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INFORMATIVO TÉCNICO DO SEMIÁRIDO - ISSN - 2317-305X GRUPO VERDE DE AGROECOLOGIA E ABELHAS - Artigo Técnico - Aspectos históricos e geográficos do município de Emas, Estado da Paraíba Rosélia Maria de Sousa Santos1, Vivian Patrícia Borba Borges Maracajá2, José Ozildo dos Santos3, Almair de Albuquerque Fernandes4, Iluskhanney Gomes de Medeiros Nóbrega5, Rafael Chateaubriand de Miranda6, e Patrício Borges Maracajá7 RESUMO - Município de Emas encontra-se localizado na região Oeste do Estado da Paraíba. Por sua vez, faz parte da Microrregião de Piancó, que integra a Mesorregião Sertão Paraibano. O acesso ao município em descrição, a partir da capital do Estado, é feito através da BR-230 até a cidade de Patos, seguindo pela BR-361. O município de Emas faz parte da região polarizada pela cidade de Patos, principal centro econômico do interior do Estado, que abastece não somente parte do sertão paraibano, bem como vários municípios dos vizinhos estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco. Quanto aos recursos minerais, predominam no município os chamados minerais metálicos, que são encontrados em estruturas geológicas muito antigas da era pré-cambriana, a exemplo do ferro, do cobre e alumínio. No que diz respeito à climatologia, o município encontra-se inserido no denominado 'Polígono das Secas', apresentando um clima do tipo semiárido quente e seco. Predomina no referido município a vegetação típica de caatinga xerofítica, de pequeno porte, onde se destacam a presença de cactáceas, arbustos e árvores de pequeno a médio porte. Em termos históricos, a ocupação do território do atual município de Emas, teve início ainda no final do século XVII, promovida por bandeirantes paulistas e baianos, vindos do São Francisco. Registra a tradição local, que no início do século XX, Joaquim Nunes de Gouveia, antigo morador da povoação de Emas, desenvolveu os esforços necessários para a realização da primeira feira na localidade, tendo sido também significativa a sua contribuição ao desenvolvimento urbano da futura cidade. Com parte integrante do município de Piancó, a povoação de Emas figurou até 1959 quando passou a pertencer ao território do recém-criado município de Catingueira. No entanto, naquela época, Emas possui um desenvolvimento semelhante ao apresentado por Santa Terezinha e Condado, que tornaram-se municípios em 1961. E, isto fez com que despertasse na população local o desejo de também se emancipar politicamente. A população começou a mobilizar-se, sob a coordenação dos senhores Aprígio Alves Pereira e Edivaldo Miranda, que encontraram no deputado Antônio Leite Montenegro, o apoio necessário para, inicialmente, transformar a povoação em distrito, e, posteriormente, em cidade. Ainda em finais de 1961, o referido deputado apresentou no plenário da Assembleia Legislativa o projeto, que convertido em lei, elevou a povoação de Emas à categoria de distrito. Posteriormente, o referido distrito foi elevado à condição de município, através da Lei nº 3.115, de 28 de novembro de 1963. Palavras-chave: Município de Emas, Paraíba. Geografia. História. INTESA (Pombal - PB - Brasil) v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 1 - ISSN: 2317-305X http://revista.gvaa.org.br Diplomada em Gestão Pública, especialista em Direito Administrativo e Gestão Pública (FIP) Email: roseliasousasantos@hotmail.com 2 Bacharela em Turismo pela FACISA – Campina Grande - PB E-mail: borbav@hotmail.com 3 Diplomado em Gestão Pública, pós-graduado em Direito Administrativo e Gestão Pública (FIP). Email: ozildoroseliasolucoes@hotmail.com 4 Graduado em Geografia, especialista em Educação e mestrando em Sistemas Agroindustriais (UFCG). Email: pazeluzalmair@gmail.com 5 Jornalista, graduada pelas Faculdades Integradas de Patos e especialista em Assessoria de Comunicação pela mesma IES. E-mail: yluska.gmn@gmail.com 6 Bacharel em Direito, graduado pela Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. E-mail: rafamiranda290885@gmail.com 7 Eng. Agrônomo e Doutor Engenheiro Agrônomo pela UCO - Universidad de Córdoba Espana, Titulo convalidado pela USP como D. Sc, Entomologia. E-mail: patricio@ufcg.edu.br 2 Historical and geographical aspects of the municipality of Emas, State of Paraiba ABSTRACT - Emas County is located in the western region of the state of Paraíba. In turn, is part of the micro-region of Piancó that integrates Mesoregion Hinterland Paraiba. Access to the municipality in description, from the state capital, is made by BR-230 to the town of Patos, followed by BR-361. The municipality is part of the Emas polarized the city of Patos, main economic center of the state region that supplies not only part of Paraiba backwoods as well as several municipalities in the neighboring states of Rio Grande do Norte and Pernambuco. For mineral resources, predominate in the municipality called metallic minerals that are found in very old geological structures of the pre-Cambrian era, such as iron, copper and aluminum. Regarding the weather, the municipality is inserted in the so called 'drought polygon', with a climate of hot, dry semi-arid type. Predominates in the municipality the typical vegetation of xerophytic scrub, small business, where we highlight the presence of cacti, shrubs and small to medium sized trees. In historical terms, the occupation of the territory of present-day municipality of Emas, began in the late seventeenth century, promoted by São Paulo and Bahia Bandeirantes, coming from San Francisco. Join the local tradition, which in the early twentieth century, Joaquim Nunes de Gouveia, former resident of the village of Emas, developed the necessary to carry out the first fair in the locality efforts, was also significant its contribution to urban development of the future city . As part of the municipality of Piancó, the village of Emas figured until 1959 when it became part of the territory of the newly created municipality of Catingueira. However, at that time, Emas has a similar development to that presented by Santa Terezinha and Condado that became cities in 1961. And this led to awaken the local population's desire to emancipate also politically. The population began to mobilize, under the coordination of lords Aprígio Alves Pereira and Edivaldo Miranda, who found the deputy Antonio Leite Montenegro, the support necessary to initially transform the village in the district, and later in town. Also in late 1961, said Mr presented on the floor of the Legislative Assembly project, which converted into law, the settlement of Emas rose to the rank of district. Subsequently, the said district was elevated to municipality, through Law No. 3,115, of November 28, 1963. Keywords: City of Emas, Paraíba. Geography. History. 1 Introdução A falta de pesquisas e planos relacionados aos aspectos históricos, geopolíticos e antropológicos dos municípios do interior do Estado da Paraíba, nos remete a necessidade de diagnósticos, com o intuito de se levantar aspectos regionais e locais. Assim sendo, o objetivo desta pesquisa é elaborar um documentário, em versão preliminar, sobre do município de Emas, narrando sua história, abordando seus aspectos geopolíticos e antropológicos, bem como, identificando suas potencialidades econômicas e turísticas. Durante a pesquisa, realizou-se um diagnóstico geral do referido município, identificamos e visitamos vários sítios arqueológicos e os principais atrativos naturais locais, todos eles acessíveis através de boas estradas vicinais, que possibilitam a visitação pública em qualquer todo o período do ano, sem oferecer obstáculos. O potencial econômico do município também foi avaliado. Cortado pelo Rio dos Porcos, o município de Emas possui um grande potencial para a agricultura e para a apicultura, que ainda não vem sendo explorado de forma adequada, de modo a proporcionar um melhor desenvolvimento socioeconômico para seu povo. INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 As primeiras providências visando o fortalecimento da agricultura familiar já encontramse sendo tomadas pela atual administração local, que vem incentivando o associativismo nas comunidades e buscando parcerias. A iniciativa do governo municipal já vem gerando frutos no âmbito local: todos os açudes vêm passando por um processo de peixamento e uma feira de agricultura familiar já se encontra programada para o mês de dezembro de 2011. A presente pesquisa também demonstrou que o município não somente possui um grande potencial para o turismo cultural, sendo também especial para a prática de esportes de aventura, a exemplo do rapel e da escalada em rocha. As trilhas na caatinga também oferecem boas surpresas, visto que durante a época das chuvas a vegetação fica inteiramente verde, transformando o panorama no sertão paraibano. Quanto à história local, foi possível esclarecer alguns pontos relacionados ao surgimento da povoação que deu origem à atual cidade de Emas, traçar os caminhos da ocupação do território, que datam da primeira metade do século XVIII. No entanto, reconhece-se que muito ainda há a ser feito. Deu-se apenas o primeiro passo - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 3 2 Aspectos geográficos do município de Emas - PB Município de Emas encontra-se localizado na região Oeste do Estado da Paraíba. Por sua vez, faz parte da Microrregião de Piancó, que integra a Mesorregião Sertão Paraibano. Sua área geográfica e de 240,899 Km², representando 0,426% de toda a área do Estado, e, 7,33% da área do território da Microrregião Piancó. O referido município apresenta os seguintes limites: Norte: Cajazeirinhas; Sul: Olho D'Água; Leste: Catingueira e, Oeste: Coremas. Geologicamente, o território do município encontra-se inserido nas folhas Piancó (SB.24-Z-C-III) e Pombal (SB.24-Z-AVI), de acordo com Mascarenhas et al. (2005). Sua sede municipal encontra-se localizada num ponto definido pelas coordenadas geográficas de 37º 42’ 57’’ Longitude Oeste e 07º 06’ 28’’ de Latitude Sul, possuindo uma altitude de 300 m. O acesso ao município em descrição, a partir da capital do Estado, é feito através da BR-230 até a cidade de Patos, seguindo pela BR-361 até a cidade de Catingueira. Pela mesma BR, após um percurso de aproximadamente 10 km, entra-se à direita na PB-312, trafegando-se por cerca de 10 km até a sede municipal, distante cerca de 361,6 km da capital (MASCARENHAS et al., 2005). Fig. 1 Acesso à sede do município Emas, a partir da BR 361 Fig. 2 Chegada à cidade de Emas-PB INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 4 Fig. 3 – Mesorregiões Geográficas da Paraíba Fig. 5 - Microrregião do Piancó Fig. 4 - Microrregiões do sertão paraibano A microrregião de Piancó é formada pelos municípios de Piancó, Aguiar, Coremas, Emas, Olho D'Água, Igaracy, Nova Olinda, Santana dos Garrotes e Catingueira, possuindo uma área total de 3.285,713 km², o que representa 5,82% de todo o território do Estado da Paraíba TRAVASSOS; MACIEL, (CARVALHO; 2002). INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 5 Fig. 6 - O município de Emas em relação aos roteiros turísticos do Estado da Paraíba Fig. 7 - Localização do município de Emas no mapa do Estado da Paraíba O município de Emas faz parte da região polarizada pela cidade de Patos, principal centro econômico do interior do Estado, que abastece não somente parte do sertão paraibano, bem como vários municípios dos vizinhos estados do INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Rio Grande do Norte e Pernambuco. Em Patos, a população de Emas busca assistência médica e educacional. Grande parte do que é produzido no município é comercializado em Patos. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 6 Fig. 8 - Mapa da região polarizada por Patos, da qual faz parte o município de Emas. Fig. 9 – INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 7 Em termos hidrográficos, o município de Emas pertence à bacia do Rio Piranhas, sendo parte da sub-bacia do Rio Piancó. Dentre os cursos d’ água, que drenam a área, destacam-se os Riachos Catolé, Pitombeira, do Caboclo, dos Bois, Campo Grande, das Marrecas, da Goiabeira, da Palha Amarela, Saco Grande, sendo que o principal curso d'água que corta o município é o Rio dos Porcos, afluente da denominada Bacia do Rio Piancó. Todos os cursos d’água do município possuem regime de escoamento intermitente e o padrão de drenagem é o dendrítico. Existem no município vários açudes, entre os quais se destacam: Estevam Marinho (parte do Açude de Coremas), Pitombeira, Várzea Grande, Frei Martinho, Manga Nova, Canto Alegre, Várzea Nova, Angicos, Curral Velho, Pedra D'Água, Espora, Açude do Boi, do Acioly, Campo Grande, etc. (MASCARENHAS et al., 2005. Fig. 10 - Aspectos do Açude Campo Grande, distante 2,5 Km da sede do município. O subsolo do município de Emas apresenta algumas fraturas geológicas. Seu relevo acha-se incluso na denominada 'Planície Sertaneja', a qual constitui um extenso pediplano arrasado, onde localmente se destacam elevações residuais alongadas e alinhadas com o 'trend' da estrutura geológica regional2. Assim sendo, o referido município encontra-se inserido na Unidade Geomorfológica denomina Pediplano Sertanejo (Mascarenhas et al., 2005). Fig. 11 - Aspectos dos solos, nas comunidades Curral Velho e Várzea da Ema. INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 8 Fig. 11 - Aspectos dos solos, nas comunidades Curral Velho e Várzea da Ema. Em face dessa situação, os solos encontrados no município de Emas são resultantes da desagregação e decomposição das rochas cristalinas do embasamento. grande maioria são do tipo Podizólico Em sua Fig. 12 - Aspectos do Rio dos Porcos, num dos pontos onde o mesmo atinge uma maior largura (período de estiagem) INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 9 Fig. 13 - Mapa Geológico do município de Emas Fig. 14 - Unidades litoestratigráficas registradas no município de Emas Fonte: Mascarenhas et al. (2005). INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 10 Em termos geológicos, o território que forma o município de Emas pode ser dividido nas seguintes unidades litoestratigráficas: Arqueano, Cenozóico; Neoproterozóico; Paleoproterozóico. Em termos de hipsometria, o município de Emas apresenta elevações que estão inseridas na faixa que varia de 200 a 400 m, comum a vários outros municípios da Microrregião do Piancó. No referido município, as principais elevações são as Serras do Melado (ou dos Doidos) e a do Campo Grande (MASCARENHAS et al., 2005). Quanto aos recursos minerais, predominam no município os chamados . minerais metálicos, que são encontrados em estruturas geológicas muito antigas da era précambriana (proterozóica), a exemplo do ferro, do cobre e alumínio. No que diz respeito à climatologia, o município encontra-se inserido no denominado 'Polígono das Secas', apresentando um clima do tipo semiárido quente e seco. Nele, as temperaturas são elevadas durante o dia, amenizando a noite, com variações anuais dentro de um intervalo de 23 a 30º C. Contudo, ocasionalmente podem ocorrer picos mais elevados, principalmente, durante a estação seca, que aumentam a frequência à medida que se prolongam as estiagens. Fig. 15 - Aspectos das formações rochosas nas proximidades da cidade de Emas - PB INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 11 Fig. 16 - Potencial econômico, ambiental e turístico Fonte: FIEP, 2012 INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 12 Fig. 17 - Aspectos da vegetação durante o período de estiagem Fig. 18 - Aspectos da vegetação durante o período chuvoso INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 13 O município de Emas apresenta um regime pluviométrico bastante baixo. Ademais, é irregular, apresentando médias anuais superiores a 800 mm/ano. As oscilações produzidas pelos fatores climáticos determinam a ocorrência de variações com valores para cima ou para baixo do intervalo referenciado. Como todo município do semiárido, Emas possui duas estações bem definidas: a seca, que constitui o verão, cujo clímax é registrado no período de setembro a dezembro, e, a chuvosa, que, geralmente, inicia-se em fevereiro, prolongando-se até junho. Predomina no referido município a vegetação típica de caatinga xerofítica, de pequeno porte, onde se destacam a presença de cactáceas, arbustos e árvores de pequeno a médio porte. Contudo, na encosta da Serra do Melado (ou dos Doidos), existe uma chamada 'ilha verde', alimentada pelo Olho D'Água dos Macacos, que, durante o período de estiagem, contrasta com toda a paisagem do município. Aspectos históricos do município de Emas A ocupação do território do atual município de Emas, teve início ainda no final do século XVII, promovida por bandeirantes paulistas e baianos, vindos do São Francisco, que dividiram aquelas terras entre si. Naquela época, todo o sertão do Piancó era habitado por tribos indígenas, pertencentes à grande nação tarairiús, verdadeiros tapuias do Nordeste, que desde os primórdios da colonização se opuseram à penetração lusa e à conquista de suas terras. Aqueles índios dividiam o sertão paraibano com os cariris, com os quais, muitas vezes foram confundidos. Nação formada por muitas tribos, os tapuias praticavam o endocanibalismo, ou seja, comiam seus próprios parentes, alegando “que não havia lugar melhor para guardar os seus do que dentro de si mesmo” (BORGES, 1985, p. 35) Possuidores de uma grande altura, força e coragem, corriam como um cavalo, alimentando-se basicamente de mel de abelha, “que habilmente tiravam das árvores e misturavam com o pó moído dos ossos de seus mortos, para beber” (BORGES, 1985, p. 35). Habitavam o Sertão do Piancó as tribos Coremas, Panatis e Icó, e, especialmente no INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 local onde se ergue hoje a cidade de Emas, os Coremas. No entanto, a presença do elemento branco desbravador provocou forte reação entre indígenas da região, que se uniram e resistiram à penetração luso-brasileira, dando início à chamada 'Guerra dos Bárbaros'. E, para combater os índios rebelados nas guerras da conquista do sertão, as autoridades régias não só requisitaram os serviços dos paulistas, como também, chegou-se a institucionalizar alguns terços paulistas, como foi o caso do liderado por Manoel Álvares de Moraes Navarro, na capitania do Rio Grande. À época, os paulistas eram vistos como homens capazes de suportar as asperezas do sertão, bem como fazer frente, pela experiência que tinham adquirido, aos 'índios bravos' da região. Vale destacar, que os terços paulistas eram formados em sua maioria por índios recrutados junto às vilas do litoral ou mesmo no sertão. Com a submissão total dos silvícolas, ocorrida nas primeiras décadas do século XVIII, surgiram muitas fazendas de gado na região, núcleos iniciais das várias cidades, que integraram o vastíssimo município de Piancó, até o início da segunda metade do século passado. Tais núcleos de ocupação humana derivaram da “conjugação do elemento religioso, representado pela edificação de uma capela, como o elemento econômico, apoiado na criação do gado” (OCTÁVIO, 1983, p. 90). Assim, inicialmente surgia a fazenda e nela, com o tempo, era construída uma pequena capela, em redor da qual, surgiam algumas casas, dando, assim, início a um pequeno arraial. A princípio, quase todas as terras localizadas na Ribeira do Piancó foram concedidas a Francisco D'Ávila Lins, senhor e proprietário da famosa Casa da Torre, na Bahia. Tais terras, no sertão paraibano, eram administradas por procuradores, entre os quais figuraram os irmãos Oliveira Ledo (SEIXAS, 1985). Estas terras foram concedidas à Casa da Torre, na própria Bahia, pelo Vice-rei do Brasil, causando alguns embaraços ao governo da capitania da Paraíba, de forma que poucas foram as concessões de sesmarias feitas no Sertão de Piancó até a primeira metade do século XVIII, pelo governo local. E, muitas destas, diziam - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 14 respeito à legalização da posse das terras, adquiridas por compra aos herdeiros da mencionada Casa da Torre. Um exemplo disto é a Fazenda Várzea do Ovo que foi adquirida por Luís Mendes de Sá, em 1740. Baiano, Luís Mendes de Sá chegou ao sertão do Piancó, na condição de vaqueiro da Casa da Torre, instalado-se, posteriormente, na Fazenda Várzea do Ovo, ponto comum aos municípios de Emas e Catingueira. Em 1757 já era falecido Segundo um documento da época, a referida fazenda, localizava-se às margens do Rio dos Porcos, seguindo pelo "rio acima e abaixo (Rio Piancó), que a divide... parte do nascente com a Serra Branca, de poente com o Sítio do Genipapo, do norte com a Serra do Campo Grande e do sul com as serras do Cortume" (SEIXAS, 1985, p. 147). Aos 27 de outubro de 1748, um certo Bento Alves de Figueiredo, alegando ser "morador no sertão chamado Riacho dos Porcos, districto de Piancó desta capitania, diz que possue a dezoito annos um sitio de terras de crear gados e lavouras no mesmo riacho onde chamão S. Francisco, nas quaes terras tem feito outra povoação chamada Olho D'agua em que habita com a sua familia, tende as arrematado em praça em exeução que se fazia a Felippe Delgado, nem este e nem outra pessoa alguma lhe entregou data das ditas terras nem consta que o haja de todas, nem de parte das ditas terras" solicitou a concessão das ditas terras, medindo "tres leguas de comprido e uma de largo, fazendo peão no pé do serrote de S. Francisco legua e meia para leste e legua e meia para oeste, rio acima, com meia legua para cada banda do dito serrote para baixo do dito serrote para cima, com toda largura de uma legua para a parte do sul que vae entestar com o sitio do Cravatá que já tem povoação do supplicante chamada Estivas” (TAVARES, 1982, p. 204205). Fig. 19 - Serra do Campo Grande O território do atual município de Emas é constituído por partes das datas (sesmarias) da Várzea do Ovo e Campo Grande. Pelo demonstrado, Bento Alves de Figueiredo já se INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 encontrava no território do futuro município de Emas desde 1730. Possivelmente, tenha sido um dos vários vaqueiros vindos da Bahia, contratados pelos herdeiros da Casa da Torre. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 15 De acordo com Bandeira (2000), a Casa da Torre de Garcia d'Ávila, também referida como Castelo de Garcia d'Ávila, Torre de Garcia d'Ávila, Forte de Garcia d'Ávila ou simplesmente Casa da Torre, localiza-se no atual município de Mata de São João, no litoral do estado brasileiro da Bahia. Erguida sobre uma elevação na atual praia do Forte, no litoral de Tatuapara, foi, originalmente, denominada por seu proprietário como Torre Singela de São Pedro de Rates. Outra particularidade mostrada por essa sesmaria é que a antiga Fazenda Várzea do Ovo pertenceu inicialmente a um certo Felipe Delgado. Em 1752, o alferes Felix Barbosa e dona Maria dos Prazeres Ponce de Leon, solicitou a concessão de umas terras no sertão do Piancó, que se limitavam com a data dos Oliveira Ledo, pelo norte e com a Serra Branca e com a Várzea do Ovo, pelo leste (TAVARES, 1982, p. 217). Aos 20 de março de 1757, dona Severina Vieira, viúva do capitão Luís Mendes de Sá, em petição endereçada ao governo da Capitania da Paraíba, alegou "que tinha seos gados e lavouras no sítio de Varzea do Ovo, daquelle logar, o qual sitio possuía a supplicante por si e seu defunto marido que o comprará à casa da Torre, e porque lhe poderão mover duvidas por não ter a supplicante data de sesmaria, para evita-la pretende tirar a data do dito sitio da mesma sorte tinha possuído e possuía, desde a extrema do sitio Vezinho pelo logar onde estava a Caza da Fazenda para o nascente a partir na passagem de Bento de Souza e com a Fazenda Serra no meio do Poço Chamado da Serra, para o poente entre as Varzea das Emas e dos Angicos aonde tinha um parco que partia com a Fazenda Genipapo para o norte nas serras do Riachão, para o sul na Serra da Borburema concedendo-se à supplicante tres léguas de comprido e uma de largo, fazendo da largura comprimento ou do comprimento largura, e pedia se lhe concedesse por sesmaria as ditas terras na forma confrontada conforme era costume" (TAVARES, 1982, p. 245-246). Em 28 de abril daquele mesmo ano, dona Joana Maia Martins, viúva do ajudante Pedro Velho Barreto, solicitou a concessão de umas terras que se limitavam com a Fazenda Várzea do Ovo, nas proximidades do Serrote do Campo INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Comprido do Saco, "onde extrema com a Serra Branca e fronteiro ao mesmo Serrote com o Olho D'Água do Macaco e da parte do sul a contesta com a Serra da Borburema” (TAVARES, 1982, p. 246). Outra parte do futuro território de Emas, que também pertencia à Casa da Torre, dos D'Ávilia Lins, foi adquirida por compra feita pelo coronel João Leite Ferreira, de cuja Casa era também procurador, no Piancó e em outras ribeiras. Em 10 de março de 1759, aquele senhor objetivando legalizar a posse de sua propriedade, requereu sua sesmaria, alegando ser morador do sertão do Piancó e possuidor de "um sítio de terras de crear gados no mesmo sertão do Piancó, chamado Campo Grande", adquirido por compra feita à Casa da Torre, através de "uma simples escriptura, sem mais outro título junto". Declarou ainda que a sesmaria pretendida media três léguas de comprimento por uma largura, "correndo o rumo direito para a parte do nascente, a entestar com a Serra Branca e a Varzea do Ovo, e pela parte do poente a entestar com o Sítio da Barra e S. Paulo, e pela parte do norte a entestar com a Serra do Olho D'Água e para o sul com o Sitio do Genipapo [...]” (TAVARES, 1982, p. 268269). Baiano, o coronel João Leite Ferreira chegou ao sertão do Piancó em idos de 1755, passando a dedicar- se à lavoura e à criação de gado, administrando propriedades dos D'Ávila Lins. Casado com dona Antônia Tereza de Melo, "sua descendência imediata constava de vários filhos, cujos ramos se espalharam pelos municípios seguintes: Piancó, Conceição, Pombal e Teixeira, formando numerosos ramos genealógicos, perpetuando o nome e a lembrança das velhas raças povoadoras dos sertões nordestinos" (SEIXAS, 1985, p. 147). Da mesma forma que o coronel João Leite Ferreira, alegando ter comprado à Casa da Torre e não ter título de propriedade de suas terras, João de Melo Leite solicitou a concessão das terras nas quais encontrava-se empossado, localizadas na parte do sul do pé da Serra do Campo Grande. A referida concessão foi feita em 14 de abril de 1759, pelo governador José Henrique de Carvalho (TAVARES, 1982). - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 16 Fig. 20 - Casa Grande da Fazenda Campo Grande Outra concessão no território que mais tarde formaria o município de Emas foi feita no dia 3 de março de 1757, a um certo José Pereira da Cruz, "morador no Sertão do Piancó", que alegou ao governo da Capitania da Paraíba que era "senhor e possuidor de um sítio de terras no dito sertão, chamado Ginipapo que tinha povoado com casas, vivendas, gado vaccum e cavallar, e que o houvera por compra, que delle tenha sido feito a mestre-de-campo, Francisco D'Avila, e como não tinha mais titulo do que a escritura de venda que se lhe havia feito, e para segurança de sua posse e domínio queria alcançar delle data de sesmarias, confrontando pela parte do nascente com o sitio - da Vargemdo-Ovo- pela vargem do Angicos e Várzea da Emas e pela parte do poente com o sítio do Peixoto e da S. Cruz, e pela parte do sul com o sitio Malhado do Boi na Lagôa do passarinho e pela parte do norte com o sitio Campo Grande pela parte da serra do mesmo sitio, servindo esta e a das Queimadas de divisão com três léguas de comprido e uma de largo" (TAVARES, 1982, p. 272). A referida sesmaria faz referência a grande parte do território emense, enumerando importantes localidades, que até o presente INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 ainda preservam seus topônomios, a exemplo de Campo Grande, Angicos, Várzea do Ovo, Várzea da Ema e Jenipapo. A origem da povoação, núcleo inicial da atual cidade de Emas, necessita de maiores esclarecimentos. Em 1976, publicou-se a 'Enciclopédia dos Municípios Paraibanos', onde lê-se que "Joaquim Nunes de Gouveia, em 1917, lançou as sementes que mais tarde germinariam e formaria o povoado que seria transformado no progressista municípios de Emas" (AMORIM et al., 1976, p. 186). Esta informação vem sendo repetida nos últimos trinta e cinco anos, em todos os trabalhos produzidos e divulgados sobre Emas, sem um sustentáculo bibliográfico digno de confiança. No entanto, trata- se de uma afirmação que necessita ser reavaliada. A história provinciana revela que o núcleo inicial da atual cidade de Emas foi a 'Povoação de Várzea da Ema', parte integrante do antigo território do município de Piancó, sede da histórica Freguesia de Santo Antônio. As origens dessa povoação remontam ao século XIX e não ao ano de 1917. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 17 É importante ressaltar que já no século XIX existiam na região as condições propícias à criação de uma povoação. Na época, era comum instalar os núcleos de ocupação humana, próximos aos cursos d'água e assim ocorreu com a povoação Várzea da Ema: foi instalada às margens do Rio dos Porcos, servindo como ponto médio entre as Fazendas Campo Grande e Angicos, que se destacavam como importantes núcleos agropecuários em todo o sertão do Piancó. No 'Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo do Imperio do Brazil', publicado por J. G. R. Milliet de Saint-Adolphe, em 1845, encontramos a primeira referência à Povoação de Várzea da Emas, quando lê-se: “Piancó: Villa da provincia de Parahiba, 100 legoas pouco mais ou menos a poente da cidade capital da província, e 12 ao sudoeste da Villa de Pombal, na comarca d’este nome. Foi largo tempo uma freguezia consideravel, cuja matriz tinha por padroeiro Santo Antonio. Seu termo, um dos mais férteis e ricos da província, pertencia ao districto de Pombal, e tinha em 1815 perto de 8.000 habitantes. No cabo de longas e reiteradas instancias dos moradores, por um decreto de 11 de novembro de 1831, foi esta freguezia condecorada com o título de Villa Constitucional de Santo Antônio de Piancó, assignalando-lhe o mesmo decreto por districto o próprio termo de sua freguezia, o qual encerra as povoações de Boa Vista, Boqueirao, Brejo da Cruz, Caiporas, Caissara, Canoa, Catolé, Catolé de Baixo, extremo, Formiga, Furado, Genipapo, Jabotá, Paó Ferrado, Pilar, Rancho do Povo, São Boaventura, São Lourenço, Umari e Varzea-daEma" (SAINT-ADOLPHE, 1845, p. 297). Fig. 21 - Dicionário de Milliet, 1845 INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 18 Com base no exposto, constata-se que as origens da Povoação de Várzea da Ema remontam à primeira metade do século XIX. No entanto, é necessário esclarecer que as antigas povoações eram estruturadas de acordo com as limitações da época: casas rústicas e taipa, uma pequena venda, capela simples com chão batido. À medida que essa povoação ia ganhando importância, tudo em sua volta ia mudando, surgindo os primeiros indícios de urbanização. Dificilmente as antigas povoações conseguiam manter sua importância econômica. Possivelmente, tenha ocorrido o mesmo com a de Várzea da Ema [ou de Emas, conforme a maioria dos documentos públicos]. Adquirindo o status de povoado, por algum fator, a pequena povoação às margens do Rio dos Porcos entrou em decadência, possivelmente, com o surgimento da povoação de Catingueira, em local de melhor acesso. Cortada por uma estrada que ligava as vilas de Patos e Piancó, a fazenda de Catingueira passou a adquirir importância e tornou-se uma coordenada geográfica na região, na segunda metade do século XIX, exatamente quando a Povoação de Várzea da Ema começava a declinar1. Outros registros históricos sobre a mencionada povoação, localizada às margens do Rio dos Porcos e distante cerca de meia légua da sede da histórica Fazenda do Campo Grande, aparecem em Relatórios e Falas dos Presidentes da Província da Paraíba, datadas 1868 e 1870. Distante da principal estrada que cortava o sertão do Piancó, a Povoação de Várzea da Ema permaneceu esquecida até a primeira década do século XX, quando novamente passou a ter uma significância econômica. Antes, ocorreram vários fatos em sua história dignos de registros Em 1860, passou pelo território do futuro município de Emas, o Dr. Luís Antônio da Silva 1 Um dos principais incentivadores do desenvolvimento da povoação de Catingueira, foi o coronel Firmino Aires Albano da Costa ( filho do patriarca Pedro Firmino da Costa), que elegeu-se deputado provincial e ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa, nas legislaturas de 1886-1887 e de 1888-1889. Nesse período, por força da Lei Provincial nº 386, de 9 de setembro de 1887, a povoação de Catingueira tornou-se sede de um distrito de paz e como termo judiciário da Comarca de Piancó, manteve a denominação de povoação de São Sebastião da Catingueira, até 23 de julho de 1890, quando passou a denominar -se de povoado do Jucá (Decreto nº 27). INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Nunes, presidente da Província, que objetivando conhecer in loco as necessidades do interior, realizou uma excursão pela Paraíba, saindo da capital em 17 de setembro daquele ano, percorrendo os termos de Pilar, Ingá, Campina Grande, Cabaceiras, São João do Cariri, Teixeira, Piancó, Souza, Catolé do Rocha, Pombal, Patos, Pocinhos, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Independência (hoje Guarabira), Mamanguape, Alhandra e Pedras de Fogos (SEIXAS, 1985). O referido presidente retornou à capital paraibana, após trinta e dois dias, tendo percorrido a cavalo mais de 292 léguas. Da Fazenda Catingueira, núcleo da atual vizinha cidade de mesmo nome, saiu Sua Excelência com destino à Fazenda Angicos, no atual município de Emas, onde chegou na manhã do dia 28 de setembro de 1860, uma sexta-feira. Na época, o jornal 'O IMPARCIAL', que circulava na capital paraibana, assim noticiou o fato: No dia seguinte, 28, às 6 horas e meia da manha, continuou s. Exa. a viagem, tendo de tomar pouso na Fazenda Angico, propriedade do Sr. José Lopes da Silva, subdelegado de Piancó, onde apeou-se S. Exa. às 8 horas e quarenta minutos, depois de percorrida a distância de quatro léguas. A fazenda Várzea do Ovo dista de Angico duas léguas, aquém desta, tem sua lenda muito interessante, que prova o quanto conseguem a constância de mãos dadas com a economia: "Esse nome (Várzea do Ovo) provém de ter uma madrinha dado a um afilhado um ovo, que, a pedido desta, foi deitado em uma galinha, daí saiu um pinto, que cresceu e tornou-se uma galinha, que produziu muitos ovos, estes pintos, vendeu-se os ovos e galinha deu dinheiro para se comprar uma novilha, que produziu também. E afinal o dinheiro de ovos, galinhas, novilhas e mais descendentes deu dinheiro para se comprar uma fazenda, que veio a ter essa denominação; dando um ovo para tudo isso" (SEIXAS, 1985, p. 80). Homem de reconhecida cultura, o Dr. Silva Nunes em 15 de junho de 1860, apresentou à Assembleia Legislativa Provincial, um substancial Relatório, abordando as condições em que encontrou a Província, que ainda hoje, serve como fonte de pesquisa para a - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 19 história administrativa da Paraíba. Assim, o Dr. Silva Nunes entrou para a história de Emas como sendo o primeiro governante da Paraíba há pisar em seu solo. Natural do Rio Grande do Sul, Silva Nunes diplomou-se em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito do Recife, em 1854. Por Carta Imperial datada de 20 de março de 1960, foi nomeado presidente da Província da Paraíba, empossando-se no referido cargo aos 17 dias do mês seguinte. Durante sua administração criou a freguesia de Misericórdia (hoje Itaporanga) e a vila de Pedra de Fogo, aos 11 de julho e a 6 de agosto de 1860, respectivamente (PINTO, 1978, p. 284-285) Casado com a senhora Joana Silva Nunes, filha do Marquês de Muritiba, deixou o governo da Paraíba em 17 de março de 1861, após ter sido eleito deputado geral, pela Província do Espírito Santo. Administrador probo, "tudo quanto se refere a objeto de serviço público foi rigorosamente examinado pelo digno presidente: a instrução pública, a magistratura, as cadeias, as matrizes, as obras públicas, a guarda nacional, as municipalidades, a polícia, etc."25. Antes de Silva Nunes, "nenhum presidente tinha ainda visitado a Província da Paraíba em toda a sua extensão" (SEIXAS, 1985, 17). Quando deixou a referida Província na tarde do dia 26 de março de 1861, "ao embarcar o Sr. Silva Nunes, em companhia de sua esposa d. Joana da Silva Nunes e de sua irmã, d. Maria Tereza, fez questão de abraçar, um a um, a todos os senhores que se dignaram em acompanhá-lo, e mostrou comovido ao separarse dessa porção de amigos e correligionários que o honraram durante o tempo em que administrou esta Província" (SEIXAS, 1985, p. 58-59). Primo e amigo íntimo do grande poeta Álvares de Azevedo, de quem era confidente, o Dr. Silva Nunes representou a Província do Espírito Santo na Assembleia Geral de 1861 a 1865. Posteriormente, governou a Bahia de 16 de agosto de 1875 a 5 de fevereiro de 1877. Anos depois da morte prematura do grande poeta, organizou parte de sua produção literária no livro 'O conde Lopo' e publicou-o em 1886, através da Tipografia Leuzinger, no Rio de Janeiro (SILVA, 2009). Nascido em 1831, o Dr. Silva Nunes faleceu em 1911, aos oitenta anos de idade incompletos. Quanto ao anfitrião José Lopes da Silva, senhor e proprietário da Fazenda Angicos, era filho do sargento-mor Manoel Martins Lopes, a quem cabe a fundação da referida fazenda, cuja Casa Grande foi construída em 1792 e ainda hoje ostenta a influência que seus antigos proprietários possuíam. Fig. 23 - Relatório do Dr. Silva Nunes - 1860 INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 20 Fig. 24 – Casa Grande da Fazenda Angicos, construída em 1792, onde, em 1860, seu proprietário recebeu a visita do Dr. Silva Nunes, presidente da Província. INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 21 Fazendeiro influente, filiado às hostes do Partido Conservador, Zé Lopes ocupou com distinção o cargo de subdelegado do município de Piancó. Membro da antiga Guarda Nacional, foi distinguido com a patente de Tenente Coronel, tornando-se . Comandante do 20º Batalhão estacionado na Vila do Piancó. Por ato datado de 28 de setembro de 1868, foi suspenso de suas funções. No entanto, em 21 de outubro de 1878, o presidente da província reintegrou-o ao referido posto. Fig. 25 - Major Wenceslau Lopes, o primeiro filho de Emas eleito deputado estadual Em primeiras núpcias, casou-se com Francisca Leite da Silva, de cuja união, nasceram entre outros, os seguintes filhos: 1. Wenceslau Lopes da Silva (major da Guarda Nacional), fazendeiro e político influente, ligado politicamente ao presidente e senador Álvaro Machado, elegeu-se deputado estadual por três legislaturas, ainda no início do INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 período republicando, tendo permanecido na Assembleia Legislativa de 1896 a 1907. Deixou ilustre descendência. Foi primeiro filho de Emas a ocupar uma cadeira no Legislativo Estadual, após a proclamação da República 2. Antônio Lopes da Silva (Major Totó), nascido em 1880, senhor e proprietário da Fazenda Saudade, no atual município de Emas. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 22 Fiscal do Consumo Federal, casou-se com Zulmira Ernestina Leite de Araújo, filha do Dr. José Peregrino de Araújo, desembargador e exgovernador da Paraíba. O referido casal deixou grande e importante descendência (CAVALCANTI; CAVALCANTI, 2009). Em 1879 nascia no território do futuro município de Emas - àquela época, parte integrante do município de Piancó - Francisco Lopes de Souza, filho do José Lopes de Souza e Ana Lopes da Silva Loureiro (Mãe Naná). Vocacionado para sacerdócio, foi o primeiro filho da futura cidade de Emas há ordenar-se padre. Exerceu seu ministério em Piancó e em Cajazeiras. Nessa última cidade, durante o ano de 1924, ocupou o cargo de diretor do Colégio Padre Rolim, onde exerceu com destaque e eficiência, a função que lhe foi confiada (MARIZ, 1985). Em 1936, foi nomeado vigário da histórica Matriz de Santo Antônio, de Piancó, ali permanecendo por pouco tempo. Intrépido, o padre Lopes faleceu no dia 7 de fevereiro de 1951, deixando uma longa lista de serviços ao povo católico do sertão do Piancó (CAVALCANTI; CAVALCANTI, 2009). Outro filho ilustre da futura cidade de Emas foi o Dr. Manoel Leite de César Loureiro, nascido na Fazenda Angicos, em 1844. Diplomado pela Faculdade de Direito do Recife (1865), fixou residência em Piancó, onde exerceu a advocacia e militou na política, elegendo-se presidente da Comissão do Partido Conservador, naquele município, em 1870. Eleito deputado provincial, ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa, durante as legislaturas de 1872-1873 e de 1874-1875. Era ainda deputado quando foi nomeado para ocupar o juizado municipal de Catolé do Rocha, no alto sertão paraibano. Casado com dona Francisca Rodrigues de França Leite, deixou ilustre descendência. O Dr. Manoel Leite foi o primeiro filho da futura cidade de Emas a conquistar um diplomar superior, foi seu primeiro advogado e o primeiro emense a ocupar na Assembleia uma cadeira de deputado. Fig. 26 - O coronel Nicolau César Loureiro com sua segunda esposa, filhos, noras e netos Seu filho, Nicolau Leite de César Loureiro, nascido na Fazenda Angicos em outubro de 1869, embora não tenha cursado direito, possuía amplos conhecimentos na INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 ciência de Ulpiano, tendo ocupado o cargo de adjunto do Promotor Pública da Comarca de Piancó, em 1896. Ali também foi primeiro suplente de delegado de polícia (1903), e, - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 23 ingressando na política, elegeu-se vereador em 1935. Escolhido por seus pares para ocupar a presidência da Câmara Municipal, nessa condição, assumiu interinamente os destinos políticos do referido município, em 1937. Ocupava ainda a presidência do legislativo piancoense quando veio a falecer em 2 de janeiro de 1941. Foi casado em primeiras núpcias com Ana Lopes e, em segunda, com dona Maria do Desterro. Entre seus filhos, destacaram-se Basiliano Lopes Loureiro, que foi prefeito nomeado de Piancó (1935) e Severino Lopes Loureiro, o professor Loureiro, que exerceu seu magistério em Campina Grande, onde adquiriu e manteve até sua morte, o Colégio Alfredo Dantas. Durante o século XIX, o território que mais tarde constituiria o município de Emas era formado por várias fazendas, entre as quais se destacavam: Riacho dos Bois, propriedade do Coronel João Leite Ferreira (2º do nome); Campo Grande, propriedade do major José Alves da Silva; Poço Escuro, propriedade de Francisco de Paula e Silva; Angicos, propriedade de Nicolau Leite César Loureiro e Jenipapo, propriedade de Inocêncio Leite Ferreira, onde cultivava-se o algodão mocó em grande quantidade e mantinha-se extensa criação de gado (BRASILINO FILHO, 2003) É importante registrar que o Cel. João Leite Ferreira, em Piancó, foi administrador da Freguesia (1823), comandante da Guarda Nacional (1831) e membro do Esquadrão de Cavalaria (1841) Filiado às hostes do Partido Liberal, sem sombra de dúvidas, foi a maior estrela política do sertão do Piancó, durante a primeira metade do século XIX, tendo, inclusive, comandado forças contra Pinto Madeira (1832) e elegido-se deputado provincial (1840). Fig. 27 - Antônia Loureiro, contribuiu para a construção da capela INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 24 Fig. 28 - Início da atual Rua José Celino, no passado Fig. 29 - O centro da atual cidade de Emas no passado INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 25 Fig. 29 - A antiga Capela de Emas no passado Fig. 30 - Emas no passado INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 26 Fig. 31 - Capela de Santa Terezinha, ao fundo, e, no primeiro plano, A antiga Praça Júlia Alves Pereira, no início da década de 1970 Registra a tradição local, que no início do século XX, Joaquim Nunes de Gouveia, antigo morador da povoação de Emas, desenvolveu os esforços necessários para a realização da primeira feira na localidade, tendo sido também significativa a sua contribuição ao desenvolvimento urbano da futura cidade. O mesmo era filho de João Nunes Tavares, que chegou ao atual município de Emas em 1906, já viúvo, procedente da antiga povoação, hoje, cidade de Imaculada-PB. Aqui, comprou ao senhor José da Silva Cavalcanti, parte do sítio Várzea de Emas, onde construiu uma casa e passou a residir com sua família. A presença de Joaquim Nunes de Gouveia somente é registrada na região a partir de 1917. Viúvo, casou-se com dona Maria Pordeus Dantas, procedente de Pombal. E, na Várzea de Emas construiu uma casa e instalou uma pequena mercearia. É oportuno registrar que antes do mesmo chegar à região, a povoação de Várzea de Emas já existia, embora encontrasse decadente. Para sua fundação fortemente contribuíram os senhores José Lopes da Silva e o coronel João Leite Ferreira (2º do nome). INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Ao senhor Joaquim Nunes de Gouveia cabe o reconhecimento pelos esforços desenvolvidos no sentido de fazer com que a povoação da Várzea de Emas progredisse. E assim o fez quando instalou sua mercearia, que em pouco tempo passou a abastecer a população da região com gêneros alimentícios vindos do Brejo de Areia. Ao referido patriarca também deve-se a instalação da primeira bolandeira a vapor na localidade, passando a beneficiar grande parte do algodão que era produzido na região e que funcionava num antigo prédio, que anos mais tarde foi demolido para dar lugar a atual Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre José Lopes. Assim, no início do século XX, Emas era um simples agregado de casas sem importância econômica, que integrava o extenso município de Piancó, na condição de termo do distrito de Catingueira, criado no final do século anterior. Em idos de 1923, a Firma Araújo Rique & Cia, em parceria com o senhor Manuel Pereira Filho, instalou na Fazenda Várzea Nova, uma grande máquina a vapor para o beneficiamento do algodão produzido na - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 27 região. Em pouco tempo, esse empreendimento determinou o fechamento da pequena usina fundada por Joaquim Nunes, em Emas. A atual capela de Santa Terezinha do Menino Jesus teve sua construção iniciada em 1934, sob um terreno doado por dona Maria Joaquina da Conceição (viúva de João Nunes Tavares). Na oportunidade, figuraram como construtores Severino Leite Ferreira e Manoel Antas Pegado. Para a construção da referida capela, fortemente contribuíram o senhor Manoel Nunes Tavares e dona Antônia Loureiro. No dia primeiro de outubro daquele mesmo ano, celebrou-se no novo templo a primeira missa, pelo padre Abdus Pereira, vigário de Piancó. Fig. 32 - Ruínas da Antiga Usina Araújo Rique & Cia Em 1936, segundo relato de 'A União', existia na localidade uma usina de descaroçar algodão e uma tecelagem manual. O transporte de mercadoria e de pessoas era feito por três caminhões pertencentes a proprietários locais. Praticamente não existia vida social no povoado. Existiam dois cafés e um jogo de bilhar, localizados no início da atual Rua José Celino, onde os moços da localidade se divertiam. Ainda hoje é possível observar os antigos casarios de Emas, nesse trecho da cidade, apesar das fachadas de várias residências já terem sido alteradas. É importante ressaltar que o efetivo desenvolvimento da Povoação Emas registrado na primeira metade do século XX somente se desencadeou após a instalação da Usina de Araújo Rique, que passou a comprar INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 todo o algodão produzido na região, empregando uma significativa quantidade de pessoas, e, indiretamente, beneficiando um número ainda maior, vendendo a fibra descaroçada para Patos e Pombal. Dessa empresa, posteriormente, o senhor Nestor Pereira de Morais, que foi vice-prefeito e nessa condição administrou o município de Emas interinamente, tornou-se um de seus sócios. Com parte integrante do município de Piancó, a povoação de Emas figurou até 1959 quando passou a pertencer ao território do recém-criado município de Catingueira. No entanto, naquela época, Emas possui um desenvolvimento semelhante ao apresentado por Santa Terezinha e Condado, que tornaram-se municípios em 1961. E, isto fez com que despertasse na população local o - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 28 desejo de também se emancipar politicamente. A população começou a mobilizar-se, sob a coordenação dos senhores Aprígio Alves Pereira e Edivaldo Miranda, que encontraram no deputado Antônio Leite Montenegro, o apoio necessário para, inicialmente, transformar a povoação em distrito, e, posteriormente, em cidade. Ainda em finais de 1961, o referido deputado apresentou no plenário da Assembleia Legislativa o projeto, que convertido em lei, elevou a povoação de Emas à categoria de distrito. A referida Lei tem o seguinte teor: LEI Nº 2.767, de 15 de janeiro de 1962 Cria no município de Catingueira o distrito judiciário de Emas e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DA PARAÍBA: Faço saber que o Poder Legislativo decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica criado no Município de Catingueira o distrito Judiciário de Emas, com sede no povoado de igual nome o qual será elevado à categoria de Vila. Art. 2º - Os limites da Unidade judiciária acima instituída serão os mesmos já especificados na lei que o considerou distrito policial. Art. 3º - É criado no distrito judiciário de Emas um Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, o qual será regido pela Lei de Organização Judiciária e demais legislações em vigor. Art. 4º Esta Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Palácio do Governo do Estado da Paraíba, em João Pessoa, 15 de janeiro de 1962, 73º da Proclamação da República. Pedro Gondim Governador A elevação à categoria de vila foi a primeira conquista do movimento próemancipação de Emas. Ainda em meados de 1963, o deputado Antônio Leite Montenegro, atendendo novamente as reivindicações de seus correligionários Aprígio Alves Pereira e Edivaldo Miranda, apresentou ao plenário do Legislativo Estadual, o projeto de lei que propôs a criação do município de Emas. Após tramitar na Comissão de Justiça, o referido projeto foi posto em votação e aprovado com distinção. Encaminhado ao Executivo Estadual, foi sancionado, transformando-se na Lei nº 3.115, de 28 de novembro de 1963, cujo teor é o seguinte: LEI Nº 3.115, de 28 novembro de 1963 Cria o Município de Emas e dá outras providências. O GOVERNADOR DO ESTADO DA PARAÍBA Faço saber que o Poder Legislativo decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica criado o Município de Emas, desmembrado do Município de Catingueira, tendo por sede, a vila do mesmo nome, que passará à categoria de cidade. Parágrafo único – O Município de Emas é constituído pelo território do distrito de igual denominação, com os mesmo limiteis estabelecidos na Lei que fixa a Divisão Administrativa do Estado. Art. 2º - Enquanto não se verificarem as eleições para Prefeito, Vice- prefeito e Vereadores, o Poder Executivo do novo Município será exercício por um Prefeito INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 29 nomeado pelo Governador do Estado, o qual, além das atribuições previstas em Lei, poderá elaborar o Orçamento e expedir decretos-leis 'ad-referendum' da Câmara Municipal. Art. 3º - As eleições para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores realizar- se-ão em data designada pelo Tribunal Regional Eleitoral, de acordo com a Legislação em vigor. Parágrafo único – Será de sete (7) o número de Vereadores à Câmara Municipal do Município criado. Art. 4º - Fica extinto o Sub-comissariado de Polícia do Município ora criado, com os respectivos suplentes, na forma da Lei vigente. Art. 5º - Para ocorrer às despesas com a execução da presente Lei, fica o Poder Executivo autorizado a abrir o crédito especial de CR$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros). Art. 6º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Palácio do Governo do Estado da Paraíba, em João pessoa, 28 de novembro de 1963; 75º da Proclamação da República. Pedro Gondim Governador Fig. 33 - Pedro Gondim, quando ocupava o governo do Estado da Paraíba, sancionou que elevou o distrito de Emas à categoria de cidade. Cassado pelo AI-5, foi um dos políticos paraibanos que teve uma trajetória ascendente e digna de registro. Assim, em 28 de novembro de 1963, Paraíba o município de Emas, cuja emancipação surgiu no cenário político-administrativo da política foi fruto da mobilização popular, INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 30 coordenada pelos senhores Aprígio Alves Pereira e Edivaldo Miranda, e, que contou com . o apoio do deputado Antônio Leite Montenegro Fig. 34 - Dr. Antônio Montenegro, autor do projeto na Assembleia, que elevou o distrito de Emas à categoria de cidade. Homem identificadíssimo como os problemas de sua região, o Dr. Antônio Leite Montenegro nasceu em Piancó. Diplomado em Odontologia pela Faculdade de Recife, exerceu a profissão por um curto espaço de tempo, ingressando logo na política. Em 1934, foi nomeado prefeito de sua cidade natal, cargo que também ocupou em 1937, 1940 e 1946. Com o processo de reconstitucionalização iniciado INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 nesse último ano, elegeu-se prefeito de sua cidade, tornando-se o primeiro dirigente local eleito após o Golpe de Estado de 1937. No entanto, não chegou a concluir o referido mandato. Em 1950, afastou-se do cargo de prefeito após ser eleito deputado estadual. Parlamentar atuante, reelegeu-se nos pleitos de 1954, 1958 e 1962. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 31 Em 1966, logrou uma primeira suplência e em 1969, retornou à prefeitura municipal de Piancó, para cumprir um outro mandato. Liderança nata, concluindo seu mandato de prefeito retornou à Assembleia Legislativa, após obter 10.044 votos nas eleições de 15 de novembro de 1974, pela antiga ARENA, tendo sido reeleito no pleito seguinte, permanecendo naquela Casa Legislativa até 1983. Criado o município de Emas, sua instalação oficial ocorreu no dia 25 de dezembro de 1963, oportunidade em que o senhor Edivaldo Miranda assumiu os destinos administrativos do novel município, após ser nomeado por ato assinado pelo governador Pedro Gondim. Sempre defensor dos interesses de sua terra, Edivaldo Miranda organizou a administração, estruturou a prefeitura e dotou o município de personalidade jurídica. Marcadas as eleições na forma da lei em vigor, os primeiros postulantes ao cargo de prefeito foram os senhores Aprígio Alves Pereira e Capitulino Leite Loureiro, filiados, respectivamente, ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e ao Partido Social Democrático (PSD), elegendo-se o primeiro, que contava com o apoio do deputado estadual Antônio Leite Montenegro, também do PTB. Naquela época, os vice-prefeitos eram votados em chapas separadas. Pelo PTB, disputou o senhor Edgar Remígio Gomes, e, pelo PSD, José Amaro de Araújo, que foi o eleito. O segundo prefeito eleito no município de Emas foi Irineu Teódulo da Silva, que no passado, havia sido vereador, vice-prefeito e prefeito, no município de Piancó, tendo, inclusive, ocupado uma cadeira na Assembleia Legislativa, na condição de suplente, durante a legislatura de 1955 a 1959, em substituição ao deputado Antônio D'Ávila Lins, ambos do Partido Republicano. É oportuno registrar que os Poderes Executivo e Legislativo do Município de Emas, até o presente, teve os seguintes representantes: Prefeito nomeado: Edivaldo Miranda: 19631964 1º Prefeito eleito: Aprígio Alves Pereira PTB Vice-prefeito: José Amaro de Araújo - PSD Período: 1964-1969 Poder Legislativo: - Antônio Borges Filho - PSD - Raul Loureiro Lopes - PSD - José Veras de Souza - PSD - Genésio José Diniz - PTB - Antônio Gomes Sobrinho - PTB - Manuel Nunes Sobrinho - PSD - Jaime Alves de Araújo - PSD Fig. 35 -Edivaldo Miranda INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 32 Fig. 36 - Aprígio Alves Pereira Fig. 38 - Nestor Pereira 2º Prefeito: Irineu Teódulo da Silva (ARENA) Vice Prefeito: Nestor Pereira de Morais Período: 1969-1972 Poder Legislativo: - Genésio José Diniz - ARENA Manoel Dias Neto - ARENA - Geraldo Macedo - MDB - José Noel - MDB - Francisco Caripuna - ARENA1 - Angelita Pereira de Sousa - ARENA - Hilda Palmeira dos Santos - ARENA1 Irineu Teódulo administrou o município de Emas de 31 de janeiro de 1969 a 01 de abril de 1971, quando assumiu seu vice, o senhor Nestor Pereira de Morais, que permaneceu à frente da administração do município até 27 de julho de 1972, oportunidade em que assumiu a senhora Angelita Pereira de Sousa, que na condição de Presidente da Câmara dos Vereadores, governou até 31 de janeiro de 1973. 3º Prefeito: Aprígio Alves Pereira ARENA 1 Vice-prefeito: José Veras de Sousa Período: 31-01-1973 a 31-01-1977 Poder legislativo - Nilton Nunes Rodrigues - ARENA - José Lopes da Silva Neto - ARENA - Luiz de Morais de Medeiros - MDB - Luiz Alves Pereira - ARENA - Gervázio Gomes Batista - ARENA - Severino Martins da Silva - ARENA - Otília Veras de Sousa – MDB Fig. 37 - Irineu Teódulo INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 33 Fig. 39 - Angelita Pereira Fig. 41 - Antônio Leite Loureiro 5º Prefeito: Marcos José Parente Miranda – PDS 1 Vice-prefeito: Otília Veras de Sousa Período: 31/01/1983 a 01/01/1989 Fig. 40 - Aprígio Alves Pereira 4º Prefeito: Antônio Leite Loureiro ARENA 1 Vice Prefeito: José Veras de Souza Período: 31/01/1977 a 31/01/1983 Poder legislativo: - Otília Veras de Sousa - MDB - José Gomes de Melo - ARENA - Manoel Leite - ARENA - Severino Martins da Silva - ARENA - Osvaldo Barbosa de Lima - ARENA - Maria Dias - ARENA - Gervázio Gomes Batista - ARENA - Luiz de Morais de Medeiros - MDB INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Fig. 42 - Dr. Marcos Parente Poder Legislativo: - Antônio Pereira Neto - PDS - Aloísio Gomes de Lima - PDS - Manuel Nunes Sobrinho – PDS - Osvaldo Barbosa de Lima - PDS - Eraldo Morais - PDS - José Alves Cavalcante - PDS - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 34 - José Veras de Souza – PDS 6º Prefeito: João Cartaxo Loureiro - PL Vice Prefeito: Manuel Nunes Sobrinho Período: 01/01/1989 a 01/01/1993 Poder Legislativo: - Eraldo Morais - PDT - João Hércules Bezerra Gomes – PMDB - Aloísio Gomes de Lima - PDT - Francisco Lima Gomes - PMDB - José Romeu da Silva - PDT - Marcos Antônio Sedrim Parente - PMDB - Alberto Gomes Batista - PPB 9º Prefeito José William Madruga (Dr. Zezinho) Coligação PPB/PFL/PMDB/PSDB Vice-prefeito: Francisco Gomes Ferreira Fig. 43 - Dr. João Cartaxo Loureiro Poder Legislativo: - Antônio Pereira Neto - PL - Aloísio Gomes de Lima - Osvaldo Barbosa de Lima - PL - Maria Nunes Trindade - PL - Eraldo Morais - PL - José Gomes de Melo - PMDB - Francisco Lima Gomes - PL - José Veras de Souza - PMDB - Manoel Batista Neto – PL 7º Prefeito: Antônio Leite Loureiro - PDS Período: 01/01/1993 a 01/01/1997 Poder Legislativo: - Aloísio Gomes de Lima - PDS - Manoel Leite - PDS - Francisco Lima Gomes - PDT - Maria Nunes Trindade - PDS - Edilson Cesar Souza Loureiro - PDS - Osvaldo Barbosa de Lima - PDS - Eraldo Morais Carneiro - PDS - José Gomes de Melo - PMDB - José Veras de Souza - PMDB 8º Prefeito: João Cartaxo Loureiro - PDT Vice Prefeito: Manoel Martins de Souza Período: 01/01/1997 a 01/01/2001 INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Fig. 46 - Dr. José Madruga Período: 01/01/2001 a 01/01/2005 Poder Legislativo: - Alexandre Loureiro PSDB/PMDB/PPB/PFL - Alberto Gomes Batista PSDB/PMDB/PPB/PFL - Antônio Pereira Neto PSDB/PMDB/PPB/PFL - Aloísio Gomes - PDT/PPS - Maria Nunes Trindade - PFL - Manoel Leite - PDT - Francisco Lima Gomes PSDB/PMDB/PPB/PFL - Marcos Antônio Sedrim Parente PSDB/PMDB/PPB/PFL - Eraldo Morais - PDT/PPS - José Romeu da Silva - PDT/PPS - Maria N. Trindade - PSDB/PMDB/PPB - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 35 10º Prefeito José Wiliam Madruga (Dr. Zezinho) Vice-prefeito: Porfírio Catão Cartaxo Loureiro Período: 01/01/2005 a 01/01/2009 Poder Legislativo:- Conceição Patrícia Loureiro Souza - PTB/PSDB João Batista Ferreira Araújo PL/PP/PMDB/PT/PPS - Orlando Dantas - PTB/PSDB Nilton Nunes Rodrigues PL/PP/PMDB/PT/PPS - Aloísio Gomes de Lima - PTB/PSDB Pedro Alves de Maria PL/PP/PMDB/PT/PPS - José Gomes Filho - PL/PP/PMDB/PT/PPS Maria Nunes Trindade PL/PP/PMDB/PT/PPS Antônio Pereira Neto PL/PP/PMDB/PT/PPS 11º Prefeito Drª Fernanda Maria Marinho de Medeiros Loureiro Coligação PSDB/PRB/PR Vice-prefeito: Paulo Gildo INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 Fig. 47 – Dra. Fernanda Maria Período: Empossados em 1º/01/2009 deverá administrar o município até 31/12/2012 Poder Legislativo: - Conceição Patrícia Loureiro Souza PR/PSDB/PRB - Simão Pedro da Costa - PMDB/PT - José Gomes Filho - PMDB/PT - Aloísio Gomes de Lima - PR/PSDB/PRB - Pedro Alves de Maria - PR/PSDB/PRB - João Batista Ferreira Araújo - PR/PSDB/PRB - Luiza Silvestre Ferreira Pontes - PMDB/PT - Djacir Nunes de Farias - PMDB/PT - Orlando Dantas de Sousa - PMDB/PT Iniciada em 1º de janeiro de 2009, a atual administração vem se destacando por seu apoio ao social e à agricultura familiar no município. Diplomada em Odontologia pela Universidade Federal da Paraíba, Campus João Pessoa, a Drª Fernanda Maria Marinho de Medeiros Loureiro é especialista em Endodontia, pela Universidade Centro Sul (UNICSUL) e mantém seu consultório odontológico na cidade de Patos, há mais de vinte anos, com uma grande clientela. Filha do casal José Cândido de Medeiros Netos e Maria Marinho de Medeiros, a Dra. Fernanda é casada com o agropecuarista Alexandre Loureiro, filho do ex- prefeito Antônio Loureiro, considerado uma das maiores liderança política que o município de Emas já teve. Extremamente preocupada com os problemas de seu povo, a atual prefeita vem desenvolvendo esforços no sentido de tornar o município de Emas produtivo, objetivando proporcionar à população local uma melhor condição de vida. Por isso, elegeu como carro chefe de sua administração, a agricultura familiar, partindo da premissa de que num município com um grande potencial agrícola a exemplo do que Emas apresenta, é inadmissível a sua produção agrícola ser tão pequena. - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 36 Fig. 48 - Drª Fernanda Maria Loureiro no ato de sua posse Assim, aproveitando o potencial do 'Vale das Águas', o município de Emas em parceria com Catingueira e Olho D'Água, vem desenvolvendo o primeiro projeto coletivo de agricultura familiar em todo o sertão paraibano, iniciativa esta que em pouco tempo já se tornou uma referência no Estado. E, os frutos dessa ação - que possui menos de um ano - já são visíveis. Até o presente, todos os açudes de Emas já foram beneficiados com o projeto de peixamento e os piscicultores locais estão aguardando a distribuição dos primeiros tanques de redes, para ampliarem e modernizarem a criação de peixes no município. Dentro mesmo contexto, a atual administração vem desenvolvendo esforço para no próximo mês de dezembro/2011, realizar no município a 'I Feira da Agricultura Familiar', oportunidade em que fará a entrega de uma barraca metálica a cada um dos agricultores devidamente cadastrados no programa. Através da organização das associações rurais, o município também vem estimulando o desenvolvimento da apicultura, por entender que a mesma é uma alternativa econômica, que pode ser desenvolvida paralelamente as outras INTESA (Pombal - PB - Brasil v. 8, n. 1, p. 01-39, jan.-dez., 2014 atividades, pelos grupos familiares que se dedicam à agricultura. Consciente do potencial turístico que o município de Emas possui, a atual administração vem promovendo a identificação de todos os atrativos naturais e sítios arqueológicos existentes em seu território, visando à elaboração do Plano Turístico Municipal e objetivando inserir Emas no 'Roteiro Turístico do Vale das Águas', visto que o referido município apresenta um potencial tão importante quanto os municípios que até agora vêm sendo beneficiados com o referido projeto. Em seu discurso de posse, a Dra. Fernanda Loureiro afirmou: "quero trabalhar pelo povo de Emas, sem fazer distinção e jamais desprezarei as necessidades das pessoas de minha cidade por razões partidárias. Eleita pela maioria, sou prefeita de todos e governarei para o povo, auxiliando na superação de seus problemas, de suas dificuldades, tornando o nosso município mais produtivo, para que todos nós possamos ter uma vida digna e com qualidade". Hoje, o discurso de campanha é visto na prática. 3 Referências - ISSN: 2317-305X p://revista.gvaa.org.br 37 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O feudo: a Casa da Torre de Garcia d'Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. BORGES, José Elias. Indígenas da Paraíba: Classificação preliminar (I). Revista Cultura, n. 5, mar., 1985. CARVALHO, Maria Gelza Rocha Fernandes de; TRAVASSOS, Maria do Socorro Barbosa; MACIEL, Valdenora da Silva. Relevo e hidrografia da Paraíba. In: RODRIGUEZ, Janete Lins. Atlas escolar da Paraíba. 3 ed. João Pessoa: Grafset, 2002. CAVALCANTI, Francisco Pereira; CAVALCANTI, Franciraldo Loureiro. Memorial das famílias Pereira Cavalcanti e Lopes Loureiro. João Pessoa: UNIPÊ, 2006. MARIZ, Celso. Cidade e homens. 2 ed. João Pessoa: A União, 1985. MASCARENHAS, João de Castro et al. 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