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Adolescência e juventude: realidades brasileiras

2012, Psicologia Clínica

Resenha Adolescência e juventude: realidades brasileiras Psicologia_Clinica_24.2.indd 147 17/12/2012 10:42:45 ISSN 0103-5665  149 Adolescência e juventude Adolescência e juventude: realidades brasileiras Adolescence and youth: brazilian realities Edna Lúcia Tinoco Ponciano* Louise Florêncio Marques** Luisa Soares*** Resenha do livro: Libório, R. M. C. & Koller, S. K. (2009). Adolescência e Juventude: risco e proteção na realidade brasileira. São Paulo: Casa do Psicólogo. 340p. O campo de pesquisa sobre jovens no Brasil está em franco crescimento, o que é evidenciado pelo esforço conjunto presente nesse livro publicado pelo Grupo de Trabalho “Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade” da ANPEPP. A pesquisa intitulada “Juventude brasileira: comportamentos de risco, fatores de risco e proteção” foi realizada em várias cidades do Brasil, representando diversas regiões, tendo como amostra a população jovem, de ambos os sexos, entre 14 e 24 anos, de nível socioeconômico baixo, habitando locais com IDH menor que 0,3. A partir da aplicação de um questionário, construído pelo grupo, produz-se um banco de dados que possibilita a análise de diversos ângulos da vida desses jovens e indica aspectos relevantes para a discussão e construção de políticas públicas. O primeiro capítulo, no qual percebemos a dificuldade de se esgotar a análise e compreensão dos dados gerados, apresenta e organiza os resultados da pesquisa. Consideramos importante ressaltar a abordagem teórico-metodológica, que se utiliza de dois referenciais: Abordagem Ecológica do Desenvolvimento * Pós-doutorado Júnior CNPq, UERJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: ednaponciano@uol. com.br. ** Mestranda em Psicologia Social, UERJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: louisemarques@ yahoo.com. *** IC/ FAPERJ, UERJ. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: luisa_soares90@hotmail.com. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.11, p. 149 – 153, 2012 Psicologia_Clinica_24.2.indd 149 17/12/2012 10:42:45 150  Adolescência e juventude Humano (AEDH), que destaca “os estudos do desenvolvimento no contexto” (Libório & Koller, 2009, p. 24) e a Psicologia Positiva, que busca “compreender os fatores e processos que promovem o desenvolvimento psicológico sadio” (Libório & Koller, 2009, p. 25). Acreditamos que a junção dessas duas perspectivas permite uma abordagem que realça as diferenças sem patologizá-las, repensando o modo como elaboramos uma teoria do Desenvolvimento Humano. A proposição de um Índice de Bem-Estar Infanto-Juvenil é discutida, no segundo capítulo, a partir de indicadores de qualidade de vida em crianças e adolescentes encontrados em bases de dados de pesquisas nacionais realizadas por vários institutos. Essa é uma proposta que visa preencher uma lacuna, especificando essa faixa etária. Ainda há muito a ser desenvolvido, mas aqui são apontadas algumas indicações para que se implementem políticas públicas para o desenvolvimento do bem-estar infanto-juvenil, considerando as diferenças regionais. O terceiro capítulo aborda o uso do tempo livre de jovens em situação de vulnerabilidade, apresentando uma breve revisão da literatura sobre o tema e buscando compreender o lazer como um dos fatores de proteção para o desenvolvimento. A falta de espaços que promovam o tempo livre é uma fonte de preocupação, já que pode levar o jovem a fazer escolhas que aumentam as chances de comportamentos de risco pela busca da excitação para confrontar o tédio do tempo sem ocupação e do alívio da repressão social que se abate sobre o jovem de nível socioeconômico mais baixo. Quanto a esse aspecto, lembramos a discussão feita por Arnett (2004) a respeito dessa fase de experimentação, necessária para o desenvolvimento da identidade. Esse desenvolvimento, porém, pode ser comprometido pela dificuldade de acesso a recursos que o potencializem positivamente. Nesse sentido, quando o tempo é preenchido “com atividades pró-sociais, com os pares, supervisionada” (Libório & Koller, 2009, p. 85), diminui-se a chance de haver comportamentos de risco. Ressaltamos, ainda, que a trajetória de jovens que trabalham diminui a possibilidade de experimentações, aumentando o compromisso com aspectos da vida adulta, sendo o lazer restrito também pela falta de tempo (Guerreiro & Abrantes, 2005). No quarto capítulo, enfoca-se a diferença de gênero e discute-se como os jovens brasileiros vivenciam o contexto familiar, a rede de apoio, as normas sociais e sua autopercepção, fatores de risco ou proteção para o seu desenvolvimento. A questão do gênero é pertinente, tendo em vista que os meninos mostram uma vivência de risco maior do que as meninas. Estas se apresentam como mais adaptáveis socialmente ao atribuírem maior importância às normas sociais. Por outro lado, os meninos se encontram mais vulneráveis ao risco. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.11, p. 149 – 153, 2012 Psicologia_Clinica_24.2.indd 150 17/12/2012 10:42:45 Adolescência e juventude  151 Enquanto as meninas, em sua maioria, se restringem à fuga de casa, os meninos se envolvem com o tráfico de drogas, dormem na rua, são presos ou têm problemas com a justiça. A questão da religiosidade/espiritualidade no Brasil e, em particular, na vida dos jovens brasileiros é tratada no quinto capítulo, que chama a atenção para a singularidade nacional. Embora seja denominado como um país católico, o Brasil também é caracterizado por sua riqueza e variedade cultural, o que acaba refletindo no sistema de crenças de seu povo e leva a um sincretismo religioso. Assim, os dados apresentados apontam para a existência de diferenças regionais, que poderiam ser mais bem trabalhadas. Os autores observam, ainda, que, apesar de uma alta porcentagem de jovens afirmarem não ter religião, uma grande parte continua acreditando em Deus. Além disso, os resultados indicam uma diferença de gênero, com as mulheres apresentando um percentual alto para a religiosidade e o homem um percentual mais baixo. A adolescência como uma etapa do desenvolvimento humano possui tarefas que o sujeito precisa desempenhar de forma a chegar a uma vida adulta satisfatória (Coleman, 2011). Porém, com o prolongamento dessa fase, estudiosos têm utilizado o conceito de juventude para abarcar essa parcela da população, que ainda não se tornou adulta, pois se encontra em uma fase de transição rumo à vida adulta (Arnett, 2004). A vivência da juventude vai variar de acordo com o contexto sociocultural. Porém, de uma maneira geral, é compreendida como um momento caracterizado pela possibilidade de explorar e experimentar o novo. Nesse sentido, a gravidez juvenil pode ser interpretada como vivência de uma ruptura de um futuro com possibilidades mais amplas. Pensando as ressonâncias desse evento na vida da jovem/adolescente, o sexto capítulo apresenta-se como uma análise das expectativas de jovens que vivenciaram a gravidez. Constata-se que as jovens que haviam engravidado apresentaram expectativas de vida que se assemelhavam às jovens que não haviam passado por uma gestação, indicando a complexidade de uma situação que pode ser vista como uma transformação importante, mas que não impede a expectativa de um futuro otimista. No capítulo sete, é realizada uma discussão sobre a vida sexual de adolescentes. O conceito de resiliência é ressaltado a partir da abordagem dos fatores de risco e de proteção, que devem ser analisados pela diversidade de contextos sociais e culturais, não podendo ser generalizados. A importância de investir na criação e manutenção de suportes sociais é destacada, tendo em vista que uma rede de apoio afetivo e social permite uma diminuição dos riscos na vida sexual e reprodutiva dos jovens. Observa-se que os homens são os que mais fazem sexo Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.11, p. 149 – 153, 2012 Psicologia_Clinica_24.2.indd 151 17/12/2012 10:42:45 152  Adolescência e juventude desprotegido e há um número grande de mulheres que utilizam o método anticoncepcional, sendo este pouco utilizado por meninas de 14 a 16 anos, momento em que pode haver maior timidez, baixa autonomia e descaso do serviço público. Evidencia-se, assim, a necessidade de educação sexual, de afirmação dos direitos sexuais e de políticas públicas para a juventude que sejam participativas (Heilborn, Aquino, Bozon & Knauth, 2006). A análise do tema rede de apoio social apresenta-se no capítulo oito, a partir de uma revisão teórica. Investigam-se a percepção dos jovens sobre sua rede de apoio (família, pares, escola e comunidade) e também as diferenças, considerando as variáveis sexo, idade e renda familiar. Como resultado, a ser estudado, a renda familiar mostrou ser uma variável de impacto: quanto maior a renda, maior a percepção de apoio da família. Em relação ao gênero, as moças encontram maior suporte na escola, enquanto os rapazes sentem-se mais apoiados pela comunidade. No último capítulo, o tema da inserção laboral é abordado. Sabe-se que o mercado de trabalho está cada vez mais concorrido, o que leva à falta de oportunidades aliando-se à falta de capacitação dos jovens. A necessidade de sobrevivência pode levá-los a trabalhos em condições precárias. A pesquisa procura entender a realidade brasileira estudando as relações do trabalho, as condições do trabalho, a educação, a contribuição dos pais, o uso de drogas e o índice de suicídio. Os resultados indicam o trabalho juvenil como um fator de risco, alertando para o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente no que diz respeito à proteção da juventude brasileira. Esse livro retrata, parcialmente, a população jovem brasileira, evidenciando temáticas importantes para a pesquisa, para a construção de políticas públicas e para a elaboração de teorias do Desenvolvimento Humano. Ressaltamos que, a partir da análise das realidades brasileiras, é preciso problematizar a universalização dos resultados de pesquisas advindas de sociedades ocidentais, com alta escolaridade, industrializadas, ricas e democráticas – WEIRD que, segundo Henrich, Heine e Norenzayan (2010), respresentam 96% das amostras estudadas, mas correspondem apenas a 12% da população mundial. Por conseguinte, as teorias daí advindas e/ou que embasam essas pesquisas não contemplam, necessariamente, as características de nossa população. Desse modo, o livro exemplifica, igualmente, a possibilidade de construirmos o nosso próprio caminho de pesquisa e de elaboração teórica, considerando as influências recebidas, tal como as da Abordagem Ecológica do Desenvolvimento Humano e da Psicologia Positiva, contextualizando-as, ao gerar uma contribuição de conhecimento específica do Brasil. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.11, p. 149 – 153, 2012 Psicologia_Clinica_24.2.indd 152 17/12/2012 10:42:45 Adolescência e juventude  153 Referências Arnett, J. J. (2004). Emerging adulthood: the winding road from the late teens through the twenties. New York: Oxford University Press. Camarano, A. A.; Leitão, J. M.; Pasinato, M. T. & Kanso, S. (2004). Caminhos para a vida adulta: as múltiplas trajetórias dos jovens brasileiros. Última Década, 21, 11-50. Coleman, J. (2011). The nature of adolescence. London: Routledge. Guerreiro, M. D. & Abrantes, P. (2005). Como tornar-se adulto: processos de transição na modernidade avançada. Revista Brasiliera de Ciências Sociais, 20(58), 165-212. Heilborn, M. L.; Aquino, E.; Bozon, M. & Knauth, D. (Orgs.). (2006). O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Garamond e FIOCRUZ. Henrich, J.; Heine, S. & Norenzayan, A. (2010). The weirdest people in the world? Behavioral and Brain Sciences, 33, 61-135. Recebido em 19 de dezembro de 2011 Aceito para publicação em 27 de março de 2012 Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.11, p. 149 – 153, 2012 Psicologia_Clinica_24.2.indd 153 View publication stats 17/12/2012 10:42:45