TECNOLOGIA LÍTICA E
CADEIAS OPERATÓRIAS NO
SÍTIO SAMBAQUI DA PRAINHA,
GUANABARA, RIO DE JANEIRO*
ARTIGO
SUDOESTE DA BAÍA DE
Palavras-chave: Sambaquis. Debitagem Bipolar. Áreas de Atividade.
*
**
562
Recebido em: 23.05.2020. Aprovado em: 09.09.2020.
Doutor em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Arqueologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail:
andersonmarquedgarcia@gmail.com
***
Doutora em Arqueologia pela Universidade de São Paulo. Professora do PPGArq Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: madugasparmd@gmail.com
****
Doutora em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
ginabianchini@hotmail.com
***** Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
diogborges@gmail.com
****** Doutora em Física Nuclear pela Universidade Federal Fluminense. Professora associada IV do
Departamento de Física e diretora do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense.
E-mail: kitamacario@id.uff.br
******* Mestrando em Arqueologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
E-mail: henriquevences@gmail.com
******** Diploma de Estudos Avançados (mestre) em Pré-historia, Universidad de Salamanca. E-mail:
riccardofrigoli@gmail.com
DOI 10.18224/hab.v18i2.8278
Resumo: o presente artigo inaugura o estudo de cadeias operatórias de pescadores-coletores
no Estado do Rio de Janeiro, apresentando uma discussão a partir de objetos líticos, relacionados a pelo menos três cadeias operatórias. Embora a amostra seja pequena, sugere a
adoção de distintas áreas fontes de matérias-primas, demonstra escolhas técnicas pertinentes
à distintos modelos mentais idealizados para os instrumentos e sugerem a existência de áreas
de atividades específicas no sítio.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
ANDERSON MARQUES GARCIA**, MARIA DULCE GASPAR***, GINA FARACO
BIANCHINI****, DIOGO DE SOUZA BORGES*****, KITA DAMASIO MACARIO******,
HENRIQUE VENCES BARROS*******, RICCARDO FRIGOLI********
O LÍTICO NOS SAMBAQUIS DA BAÍA DE GUANABARA E REGIÃO DOS
LAGOS
563
No estado do Rio de Janeiro e, especialmente no entorno da Baía de Guanabara, estudos de tecnologia lítica com objetos recuperados em sambaquis são raros
e/ou praticamente inexistentes. No estudo realizado mais próximo desse contexto, a
partir do material resgatado do sambaqui de Camboinhas, município de Niterói, foram
eleitos alguns artefatos interpretados como instrumentos formais e descritas as suas
características técnicas (MORAIS, 1983). As demais informações são de áreas como
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
S
ambaquis são construções formadas predominantemente por valvas de moluscos, ossos
de fauna e sedimentos, porém, também é recorrente a presença significativa de artefatos líticos produzidos através de técnicas de lascamento e polimento. Prous (1992)
argumenta que esses materiais, compostos principalmente por fragmentos e lascas de
quartzo sem evidências de retoques, raramente foram descritos. Já o material polido
elaborado predominantemente em rocha básica, sempre chamou atenção, em especial
os zoólitos (PROUS, 1974; MILHEIRA, 2014).
Apesar do material lítico representar uma parcela significativa da cultura material encontrada em sambaquis, seu estudo ainda é pouco frequente. DeBlasis e Gaspar
(2009) lembram que algumas vezes as características dessas indústrias foram referidas
como “toscas” e “primitivas”, conjuntura que parece ter influenciado negativamente
o interesse por parte dos pesquisadores. Além disso, por muito tempo na história da
pesquisa arqueológica, a indústria lítica foi alvo de estudos onde apenas os objetos
considerados formais eram preferencialmente selecionados, aspecto que fornecia uma
perspectiva distorcida a respeito dos conjuntos.
Recentemente, estudos sistemáticos têm revelado informações importantes
acerca da indústria lítica em sambaquis, assim como também sobre o modo de vida de
seus construtores (ALVEZ, 2010; BELÉM, 2012; COMENALE GARCIA, 2017). De
acordo com estes estudos são aspectos característicos destas indústrias: a recorrência de
lascas brutas, mas também técnicas apuradas aplicadas na produção de objetos específicos e a multifuncionalidade dos instrumentos. No entanto, apesar dos avanços, os
resultados estão centrados principalmente em sítios do litoral de São Paulo e de Santa
Catarina.
Assim, o presente artigo inaugura a referida abordagem para o estudo de sambaquis no Rio de Janeiro, com o objetivo de colaborar com o processo de construção de
conhecimentos a respeito da sociedade sambaquieira no Sudoeste da Baía de Guanabara, a partir da discussão de características identificadas entre objetos líticos resgatados
ao longo de escavações realizadas no centro da capital fluminense.
A abordagem desenvolvida nesse texto se articulada com a ideia de sambaquis
enquanto monumentos funerários construídos por pescadores-coletores, inseridos em
uma paisagem também modificada por meio da domesticação e uso dos espaços naturais (GASPAR, 1991; 1998; SCHEEL-YBERT, 1999; DEBLASIS; GASPAR 2009;
KLOKLER et al., 2010; VILLAGRÁN et al., 2011; MENDONÇA DE SOUZA et al.,
2012; BIANCHINI, 2015; GASPAR et al., 2019). Nesta proposta o conjunto dos espaços articulados ao sambaqui é entendido como parte do sítio arqueológico em estudo.
A partir dessa perspectiva emerge a discussão a respeito de diferentes áreas de atividades
no sítio Sambaqui da Prainha.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Saquarema e Cabo Frio, na região dos Lagos, e Baía da Ilha Grande (KNEIP et al.,
1994; TENÓRIO, 2003; BARBOSA GUIMARÃES, 2007).
Para Saquarema Kneip et al. (1994) apresentam informações dos sambaquis
Beirada, Moa e Pontinha, sinalizando o predomínio do quartzo no Pontinha, do diabásio no Beirada e equivalências de ambas no Moa. Nos três sítios foi identificada a
presença de lâminas de machados lascadas e/ou polidas.
Nos sambaquis do Moa e Pontinha uma série de artefatos lascados foram interpretados como instrumentos formais, com categorias semelhantes às propostas por
Morais (1983). Pontinha foi o que apresentou maiores quantidades e diversidade de materiais, levando os autores a proporem que seriam realizadas atividades de lascamento
no próprio sambaqui.
Crancio (1995) aponta que no sambaqui de Saquarema houve predomínio do
quartzo em atividades de lascamento, do diabásio para lâminas de machado e percutores, além de inúmeros artefatos brutos. Devido à diversidade de categorias de materiais
em quartzo, a autora sugere o desempenho de atividades de lascamento no sambaqui e
considera a debitagem unipolar como mais frequente. Posteriormente Crancio e Kneip
(2001) estudaram os líticos dos sambaquis Saquarema, Manitiba I, Moa, Saco e Madressilva, verificando o uso preferencial de quartzo de veio nos dois primeiros sítios,
e o pegmatito nos demais. As autoras apontam o predomínio da técnica unipolar e a
presença de artefatos picoteados e polidos, como lâminas de machado, almofarizes e
percutores, onde as proximidades da margem Norte da lagoa foram atribuídas como
fontes dos grandes suportes.
Nessa mesma região, Barbosa Guimarães (2007) destaca o predomínio da
utilização de quartzo de veios como fonte de matéria-prima em associação ao uso de
seixos, observada nos sambaquis de Saquarema, Pontinha, Jaconé e Madressilva.
Para o sambaqui do Forte, em Cabo Frio, Kneip (1977) fez observações semelhantes às apontadas em seus demais trabalhos, destacando o uso do quartzo em artefatos lascados e de diabásio nos picoteados e polidos. Contudo, a indústria foi analisada
a partir de uma perspectiva morfológica e os objetos classificados como instrumentos
de quartzo foram inferidos a partir de suas formas.
Prous (2019), ao falar da região dos Lagos, também afirma que a maior parte
dos materiais lascados seria proveniente de quartzo de veios, mas tem uma visão oposta
às interpretadas para os líticos de Camboinhas e do Forte. Coloca que não haveria instrumentos formais lascados em quartzo nestes sítios, e que a maior parte dos materiais
em quartzo presentes nos sambaquis é derivada da percussão bipolar.
Com relação aos sambaquis da Baía de Guanabara, Mendonça de Souza (1991)
informa que o material lítico proveniente do sambaqui Rio das Pedrinhas foi elaborado
a partir de seixos rolados. Por outro lado, através da análise do material resgatado dos
sambaquis de Sernambetiba e Amourins, Heredia e Beltrão (1980) foram além na caracterização da indústria lítica, e identificaram uma predominância do uso de matérias-primas como quartzo e rochas básicas, além da presença significativa de artefatos de uso
múltiplo, interpretados como expeditos. Com uma perspectiva tecnológica apoiada em
Flennikin (1981), Gaspar (2003) estudou líticos provenientes de sambaquis da região dos
Lagos e da Baía de Guanabara, identificando objetos produzidos a partir de diferentes
técnicas de percussão e constatando através de experimentações uma grande variabilidade
morfológica entre as lascas obtidas, destacando-se assim dos estudos anteriores em que
foram atribuídas funções e nomenclaturas aos artefatos com base em suas formas.
564
Tanto nos sambaquis da Baía de Guanabara como nos da região dos Lagos,
por mais que alguns estudos tenham trazido aspectos importantes, até então não existe
estudos que tenham partido da perspectiva de cadeias operatórias. Devido a sua capacidade de gerar de informações a respeito das sociedades, mesmo em sítios altamente
impactados como o Sambaqui da Prainha, optou-se por essa abordagem como método
de pesquisa para o presente trabalho.
O estudo do sítio em questão estrutura-se entorno da análise de 729 objetos
líticos identificados no centro da cidade do Rio de Janeiro. Embora a amostra seja pequena, ela apontada a adoção de diferentes áreas fontes de matérias-primas, demonstra
escolhas técnicas pertinentes à distintos modelos mentais idealizados para os instrumentos e sugere a existência de áreas de atividades específicas no sítio.
565
De acordo com Inizan et al. (2017) análises tecnológicas de cadeias operatórias buscam compreender processos como obtenção, produção, uso e formação dos
registros arqueológicos, tendo como premissa analisar as indústrias a partir dos conjuntos completos, sem exclusão de etapas. Essa perspectiva busca entender a exploração
do espaço pelas pessoas, desde a obtenção de matéria-prima até o descarte de artefatos.
Compreendendo os instrumentos como a materialização de imagens mentais, correspondentes a gestos culturais transmitidos ao longo das gerações, pode-se
construir uma visão sequenciada das ações desde idealização até os gestos técnicos relacionados a modos de fazer, componentes de identidades socialmente construídas por
escolhas culturalmente determinadas (MAUSS, 1947; LEROI-GOURHAN, 1987;
RODET et al., 2013b; INIZAN et al., 2017; MAIA; RODET, 2018). Os esquemas
operatórios expressam aspectos específicos de cada grupo, que podem ser em parte vislumbrados através do encadeamento dos gestos técnicos em um programa operatório,
pois são sustentados por um corpo de tradições próprias a cada grupo, onde as cadeias
operatórias são consequências de projetos previamente elaborados a partir de esquemas
conceituais (BOËDA, 2006; INIZAN et al., 2017).
Os instrumentos são assim testemunhos de escolhas e intensões das pessoas,
por isso entender como foram feitos é um modo de estudá-las ao menos em uma pequena parte, através de relações entre instrumentos e resíduos por remontagens mentais,
buscando a existência de correspondência entre eles e as etapas envolvidas nas cadeias
operatórias (MAIA; RODET, 2018).
Para o estudo da indústria lítica do sítio Sambaqui da Prainha adiciona-se
também a concepção de Unidades Tecno-funcionais (UTFs), introduzida por Boëda
(1997) para o estudo técnico dos objetos. Conforme essa perspectiva os objetos são
compostos por suas partes transformativas, preensivas e receptivas, as quais funcionam
de forma harmônica e em sinergia durante os gestos de uso dos artefatos, e trazem a
noção de que um dado objeto pode ser suporte de um ou mais instrumentos, a depender da existência de diferentes conjuntos de UTFs (BOËDA, 1997; FOGAÇA, 2006).
Segundo Mansur-Franchomme (1986) é por meio de análises traceológicas1
que se pode estipular a função dos instrumentos, todavia, Prous (2004) e Fogaça (2006)
discutem que seus potenciais funcionais podem ser inferidos a partir da gestualidade
e pelos ângulos das unidades transformativas (rasante, semi-abrupto e abrupto), argumentando que se relacionam diretamente com um melhor ou pior desempenho em ati-
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
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vidades cotidianas. Nesse sentido, ângulos rasantes são entendidos como preferenciais
em atividades de corte e semi-abrupto e abrupto para raspagem.
Nesse estudo foram considerados como rasantes ângulos inferiores a 40°,
semi-abruptos entre 69° e 40° e abruptos a partir de 70° (TIXIER et al. 1980; VERONEZE, 1992; FAGUNDES; TAMEIRÃO, 2013). Como instrumentos foram
consideradas as lascas que apresentaram pequenos lascamentos de borda e gumes polidos e arredondados por atrito, interpretados como possíveis vestígios de uso (DIAS;
HOELTZ, 1997; GARCIA; SILVA, 2013).
Assim como frisam Fogaça e Lourdeau (2008), para que os artefatos além
de objetos sejam também instrumentos é necessáio a aplicação de determinados esquemas de funcionamento ao longo dos usos. Segundo essa observação a morfologia
dos instrumentos é apenas uma de suas componentes, por meio da qual inúmeras
ocasiões de reciprocidade entre função e funcionamento ocorrem através dos gestos
dos indivíduos. Com outras palavras, os artefatos só serão plenamente eficientes enquanto instrumentos nas mãos daqueles que detem o conhecimento de sua idealização, e mesmo aqueles gumes que apresentam angulos desfavoráveis poderão durante
o uso ter sua eficiência melhorada através de ajustes entre suas UTFs transformativas,
preensivas e receptivas.
Nessa pesquisa artefatos singulares, como instrumentos e núcleos, foram vetorizados como recurso metodológico de análise e de representação dos aspectos técnicos
identificados. Apesar dos núcleos não serem o objetivo central da debitagem e serem
também subprodutos da produção artefatual, é importante frisar que são elementos
fundamentais na compreensão das cadeias operatórias, pois a configuração volumétrica
de cada núcleo obedece a uma série de concepções mentais, particulares às sociedades
que os produziram.
Nesse sentido, esses objetos são peças-chave para a compreensão estrutural dos conjuntos líticos, pois, suas formatação e configuração volumétrica determinam as possibilidades de resultados obtidos no que se refere a variabilidade de
suportes para os instrumentos, podendo demonstrar existência de predeterminação
em debitagens unipolar e bipolar (BOËDA, 2013, 2014; VIANA et al., 2014; SILVA, 2017).
O SAMBAQUI
Durante as pesquisas concomitantes às obras de implantação do Veículo Leve
sobre Trilhos (VLT) na Av. Marechal Floriano, centro da cidade do Rio de Janeiro,
foram identificadas duas áreas com remanescentes arqueológicos pré-coloniais, localizadas nas proximidades do cruzamento com as ruas Uruguaiana e do Acre. Esses contextos foram ocasionalmente identificados durante o estudo de uma série de alicerces
relacionados ao antigo casario que foi demolido para a abertura da avenida durante o
início do século XX.
Os remanescentes, caracterizados como uma porção residual de um sambaqui
e uma estrutura de debitagem, estavam assentados cerca de 50m entre si. A partir de
um exercício de sobreposição entre uma ortofotografia atual da cidade do Rio de Janeiro com o mapa de aterramentos de Barreiros (1965), pode-se perceber que a implementação desse sítio arqueológico se deu no limite entre o sopé do Morro da Conceição e
um ambiente costeiro e alagadiço que foi aterrado séculos depois (Figura 1).
566
O remanescente do sambaqui foi identificado durante a abertura de uma sondagem onde verificou-se a unidade estratigráfica [88]2, uma camada caracterizada pela
presença de muitos carvões sobreposta a camada [100], contendo muitos ossos de peixes
e localizada a 1,6m abaixo do asfalto que cobria a via. Com o objetivo de identificar a
extensão do achado a área foi ampliada em outros 5m², revelando uma pequena mancha que caracterizou o contexto in situ (Figuras 2 e 3).
Figura 2: Planos intermediários do processo de escavação e de seu processo de ampliação. Destaque para as camada
[38] com alta concentração de valvas de Anomalocardia brasiliana, e para a [76], relacionada ao processo de
instalação de uma manilha cerâmica
Fonte: Fotografias de Diogo de Souza Borges
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Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 1: Localização do Sítio Sambaqui da Prainha, Rio de Janeiro. Base adaptada de Barreiros (1965), mostrando os espaços alagadiços e costeiros aterrados entre os séculos XIX e XX
Fonte: Elaborado por Anderson Marques Garcia
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 3: Croqui da porção residual do sambaqui identificada em um espaço confinado por remanescentes
arquitetônicos e infraestruturas recentes
Fonte: Desenho de Diogo de Souza Borges
Após o reconhecimento parcial das dimensões horizontais do testemunho do
sambaqui, investiu-se nas escavações em profundidade para o reconhecimento estratigráfico. A primeira camada identificada foi a [88], com 13cm de espessura, granulometria silte, pouco compactada, com muito material orgânico e de coloração preta (10YR
2/1 - Munsell). Essa camada é composta por arcabouço de fragmentos de ossos de
peixes sustentados por matriz siltosa. Difere-se da camada seguinte devido à presença
de materiais recentes como fragmentos de faiança, porcelana, tijolos e argamassa, o que
indica o impacto sofrido pelo sambaqui desde o início da urbanização.
A camada subsequente é a [100], com 25cm de espessura, coloração marrom
avermelhada (2.5YR 3/2 - Munsell), matriz siltosa e arcabouço composto predominantemente por ossos de peixes com tamanho de grânulos, havendo também fragmentos
de madeira e conchas fortemente intemperizadas. A partir da flotação do sedimento
foram identificadas fibras vegetais, escamas e dois otólitos (bagre e corvina).
A camada [100] sobrepõem-se a camada [101], areno argilosa de coloração
marrom (2.5YR 5/3 - Munsell) com 15cm de espessura, solta, úmida e com presença
ainda significativa de ossos de peixes fragmentados e de fibra vegetal, com tamanhos
entre areia grossa e grânulo, assim como intensa presença de gastrópodes terrestres.
Logo abaixo, está o depósito natural [95], arenoso, solto, úmido, de coloração amarronzada (2.5YR 6/4 - Munsell) e origem aluvial (Figura 4).
568
Através das escavações verificou-se que apenas uma pequena porção remanescente do sambaqui havia se preservado. Apesar disso, os resultados se revestem de
grande importância uma vez que a identificação de sambaquis em espaços urbanos é
rara, devido às sucessivas explorações de caieiras e, posteriormente, ao intenso processo
de urbanização.
Acredita-se que esse sambaqui teria dimensões maiores e, também, que tenham existido outras construções similares nas proximidades, assim como sugerem antigas toponímias frisadas por Salles Cunha (1965), como o Monte de Paulo da Caieira
(atual Morro da Providência, distante em 1Km a Leste do sítio Sambaqui da Prainha) e
o Morro da Ostreira (atual Outeiro da Glória, a 2,5km a Sul). Todavia, além desse sítio,
o único dessa natureza conhecido na região central do Rio de Janeiro é o sambaqui do
Propósito, também residual, distante em 1,3km a Noroeste (TAVARES, 2012).
A ESTRUTURA DE DEBITAGEM
569
O outro remanescente identificado corresponde a uma estrutura de debitagem, cujo topo estava a aproximadamente 1m de profundidade abaixo do asfalto da
via, em um depósito aluvial arenoso, tamanho areia fina, de coloração cinza escura (10
YR 3/2 - Munsell), úmido, solto, com espessura média de 35cm, registrado como [35].
Essa camada apresentou porções gradualmente escurecidas devido ao acúmulo de matéria orgânica decomposta, assim como fragmentos milimétricos de carvão, ictiofauna
e malacofauna, alguns com evidências de queima.
Em decorrência da concentração de materiais líticos relacionados a diferentes
etapas operatórias, a camada [35] foi interpretada como uma estrutura de debitagem.
Sua identificação se deu através da abertura de uma sondagem escavada até 1,3m de
profundidade a partir do asfalto e interrompida devido à infiltração do lençol freático
(Figura 5).
A delimitação da área de dispersão do material, feita através de sondagens,
revelou uma porção preservada da estrutura ao longo de uma área de 95,5m2. Porém,
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 4: Estratigrafia remanescente do sambaqui
Fonte: Desenho e fotografias de Diogo de Souza Borges
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
como a estrutura foi identificada em monitoramento e estava a 35cm abaixo da cota de
impacto do empreendimento, as sondagens foram escavadas com intuito de delimitar a
distribuição horizontal, por isso, nem todas foram aprofundadas (Figura 6).
Figura 5: Registro estratigráfico da sondagem 4, destacando o início da camada [35] com suas primeiras
lascas. Observar também o alicerce [09]; a camada [51] representada pela remobilização da estrutura de
debitagem durante a construção do alicerce; e a camada [06], depositada como aterro após a derrubada
do casario e o alargamento da rua no início do século XX. Da esquerda para direita, perfis Leste e Sul.
Fonte: Fotografias de Riccardo Frigoli
Figura 6: Croqui da estrutura de debitagem junto à remanescentes arquitetônicos e infraestruturas recentes
Fonte: Desenho de Riccardo Frigoli
570
Tabela 1: Quantidade de objetos identificados em cada uma das nove sondagens de delimitação da estrutura de debitagem [35]. Sond. (sondagem 1x1m), Prof. (profundidade a partir do
asfalto em centímetros), Esp. (espessura da camada em centímetros) e Desc. (fragmentos de
artefatos desconhecidos).
571
Sond.
Prof.
Esp.
Lascas
Cassons
Estilhas
Núcleos
Desc.
Total
S.4
100-130
30
119
84
240
6
1
450
S.2
75-103
28
2
-
-
-
-
2
S.3
128-138
10
1
-
-
-
-
1
S.6
98-110
12
1
-
-
-
-
1
S.7
82-117
35
27
22
4
1
1
55
S.8
99-132
33
1
-
-
-
-
1
S.9
97-120
23
26
17
66
1
-
110
S.10
119-140
21
29
15
4
4
-
52
S.14
101-125
24
1
1
-
-
-
2
De forma geral, e integrando-se as duas áreas, foi identificado nesse sítio
um total de 729 objetos líticos, 674 associados à estrutura de debitagem [35] e 55
identificados fora dela, sendo parte a Sudoeste e o restante próximo ao testemunho
do sambaqui e a Nordeste dessas áreas. Considerando-se o conjunto de objetos como
parte de uma mesma indústria foram identificadas 15 categorias técnicas de artefatos
líticos que revelaram três cadeias operatórias distintas, cujos detalhes estão discutidos
adiante (Figura 7).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Apesar dos limites impostos pela obra, foi identificado um total de 674 objetos como lascas, cassons, estilhas, núcleos e fragmentos de artefatos brutos, sendo que
a maior frequência foi na Sondagem 4, com 66,8% dos objetos (Tabela 1). Essa enorme diferença na proporção de materiais indica o centro da estrutura de debitagem.
Tal diferença frente às outras sondagens pode ser destacada com segurança, pois o
volume de sedimentos escavados foi relativamente semelhante em todas as sondagens
positivas.
Na estrutura de debitagem os materiais provenientes das sondagens, juntamente com outros que foram encontrados dispersos, representam um recorte bastante
significativo do contexto pré-colonial dessa porção Sudoeste da Baía de Guanabara.
O alto potencial do material assim como a alta probabilidade de integrar o mesmo contexto de ocupação permitiu que fosse abordado por uma perspectiva de cadeias operatórias, trazendo à tona aspectos da materialidade sambaquieira ainda pouco discutidos,
especialmente para os sítios do Rio de Janeiro.
Figura 7: Gráfico de distribuição total das categorias técnicas dos objetos identificados
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Fonte: Elaborado por Anderson Marques Garcia
Até o momento foram feitas três tentativas de datar esse sítio, todas elas a
partir de materiais flotados de sedimentos coletados para análises de antracologia e
zooarqueologia, duas através de amostras provenientes da porção residual do sambaqui
e uma da estrutura de debitagem adjacente. Todavia, as datas obtidas apontam para
uma cronologia recente, fora da temporalidade conhecida para a ocupação sambaquieira (Tabela 2 e Figura 8).
Tabela 2: Dados de identificação e procedência dos materiais com suas idades convencionais
e datas calibradas
Camada
Material
Idade convencional
Data calibrada (2σ)
Amostra
[35]
Carvão
260±30 AP
1670 AD - 1870 AD
BETA545683
[100]
Carvão
145±20 AP
1690 AD - Moderno
LACUFF180238
[100]
Otólito
550±30 AP
1630 AD - 1800 AD
BETA545682
Figura 8: Curvas obtidas das datas calibradas (calAD)
572
Os resultados obtidos através das datações radiocarbônicas não inviabilizam os avanços interpretativos sobre esses dois espaços do sítio, pois ambos
contextos apresentam cultura material característica de pescadores-coletores. As
características do meio físico reforçam a interpretação, pois apresentam aspectos
recorrentes ao padrão de assentamentos dos pescadores-coletores como a ocupação
da faixa litorânea, a presença de desembocadura de rio e a proximidade de outros
sambaquis. Tais elementos são entendidos como aspectos importantes na escolha
de locais para implantação dos sítios com sambaquis (GASPAR, 2003; GASPAR
et al., 2019).
Uma provável explicação para a discrepância das datas é a possibilidade de que
os materiais selecionados tenham percolado até os estratos mais profundos em virtude
do início da urbanização dessa parte da cidade. Embora as datas disponíveis sejam inconclusivas, a proximidade entre os dois pontos e a distribuição espacial dos artefatos
líticos parece indicar que esses dois espaços teriam funcionado de forma integrada e
sugerem áreas de atividades específicas.
573
As cadeias operatórias que envolveram debitagem tiveram como matéria-prima o quartzo branco, originário de veios hidrotermais, como os presentes nos maciços
rochosos de gnaisse que integram a paisagem da cidade do Rio de Janeiro, como o
Morro da Conceição por exemplo, cujo sopé está a apenas 100 metros a Norte da área
pesquisada. A única exceção entre os materiais lascados corresponde a um núcleo bipolar produzido em gnaisse.
Entre as lascas e os núcleos analisados há 180 unidades sem córtex, 36 com
córtex rugosos e 32 com córtex lisos. A presença de objetos com remanescentes de
córtex rugosos e lisos sugere o uso de diferentes áreas de captação de recursos, demonstrando a existência de duas cadeias operatórias semelhantes, que se diferem quanto às
áreas de coleta de matéria-prima.
Massas iniciais com córtex rugosos podem ter sido exploradas diretamente em
cascalheiras associadas aos maciços rochosos existentes no centro da cidade e em suas
proximidades. Por outro lado, seixos e calhaus rolados com córtex lisos não (Figura 9).
Materiais arredondados poderiam ser encontrados apenas junto aos corpos hídricos da
Serra do Mar e em linhas de seixos3 associadas a depósitos sedimentares antigos, como
as Formações Resende e Pinheiral no Leste Fluminense (CPRM, 2007; NEGRÃO et
al., 2015).
Ainda que apenas 13% da amostra apresente córtex liso, que remete ao uso
de seixos e calhaus arredondados obtidos em áreas exógenas, esse dado merece destaque, pois indica que as pessoas que formaram esse sítio circulavam por áreas afastadas
do local estudado, uma vez que a Serra do Mar está distante em 35km e as formações geológicas com linhas de seixos a mais de 150km do sítio. Os demais 87% da
amostra não apresentam córtex ou são rugosos. Se considerarmos cassons e estilhas,
esse percentual fica ainda mais elevado. Todavia, objetos como esses apresentam percentualmente pouco córtex, tanto em indústrias embasadas na exploração de clastos
angulosos ou pouco rolados como também na exploração de seixos e calhaus rolados.
Porém, a ausência de córtex observada em 72,6% do material sugere o uso principalmente de grandes clastos locais.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
CADEIAS OPERATÓRIAS DE USO DE QUARTZO
Figura 9: Objeto com córtex rugoso na esquerda e liso na direita, relativos respectivamente a um clasto anguloso ou
pouco e rolado e um seixo ou calhau rolado
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Fonte: Fotografias de Anderson Marques Garcia
Dos 729 objetos identificados, ao menos 50,6% são produtos de debitagem
bipolar, como cassons, lascas de debitagem bipolar, lascas corticais de debitagem bipolar,
agulhas bipolares, núcleos bipolares, bigornas e percutores bipolares.
Esses dados sugerem que a produção artefatual por debitagem bipolar de
clastos angulosos ou pouco rolados foi a base da indústria, complementada de modo
acessório por usos eventuais de seixos e calhaus rolados como massas iniciais e pela
debitagem unipolar direta com percutor duro.
Entre os núcleos bipolares foram identificados objetos que apresentaram faces
planas e inclinadas. No primeiro caso a morfologia está relacionada com a abertura
axial das massas iniciais e no segundo, com golpes de gestos oblíquos (DRIFT, 2009).
A maior parte dos núcleos apresenta apenas uma plataforma de percussão e outra correspondente de contragolpe. Contudo alguns exemplares apresentaram número maior
de plataformas, sugerindo que esses objetos tenham sido explorados em diferentes posições sobre bigornas, aplicando-se gestos oblíquos. Esse maior número de plataformas
também aponta para a adoção do método longitudinal-transversal, onde os suportes
eram abertos por golpes longitudinais e, em sequência, debitados por gestos oblíquos
sobre bigornas a partir da face exposta, semelhante aos identificados em Minas Gerais
por Bassi (2012) e Fiumari (2019).
O núcleo bipolar destacado abaixo representa a utilização do método longitudinal-transversal com seus três pares distintos de plataformas de percussão e contragolpe (Figura 10). As arestas esmagadas estão representadas no desenho com linhas e
polígonos tracejados que identificam as porções onde os estigmas da percussão são mais
evidentes. Essas porções foram individualizadas com letras maiúsculas para facilitar a
identificação das demais faces ilustradas por outros ângulos4.
574
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia
575
Cada uma das plataformas foi sinalizada por sua série de letras com um, dois
ou sem apóstrofos, acompanhando as linhas e setas indicativas da direção dos golpes.
Na situação que ilustra uma das superfícies de debitagem observa-se a sequência caracterizada com um apóstrofo, onde percebeu-se que aquela aresta apresentou estigmas que indicam a adoção de duas plataformas de percussão, a sequência com dois
apóstrofos com uma única orientação e parte da sequência sem apóstrofo também de
orientação única. Cabe destacar que a área indicada com um apóstrofo parece estar
relacionada com a abertura do núcleo que criou a plataforma de percussão plana que
possibilitou a exploração da aresta sem apóstrofo e o novo ângulo adotado na porção
com um apóstrofo. Essa parece ter sido a principal plataforma, pois corresponde a um
segundo estágio de debitagem que permitiu a retirada de lascas por golpes oblíquos
longitudinais. Entretanto, a massa inicial utilizada não pôde ser identificada, devido à
ausência de córtex.
As lascas analisadas são em geral condizentes à debitagem bipolar por golpes com gestos oblíquos, assim como as do núcleo apresentado na Figura 9. Ao invés
de pensar esses dados como erros ou displicência durante o processo de debitagem
bipolar, geralmente exercido por golpes com gestos axiais, os produtos analisados
parecem componentes de uma escolha deliberada por golpes transversais como uma
estratégia de predeterminar e controlar os produtos de debitagem, produzindo lascas
com arestas agudas.
As lascas bipolares geralmente possuem as duas faces retas, característica típica
de golpes axiais que geram fraturas em split, com talões lineares-côncavos ou esmagados
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 10: Esquema técnico do exemplar de núcleo bipolar longitudinal-transversal. Ilustração sobre fotografia das
superfícies de debitagem, plataforma de percussão e plataforma de contragolpe
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
em suas porções proximais e distais (PROUS et al., 2012; RODET et al., 2013a). Porém,
a maior parte das lascas dessa indústria saiu lateralmente durante o processo de debitagem
não atravessando totalmente os núcleos, apresentando porções bastante agudas e frágeis em
suas porções distais, e algumas delas preservando mais de 75% de córtex nas faces dorsais.
Entre as lascas bipolares, destaca-se a presença de exemplares com morfologias
prismáticas alongadas, conhecidas como “agulhas bipolares”, as quais são associadas ao
processo final de exploração de núcleos bipolares por gestos axiais (PROUS et al., 2012;
RODET et al., 2013a). Porém, nenhum dos objetos analisados apresentou estigmas relativos a uso. Mesmo assim, merecem destaque por estarem possivelmente relacionados
ao estágio final de exploração dos núcleos e por outros contextos terem apresentado
instrumentos a partir desse tipo de lascas (PROUS et al., 2012; GARCIA, 2017).
Foram identificadas também 22 lascas unipolares aparentemente obtidas
por percussão direta com percutor duro. Embora apresentem bulbos difusos, as lascas
possuem talões espessos e uma delas, uma fratura acidental tipo Siret, características
típicas do uso de golpes fortes com percutores duros (TIXIER et al., 1980; PROUS,
1986/1990; INIZANT et al., 2017). Esse tipo de percussão geralmente produz bulbos
proeminentes, porém, o quartzo hidrotermal utilizado como matéria-prima permite
que apenas sejam vistas ondas sutis, não ficando lancetas nem bulbos salientes.
Todavia é preciso considerar que parte das lascas com características unipolares também possa ter sido originada por debitagem bipolar, uma vez que Prous et al.
(2012) e Rodet et al. (2013a) destacam que lascas com bulbos podem ser geradas através
de golpes por gestos oblíquos durante a debitagem bipolar.
Ao considerar essa possibilidade a presença de produtos relacionados à debitagem
unipolar reduz drasticamente, mas não por completo. Há ao menos dois núcleos unipolares
com uma plataforma definida que tiveram lascas como suportes e um instrumento que, durante o processo de elaboração de sua unidade transformativa, sofreu retiradas unipolares a
partir da superfície ventral. No universo analisado os dois núcleos unipolares tiveram como
suporte lascas unipolares prévias produzidas por debitagem direta com percutor duro, que
tiveram suas faces ventrais escolhidas como plataformas de percussão.
O objeto apresentado na Figura 11 é uma lasca unipolar cortical que apresenta
um talão liso decorrente de uma retirada ortogonal anterior efetuada em um calhau rolado. Essa superfície plana funcionou como plataforma de percussão para a debitagem
unipolar com percutor duro que produziu essa lasca suporte, bem como, ao menos outras duas retiradas anteriores a partir desse mesmo plano de percussão. Seus negativos,
cronologia relativa e orientação, podem ser vistos na ilustração da face dorsal, na porção
proximal. A retirada iniciada com o algarismo “2” representa um acidente de debitagem onde a onda refletiu em uma falha da matéria-prima e não ultrapassou o suporte.
Posteriormente, a face ventral serviu como plataforma de percussão de três
outras lascas unipolares, cujo pontos de percussão podem ser vistos sendo dois no lado
esquerdo e um no lado direito representados por círculos pretos. Na ilustração da face
dorsal observa-se o córtex e os negativos de todas essas retiradas, e na visão lateral da
superfície de debitagem os negativos se sobrepõem no lado direito com maior detalhe.
Desse núcleo foram retiradas lascas unipolares, também corticais, menores que 2cm.
O objetivo de ambas as técnicas de debitagem utilizadas na exploração de
quartzo parece ter sido a produção de lascas diversas, com arestas que pudessem ser utilizadas em atividades de corte e raspagem de materiais brandos. Entre os instrumentos,
o primeiro identificado é uma lasca bipolar que se desprendeu do núcleo debitado, pro-
576
Figura 11: Esquema técnico de um dos núcleos unipolares com uma plataforma definida. Ilustração sobre fotografia da superfície de debitagem (visão lateral e face dorsal) e da plataforma de percussão
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia
Figura 12: Esquema técnico da lasca de debitagem bipolar, com talão fragmentado representado pelo tracejado e
possível unidade transformativa por pontilhados. Ao lado direito detalhe das marcas sugestivas de uso destacada pela
linha vermelha com aumento de 12X.
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia
577
O segundo objeto é também uma lasca, desprendida do núcleo debitado provavelmente através de um golpe axial. Em sua porção proximal observa-se que o talão
está esmagado e na porção distal há uma pequena fratura que pode ter ocorrido durante
o processo de debitagem bipolar que a gerou ou algum processo tafonômico (Figura
13). Na lateral esquerda, representada na primeira ilustração da figura, existe uma série
de pequenos lascamentos de borda, possivelmente relacionados ao uso dessa lasca como
um instrumento. O ângulo abrupto de 70° de sua unidade transformativa sugere que
esse objeto teria um melhor desempenho em atividades de raspagem.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
vavelmente, através de um golpe oblíquo, gerando um ângulo rasante de 20° na porção
distal. Na porção proximal, por sua vez, o talão está ausente devido a uma fratura que
pode ter ocorrido durante o processo de debitagem ou devido à algum processo pós
deposicional. Na porção distal há uma série de pequenos lascamentos, provavelmente
relacionados a atividades de uso. Além disso, entende-se que o ângulo rasante de 20°
pode ter sido eficiente para ações de corte (Figura 12).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 13: Esquema técnico da lasca de debitagem bipolar, com fratura distal representada pelo tracejado e possível unidade transformativa por pontilhados. Ao lado direito detalhe das marcas sugestivas de uso destacada pela linha vermelha com aumento de 12X.
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia
O terceiro objeto é uma lasca que se desprendeu do núcleo debitado provavelmente através de um golpe direto com percutor duro. Na face dorsal, ao centro, há
o negativo de uma debitagem anterior e parte de um córtex rugoso preservado em sua
porção distal. Na face ventral tem-se preservados o talão e bulbo de percussão difuso,
assim como ondas suaves que indicam a orientação do gesto aplicado.
Na porção distal, no lado direito, estão estigmas de percussão direta efetuados
nesse objeto utilizando essa superfície da lasca como plataforma de percussão, criando
na porção distal uma área interpretada como unidade transformativa e outra de finalidade não identificada na lateral, representadas com círculos. Ao analisar a face dorsal
observam-se os negativos das retiradas efetuadas a partir da superfície ventral e a orientação e cronologia relativa entre elas.
Essas retiradas modificaram a extremidade distal da peça criando um ângulo
abrupto de 70° nos dois negativos, que formam uma unidade transformativa com retoque
de plano de bico similar ao coche clactonense (INIZAN et al., 2017). Nessa porção ocorre
também uma série de pequenos lascamentos de borda, possivelmente relacionados a uma
ou mais atividades de uso. O ângulo abrupto de 70° de sua unidade transformativa estaria
relacionado a um melhor desempenho em atividades de raspagem (Figura 14).
Figura 14: Esquema técnico da lasca de debitagem unipolar, com setas e tracejado representando as orientações
das retiradas, pontos de impacto pelos círculos e possível unidade transformativa por pontilhados. Ao lado direito
detalhe das marcas sugestivas de uso destacada pela linha vermelha com aumento de 12X.
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia
578
Figura 15: Esquema técnico da lasca de debitagem bipolar, com possível unidade transformativa representada por
pontilhados. Ao lado direito detalhe das marcas sugestivas de uso destacada pela linha vermelha com aumento de 12X.
Fonte: Ilustração de Anderson Marques Garcia.
579
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
O último desses instrumentos que teve lascas como suporte foi obtido por
técnica bipolar, possivelmente por um golpe oblíquo, pois apresenta um talão liso similar aos identificados em lascas unipolares e uma de suas faces levemente convexas. Seu
bordo lateral esquerdo, representado na primeira face, apresenta uma porção polida e
arredondada por atrito e sua continuidade contém uma série de pequenos lascamentos
de borda que podem ser consequências de uso, possivelmente em atividades de corte.
O ângulo rasante de 20° de sua unidade transformativa sugere que o objeto teria um
melhor desempenho nesse tipo de atividade (Figura 15).
Seixos e calhaus rolados de quartzo também foram utilizados como percutores nas debitagens bipolar e unipolar. Um exemplo pode ser visto no objeto identificado
a 200m Nordeste do sambaqui, em um contexto com grande quantidade de materiais
ictiofaunísticos e malacológicos a 0,95m abaixo da cobertura de asfalto, porém com
alguns fragmentos de faiança e cerâmica de produção local (recentes) associados que
indicam uma relativa perturbação do solo.
Esse artefato teve como suporte um calhau rolado de quartzo, o qual tem suas
arestas pulverizadas por picoteamento, possivelmente relacionado ao uso como percutor em debitagens unipolar ou bipolar oblíqua. Nas duas faces maiores há também
pequenas depressões picoteadas, possivelmente formadas durante o uso do objeto como
percutor bipolar axial. Devido às características dessas últimas marcas é possível que o
mesmo tenha sido utilizado também como bigorna, porém seu volume é pequeno e não
seria eficiente por muito tempo (Figura 16). Valendo-se da terminologia utilizada em
estudos morfológicos, artefatos como esse podem corresponder ao que foi chamado de
batedores ou quebra-coquinho (KNEIP, 1977; CRANCIO, 1995).
Figura 16: Percutor bipolar e unipolar. Ângulo com sua aresta picoteada na esquerda e na direita uma de suas faces
também picoteada e delimitada pelo tracejado.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Fonte: Fotografias de Anderson Marques Garcia.
CADEIA OPERATÓRIA DE SEIX OS E CALHAUS ROLADOS
Embora um calhau rolado de quartzo tenha sido incluído no tópico anterior,
se faz necessário discutir de modo separado essa natureza de suporte para buscar a compreensão da gestão de matérias-primas dos construtores de sambaquis nesse contexto.
Na cadeia operatória do quartzo o uso desses suportes parece ter sido exceção, contudo
entre os percutores, bigornas e artefatos brutos estão matérias-primas como quartzito,
diabásio, argilito, gnaisse, calcário, cataclasito, fonolito e uma variedade de rocha vulcânica não identificada5.
A presença significativa dessa natureza de objetos na amostra é importante,
pois não há a possibilidade de fragmentos de rocha de tamanho seixo e calhau com
arestas arredondas serem encontrados no espaço ocupado pela cidade do Rio de Janeiro, sendo encontrados apenas em linhas de seixos e em cascalheiras de rios em áreas de
grande capacidade de transporte, distintos dos cursos hídricos locais.
Na região em análise, os rios são meandrantes com baixa energia ao chegar
perto da cidade e possuem nascentes muito próximas à foz, localizadas nos morros da
cidade, de modo que os clastos que se desprendem das matrizes não chegam a ficar
com suas arestas arredondas. Junto a isso, a natureza exógena desses objetos também
é fortalecida pelas matérias-primas que os constituem, uma vez que com a exceção do
gnaisse e do quartzo disponível nos morros do centro da cidade do Rio de Janeiro,
essas matérias-primas afloram naturalmente em distâncias mínimas em linhas reta que
variam de 7km a 31km do centro da cidade.
Ao analisar as áreas fontes das diferentes matérias-primas identificadas, verificou-se que: as variedades de calcário conhecidas, mais próximas, estão na Bacia de
Itaboraí, na região homônima a 31km Nordeste; de fonolito entre os Complexos Alcalinos na região de São Gonçalo a 27km Nordeste; de diabásio no Enxame de Diques da
Serra do Mar no Maciço da Tijuca a 15km Sudoeste; de argilito na Formação Macacu
na Ilha do Governador a 11km Noroeste; de quartzito no Grupo São Fidélis no Maciço
da Tijuca a 7km Sudoeste; e de cataclasito na Suíte intrusiva Bela Joana no Maciço da
580
Figura 17: Bigorna. Fotografia de uma de suas faces com marcas de picoteamento e de sua porção interna exposta
por fratura relacionada ao seu uso
Fonte: Fotografias de Anderson Marques Garcia
581
O segundo exemplar é um seixo de quartzito identificado a 120m Nordeste
do sambaqui, em um contexto também impactado por ações seculares, mas apresentado por possuir uma parte de sua aresta escurecida por contato com carvão, que sugere
que esse objeto tenha sido submetido a uma fogueira ou depositado em um contexto
secundário com carvões. Além da porção alterada o seixo não apresentou outros indícios de utilização (Figura 18).
As etapas identificadas dessa cadeia operatória no sítio foram apenas de uso e
descarte (ou perda e deposição), exceto para alguns seixos e calhaus rolados de quartzo
que também foram utilizados como núcleos. Contudo as áreas possíveis de obtenção
sugerem que os construtores de sambaquis que ocuparam o espaço que hoje compreende ao centro do Rio de Janeiro devem ter circulado além dos limites da Baía de
Guanabara. Evidências de incursões interioranas com objetivo de captação de recursos
de origem vegetal foram identificadas em dois sambaquis no litoral de Santa Catarina
e, portanto, reforçam a hipótese de que esta fosse uma prática relativamente recorrente
entre os grupos sambaquieiros (BIANCHINI et al., 2007; WESOLOWSKI, 2007).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Tijuca a 7km Sudoeste (CPRM, 2001; TUPINAMBÁ et al., 2012; VALERIANO et
al., 2012; HEILBRON et al., 2016).
Por mais que essas rochas existam nas unidades geomorfológicas mencionadas, suas massas iniciais trazidas pelos sambaquieiros ao contexto estudado foram seixos e calhaus rolados, com morfologias recorrentes a partir do sopé da Serra do Mar,
a aproximadamente 35km ao Norte do sítio estudado. Formas semelhantes também
estão nas linhas de seixo, mas a partir de 150km.
Como representantes da cadeia operatória de seixos e calhaus rolados apresentam-se como exemplos uma bigorna e um artefato bruto com evidência de contato
com carvões. A bigorna teve como massa inicial um calhau rolado de uma variedade de
rocha vulcânica não identificada. Foi encontrada a 70m Nordeste da base residual do
sambaqui a aproximadamente 0,5m abaixo do asfalto da via em um contexto alterado
pelas construções do casario e por obras de infraestrutura (Figura 17). A porção central
de suas duas maiores faces apresenta pequenas depressões picoteadas formadas em consequências de contragolpes e uma fratura longitudinal, possivelmente relacionada ao
uso do objeto. Artefatos semelhantes foram chamados de “quebra-coquinhos” (KNEIP,
1977; CRANCIO, 1995).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
É possível que essas pessoas tenham efetuado atividades relacionadas ao
interior, como por exemplo, a captação de recursos minerais em pontos próximos
ao sopé da Serra do Mar. A coleta de seixos e calhaus em cursos hídricos capazes de
transportar materiais como os identificados parece ter sido uma das etapas iniciais
de suas cadeias operatórias. Posteriormente, estes materiais foram utilizados como
percutores e bigornas para talhar o quartzo hidrotermal disponível sob a forma
clastos anguloso ou pouco rolados nas proximidades dos morros do centro cidade
do Rio de Janeiro.
Figura 18: Artefato bruto com uma de suas faces e aresta alteradas por contato com carvão
Fonte: Fotografias de Anderson Marques Garcia
CADEIA OPERATÓRIA DE USO DO DIABÁSIO
Em diabásio, foram identificadas apenas duas bigornas que tiveram calhaus
como suportes e uma lâmina de machado, localizada a 70m Nordeste do sambaqui,
sem evidências de redução, sugerindo que tenha sido produzida em outra área e levada
concluída para o contexto pesquisado (Figura 19).
Todavia, por mais que não seja possível saber se sua massa inicial foi coletada
sob a forma de calhau rolado em um contexto de influência hídrica ou sob a forma
de clasto anguloso junto a uma matriz rochosa, ainda assim é possível falar pela perspectiva de cadeias operatória, pois ela ainda preserva marcas do processo de produção
por façonnage, conceito que pode ser entendido como a reestruturação volumétrica de
um dado suporte, tendo por finalidade obter características morfológicas e funcionais
específicas para o futuro instrumento (TIXIER et al., 1980; BOËDA, 2013; INIZAN
et al., 2017).
582
583
Na lâmina de machado estão preservadas marcas de picoteamento ligadas
ao ato de esculpir o suporte e também algumas estrias relacionadas à abrasão efetuada com intuito de polir e concluir a morfologia final. Provavelmente, também foram
efetuadas retiradas anteriores por percussão direta dura para a adequação inicial do
suporte.
Relacionado o processo de uso, e talvez de abandono desse objeto, também
há alguns negativos de lascamentos ocasionados por impactos e uma fratura na porção proximal, porém sem vestígios da área de fixação em um cabo. A presença do
instrumento demonstra o conhecimento de diferentes técnicas de produção artefatual e suas aplicações como escolhas conscientes em razão dos objetivos planejados e
matérias-primas disponíveis (MAIA; RODET, 2018). Estudos anteriores nos sambaquis do Rio de Janeiro apresentaram instrumentos morfologicamente semelhantes,
apresentados por meio de desenhos e fotografias (KNEIP, 1977; HEREDIA et al.,
1984; GASPAR, 1991; KNEIP; MACHADO, 1993; KNEIP et al., 1994; TRINDADE, 2004).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 19: Lâmina de machado. Fotografias de suas faces, um de seus lados e sua unidade transformativa. Destaques
para a presença de estrias de polimento e de marcas de picoteamento em suas faces.
Fonte: Fotografias de Anderson Marques Garcia
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos a partir da análise do material lítico resgatado da estrutura de debitagem, tanto em relação às categoriais técnicas identificadas como também
nos percentuais que as representam individualmente na amostra, permitem interpretar
que aquele espaço teria funcionado com uma oficina de produção lítica.
A baixa frequência de instrumentos indica que foi um lugar onde as pessoas
estariam produzindo instrumentos e levando-os para outras áreas de atividades. Um
espaço circunscrito utilizado principalmente para talhar clastos de quartzo, angulosos
ou pouco rolados, da variedade hidrotermal, disponível nas proximidades do sítio. Porém, como a maior parte dos materiais identificados são provenientes da sondagem 4,
é possível que a amostra analisada corresponda a um episódio de exploração específico
ou a um uso de curta duração.
Tanto na cadeia operatória de debitagem bipolar, como na unipolar, o objetivo
central foi a produção de lascas simples, sendo escolhidas aquelas que apresentassem características mais aptas para serem utilizadas em atividades de corte e raspagem (talvez
também perfuração).
A maior parte dos artefatos identificados foi abandonada nesse espaço, pois
corresponde a subprodutos das atividades de debitagem. Exceções são os quatro instrumentos que tiveram lascas como suportes.
Por mais que não tenham sido verificadas marcas sugestivas de uso nas
agulhas bipolares analisadas, é possível que algumas delas tenham sido selecionadas e levadas para outros espaços para serem utilizadas como perfuradores, assim
como ocorreu nos contextos trabalhados por Prous et al. (2012) e Garcia (2017).
Esse exercício, de pensar que os artefatos estariam sendo levados para outras áreas de
atividades, justifica-se pela quantidade significativa de objetos debitados e ausência
de percutores e bigornas.
Cabe também ressaltar que não foram identificados quaisquer artefatos líticos
na porção residual do sambaqui. Todavia, uma série de percutores, bigornas, artefatos
brutos e a lâmina de machado foram identificadas a Nordeste dessa estrutura, situação
que parece fortalecer a hipótese de identificação de diferentes áreas de atividade nesse
sítio.
Durante a pesquisa arqueológica realizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, foram identificadas duas áreas com características bastante distintas, separadas
cerca de 50m entre si, que parecem estar associadas a um mesmo contexto de ocupação
relacionado aos grupos de pescadores-coletores que ocuparam o litoral. De um lado a
estrutura de debitagem constituída pelas cadeias operatórias de uso de quartzo, onde
foram encontrados diversos produtos debitagem, alguns instrumentos e ausência de
percutores e bigornas, e de outro lado, a porção residual do sambaqui e sua extensão
Nordeste, onde foram recuperados os produtos da cadeia operatória de seixos e calhaus
rolados e também do diabásio.
Quando se fala em lados, o termo deve ser lido no sentido denotativo, pois segundo os mapas conjecturais do século XVI elaborados por Agache (1930) e Barreiros
(1965), havia entre as duas áreas um canal de drenagem natural ligando a antiga lagoa
da Carioca (atual Largo da Carioca) à Prainha (atual Praça Mauá).
De acordo com os registros históricos, no início do processo de urbanização
durante o século XVIII, essa área era referida com a toponímia “Ilha Seca”. Gerson
584
CONCLUSÃO
585
Assim como apontado nas pesquisas anteriores desenvolvidas no Rio de Janeiro, a análise desempenhada no sítio Sambaqui da Prainha também pôde verificar o
predomínio do quartzo hidrotermal ou de veios como matéria-prima principal entre os
artefatos talhados e a escolha de rocha básica para a produção de lâmina de machado.
Todavia, a abordagem adotada permitiu ainda a identificação de artefatos que possibilitaram ir além na construção de conhecimentos sobre os construtores de sambaquis
dessa região.
Entre esses avanços está a inferência a partir da identificação de seixos e calhaus rolados com córtex lisos de distintas matérias-primas, que permitiu considerar
que as pessoas assentadas nessa porção da Baía de Guanabara ocasionalmente incursionavam ao interior do Estado; assim como a distribuição espacial das diferentes categoriais de artefatos, que levaram a interpretação da existência de distintas áreas de
atividades no espaço pesquisado.
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
(2013, p. 84) escreve que a Rua Teófilo Ottoni: “por trás da igreja de Santa Rita,
costumavam também chamá-la de Ilha Seca, numa alusão a uma espécie de ilha nela
formada pelas águas do mar que até pouco antes a invadiam”. Santos (2013, p. 219) ao
falar sobre essa mesma rua comenta que em 1710 ela não ultrapassaria a rua Miguel
Couto nem podia ser prolongada aquela área: “devido aos grandes alagadiços, que se
estendiam até o local chamado de Ilha Seca. Em meio desses terrenos pantanosos, permaneceu assim insulada”.
O autor ainda cita essa topônima ao descrever outras antigas vias da cidade que cruzavam a área e se encontravam próximas ao local de pesquisa. São elas
o Beco de João Batista e a Rua Estreita de São Joaquim. Ao falar sobre a última
ele descreve: “teve início na chamada – Ilha Seca, entre os pântanos ali existentes”
(SANTOS, 2013, p. 228). A Rua Estreita de São Joaquim atualmente contempla
parte da Av. Marechal Floriano e abriga a estrutura de debitagem na altura do local
indicado pelo autor.
Essas informações são importantes, pois a Ilha Seca mencionada parece ser
uma alusão a um cordão arenoso ou mesmo o próprio sambaqui cujo remanescente da
base foi identificado em campo. Cabe destacar que o uso do acidente geográfico ilha
para identificar esse tipo de sítio arqueológico é recorrente, sendo exemplos os sambaquis Ilha da Boa Vista I, II, III e IV (GASPAR, 1998; BARBOSA GUIMARÃES,
2006). Isso se deve ao fato de que muitos sambaquis, assentados sobre a planície costeira, formavam ilhas durante os períodos de cheias.
Com isso é possível pensar que o sítio Sambaqui da Prainha seria composto por um amplo espaço nessa porção ao Sudoeste da Baía de Guanabara, que
corresponderia no mínimo ao sambaqui propriamente dito, o sopé Sul do Morro
da Conceição, o canal de drenagem entre a lagoa da Carioca e a Prainha e seus
depósitos aluviais ocupados pela estrutura de debitagem e a referida Iha Seca.
Projetando-se historicamente essa paisagem antes de sua urbanização, a prancha
abaixo ilustra esse exercício de composição do espaço ocupado por essa população
(Figura 20).
Goiânia, v. 18, n.2, p. 562-592, jul./dez. 2020.
Figura 20: Interpretação da paisagem ao entorno do sítio. Acima em primeiro plano tem-se o sambaqui, a esquerda
do canal de drenagem está a área da estrutura de debitagem e o Morro da Conceição, e ao fundo se vê a Prainha
na Baía de Guanabara e a Serra do Mar. Desenho: Henrique Vences Barros. Abaixo tem-se uma recriação da região
portuária do Rio de Janeiro em 1608, com destaque para a Prainha e a área trabalhada.
Fonte: Instituto Pereira Passos. Obra de Carlos Gustavo Nunes Pereira (Guta).
Quanto a produção artefatual, frisa-se a constatação do domínio de diferentes
técnicas na elaboração dos instrumentos líticos. Entre essas o método longitudinal-transversal utilizado para a debitagem bipolar do quartzo, retirando o véu da simplicidade atribuída a esses objetos, e revelando um sofisticado aparato de exploração
controlada dos clastos de quartzo.
Por fim, os dados apresentados até aqui podem ser encarados como um
alerta para situações semelhantes que possam futuramente também ser evidenciadas em outros contextos do Rio de Janeiro. Estudos de tecnologia e cadeia operatória poderão amplificar o conhecimento a respeito dos objetos e das diferentes
áreas de atividades que foram utilizadas pela sociedade sambaquieira no Sudoeste
da Baía de Guanabara e assim ampliar o leque de informações sobre seus modos
de vida.
586
LITHIC TECHNOLOGY AND CHAINE OPERATOIRE IN SAMBAQUI DA
PRAINHA SITE, SOUTHWEST OF GUANABARA BAY, RIO DE JANEIRO
Abstract: this article opens the study of fisherman-gatherer chaine operatoire in the State of
Rio de Janeiro, presenting a discussion based on lithic objects, related to three chaine operatoire. Although the sample is small, it suggests the adoption of different raw material source
areas, demonstrates technical choices relevant to the different mental models idealized for the
instruments and suggests the existence of specific activity areas on the site.
Notas
1 Cabe destacar que Mansur-Franchomme em visita científica aos sambaquis da Região dos Lagos
ressaltou que a ação dos fortes ventos sobre as dunas, característicos do entorno dos sítios, possivelmente encobriria marcas de uso diagnósticas que poderiam auxiliar na investigação de função de
instrumentos através de traceologia.
2 Remanescentes de alicerces, depósitos sedimentares, assim como interferências recentes, foram
tratados como Unidades Estratigráficas (UEs) no sentido proposto nos trabalhos de Harris (1991)
e Carandini (2000), buscando-se compreender a cronologia relativa do processo de formação do
registro arqueológico.
3 Linhas de seixos são horizontes de clastos angulosos a subangulosos, algumas vezes arredondados,
de materiais resistentes à alteração química, que se dispõem de forma aproximadamente paralela à
superfície topográfica (HIRUMA, 2007).
4 A opção pelo uso de letras e não algarismos arábicos, comuns em análises diacríticas, se deu para
evitar confusão com as cronologias relativas ilustradas por aquelas análises.
5 As matérias-primas foram identificadas com auxílio do professor de Geologia Dr. Renato Rodriguez
Cabral Ramos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, porém não foram feitas lâminas petrográficas.
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