Imprensa e conflito: narrativas de uma geografia violentada
Autor(es):
Resende, Fernando
Publicado por:
Imprensa da Universidade de Coimbra
URL
persistente:
URI:http://hdl.handle.net/10316.2/41345
DOI:
DOI:https://doi.org/10.14195/978-989-26-1324-6_4
Accessed :
7-Jul-2020 10:05:19
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NARRATIVA
E MEDIA
GÉNEROS, FIGURAS E CONTEXTOS
ANA TERESA PEIXINHO
BRUNO ARAÚJO
EDITORES E ORGANIZADORES
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
COIMBRA UNIVERSITY PRESS
IMPRENSA E CONFLITO:
NARRATIVAS DE UMA GEOGRAFIA VIOLENTADA
Fernando Resende
Permanece uma questão cuja resposta procuro: que
forma de narrativa nos aproximará do homem?
Michel Serres
A Palestina como desafio
“Julho de 2015. Ataque terrorista em Duma, uma vila situada na
região nordeste de West Bank, na Palestina. Um bebê é assassinado,
queimado vivo, suspeita-se, por líderes da extrema direita em Israel.
Julho de 2014. Uma guerra na já sitiada Gaza, em 50 dias, «matou
2.251 palestinos (1.462 civis) e 72 israelenses (seis civis)”33. Pelo menos desde o início do século passado, a Palestina é um território que
vive um intermitente processo de apagamento e desaparecimento34.
Cuenca, J.P. “Um ano após guerra, Faixa de Gaza se torna prisão dentro de prisão”.
(Folha de São Paulo, 25/07/2015) Em http://app.folha.uol.com.br/#noticia/576889
(acesso julho/2015)
33
O Estado de Israel foi proclamado em maio de 1948, fato que para os palestinos
passou a receber o nome de Nakba, que em árabe significa a grande catástrofe, pois
é o ano que marca o princípio da tragédia que se abateu sobre o povo palestino.
34
105
DOI | https://doi.org/10.14195/978-989-26-1324-6_4
Invadida e ocupada por judeus sionistas, que primeiro contaram
com o apoio do Império Britânico, ela é hoje uma nação destroçada
por uma política de invasão territorial e por forças bélicas incomensuráveis por parte do Estado de Israel. A pergunta sobre o que é a
Palestina, enquanto nação, é uma constante tanto entre os que foram
(e ainda são) obrigados a abandoná-la como entre os que lá vivem,
impedidos de se locomoverem no próprio território. Edward Said
nos apresenta a dúvida que toma uma nação inteira: “Quando nos
tornamos ‘um povo’? Quando deixamos de ser? Ou será que estamos
ainda no processo de nos tornarmos? O que essas grandes questões
têm a ver com nossas íntimas relações, entre nós e com os outros?»35
O conflito vivido pelo (e no) território palestino, que acontece
pelo menos desde o início do século XX, vem sedimentando marcas por vezes difíceis de serem escavadas. Muitas vezes, por tecer a
intriga com vistas a um sem-fim de dados, números e pesquisas, as
narrativas da imprensa comportam conteúdos simplificadores que
nada mais fazem além de informar – quando assim o fazem – acerca
daquele acontecimento. E por este motivo, dentre os vários desafios
com os quais a imprensa internacional diariamente se confronta,
talvez hoje possamos pensar que narrar aquele território em conflito
seja o exemplo maior.
As narrativas da imprensa, de modo geral, quase sempre fragmentadas, desprendidas umas das outras, narram os fatos como se
eles fossem desprovidos de contextos, deixando que nelas prevaleçam as dicotomias e os binarismos. Devedor de uma referência ao
real, o discurso da imprensa prima pela pressuposição de poder
oferecer uma representação do mundo que seja verdadeira, objetiva e imparcial. Um pressuposto respaldado por uma perspetiva
histórica e teórica de cunho tecnicista que, entre outros aspetos,
35
No original: “When did we become ‘a people’? When did we stop being one?
Or are we in the process of becoming one? What do these big questions have to do
with our intimate relationships with each other and with others?” (Said, 1986:34).
106
foi também legitimado pela hegemonia de um pensamento dito
“científico” e a consolidação de uma racionalidade dita “instrumental» 36 .
Assim, uma das perguntas que acompanha esta reflexão – como
pensar a imprensa tendo o território palestino como desafio? – parece crucial para nos fazer entender a demanda pela sustentação de
outras abordagens teóricas e práticas que coloquem em questão o
próprio jornalismo. Como uma das possíveis instâncias de enunciação midiática, no mundo atual, cabe pensar a imprensa para além
da sua função primeira, que é transmitir informação? A partir desta
indagação, esta reflexão assume a representação e a linguagem como
aspectos centrais para a problematização de um jornalismo pautado
por um paradigma relacional (Marcos, 2007). Um caminho que parece
imprescindível, caso levemos adiante o pressuposto de entender o
jornalismo a partir da narrativa.
Como procedimento conceitual, mais até do que um recurso analítico, a narrativa é assim um dos aspectos centrais desta discussão.
Tomá-la como um problema demanda assumir posturas epistemológicas que, inevitavelmente, colocam em questão os modos de compreender o jornalismo (Resende, 2011). Como uma instância de enunciação
na qual se deflagram lutas e relações de poder, o jornalismo é aqui
entendido como uma prática cultural-discursiva, sujeita a alterações
no tempo/espaço em que acontece. O que nele há de fixo são suas
regras discursivas, estratégias e técnicas que visam à referencialidade do fato que narra. Sob a perspetiva da narrativa, porém, o que
se instala é um paradoxo: a organização do caos cotidiano – tarefa
que é premente ao exercício do jornalismo – não é garantia de uma
representação fidedigna.
Em Resende (2008), resenha do livro organizado por Benetti & Lago (2007), procuro
fazer uma reflexão sobre as condições em que se assentam algumas das epistemologias e metodologias fundantes no campo do jornalismo, processo que nos ajuda a
entender os esforços do campo em se haver com as contradições entre as perspectivas
dominantes e outras relacionadas às problemáticas da linguagem.
36
107
Quando se entende a narrativa como lugar de ordem e desordem
(Ricoeur, 2010), o que se nota, nas páginas do jornal, são desarranjos
e faltas. Certeau nos leva a melhor compreender essa perspetiva ao
dizer do relato como espaço criador de delimitações e mobilidades.
Diz o autor: “o relato não se cansa de colocar fronteiras” e, ao mesmo
tempo, deixar transparecer proximidades traçadas “pelos pontos de
encontro entre as apropriações progressivas (...) e os deslocamentos sucessivos (...) dos actantes” (2000: 212-213). Assim, pensar a
imprensa a partir da narrativa – esta reflexão sugere – é admitir o
conflito como lhe sendo absolutamente constitutivo; dado que se
deve buscar reconhecer na narrativa, ou seja, no espaço em que o
acontecimento é configurado.
Tendo o território em questão como desafio e a narrativa como
um problema, este artigo pretende muito menos se deter a uma
crítica sobre os reducionismos a que está submetido o discurso da
imprensa do que contribuir para uma reflexão acerca da potência
da narrativa, diante, particularmente, das complexidades que regem
os conflitos de longa duração. Seu objetivo principal é lançar um
olhar que indague acerca dos modos de apresentar e representar o
conflito Israel/Palestina. Se no espaço da mídia encontramos “imagens, impactos emocionais de acontecimentos, tão intensos quanto
breves”, que, de acordo com Matos, só nos fazem “[oscilar] entre a
indignação e a compaixão” (2006, 23), não há de se negar que nele
também notamos o uso de distintos modos narrativos que chamam
atenção para outras possíveis leituras sobre o conflito.
Por esta razão, uma outra pergunta – como tem sido / pode ser
narrado o conflito Israel/Palestina? – também nos parece relevante. Ela pode nos fazer compreender quão complexo são os modos
de inserção dos sujeitos e dos poderes que se configuram neste
território que, antes de tudo, é uma geografia violentada. São infindáveis as tramas que tecem um território no qual a articulação de
poderes políticos e econômicos – o Estado de Israel e seus aliados
108
– se amalgamam a dinâmicas culturais e religiosas, para dizermos
o mínimo em relação aos imaginários que convergem, por exemplo,
na cidade de Jerusalém. Falamos, portanto, de várias camadas de
narrativas, desejos e poderes que se inscrevem e se instalam, há
séculos, em uma geografia que se encontra exaurida.
Exhausted geography – conceito de Irit Rogoff (2000) – é fundamental para a reflexão que este artigo propõe. Ao discutir geografia,
espaço e formas de engendramento do conhecimento em territórios
que vivem conflitos de longa duração, particularmente os que envolvem a região do Oriente Médio, esta autora reconhece o esgotamento
dos recursos epistemológicos e analíticos que até então têm amparado
as explicações e reflexões sobre os conflitos. Uma geografia exaurida
impõe outros modos de apreensão dos sentidos, outras narrativas, a
respeito da vida e da luta que nela se trava.
Assim, reconhecer os modos que o território palestino e seus
sujeitos se inscrevem no cenário global contemporâneo é, da mesma forma, muito importante; trata-se de um gesto que nos ajuda a
colocar em cena (e em questão) as complexidades inscritas naquele
espaço. Nessa geografia violentada, onde quem é dono da terra não
pode nela viver, encontram-se sujeitos que carregam experiências
identitárias pluri-geográficas e que vivem, ao mesmo tempo, uma
ideia de nação que só existe em forma de apagamento (Said, 2011).
Nesse lugar, cultura e política se amalgam de tal modo que se torna
imprescindível um olhar crítico e uma abordagem teórico-analítica
que reconheçam modos de existir como sendo também modos de
resistir (Tawil-Souri, 2012).
As camadas de estereótipos e os binarismos que hoje dão forma
a este território precisam ser constantemente escavados, debatidos
e confrontados. Nesse sentido, a narrativa, através da imprensa e de
vários outros sistemas de representação, tem um papel crucial, ela
pode ajudar a desvelar os desdobramentos e as contradições que
o conflito produz, fazendo-nos ver os conflitos dentro do conflito,
109
gerando, em nós, talvez, saberes e experiências mais complexos, algo
maior do que simples indignação ou compaixão. Além disso, produzir narrativa é um gesto estético de produção de cultura, o que no
caso da Palestina é de caráter eminentemente político (Tawil-Souri,
2012). E é neste lugar que o olhar lançado neste artigo assume uma
dimensão política e estética, instâncias absolutamente amalgamadas
no mundo que hoje conhecemos (Rancière, 2005).
A imprensa hoje: representação e linguagem como problemas
Bruno Latour, ao problematizar a producão de conhecimento no
mundo que chamamos “moderno”, faz do jornal uma metáfora instigante. Para este autor, ao se esforçar para dar ordem às nossas experiências
no mundo da vida, o jornal materializa – ou serve como exemplo para
se pensar – uma certa crise no processo de produção de conhecimento.
Entre a proliferação de híbridos – somos todos um misto de natureza
e cultura – e o trabalho de eliminação desses híbridos – o esforço de
assepsia com o qual lida, de modo geral, o processo de produção de
conhecimento –, o autor nos interpela a todos: “Se a leitura do jornal
diário é a reza do homem moderno, quão estranho é o homem que
hoje reza lendo estes assuntos confusos” (2009: 8).
O trabalho de separar para organizar – gesto que, para além do
jornal e do jornalismo, é próprio do pensamento moderno – está
diretamente ligado ao esforço de eliminação dos híbridos; uma atitude que operacionaliza conhecimentos distanciados do mundo que
experimentamos. É nesse sentido que os saberes, tal qual os assuntos, se apresentam confusos, pois para Latour, no próprio espaço do
jornal, como também o é no mundo da vida, “toda a cultura e toda
a natureza são diariamente reviradas [...]” (2009: 8).
É assim que, para este autor, fatos, poder e discurso – que diretamente nos remetem ao real, ao social e ao narrado – só se apresentam
110
como separáveis à luz de disciplinas e procedimentos metodológicos
que visam à explicação e à organização dos hibridismos. Fazendo
referência aos assuntos geralmente abordados no jornal, Latour nos
lembra:
O buraco de ozônio é por demais social e por demais narrado
para ser realmente natural; as estratégias das firmas e dos
chefes de Estado, demasiado cheias de reações químicas
para serem reduzidas ao poder e ao interesse; o discurso da
ecosfera, por demais real e social para ser reduzido a efeitos
de sentido (2009: 12).
Tal problematização dá lugar a uma longa e densa reflexão sobre
nossos modos de pensar, estar e narrar (n)o mundo. E é por este
viés que o território palestino se apresenta como um desafio para
a imprensa. Como separar os interesses econômicos e políticos
dos imaginários coletivos e desejos que habitam um território em
disputa? Como reportar a invasão e a ocupação da Palestina frente
à certeza – ou ao uso do discurso religioso – de ser este gesto nada
mais do que uma “volta à Terra Prometida”? Como dar a ver o conflito na complexidade que ele se apresenta diante das demandas
de objetividade e tempo que regem o discurso jornalístico? Trata-se
de perguntas que, em relação à imprensa, nos levam diretamente
ao problema da representação.
Em “Falar para as massas, falar com o outro: valores e desafios
do jornalismo” (in: França e Corrêa, 2012: 153-165), busco problematizar a imprensa, pensando-a na atualidade como mais um lugar
possível de enunciação acerca do acontecimento. A partir de questões levantadas pela cobertura do conflito Israel/Palestina feita pelo
repórter-quadrinista Joe Sacco37, e diante de tantos outros relatos
37
Ver particularmente Sacco, 2000, 2005,2010.
111
a que temos acesso a partir do próprio avanço tecnológico, é colocada em questão a condição de o jornalismo ser uma instância de
enunciação midiática cujos valores legitimados, busco argumentar,
sempre seguiram uma lógica externa às problemáticas da linguagem.
Por este viés, ao balizar dois conjuntos de experiências distintos
– quadros histórico-culturais –, busco apresentar desafios que nos
permitem considerar os modos de encenação da notícia (o lugar
próprio da representação) como lugares possíveis de onde emerge
uma diversidade de sentidos que viabiliza um processo de ressignificação de valores do/para o jornalismo. O primeiro deles, tomado
por uma concepção do que seria falar para uma suposta massa é
pautado pelo que podemos chamar de “paradigma informacional”.
No que se refere ao seu projeto enunciativo, este quadro coloca para
o jornalismo um problema exclusivo: transmitir o que ele define como
informação. O falar para é o propósito de referência deste quadro
histórico-cultural que experimentamos, muito particularmente, até
os anos finais do século XX.
Uma das características deste quadro, por exemplo, está na imprensa que particularmente se voltou para os princípios da objetividade, dando a esta proposição técnica um caráter ideológico no
âmbito da profissão. Nas palavras de Schudson, “com a ideologia
da objetividade, os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras e procedimentos criados para um
mundo no qual até os fatos eram postos em dúvida” (2001: 122).
Esta imprensa, ao sustentar estratégias, epistemologias e técnicas,
produziu um modo de falar que contribuiu para que ela própria se
legitimasse como detentora de saber sobre os modos de produção
do acontecimento.
Pensando a partir da narrativa e do problema da enunciação, os
recursos estratégicos e técnicos (a objetividade e o uso de aspas,
por exemplo) ou epistemológicos (o saber produzido a partir de
um suposto distanciamento por parte de quem narra), exatamente
112
porque produzem um modo de falar no jornalismo, foram (e têm
sido) cruciais para sustentá-lo no seu lugar de legítimo enunciador de uma verdade. Foi assim que a estratégia da objetividade
(Tuchman, 1999), transformada em componente ideológico, tornou-se crucial para fazer da linguagem um problema aparentemente
resolvido.
Já o segundo conjunto de experiências a que me refiro recoloca
em outros termos, para o campo e a prática do jornalismo, a problemática da linguagem. Caso pudéssemos definir cronologicamente
o seu momento de instalação, diríamos que ele «nasce» primordialmente com / e a partir (d)o avanço tecnológico que torna possível a
complexificação e o aumento das produções narrativas. Exatamente
o mesmo que faz com que a questão da representação, enquanto
problema do jornalismo, seja compreendida como um tiro saído
pela culatra: o próprio avanço tecnológico e as demandas pela representatividade produzem múltiplos fazeres e narrares, tornando
minimamente desejável a ideia de que a comunicação e, certamente,
o jornalismo sejam espaços nos quais possam coexistir sujeitos em
relação (França, 2006).
Se no quadro anterior, compreendia-se representação como resultado de uma cópia da realidade, ou uma mímese, no sentido aristotélico
– um aspecto teórico bastante preciso para o jornalismo em questão,
pois o resguarda em sua função primordial de referencialidade e de
relação direta com a verdade do fato – no quadro histórico-cultural
que hoje experimentamos, entra em questão uma percepção mais
voltada para o reconhecimento de uma multiplicidade possível de
representações acerca do acontecimento. Na concepção de Rancière,
trata-se hoje de um outro regime no qual o estético é tomado como
referência, uma outra visão de mundo, menos submissa à “regulagem
representativa do visível e da palavra (…), à identificação do processo
de significação à construção da história” (2012: 133). Para este autor,
o regime atual, que ele chama de “estético», “abole a circunscrição
113
mimética que separava a razão das ficções da razão dos fatos, a esfera da representação de outras esferas da experiência” (2012: 133)38.
Por este viés, os dias atuais, para a imprensa, deflagram a premência de considerarmos a linguagem como um problema, e seu
reconhecimento implicaria pensar que não se trata mais de um falar
para, mas muito mais fortemente, da demanda por um falar com.
Em relação às diferenças que a Comunicação produz, e com as quais
ela precisa conviver, Marcos (2007) tece considerações importantes,
levando em conta o “relacional» como um desafio hoje “incontornável”. Para esta autora,
A dimensão relacional, tensional, simbólica e mediada da
experiência confere à Comunicação um lugar de princípio. No
âmbito epistemológico das Ciências da Comunicação, o modo
de ser do sujeito face ao mundo, aos outros e a si próprio
desenha um quadro de reflexão incontornável. Incontornável
porque instável, sem contornos pré-definidos. Incontornável
porque indispensável, sem alternativa. (2010: 244)
É por este viés que nossa argumentação central gira em torno
do fato de que para o jornalismo, hoje, a problemática da representação assume um valor preponderante tanto em termos teóricos
quanto práticos; é neste conjunto de experiências e problemas que
o “como falar com” se torna uma pergunta essencial.
38
Rancière (2012) toma a arte, no sentido amplo, como parâmetro para pensar o
que ele chama de diferença entre o “regime representativo” e o “regime estético”.
É preciso levar em conta este fato ao fazermos a passagem da reflexão deste filósofo
para os problemas da imprensa e do jornalismo. Este aspecto, entretanto, não deve
inviabilizar a transposição dos problemas de um dito sistema para outro. O que Rancière faz notar em relação à representação e aos sistemas que produzem linguagem
no mundo atual é amplo o bastante para nos apoiar na crítica que busco fazer em
relação à imprensa. Para Rancière, antes de tudo, representação é um problema de
linguagem, o que no âmbito desta reflexão nos é crucial.
114
Sob essa perspetiva, as problemáticas referentes a um falar com o
outro, no âmbito da imprensa, fazem parte de um quadro abrangente
no qual, em diversos campos e saberes, práticas e conhecimentos
são reavaliados. São outros valores e desafios que entram em cena,
dada a própria condição de ser o jornalismo uma prática sócio-cultural que, inevitavelmente, sofre alterações ao longo do tempo. Nesse
sentido, coloca-se a problemática da representação no âmbito dos
discursos e das narrativas jornalísticas como parte de um jogo de
reconfiguração do saber, o que implica, necessariamente, a busca por
práticas e instrumentais teóricos e metodológicos que minimamente
deem conta das demandas atuais.
A crítica que, de modo geral, se faz à imprensa em relação às
coberturas simplistas e reducionistas precisa ser colocada nesses
termos. No quadro histórico-cultural que ora experimentamos, as
teorias e saberes que se fizeram hegemônicos, diante das mudanças
em curso, parecem ter se convertido em frágeis pilares. E é neste
conjunto de problemas que o olhar lançado ao jornalismo pelo viés
da narrativa adquire um papel proeminente. Trata-se antes de tudo
de pensá-lo pelo viés da linguagem – «o que acontece na narrativa é
a linguagem”, disse Barthes (1988: 115) – e, mais ainda, de considerá-lo parte de uma dimensão discursiva ampliada, já que a narrativa,
inevitavelmente, acolhe princípios que extrapolam as ordens dos
discursos (Ricoeur, 2005; Resende, 2011a).
Por este viés, assume-se a linguagem como base epistêmica para
pensar o jornalismo, colocando em cena a problemática da enunciação39. É a fala como gesto, se quisermos assim pensar, que é evocada
como um dos problemas centrais do que hoje conhecemos como
39
Para Michel de Certeau (2000), a “virada da modernidade” consiste em nos fazer
entender que, com a morte de Deus, cabe ao homem produzir a fala. Para este autor, este é o momento em que a problemática da enunciação se torna o problema
da comunicação.
115
jornalismo. Nesse sentido, parece-nos importante as considerações
de Mayra Gomes:
antes de registrar, informar, antes de ser colocado pelas
condições que o caracterizam, por exemplo, periodicidade,
universalidade, atualidade, difusão [...] o jornalismo é
ele próprio um fato de língua. Seu papel e sua função na
instituição social implica o de organizar discursivamente, o
que, aliás, é a prática jornalística por excelência (2008: 19).
Como prática social-discursiva, este jornalismo do qual falo, é
um «conjunto de problemas, orientações, intenções e dizeres que, de
forma inseparável, dá a ver o possível do mundo” (Resende, 2011:
128). Ele enuncia, representa e media outras práticas – culturais,
sociais, políticas, econômicas – inscritas no cotidiano. E somente
assim, ressignificado, se pode compreendê-lo a partir de suas narrativas, plenas de aprisionamentos e potencialidades. Pois são elas,
as narrativas, que nos interpelam a um olhar pela linguagem, o que
necessariamente excede o esforço da produção de uma técnica.
A Palestina no cenário global contemporâneo
Na introdução de Nação e Narração, Homi Bhabha reclama de
uma “perda” por não ter sido incluído no livro por ele organizado
um ensaio sobre aqueles “que ainda não encontraram a sua nação” (1990: 8). Os palestinos, para Bhabha, são esses cujas vozes
haveriam de estar “entre as imagens exorbitantes do espaço-nação
em sua dimensão transnacional” (1990: 08). Bhabha conclui sua
reflexão com as mesmas perguntas de Said (que lemos no início
deste artigo), fazendo-nos entender que ele não está somente lamentando a perda do que seria mais um capítulo do livro, mas,
116
fundamentalmente, constatando a dúvida sobre que tipo de nação
a Palestina é ou deixa de ser.
Além de a Palestina ser hoje uma fonte constante de notícias para
a imprensa e a TV, as narrativas sobre a Palestina e os palestinos
(produzidas por eles ou não) têm aumentado em número, e, por
conseguinte, se diversificado em termos de formas, vozes e suportes
comunicacionais. Entretanto, certamente desde quando Bhabha e
Said já discutiam os problemas daquele território, os conflitos vividos
pelos palestinos só têm se exacerbado.
Partindo de uma perspetiva histórica do conflito Israel/Palestina,
Rashid Khalid argumenta que “a dura tarefa dos palestinos para
cruzar fronteiras, limites e barreiras dentro e fora da sua própria
terra (…) não diminuiu” nos últimos 20 anos 40. Seja em relação à
progressiva perda do território, ao aumento no número de palestinos
sendo presos e assassinados ou ainda ao crescimento no número de
campos de refugiados na região, os séculos XX e XXI testemunham
um conflito dramático e sem fim no qual, não há dúvida, a Palestina
e os palestinos são o lado perdedor.
Na medida em que as políticas de ocupação do território recrudescem e são implementadas, os palestinos não têm outra opção senão
viver confinados ou abandonar sua terra. Intervenções políticas e
econômicas por parte de Israel, amparadas pelos Estados Unidos,
vários países europeus e alguns dos países árabes limitam o ir e vir
dos que ainda vivem na região. Além disso, o aumento dos problemas em relação às políticas de relações internacionais devido aos
conflitos internos – dos quais disputas entre o Fatah e o Hamas são
exemplos – são alguns dos problemas que tornam hoje ainda mais
complexa a questão da Palestina.
Tradução livre do original: “(…) the travails of Palestinians in crossing boundaries,
borders, and barriers within and without their homeland (…) have not diminished.”
In: Rashid, 2010: xxiv.
40
117
De uma perspetiva cultural, entretanto, nota-se também que desde
o final do século XX, o mundo tem experimentado uma mudança
significativa e um avanço tecnológico bastante singular no que se
refere à diversificação de aparelhos eletrônicos através dos quais as
histórias são contadas e disseminadas. Há ainda filmes, documentários e programas de TV, por exemplo, que também contam histórias
do conflito, muitas vezes, de forma diferenciada da que estamos
habituados a ler nas chamadas “mídias hegemônicas e tradicionais”.
Hoje, talvez mais que nunca, temos acesso a várias narrativas sobre
este conflito de formas distintas através dos mais diversos meios.
Longe de pensar que seja este o fim dos oligopólios das mídias
e ainda que todos os cidadãos têm o mesmo acesso à produção e à
leitura dessas narrativas, uma certa pulverização dessas histórias,
e portanto dos saberes sobre o conflito, não pode ser desconsiderada. Seja através de telefones móveis ou redes sociais, por
exemplo, com narrativas em primeira pessoa e informação vinda
direta do local do conf lito, partindo inclusive daqueles que o
experimentam no cotidiano, tais narrativas, para o bem e para o
mal, alteram a nossa compreensão do conflito propriamente dito
(Resende e Paes, 2011b).
Para entender a Palestina na sua contemporaneidade e nos seus
gestos de resistência, Tawil-Souri associa e contrapõe a ideia de
uma expansão midiática com a redução espacial do território palestino. Segundo a autora, este aspecto forma um relevante “campo
de contradições”, pois junto com “repressão, obstrução, controle,
vigília e silenciamentos”, é somente agora, desde os anos 90, que
“os palestinos que vivem nos Territórios Ocupados têm a ‘liberdade’
para produzir mídia”.41 A ênfase que a autora dá à palavra “liberdade» certamente chama atenção para o fato de que a produção de
Tradução livre do original: “repression, obstruction, control, surveillance and
silencing, it is since the 1990s that Palestinians in the Territories have (…) had the
‘freedom’ to create media”. Tawil-Souri, (2012: 145).
41
118
narrativa, principalmente nos Territórios Ocupados, ainda é uma
questão problemática. Porém, após a Nakba (1948), o que Tawil-Souri
reconhece é que este é um momento importante para os palestinos,
que, de muitas maneiras, vêm sendo capazes de contar as histórias
da sua luta e das suas vidas cotidianas.
Nesse sentido, nota-se o aumento da produção narrativa não somente no número elevado de festivais de cinema da Palestina, com
produções locais bastante expressivas, como também no enorme
volume de weblogs dedicados a discutir a questão palestina, além da
grande variedade de livros (literários e acadêmicos) e periódicos com
material publicado sobre e pelos palestinos. Ecoando Tawil-Souri,
contextualizar a Palestina no cenário global contemporâneo, contrastando este aumento dos produtos culturais com o acirramento e
a maior gravidade das questões políticas e econômicas efetivamente
enfatiza os signos de resistência que marcam as vidas dos palestinos.
Narrar – sugiro – é criar cultura, e este gesto, no caso da Palestina,
ainda de acordo com Tawil-Souri, é uma “forma de resistência política” (2012: 139).
Deste ponto de vista, abordar o problema da Palestina pelo viés
da narrativa não se configura tão-somente como um instrumento
metodológico, mas também, e principalmente, como um operador
conceitual que evidencia uma forma estética e política de criar resistências. Nos seus estudos sobre o tempo e a narrativa, Ricoeur
aponta nesta mesma direção ao nos fazer entender que a narrativa
é o espaço no qual a desordem se faz visível. Nas suas palavras, “a
tessitura da intriga nunca é o triunfo da ordem” (2010: 13). Ao contrário, a narrativa histórica ou ficcional é também o lugar em que o
humano experimenta as disjunções temporais, é onde e quando a
linearidade imaginada encontra os seus contrapontos. Para Ricoeur,
narrar é estar no mundo, um ato intrinsicamente humano, feito de
continuidades e rupturas. O que a narrativa faz, ele diz, é “tentar
colocar consonâncias onde só pode haver dissonâncias” (2010: 112).
119
Alguns palestinos estão hoje confinados em uma terra que é deles,
mas sobre a qual não têm direitos. Uns vivem em vilas constantemente
sitiadas e vigiadas, como em West Bank, Gaza e Jerusalém, alguns
em outras cidades em franco processo de apagamento, como Jaffa e
Haifa, e há ainda os que vivem exilados em outros países e/ou em
campos de refugiados. É assim que se constrói hoje a experiência de
ser palestino, ela é multi-geográfica. Não se trata somente de uma
questão de dispersão, mas, de uma maneira muito mais complexa, de
uma experiência de multi-localidades que se vive simultaneamente
com o sentimento de não caber em espaço algum.42
Diante de tamanha complexidade, a problematização da questão
da Palestina pelo viés da narrativa pode nos ser muito útil no processo de desvelamento das camadas de padrões hegemônicos que
geralmente encobrem as experiências e as vidas dos que habitam
aquele território. Narrar a Palestina é uma forma de representar o
seu problema, tornando-o vivo perante o outro; um gesto político
de intervenção nas dinâmicas sócio-culturais. Said corrobora dizendo que “o poder de narrar ou de impedir que outras narrativas se
formem e apareçam é muito importante para a articulação cultura/
imperialismo, constituindo uma das mais importantes conexões
entre eles”.43
Um elo político/estético, portanto, é o que se nota claramente
na produção de narrativas em torno de conflitos de natureza territorial, como é o caso do conflito Israel/Palestina. Matar & Harb, ao
discutirem conflito e narração no Oriente Médio, chamam atenção
para o fato de que “em nenhum outro lugar a disputa pela imaginação, construção e narração de conflito, assim como seus sentidos e
Considerações feitas por Tawil-Souri na Conferência “Palestinian Screens of Struggle”, que aconteceu durante o Palestine Film Festival (School of Oriental and African
Studies (SOAS), University of London, Maio/2013).
42
43
Tradução livre do original: “the power to narrate, or to block other narratives from
forming and emerging, is very important to culture and imperialism, and constitutes
one of the main connections between them”. In: Said, 1994: xiii.
120
centralidade no cotidiano das pessoas, é mais contundente (...) do
que na Palestina e no Líbano”, já que são, além de tudo, disputas
que colocam em questão noções de “espaço, identidade, discurso,
imagem, narrativa”44.
Deste modo, interpretar e abrir outras leituras possíveis em relação ao conflito vivido na Palestina significa escavar a vida cotidiana
do palestino, este que, sitiado e coagido, vive também em constante
processo de deslocamento, lutando para sustentar e, ao mesmo tempo, (re)construir tanto a nação que hoje lhe é possível como aquela
pela qual ele anseia. Como dar a ver, no âmbito da representação, os
interesses e desejos que ali se instalam? Um desafio enorme para um
tipo de imprensa que tradicionalmente se esmera em pautar-se por
grandes narrativas, não só alijando-nos do processo de sedimentação
de camadas de estereótipos como também deixando de lado aquilo
que parece menor diante de um conflito de natureza tão absurda.
Produção de estereotipias e modos de resistir pela linguagem
Jean Genet passou dois anos morando em um campo de refugiados
palestino, na Jordânia dos anos 1970, e mostrava-se já preocupado
com o processo de produção de imagens cujo intuito era transmitir a
realidade. Referindo-se ao uso dos significantes terrorismo, holocausto
e genocídio, em relação ao conflito, Genet dizia: “‘É bastante inteligente da parte de Israel levar a guerra ao coração da linguagem”.45
44
Tradução livre do original: “nowhere is the competition over the imagination,
construction and narration of conflict, as well as its meanings and its centrality to
people’s everyday lives more compelling, since in the Middle East, these competitions,
above all, put into play concepts of “space, identity, discourse, image and narrative”.
In: Matar e Harb, 2013: 4.
No original: “it is very smart of Israel to carry the war right into the heart of vocabulary” (Genet, 2003: 374).
45
121
O cenário midiático global, hoje, levanta – ou pelo menos joga
luz sobre – a questão dos sentidos que os significantes adquirem
nas narrativas sobre o conf lito. Em uma tal guerra de narrativas,
na qual os sentidos são disputados “no coração da linguagem”,
atores hegemônicos – como é o caso de Israel – sempre começam vencendo; eles detêm o discurso dominante e os aparatos
que sustentam sua causa 46 . Por esta razão, o terreno torna-se
vulnerável e bastante propício à sedimentação de estereotipias
e binarismos.
“Portrait of Palestine”47 pode nos ajudar a entender o processo
de formação de camadas de narrativas dominantes acerca do conflito e da região. No escopo deste artigo, ele nos serve como um
exemplo fundante, pois nele se inscreve as grandes narrativas que
seguem, ainda nos dias de hoje, pautando muito do que se entende pelo conflito. A narrativa se inicia traçando um perfil religioso
dos palestinos, segundo o narrador, uma mistura de muçulmanos,
samaritanos, judeus e cristãos. O documentário dá ênfase, desde o
começo, a uma narrativa bíblica na qual a cidade de Bethlehem é
apresentada como um local em que há uma “igreja católica romana
chamada ‘Igreja de Todas as Nações’”.
Com uma narrativa dividida basicamente em duas partes, assistimos primeiro à “Palestina do passado – um lugar comum onde o
homem jamais tocou, habitado por humildes artesãos e mulheres
que vestem roupas da Europa medieval”. São pessoas que moram
em “cidades muito calmas” – como se descreve Jerusalém –, e «que
nada querem além de paz”. Já na segunda parte, entretanto, chamada
Esta reflexão se deve aos trabalhos de Bakhtin e Foucault, basicamente a partir
do pensamento do primeiro deles sobre o discurso como “campo de batalha social”
(ver Mikhail, 1981), e a preocupação de Foucault em relação à preponderância que o
conhecimento e o discurso disciplinar tem sobre a representação. (ver Foucault, 2002).
46
Produzido em 1947, um ano antes da Nakba, pela Anglo-Scottish Pictures, o documentário de 16 minutos pode ser visto em http://www.colonialfilm.org.uk/node/2477
(acesso em outubro/2013). Todas as falas deste documentário foram literalmente
transcritas e são, portanto, livres traduções.
47
122
“o caminho para o futuro”, nota-se uma mudança substancial: uma
música mais agitada e uma narração mais densa anunciam a chegada
da modernidade.
A narrativa prossegue enaltecendo a presença árabe na região,
dizendo, por exemplo, se tratar de uma cultura mundialmente
conhecida desde a Idade Média, mas com uma proposta clara
de sustentar a diferença entre o passado que a Palestina estaria
deixando para trás e suas prospeções para o futuro. “Jovens
árabes”, diz o narrador, agora buscam “reviver suas tradições”
enquanto se tornam “cidadãos do mundo moderno”. Um tipo de
modernidade, entendemos pela própria narrativa, que viria com
a implementação do Mandato Britânico e com os colonizadores
sionistas que já trabalhavam na terra fazendo uso de uma “moderna maquinaria”. “Seja qual for o futuro político da Palestina”,
diz o narrador, “o Governo Britânico está determinado a fazer
com que a terra comum aos árabes e aos judeus se beneficie dos
privilégios da ciência Ocidental”. Desse modo, e logo após nos
mostrar a moderna arquitetura de Jaffa e Jerusalém, a Universidade
Hebraica e o novo Hospital Judaico, a única dúvida com a qual
o narrador nos deixa é o quanto árabes e judeus “poderão viver
juntos e em paz”.
“Portrait of Palestine», com um título já bastante simbólico, produz
uma narrativa que unifica significantes tais como nações / Ocidental
/ modernidade / Sionismo / benefícios. Através desta narrativa fílmica, entendemos que a novidade – o progresso e o desenvolvimento
– viria daqueles que lutam para fazer a Palestina crescer e ser o que
«sua terra sempre prometeu”. Além disso, aprendemos que o futuro
não somente virá das mãos dos judeus e dos Sionistas, como também
pelo conhecimento de (e compromisso com) um tipo de modernidade
inscrita em um Ocidente imaginado. De várias formas, esta narrativa
carrega já estratégias discursivas hegemônicas fundantes usadas a
favor da ocupação hoje em curso.
123
Como “retrato” de um lugar, esta narrativa inventa um futuro,
contestando a Palestina do passado e reiterando-a como incapaz
de acompanhar as demandas do progresso. Na sua estrutura, todas as grandes narrativas – religião, modernidade e progresso, por
exemplo – se tornam parte da Palestina ali representada. Além de
reforçar uma compreensão binária do conflito que já ali se instalava –
o arcaico ou o moderno, o religioso ou o secular –, nesta narrativa
o discurso sionista é acobertado sob as perspectivas das promessas
do Ocidente. Um relato exemplar, queremos sugerir, pois ajuda a
fundar sentidos que também hoje vemos disseminados em meios de
comunicação hegemônicos e em outros sistemas de representação.
Esses que produzem graves estereotipias e contra os quais a Palestina
e os palestinos também têm procurado lutar.
Todorov nos lembra que “a narrativa está necessariamente inserida num diálogo do qual os homens não são apenas o objeto, mas
também os protagonistas.” (2009: 86). Nesse sentido, um contraste
com o retrato construído em “Portrait of Palestine” seria a fala de
Azzouni, em entrevista concedida ao Electronic Intifada 48: «Eu não
reconheço mais a cidade de Jerusalém, aquela na qual eu um dia
morei”. Azzouni é palestina, não mora mais em Jerusalém, e é através
do seu relato que também sabemos dos tempos disjuntivos inscritos
na sua experiência, em relação, particularmente, ao que a cidade de
Jerusalém é hoje e o que ela foi no passado.
Sua fala nos diz ainda das inúmeras restrições a ela impostas pelo
Estado de Israel em relação ao seu direito de ir e vir. Em outras palavras, através deste relato sabemos que não só Jerusalém vive uma
disjunção temporal como também entendemos que este é o aspecto
que molda a experiência de Azzouni. Sua família despedaçada assim o é porque ela não pode mais morar na cidade que marca e dá
Entrevista completa em: http://electronicintifada.net/content/israels-residency-regime-causes-silent-transfer-jerusalem/12814 (acesso outubro/2013)
48
124
sentido à experiência que ela um dia viveu. É a partir desse desacerto
que Azzouni se constitui, ela mesma, como deslocada no tempo e
no espaço, pois ela própria é parte de uma família absolutamente
fragmentada:
dois são agora cidadãos franceses, eu sou jordaniana – e,
como uma palestina, não autorizada a requerer cidadania
jordaniana para o restante da minha família – e outros dois
são cidadãos que não pertencem a Estado algum. É muito
chocante, mas esta é a nossa Terra.
Se entendemos o conflito “entre os palestinos e o Sionismo como
uma luta entre uma presença e uma interpretação, sendo que os
primeiros constantemente aparecem subjugados e erradicados pelo
segundo”49, ler a Palestina e as experiências dos sujeitos envolvidos
no conflito, e que portanto sofrem suas consequências, é fundamental para nos revelar a complexidade que ali se inscreve. Quando o
fluxo dominante insiste em se organizar a partir de binarismos e de
narrativas totalitárias, por exemplo, as religiosas, os aspectos relativos aos desdobramentos e às contradições que o conflito produz
tornam-se armas muito significativas. Eles são modos de resistir pela
linguagem, pois nos ajudam a reinterpretar o conflito, jogando luz
sobre sujeitos, modos de vida e temas geralmente obliterados pelos
discursos do poder.
No microscópico e no ordinário – no elementar do cotidiano –
estão camadas, muitas vezes acobertadas pelas grandes narrativas,
que precisam ser constantemente escavadas e desveladas. É fundamental produzir imagens – representações – que se contraponham
às totalidades e aos absolutos. Os tempos disjuntivos que habitam a
49
Tradução livre do original: “if we understand the conflict between Palestinians
and Zionism as a struggle between a presence and an interpretation, [by] the former
constantly appearing to be overpowered and eradicated by the latter”. Said, 1992: 8.
125
Jerusalém de Azzouni, por exemplo, tornam-se elementos relevantes,
pois nos ajudam a ressignificar a cidade supostamente dividida entre
o velho e o novo, entre o moderno e o tradicional.
Em material publicado no Brasil – uma reportagem para a Revista
Piauí50 – Flávia Castro faz uma espécie de diário, colocando em cena
duas das narrativas centrais que vigoram no conflito Israel/Palestina.
De um lado, israelenses certos de que o território é deles por direito, do outro, palestinos, seguros da violação do seu direito de viver
na própria terra. O caminho que a autora da reportagem escolhe
para mostrar essas “duas narrativas”, como ela mesma chama, não
consiste – e isto é muito importante – em simplesmente apontar, ou
mostrar, que elas existem.
A própria escolha de fazer um diário, forma tão particular para a
produção de relatos do cotidiano, é já relevante, pois ressalta uma
experiência com o presente imediato, sem a demanda por uma explicação ou por uma conclusão acerca do lugar para o qual nos levaria
o conflito. Afinal de contas, todo diário precisa do dia seguinte para
que o(s) acontecimento(s) se desdobre(m)51.
Além disso, ao narrar em primeira pessoa, Flávia Castro se desloca da perspetiva de autoridade que tal procedimento de antemão
lhe garantiria, pois deixa claro a sua própria dúvida quanto ao que
vai encontrar.
11 DE DEZEMBRO, QUINTA-FEIRA. Estou no Aeroporto Ben
Gurion, em Tel-Aviv, na fila da polícia. Ensaio mentalmente
todas as respostas que me ocorrem às perguntas que os agentes
Em http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-103/diario-flavia-castro/entre-duas-narrativas (acesso em agosto/2015)
50
51
Na invasão que o Iraque sofreu em 2003, Sérgio D’Avila, no jornal Folha de
São Paulo, faz uso desta mesma forma. O jornalista publica durante um mês
a coluna “Diário de Bagdá”, que hoje é um livro: Diário de Bagdá – A guerra
do Iraque segundo os bombardeados, de Sérgio Dávila e Juca Varella, DBA, São
Paulo, 2003.
126
de segurança certamente farão. Amigos me preveniram: “Não
se assuste, é assim com todos. Podem até te levar para uma
salinha...” Verifico pela décima vez meus documentos. A fila
avança.
O ensaio mental para que se tenha as respostas na ponta da língua
e o ato insistente de verificar os documentos, gestos tão comumente
conhecidos como próprios de quem está em estado de tensão ao entrar
em qualquer país, denotam, de partida, o fato de que é do inesperado
que esta narrativa vai tratar. A autora deste modo abre para nós o desconhecido no qual ela mesma entra, a partir de uma experiência que
nos é comum a todos. São sensações a que temos acesso através de
um relato cujo tempo é a própria medida do acaso e da experiência:
“Menos de quinze minutos depois de eu ter tocado o solo, desmoronava
minha primeira ideia pronta sobre Israel. Afinal, não foi difícil entrar”.
A autora prossegue descrevendo o caminho até o apartamento
em que ficará hospedada. A cidade de Jerusalém, para onde Castro
se dirige logo que sai do aeroporto de Tel Aviv, longe de ser apresentada pelos seus já conhecidos locais de peregrinação, chega até
nós através das barreiras que ela enfrenta:
Minha imaginação paranoica não resiste à ideia de que no
momento em que eu estiver cruzando a cancela uma ressonância magnética revelará todos os segredos do meu corpo,
e até de meus pensamentos.
Desse modo, distante da narrativa religiosa que por princípio nos
tomaria pelo minimamente conhecido, através do corpo da narradora, acessamos já os entraves que circundam uma cidade sitiada.
Chegamos ao aeroporto em Israel, pegamos a estrada, vemos “tanques
verde-claros estacionados no acostamento” e nos deparamos logo
com as disputas e os limites que o território vive.
127
Para Bhabha, o narrar é que torna possível o gesto de colocar
em cena camadas de “restos, retalhos, pedaços da vida cotidiana”,
partes que, para este autor, “são insistentemente transformadas [por
narrativas totalitárias] em signos coerentes de uma suposta cultura
nacional”52 . A tensão que experimentamos, as cancelas e os tanques
que cruzamos com Flávia Castro, ou os tempos disjuntivos que também
conhecemos no relato de Azzouni, no escopo das grandes narrativas
que formam e permeiam o conflito Israel/Palestina, são para nós os
retalhos, ou os pedaços de um cotidiano, elementos fundamentais
para uma leitura menos determinada – e menos determinista – acerca
daquele território.
Sob essa ótica, a reportagem de Flávia Castro se desloca das narrativas totalitárias exatamente porque ela atravessa o conflito, muito
mais do que o define ou explica. A visita ao Museu do Prisioneiro
Palestino, seguida por uma outra, ao Museu do Holocausto, abre contrapontos importantes, pois delineiam, desde já, as duas narrativas
a que a autora se refere:
17 DE DEZEMBRO, QUARTA-FEIRA – Da Palestina fomos
direto para um dos mais importantes memoriais do Holocausto,
o Yad Vashem, localizado numa colina nas proximidades de
Jerusalém. Somos recebidos por Avraham Milgram, simpático
historiador brasileiro que trabalha lá há muitos anos. Ele nos
diz: ‘Cada museu do Holocausto tem o seu ponto de vista.
Aqui, toda a narrativa é construída a partir do ponto de
vista da vítima.’ Como que em continuação do museu, vejo
Jerusalém. Israel, ‘a Terra da Salvação’ para uns, ‘a Terra
Prometida’ para outros. O fim da narrativa é claro. Estamos
nela. Penso novamente no Museu do Prisioneiro Palestino.
52
Tradução livre do original, “(…) the scraps, patches and rags of daily life are repeatedly turned into the signs of a coherent national culture”. (Bhabha, 2006: 209).
128
A simplicidade de um, a sofisticação do outro. Os dois têm
uma coisa em comum: o lugar da vítima, no centro das
respectivas narrativas, como ponto de partida para pensar o
seu lugar no mundo.
Todos são vítimas, esta é a regra que define os modos de ser
nessa geografia violentada; uma afirmativa absolutamente contestável diante da ocupação e da não equiparidade53 que rege as forças
que atuam no conflito. Pensamos: se o que há em comum entre o
palestino e o israelense é pensar o mundo a partir do seu lugar de
vítima, encontramo-nos no cerne do imbróglio: qual das vítimas tem
mais ou menos direito a este lugar?
Flávia Castro, neste instante, toca no que talvez seja o mais acentuado dos problemas: a questão territorial. E quase um mês depois,
ela volta ao tema: “13 DE JANEIRO, TERÇA-FEIRA – Para eles, o
único ponto de partida e de chegada possível para pensar o mundo
é a própria tragédia”. E ainda nesse mesmo dia, ela conta:
Numa livraria, vejo um mapa da Palestina de 1948, igual
ao que o guia do museu palestino e o colono [no Museu do
Holocausto] usaram para suas narrativas. Entro e compro,
talvez numa esperança vã de que o traçado das fronteiras
me ajude a dar alguma concretude às mil questões que me
assolam.
Esforço vão o da narradora, pois não há mapa ou linha fronteiriça que consiga explicar a divisão entre o território palestino e o
ocupado. O trauma ou a crença cega, em cada um, é o que traça o
seu mapa; é o que desenha a sua fronteira.
53
Ilan Pappé (2010) faz uma crítica contundente à mídia, de modo geral, dizendo que
para narrar o conflito na região, ela parte de um injusto “paradigma de equiparidade”,
o que pressupõe uma igualdade entre o Estado de Israel e a Palestina.
129
Em um território cujo povo experimenta o dilema de ter sido
o que hoje não é ou de ter vivido onde hoje não se pode viver, as
histórias adquirem um papel crucial: elas representam o esforço de
recuperação/sustentação de uma memória e/ou a própria construção
do sentido da terra. É assim que nas narrativas acerca deste conflito,
de forma muito marcante, a disputa pela fala verdadeira se traveste,
ela mesma, na disputa pela própria narrativa.
Através do diário de Flávia Castro, colocamo-nos diante do que,
neste conflito, não se consegue medir; é esta a disputa a que temos
acesso. O humano que ali habita, de algum modo, insiste em se fazer
presente, em estado de conflito. Para a autora, foram 38 dias dos quais
ela ainda não falou “dos tomates-cereja, do vinho e das romãs. (…) do
mercado, da beleza do deserto”. Mas quem a acompanhou no relato,
ficou com as experiências e os lugares de que o conflito se constitui.
Conclusão
Sabemos que a linguagem, e particularmente o modo como a
narrativa a pressupõe, assume um caráter eminentemente semiótico,
ela é lugar de produção de sentidos, ela não se exaure no dizer, ela
é o infindável jogo do significante. Nas palavras de Heidegger, ela
é “mais poderosa e por isso [tem] mais peso do que nós mesmos”
(2003: 98). E é por este caminho que se deve também entender que
olhar a imprensa a partir da narrativa pressupõe colocar em questão
uma “tarefa hermenêutica”, pois é o jogo mimético entre o mundo
do autor, o da obra e o do leitor que evidencia o processo de produção de sentidos (Ricoeur, 2010). Um processo que, inevitavelmente,
produz faltas e diferenças.
Em entrevista concedida ao Jornal O Globo (14/01/2012), Bhabha
se refere ao poder da narrativa enquanto espaço no qual sentidos e
diferenças podem ser notados. Segundo o autor,
130
a verdadeira natureza da narrativa sempre levanta a questão:
se as coisas fossem diferentes, qual poderia ser o resultado?
Se eu não fosse eu mesmo, como veria o mundo? (...) Questões
sobre alteridade, alternância e contrafatualidade estão no
centro do projeto (...) cultural, e é por isso que penso que [o
olhar sobre a narrativa] nos ajuda a sobreviver.
Assim, em suas formas factuais e ficcionais, binárias e não, a
narrativa é invariavelmente constitutiva de um processo político e
estético de produção e ressignificação de sentidos sobre o mundo.
E é por este viés que o esforço de compreender o jornalismo através
de suas narrativas ajuda-nos a problematizar e criticar seus princípios.
A menos que aceitemos que transmitir informação seja sua única
função, não há como pensá-lo, através da narrativa como problema
(Resende, 2011), sem colocarmos em pauta as insuficiências que a
linguagem produz. É do caráter da linguagem não dar conta do todo;
é próprio de qualquer sistema de representação significar a falta.
Portanto, pelo olhar da narrativa, o jornalismo, a despeito do seu
esforço de clareza e precisão, não passaria impune pelos desígnios
da linguagem.
A perspetiva sobre o conflito Israel/Palestina a que temos acesso através do relato de Azzouni ou do diário de Castro – esta que
torna visível os conflitos dentro do conflito – não comporta o todo
e portanto não invalida um outro modo de narrar, mais objetivista,
que também guarda o potencial de encenar aspectos importantes
que constituem aquele acontecimento. Aqui não está em questão a
maneira correta ou não de representar, o que está em jogo é o modo
de falar da coisa sobre a qual se fala. Estamos, na verdade, perguntando: em que medida e de que maneira é possível outras formas de
narrar o conflito? Edward Said, ao argumentar sobre as formas de
representação do colonizado, reitera que “as narrativas são de uma
forma ou de outro política e ideologicamente permissíveis” (1989:
131
222), tudo dependeria dos modos como os tópicos e os sujeitos nelas
são inscritos.
Na chamada «grande imprensa”, na maioria das vezes, as narrativas
a que temos acesso sobre esta geografia violentada são tão controladas pelas instâncias políticas e econômicas que a dominam, que só
vemos imperar um discurso binário e dicotômico, pouco afeito às
nuances do conflito. Sob essa ótica, os restos que aparecem no relato
de Azzouni ou no diário de Castro funcionam como um contraponto
essencial. Ali estão narrativas que carregam e guardam a potência de
refazer-se em outras, de desdobrar-se. Nas palavras de Michel Serres,
A formação de uma narrativa dá provas (…) de uma tensão incessante entre a necessidade de utilizar formas preestabelecidas, um formato, para poder comunicar de maneira
confiável e uma equivalente obrigação de quebrar, de refazer
essas formas porque as circunstâncias contingentes vêm restringi-las e a repetição pura e simples não comporta nenhuma
mensagem. (2015: 191)
No atual quadro histórico-cultural em que nos encontramos, reconhecer esta ambiguidade que conforma a narrativa significa referendar o amálgama estética/política (Rancière, 2012). E desse modo,
é à luz de um paradigma relacional que se precisa trabalhar contra
a sedimentação das estereotipias, escavando os processos em que
conflitos de longa duração se inscrevem e produzindo narrativas
que falem também do que constitui os poderes que os engendram.
No caso da Palestina, para Edward Said,
É preciso seguir contando histórias de forma contundente
e tão insistentemente, e de tantos modos quantos forem
possíveis, para chamarmos atenção, pois sempre há o medo
de que a Palestina possa desaparecer (2003: 187).
132
O esforço de apagamento do território palestino tem causado danos
irrecuperáveis em termos humanos e físicos. Porém, ele não tem efetivamente produzido o seu desaparecimento. Ainda que na forma de uma
geografia violentada, a Palestina, como nação, segue se reinventando
da maneira que pode, e hoje, mais que nunca, além da resistência
dos próprios palestinos, são as narrativas que a mantém viva. É sob
esta perspetiva que também tratamos do território palestino – e do
conflito ali instalado – como um desafio para a imprensa. Uma geografia exaurida esgarça os domínios do pensamento e da linguagem,
tornando irrepresentável o próprio fato de que a geografia é vítima.
E neste caso específico, é o próprio que se torna indecifrável.
Sabemos que para a imprensa esta pode não ser das tarefas a mais
simples. Porém, mais que transmitir, esta reflexão sugere que hoje representar, nos termos aqui discutidos, é uma de suas funções essenciais. Por
este viés, é preciso, mais que nunca, o esforço de narrar essa geografia
violentada a partir dos efeitos político-culturais que afetam as experiências de quem vive o conflito. Talvez através desses espaços liminares,
retomando a angústia de Michel Serres na epígrafe deste artigo, possamos
nos fazer atentos a uma narrativa que seja mais próxima do homem.
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