Luis Pedro Ribeiro Rodrigues, Vania Baldi e Adelino de Castro Oliveira Simões Gala
D OSSIÊ
JORNALISMO MÓVEL:
a emergência de um novo campo
jornalístico
LUIS PEDRO RIBEIRO RODRIGUES
Universidade de Aveiro, Aveiro – Aveiro, Portugal
ORCID: 0000-0001-6167-8024
VANIA BALDI
Universidade de Aveiro, Aveiro – Aveiro, Portugal
ORCID: 0000-0002-7663-3328
ADELINO DE CASTRO OLIVEIRA SIMÕES GALA
Universidade de Aveiro, Aveiro – Aveiro, Portugal
ORCID: 0000-0003-2707-1610
DOI: 10.25200/BJR.v17n2.2021.1368
Recebido em: 28/11/2020
Desk Review em: 25/01/2021
Editora do Desk Review: Monica Martinez
Revisado em: 11/03/2021
Aceito em: 31/03/2021
RESUMO – O artigo foi desenvolvido no escopo do projeto Erasmus+ PAgES e tem como
objetivo investigar o jornalismo móvel (mojo) enquanto nova técnica do jornalismo
digital, destacando três características: agilidade, flexibilidade e acessibilidade. As
hipóteses apontam para que o jornalista móvel seja capaz de produzir conteúdo
jornalístico com rapidez, incluindo maior variedade de formatos, além de ter o acesso
facilitado aos locais mais afastados e aos personagens para as entrevistas. Para testálas, realizou-se uma pesquisa exploratória através de uma metodologia mista: um
questionário online, que obteve 53 respostas, para avaliar o grau de concordância
ou discordância dos próprios jornalistas móveis em relação às hipóteses; também se
realizaram quatro entrevistas com especialistas, para entender suas percepções acerca
do fenômeno. O resultado da pesquisa se mostrou favorável às hipóteses, além de
confirmar o processo de individualização laboral no jornalismo e o mojo enquanto
técnica jornalística adequada às exigências do mercado da comunicação no século XXI.
Palavras-chave: Jornalismo digital. Jornalismo móvel. Smartphone.
Licença Creative Commons Atribuição SemDerivações-SemDerivados 4.0 Internacional
(CC BY-NC-ND 4.0). DOI: 10.25200/BJR.v17n2.2021.1368
JORNALISMO MÓVEL
MOBILE JOURNALISM: the emergence of a new journalistic field
ABSTRACT – This article was developed in the scope of the Erasmus+ PAgES project, and
it aims to investigate mobile journalism (mojo) as a new digital journalism technique,
highlighting three characteristics: agility, flexibility, and accessibility. The proposed
hypotheses are mobile journalists can produce news content quickly and including a
greater variety of formats. Besides, they have facilitated access to remote locations and
characters for interviews. Exploratory research tests them using a mixed-method: an online
survey, which obtained 53 responses, to assess the degree of agreement or disagreement
of the mobile journalists themselves concerning the hypotheses; and four interviews with
experts to understand their perceptions of this phenomenon. The result of the research
was favourable to the hypotheses and confirmed the process of individualization in
journalism. Also, it attested to mojo as a journalistic technique suited to the demands of
the 21st-century media industry.
Key words: Digital journalism. Mobile journalism. Smartphone.
PERIODISMO MÓVIL: la emergencia de un nuevo campo periodístico
RESUMEN – El artículo se desarrolló en el ámbito del proyecto Erasmus+ PAgES y
tiene como objetivo investigar el periodismo móvil (mojo) como una nueva técnica del
periodismo digital, destacando tres características: agilidad, flexibilidad y accesibilidad.
Las hipótesis apuntan a que el periodista móvil podrá producir contenido periodístico de
forma rápida, incluyendo una mayor variedad de formatos, además de tener un acceso
más fácil a los lugares más remotos y los personajes para las entrevistas. Para ponerlas a
prueba se realizó una investigación exploratoria con una metodología mixta: una encuesta
en línea, que obtuvo 53 respuestas, para evaluar el grado de acuerdo o desacuerdo de
los propios periodistas móviles con respecto a las hipótesis; también se realizaron cuatro
entrevistas con expertos para comprender sus percepciones del fenómeno. El resultado
de la investigación fue favorable a las hipótesis, además de confirmar el proceso de
individualización laboral en el periodismo y el mojo como técnica periodística adecuada a
las exigencias del mercado de la comunicación en el siglo XXI.
Palabras clave: Periodismo digital. Periodismo móvil. Smartphone.
1 Introdução
A utilização dos dispositivos móveis, como smartphones e
tablets, não é mais uma novidade na rotina das redações de jornal,
mas o jornalismo móvel, também conhecido como mojo (acrônimo
do nome inglês mobile journalism), técnica jornalística que se utiliza
desses aparelhos, continua evoluindo com o aprimoramento das
funcionalidades dessas ferramentas, cada vez mais se equiparando
aos equipamentos profissionais. A mobilidade tampouco é uma
característica inovadora para o jornalismo produzido no século XXI.
Nas funções de repórter de texto, foto ou vídeo, o profissional sempre
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precisou ir até o local do fato noticioso, para entrevistar, relatar,
fotografar e filmar. Contudo, a recente produção de notícias a partir
dos dispositivos móveis, que incorporam aspectos dos aparatos
anteriores em um dispositivo computacional, conectado à internet e
às redes digitais e de fácil manuseio e transporte, tem transformado
a área do jornalismo por conseguir ampliar a mobilidade em grande
escala (Adornato, 2017; Briggs, 2007; Burum, 2016; Karhunen, 2017;
Quinn, 2009).
Outro fator de transformação para o jornalismo digital
(Eldridge et al., 2019; Steensen & Westlund, 2020) e fundamental
para a criação e desenvolvimento do mojo, é a convergência
tecnológica incorporada nos dispositivos móveis conectados em rede
(Jenkins, 2006). Para Oscar Westlund (2019, p.1, tradução nossa),
“todos estes desenvolvimentos tecnológicos facilitaram o jornalismo
móvel, tornando mais fácil a participação em reportagens a partir
de qualquer lugar e a qualquer momento”. Além disso, permitiu que
apenas um jornalista, com um smartphone, cumprisse as tarefas que
antes eram reservadas às equipes.
O relato de Isabel Travancas, em seu trabalho etnográfico
nas redações de jornal da cidade de São Paulo na década de 1990,
ilustra bem como era a organização do trabalho antes dessas
transformações: “além de papel e caneta, [o repórter de televisão]
conta com grande aparato técnico, que inclui três auxiliares – um
cinegrafista com a câmera de vídeo, um iluminador e um responsável
pelo vt, que opera o aparelho” (Travancas, 2011, p.48, como citado
em Silva, 2013, p.121)1. Na década seguinte, a realidade já era outra.
De acordo com Stephen Quinn (2009, p.10, tradução
nossa), em sua pesquisa sobre as primeiras experiências de mojo
no continente asiático, os jornalistas móveis “tendem a trabalhar
sozinhos”, e mais: “essas notícias [produzidas pelo jornalista móvel]
podem consistir em texto, áudio, fotos ou vídeo ou, às vezes, uma
combinação delas” (2009, p.10, tradução nossa). Dessa forma, o mojo
é uma técnica jornalística de produção individual, que abrange vários
formatos de notícia e é capaz de realizar todas as etapas do ciclo
de produção de notícias (produção, edição e distribuição em rede)
em um mesmo aparelho móvel (Canavilhas, 2021; Westlund, 2019).
Ao ponto de a repórter Harriet Hadfield realizar transmissões direto
para o canal de televisão britânico Sky News, sozinha, usando apenas
dois smartphones, mais alguns acessórios (Fairweather, 2016). Por
isso, o mojo está de acordo com às tendências atuais do jornalismo
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individualizado, multitarefa e voltado à web (Blankenship & Riffe,
2019; Crespo et al., 2017; Marshall, 2008).
Em artigos científicos (López-García et al., 2019; Satuf,
2015; Westlund, 2015), edições de livro (Barbosa & Mielniczuk,
2013; Canavilhas et al., 2019; Canavilhas & Satuf, 2015) e matérias
explicativas (Shoulderpod, s.d.; What is mobile journalism?, s.d.), há
em muitos casos o destaque das vantagens de se trabalhar com o
smartphone em comparação com os equipamentos tradicionais. Este
artigo seleciona e analisa três tendências que aparecem nas leituras
sobre o mojo.
A primeira delas é a agilidade: devido às etapas do ciclo
de produção de notícias (produção, edição e distribuição) serem
realizadas diretamente no trabalho de campo e pelo mesmo aparelho
(Mills et al., 2012). Ou seja, o fato noticioso, que antes era apurado
em campo e depois editado e publicado na redação de jornal, passou
a poder ser editado e publicado integralmente, ou parte dele, em
formatos de vídeo, texto, foto ou áudio, antes mesmo de o repórter
chegar à redação; e a locomoção do profissional também foi
facilitada devido ao aparelho ser pequeno e leve. Tanto o meio digital
como as ferramentas permitiram essa novidade. A agilidade aparece
como chamariz na matéria da empresa de acessórios para celular
Shoulderpod: “seja o primeiro a transmitir notícias de última hora ou
eventos” (Shoulderpod, s.d., tradução nossa).
A segunda característica é a flexibilidade: um exemplo são
os relatos de trabalho multimídia do jornalista móvel da BBC Dougal
Shaw, nos quais descreve a produção de conteúdo em diferentes
formatos para os canais de televisão, rádio, Youtube e Facebook
da empresa (Shaw, 2018; Urlbauer, 2019). Também aparece, em
destaque, no artigo Benefits of going ‘mojo’, do Mobile Journalism
Manual (s.d., tradução nossa): “os smartphones colocam no seu
bolso um estúdio de produção completo para rádio, televisão, texto
e conteúdo para rede social”.
A terceira característica é a acessibilidade: no sentido de
acesso mais ágil aos locais mais afastados ou em contextos de
crise e aos personagens para entrevista. O manual do Al Jazeera
Media Institute (Maccise & Marai, 2017), por exemplo, discute a
potencialidade do mojo na cobertura jornalística em áreas de conflito.
Os autores afirmam: “equipados apenas com um smartphone, os
jornalistas estão habilitados a cobrir quase todas as histórias de
forma oportuna e segura” (Maccise & Marai, 2017, p.1, tradução
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nossa). Ainda sobre essa característica do mojo, a investigação de
Panu Karhunen (2017, p.48, tradução nossa), para o Reuters Institute
for the Study of Journalism, analisa a abordagem do jornalista
móvel às pessoas entrevistadas, concluindo que “os jornalistas se
aproximam mais da história e do personagem, trabalhando sozinhos,
com um smartphone”.
2 Atributos do mojo
Há mais de dez anos, o jornalista Stephen Quinn (2009, p.8,
tradução nossa) definiu como “quase ficção científica” as novidades
do mojo, após descrever uma cobertura jornalística pioneira que
aconteceu na cidade de Albuquerque, Estados Unidos, para a
emissora de televisão local KOB-TV. O repórter Jeremy Jojola e seu
produtor, ambos responsáveis pela reportagem, utilizaram apenas
um iPhone e o aplicativo Qik para a transmissão ao vivo de um evento
na cidade, dispensando, assim, os dispendiosos carros satélites,
tripés, câmeras de transmissão e cabos. Em entrevista posterior à
reportagem (Tompkins, 2009), Jojola admitiu que teve problemas
com a qualidade do áudio durante a transmissão, por não ter usado
um microfone externo nem ter considerado os ruídos do ambiente.
Hoje, os jornalistas móveis contam com uma gama de
acessórios e softwares que otimizam às funcionalidades do
smartphone, e cada profissional compõe o seu mojo kit de acordo
com as suas necessidades, sendo os principais itens: estabilizador,
microfone, luz e bateria externa (Shoulderpod, s.d.). Sobre os
softwares, há muitas opções, tanto para melhorar o controle manual
da câmera do aparelho como para editar e finalizar o material (APPS
for mobile photography, video and social media, s.d).
Todavia, jornalistas móveis alertam que o número de
acessórios que compõe o mojo kit afeta, diretamente, a agilidade
para se deslocar no trabalho de campo ou para registrar um evento
inesperado; e uma das vantagens de se trabalhar com o mojo kit é,
justamente, ser mais rápido do que os profissionais que carregam
equipamentos grandes e pesados. Dessa forma, Dougal Shaw (2018)
advertiu que o ideal é quando todos os equipamentos cabem juntos
em uma mochila pequena. Ele até se comparou aos jornalistas de
rádio, que carregam poucos equipamentos consigo, quando trocou
as bagagens grandes e pesadas, onde guardava câmeras, lentes e
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tripés, por uma bolsa pequena, capaz de guardar um rig (equipamento
de estabilização do celular) e um microfone. Shaw denominou essa
experiência de “mojo diet” (Shaw, 2018).
É comum que os jornalistas móveis trabalhem com a
produção de mais de um tipo de formato de notícia. De acordo com
Justin Blankenship e Daniel Riffle (2019, p.1, tradução nossa), em
sua investigação sobre o trabalho individualizado nas televisões
locais dos Estados Unidos, esses profissionais são “frequentemente,
exigidos a recolher informação, conduzir entrevistas, escrever
depoimentos, gravar material em áudio e vídeo, e depois editar tudo
isso em uma narrativa de reportagem, sozinhos”. Essa capacidade do
jornalista de realizar várias tarefas e produzir notícias em formatos
diferentes é devido às funcionalidades que são oferecidas em um
mesmo dispositivo móvel, como o smartphone. Conforme explicou
Henry Jenkins (2006, p.293, tradução nossa), em sua obra sobre a
cultura da convergência, as alterações no ambiente midiático e de
consumo do século XXI estão associadas à convergência tecnológica,
que nada mais é do que a capacidade de “combinação de funções
dentro do mesmo aparelho tecnológico”.
Isso fica nítido nas descrições de Dougal Shaw na sua
experiência de “mojo diet” (Shaw, 2018; Urlbauer, 2019). Ele
demonstrou flexibilidade para trabalhar com mais de um formato de
notícias e distribuí-las em meios diferentes. Por isso, se percebe que
realizou, no mínimo, o trabalho de repórter, vídeojornalista e editor:
Meu jeito de contar uma história é ir até o local e gravar
tudo o que posso com meu celular. Gravo em vídeo e com
isso também tenho o áudio registrado. Então decido em que
plataformas diferentes vou publicar essa história, porque
trabalho com jornalismo multimídia. De que jeito vai funcionar
melhor? Eu costumo fazer uma versão para rádio da entrevista
que fiz. Depois produzo um vídeo, e se o assunto só render
dois minutos, funcionará para o Facebook. Faço também uma
reportagem para televisão porque eles usam vídeos de apenas
dois minutos. Se me aprofundar um pouco mais no assunto, o
material pode tornar-se um vídeo para o Youtube de cinco ou
seis minutos. Talvez na BBC News haja algum outro formato
de televisão que use vídeos mais longos. Tudo depende da
história. (Urlbauer, 2019, parágrafo 2, tradução nossa).
Além das características de agilidade e flexibilidade, jornalistas
móveis ressaltam o acesso aos personagens para as entrevistas e
aos locais mais afastados como vantagens do mojo (Karhunen, 2017;
Shaw, 2018). O primeiro caso se deve porque o smartphone é um
objeto com que as pessoas estão familiarizadas e isso o torna menos
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intrusivo do que as câmeras profissionais; e os entrevistados ficam
mais à vontade quando o jornalista móvel trabalha sozinho, e não
em equipes numerosas. Contudo, Karhunen (2017) observou que
isso pode não acontecer quando os entrevistados são autoridades ou
celebridades, acostumadas às grandes produções.
O segundo caso de acesso acontece porque às dimensões
reduzidas dos smartphones facilitam o seu transporte e manuseio
e, consequentemente, o trabalho do jornalista móvel em locais mais
distantes. Sobre isso, Nick Garnett (2015), outro jornalista móvel da
BBC, fez a ressalva de que essa vantagem só vale para os lugares
que oferecem uma boa conexão com a internet. Quando reportou
para o canal inglês sobre o terremoto que acometeu o Nepal, em
2015, Garnett (2015) usou o seu mojo kit, mas admitiu que enfrentou
dificuldades para conseguir uma transmissão estável.
Ainda, Diana Maccise e Montaser Marai (2017) sugerem que
a discrição do mojo pode facilitar o trabalho do profissional em áreas
de conflito ou crise2. Um exemplo disso foi o documentário Syria:
Songs of Defiance3, gravado com um smartphone por um jornalista
da Al Jazeera. Na época, o governo de Bashar al-Assad havia proibido
os jornalistas da empresa de mídia do Catar de trabalharem no país.
Como referem Maccise e Marai (2017, p.9, tradução nossa): “usando
um smartphone, o jornalista disfarçado foi capaz de coletar imagens
que o mundo, caso contrário, não conseguiria ver”.
Mas, para além de uma reflexão dedutiva acerca desses três
aspetos principais do mojo, o que uma pesquisa empírica nos diria
para confirmar ou refutar essas premissas?
3 Metodologia de análise
Este trabalho tem em si uma natureza exploratória (Gil, 2008),
no sentido de desenvolver e esclarecer conceitos e ideias acerca
de uma técnica jornalística, o mojo, que ainda não está firmemente
estabelecida como subárea dos estudos de jornalismo. Como
concluíram os professores López-García et al. (2019, p.10, tradução
nossa): “o fenômeno do jornalismo móvel ainda não foi conceitualizado
por unanimidade na Academia”. Ou seja, carece de mais trabalhos
de investigação e que os temas, conceitos, objetos e métodos sejam
legitimados pelos “pares-concorrentes”, de acordo com Pierre Bourdieu
(1983, p.5), em seu ensaio sobre a construção de um campo científico.
Licença Creative Commons Atribuição SemDerivações-SemDerivados 4.0 Internacional
(CC BY-NC-ND 4.0). DOI: 10.25200/BJR.v17n2.2021.1368
JORNALISMO MÓVEL
Com o intuito de produzir alguma substância empírica
à exploração e testar as seguintes hipóteses: H1: o uso do mojo
kit permite maior agilidade no ciclo de produção de notícias e na
locomoção do jornalista; H2: o uso do mojo kit possibilita maior
flexibilidade na produção de conteúdo jornalístico em formatos
diferentes; H3: o uso do mojo kit facilita o acesso do jornalista aos
locais mais afastados e a condução das entrevistas, foi elaborada
uma metodologia de pesquisa pela abordagem mista. Na definição
de Johnson et al. (2007),
a pesquisa de métodos mistos é o tipo de pesquisa na qual um
pesquisador ou equipe de pesquisadores combinam elementos
das abordagens qualitativas e quantitativas (por exemplo,
uso de pontos de vista qualitativos e quantitativos, coleta de
dados, análise, técnicas de inferência) para fins de amplitude e
profundidade da compreensão e corroboração. (Johnson et al.,
2007, p.123, tradução nossa).
Dessa forma, elaborou-se, primeiro, um questionário como
instrumento de recolha de dados, para aferir o grau de percepção
dos próprios jornalistas móveis em relação às hipóteses, por meio de
uma escala entre concordância total e discordância total. A intenção é
avaliar, pelos dados gerados da pesquisa, se as qualidades destacadas
do mojo se confirmam na realidade do trabalho de campo, ou não,
e gerar pistas que identifiquem possíveis caminhos para a evolução
desta técnica.
O questionário foi organizado em seções, de forma
sucinta, e com o seguinte fluxo de questões de múltipla escolha
(Stockemer, 2018): uma pergunta para garantir que os participantes
disponibilizavam seus dados de maneira voluntária; uma pergunta
filtro para verificar se já tinham tido alguma experiência com o mojo;
quatro perguntas de identificação (idade, gênero, anos de profissão
e país onde trabalhou); e 12 questões relacionadas ao mojo, quatro
para cada característica.
As opções de respostas foram organizadas em uma escala
com seis valores, que vão do “discordo totalmente” ao “concordo
totalmente”, de maneira que os valores um, dois e três formam o
seguimento de discordância à questão (em diferentes níveis), e
os valores quatro, cinco e seis fazem o mesmo para a opinião de
concordância. Não foi utilizado um valor neutro, que corresponde a
uma opção no meio da escala (Stockemer, 2018), com a justificativa
de que os participantes que passam da pergunta filtro são todos
jornalistas que já tiveram alguma experiência com o mojo e, por isso,
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são capazes de assumir uma posição de concordância ou discordância
em cada questão.
A população-alvo foi constituída por jornalistas que usam os
dispositivos móveis, em especial, o smartphone, como ferramenta
de trabalho. Porém, ela tem uma particularidade: não é homogênea.
Muitos profissionais utilizam o smartphone para produzirem
conteúdo jornalístico e desenvolvem a técnica do mojo na rotina de
trabalho, mas nem todos se autodefinem como jornalistas móveis ou
sequer sabem o que é mojo.
Tendo isso em conta, buscou-se ambientes que constituíssem
um conjunto uniforme de jornalistas móveis. O primeiro foi o grupo no
Facebook “#mojofest community Where the global Mojo Community
meet and share” 4. O grupo serve para a discussão de assuntos
técnicos e teóricos sobre o mojo e contava com 6.177 membros no
dia 16 de março de 2020. O segundo conjunto de jornalistas móveis
se baseou em uma lista5 com 55 nomes de especialistas e formadores
de cinco continentes diferentes. A lista está disponível no website da
empresa de acessórios para smartphone Shoulderpod e conta com os
e-mails da maioria deles.
O questionário foi publicado na plataforma do Google Forms
e o seu link divulgado em uma publicação no grupo de Facebook,
identificando o seu investigador e explicando o objetivo da pesquisa.
Para a lista de especialistas, o contato foi feito, individualmente, via
e-mail. Obteve-se 55 respostas, sendo 53 válidas (duas delas não
passaram pela pergunta filtro). O período de recolha de dados foi de
16 de março de 2020 até 28 de abril do mesmo ano. Os dados foram
tratados no software IBM SPSS Statistics 20.
Já a segunda pesquisa teve como instrumento de recolha de
dados a entrevista semidirigida. De acordo com Quivy e Campenhoudt
(2005), este é um método no qual o investigador prepara uma série
de perguntas abertas para serem feitas aos entrevistados, com o
propósito de levantar informações acerca das suas percepções,
interpretações ou experiências.
Os participantes do questionário podiam decidir se
concordavam ou não em participar de uma segunda fase, na
qual seriam entrevistados. Responderam que sim 23 inqueridos,
preenchendo a última questão com o e-mail pessoal, para serem
contactados. Destes, foram selecionados quatro jornalistas móveis
para as entrevistas, seguindo os critérios de exequibilidade do
trabalho e de diversidade entre os participantes (Guerra, 2006), em
Licença Creative Commons Atribuição SemDerivações-SemDerivados 4.0 Internacional
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relação à nacionalidade, aos formatos de notícia com que trabalham
e as opiniões sobre o mojo que expressaram no questionário.
Aqui se faz importante salientar duas observações. A
primeira é quanto à diversidade de gênero: apenas uma mulher
se dispôs a participar da segunda fase, e quando foi contactada,
declinou do convite. A segunda é sobre o conceito de saturação
discutido por Isabel Carvalho Guerra (2006) em seu livro sobre a
pesquisa qualitativa, que adverte que o investigador deve continuar
com as entrevistas até que as respostas não tragam mais nenhum
dado novo, atingindo a saturação. No caso deste estudo exploratório,
esse conceito não se aplica. Diz ela: “no estatuto exploratório, o
investigador deve garantir a diversidade dos interlocutores, mas não
necessita de garantir a saturação” (Guerra, 2006, p.33).
Sendo assim, os entrevistados foram:
•
Tom Rumes. Jornalista belga com experiência no
videojornalismo. É diretor e professor de storytelling na
Universidade Tomas More. Desenvolve programas de consultoria
e de treinamento de mojo para empresas de mídia, incluindo a
VRT, emissora de televisão belga. É co-autor do livro How To
Story – Storytelling for journalists.
•
Stephen Quinn. Jornalista inglês com passagens pela
BBC e The Guardian. Atualmente, trabalha como professor de
mojo na Kristiania University, na Noruega, e presta consultoria
de comunicação digital para empresas. É co-autor dos livros
MOJO: Mobile Journalism in the Asian Region e Mojo: The Mobile
Journalism Handbook.
•
Francesco Facchini. Jornalista italiano com experiências
profissionais em jornal impresso, digital e rádio. É referência em
mojo na Itália, onde presta consultoria na criação de conteúdo
para celular. Já lecionou jornalismo digital e jornalismo móvel
na Universidade LUMSA e na Universidade IULM, ambas na Itália.
•
Pipo Serrano. Jornalista espanhol e professor de
jornalismo digital na Universidade de New Haven e no
mestrado da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia
em parceria com a Universidade de Barcelona. Já coordenou
coberturas jornalísticas de mojo em eventos internacionais e é
autor do livro La transformación digital de una redacción y el
periodismo móvil (mojo).
As perguntas para os quatro entrevistados foram as
mesmas, sendo alterada apenas o seu direcionamento, de acordo
com as respostas de cada um no questionário. Por exemplo, se o
entrevistado concordou com a questão da agilidade do mojo, então
foi perguntado quais aspectos fizeram-no concordar com isso; se
discordava, quais elementos contribuíram para a discordância. Desta
forma, as respostas dos participantes puderam ser comparadas entre
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si. O guião da entrevista começa com perguntas mais gerais, sobre
as experiências com o mojo, depois se restringe às questões do
questionário, e termina com uma pergunta sobre o futuro do mojo.
Todas as entrevistas aconteceram via Skype, ao longo do
mês de maio de 2020, em inglês, e tiveram a duração entre 30 e 50
minutos. Alguns trechos das falas foram traduzidos para o português,
pelo autor, no capítulo de análise dos dados.
4 Análise quantitativa
De forma geral, os participantes do questionário confirmaram
as três hipóteses da pesquisa, sobre as características de agilidade,
flexibilidade e acessibilidade do mojo. Todavia, é preciso um
aprofundamento maior na análise descritiva dos dados levantados.
A amostra de 53 indivíduos é composta de 45 homens e oito
mulheres, de 24 nacionalidades diferentes, sendo o Reino Unido e os
Estados Unidos os países com maior número de representantes, sete
respostas de cada país. As idades variam entre 21 e 66 anos, com
mais da metade da amostra (29 respostas) tendo mais de 20 anos de
experiência como jornalista.
No aspecto da agilidade durante o ciclo de produção de
notícias, a grande maioria dos participantes optou pelo seguimento
de concordância, o que quer dizer que na escala de seis valores,
polarizada entre “discordo totalmente” e “concordo totalmente”,
escolheram um dos três valores de concordância (quatro, cinco ou
seis). Isso se deu para o ganho de agilidade na produção (51 respostas),
edição (48 respostas) e distribuição (51 respostas) dos conteúdos
jornalísticos, quando o profissional trabalha com o mojo kit. A alta
taxa de concordância nas etapas de produção e distribuição pode
ser explicada pela adequação do smartphone como a ferramenta do
registro instantâneo e pela sua capacidade de ubiquidade. Contudo, a
queda de concordância na etapa de edição pode ter a ver com as telas
pequenas dos smartphones, que dificultam o trabalho.
Os participantes concordaram (48 respostas no seguimento
de concordância) com o ganho de agilidade do jornalista no trabalho
de campo, quando este usa o mojo kit. Porém, essa questão teve
uma resposta de “discordo totalmente”. Como foi discutido, a rapidez
do jornalista está associada à quantidade de itens que carrega e se
consegue guardá-los dentro de uma bolsa pequena e leve.
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JORNALISMO MÓVEL
Sobre a variedade dos formatos de notícia, 46 pessoas
responderam que trabalham com mais de um tipo, sendo o vídeo o
principal deles, produzido por 52 indivíduos da amostra; depois é a
foto com 40 respostas, o áudio com 30, o live broadcast com 29, e
o texto com 24; os conteúdos jornalísticos em podcast e vídeo 360°
foram lembrados no campo de resposta “outros”, cada um por uma
pessoa. Ademais, a resposta que mais apareceu (12 vezes) foi a que
combinava todas as opções de formatos. Já na questão “você tem boa
flexibilidade para produzir diferentes formatos de notícias quando
trabalha com o mojo kit”, 50 pessoas optaram pelo seguimento
de concordância, sendo 36 respostas de concordância total. Esses
resultados corroboram a hipótese de que o jornalista móvel é o tipo
de profissional capaz de trabalhar com vários formatos de notícia.
Contudo, esse otimismo não se repetiu quando a afirmação
teve a ver com a qualidade do material produzido. Dez indivíduos
optaram pelo seguimento de discordância na questão “os acessórios
para smartphone permitem ao jornalista produzir conteúdo
jornalístico com a mesma qualidade das câmeras e dos equipamentos
profissionais”. Da mesma forma, dez participantes escolheram o
segmento de discordância na questão “os aplicativos para smartphone
permitem ao jornalista produzir conteúdo jornalístico com igual
qualidade de um computador pessoal”. Esses números indicam que
a qualidade do material produzido pelo mojo kit, às vezes, pode ser
inferior àquela realizada com equipamentos profissionais.
Na seção seguinte, sobre acessibilidade física e geográfica,
50 jornalistas se colocaram no seguimento de concordância na
questão “você pode trabalhar em todas as etapas do ciclo de produção
de notícias (produção, edição e distribuição), distante da redação,
usando apenas o mojo kit”. O mesmo aconteceu na afirmativa “o uso
do mojo kit facilita o trabalho em áreas de difícil acesso (áreas de
conflito, desastres naturais e crises humanitárias)”, com o número
igual de respostas no seguimento de concordância. Esses resultados
confirmam que o mojo é adequado para o trabalho de campo em
áreas de conflito, onde a acessibilidade e a segurança do jornalista
dependem de fatores como autonomia e discrição.
No que se refere ao acesso aos personagens para entrevista,
a maioria (51 respostas) concorda em algum nível com a afirmativa
“o jornalista consegue entrevistar as pessoas no dia a dia de forma
mais fácil quando trabalha com um mojo kit”. Contudo, o número de
respostas no segmento de discordância aumenta para 11 quando a
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questão é: “o jornalista consegue entrevistar autoridades (política,
artística, científica) de forma mais fácil quando trabalha com um
mojo kit”. Dessa forma, os dados confirmam o argumento de Panu
Karhunen (2017), de que as entrevistas com o mojo kit são menos
intrusivas para as pessoas comuns, mas podem gerar desconfiança
dos entrevistados acostumados às grandes produções.
5 Análise qualitativa
O resultado da pesquisa qualitativa reforçou, novamente, a
hipótese de que o jornalista móvel é capaz de produzir conteúdo
noticioso em vários formatos, de forma ágil e independente. Mais
do que isso, demostrou que essas são as exigências do mercado da
comunicação no século XXI.
Em um panorama geral, os entrevistados concordaram com as
características de agilidade, flexibilidade e acessibilidade. Contudo,
houve discordâncias pontuais. Por exemplo, sobre a definição do
mojo; se a edição nos smartphones é realmente eficaz; e se o trabalho
individualizado pode ser mais seguro, ou não, em áreas de conflito.
Para Stephen Quinn, todas as operações do ciclo de produção
de notícias devem ser feitas em um único dispositivo móvel. Caso
contrário, reduz a mobilidade e a velocidade na produção, deixando
de ser mojo. Foi o único que considerou dessa forma. Todavia, admitiu
haver situações nas quais essa técnica não é eficiente. Citou dois
exemplos: eventos esportivos, porque requerem muito movimento de
câmera e um zoom muito ampliados para acompanhar os esportistas, e
circunstâncias de perigo e guerra, por uma questão de segurança. Para
Quinn, em equipes numerosas, os integrantes podem cuidar um dos
outros, o que não acontece quando se trabalha sozinho. Isso contradiz
a hipótese testada no questionário de que o mojo kit facilita o acesso e
a permanência do jornalista móvel em áreas de conflito.
Para os outros três entrevistados, a dinâmica de trabalho
pode ser menos rígida e permite combinar o mojo com o jornalismo
tradicional. Tom Rumes, por exemplo, admitiu que, às vezes, opta
por trabalhar com câmeras profissionais e editar o material em seu
computador pessoal. Os fatores a serem considerados por ele são: o
formato de notícia que irá produzir, a narrativa criada para contar a
história (storytelling), as habilidades requisitadas para o serviço, e as
plataformas nas quais o conteúdo será distribuído. Porém, ele afirma
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(CC BY-NC-ND 4.0). DOI: 10.25200/BJR.v17n2.2021.1368
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que prefere o smartphone, quando o trabalho requer agilidade na
produção e distribuição do conteúdo noticioso.
Pipo Serrano usou a metáfora do “canivete suíço”, que
dispõe de inúmeras ferramentas adequadas para cada situação, para
explicar a sua escolha. Quando vai entrevistar apenas uma pessoa
ou registrar uma pequena declaração de alguém, por exemplo,
“não precisa enviar uma equipe com um videografista”7, basta um
jornalista com seu mojo kit. Já para “cobrir situações complexas em
que deseja adicionar valor extra com as imagens”, justifica trabalhar
com equipes e câmeras profissionais, explicou. O jornalista relativizou
a eficiência da edição no smartphone, porque a tela pequena e o
sistema touchscreen dificultam o trabalho. “Nunca pedi a nenhum
jornalista, ou a mim mesmo, para editar em um celular. Nunca. Se
consideramos uma boa edição. Embora se falarmos sobre criação
de um conteúdo rápido, ‘fast-food’, sim, talvez você possa usar um
aplicativo e criar, rapidamente, um vídeo”, admitiu Serrano.
Francesco Facchini considera que “sempre haverá a
necessidade de ter videógrafos com câmeras [profissionais] em
algumas ocasiões”8. Para ele, o mojo é uma “linguagem diferente”,
“fácil de usar e de aprender”, e que dá ao jornalista “maior liberdade
e velocidade” para trabalhar, com um “custo menor”. É interessante
perceber que tanto Pipo como Facchini relativizaram a denominação
“jornalismo móvel”. O primeiro defendeu que “todos nós somos
jornalistas”; o segundo foi além: “a definição ‘jornalismo móvel’
poderia acabar porque isso é apenas jornalismo moderno [...]. Porque
é simplesmente uma nova maneira de fazer jornalismo”.
Outro ponto relevante em seus discursos é a defesa de um novo
comportamento do jornalista móvel. Não se trata apenas de introduzir os
dispositivos móveis na rotina de trabalho, mas de uma “mudança de mentalidade”: a maneira como o profissional encara o trabalho de produção
de notícia. Para Quinn, as novas tecnologias da comunicação, combinadas
com “uma mentalidade empreendedora e inovadora”9, criam oportunidades para o profissional. Por exemplo, o jornalista é capaz de extrapolar o
seu turno de trabalho e se tornar “um jornalista 24/7”, ou seja: capaz de
produzir notícias 24 horas por dia, durante todos os sete dias da semana.
Outra vantagem é ter autonomia na função, em um contexto
de diminuição de postos de emprego e de individualização do
trabalho. Ele deu o exemplo da NRK, emissora estatal de rádio e
televisão da Noruega, que reduziu as equipes de correspondentes
espalhadas pela Europa por funcionários “mojos”: “transformaram
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muitos ‘euros’ [correspondentes da emissora na Europa] remotos em
‘mojos’. Eles devem fazer de tudo”. Continuou ele: “Ser remoto é uma
grande oportunidade para os ‘mojos’. O que precisa ter é uma espécie
de mentalidade nos jornalistas. Eles estarem dispostos a aprender a
usar a tecnologia adequadamente e a serem um operador único”.
Sobre este assunto, Facchini afirmou que “não é uma questão
de tecnologia. É uma questão de mentalidade. Porque você precisa se
comportar de uma forma diferente”. Essa forma diferente, defende ele,
resume-se em ser mais ágil: “você precisa ser mais rápido quando está
no trabalho de campo e mais rápido quando edita o material no fim”.
Porém, o trabalho multitarefa requer uma organização mais complexa.
Além disso, o jornalista móvel tem de lidar com as três principais
limitações do mojo kit mencionadas por Facchini: a capacidade de
energia e armazenamento de arquivos no celular e o zoom. Portanto,
o jornalista móvel deve pensar no enquadramento da cena com
antecedência e se organizar para conseguir trabalhar sozinho.
No entanto, gravar entrevistas com smartphone pode ser
vantajoso para “conseguir melhores histórias” e “histórias mais reais”,
afirmou Serrano. O mesmo ocorreu a Facchini: “Quando você está
entrevistando com um smartphone, as pessoas têm menos medo
e lhe dão mais conteúdo real. [...] E isso lhe dá a oportunidade de
produzir e entregar conteúdo mais interessante com um smartphone
do que com uma câmera”.
Todos os entrevistados concordaram com a agilidade do mojo
na produção e distribuição de notícias. “Eu ligo [o smartphone] e não
espero mais do que cinco segundos antes de poder filmar. Isso é uma
grande diferença em relação às câmeras grandes, porque você tem
que ajustar o tripé, você tem que fazer o equilíbrio branco, você tem
de ajustar o foco, você tem de ajustar a lente, e assim por diante”,
apontou Rumes10. Além disso, o smartphone permite gravar pequenos
conteúdos em vídeo, áudio ou texto e publicá-los, imediatamente, nas
redes sociais. “Você pode criar um vídeo pequeno para divulgar uma
notícia que será transmitida no telejornal da noite”, explicou Serrano.
A agilidade na locomoção também foi considerada pelos
entrevistados. Serrano explicou que o jornalista móvel embarca no
avião sem enfrentar muita burocracia, porque não carrega consigo
nenhum equipamento que tenha de ser declarado na alfândega. Ele
mencionou a vez em que enviou um jornalista móvel para apurar um
atentado terrorista em Paris e recomendou: “Ao sair do avião, você pode
transmitir o evento ao vivo. É muito mais fácil”. Logo o correspondente
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chegou à cidade, começou a produzir e enviar material pelo smartphone.
Contudo, Rumes, Facchini e Serrano fizeram a ressalva de que o excesso
do número de itens que compõe o mojo kit pode comprometer essa
agilidade. “Se você perder meia hora arrumando todo o equipamento,
perde a vantagem de usar o smartphone”, advertiu Rumes.
A característica de flexibilidade apareceu menos no discurso
dos entrevistados. Porém, Serrano observou que “além da escrita, precisamos adicionar um conteúdo visual ou de áudio extra”, para enriquecer
a notícia. Ele assegura que trabalhar com formatos de notícias diferentes não é algo exclusivo do mojo: é uma exigência do jornalismo digital
produzido no século XXI. “Tendemos a pensar que, ou fazemos jornalismo antigo, ou fazemos mojo, ou fazemos algo moderno. Não. Fazemos
jornalismo no século XXI. E se alguém não entende que o jornalismo no
século XXI é uma mistura de todos os formatos, então nunca entendeu
nada”, declarou o jornalista espanhol. Nesse sentido, Rumes afirmou
que o jornalista móvel precisa saber atuar tanto nos meios de comunicação tradicionais como nas novas mídias digitais, como o Instagram, o
Twitter e o Youtube, para se manter relevante para o público.
A qualidade desse conteúdo produzido pelos jornalistas
móveis, contudo, foi um tema controverso. Todos os jornalistas
entrevistados comentaram sobre esta questão, defendendo que é
possível produzir conteúdo jornalístico, com qualidade profissional,
usando o mojo kit; mas fizeram algumas advertências. Rumes, por
exemplo, admitiu que, quando toda uma equipe de videojornalismo é
substituída por um jornalista móvel, a qualidade do produto costuma
não ser a mesma. “O jornalista gravará o som e também fará o trabalho
de câmera. Isso afeta a qualidade do jornalismo? Sim. Quero dizer, você
tem que ser honesto, você verá algumas diferenças no som, você verá
algumas diferenças na imagem”, reconheceu. Mas o mojo kit, acredita
ele, é suficiente para produzir radiojornalismo: “radiojornalistas estão
produzindo rádio apenas com smartphone. Então não me diga que a
qualidade do som [do smartphone] não é boa”.
No caso do formato audiovisual, Rumes explicou que é mais
difícil trabalhar com as câmeras de filmagem profissionais, porque
exigem maior conhecimento sobre o equipamento (há muitos botões e
recursos que o operador deve dominar), e por isso não são adequadas
para o trabalho individual. É justamente essa possibilidade de trabalhar
sozinho que ele destaca nos dispositivos móveis: “as câmeras hoje são
mais baratas e mais fáceis de usar, e se você trabalha no modo automático,
por exemplo, o resultado é bastante bom”, ponderou Rumes.
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Ainda nessa questão, Quinn reconheceu haver uma falha na
oferta de aplicativos para celular para trabalhar, de forma eficiente,
todas as etapas do ciclo de produção de notícias. Ele lembrou que
as filmagens que movimentam muito a câmera do celular, ou que
usam o zoom do aparelho, ou em ambientes de baixa luminosidade,
resultam em “vídeos irregulares”. Todavia, o jornalista inglês afirmou
que os conteúdos de baixa qualidade, produzidos com o mojo kit,
são devido à “falta de treinamento” do profissional.
Por outro lado, a qualidade do conteúdo pode não significar
um problema, se o dispositivo com o qual as pessoas vão consumir
a notícia for também o smartphone, considerou Facchini. “A
porcentagem do consumo de conteúdo digital através de dispositivos
móveis provavelmente cresceu até 75%. O que isto significa? Que a
qualidade técnica do vídeo ou o frame rate não são tão importantes
porque a maioria do consumo ocorre em telas muito pequenas”. Dessa
forma, a diferença entre um vídeo com a resolução 4K e outro em Full
HD não é perceptível. O mesmo vale para um áudio captado em 48
kHz e outro em 96 kHz. Facchini aconselhou atenção à apuração e em
“entregar conteúdos mais interessantes usando um smartphone” ao
invés da preocupação exagerada com a qualidade técnica do material.
Já Serrano preferiu destacar a mudança de opinião daqueles
que desqualificavam a produção do mojo como uma “opção de baixo
custo”. Para ele, trabalhar com o smartphone é diferente, o resultado
final depende principalmente da competência do editor, e a qualidade
pode ser profissional. O jornalista espanhol comentou que não avisou
a audiência que algumas notícias eram produzidas com smartphones,
quando incorporou o mojo na produção do programa “8 al Dia”, transmitido pelo canal de TV catalão 8TV. Segundo ele, nunca recebeu nenhuma
queixa de que algumas matérias tinham pior qualidade do que outras.
Mas nem todos os entrevistados concordam com essa posição.
Rumes indica que pode haver diferença de qualidade entre um vídeo
gravado por um celular e outro por uma câmera profissional e que o
público compreende isso: “as pessoas entenderão que talvez a qualidade
do som não seja perfeita, talvez a qualidade da imagem não seja perfeita”.
Os especialistas abordaram em seus discursos outras duas
vantagens do mojo. A primeira é a prontidão do jornalista móvel
para apurar e cobrir eventos inesperados, por carregar consigo a
sua ferramenta de trabalho na maior parte do tempo. É comum as
pessoas levarem sempre o smartphone no bolso ou em uma bolsa. A
segunda é a vantagem de poder fazer registros em locais proibidos,
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como museus e estações de trem. Sobre isso, Serrano comentou:
“Meu correspondente em Bruxelas não estava autorizado a gravar em
certos lugares dentro do Parlamento Europeu com uma câmera. Mas
ele foi autorizado a fazer isso com um celular. [...] Portanto, tínhamos
imagens que ninguém jamais teve porque estávamos ao vivo,
explicando as coisas e ele estava gravando com um smartphone. Ele
não precisava nem pedir permissão para nada. Foi rápido e fácil”.
Os quatro jornalistas confirmaram que as pessoas ficam mais
confortáveis para falar quando a entrevista é feita por um jornalista
usando o mojo kit. Eles informaram que isso se deve ao fato de que elas
já estão acostumadas a filmar ou a serem filmadas com smartphones.
Porém, isso não significa que gravar entrevistas com o mojo kit seja
mais fácil. Quinn alertou para o fato de que o jornalista móvel acumula
funções durante a entrevista: ouvir o entrevistado com atenção, fazer
perguntas pertinentes e se preocupar com a captação de áudio e
imagem. Por isso, recomendou que o jornalista, antes de começar a
entrevista, certifique-se de que tudo está funcionando corretamente:
o áudio está sendo captado corretamente, o entrevistado está
enquadrado de forma adequada na imagem, o celular está carregado
e em modo avião, e não se esquecer de combinar, previamente, com o
entrevistado para ele não andar ou sair do quadro durante a entrevista,
para o jornalista não precisar mover ou usar o zoom do aparelho.
Rumes, Facchini e Quinn concordaram que entrevistar autoridades ou celebridades com o mojo kit costuma ser mais difícil. O jornalista
inglês reclamou que “pessoas com grandes egos só serão entrevistadas
[...] por uma equipe de jornalistas que use câmeras profissionais estampada com um adesivo de uma empresa de jornalismo, porque isso
é bom para seu ego. Eles acham que esse é o verdadeiro jornalismo”.
Mas eles acreditam que esse comportamento está mudando, à medida
que mais jornalistas usam o smartphone como ferramenta de trabalho.
Os especialistas opinaram sobre as mudanças no modelo de
negócio nas empresas de mídia. Para Rumes, a razão principal para a
adoção do mojo nas redações de jornal é o orçamento, pois o custo dos
equipamentos é menor e requer menos funcionários. Serrano acredita
que a motivação central “é o preço e a eficácia, a maneira como você
pode enviar um cara para fazer tudo”. Mas contestou que não deveria
ser assim. Para ele, o mojo é uma técnica que deve ser aplicada em situações específicas, quando apenas um jornalista é suficiente para realizar o trabalho. Já Quinn observou que a adoção do mojo nas redações
pode aumentar: “se a publicidade ou a receita diminuírem e a redação
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encolher e perder funcionários, minha conclusão é de que o mojo tem
um grande potencial para preencher as lacunas, se tiver menos jornalistas”. O jornalista inglês lembrou que, devido à pandemia de Covid-19,
“jornalistas foram forçados a se tornarem mojos, porque estão todos
operando em casa e fazendo entrevistas por Skype ou Zoom”.
Sobre o futuro do mojo, Facchini previu que “após [a pandemia
de] Covid-19, encontraremos um mundo diferente no qual a criação
de conteúdo móvel será a principal linguagem utilizada para contar
histórias em qualquer tipo de atividade”, e o jornalista móvel possui
experiência para atender a essa demanda. Para ele, “a maneira de
transformar a comunidade [do mojo] em algo que se tornará mainstream” e, consequentemente, aumentar a sua empregabilidade são as
conexões com outras áreas, tornando-se em “algo mais amplo que um
jornalista móvel”. Ou seja, ele sugere que o jornalista móvel aproveite
a sua habilidade de produzir conteúdo digital para ampliar a sua área
de atuação. “Temos que continuar [...] buscando uma parceria com o
mundo da radiodifusão, o mundo da produção de conteúdo, o mundo
do marketing, empresas de mídia, etc.”, defendeu Facchini.
6 Análise geral dos dados
A pesquisa empírica demonstrou que a prática do jornalismo
móvel, apesar de alguma resistência no início, tem se tornado cada
vez mais popular entre os jornalistas, que desenvolvem a técnica
de produção jornalística com dispositivos móveis em sua rotina
de trabalho mesmo quando desconhecem o conceito do mojo.
Esta mudança se deve em grande parte ao aprimoramento dos
dispositivos móveis que permitem produzir conteúdo noticioso em
diversos formatos, com qualidade profissional e baixo custo.
Trata-se, portanto, de uma técnica jornalística capaz de
refletir as transformações das novas tecnologias da comunicação e as
linguagens inovativas promovidas por estas ferramentas. Nesse sentido,
o profissional deve estar a par das inovações nos dispositivos móveis e
pode tirar proveito da sua originalidade: uma entrevista gravada com a
câmera de um smartphone não é igual àquela realizada com uma câmera
profissional, porque o entrevistado se comporta de um jeito diferente e
as condições do registro não são as mesmas. Além de os entrevistados
ficarem mais à vontade, o jornalista móvel pode trabalhar com uma
variedade de ângulos e movimentos que o dispositivo móvel viabiliza.
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No entanto, os dados levantados apontaram que o mojo tem necessidade e espaço para investir e avançar na qualidade das suas produções noticiosas, principalmente no formato audiovisual, que é o mais
trabalhado pelos jornalistas móveis que participaram nas pesquisas. Os
dados revelaram que o mojo não é uma técnica exaustiva, mas que deve
se aliar às outras ferramentas mais tradicionais (não móveis), por exemplo
quando os dispositivos e as funcionalidades de um smartphone não são
suficientes para fazer o trabalho com a qualidade desejada. De fato, o
zoom de uma câmera profissional funciona melhor do que o de um smartphone, em situações nas quais o objeto que se quer capturar está longe
do jornalista ou em movimento. Da mesma forma, é mais confortável e eficiente editar um material audiovisual ou sonoro em um computador, que
tem uma tela maior e mais opções de softwares para realizar essa tarefa.
Quanto às hipóteses sobre as características do mojo, se
confirmaram nas duas pesquisas: de que o jornalista móvel, por
trabalhar com o mojo kit, é capaz de produzir conteúdo jornalístico de
forma mais rápida e com uma maior variedade de formatos, além de
ter seu acesso facilitado aos locais mais afastados e aos personagens
para as entrevistas. Ainda, quanto ao comportamento do jornalista
móvel, ele trabalha com independência todas as etapas do ciclo de
produção de notícias, podendo estar distante da redação de jornal.
Nesse sentido, percebe-se, com um olhar crítico, a
naturalização da degradação do ofício do jornalista no discurso
de “nova mentalidade”, que apresenta essa condição de trabalhar
sozinho como uma conquista de maior autonomia. Isso fica evidente
na constatação de Gregory Perreault e Kellie Stanfield (2018, p.13,
tradução nossa), em seu trabalho com 39 jornalistas móveis de
diversas nacionalidades, de que o “mojo foi uma maneira pela qual
os jornalistas puderam defender o seu valor na redação de jornal – e,
como tal, serve como uma forma de segurança no emprego”.
Ainda que hoje essas mudanças sejam inevitáveis, e representem
“um próximo passo em um ambiente tecnológico em rápida mudança que
permite mais flexibilidade e elimina posições desnecessárias” (Blankenship
& Riffe, 2019, p.2, tradução nossa), conforme Justin C. Blankenship e Daniel Riffe elas criam novos problemas para o jornalismo. Além das restrições físicas de quando se trabalha sozinho por não contar com a ajuda de
companheiros, os pesquisadores encontraram, em sua investigação sobre
trabalho individualizado nas televisões locais dos Estados Unidos, o receio
dos trabalhadores de que “ao pedir a uma única pessoa que assuma a responsabilidade de várias outras, a qualidade do jornalismo produzido irá
sofrer, inevitavelmente” (2019, p.2, tradução nossa).
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7 Conclusão
O jornalismo móvel se impõe como uma prática do campo
jornalístico cada vez mais utilizada. Isto se deve pelo fato de que os
dispositivos móveis têm assumido a dianteira na produção de conteúdo
noticioso digital, como também por representar o dispositivo mais
utilizado pelo público para o consumo de notícias (Newman et al.,
2019). Em razão disso, empresas de jornalismo tradicionais, como a
BBC e a Al Jazeera, têm incentivado seus funcionários a trabalharem
dessa forma (Maccise & Marai, 2017; Settle, 2018; Shaw, 2018).
Porém, o jornalismo móvel não é plenamente reconhecido
dentro dos estudos do jornalismo, precisando de mais pesquisas
e consideração pelos pares (Bourdieu, 1983). Nesse sentido, o
investigador Oscar Westlund (2019, p.1, tradução nossa) reconheceu
que essa é “uma área emergente e relativamente imatura de
investigação”, como também os estudiosos López-García et al. (2019,
p.10, tradução nossa) ressaltaram que “o fenômeno do jornalismo
móvel ainda não foi conceitualizado por unanimidade na Academia”.
Este estudo, cujo objetivo principal é contribuir para a consolidação desse campo, compreende que as causas dessas mudanças no
jornalismo são mais profundas e estruturais, não sendo necessariamente interligadas à implementação de uma nova tecnologia na rotina
dos jornalistas (Rodrigues et al., 2020). O mojo e as suas características de agilidade, flexibilidade e acessibilidade estão associados aos
aspectos do jornalismo do século XXI (Rodrigues et al., 2020): de redução da receita e redações de jornal (Marshall, 2008), do crescimento
do jornalismo digital (Newman et al., 2019) e da preferência do mercado de trabalho por profissionais que saibam lidar com multitarefas
(Blankenship & Riffe, 2019). Além disso, o mojo manifesta a tendência
de que o trabalho do jornalista vai se tornando mais individualizado e
a sua produção voltada para a web (Rodrigues et al., 2020).
NOTAS
1
Travancas, I. (2011). O mundo dos jornalistas (4ª ed). São Paulo:
Summus.
2
O número de jornalistas mortos em trabalho em 2019 foi o menor registrado desde que o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) passou a
monitorar as ocorrências, há 17 anos. Foram, no mínimo, 25 mortes em
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2019, e a Síria e o México foram os países com maior número de casos.
O relatório, lançado anualmente pela organização, considera as mortes
de jornalistas ocorridas “em represália direta por seu trabalho; por fogo
cruzado relacionado a combate; ou enquanto realizava uma cobertura
perigosa”. Recuperado de <https://cpj.org/pt/2019/12/siria-e-mexicoforam-os-paises-mais-letais-para-jo.php>. Acesso em janeiro de 2020.
3
Recuperado de www.youtube.com/watch?v=VnvPXspjLtU. Acesso
em fevereiro de 2020.
4
Recuperado de www.facebook.com/groups/mojofest/. Acesso
em fevereiro de 2020.
5
Recuperado de www.shoulderpod.com/the-mobile-trainers-worldcatalogue. Acesso em fevereiro de 2020.
6
Poupart, J. (1997). L’Entretien de Type Qualitatif: Considérations
Épistémologiques, Théoriques et Méthodologiques. In Poupart et
al. (Orgs.), La Recherche Qualitative, Enjeux Épistémologiques et
Méthodologiques (pp.173–209). Canadá: Gaetan Morin.
7
Todas as citações que fazem referência a Pipo Serrano foram
retiradas de uma entrevista concedida em 21/05/2020.
8
Todas as citações que fazem referência a Francesco Facchini
foram retiradas de uma entrevista concedida em 16/05/2020.
9
Todas as citações que fazem referência a Stephen Quinn foram
retiradas de uma entrevista concedida em 10/05/2020.
10 Todas as citações que fazem referência a Tom Rumes foram
retiradas de uma entrevista concedida em 08/05/2020.
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(CC BY-NC-ND 4.0). DOI: 10.25200/BJR.v17n2.2021.1368
JORNALISMO MÓVEL
LUIS PEDRO RIBEIRO RODRIGUES. Mestre
em Comunicação Multimedia pela Universidade
de Aveiro e licenciado em Comunicação Social –
Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.
Pesquisador no projeto europeu Erasmus+
PAgES, dentro do centro de pesquisa DigiMedia.
Colaboração no artigo: concepção do desenho da
pesquisa; desenvolvimento da discussão teórica;
coleta e análise dos dados; redação do manuscrito;
apoio na revisão de texto. E-mail: luispedrorr@ua.pt
VANIA BALDI. Docente no Departamento de
Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro,
membro da Comissão Executiva do Centro de
Investigação em Média Digitais e Interação
(DigiMedia), possui a Qualificação Científica
Nacional como Professor Associado no sistema
de ensino superior italiano. Doutor em Ética e
Antropologia pela Universidade do Salento, é
editor da OBS* Observatório Journal. Colaboração
no artigo: desenvolvimento da discussão teórica;
apoio na revisão de texto. E-mail: vbaldi@ua.pt
ADELINO DE CASTRO OLIVEIRA SIMÕES
GALA. Pós-doutorado no Departamento de
Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro
na área de Novas Tecnologias da Comunicação.
Doutor em Tecnologias de Inteligência e Design
Digital pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo no ramo de Aprendizagem e
Semiótica Cognitiva. Pesquisador no projeto
europeu Erasmus+ PAgES. Colaboração no artigo:
desenvolvimento da discussão teórica; apoio na
revisão de texto. E-mail: adelinogala@gmail.com
Dois pareceres utilizados na avaliação deste artigo podem
ser acessado em: https://osf.io/md7b3/ e https://osf.io/2bvw9/ |
Seguindo a política de ciência aberta da BJR, os avaliadores autorizaram
a publicação dos pareceres e a divulgação de seus nomes.
Braz. journal. res., - ISSN 1981-9854 - Brasília -DF - Vol. 17 - N. 2 - agosto - 2021.