Proposta de um Modelo Funcional para Iniciativas de
Mediação Digital em Campanhas Eleitorais
Proposal of a Functional Model for Digital Mediation
Initiatives in Electoral Campaigns
Artur Jorge Afonso de Sousa
Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu
Instituto Politécnico de Viseu
Viseu, Portugal
ajas@di.estv.ipv.pt
Abstract— Neste trabalho é proposto um modelo funcional para
suporte de iniciativas de mediação digital para a participação
pública direta em períodos eleitorais. Neste contexto, é proposto
um modelo conceptual e apresentada a sua prova de conceito –
uma plataforma Web. O ponto de partida foi o de proporcionar
uma resposta para a lacuna de comunicação identificada entre os
principais intervenientes numa campanha eleitoral, e converter o
eleitor, de participante passivo, em agente com capacidade de
intervir e de produzir informação. Com base em cinco
experiências de utilização da plataforma Web desenvolvida, em
campanhas eleitorais realizadas em Portugal entre 2009 e 2011,
são apresentados os resultados que sustentam o modelo funcional
proposto.
Keywords: Eleições;eCampanha; e-particiapação; modelo
Abstract— This paper proposes a functional model to support
initiatives of digital mediation for direct public participation in
electoral periods. In this context, a conceptual model is proposed
and its proof of concept - a Web platform – is presented. The
main issue being addressed is the communication gap between
the key stakeholders in an election campaign, and the conversion
of the citizen from a traditionally passive role into an agent with
the possibility to intervene and produce electoral information.
Based on five different initiatives using the Web platform during
electoral campaigns in Portugal between 2009 and 2011, results
supporting the proposed functional model are presented.
Keywords: Elections;eCampaign; e-participation; model
I.
INTRODUÇÃO
Recentemente tem-se vindo a assistir, nos países do
hemisfério ocidental, a um declínio da confiança dos cidadãos
na classe política. Por outro lado, a utilização da Internet tem
vindo a tornar-se mais interativa e orientada para o utilizador.
A Web 2.0 e, mais recentemente o surgimento dos Média
Sociais, não só criaram novas possibilidades para a
Luís Manuel Borges Gouveia
Faculdade de Ciência e Tecnologia
Universidade Fernando Pessoa
Porto, Portugal
lmbg@ufp.edu.pt
comunicação e para a autoexpressão, como também novas
formas de comportamento e envolvimento social e político.
Assim, um número crescente de políticos tem vindo a utilizar a
Internet para recuperar a confiança dos cidadãos e fomentar o
seu envolvimento e participação, através de meios inovadores.
Neste contexto, e depois de observar que o tipo de
comunicação política e de cobertura das campanhas eleitorais
operado pelos Média tradicionais se concentra essencialmente
numa comunicação unidirecional, surgiu uma pergunta de
investigação preliminar importante: Como estimular os
cidadãos a envolverem-se e a participar ativamente nos debates
eleitorais, através de mediação digital?
Acredita-se que pode ser útil e desejável ter uma solução
que agregue num único local, neutro e regulado, os
intervenientes numa campanha eleitoral e que possibilite uma
comunicação multidirecional entre eles. O desenrolar da
investigação e desenvolvimento conduziu a uma segunda
pergunta de investigação: Qual o papel dos Média em
iniciativas de participação eletrónica em períodos eleitorais?
A metodologia utilizada ao longo deste trabalho foi a
investigação-ação. Note-se que o projeto de investigação e
desenvolvimento descrito neste artigo apresenta características
comummente apontadas na literatura sobre investigação-ação
[1], das quais se destaca o facto de ser um projeto inovador, de
índole eminentemente prática e social, em que a gestão da
mudança tem um papel preponderante, e onde a procura
contínua de melhoria é uma prioridade. Portanto, estas
características fazem da investigação-ação uma metodologia
apropriada para este projeto. O processo cíclico contínuo,
característico da investigação-ação, composto por quatro fases,
revelou-se extremamente adequado para este projeto. Assim,
neste trabalho adotou-se um modelo cíclico de investigaçãoação, baseado no modelo proposto por [2], composto por
quatro fases: planear, agir, observar e refletir. Passar a um novo
ciclo de investigação-ação, isto é, voltar a planear, agir,
observar e refletir, e assim sucessivamente. Neste projeto
foram implementados quatro ciclos de investigação-ação. Para
o desenvolvimento da plataforma digital de participação,
decidiu-se adotar uma metodologia que considerasse o
manifesto ágil [3], isto é, que privilegiasse o desenvolvimento
rápido e contínuo de software, gerido em períodos curtos, que
aceitasse alterações de requisitos, mesmo numa fase tardia do
ciclo de desenvolvimento (isto é, que abraçasse e potenciasse a
mudança), e que promovesse a colaboração [4].
Este artigo está estruturado do seguinte modo: Na secção II
apresenta-se o modelo de mediação digital para a participação
pública direta em períodos eleitorais, enquanto na secção III se
aborda a sua prova de conceito. Na secção IV apresenta-se os
principais resultados de cinco experiências de utilização da
plataforma. Finalmente, na secção V apresentam-se as
principais conclusões e contributos deste trabalho de
investigação e desenvolvimento.
II.
MODELO DE MEDIAÇÃO DIGITAL PARA A PARTICIPAÇÃO
PÚBLICA DIRETA EM PERÍODOS ELEITORAIS
Como resultado da revisão bibliográfica realizada, do
feedback recolhido junto de personalidades com experiência
em campanhas eleitorais e ligadas à política e associativismo
em Portugal, bem como da investigação-ação realizada,
entendeu-se pertinente considerar os seguintes atores num
modelo de mediação digital para a participação pública direta
em períodos eleitorais: os cidadãos, os candidatos e os seus
representantes (candidaturas), as associações (os sindicatos,
associações profissionais, entre outras), os partidos políticos e
os movimentos sociais e políticos. A Figura 1 ilustra o modelo
de mediação digital para a participação pública direta em
períodos eleitorais.
que a dimensão digital faz parte do modelo por absorção.
Também não se representa explicitamente o ator editor ou
curador da plataforma digital, pois, tal como a tecnologia, é
inerente ao modelo, na medida em que é um elemento neutro,
que tem como principais funções fazer a gestão de utilizadores
da plataforma, criar, gerir e moderar os eventos de
participação, de acordo com os termos de utilização. Um
aspeto interessante do modelo diz respeito ao facto de, depois
de cada campanha eleitoral, todos os conteúdos ficarem
disponíveis para futura consulta, criando, assim, uma autêntica
memória digital.
III.
PROVA DE CONCEITO – A PLATAFORMA ILEGER
Da investigação-ação, e tendo por base o modelo proposto,
resultou o desenvolvimento de uma plataforma digital,
designada iLeger, que permite a criação e gestão de múltiplos
eventos de participação pública direta em períodos eleitorais. A
seguir, na Figura 2, apresentam-se as principais áreas
funcionais da plataforma iLeger. A aplicação está estruturada
em seis grandes áreas, uma para a área pessoal dos utilizadores
e uma para cada tipo de evento de participação pública
(perguntas, sugestões, inquéritos, programas eleitorais, e
debates em direto). A gestão da plataforma é feita, pelo editor
(curador) da plataforma, numa área dedicada, o backoffice.
Figura 2 – Áreas funcionais da plataforma iLeger.
Figura 1 - Modelo de mediação digital para a participação pública
direta em períodos eleitorais
As setas representam os canais abertos para a comunicação
multidirecional entre os principais atores de uma campanha
eleitoral. Cada pentágono representa uma campanha eleitoral e
a comunicação multidirecional entre os principais atores. As
diferentes cores dos vários pentágonos indicam que o modelo
proposto se adequa a diferentes tipos de eleições. Para cada um
destes universos eleitorais pode ser criada uma instância
específica do modelo para apresentação e debate eleitoral.
Naturalmente, dependendo dos cenários eleitorais, também
podem mudar os atores envolvidos. Na Figura 1, considera-se o
universo das eleições políticas. No modelo acima exposto, não
está explicitamente representada a tecnologia, pois considera-se
Resumidamente, a plataforma iLeger disponibiliza à
comunidade a possibilidade de colocar perguntas direta e
simultaneamente a todos os candidatos numa eleição. As
perguntas mais votadas são respondidas pelos candidatos.
Depois, os membros da comunidade podem comparar os
diferentes pontos de vista dos vários candidatos. Ademais, a
plataforma permite à comunidade apresentar as suas sugestões
e ideias para os problemas de cada área da governação
(educação, saúde, economia, justiça, finanças, entre outras). A
plataforma pode ainda ser usada para criar inquéritos com o
intuito de dar a conhecer a opinião da comunidade acerca de
temas-chave da campanha eleitoral. É ainda possível aos
candidatos apresentar os seus programas eleitorais, de modo a
que a comunidade os possa, de forma simples, rápida e
organizada, consultar, comentar, comparar e avaliar, através de
votação. Podem ser realizados debates em direto entre os
candidatos, ou os seus representantes, e os membros da
comunidade. Todos os utilizadores registados possuem uma
área de perfil, onde podem colocar informação pessoal e onde é
apresentada a sua atividade recente na plataforma iLeger, bem
como a sua rede social.
IV.
ANÁLISE DE RESULTADOS
Nesta secção, apresentam-se e analisam-se os principais
resultados das experiências de utilização da plataforma iLeger
nas campanhas eleitorais das Eleições Legislativas e
Autárquicas de Portugal em 2009 (cidade de Viseu), da Eleição
do Bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal em 2010, e
das Eleições Presidenciais e Legislativas de Portugal em 2011,
essencialmente na perspetiva das visitas à plataforma e das
ações de participação dos intervenientes. Na Tabela 1
resumem-se os principais resultados relacionados com as
visitas à plataforma iLeger ocorridas durante as experiências de
utilização. Os valores “N/A” significam “Não aplicável” e os
valores “N/D” significam informação “Não disponível”.
Tabela 1 – Número de visitas à plataforma iLeger durante cinco
campanhas eleitorais
levada a cabo na campanha eleitoral das Eleições Presidenciais
de Portugal de 2011, 46,6% das visitas ocorreram nos dias em
que se realizaram os debates em direto com as candidaturas. Na
iniciativa realizada na campanha eleitoral das Eleições
Legislativas de Portugal de 2011, 91,4% das visitas à
plataforma iLeger ocorreram nos dias dos debates em direto.
A Tabela 2 ilustra a data, a hora de início e de conclusão de
cada um dos cinco debates em direto realizados no iLeger
durante a campanha eleitoral das Eleições Legislativas de
Portugal em 2011, bem como o número de visitas nos dias dos
debates.
Tabela 2 – Estatísticas dos dias dos debates em direto na campanha
eleitoral para as Eleições Legislativas de Portugal de 2011
Data
25 Maio 2011
26 Maio 2011
27 Maio 2011
31 Maio 2011
3 Junho 2011
*
Iniciativas realizadas em parceria com o portal SAPO ; NVU – Número
de visitantes únicos; NVUL – Número de visitantes únicos que efetuaram
login; Pct VUL – Percentagem de visitantes únicos que efetuaram login; Pct
Visitas dias DD – Percentagem de visitas ocorridas nos dias dos debates em
direto
Da análise da Tabela 1 sobressaem vários aspetos. O
primeiro diz respeito ao potencial dos Média para atrair os
vários intervenientes de iniciativas de participação on-line
durante campanhas eleitorais. Como se pode observar na
coluna “NVU”, as duas iniciativas realizadas em parceria com
o portal SAPO (campanhas eleitorais das Eleições
Presidenciais e Legislativas de Portugal em 2011) trouxeram
muito mais visitantes ao iLeger do que as restantes iniciativas
realizadas sem a respetiva parceria. A capacidade dos Média
para atrair as candidaturas, especialmente em eleições políticas
de maior dimensão (âmbito nacional), também merece registo.
Através da observação da coluna “N.º Candidatos”, verifica-se
que na iniciativa levada a cabo na campanha eleitoral para as
Eleições Presidenciais de Portugal em 2011 participaram na
plataforma iLeger todas as seis candidaturas. Por outro lado, a
iniciativa conduzida pelo SAPO na campanha eleitoral para as
Eleições Legislativas de Portugal em 5 de Junho 2011
participaram sete das dezassete candidaturas. Note-se, contudo,
que essas candidaturas foram as sete mais votadas nas eleições,
tendo recebido 93,65% dos votos. É ainda relevante referir que
na iniciativa levada a cabo, sem qualquer tipo de parceria, na
campanha para as Eleições Legislativas 2009 não participou
nenhuma candidatura associada aos maiores partidos políticos
de Portugal. Pelo contrário, participaram cinco candidaturas
que obtiveram apenas 1,4% dos votos na Eleição de 27 de
Setembro de 2009. Por outro lado, na iniciativa, de âmbito
local, conduzida durante a campanha eleitoral para o município
de Viseu, em Outubro de 2009, participaram as duas
candidaturas mais representativas (obtiveram 88,36% dos votos
nos resultados eleitorais).
Outro aspeto que ressalta da observação da Tabela 1 está
relacionado com o impacto dos eventos de curta duração e em
direto nas visitas às iniciativas de participação eletrónica (eparticipação) levadas a cabo na plataforma iLeger. Como se
pode observar na coluna “Pct visitas dias DD”, na iniciativa
N.º Debates
1
1
1
1
1
Início
18:24
17:05
16:16
15:21
15:22
Fim
19:30
18:18
17:29
16:44
16:32
N.º Visitas dia
5455
4293
5966
1352
2353
Na Figura 3 estão representadas as visitas ao iLeger
registadas, hora a hora, pelo Google Analytics, durante a
campanha para as Eleições Legislativas de Portugal em 2011,
entre 24 de Maio e 5 de Junho de 2011.
Figura 3 – Visitas, por hora, à plataforma iLeger durante a campanha
eleitoral para as Eleições Legislativas de Portugal de 2011. Fonte:
Google Analytics
Através da observação da Tabela 2 e da Figura 3, verificase que os picos das visitas correspondem precisamente aos
(cinco) dias em que ocorreram os debates em direto. Nos
restantes dias da campanha, o número de visitas foi muito
inferior ao verificado nos dias dos debates em direto. Note-se
que, interessantemente, os máximos das visitas nos dias dos
debates em direto ocorreram durante as horas em que se
realizaram os debates e nos momentos circunjacentes. Por
exemplo, no dia 25 de Maio de 2011 o pico de visitas ocorreu
por volta das 19 horas, altura em que decorria o debate em
direto com a representante de uma candidatura. Por outro lado,
este tipo de eventos (de curta duração e em direto) parece ser
também atrativo para as candidaturas, uma vez que estas se
mostraram mais abertas a participar nestes cenários. Esta
abordagem reduz os recursos necessários para participar na
plataforma, pois apenas têm de responder a um número
reduzido de questões, durante um tempo também limitado.
A Tabela 3 ilustra a data, a hora de início e de conclusão de
cada um dos seis debates em direto realizados no iLeger
durante a campanha eleitoral das Eleições Presidenciais de
Portugal em 2011, bem como o número de visitas nos dias dos
debates.
Tabela 3 - Estatísticas dos dias dos debates em direto na campanha
eleitoral para as Eleições Presidenciais de Portugal de 2011
Data
N.º Debates
10 Janeiro 2011
3
11 Janeiro 2011
2
17 Janeiro 2011
1
Início
Fim
11:07
16:07
19:03
11:14
15:47
18:06
12:42
17:51
20:09
12:35
17:24
19:07
N.º Visitas dia
5552
5207
2293
É importante salientar que no dia 7 Janeiro de 2011 o portal
SAPO divulgou, na sua home page, alguns eventos de
participação da plataforma iLeger. O principal objetivo da
divulgação foi estimular os internautas a submeterem perguntas
para depois realizar nos debates em direto com as candidaturas.
Como resultado dessa divulgação, o iLeger foi alvo de 1377
visitas nesse dia. No dia 20 de Janeiro de 2011, o portal SAPO
dedicou aproximadamente quatro horas de destaque (um valor
bastante acima do habitual) às áreas de sugestões e de
inquéritos da plataforma iLeger, sensivelmente entre as 11:30 e
as 15:30. O objetivo foi tentar dinamizar as áreas destinadas às
sugestões e aos inquéritos à comunidade. Em consequência da
forte divulgação, ocorreram 9173 visitas ao iLeger no dia 20 de
Janeiro de 2011. Assim, nos dois dias em que foi feita uma
divulgação mais forte do que o normal dos eventos de
participação, ocorreram 37,7% (i. e., 10550) das visitas à
plataforma, sugerindo que a divulgação dos eventos pode ter
um impacto positivo nas visitas à plataforma de participação.
Convém ainda referir que uma das possíveis razões para a
grande adesão dos cidadãos nos dias dos debates em direto,
quer nas Eleições Legislativas, quer nas Eleições Presidenciais,
pode também ter sido o facto de o portal SAPO ter feito nesses
dias divulgação dos debates do iLeger na zona de maior
destaque da sua home page. Era comum o SAPO realizar
destaques momentos antes, durante e momentos depois de cada
debate em direto.
A Figura 4 ilustra as visitas ao iLeger registadas, hora a
hora, pelo Google Analytics, durante a campanha para as
Eleições Presidenciais de Portugal em 2011, entre 6 e 23 de
Janeiro de 2011. Através da observação da Tabela 3 e da
Figura 4, verifica-se que os picos das visitas correspondem aos
três dias em que ocorreram os debates em direto e aos dois dias
em que houve maior divulgação dos outros eventos de
participação. Note-se que nos restantes dias da campanha
eleitoral as visitas à plataforma iLeger foram em número
reduzido, quando comparadas com os dias dos debates em
direto e de maior divulgação, representando apenas 15,7% das
visitas. Os máximos das visitas nos dias dos debates em direto
ocorreram novamente durante as horas em que se realizaram os
debates e nos momentos circunjacentes. Por exemplo, no dia
11 de Janeiro de 2011 o pico de visitas ocorreu por volta das 16
horas, altura em que decorria um debate em direto com o
representante de uma candidatura.
Figura 4 - Visitas, por hora, à plataforma iLeger durante a campanha
eleitoral para as Eleições Presidenciais de Portugal de 2011. Fonte:
Google Analytics
Os máximos das visitas nos dois dias da divulgação acima
do normal também ocorreram durante as horas da divulgação e
nos momentos circunjacentes. Por exemplo, no dia 11 de
Janeiro de 2011 o pico de visitas ocorreu por volta das 12
horas, altura em que decorria a forte divulgação na home page
do SAPO para dinamizar as áreas de sugestões e de inquéritos
à comunidade da plataforma iLeger. Portanto, sempre que o
SAPO divulgou os eventos de participação do iLeger na sua
home page, foi notório um acréscimo considerável de visitas à
plataforma iLeger, sugerindo a existência de um impacto
positivo da divulgação dos eventos de participação nas visitas à
plataforma.
A Tabela 4 resume os principais resultados relacionados
com as ações de participação na plataforma iLeger ocorridas
durante as experiências de utilização. Novamente, os valores
“N/A” significam “Não aplicável” e os valores “N/D”
significam “Não disponível”.
Tabela 4 – Participação dos utilizadores na plataforma iLeger durante
cinco campanhas eleitorais
NVU – Número de visitantes únicos à plataforma iLeger
Da análise da Tabela 4 sobressai um aspeto, que está
relacionado com o impacto dos eventos de curta duração e em
direto, na participação em iniciativas de e-participação em
períodos eleitorais. Assim, como se pode observar na coluna
“% entradas dentro dos debates em direto”, na iniciativa levada
a cabo na campanha eleitoral das Eleições Presidenciais de
Portugal de 2011, 65,9% das entradas foram submetidas na
plataforma iLeger, no decorrer dos debates em direto. Por outro
lado, na iniciativa realizada na campanha eleitoral das Eleições
Legislativas de Portugal de 2011, 94,4% das entradas na
plataforma iLeger foram submetidas nos debates em direto.
Note-se, contudo, que os utilizadores não necessitavam de estar
registados na plataforma para submeter conteúdos escritos
durante os debates em direto e que, ao invés, para submeter
conteúdos nas outras áreas da plataforma (perguntas, sugestões,
…), precisavam de estar registados. A não necessidade de
registo poderá ter sido, eventualmente, um fator catalisador
para a participação durante os debates em direto.
V.
CONCLUSÃO
Nesta secção apresenta-se as principais conclusões e
contributos deste trabalho de investigação e desenvolvimento.
DISCUSSÃO
Quando se tentou responder à questão de investigação
preliminar “Como estimular os cidadãos a envolverem-se e a
participar ativamente nos debates eleitorais, através de
mediação digital?”, alega-se que os resultados das experiências
de utilização da plataforma iLeger em cinco campanhas
eleitorais realizadas em Portugal entre 2009 e 2011, bem como
o feedback recebido de alguns atores envolvidos nessas
eleições, sugerem que os eventos de curta duração e em direto
e o envolvimento dos Média podem ser fatores catalisadores da
participação da classe política e dos cidadãos.
Apesar de se acreditar fortemente que as ferramentas de
participação baseadas na Internet, tais como as redes sociais e
como a aplicação aqui apresentada, serão cada vez mais
importantes em campanhas eleitorais, e que, se forem
convenientemente usadas, têm potencial para contribuir
significativamente para reverter o atual afastamento dos
cidadãos dos debates eleitorais, defende-se que o foco tem que
estar essencialmente na participação e nas pessoas (cidadãos e
candidatos) e não tanto na tecnologia. Assim, tal como em [5],
argumenta-se que o problema da e-participação não é apenas
uma questão de tecnologia, mas também sobre a mudança para
uma cultura mais aberta e de colaboração.
Ainda em relação às experiências de utilização da
plataforma iLeger, considera-se, tal como em [6], que a
divulgação é um fator chave para o sucesso deste tipo de
iniciativas de participação. Era claramente percetível que
sempre que havia divulgação na home page do nosso parceiro,
o portal SAPO, aumentava consideravelmente o número de
visitas na plataforma iLeger (contabilizando cerca de 90% dos
acessos). Luhrs e os seus colegas, ao analisarem os fatores
críticos de sucesso para iniciativas de e-participação, no
âmbito de um projeto levado a cabo na cidade de Hamburgo,
na Alemanha, afirmam que a publicidade e o Marketing são um
desses fatores, juntamente com a capacidade de resposta dos
governantes, e os prémios ou recompensas [7]. Quando se
tentou responder à segunda questão de investigação “Qual o
papel dos Média em iniciativas de participação eletrónica em
períodos eleitorais?”, alega-se que a análise de resultados das
experiências de utilização da plataforma iLeger sugere que os
Média podem desempenhar um papel muito relevante, pois têm
grande potencial para divulgar iniciativas de participação e,
consequentemente, para atrair os vários intervenientes
(cidadãos e políticos) à participação, e possuem já grandes
comunidades de utilizadores com alguns hábitos de
participação on-line. Além disso, os Média têm também um
conjunto de comentadores e analistas que podem contribuir
para a qualidade das discussões. É, no entanto, muito
importante que tudo seja feito com total neutralidade política,
isto é, a exploração da tecnologia deve ser feita de forma
absolutamente neutra. Contudo, neste contexto, existem
inúmeros autores que defendem a impossibilidade de um
sistema neutro, em parte fundamentado pelo atual quadro
económico e de controlo em que muitos dos Média se
enquadram, ou seja, não é consensual considerar que os Média
estão numa posição privilegiada para desempenhar o papel de
curador de informação de plataformas de e-participação. No
entanto, embora se aceite a posição, verifica-se que o trabalho
futuro é precisamente o de sustentar e providenciar os meios
que assegurem a tese deste trabalho e não o lidar com a
subjetividade resultante da existência de sistemas assimétricos
e defensores de interesses - algo que a literatura refere como
uma atividade de lobbying. Deste modo, neste trabalho
defende-se que a mediação digital propõe uma ecologia em que
o espaço de participação é também um espaço de confrontação
de poder. Neste contexto, e de forma o mais transparente
possível, é que se propõe o uso de uma plataforma digital,
neutra e de regulação de base tecnológica, que transfira para os
interesses em confronto a produção dos resultados de
participação.
Note-se que o potencial dos Média para desempenhar um
papel relevante em iniciativas de participação on-line é também
reconhecido em vários trabalhos [8] [9]. Por exemplo, Peter
Mambrey, no seu estudo sobre políticas de e-participação e
projetos de e-participação, de âmbito local na Alemanha,
afirma que o apoio dos Média é vital para mobilizar os
cidadãos, e que, caso não exista esse apoio, a participação
permanece fraca [10]. Polat alega que, para aumentar e
promover a participação na esfera pública virtual, os meios de
comunicação social on-line precisam de estar presentes [11].
Manuel Castells evidencia o papel crucial dos Média
eletrónicos na política contemporânea [12]. Argumenta que os
candidatos utilizam os Média como principal veículo de
comunicação, influência e persuasão, e que as pessoas recebem
informações e formam a sua própria opinião política
essencialmente por intermédio dos Média. Castells chega
mesmo a afirmar que, “em virtude dos efeitos convergentes da
crise dos sistemas políticos tradicionais e do grau de
penetrabilidade bem maior dos novos meios de comunicação, a
comunicação e as informações políticas são capturadas
essencialmente no espaço dos Média. Fora da esfera dos Média
existe apenas marginalidade política”.
CONTRIBUTOS
A noção de sistema pode ser aplicada a qualquer objeto ou
fenómeno que queiramos estudar. Considerando o iLeger um
sistema de mediação digital para a participação pública direta
em períodos eleitorais, que permite a gestão de eventos de
participação em linha, e supondo que os eventos de
participação pública são atividades, utiliza-se a seguir uma
abordagem semelhante à da SADT (Structured Analysis and
Design Technique), com o intuito de apresentar uma visão de
alto nível do sistema iLeger (ver Figura 5). Pretende-se,
essencialmente, identificar e mostrar, numa forma
diagramática, as entradas, os principais componentes, as saídas,
e os fatores que influenciam a qualidade e o sucesso das
atividades (isto é, das iniciativas e dos eventos de participação)
levadas a cabo na plataforma iLeger.
compromisso assumido para períodos pós-eleitorais, com o
qual poderão depois ser confrontados durante o exercício de
funções. Destaque-se ainda que um dos contributos da
plataforma iLeger é permitir a comunicação multidirecional
(horizontal, vertical, síncrona e assíncrona) entre os vários
intervenientes de uma campanha eleitoral.
Figura 5 - Modelo funcional de alto nível do sistema iLeger.
A caixa representa as atividades realizadas no sistema
iLeger, ou seja, os eventos de participação pública. As setas do
lado esquerdo da caixa representam as entradas do sistema, isto
é, as contribuições dos atores do iLeger nos vários eventos de
participação criados e geridos pelo editor. As setas da parte
superior da caixa representam os fatores que influenciam a
qualidade e o sucesso das iniciativas e dos eventos de
participação. As setas da parte inferior da caixa representam os
componentes do sistema iLeger (o frontoffice e o backoffice)
utilizados para realizar os eventos de participação. As setas do
lado direito representam as saídas do sistema, isto é, o que se
obtém com a utilização da plataforma iLeger.
É ao nível dos fatores que podem influenciar a qualidade e
o sucesso dos eventos de participação em períodos eleitorais, e
das saídas do sistema, que se encontram alguns dos principais
contributos deste trabalho de investigação e desenvolvimento.
Assim, entre os fatores que influenciam a qualidade e o sucesso
das atividades (eventos de participação) levadas a cabo na
plataforma iLeger, destaque-se que a escolha do promotor tem
um peso significativo, quer na qualidade editorial, quer no
sucesso das iniciativas (em termos de número de visitas e de
quantidade de ações de participação). Os Média estão numa
posição privilegiada neste contexto. Também merece destaque
a importância da divulgação das iniciativas e dos eventos de
participação, quer nas visitas, quer na própria participação dos
intervenientes. Os Média têm, também a este nível, um grande
potencial. Por último, mas não menos importante, é de
assinalar o impacto positivo dos eventos de curta duração e em
direto nas visitas e na participação ativa dos intervenientes em
iniciativas de participação em períodos eleitorais.
Em relação ao que se obtém com a utilização da plataforma
iLeger, isto é, às saídas, evidencie-se que, depois de cada
campanha eleitoral, todos os conteúdos da plataforma ficam
disponíveis para futura consulta (24 horas por dia, 7 dias por
semana e 365 dias por ano), criando, assim, uma memória
digital. As respostas e as propostas dos candidatos, bem como
as contribuições dos partidos políticos, das associações e dos
movimentos sociais e políticos representarão, seguramente, um
Ainda como contributo deste trabalho de investigação e
desenvolvimento, apresenta-se a seguir um conjunto de boas
práticas, identificadas ao longo da utilização da plataforma
iLeger em campanhas eleitorais em Portugal entre 2009 e 2011,
a considerar em iniciativas de mediação digital para a
participação pública direta em períodos eleitorais. Assim,
recomenda-se:
Envolver
na
conceção,
desenho,
desenvolvimento, e avaliação da solução tecnológica os
intervenientes das iniciativas de participação; Escolher para
promotor da iniciativa de e-participação uma pessoa/instituição
com grande capacidade para angariar participantes, divulgar a
iniciativa, estimular a participação (os Média têm a este nível
um grande potencial), e garantir a qualidade e neutralidade
editorial; Disponibilizar informação sobre os assuntos a
discutir; Definir com clareza, concisão, e de forma
colaborativa, os termos de utilização da plataforma; Reduzir ao
máximo os recursos necessários para participar (a este nível, os
eventos de curta duração e em direto revelaram-se
extremamente eficazes); Promover o feedback dos candidatos
às solicitações dos membros da comunidade; Fazer um resumo
(infografia, relatório ou notícia) com os principais conteúdos e
contributos de cada evento de participação.
REFERÊNCIAS
[1]
Alber, S. M. A Toolkit for Action Research. Plymouth: Rowman &
Littlefield Publishers, 2011.
[2] Zuber-Skerritt, O. New Directions in Action Research. In O. ZuberSkerritt (Ed.). London, pp. 3-9, 1996.
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