surdos
para o Ensino de Pensamento Computacional, Programação e
Robótica com os seguintes diferenciais: retomada da proposta
inicial de um curso totalmente a distância, mas resgatando os
princípios de simplicidade e colaboração da Educação a Distância;
acessibilidade de surdos em uma comunicação de surdo para surdo,
onde a estudante surda atua como a tradutora de Libras do curso; a
aplicação de uma metodologia meta-ativa de curso orientada ao
desenvolvimento de habilidades; e à geração de novos
conhecimentos a partir de um trabalho colaborativo sem tutoria.
Os cursos Moocs do Instituto Federal do Espírito Santo,
disponíveis na plataforma de cursos abertos e massivos do Cefor3,
estão divididos entre as áreas de Formação Continuada, Formação
de Professores, Programação (com os Moocs de Lovelace),
Inclusão Digital, Robótica Educacional, Realidade Aumentada,
Redação Científica e Ensino de Matemática com o Lesson Study.
Atualmente, dos cursos Mooc de Lovelace, apenas o Mooc de
Lovelace do Pensamento Computacional está pronto e estará
disponível na plataforma de cursos abertos e massivos do Cefor a
partir de Março de 2019. O curso de programação está sendo
reformulado em uma estrutura gamificada de emblemas da Corte
de Lovelace, e o curso de robótica ainda está em fase de
planejamento, mas algumas videoaulas já foram traduzidas para
Libras, como por exemplo, a videoaula da Figura 3, que apresenta
alguns conceitos da robótica e o funcionamento dos mecanismos de
um guincho robótico.
Nessa nova proposta de formação em EaD, que estende a
proposta de [10], adicionamos os cursos de Pensamento
Computacional e de Robótica porque entendemos que a
aprendizagem de programação deve ser precedida pela prática
assistida de compreensão e resolução de problemas através de
algoritmos e sucedida pela prática assistida da programação em
ações de automatização. Dessa forma, no curso Mooc de Lovelace
do Pensamento Computacional, isolam-se as alunas das
complexidades da linguagem de programação e aplicamos uma
estratégia de nivelamento baseada na compreensão e resolução de
problemas aplicando os conceitos do Pensamento Computacional.
Já, no curso de robótica, os conhecimentos de programação são
aplicados para execução das ações de mecanismos robóticos.
4.1. O Mooc
Computacional
de
Lovelace
Acessível
do
Pensamento
O curso Mooc de Lovelace do Pensamento Computacional,
dentro da proposta de projeto dos Moocs de Lovelace, é um curso
totalmente a distância que resgata os princípios de simplicidade e
colaboração da Educação a Distância. O projeto simples do curso
implementa apenas quatro blocos: A parte introdutória do curso, as
Aulas-Fóruns, as Atividades Avaliativas e a Biblioteca Virtual.
A Parte Introdutória do Curso contém, conforme a Figura 4, a
Apresentação do Curso, o Fórum do Pensamento Computacional,
o Mural de Avisos e os informes sobre a certificação do curso. O
Fórum do Pensamento Computacional é um espaço interativo para
tirar dúvidas e compartilhar experiências do curso. Já o Mural de
Avisos contém as notícias e avisos comunicados ao longo do curso.
Figura 4: Parte Introdutória do Curso Mooc de Lovelace
do Pensamento Computacional
As Aulas-Fóruns contêm os conteúdos das aulas em uma
videoaula de apresentação, em um exemplo de problema do mundo
real e em um exercício resolvido. O formato de fórum é utilizado
para que os alunos reflitam e discutam os conteúdos das aulas.
As Aulas-Fóruns e as Atividades Avaliativas seguem uma
abordagem de metodologia meta-ativa, isto, ensinam-se os
conteúdos e resolvem-se as atividades a partir dos próprios
Figura 3: Videoaula Acessível de Robótica
3
Disponível em: https://mooc.cefor.ifes.edu.br/
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conteúdos do curso, isto é, a partir dos conceitos-chave do
Pensamento Computacional que são: a Abstração, a
Decomposição, o Reconhecimento de Padrões e o Algoritmo. Na
Figura 5, podemos visualizar como as Aulas-Fóruns e as
Atividades Avaliativas são organizadas a partir dos conceitos e
habilidades do Pensamento Computacional.
A primeira atividade avaliativa do curso é o Acróstico do
Pensamento Computacional. A proposta dessa atividade é gerar
conhecimento novo para as próximas turmas a partir do trabalho
colaborativo das alunas de inserção de itens em um glossário.
Nas demais Atividades Avaliativas, é contemplado um mesmo
problema como, por exemplo, a urna eletrônica para votação.
Conforme a Figura 5, a atividade avaliativa Abstraia consiste em
criar representações do que é essencial extrair de um problema de
votação para que ele possa ser resolvido por máquina.
Já a atividade avaliativa Decomponha consiste em decompor o
problema da votação em entrada, processamento e saída.
A atividade avaliativa Reconheça Padrões, por sua vez,
consiste em propor modelos de estruturas de programação como,
por exemplo, instruções para contar e acumular, estruturas
condicionais e estruturas de controle de repetição.
Já a atividade avaliativa Crie o Algoritmo consiste em criar o
algoritmo da urna eleitoral e explicar seus passos para executar o
processo de votação e a contagem de votos.
Vale ressaltar que essas atividades avaliativas são direcionadas
para um portifólio do aluno e funcionam como um treinamento para
a prova do curso que consiste em um questionário com questões
envolvendo essas atividades realizadas. Dentro de um Mooc, esse
questionário é a avaliação automática de desempenhos cujos
resultados habilitam ou não as estudantes para a certificação
A acessibilidade de surdos no curso é promovida através do
recurso VLibras, que já é incluído na plataforma de cursos abertos
do Instituto Federal do Espírito Santo e, principalmente, através de
videoaulas traduzidas pela tradutora surda, que foi aluna do curso
híbrido Moodle de Lovelace [10], e transcritas por uma intérprete
de Libras. A Figura 6 apresenta um exemplo de videoaula
produzida pela professora, pela tradutora surda e pela intérprete de
Libras do curso Mooc de Lovelace do Pensamento Computacional.
Figura 6: Videoaula com tradução realizada por uma surda
e transcrição realizada por uma intérprete de Libras
(Disponível no Canal Cefor 4).
A plataforma Moodle do Instituto Federal do Espírito Santo
utiliza o aplicativo VLibras para enunciados curtos, e a tradução de
materiais didáticos realizadas por tradutores humanos. Contudo,
sentimos conforme nossas premissas e relatos das alunas usuárias
dos cursos do Ifes que o aplicativo não contempla em sua totalidade
a demanda de tradução em Libras.
Em relação às videoaulas, em parceria com a tradutora surda, o
que mais impressionou a intérprete de Libras do Ifes foi que a
tradutora, mesmo sendo surda, conseguiu estar praticamente 100%
sincronizada em tempo com a fala da professora, que fala de modo
rápido o conteúdo de sua disciplina. O mais interessante também, é
que no momento de gravação, na presença do técnico em
audiovisual, não foi acionado o recurso de aúdio para controlar o
tempo de tradução e interpretação da tradutora, e mesmo assim, ela
conseguiu estar bem síncrona com a fala da professora, com apenas
alguns pequenos atrasos.
O conhecimento que a tradutora já tinha do conteúdo, devido à
breve experiência com o curso híbrido do Moodle de Lovelace [10]
facilitou toda a tradução dos conteúdos.
Figura 5: Aulas-Fóruns e Atividades Avaliativas do Mooc
de Lovelace do Pensamento Computacional
Por último, a atividade avaliativa Pense Computacionalmente
consiste em um trabalho colaborativo das alunas em uma Wiki para
discutir, analisar, incrementar e revisar um código de programação
até deixá-lo correto.
Nesse caso, a atividade consistiria em corrigir um código da
urna eletrônica e inserir mais funcionalidades como, por exemplo,
exibir os percentuais de votos para cada candidato ou inserir uma
estrutura condicional de confirmação de voto dentro do algoritmo
já construído.
4
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Jgkq52cbtY0&feature=emb_rel_end
196
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Libras e a tradutora de Libras, que é surda, favorecendo assim uma
dinâmica de comunicação de surdo para surdo e também atendendo
às alunas ouvintes do curso.
Uma importante contribuição da tradutora surda foi uma
homenagem ao Ada Lovelace’s day, que é comemorado no dia 9 de
outubro, através da criação do sinal em Libras da Ada de Lovelace.
A partir dessa integração que promovemos com a estudante
surda, que hoje colabora no projeto de um curso acessível a surdos
como tradutora de Libras, nossas expectativas, atendendo ao apelo
dessa estudante para o desenvolvimento de mais ações de inclusão
de surdos na computação, são que, através da EaD, venhamos a
promover cada vez mais ações de popularização da computação
favorecendo cada vez mais o acesso de meninas surdas às carreiras
de computação.
Uma importante contribuição da tradutora surda para o Mooc
de Lovelace do Pensamento Computacional que merece destaque
foi a criação de um sinal de Libras em homenagem à primeira
programadora do mundo que deu nome ao Mooc deste trabalho, que
foi a condessa Ada de Lovelace. A tradutora surda criou o sinal da
Ada em lembrança do Ada Lovelace’s day, comemorado no dia 9
de outubro. Na Figura 7, destacamos a imagem e o link do vídeo no
Youtube do sinal criado para a Ada Lovelace.
Concluindo, a informática, para os surdos, ainda é uma área
passiva de atuação, isto é, ainda que eles usem as tecnologias o
processo de criação deles parece algo distante pela defasagem de
conhecimento, sobretudo na matemática e na língua Portuguesa, já
que nas questões lógicas o raciocínio por meio da linguagem é
necessário e eles apresentam grande dificuldade em ler proposições
pela falta de acesso ao português escrito.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do
Espírito
Santo
(FAPES), financiadora do Projeto
CORTE DE LOVELACE - RESOLUÇÃO N° 244/2019, através do
qual foi desenvolvida a pesquisa deste trabalho.
REFERÊNCIAS
[1]
[2]
[3]
Figura 7: Sinal em Libras da Ada de Lovelace
À medida que esses cursos e informações são divulgados em
Libras os surdos passam a, gradualmente, terem contato com a área
e enxergar possibilidades de se inserir nela. Dessa forma, ao
participarem ativamente dos cursos e publicações, acabam se
situando como público-alvo potencial para programadores
pensarem novos produtos e abrirem caminhos para que os próprios
surdos comecem a programar pensando nas suas próprias
experiências sociais, linguísticas e culturais.
[4]
[5]
[6]
[7]
5 Conclusão
Este trabalho apresentou o curso Mooc de Lovelace Acessível
do Pensamento Computacional que teve como principais
diferenciais resgatar os princípios de simplicidade e colaboração da
Educação a Distância, favorecer a acessibilidade de surdos e
implementar uma metodologia meta-ativa de curso orientada ao
desenvolvimento de habilidades do Pensamento Computacional e à
geração de novos conhecimentos a partir de um trabalho
colaborativo sem tutoria.
A acessibilidade de surdos nesse curso foi possível através do
aplicativo VLibras, mas principalmente através da produção de
videoaulas realizada pela professora do curso, uma intérprete de
[8]
[9]
[10]
[11]
197
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