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Editora chefe Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira Editora executiva Natalia Oliveira Assistente editorial Flávia Roberta Barão Bibliotecária Janaina Ramos Projeto gráfico Camila Alves de Cremo Daphynny Pamplona Gabriel Motomu Teshima Luiza Alves Batista Natália Sandrini de Azevedo Imagens da capa iStock Edição de arte Luiza Alves Batista 2021 by Atena Editora Copyright © Atena Editora Copyright do texto © 2021 Os autores Copyright da edição © 2021 Atena Editora Direitos para esta edição cedidos à Atena Editora pelos autores. Open access publication by Atena Editora Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição-Não-ComercialNãoDerivativos 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores, inclusive não representam necessariamente a posição oficial da Atena Editora. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Todos os manuscritos foram previamente submetidos à avaliação cega pelos pares, membros do Conselho Editorial desta Editora, tendo sido aprovados para a publicação com base em critérios de neutralidade e imparcialidade acadêmica. A Atena Editora é comprometida em garantir a integridade editorial em todas as etapas do processo de publicação, evitando plágio, dados ou resultados fraudulentos e impedindo que interesses financeiros comprometam os padrões éticos da publicação. Situações suspeitas de má conduta científica serão investigadas sob o mais alto padrão de rigor acadêmico e ético. Conselho Editorial Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Prof. Dr. Alexandre Jose Schumacher – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná Prof. Dr. Américo Junior Nunes da Silva – Universidade do Estado da Bahia Profª Drª Andréa Cristina Marques de Araújo – Universidade Fernando Pessoa Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Dr. Antonio Gasparetto Júnior – Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília Prof. Dr. Arnaldo Oliveira Souza Júnior – Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Carlos Antonio de Souza Moraes – Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Crisóstomo Lima do Nascimento – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa Prof. Dr. Daniel Richard Sant’Ana – Universidade de Brasília Prof. Dr. Deyvison de Lima Oliveira – Universidade Federal de Rondônia Profª Drª Dilma Antunes Silva – Universidade Federal de São Paulo Prof. Dr. Edvaldo Antunes de Farias – Universidade Estácio de Sá Prof. Dr. Elson Ferreira Costa – Universidade do Estado do Pará Prof. Dr. Eloi Martins Senhora – Universidade Federal de Roraima Prof. Dr. Gustavo Henrique Cepolini Ferreira – Universidade Estadual de Montes Claros Prof. Dr. Humberto Costa – Universidade Federal do Paraná Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice Prof. Dr. Jadson Correia de Oliveira – Universidade Católica do Salvador Prof. Dr. José Luis Montesillo-Cedillo – Universidad Autónoma del Estado de México Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins Prof. Dr. Luis Ricardo Fernandes da Costa – Universidade Estadual de Montes Claros Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Marcelo Pereira da Silva – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Profª Drª Maria Luzia da Silva Santana – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Prof. Dr. Miguel Rodrigues Netto – Universidade do Estado de Mato Grosso Prof. Dr.Pablo Ricardo de Lima Falcão – Universidade de Pernambuco Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Rita de Cássia da Silva Oliveira – Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof. Dr. Rui Maia Diamantino – Universidade Salvador Prof. Dr. Saulo Cerqueira de Aguiar Soares – Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande Profª Drª Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti – Universidade Católica do Salvador Prof. Dr. William Cleber Domingues Silva – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins Arquitetura e urbanismo: sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Diagramação: Correção: Indexação: Revisão: Organizador: Daphynny Pamplona Gabriel Motomu Teshima Amanda Kelly da Costa Veiga Os autores Pedro Henrique Máximo Pereira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A772 Arquitetura e urbanismo: sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual / Organizador Pedro Henrique Máximo Pereira. – Ponta Grossa - PR: Atena, 2021. Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-65-5983-690-1 DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.901212311 1. Arquitetura. 2. Urbanismo. 3. Projetos. I. Pereira, Pedro Henrique Máximo (Organizador). II. Título. CDD 720 Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166 Atena Editora Ponta Grossa – Paraná – Brasil Telefone: +55 (42) 3323-5493 www.atenaeditora.com.br contato@atenaeditora.com.br DECLARAÇÃO DOS AUTORES Os autores desta obra: 1. Atestam não possuir qualquer interesse comercial que constitua um conflito de interesses em relação ao artigo científico publicado; 2. Declaram que participaram ativamente da construção dos respectivos manuscritos, preferencialmente na: a) Concepção do estudo, e/ou aquisição de dados, e/ou análise e interpretação de dados; b) Elaboração do artigo ou revisão com vistas a tornar o material intelectualmente relevante; c) Aprovação final do manuscrito para submissão.; 3. Certificam que os artigos científicos publicados estão completamente isentos de dados e/ou resultados fraudulentos; 4. Confirmam a citação e a referência correta de todos os dados e de interpretações de dados de outras pesquisas; 5. Reconhecem terem informado todas as fontes de financiamento recebidas para a consecução da pesquisa; 6. Autorizam a edição da obra, que incluem os registros de ficha catalográfica, ISBN, DOI e demais indexadores, projeto visual e criação de capa, diagramação de miolo, assim como lançamento e divulgação da mesma conforme critérios da Atena Editora. DECLARAÇÃO DA EDITORA A Atena Editora declara, para os devidos fins de direito, que: 1. A presente publicação constitui apenas transferência temporária dos direitos autorais, direito sobre a publicação, inclusive não constitui responsabilidade solidária na criação dos manuscritos publicados, nos termos previstos na Lei sobre direitos autorais (Lei 9610/98), no art. 184 do Código penal e no art. 927 do Código Civil; 2. Autoriza e incentiva os autores a assinarem contratos com repositórios institucionais, com fins exclusivos de divulgação da obra, desde que com o devido reconhecimento de autoria e edição e sem qualquer finalidade comercial; 3. Todos os e-book são open access, desta forma não os comercializa em seu site, sites parceiros, plataformas de e-commerce, ou qualquer outro meio virtual ou físico, portanto, está isenta de repasses de direitos autorais aos autores; 4. Todos os membros do conselho editorial são doutores e vinculados a instituições de ensino superior públicas, conforme recomendação da CAPES para obtenção do Qualis livro; 5. Não cede, comercializa ou autoriza a utilização dos nomes e emails dos autores, bem como nenhum outro dado dos mesmos, para qualquer finalidade que não o escopo da divulgação desta obra. APRESENTAÇÃO Quais as possibilidades e limites da relação homem-meio? Para indicarmos as respostas a essa inquietante questão é possível seguir por dois caminhos. De um lado, temos a potência da produção do espaço, da interferência direta no meio, da modificação do concreto, da construção material da história. De outro, temos a percepção do produzido e dos processos de modificação, da ativação do sensível e da apropriação do meio, da construção de sentidos e significados da vida espacializada. Ambas, produção e percepção, são atravessadas pela imaginabilidade, pela construção de memórias coletivas e individuais dos espaços de vida que têm como cenário, palco e produto a arquitetura e a cidade. Ambas carregam o ensejo da expectativa, da esperança, da contradição, da luta cotidiana, do trabalho humano, do pertencimento, do medo e até mesmo da negação. Assim, ambas, em sua latente ambiguidade, são potências da vida humana. Guardam as possibilidades daquelas experiências recorrentes, cotidianas e programáveis às experiências inovadoras, inéditas e espontâneas. Este livro da Atena Editora, intitulado “Arquitetura e urbanismo: sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual” tensiona essas duas possibilidades. Em seu conjunto de textos há uma diversidade que certamente interessará a leitoras e leitores. Ilustra, numa visão não estanque, mas imbricada e dinâmica, o tensionamento entre a produção e a percepção. Assim, a interação entre estes dois campos humanos proposta neste livro vai da ideação e revisão crítica de uma experiência de jurisdição e gestão patrimonial em Minas Gerais às respostas arquitetônicas como a expressiva experiência plástico-formal recente na obra de Santiago Calatrava. Entre estes dois pontos há um percurso interessante a ser feito: técnicas retrospectivas e métodos de recuperação de artefatos históricos; apontamentos diversificados sobre a arquitetura religiosa e relação com a sociedade; notas, relatos e análises da forma urbana, da morfologia urbana e da história urbana em cidades brasileiras, portuguesas, peruanas, mexicanas e chilenas; e, por fim, reflexões sobre a cidade contemporânea, sobre o patrimônio modernista e sobre a legislação urbanística e zoneamento. Nestes casos aqui expostos produção e percepção se chocam, se unificam, se diferenciam, se contrapõem e se complementam. Esta diversidade é certamente a beleza de sua composição e início de um caminho para diálogos, problematizações e o levantamento de novas possibilidades da experiência única de, ao mesmo tempo, construir e habitar o mundo. É ainda digno de nota que este percurso não é linear, mas ziguezagueia. Vai do micro ao macro e retorna ao micro. Expõe tensões, concordâncias e fraturas. Assim, estimo, a leitoras e leitores, uma excelente experiência! Pedro Henrique Máximo Pereira SUMÁRIO CAPÍTULO 1 ................................................................................................................. 1 ICMS DE PATRIMÔNIO CULTURAL CONCEITOS, GESTÃO E EFICÁCIA DO MECANISMO EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E TRABALHO: OS OFÍCIOS TRADICIONAIS Simone de Almeida Ramos https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123111 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................... 11 O PÓ CERÂMICO COMO ADITIVO ALTERNATIVO NO RESTAURO DE ARGAMASSAS HISTÓRICAS: O CASO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO DE SÃO CRISTÓVÃO SE/BR Eder D. Silva Guilherme B. Almeida Breno A. Franco Arthur S. Santos Carla A. Alves https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123112 CAPÍTULO 3 ...............................................................................................................26 LA ARQUITECTURA RELIGIOSA DE TEPIC, NAYARIT. CASO DE ESTUDIO: EL SANTUARIO DE GUDALUPE María Elizabeth Loera Beltrán https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123113 CAPÍTULO 4 ...............................................................................................................36 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E TRABALHO: OS OFÍCIOS TRADICIONAIS IDENTIFICAÇÃO E MAPEAMENTO DAS CORES DO FORRO DA SACRISTIA DO CARMO PEQUENO DE SÃO CRISTÓVÃO SE/BR Eder D. Silva Adriana D. Nogueira Karoline P. Paulo Ellen D. A. Paiva Paulo M. M. Santos https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123114 CAPÍTULO 5 ...............................................................................................................53 O ESTUDO DE ELEMENTOS DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO AO ALCANCE DA SOCIEDADE: A RELAÇÃO DAS OBRAS RELIGIOSAS ENTRE PORTUGAL E BRASIL, A INFLUÊNCIA PORTUGUESA Eleusy Natália Miguel Alex Fernandes Bohrer https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123115 CAPÍTULO 6 ...............................................................................................................64 RISCOS DE TIPIFICAÇÃO FUNCIONAL EM PATRIMÓNIO MONÁSTICO-CONVENTUAL SUMÁRIO DEVOLUTO [ÉVORA, PORTUGAL] Maria do Céu Simões Tereno Maria Filomena Mourato Monteiro António Vitorino Simões Tereno https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123116 CAPÍTULO 7 ...............................................................................................................84 A CIDADE NA CIVILIZAÇÃO INCA – CONQUISTAS E PADRÕES Caroline Silva de Albergaria https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123117 CAPÍTULO 8 .............................................................................................................101 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL E LEGISLAÇÃO URBANA: ZEIS PERSPECTIVA PARA A ISONOMIA SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO Sumaya Hamad Chaouk 3 COMO https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123118 CAPÍTULO 9 ............................................................................................................. 114 FORMAS URBANAS EM DOIS LADOS DO ATLÂNTICO Ricardo Batista Bitencourt Ramon Fortunato Gomes https://doi.org/10.22533/at.ed.9012123119 CAPÍTULO 10...........................................................................................................132 INTRODUÇÃO À HISTÓRIA URBANA POTIGUAR: EPÍTOME SOBRE NATAL E PARNAMIRIM Lenita Maria dos Santos Fernandes https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231110 CAPÍTULO 11 ...........................................................................................................141 AVENIDA FREI SERAFIM (TERESINA-PI): LEITURAS POSSÍVEIS DO SEU DESENHO URBANO Renata Beatriz Alves de Melo Pamela Krishna Ribeiro Franco Freire https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231111 CAPÍTULO 12...........................................................................................................151 JARDINS DE CHUVA. ESTRATÉGIAS DE BENEFÍCIOS AMBIENTAIS, ECOLÓGICOS E PAISAGÍSTICOS NA CIDADE CONTEMPORÂNEA Jane Cecilia Santucci Samanta Machado de Amorim. Larissa Santos de Paula https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231112 CAPÍTULO 13...........................................................................................................157 TALLER DE DISEÑO URBANO EN UNA POBLACIÓN VULNERABLE DE SANTIAGO SUMÁRIO DE CHILE María Isabel Matas https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231113 CAPÍTULO 14...........................................................................................................167 PARQUE GUINLE E LOUVEIRA: DUAS VARIAÇÕES DO BLOCO SOBRE PILOTIS Nathalia Cantergiani Fagundes de Oliveira https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231114 CAPÍTULO 15...........................................................................................................181 ESPACIALIDADE E ESTRUTURA, A CONFORMIDADE DE AMBOS NOS PROJETOS DE SANTIAGO CALATRAVA João Gabriel Voss Quattrucci Valéria Cassia dos Santos Fialho https://doi.org/10.22533/at.ed.90121231115 SOBRE O ORGANIZADOR .....................................................................................190 ÍNDICE REMISSIVO .................................................................................................191 SUMÁRIO CAPÍTULO 6 RISCOS DE TIPIFICAÇÃO FUNCIONAL EM PATRIMÓNIO MONÁSTICO-CONVENTUAL DEVOLUTO [ÉVORA, PORTUGAL] Data de aceite: 01/11/2021 Maria do Céu Simões Tereno Universidade de Évora, Departamento de Arquitetura, Escola de Artes, Universidade de Évora, CHAIA (Centro de História de Arte e Investigação Artística). Arquiteta, Professora Auxiliar, Departamento de Arquitetura da Universidade de Évora. Licenciada em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Doutorada pela Universidade de Évora em Conservação do Património Arquitetónico, especialidade de Edifícios e Conjuntos Históricos Maria Filomena Mourato Monteiro Doutorada em Arquitetura (2011), mestre em Recuperação do Património nas vertentes Arquitetónico e Paisagístico (1991), duas pósgraduações respetivamente em Engenharia Municipal (1988) e Equipamentos Coletivos (1984), licenciada em Arquitetura (1977). Arquiteta na Câmara Municipal do Seixal (1978-1983) e Câmara Municipal de Évora (1983-2021) onde chefiou o Gabinete de Projetos e a Divisão de Iniciativas Urbanísticas Municipais António Vitorino Simões Tereno Professor, Doutorando em História: mudança e continuidade num mundo global PIUDH, pelo Instituto de Ciências Sociais e Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ISCTEIUL, Universidade Católica e Universidade de Évora. Pós-graduado em Estudos Avançados de História Contemporânea: Curso de Doutoramento do Programa de Doutoramento em História: mudança e continuidade num mundo global PIUDH. Investigador Não Doutorado Integrado no Centro de História da Universidade de Lisboa nos grupos de pesquisa de Cultural Encounters and Intersecting Societies; Military History. Mestre em Ensino de História e Geografia do 3.º Ciclo e Ensino Secundário, pelo Instituto de Educação, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Faculdade de Belas-Artes, Faculdade de Ciências e Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestre em História e Cultura Europeia Contemporâneas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pós-graduado em História Contemporânea, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa RESUMO: As cidades de génese muito antiga, caso de Évora, contêm inúmeros conjuntos de edifícios patrimoniais, contributo das sucessivas gerações que as ocuparam. Tais edifícios, maioritariamente, foram inicialmente destinados a programas muito específicos. Com o passar do tempo, estas construções tornaram-se demasiado grandes, ou inadequadas, às novas funções atribuídas. No sentido de contribuir para a conservação deste valioso património, analisou-se através do estudo comparativo soluções aplicadas ao vasto conjunto monásticoconventual edificado da cidade de Évora e quais as intervenções que melhor, até hoje, o conseguiram preservar. As refuncionalizações, quando deficientemente fundamentadas a nível de novos programas de utilização, podem expor qualquer acervo edificado a riscos de perda Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 64 do interesse histórico patrimonial, pelas descaracterizações a que poderão ficar sujeitos. Procurar-se-ão alertar os futuros intervenientes para os perigos da tipificação deste tipo de património, que devido à sua vasta dimensão e bom estado de conservação, se torna muito procurado para utilizações menos adequadas. PALAVRAS-CHAVE: Conventos; Mosteiros; Cartografia histórica; Iconografia; Refuncionalização; Tipificação funcional. RISKS OF FUNCTIONAL TYPIFICATION IN VACANT MONASTIC-CONVENTUAL HERITAGE [ÉVORA, PORTUGAL] ABSTRACT: The cities of very ancient origin, as Évora, contain many sets of heritage buildings, contribution from the successive generations that inhabited them, originally intended for very specific applications. In order to contribute to the conservation of this valuable heritage, a comparative study was developed regarding the solutions applied to the vast monastic-conventual complex built in the city of Évora and which interventions have best preserved it until today. Refunctionalisations, when poorly grounded in terms of new use programs, can expose any built collection to risks of loss of historical heritage interest, due to the mischaracterizations to which they may be subject. Attempts will be made to alert future stakeholders to the dangers of the typification of this type of heritage, which due to its vast size and good state of conservation, becomes very popular for less suitable uses. KEYWORDS: Convents; Monasteries; Historic Cartography; Iconography; Refunctionalisation; Functional typification. RIESGOS DE LA TIPIFICACIÓN FUNCIONAL EN EL PATRIMONIO MONÁSTICOCONVENTUAL DEVOLUTO [ÉVORA, PORTUGAL] RESUMEN: Évora, ciudade de génesis antigua, contiene muchos edificios patrimoniales, contribución de generaciones sucesivas que los ocupaban. La mayoría de estos edificios fueron inicialmente destinados a programas muy específicos. Con el tiempo, estas construcciones se han vuelto demasiado grandes o inadecuadas para las nuevas funciones asignadas. Como una contribución a la conservación de este patrimonio, se analizó a través de estudios comparativos el conjunto monástico-conventual de Évora y qué intervenciones lo han conservado mejor hasta la actualidad. Las refuncionalizaciones, cuando mal fundamentadas en términos de programas de nuevos usos, pueden exponer cualquier colección construida a riesgos de pérdida de interés del patrimonio histórico, debido a las caracterizaciones erróneas a las que pueden estar sujetas. Se intentará alertar a los futuros actores de los peligros de la tipificación de este tipo de patrimonio, que por su gran extensión y buen estado de conservación, se vuelve muy popular para usos inadecuados. PALABRAS CLAVE: Conventos; Monasterios; Cartografía histórica; Iconografía; Refuncionalización; Tipificación funcional. 1 | INTRODUÇÃO A cidade de Évora conta com um vasto conjunto de edifícios de caráter religioso que, com a extinção das ordens religiosas em 1834, ficaram devolutos. O volume de edifícios Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 65 nestas circunstâncias foi de dimensão muito substancial, e o Estado viu-se na contingência de vender algum desse património, de demolir e atribuir funções a outros tantos, interferindo muitas vezes com a organização funcional primitiva, adaptando-os às necessidades da época. Nesta cidade, podem encontrar-se exemplos dos casos citados, nos diversos âmbitos. Foram arrasados os Mosteiros de Santa Catarina de Sena e de Nossa Senhora do Paraíso, tendo sido parcialmente demolidos os Mosteiros de Santa Mónica e Mercês assim como os Conventos de S. Francisco e quase na totalidade o de S. Domingos. Outros foram convertidos em escolas, quartéis e pousadas. Do conjunto de antigas casas religiosas atualmente existentes na cidade, duas encontram-se devolutas, os Mosteiros de Santa Helena do Monte Calvário e o de S. José da Esperança, e em situação expectante os Mosteiros de Santa Maria Scala Coeli (Cartuxa) e de S. Bento de Cástris. Como exemplo de casos de intervenções mais recentes de reabilitação, os Conventos de Nossa Senhora dos Remédios e de Nossa Senhora do Espinheiro. De salientar que os conjuntos existentes, contêm um assinalável acervo patrimonial de azulejaria, talha dourada, pintura e escultura, de qualidade inegável, que é de todo o interesse preservar in situ e estar acessível à população em geral. Pretende realizar-se uma análise do vasto conjunto monástico-conventual da cidade de Évora e áreas envolventes, da sua evolução morfo-cronológica, das vicissitudes que sofreram ao longo da sua história, das intervenções que ocorreram após a extinção das ordens religiosas e das ocupações que atualmente lhes foram atribuídas. Serão efetuadas comparações entre as intervenções atuais, e consequências destas no mesmo. Para a realização do presente trabalho, foram fundamentais a consulta e utilização de cartografia, iconografia, documentos fotográficos e escritos e outra informação considerada relevante. Fig. 1 ‒ Portugal. Évora. Localizações da cidade e de algumas casas monástico conventuais na área envolvente à cidade e ao seu núcleo amuralhado. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 66 CASAS MONÁSTICO-CONVENTUAIS DEMOLIDAS: 1. Mosteiro de Santa Catarina de Sena [séc. XVI, 2.ª Ordem dos Pregadores] Após a exclaustração das Ordens Religiosas e o falecimento da última monja residente neste mosteiro, este transitou para o Estado Português. O espaço edificado, foi reutilizado como posto médico e ocupado pelo Comando Geral da 4.ª Região Militar. Demolido na integra no ano de 1902, para este espaço foram propostos alguns projetos não executados, dos quais se salienta já em 1945 no anteplano de Étienne de Gröer. Entretanto nele funcionou um cinema ao ar livre, sendo que posteriormente o espaço foi urbanizado tendo a construção sido concluído em 19921. Nele foi edificado um condomínio habitacional onde está incluído área comercial a nível do piso térreo e estacionamento em piso em cave. Refira-se que nas escavações arqueológicas que precederam o início da construção foi identificada ermida que poderia ter antecedido, no local, a fundação do mosteiro. Os acertos na estrutura viária que se realizaram foram concretizados através da desanexação de áreas pertencentes ao extinto mosteiro permitindo assim um aumento no perfil transversal da principal via que ladeava esta casa religiosa. Do espólio artístico não restou nada in situ estando sim este disperso por diferentes espaços museológicos e casas particulares. Classificação de proteção: sem classificação específica. 2. Mosteiro de Nossa Senhora do Paraíso [séc. XV, 2.ª Ordem dos Pregadores] Após o falecimento da última monja, este conjunto monástico foi demolido em 1900, para execução de um jardim público através da terraplanagem de grande parte da área e a constituição de uma plataforma com os entulhos da demolição. No espaço sobrante foi posteriormente implementado diferenciado tipo de equipamento coletivo nomeadamente centro de saúde e creche/jardim de infância. Realizaram-se ao longo dos limites do antigo espaço monástico alguns acertos nos perfis transversais das vias circundantes, os quais foram realizados imediatamente após a demolição. Tendo possuído um riquíssimo espólio artístico este encontra-se disperso por algumas casas particulares e museus. A delicadeza do património existente, à data da desocupação, está patente, por exemplo, na pintura dos madeiramentos de tetos reutilizados em habitações particulares na cidade ou na perfeição e minúcia de trabalho da “virgem” em marfim atualmente no Museu de Évora. Refira-se que alguma da azulejaria resgatada dos entulhos foi aplicada na fachada de edifício habitacional, situado anexo ao espaço, formando pequenos painéis decorativos com as peças que o então proprietário conseguiu resgatar dos entulhos. Trata-se da única memória quase in situ que, embora despercebida, nos elucida de alguns dos padrões que terão decorado as paredes deste mosteiro. 1 Refira-se que nas escavações arqueológicas que precederam o início da construção foi identificada ermida que poderia ter precedido, no local, a fundação do mosteiro. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 67 Classificação de proteção: sem classificação específica. Fig. 2 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais demolidas: espaços e património (Mosteiros de Santa Catarina de Sena e de Nossa Senhora do Paraíso). CASAS MONÁSTICO-CONVENTUAIS PARCIALMENTE DEMOLIDAS E REUTILIZADAS: 3. Mosteiro de Santa Mónica [séc. XIV, Ordem dos Eremitas de Sto. Agostinho] Em 1881, o mosteiro foi extinto com a morte da última religiosa. No início do século XX, alegadamente devido ao estado de ruína, a igreja, parte do claustro, a torre de fresco e a caixa de água do Aqueduto da Água da Prata, adossada à fachada da igreja, foram demolidos perdendo-se grande parte do património artístico deste mosteiro. Posteriormente, na construção restante, entretanto remodelada e ampliada, foi instalado equipamento escolar. Em 1992, a Universidade de Évora, adquiriu parte do edifício instalando aí os seus serviços académicos. No piso térreo, propriedade da Câmara Municipal de Évora, continuou a funcionar uma escola primária tendo como espaços livres a cerca pequena e o que resta do claustro do antigo mosteiro. A cerca grande, em parte limitada pela muralha medieval, foi loteada e nela edificada habitações unifamiliares sendo que, por insolvência da empresa construtora, as obras foram interrompidas, resultando a vandalização de espaço e edificações. Quando das escavações arqueológicas, que precederam a construção, num dos extremos da cerca foi identificada capela com pinturas sobre estuque, único testemunho artístico, in situ, deste mosteiro. O restante espólio, artístico e documental, encontra-se dispersa por casas particulares, Museu de Évora, Biblioteca Publica, Arquivo Distrital e igreja de S. Francisco. Refira-se, como nota, que da igreja monástica, a capela de S. Jordão aí situada, forrada a azulejaria, apenas Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 68 foi preservado o conjunto escultórico do “Batismo de Jesus” que quando da demolição foi transferido para a igreja de S. Francisco de Évora2. Classificação de proteção: Monumento Nacional muralhas e fossos que limitam parte da cerca monástica (decreto n.º 8229, DG n.º 133 de 04-07-1922; decreto n.º 11:773, 1ª série DG n.º 135 de 25-6-1926). 4. Convento de S. Francisco [séc. XIII, Ordem dos Frades Menores] A igreja deste conjunto manteve-se sempre em funções, chegando a sede de paróquia. Entre 1892-1895 grande parte do arruinado convento foi vendido em hasta pública, tendo sido aí construída habitação. Atualmente parte dessa habitação mantem-se sendo que houve edifícios reutilizados para serviços públicos, creche e jardim de infância. Em fração da cerca conventual foram executadas terraplanagens3 tendo sido alvo de demolição a caixa de água do Aqueduto da Água da Prata, em estilo neoclássico, situada em espaço fronteiro à igreja. Esta demolição, nefasta a nível patrimonial, viabilizou a execução de vias e estacionamento público. Na restante área foi edificado mercado municipal, jardim público, este último inaugurado em 1863, e quartel o qual foi posteriormente reconvertido em instalações para a Universidade de Évora. Já em finais do século XX foi construído, na zona tardoz da cerca, um outro edifício por esta instituição. Mais recentemente, foram realizadas obras de reabilitação que restauraram a totalidade da igreja, sacristia, “capela dos ossos” e áreas anexas, abrangendo também todo o rico espólio artístico. Seguiu-se a remodelação do piso superior, onde se localizavam as celas dos frades, e onde foi criado um museu com vasto acervo constituído por muitas das peças de arte sacra e documental deste convento. Não obstante, muito do seu vasto património artístico continua disperso pelo Museu Nacional de Arte Antiga, Museu de Évora, Biblioteca Pública e Arquivo Distrital, entre outros locais. Classificação de proteção: Monumento Nacional a igreja conventual (DG n.º 136 de 23-6-1910; DG de 16-6-1910). 2 Da capela de S. Jordão, forrada a azulejaria do século XVIII, apenas foi preservado o conjunto escultórico do “Batismo de Jesus” que quando da demolição foi transferido para a igreja de S. Francisco de Évora. 3 Foi alvo de demolição a caixa de água do Aqueduto da Água da Prata, em estilo neoclássico situada na cerca do convento em espaço fronteiro à igreja. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 69 Fig. 3 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais parcialmente demolidas e reutilizadas: espaços e património (mosteiro de Santa Mónica e convento de S. Francisco). 5. Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês [séc. XVII, Ordem dos Eremitas de Sto. Agostinho] Sendo casa masculina passou, logo em 1834, para a posse da Fazenda Nacional. Em 1956, após obras de conservação e restauro, foi aí inaugurado o núcleo de Artes Decorativas Religiosas. Em espaço anexo (antiga cerca), situou-se a primeira Praça de Touros de Évora. O espaço foi posteriormente edificado tendo sido ocupado por serviços, nomeadamente oficina de automóveis. Mais recentemente, com o “boom” do turismo na cidade, a referida construção foi demolida tendo sido aí edificada unidade hoteleira. Quando desta obra, que incluiu a abertura em solo granítico de caves destinadas a estacionamento da unidade hoteleira, verificaram-se graves danos na igreja conventual, ficando esta danificada com rachaduras, notórias, na fachada. Refira-se que a igreja possui um espólio artístico de realce tanto a nível de talha dourada, azulejaria e arte sacra, património esse que atualmente se encontra em deficientes condições de segurança tendo em atenção o estado estrutural da igreja. Classificação de proteção: Monumento Nacional a igreja do convento (DR, 2ª serie, nº 1 de 3-1-1986). 6. Convento de S. Domingos [séc. XIII, Ordem dos Pregadores] Em 1836 ocorreu a demolição da igreja conventual e de grande parte da restante edificação. O amplo espaço livre daí resultante deu origem à abertura de uma praça pública e à construção do Teatro Garcia de Resende. Nesta edificação trabalharam artistas de artes decorativas de relevo, que conceberam e executaram um programa decorativo de grande qualidade até hoje conservado, devido a obras de manutenção regulares levadas a cabo pelo Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 70 município eborense responsável pelo edifício. Em meados do século XX, uma área da antiga construção conventual, foi ocupada por oficina para automóveis e a única ala que persistiu, de um dos claustros mais recentes, foi integrada em loja de vinhos entretanto desativada. Já em finais do século XX foi elaborado loteamento municipal para parte da ampla cerca, propriedade da Câmara Municipal de Évora, viabilizando a construção de habitação coletiva, serviços, comércio e estacionamento em cave. Refira-se que um pequeno troço do claustro medieval integrou, neste empreendimento, espaço comercial. Após esta construção resta ainda uma outra parte da vasta cerca onde está a funcionar estacionamento provisório. Refira-se que para este espaço existe estudo que preconiza a constituição de área de construção adstrita ao teatro Garcia de Resende funcionando como área de apoio. Memórias do antigo convento in situ limitam-se a apontamentos arquitetónicos que ficaram integrados nas novas edificações. Quanto ao vasto património artístico que embelezava este amplo conjunto conventual encontra-se disperso por diferentes cidades e instituições Classificação de proteção: Monumento Nacional muralhas e fossos que se situam próximos do limite da cerca conventual (decreto n.º 8229, DG n.º 133 de 04-07-1922; decreto n.º 11:773, 1ª série DG n.º 135 de 25-6-1926). 7. Mosteiro do Salvador do Mundo [séc. XVI, 2.ª Ordem dos Frades Menores] O Mosteiro foi extinto em 1886 pela morte da última religiosa. Posteriormente ocupado pelo Grupo de Artilharia de Montanha foi, durante a década de 60 do século XX, ocupado pela Direção Regional de Edifícios e Monumentos do Sul que se instalou no piso superior e na torre de fresco onde funcionou o arquivo geral deste serviço. Com a sua extinção o espaço ficou adstrito à Direção Regional de Cultura do Alentejo, com sede em espaço próximo, enquanto que a igreja e área anexa continuou adstrita à Igreja. À presente data encontra-se desativado grande parte do espaço edificado, existindo uma área expositiva ligado à igreja do mosteiro. Refira-se que foi elaborado projeto para ocupação do conjunto, que não foi implementado, e onde seriam instalados arquivos históricos relacionados com o património religioso da Arquidiocese de Évora. No início da década XX foi levado a cabo restauro conservativo de muitas das peças situadas na igreja e coro baixo tendo sido objeto de estudo, entre outras peças, diversos relicários, nomeadamente bustos-relicários de grande qualidade artística e significado religioso. Classificação de proteção: Monumento Nacional a torre sineira do mosteiro, existindo simultaneamente uma Zona Especial de Proteção e a muralha romano goda cujo traçado atravessa a área da antiga casa religiosa (D G, n.º 8252 de 10-7-1922; DR, 2ª serie n.º 815 de 11-8-1951; decreto n.º 8229, DG n.º 133 de 04-07-1922; decreto n.º 11:773, 1ª série DG n.º 135 de 25-6-1926 ). Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 71 Fig. 4 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais parcialmente demolidas e reutilizadas: espaços e património (Mosteiro de Nossa Senhora das Mercês, Convento de S. Domingos e Mosteiro do Salvador do Mundo). CASAS MONÁSTICO-CONVENTUAIS CONVERTIDAS EM ESCOLAS, QUARTÉIS E POUSADAS: 8. Mosteiro de Santa Clara [séc. XV, 2.ª Ordem dos Frades Menores] Em 1903, ocorreu a morte da última religiosa, o que determinou a extinção do mosteiro. Foram efetuadas entre 1949-1952 obras de adaptação do edifício a Escola Industrial e Comercial. Mais tarde foi convertido em Escola Básica de Santa Clara tendo ficado sob a responsabilidade do Município, inclusive duas das três torres de fresco atualmente existentes. A igreja e áreas anexas continuam ligadas a atividades religiosas, e estão adstritas à igreja de St.º Antão a qual cedeu os espaços temporariamente a associação religiosa tendo nela sido instalada área expositiva. A torre sineira, transformada em torre de fresco, tem acesso através de área anexa à igreja. São de salientar o belo claustro, alguma azulejaria, apontamentos de pintura mural numa das torres de fresco, o coro baixo assim como a igreja onde existem frescos de grande qualidade assim como pintura, escultura e talha dourada4. Na arte retabular refira-se o retábulo colateral da igreja. O património móvel do mosteiro era imenso e diversificado5, refira-se por exemplo o Livro das Receitas de Doces e Cozinhados Vários deste Convento de Santa Clara d´Évora 1729. Sóror Maria Leocácia do Monte do Carmo. Abadessa. O vasto património móvel encontrase disperso por diversos locais e instituições. 4 De referir o retábulo colateral da igreja que é descrito por Francisco Lameira e Artur Goulart, em Retábulos na Arquidiocese de Évora, Universidade do Algarve, 2015, p. 149. 5 Refira-se por exemplo: Livro das Receitas de Doces e Cozinhados Vários deste Convento de Santa Clara d´Évora 1729. Sóror Maria Leocácia do Monte do Carmo. Abadessa. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 72 Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata que abastecia esta casa religiosa, e o conjunto do mosteiro (DG n.º 8217 de 29-6-1922; DG n.º 136 de 23-6-1910). 9. Convento de Nossa Senhora da Graça [séc. XVI, Ordem dos Eremitas Calçados de Sto. Agostinho] Após a extinção das Ordens Religiosas, este convento foi adaptado em 1858 a fábrica de rolhas de cortiça. Mais tarde, a partir de 1884, esteve ocupado por uma Brigada de Infantaria sendo que em 1965, foi novamente adaptado, desta vez a Messe Militar e Cooperativa dos Oficiais do Exército. O conjunto sofreu ao longo do tempo várias reformulações, nas quais fizeram parte demolições de parte da área edificada antiga para adequação às várias funções para aí preconizadas, ou em fase mais recente, menos drasticamente, para modernização de instalações. Do que resta da antiga casa religiosa, após tais obras, saliente-se como de interesse patrimonial, a cisterna existente no também interessante claustro, assim como algumas janelas nas quais foram incluídas peças com delicado trabalho de cantaria em mármore, nomeadamente a nível de capiteis e dos fustes canelados. Refira-se também o conjunto escultórico em granito, patente na fachada da igreja, o qual carateriza este antigo convento, identificando-o pela singularidade figurativa pouco comum em Portugal. O que restou da cerca, de pequenas dimensões permitiu o alargamento das vias circundantes. Atualmente o espaço sobrante da cerca, é utilizado como estacionamento privado do Exército. Classificação de proteção: Monumento Nacional a igreja conventual existindo simultaneamente uma Zona Especial de Proteção (DG de 16-6-1910; DR, 2.ª serie n.º 249 de 21-10-1952). Fig. 5 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais convertidas em escolas, quartéis e pousadas: espaços e património (Mosteiro de Santa Clara e Convento de Nossa Senhora da Graça). Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 73 10. Convento de S. João Evangelista (Lóios) [séc. XV, Congregação dos Cónegos Seculares de S. João Batista] Extinto em 1834, foi desativado tendo ficado devoluto por longo período. Manteve-se na posse da Casa Cadaval até 1917, altura em que foi expropriado para a Biblioteca Pública e Arquivo Distrital. Mais tarde, em 1937, foi adaptado para sede da Direção dos Monumentos do Sul tendo sofrido obras em 1944 para instalação do Arquivo Distrital de Évora. Em 1957 foi dado início a projeto para a reconversão do edifício em pousada, a qual foi inaugurada no ano de 1965. Após esta fase, durante a qual fez parte das Pousadas de Portugal, passou a ser gerida por entidade particular que procedeu a remodelações e ao restauro, menos cuidado, de algum do património magnifico que decora certas celas. De realçar, nesta área ocupada por equipamento de hotelaria, o belo lavabo em mármore situada no claustro que era abastecida pelo Aqueduto da Água da Prata, a casa capitular assim como um troço da muralha romano-goda que limita, em parte, a pequena cerca conventual. Quanto à igreja, e respetiva sacristia, tendo sido edificada com ligação entre o convento e o palácio, com o objetivo de servir de panteão à família nobre continua na sua posse. A qualidade do património ainda existente na igreja é notável da qual se destaca o retábulo em talha dourada do altar-mor, estelas funerárias e alguma escultura religiosa. Na nave da igreja existe a abertura de um poço/cisterna que nos permite constatar que, embora a uma cota altimétrica elevada, o nível aquífero no local é notavelmente elevado. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata, que abastecia o convento, o “convento e a sua igreja” e a muralha romana-goda, que limita parte da cerca conventual (DG n.º 136 de 23-6-1910; DG n.º 8217 de 29-6-1922 e de 16-6-1910; decreto n.º 8229, DG n.º 133 de 04-07-1922; decreto n.º 11:773, 1ª série DG n.º 135 de 256-1926). 11. Convento de Santo António da Piedade [séc. XVI, Ordem dos Capuchos] Após a extinção de 1834, a cerca deste convento e o forte serviram durante cinco anos de cemitério público o qual foi transferido para a cerca do Convento dos Remédios em 1839. No século XX, o convento foi adquirido pelo Seminário Maior de Évora passando a nele funcionar um externato. Posteriormente foi adaptado para aí funcionar a Casa Sacerdotal da Arquidiocese de Évora sendo que atualmente está instalado no local o Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater de Évora. Nele encontra-se algumas das peças de arte retiradas de outras casas religiosas e que, por falta de condições, para aí foram transferidas para embelezamento dos espaços. A ampla cerca, circunscrita pelo Forte de St.º António, possui um troço do Aqueduto da Água da Prata, em arcaria, e caixa de água muito singela. Era a partir desta caixa que a água, conduzida através do aqueduto desde a Graça do Divor, derivava para um tanque de dimensões consideráveis, atualmente com área de estar com vista sobranceira à cidade, e para as áreas de serviço do espaço edificado do convento. Para além deste abastecimento o Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 74 convento possui, ainda hoje, uma nora de dimensões assinaláveis e grande riqueza aquífera. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata, que abastecia o convento e como Imóvel de Interesse Publico o Forte de Santo António, o qual circunscreve o convento (DG n.º 136 de 23-6-1910; DR, 2º serie, n.º 41191 de 18-7-1957). Fig. 6 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais convertidas em escolas, quartéis e pousadas: espaços e património (conventos de S. João Evangelista e Santo António da Piedade). CASAS MONÁSTICO-CONVENTUAIS ALVO DE MAIS RECENTES INTERVENÇÕES DE REABILITAÇÃO 12. Convento de Nossa Senhora dos Remédios [séc. XVII, Ordem dos Carmelitas Descalços] Depois da extinção das Ordens Religiosas o conjunto do antigo convento, nomeadamente “igreja e cerca”, foi cedido à Câmara Municipal de Évora, para instalação dos serviços cemiteriais os quais ocupam, até à presente data, parte do espaço então cedido. Aí foram instaladas algumas das peças escultóricas provenientes do extinto convento de S. Domingos, nomeadamente o portal em mármore assim como as esculturas religiosas graníticas que ocupam os centros dos talhões cemiteriais. No final do séc. XX, a Câmara Municipal promoveu obras de recuperação neste conjunto edificado, à exceção dos espaços da igreja e respetiva sacristia. Estes dois espaços são de grande qualidade artística nomeadamente a nível do vasto espólio aí existente, aguardando à data intervenção de restauro e conservação. São exemplo dessa, por vezes singularidade artística, peças escultóricas, pinturas, talha dourada, relicários e órgão de tubos de autor italiano prestigiado, entre outras aí situadas. Parte da área de Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 75 construção disponível, incluindo igreja e sacristia, foi cedida à associação Eborae Musica que simultaneamente inclui o Conservatório Regional de Musica estando a área restante adstrita a serviços da Câmara Municipal de Évora relacionados com o estudo, proteção e divulgação do Património eborense. A existência de uma sala destinada ao restauro de peças deste convento é uma mais valia de realce pois progressivamente podem vir a ser restauradas in situ tão valiosíssimo espólio. Outras peças encontram-se dispersas, maioritariamente em depósito, por diversos locais e instituições como por exemplo o Museu de Évora, Biblioteca Pública de Évora, Arquivo Distrital de Évora, Universidade de Évora e Torre do Tombo. Classificação de proteção: Monumento de Interesse Público a igreja e Convento de Nossa Senhora dos Remédios incluindo Zona Especial de Proteção (DR, 2.ª série, n.º 172, 3-9-2015). 13. Convento de Nossa Senhora do Espinheiro [séc. XV, Ordem de S. Jerónimo] Após a desocupação deste convento masculino, este foi vendido pelo Estado a particular. Este, contudo, não realizou no conjunto edificado as necessárias obras indispensáveis pelo que foi somente após ter sido novamente transacionado que sofreu as necessárias obras inerentes às então condições de decadência. O restauro então foi notório. Posteriormente o espaço foi novamente transacionado tendo sido nele instalado uma unidade hoteleira. Refira-se que esse projeto autorizou a edificação de volumetrias para mais alojamento que pouco se enquadra com o conjunto, desvirtuando-o. A reutilização de alguns espaços do antigo convento com áreas de hotelaria específicas pouco dignificam a solução implementada. Do património artístico da antiga casa religiosa realce-se a igreja com a magnifica talha dourada, azulejaria e alguma pintura assim como a pequena ermida, de grande interesse formal, existente na antiga cerca e onde se situa a pedra tumular do cronista eborense Garcia de Resende. Classificação de proteção: Monumento Nacional a capela de Nossa Senhora do Espinheiro (DG, 1.ª série, n.º 1033, decreto 7:667 de 11-8-1921). Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 76 Fig. 7 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais alvo de mais recentes intervenções de reabilitação: espaços e património (Conventos de Nossa Senhora dos Remédios e Nossa Senhora do Espinheiro). CASAS MONÁSTICO-CONVENTUAIS EM SITUAÇÃO DEVOLUTA/ EXPECTANTE 14. Convento de Nossa Senhora do Carmo [séc. XVII, Ordem dos Carmelitas Calçados] Este convento masculino foi extinto em 1834, juntamente com todas as Ordens Religiosas em Portugal, voltando então à posse da Casa de Bragança pois no local situara-se o Paço, em Évora, dos duques de Bragança. Á data da desocupação, esta casa religiosa faltava-lhe o fecho do claustro, com a edificação de duas das suas alas, e as torres sineiras da igreja. Foi ocupado pelo Seminário Maior da Arquidiocese que posteriormente passou para o atual espaço. Tendo transitado para a posse de particular foi cedido temporariamente para as Irmãs Doroteias da Purificação que aí instalaram um colégio. Em 1914, o espaço foi expropriado e nele instalado o Paço Arquiepiscopal tendo á data passado para a posse da Arquidiocese de Évora. No final do século XX o edifício ficou devoluto tendo votado para a posse de particular que o alugou á Universidade de Évora para a instalação do Departamento de Música e Teatro. Este serviço foi subdividido e relocalizado respetivamente na rua de Machede e na antiga fábrica dos Leões então remodelada, ficando assim o conjunto novamente devoluto. A igreja e área complementar mantiveram-se sempre na posse da arquidiocese estando aberta ao culto. Do que resta do antigo paço em Évora dos duques de Bragança refira-se o crucifixo em pedra aposto entre as escadas de acesso ao adro da igreja assim como o emolduramento da porta com motivos em nós de cordas. No portão gradeado que fecha o acesso ao adro Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 77 de referir o trabalho de ferragem que existe no fecho de correr do gradeamento. Na igreja, refira-se a qualidade dos retábulos em talha dourada, a azulejaria, a escultura religiosa e a decoração de alguns espaços abobadados. Já em espaço anexo é de realçar sala com decoração em estuque. Classificação de proteção: sem proteção específica. 15. Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário [séc. XVI, 2.ª Ordem dos Frades Menores] Com a extinção das Ordens Religiosas e a morte da última religiosa que aí professara o mosteiro é fechado em 1889. Em 1910, o Estado, na posse do edifício, autorizou que este passasse a ter uma função social permitindo que aqui fossem acolhidas mulheres sem quaisquer votos religiosos para aprenderem a ler e a realizar trabalhos domésticos. Mais tarde, mantendo este espírito de ação social passou a funcionar aí, uma casa para acolhimento de jovens em risco, dirigida por Religiosas da Congregação das Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade. Encerrada em 2007 quando, por ordem superior da Congregação, a madre superior foi enviada para o Brasil para aí fundar convento de raiz, e as restantes religiosas colocadas em casa da congregação situada no centro histórico de Évora. Atualmente funcionam, tanto nas duas cercas como na parte edificada do antigo mosteiro, alguns serviços arquidiocesanos ligados ao Movimento dos Cursos de Cristandade e ao Corpo Nacional de Escutas. Na igreja continuam a realizar-se ofícios religiosos. O conjunto edificado encontra-se em razoável estado de conservação mantendo o traçado original. Numa das cercas existe ainda pequena ermida, com restos de pintura na abobada e paredes, assim como dois tanques, enquanto que na outra se situa um poço em granito seguramente muito antigo. Refira-se a singularidade de pedra, com inscrição, assinalando a passagem da tubagem da água do Aqueduto da Água da Prata na parede. Quanto às torres de fresco assinalam-se a defensiva, que integra a muralha medieval, e uma outra com decoração especifica e um historial romântico pois funcionou como esconderijo. As pequenas celas individualizadas que pontuam os telhados em redor do claustro, e utilizadas como recolhimento, possuem um revestimento em azulejaria notável. A igreja e sacristia, com a talha dourada, azulejaria, pintura e escultura religiosa, são de grande qualidade assim como a grade do couro baixo, património inestimável. A casa do capítulo, posteriormente à saída das religiosas em 2007, foi despojada das pinturas que a decoravam, por razões de segurança, tendo estas sido deslocadas para as paredes da nave central da Sé de Évora. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata com ramal adoçada à muralha que limita a cerca (DG n.º 136 de 23-6-1910; decreto n.º 8229, DG n.º 133 de 04-07-1922; decreto n.º 11:773, 1ª série DG n.º 135 de 25-6-1926). Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 78 Fig. 8 ‒ Évora. Casas monástico-conventuais em situação devoluta/expectante: espaços e património (Convento de Nossa Senhora do Carmo e Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário). 16. Mosteiro de S. José da Esperança (Novo) [séc. XVII, Ordem das Irmãs Descalças de Nª. Sra. do Carmo] Com a sua extinção por morte da última religiosa em 1886, o conjunto ficou devoluto e foi entregue ao Batalhão n.º 4 da Guarda-Fiscal. Mais tarde, em 1889, foi cedido à Casa Pia tendo permanecido ocupada por esta instituição. Em inícios do século XX passou a ser adstrito à secção feminina da Casa Pia que repartiu o espaço com o Asilo da Mendicidade até 1919. Nos anos quarenta desse século foi ocupado pelas Religiosas da Ordem Salesiana as quais educavam crianças do sexo feminino sem recursos. Em 2008 as religiosas foram desalojadas do espaço sendo as crianças sido deslocadas para instituição pública de ação social. O espaço ficou devoluto por algum tempo tendo posteriormente, e por muito pouco tempo, servido de apoio a jovens com parcos recursos que aí ficaram alojadas. O conjunto encontra-se devoluto, já há alguns anos, mantendo-se a igreja ainda em função. A riqueza e qualidade artística do património da igreja é notável, tanto a nível de azulejaria, como de talha dourada, como ainda de pintura. O claustro, com fonte abastecida de água pelo Aqueduto da Água da Prata, assim como o espaço da portaria lajeada em granito e sob a qual se situa uma enorme cisterna que drena e armazena a água proveniente do subsolo da igreja. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata, que abastecia o mosteiro (DG n.º 136 de 23-6-1910). 17. Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli (Cartuxa) [séc. XVI, Ordem dos Cartuxos ou S. Bruno] Depois da extinção deste mosteiro masculino foi instalado, entre 1852-1869, no Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 79 conjunto edificado e na sua ampla cerca, a Escola Agrícola Regional. Em 1871 a família Eugénio de Almeida adquiriu o mosteiro então já em ruínas, sendo que em meados do século XX, o engenheiro Eugénio de Almeida decidiu restaurar o mosteiro e devolvê-lo à Ordem de São Bruno. A comunidade masculina cartuxa instalou-se no local em 1960, aí permanecendo até 2019 data em que os quatro monges aí residentes foram deslocados, por vontade da Ordem da Cartuxa e da Fundação Eugénio de Almeida, para outras casas da mesma Ordem situadas além-fronteiras. Deste mosteiro salienta-se a igreja principal com fachada marmórea, o seu património nomeadamente de talha em madeira, a capela com pintura religiosa, o enorme claustro centrado em tanque de dimensões assinaláveis, a fonte abastecida com água do Aqueduto da Água da Prata, os complexos das celas que rodeiam o claustro com os seus pequenos pátios e muros encimados pelo canal de água, a magnífica caixa de água situada na cerca e onde ainda são visíveis algumas pinceladas de frei Miguel, o monge pintor que tão bem soube preservar na memória os seus companheiros de clausura. A enorme nora em granito que se situa muito perto dos muros das celas é outro património de relevo. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto da Água da Prata e a igreja do mosteiro (DG n.º 136 de 23-6-1910; DG de 16-6-1910). 18. Mosteiro S. Bento de Cástris [séc. XIII, 2.ª Ordem de Cister] Neste conjunto monástico, atualmente devoluto, realizam-se desde há alguns anos, as “Residências Cistercienses”, única atividade cultural com programação anual que se desenvolve essencialmente na igreja monástica. Todo o conjunto com exceção da igreja ainda sacralizada e da ampla cerca, encontram-se desativadas, desde 2005 com a saída da seção masculina da Casa Pia. Foram feitas algumas propostas de reutilização entre finais do século XX, e inícios do XXI, como por exemplo a criação do “Sphera Castris ‒ centro para as artes, ciência e tecnologia” o qual funcionaria essencialmente na parte edificada do antigo mosteiro. Como património de realce ainda existente no antigo mosteiro refira-se, a igreja com os seus magníficos painéis de azulejaria, pintura religiosa, talha dourada dos retábulos, abobada nervurada, decorada com elementos figurativos, que cobre a nave do templo assim como o claustro de dimensão assinalável. Na ampla cerca refira-se o sistema hidráulico composto por extensos túneis, e os tanques com áreas de estar. Classificação de proteção: Monumento Nacional o Aqueduto o antigo mosteiro, incluindo zona especial de proteção totalmente vedada a novas construções (DG n.º 8218 de 29-6-1922; DR, 2ª série, n.º 210 de 6-9-1962). Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 80 Fig. 9 ‒ Évora: Casas monástico-conventuais em situação devoluta/expectante: espaços e património (mosteiros de S. José da Esperança ou Novo, de Santa Maria Scala Coeli ou Cartuxa e de S. Bento de Cástris). ANÁLISE COMPARATIVA E CRÍTICA DAS SITUAÇÕES/INTERVENÇÕES EXISTENTES Tabela 1 ‒ Évora. Quadro analítico de algumas das casas monástico conventuais. CONCLUSÕES Para a análise realizada aos edifícios monástico-conventuais da cidade de Évora, elaborou-se um quadro síntese, com parâmetros considerados relevantes para o Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 81 presente estudo. Nele foram consideradas a situação atual, a função que detém, o estado de conservação e a adequação das intervenções efetuadas expresso naquilo que se considerou de maior realce, ou seja, a memória do conjunto. Esta síntese permitiu verificar, que naturalmente onde a memória do que foram estas casas religiosas, se mantém quase inalterada são os que atualmente se encontram em situação expectante. Por essa razão, se alerta para a delicadeza a ter na intervenção, e na tipologia proposta para as mesmas. De um universo de dezoito conjuntos religiosos, verifica-se que três foram adaptados a unidades hoteleiras, correspondentes às intervenções ocorridas desde a segunda metade do século XX. A transformação em áreas maioritariamente habitacionais ocorreu em três de outros conjuntos. Das casas monástico-conventuais, sete foram reutilizadas maioritariamente como equipamentos coletivos. Em consequência das novas políticas das condições sanitárias, aplicáveis às cidades em finais do século XIX, foram totalmente demolidos os Mosteiros de Santa Catarina de Sena e Nossa Senhora do Paraíso, tendo sido parcialmente demolidos os de Santa Mónica, os de S. Francisco e Mercês, e quase na totalidade o de S. Domingos, com a intenção de dotar a cidade de espaços livres e equipamentos, modernizando-a. Existindo na cidade de Évora uma ampla oferta na área da hotelaria, que incorpora três das antigas casas religiosas, e atendendo à atual situação de pandemia, que se prolongará por tempo indeterminado com as naturais consequências no paradigma do turismo atual, julga-se que o futuro destas construções em situação expectante deveria ser cuidadosamente considerado quanto a refuncionalizações futuras. De salientar que os conjuntos existentes, contêm um assinalável acervo patrimonial de azulejaria, talha dourada, pintura e escultura, de qualidade inegável, como se pode observar ao longo desta apresentação, que é de todo o interesse preservar in situ, e acessível à população em geral. Não nos cabendo fazer propostas para os edifícios em causa, alertamos, todavia para riscos de tipificação funcional no património monástico-conventual que se encontra devoluto. Poderia ser de interesse instalar, a título de exemplo, num desses conjuntos, um centro de restauro de património móvel, que é riquíssimo nesta área, e que com intervenções pouco danosas, na memória do edificado, poderia contribuir para a preservação futura de um património que temos o dever de transmitir às gerações vindouras, em boas condições de conservação. Classificação de proteção que abrange todas as antigas casas religiosas: como conjunto inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO, ao abrigo do n.º 7 do art.º 15.º da Lei n.º 107/2001, encontra-se classificado como MN. REFERÊNCIAS ESPANCA, Túlio Espanca ─ Inventário Artístico de Portugal. Lisboa: 1966. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 82 FRANCO, Padre António ─ Évora Ilustrada – Extraída da Obra do Mesmo Nome do Padre Manuel Fialho. Évora: 1945. LAMEIRA, Francisco; GOULART Artur ─ Retábulos na Arquidiocese de Évora. Coleção Promontoria Monográfica, História de Arte. 09. Edição: Departamento de Artes e Humanidades da Universidade do Algarve. Faro: 2015. MONTEIRO, Maria Filomena Mourato ─ Sistema monástico-conventual e desenvolvimento urbano de Évora na Baixa Idade Média. Universidade de Évora (policopiado). Évora: 2010. MONTEIRO, Maria Filomena Mourato ─ O Aqueduto da Água da Prata em Évora. Bases para uma proposta de recuperação e valorização. Universidade de Évora (policopiado). Évora: 1995. QUEIMADO, José Manuel ─ Alentejo Glorioso – Évora suas ruas e conventos. Évora: 1975. V.A. ─ A Reforma Teresiana em Portugal. Congresso Internacional 2015. Editora: Edições Carmelo. Marco de Canaveses: 2017. Túlio Espanca, “Inventário Artístico de Portugal “, Lisboa, 1966. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Capítulo 6 83 SOBRE O ORGANIZADOR PEDRO HENRIQUE MÁXIMO PEREIRA - Doutor (2019) e Mestre (2014) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília. Arquiteto e Urbanista pela Universidade Estadual de Goiás (2011), Artista Visual Universidade Federal de Goiás (2014) e especialista em Educação (AME) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2021). É pesquisador e pofessor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás, professor Assistente I do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Atua também como professor convidado da Universidade Evangélica de Goiás (UniEVANGÉLICA). É vencedor do Prêmio Brasília 60 anos de Tese (2020), com a trabalho: O entre-Metrópoles Goiânia-Brasília: história e metropolização. Participa dos Grupos de Pesquisa Novas Cidades e Topos - Paisagem, Projeto e Planejamento, ambos da Universidade de Brasília; e do Grupo de Pesquisa CIMPARQ da PUC-Goiás. É membro da CTAA (INEP/MEC), da Área de Artes e Humanidades. Tem experiência na área de Arquitetura, Urbanismo e Artes Visuais, com ênfase em Teoria e/de Projeto. Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Sobre o organizador 190 ÍNDICE REMISSIVO A Acessibilidade 2, 61, 63, 106, 118, 174 Arquitetura 11, 12, 13, 15, 16, 25, 26, 36, 42, 53, 55, 56, 57, 63, 64, 84, 85, 86, 87, 99, 100, 101, 113, 121, 122, 125, 130, 131, 148, 149, 151, 152, 167, 168, 169, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 186, 187, 188, 189, 190 Arquitetura religiosa 13, 26, 42, 53, 55, 56 C Catas altas 53, 54, 55, 57, 58, 59, 62 Centro histórico 38, 78, 121, 123, 124, 127, 128, 130 Chan Chan 84, 86, 87, 93, 94, 95, 98, 99, 100 Cidade contemporânea 9, 122, 127, 130, 151, 168 Cidades 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 26, 53, 57, 59, 64, 71, 82, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 103, 107, 110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 121, 125, 129, 131, 132, 133, 137, 146, 147, 149, 151, 152, 155, 167, 168, 179, 190 Cidades brasileiras 113, 129, 131, 167, 179 Civilização inca 84, 85 Convento do Carmo Pequeno 36 Cusco 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 92, 94, 95, 96, 98, 99 D Desenho urbano 106, 130, 141, 142, 143, 146 Desigualdade socioespacial 101, 112 E Edifício louveira 167, 169, 170, 173, 175, 180 Évora 52, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 81, 82 F Formação urbana 132, 133, 134 H História da cidade 63, 114, 135, 141, 147, 148 História urbana 132 Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Índice Remissivo 191 I Itabirito 53, 54, 55, 57, 58, 59, 62 J Jardim de chuva 151, 153, 155 L Legislação urbanística 104, 105 M Machu Pichu 84, 86, 88, 90, 91, 92, 93, 95, 98, 99 Morfologia urbana 84, 114, 117, 130, 131, 141, 142, 143, 150 N Natal 111, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140 Nossa Senhora do Amparo de São Cristóvão 11, 12 P Pachacamac 84, 86, 88, 95, 96, 97, 98, 99, 100 Paisagem 37, 117, 123, 124, 131, 141, 143, 149, 151, 152, 154, 155, 156, 168, 176, 190 Paisagem urbana 37, 124, 141, 149, 152, 155, 156 Paraty 114, 117, 122, 123, 124, 127, 129, 130 Parnamirim 132, 133, 135, 136, 137, 138, 139, 140 Parque Guinle 167, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 179 Patrimônio 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 24, 36, 39, 51, 53, 54, 55, 58, 60, 61, 62, 63, 90, 117, 123, 130, 141, 142, 143, 147, 148, 150, 170, 179 Patrimônio histórico 2, 8, 10, 15, 24, 39, 51, 60, 63, 123, 170, 179 Planejamento urbano e regional 131 R Restauração 11, 21, 25, 36, 40, 51 S Santiago calatrava 181, 182, 183, 186, 188 São Cristóvão 11, 12, 14, 15, 16, 23, 36, 37, 38, 43, 51, 52 São Paulo 10, 25, 51, 52, 63, 99, 101, 102, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 112, 113, 130, 131, 149, 150, 151, 155, 156, 169, 170, 178, 179, 180, 189 Sustentabilidade 1, 111, 113, 151, 156 Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Índice Remissivo 192 T Técnicas construtivas 11, 16, 62 Tepic 26, 27, 31, 34 Teresina 141, 142, 143, 144, 145, 146, 148, 149, 150 Tombamento 5, 7, 8, 9, 170 U Urbanismo 11, 35, 36, 84, 85, 86, 87, 88, 93, 98, 99, 100, 101, 102, 106, 113, 122, 129, 130, 131, 149, 157, 179, 180, 181, 190 V Vila real de santo antônio 114, 117, 125, 129 Arquitetura e urbanismo Sensibilidade plástica, noção do espaço, imaginação e memória visual Índice Remissivo 193