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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Lenon Martins de Paula
PONTE JORNALISMO: TRINCHEIRAS JORNALÍSTICAS DE UMA
GUERRA URBANA
Santa Maria, RS, Brasil
Lenon Martins de Paula
PONTE JORNALISMO: TRINCHEIRAS JORNALÍSTICAS DE UMA
GUERRA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Comunicação Social
Jornalismo, da Universidade Federal de Santa
Maria, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Comunicação
Social – Jornalismo.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Aline Roes Dalmolin
Santa Maria, RS.
2016
Lenon Martins de Paula
PONTE JORNALISMO: TRINCHEIRAS JORNALÍSTICAS DE UMA
GUERRA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Comunicação Social
Jornalismo, da Universidade Federal de Santa
Maria, como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Comunicação
Social – Jornalismo.
Aprovado em 16 de dezembro de 2016:
_____________________________________________________
Prof.ª Dr.ªAline Roes Dalmolin (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_____________________________________________________
Marilice Amábile Pedrolo Daronco (POSCOM/UFSM)
_____________________________________________________
Dairan Mathias Paul (POSJOR/UFSC)
Santa Maria, RS
2016
DEDICATÓRIA
À todas as vítimas da violência policial, do abuso de poder, da truculência, todas as vítimas
do silenciamento por vezes imposto por agentes de segurança. À todas as pessoas que foram
mortas pelos órgãos coercitivos. À todos aqueles que de qualquer forma já foram atingidos
pelas injustiças das instituições coercitivas, e à todas as pessoas que prezam e lutam por uma
sociedade sem qualquer forma de violência, muito menos guerra.
AGRADECIMENTOS
O exercício da gratidão é uma terapia de bondade, e ver este trabalho
concretizado só me faz ser imensamente grato à todas as pessoas que fizeram
parte da minha graduação, especialmente aquelas que me apoiaram durante este
longo ano de conclusão de curso. Fica os meus singelos agradecimentos
- à toda minha família, em especial minha mãe Cristina, minha irmã Lissa
e meu irmão Lázaro, pelo imprescindível amor e apoio que recebi durante a
minha graduação.
- aos professores e servidores da FACOS
UFSM, em especial à
professora Aline Dalmolin, orientadora deste trabalho. Obrigado por toda
compreensão, confiança, e pelas importantes considerações e discussões acerca
do meu universo de pesquisa, essenciais para a conclusão deste estudo e que me
inspiram a seguir pesquisando no futuro.
- aos amigos e amigas do coletivo EntreAutores, pelo significado que a
música tem na minha vida hoje, em especial à Cristielle Roatt, Larissa Machado
e Ricardo Borges, que integram junto comigo a banda Capadócia Estelar;
- ao GP Comunicação, Identidades em Fronteiras, em especial às
professoras Isabel Guimarães e Ada Cristina, por me inserirem no universo
científico da Comunicação Social como bolsista de ensino médio em 2012,
experiência determinante para que eu escolhesse o Jornalismo como curso de
graduação, e pelos importantes aprendizados durante os quase quatro anos de
iniciação científica.
Por fim, agradeço ao tempo, que tem me proporcionado surpresas e
grandes felicidades nos desafios que permeiam essa longa jornada; e à todas as
pessoas que fazem parte da minha vida.
No ar que se respira, nos gestos mais banais
Em regras, mandamentos, julgamentos, tribunais
Na vitória do mais forte, na derrota dos iguais
A violência travestida faz seu trottoir
(A Violência Travestida Faz Seu Trottoir - Engenheiros do Hawaii)
RESUMO
PONTE JORNALISMO: TRINCHEIRAS JORNALÍSTICAS DE UMA
GUERRA URBANA
AUTOR: Lenon Martins de Paula
ORIENTADORA: Aline Roes Dalmolin
As atuações da imprensa e dos meios de comunicação, através da cobertura jornalística da
criminalidade e violência, são de extrema importância para o agendamento de políticas de
segurança pública do governo, e para a forma de ver e viver o mundo do homem,
principalmente o homem urbano. O trabalho propõe-se a analisar a cobertura jornalística
sobre a violência policial realizada pelo portal Ponte Jornalismo, observando em especial
quais fontes são acionadas pelas matérias e como essas são abordadas. O corpus é composto
por 87 matérias do primeiro ano de atuação do portal, que são analisadas a partir das
metodologias de análise de conteúdo e de análise do discurso. O Ponte Jornalismo utiliza
preferencialmente fontes não institucionais como especialistas, familiares de vítimas,
testemunhas - fontes estas que são minoria na cobertura jornalística da grande mídia sobre a
violência. Assim, podemos tensionar e problematizar sobre uma forma alternativa de tratar o
fenômeno da violência urbana na cobertura jornalística, enquanto geradora de discussões e
promotora de um agendamento de políticas públicas para a segurança.
Palavras-chave: Jornalismo; cobertura jornalística; violência, segurança pública, fontes
jornalísticas
ABSTRACT
PONTE JORNALISMO: JOURNALISTIC TRENCHES OF AN URBAN WARFARE
AUTHOR: Lenon Martins de Paula
ADVISOR: Aline Roes Dalmolin
Activities from press and media through the news covering of crime and violence are of
utmost importance for the scheduling of the government s public security policies, and for the
way of seeing and living the world of man, especially the urban man. This study analyzes the
journalistic coverage of police violence carried out by the Ponte Jornalismo news portal,
noting in particular which sources are triggered by the news and how they are addressed in the
discourse. Our corpus is composed by 87 stories from the first year of the portal's
performance, which are analyzed from the methodologies of content analysis and discourse
analysis. Ponte Jornalismo uses preferably non-institutional sources such as experts, family
members of victims, witnesses - sources that are minority in the coverage of the mainstream
media about violence. Thereby, we can stress and problematize on an alternative way to treat
the phenomenon of urban violence in journalistic coverage, as a generator of discussions and
promoter of a schedule of public policies for security.
Keywords: Journalism; news covering, violence, public security, news sources
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Nuvem de tags
Recorrência de termos nos títulos das notícias ........................... 43
Gráfico 2: Nuvem de tags
Recorrência de termos no corpo do texto das notícias ................ 45
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Print do portal Ponte Jornalismo
Homepage ........................................................ 29
Figura 2: Print do portal Ponte Jornalismo
Aba lateral e editorias ....................................... 30
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: As notícias do nosso corpus (data em MM/DD/AAAA) .......................................... 34
Tabela 2: A identificação das fontes com adaptações .............................................................. 38
Tabela 3: Predominância de termos nos títulos das notícias que compõem o nosso corpus....42
Tabela 4: Lista de termos recorrentes no corpo do texto das notícias ...................................... 44
Tabela 5: As fontes consultadas ............................................................................................... 47
Tabela 6: A natureza das notícias ........................................................................................... 54
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ONG
PM
RI
ROTA
RP
RS
SP
SSP
UPP
Organização Não Governamental
Polícia Militar
Relato Isolado
Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar
Relato Primário
Relato Secundário
São Paulo
Secretaria de Segurança Pública
Unidade de Polícia Pacificadora
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
2.
A PREGNÂNCIA DA CRIMINALIDADE, SEGURANÇA PÚBLICA E
VIOLÊNCIA NO JORNALISMO ................................................................................. 16
2.1 SOCIOLOGIA DA VIOLÊNCIA E CONFLITUALIDADE ........................................... 17
2.2 MÍDIA, VIOLÊNCIA E PREGNÂNCIA SOCIAL DO DISCURSO JORNALÍSTICO . 18
3.
JORNALISMO ESPECIALIZADO, INDEPENDENTE, E O PONTE
JORNALISMO ................................................................................................................ 24
3.1 JORNALISMO ESPECIALIZADO E INTERTEXTUALIDADE .................................. 24
3.2 MÍDIA ALTERNATIVA E JORNALISMO INDEPENDENTE ..................................... 27
3.3 O PORTAL PONTE JORNALISMO ............................................................................... 28
4. PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS DE ANÁLISE.............................................. 32
4.1 CONSTRUÇÃO DE UM BANCO DE DADOS: METODOLOGIA
E CRITÉRIOS ................................................................................................................... 32
4.2 FONTES CONSULTADAS.............................................................................................. 37
4.3 ANÁLISE DE CONTEÚDO E OS TERMOS RECORRENTES .................................... 38
4.4 ANÁLISE DE DISCURSO, O ACONTECIMENTO MIDIÁTICO DA VIOLÊNCIA
POLICIAL E A SUA RESOLUÇÃO SEMÂNTICA ....................................................... 39
5.
5.1
5.2
5.3
5.4
6.
PONTE JORNALISMO E VIOLÊNCIA POLICIAL: TRINCHEIRAS
JORNALÍSTICAS DE UMA GUERRA URBANA ..................................................... 42
PREDOMINÂNCIA DE TERMOS: A PM E A MORTE ................................................ 42
AS FONTES QUE PAUTAM O JORNALISMO DE VIOLÊNCIA ............................... 47
FORMAS DE RELATAR O ACONTECIMENTO DE VIOLÊNCIA POLICIAL ......... 47
TIPOLOGIAS DO NOTICIÁRIO SOBRE A VIOLÊNCIA POLICIAL ......................... 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS: À GUISA DE UM JORNALISMO
DE VIOLÊNCIA ............................................................................................................. 56
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 58
APÊNDICE ...................................................................................................................... 61
13
1. INTRODUÇÃO
Na rua Chaptal, Paris, França, 1897, foi inaugurado um teatro chamado Le Théâtre
du Grand-Guignol , que apresentava peças grotescas com cenas teatrais de horror e violência
explícitas, como decapitação, desmembramento, esquartejamento, evisceração e outras
práticas de imolação corporal1.
A partir do paradigma do movimento naturalista do teatro2, a intenção do seu
fundador, Oscar Méténier, era proporcionar ao público espetáculos no qual eles pudessem se
identificar, a partir de roteiros e estórias verossímeis e inspirados na realidade. Cada sessão
era composta por cinco ou seis peças curtas e nem todas eram de horror. O que nos importa
aqui é que as peças de horror foram as que mais chamaram atenção do público e tornaram o
referido teatro famoso mundo afora, influenciando, inclusive, a produção cinematográfica da
época.
Aqueles que sentavam nas primeiras filas recebiam respingos de sangue cenográfico
(na maioria das vezes, embora sangue de animais também fosse usado) e sentiam a
angústia de testemunhar quase que em primeira mão as mais grotescas torturas
acontecendo a poucos metros de distância. (TENTACULAR, 2013, s.p.)
A repercussão das primeiras peças ganhou as ruas e as filas para entrada no teatro se
estendiam cada vez mais. Os espectadores sabiam da estética violenta e grotesca que
circundava a natureza das peças do teatro, e tinham em experenciar as sensações de assistir às
peças. Não é exagero afirmar que desmaios e pessoas passando mal, literalmente urinando
nas calças ou vomitando, era algo corriqueiro durante a apresentação (TENTACULAR,
2013).
O Grand Guignol enquanto teatro de horror cativava e impressionava o público a partir
das dramaturgias e narrativas baseadas na violência, mas, além disso, ilustra o impacto das
experiências humanas de assistir tais performances e as suas nuances características do
paradigma naturalista do teatro (ilusão de realidade, verossimilhança, discurso do cotidiano,
buscando ao máximo estar relacionado ao contexto social da população da época). Isso nos
permite compreendermos a pregnância social da violência, do horror, do grotesco
experenciado, em uma perspectiva histórica que vai além da comunicação midiática.
1
Vide: TENTACULAR, M. Teatro de Sangue - Os assustadores espetáculos do Grand Guignol de Paris.
Disponível em <http://mundotentacular.blogspot.com.br/2013/06/teatro-de-sangue-os-assustadores.html>.
Publicado em: 8 jun. 2013 Acesso em: 28 jun. 2016.
2
O paradigma naturalista era, na época, uma forma narrativa alicerçada à verossimilhança, buscando a ilusão
perfeita de realidade (BERTHOLD, 2010).
14
Atualmente a violência pode ser experienciada e assimilada facilmente nos conteúdos
jornalísticos produzidos pela mídia tradicional, e destacam-se os conteúdos por vezes
espetacularizados emitidos por determinados veículos midiáticos, principalmente em
emissoras de conteúdo digital e televisivo. Assim como o Gran Guignol, a violência em
conteúdos jornalísticos ou de entretenimento veiculados na mídia tende a provocar sensações
e complementar perspectivas de visão de mundo.
Nesse sentido, a presente pesquisa estuda o discurso sobre a violência no portal Ponte
Jornalismo, um portal independente criado em 2014, e que dá ênfase na temática da violência
nas periferias urbanas, principalmente no Rio de Janeiro (SP) e São Paulo (SP). Neste portal
tomo como objetivo identificar elementos discursivos que caracterizam a pauta da violência
em uma ambiência atrelada à perspectiva condenatória do abuso de poder exercido pelas
instituições coercitivas. Utilizando a metodologia de Análise de Discurso associada à análise
de conteúdo, proponho a verificar como é dada a cobertura jornalística sobre a violência
policial nos textos do portal Ponte. Assim considero a importância em investigar tal temática,
por abranger uma das pautas mais recorrentes e que, quando abordadas na mídia, mais
influem no imaginário e na visão de mundo de uma sociedade: a violência.
Tendo como questão-problema quais as especificidades da cobertura jornalística
sobre a violência policial num portal independente e como a mesma retrata as instituições
coercitivas? , nossos objetivos específicos são: a) construir um banco de dados com as
matérias que tratam sobre violência policial no Portal Ponte durante o seu primeiro ano de
atuação, b) verificar a recorrência de termos nas manchetes das matérias sobre violência
policial no Portal, c) a observar a presença das fontes institucionais e não institucionais nas
matérias do Portal; d) analisar os acontecimentos midiáticos envolvendo violência policial; e)
discorrer sobre a necessidade de atrelar a discussão sobre violência e Jornalismo, articulando
definições teóricas que nos propiciem refletir acerca de um Jornalismo de Violência.
A importância deste estudo é dada pelo atual cenário da segurança pública no Brasil.
Conforme o Mapa da Violência de 20163, os homicídios por arma de fogo cresceram 592,8%
no período de 1980 à 2014 no Brasil. Em São Paulo foram registradas 3.524 homicídios no
ano de 2014. A média de homicídios cometidos pelos policiais militares no estado de São
Paulo era de 5 mortos a cada 2 dias no ano de 2014. Entre julho de 1995 e abril de 2014 a
PM-SP matou mais de 10 mil pessoas. É nesse cenário de guerra urbana que nos inserimos,
propondo a utilização do termo Jornalismo de Violência para discutir as especificidades de
3
Disponível em < http://www.mapadaviolencia.org.br/mapa2016_armas.php> Acesso em 16 nov. 2016.
15
relatar os acontecimentos de violência policial. Além disso, minha motivação pessoal em
estudar violência e segurança pública surgiu a partir dos incentivos do Grupo de Pesquisa
Comunicação, Identidades e Fronteiras4, no qual fui bolsista de iniciação científica por quase
quatro anos. No Grupo, várias das reuniões e dos textos discutidos envolviam a temática de
violência, criminalidade, segurança pública, jovens, periferia, o que contribui para o meu
interesse no tema.
4
Disponível em <https://comunicacaoeidentidades.wordpress.com/>. Acesso em: 19 nov. 2016.
16
2. A PREGNÂNCIA DA CRIMINALIDADE, SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA
NO JORNALISMO
Suscitação da sensação de medo, interferência no modo de ver e viver o mundo,
artifício estratégico para práticas que influenciam e ao mesmo tempo constroem a realidade:
essas são características inerentes à violência e que podem estar presentes no Jornalismo. A
temática da violência é uma pauta recorrente na cobertura jornalística de periferias urbanas,
que juntamente do imaginário de caos, criminalidade e ausência de estado, compõe a
cobertura
jornalística
estigmatizante
de
periferias
internacionais
e
metropolitanas
(SILVEIRA, 2012).
Partimos do pressuposto de que a cobertura jornalística concebe e dá forma à um
universo de acontecimento midiático (CHARAUDEAU, 2015) a partir da estruturação do
imaginário, concebido neste estudo como
dimensão expressiva, cognitiva e normativa da vida social, para o desenvolvimento
das relações sociais e para o intercâmbio material dos sistemas sociais com a
natureza (DOMINGUES, 1999, s.p.)
A cobertura jornalística sobre violência, criminalidade e segurança pública tem se
modificado ao longo do tempo no jornalismo brasileiro, principalmente a partir de 1980,
quando o fenômeno da violência urbana tornou-se mais múltiplo e complexo (RAMOS e
PAIVA, 2007, p. 15). Além disso, os papéis da imprensa e dos meios de comunicação, através
da cobertura jornalística da criminalidade e violência, são de extrema importância para o
agendamento de políticas de segurança pública do governo (RAMOS e PAIVA, 2007, p.21), e
para a forma de ver e viver o mundo do homem, principalmente o homem urbano (ODALIA,
1991).
Partindo desse cenário, visamos realizar uma revisão teórica para reforçar a relação do
Jornalismo com a Sociologia da Violência5. A partir desta reflexão, pretendemos levantar
questões em ambos os campos de conhecimento que possam ser complementares para as
finalidades da nossa pesquisa de conclusão de curso, em consonância com a perspectiva
analítica
e
interdisciplinar
da
construção
de
sentido
da
máquina
midiática
(CHARAUDEAU, 2015).
5
Foram fundamentais para a nossa reflexão as seguinte referências: Barreira e Adorno (2010), e Michaud (2001).
17
2.1 SOCIOLOGIA DA VIOLÊNCIA E CONFLITUALIDADE
O filósofo francês Yves Michaud defende a ideia de uma distância
concepção teórica, lugar de fala, compreensão e análise
na instância de
da violência em relação às normas e
regras que regem uma determinada sociedade e definem o que é natural, normal e legal. Esse
distanciamento configura um cenário que permite a ameaça do imprevisível a partir do
momento em que se tenta definir o que não tem regularidade e se encontra num estado
inconcebível no qual, a todo momento, tudo (ou qualquer coisa) pode acontecer
(MICHAUD, 2001, p.12). Essa imprevisibilidade se dá como a denominação de uma situação
de caos, e também colabora para uma ideia de insegurança.
A sensação de medo e insegurança possui lastro social, uma vez que fatos e dados
mostram o crescimento de todas as modalidades de crime e violência a partir do fim dos anos
1970. Houve, após a redemocratização do Brasil, um aumento dos casos de conflitos
dentre os quais se destacam os conflitos mais propriamente sociais, envolvendo
disputas pelo controle de territórios, vinganças por dívidas ou suspeitas de delação e
traição, partilha de produtos de roubos ou outras atividades ilegais; e os conflitos
interpessoais com desfechos fatais - conflitos de vizinhança, nos lares, nos bares e
espaços de sociabilidade e lazer, nas escolas, nas ruas e vias de circulação urbana e,
inclusive, no transporte público (BARREIRA E ADORNO, 2010, p.307)
Na Sociologia da Violência tem-se como principal foco as formas de conflitualidade
social, onde o emprego de violência está atrelado à resolução, mediante meios determinados,
segundo modalidades singulares e no contexto de particularidades históricas (BARREIRA E
ADORNO, 2010, p.307)
Por essa razão o foco sociológico privilegia decifrar o curso das mudanças sociais.
(...) Para além, interessa identificar microscópios desarranjos que o crime e a
violência introduzem nos tecidos sociais a ponto de suscitar a reinvenção de formas
de sociabilidade e de relações de poder que atualizam o passado no presente e,
simultaneamente, produzem rupturas. O foco sociológico interroga o crime e a
violência não como expressões de anomia, mas como linguagem social, como
repertório de narrativas produzidas coletivamente que, ultrapassando o campo
normativo,
sugerem
caminhos
da
sociedade
brasileira
em
sua
contemporaneidade.(BARREIRA E ADORNO, 2010, p.310-311)
Convergindo para esta perspectiva, atentamos para a importância de articular estes
estudos junto do Jornalismo, problematizando a forma que os veículos midiáticos têm
produzido seus discursos sobre a violência a partir da cobertura jornalística deste fenômeno.
Para isso, acreditamos na hipótese de que a cobertura jornalística está diretamente relacionada
com os estudos da Sociologia da Violência, uma vez que o próprio fenômeno da violência
18
está impregnado na sociedade, e um dos principais fatores que corrobora para essa
impregnação é a produção noticiosa deste fenômeno (ODALIA, 1991).
2.2 MÍDIA, VIOLÊNCIA E PREGNÂNCIA SOCIAL DO DISCURSO JORNALÍSTICO
A mídia e o Jornalismo configuram uma máquina complexa de disseminação de
ideologias e formas de ver o mundo. Imaginários são formados em torno de informações
transpassadas em
lugares disseminados de absorção e transformação do fluxo histórico-dinâmico da
vida social em projeções fantasiosas que (...) fingem dar conta da realidade em sua
máxima objetivação. (SODRÉ, 2002, p. 30)
Historicamente, as notícias sobre criminalidade e violência tem estado em evidência
através da mídia, por afetar a vida da população e a sua forma de ver e experienciar o mundo.
Há aproximadamente 50 anos na mídia tradicional (veículos impressos e radiofônicos com
maior impacto na opinião pública) ganhavam maior destaque as notícias que envolviam
rumorosos casos passionais, vinganças pessoais ou crimes de mando político, principalmente
se as vítimas ou agressores eram pessoas reconhecidas publicamente (BARREIRA E
ADORNO, 2010, p.303-304).
A cobertura jornalística sobre violência obtinha espaço em sessões especializadas em
reportagem policial, principalmente em jornais populares, que retratavam cotidianamente os
crimes como uma espécie de folhetim que retratava o modo de vida de pessoas comuns,
moradoras de bairros de classe popular.
Historicamente, a reportagem policial tem sido um dos setores menos valorizados
nos jornais, e costumava a ser delegada a profissionais menos experientes ou menos
preparados do que os de setores considerados sérios, como o da cobertura política.
(RAMOS E PAIVA, 2007, p.15)
A partir dos anos 1960 que a cobertura jornalística sobre violência começa a ter mais
espaço nos jornais, passando a ocupar espaços em colunas ou sessões especializadas dos
grandes jornais do país.
(...) Frases do tipo "bandido bom, é bandido morto" ou "não temos mortos a
lamentar !!passaram a frequentar o senso comum, largamente disseminadas em
jornais populares como O Dia (RJ), Notícias Populares (SP), Diário Gaúcho (RS) e
Folha de Pernambuco (PE). O medo toma conta dos cidadãos e cidadãs não apenas
nas grandes cidades, mas também nas médias. (BARREIRA E ADORNO, 2010,
p.306-307)
19
Jacques Wainberg (2010) nos traz reflexões acerca da característica imagética da
violência dentro do Jornalismo, afirmando que
A violência que aparece no vídeo torna o mundo muito mais violento do que
realmente é. Essa ressonância cria uma imagem distorcida, pois há que se salientar
que, na vida real, há também a boa notícia tão desprezada por esse paladar
jornalístico e ficcional tão marcadamente sedento de conflitos. (WAINBERG,
2010, p.143)
Assim a violência vai se adentrando no jornalismo, ansiando pelo conflito e, a partir
do seu significado social, corrobora para a ideia de medo, desregramento, anomia, caos e
insegurança. A veiculação de uma perspectiva superficial sobre o fenômeno da violência
urbana propicia imaginários sociais deturpados, onde o ódio é exalado com intensidade. Ao
mesmo tempo, o espetáculo da violência cativa, prende, traz audiência, mesmo antes da
televisão.
No jornalismo a violência é pautada a partir de uma ação cênica premeditada de modo
a disseminar pânico, medo, raiva e rancor (WAINBERG, 2010), e percebe-se na cobertura
sobre violência um vício na dependência de informações oriundas de fontes oficiais (RAMOS
e PAIVA, 2007, p.37), como os órgãos de segurança pública, em especial as instituições
coercitivas (instituições que efetivam o poder de coerção do Estado Democrático de Direito)
termo que iremos nos apropriar a partir de Nobrega Júnior (2005).
A mídia precisa do ato cênico para poder enquadrar o fato nos seus valores de
noticiabilidade. Por decorrência, a maior parte dos fatos jornalísticos é fruto desse
tipo de produção artística. (WAINBERG, 2010, p.141)
O aspecto performático é um dos aspectos mais importantes da violência, e o mesmo é
configurado a partir dessa ideia de perturbação, insegurança, desregramento (MICHAUD,
2001, p.13). Por estar relacionada à ideia de transgressão das regras, a violência carrega no
seu significado e uso valores positivos ou negativos vinculados à ideia de transgressão
(ibid, p.13), e através disso agita-se uma ameaça ou denuncia-se um perigo.
Um enunciado ou uma expressão tem um valor performativo quando ao pronunciálo realizamos uma ação. (...) De modo análogo, caracterizar alguma coisa ato,
comportamento, situação como violência, é atribuir-lhe um valor e começar a agir.
(MICHAUD, 2001, p.13)
20
A antropóloga Alba Zaluar, no seu texto
segurança pública
6
Oito temas para debate: violência e
também problematiza a ideia de ação da violência ao criticar a assertiva
de que a cultura da violência existe e cresce .
Quando a violência irrompe, muitas vezes, por uma conjunção de ações
retroalimentadas por outras ações individuais ou coletivas, ela é governada não
apenas pelo cálculo racional, mas pela paixão ou emoção descontrolada. A violência
absoluta se exalta e se propaga indefinidamente no circuito das vinganças, mas
também dos prazeres destrutivos que se tornam viciados e excessivos. (ZALUAR,
2002, s.p.)
A enxurrada de informações à qual esta sociedade da informação (WERTHEIN, 2000)
está submetida, contribui para este debate. Para se pensar nesse contexto de overdose
informacional, Gleick (2013) traz alguns apontamentos sobre a intensidade do fluxo de
informação e seus malefícios, trazendo uma analogia que de certa forma se dá como
metafórica para uma ação de violência.
Dilúvio passou a ser uma metáfora comum para as pessoas que descreviam a
fartura deinformação. Existe uma sensação de afogamento: o excesso de
informação seria como uma enxurrada, violenta e irrefreável. Ou evoca àmente um
bombardeio, os dados impingindo umasérie de golpes, vindos de todos os lados e
rápidos demais. (GLEICK, 2013, p. 412)
Nesse sentido, a própria cobertura jornalística exerce uma violência através da
produção noticiosa,
impingindo uma série de golpes
(no que se refere à cobertura
jornalística sobre violência) que mesmo vindos de vários lados, acabam convergindo para
uma abordagem em comum: cercada de vícios pelas fontes institucionais oficiais,
reproduzindo lógicas estigmatizantes, estabelecendo critérios de noticiabilidade que
promovem um imaginário de medo, anomia, e muitas vezes atrelados à isso o preconceito de
classe (RAMOS E PAIVA, 2007). É desta forma, denotando certa preferência da mídia e da
indústria cultural pela violência, que a informação (...) com a violência empunhada, entra-se
nas páginas dos jornais e nas edições de telejornais. E, através destes, na mente do público
(WAINBERG, 2010, p.141).
O próprio discurso elaborado pela mídia tradicional sobre a violência (RAMOS E
PAIVA, 2007) se configura como um ato violento. Pelo seu significado estar atrelado ao
imprevisível, a violência introduz desregramento e caos numa sociedade normatizada
(MICHAUD, 2011, p.13). Tais sensações de medo, caos e ausência de regras são diretamente
6
Disponível em <http://sociologiapp.iscte-iul.pt/pdfs/2/15.pdf> Acesso em: 17 jun. 2016.
21
influenciadas pelos veículos midiáticos e pela forma que é produzido o discurso sobre
violência.
A cultura da violência é promovida pela mídia como uma resposta ao cotidiano
social que busca combater a rotina, proteger-se e livrar-se do perigo, em uma
negação que equivaleria a uma pessoa dizer ainda bem que não aconteceu comigo .
Não importa mais a informação, mas o quanto o elemento violência é capaz de ser
mantido a fim de expiar a angústia dos indivíduos. (CARVALHO et al, 2012)
Marlene Sólio (2010) pesquisou o discurso sobre a violência urbana entre 1994 e 2004
nos jornais Pioneiro, Correio do Povo, Zero Hora e Folha de São Paulo, e com esta pesquia
ela denuncia uma naturalização na associação entre as noções de pobreza e violência, bem
como violência e juventude (SÓLIO, 2010, p.25). No seu estudo, a autora constata a violêcia
da mídia efetivada através dos atos de distorção e silenciamento em relação à sociedade a que
deveria servir.
Esse tipo de violência impingido por determinados grupos sociais articulados com o
poder, assim como a desconstextualização de episódios relacionados à criminalidade
são o discurso sobre violência do qual a mídia não fala. (SÓLIO, 2010 p.31)
A autora afirma que, ao promover um estereótipo de violência a partir do seu
sintoma e não do contexto social em que determinado acontecimento ocorre, percebe-se a
ausência da crítica, da reflexão da diversidade de pontos de vista; temos um discurso
tautológico da violência por ela própria (SÓLIO, 2010, p.27).
A cobertura jornalística, enquanto dispositivo de poder (GOMES, 2013) colabora para
que o imaginário social não compreenda a complexidade do fenômeno da violência na
sociedade ao ser alimentada por uma produção noticiosa amparada pelo vício em fontes
policiais e pouquíssima ou nula presença de especialistas para discussão.
A ausência de muitos tipos de fontes [especialistas, testemunhas, vítimas, familiares
de vítimas] acaba por gerar uma cobertura pouco diversificada, na qual temas como
direitos humanos, violência enquanto fenômeno social, raça e etnia, gênero e
violência doméstica, por exemplo, são pouco freqüentes. O resultado é um conjunto
de matérias em que predomina a pouca contextualização e a pluralidade, muito
dependente da perspectiva de delegados e oficiais de Polícia Militar. (RAMOS E
PAIVA, 2007, p.39)
Maria Benevides (1983) afirma que a violência noticiada pela imprensa tradicional
traz uma ênfase nos crimes cometidos dos já chamados marginais , que passaram a atingir os
bairros de classe média e alta, e essa ênfase
22
(..) contribuiu para reforçar a estigmatização das classes perigosas
o pobre será
sempre o suspeito, o bandido em potencial, quando não de nascença
e para
dramatizar o quadro da violência urbana (os grandes crimes contra a economia
popular são naturalmente minimizados não costumam empregar violência física
explícita quer no noticiário, quer nos editoriais). (p.22-23)
Medeiros (2001) discorre sobre a forma que a mídia tem tratado a violência, afirmando
que a violência na mídia pode contribuir, de fato, para a proliferação gradativa de efeitos
anti-sociais junto à sociedade (MEDEIROS, 2001, p.34). O autor afirma que é necessário
que a sociedade organize formas de participação e fiscalização das produções midiáticas, em
face ao papel da mídia e dos comunicadores defenderem a cidadania, ajudando a reproduzí-la
no campo educacional da infância e da juventude (MEDEIROS, 2002).
Conforme o sociólogo Cláudio Beato7, a mídia pauta as agendas na segurança pública,
uma vez que governantes e gestores não possuem instrumentos de diagnóstico,
monitoramento e avaliação das atividades empreendidas. Essa precarização, por
consequência, não possibilita definir uma agenda de problemas prioritários na segurança
pública do Brasil. Neste sentido a agenda de prioridades é gerada pelo próprio noticiário sobre
a violência.
Assim sendo, é pertinente refletir sobre como a imprensa vem atuando enquanto base
de discussões para a elaboração de políticas públicas securitárias, pois a maneira que ocorre a
cobertura jornalística que gera o noticiário sobre criminalidade, violência e segurança pública
corrobora para um imaginário de anomia e está atrelada a vícios de apuração que por sua vez
influenciam no planejamento e efetivação de políticas públicas. Estas resultam numa coerção
excessiva a partir do uso abusivo de poder por parte das principais fontes desse noticiário, os
órgãos de segurança pública: as polícias civis e militares e suas subordinantes, como as
secretarias de justiça e segurança pública.
Em outras palavras, na nossa perspectiva de análise
que será detalhada mais adiante
os órgãos coercitivos possuem um duplo papel para o noticiário sobre a violência: 1)
compõe o poder executivo que aplica as políticas públicas de segurança agenciadas por este
noticiário, e 2) são também fontes predominantes desse noticiário8.
A discussão proposta neste capítulo torna necessário propor o termo Jornalismo de
Violência para nos referirmos aos aspectos estruturais da pertinência do Jornalismo dentro do
fenômeno da violência, e vice-versa. Unir o campo do Jornalismo aos estudos sobre violência
7
8
In RAMOS E PAIVA, 2007.
Conforme as pesquisas realizadas pelo CESeC e referenciadas em Ramos e Paiva (2007)
23
nos permite identificar as nuances da cobertura jornalística sobre tal fenômeno, bem como
inferir acerca de uma cobertura jornalística ideal que contribuirá para uma nova forma de
tratar o fenômeno. Ressaltamos que nesta pesquisa o nosso enfoque é a violência policial.
24
3. JORNALISMO ESPECIALIZADO E INDEPENDENTE
Neste capítulo vamos introduzir o nosso objeto empírico, o portal Ponte Jornalismo, e
como o mesmo se estrutura enquanto veículo de jornalismo especializado acerca da violência,
criminalidade e segurança pública. No item 3.1 faremos uma incursão teórica sobre
jornalismo especializado. Já no item 3.2 iremos levantar as definições teóricas acerca do
jornalismo independente.
3.1 JORNALISMO ESPECIALIZADO, AMBIENTE DIGITAL E INTERTEXTUALIDADE
O Jornalismo Especializado, conforme Tavares (2009), está disseminado nos mais
diversos produtos jornalísticos, porém se dá mais como lugar de emergências de objetos do
que um objeto ele mesmo. Neste sentido, conforme o autor defende, o Jornalismo
Especializado é pensado a partir de duas perspectivas: a perspectiva normativa, relacionada à
produção desse tipo de jornalismo, com textos voltados para os preceitos e técnicas que
abrangem essa prática; e a perspectiva conceitual, direcionada para a estruturação de um lugar
teórico para tal manifestação no campo do Jornalismo, compreendendo reflexões sobre o
conceito de Jornalismo Especializado, seus métodos de pesquisa e teorias próprias, onde
figura a necessidade de um maior número de pesquisas que se voltem para especialização
jornalística.
O autor afirma que a emergência de novas mídias propiciou ainda mais a segmentação
de conteúdo para públicos específicos. Assim, construção desse universo de informação
midiática dá-se de forma específica, por tratar de
Atribui-se a esse tipo de jornalismo, portanto, o papel de buscar intermediar saberes
especializados na sociedade, construindo um tipo de discurso que, noticioso, ou
apenas informacional, promova um outro tipo de conhecimento que se funde
geralmente na compreensão conjunta do universo científico e do senso comum.
(TAVARES, 2009, p.123)
Consonante com as reflexões de Tavares (2009), o próprio Jornalismo de Violência
possui métodos específicos que compreendem esta prática jornalística. Desta forma, ao nosso
ver, o Ponte Jornalismo configura-se como Jornalismo Especializado por tratar de uma
temática específica e necessitar de conhecimentos específicos para a sua produção. Um dos
fundadores, Fausto Salvadori, nos afirma por e-mail que é necessário ter conhecimentos
mínimos sobre direito penal, o funcionamento do sistema penitenciário e policial, questões de
25
gênero e racismo. O mais importante é lembrar sempre que somos seres humanos falando de
outros seres humanos , afirma9.
Assim, consideramos que o Ponte trata de um Jornalismo especializado por construir
um universo midiático específico acerca de justiça, segurança pública e direitos humanos.
Tavares afirma que o Jornalismo especializado
propõe-se sempre uma junção, independentemente do meio e do conteúdo, entre a
necessidade de um processo de leitura distinto sobre o mundo e a adequação de
termos e lógicas a uma linguagem acessível como parâmetros para se pensar essa
prática jornalística (TAVARES, 2009, p.125)
É nesse processo de pensar a prática jornalística que Tavares (2009) situa sua
reflexão acerca das informações oriundas do Jornalismo Especializado. Para o autor, o
contexto de produção e recepção do Jornalismo Especializado é
bastante marcado pela circulação de sentidos acerca de temas que dizem da
sociedade e, ao mesmo tempo, da relação recíproca que esta estabelece com a mídia
(TAVARES, 2009, p.128)
A quantidade de informações prontas para consumo gratuito na web denota um
excesso informativo frente a uma explosão crescente de dados na web10, Para lidar com a
profusão informativa, surgem na web ou em aplicativos móveis soluções algorítimicas para
lidar com o grande fluxo de informação, que se configuram como ferramentas de organização
de abundância informativa por meio de algoritmos. Indexadores e motores de busca como o
Google, a rede social Facebook, dentre outros aplicativos, tem na sua estrutura uma base
composta por algoritimos que tendem a controlar o fluxo de informação na web (CORRÊA e
BERTOCCHI, 2012). Para as autoras, o excesso de informação
exige organização e
contextualização, o aprendizado tecnológico demanda investimento corporativo e
disponibilidade intelectual, a mobilidade e a proximidade solicitam novos formatos
narrativos (CORRÊA e BERTOCCHI, 2012, p.135).
A já citada metáfora do dilúvio de James Gleick (2013, p.412) nos ajuda a refletir
sobre a informação. O autor também ressalta a importância da indexação na web frente ao
9
SALVADORI, F. Re: Ponte Jornalismo [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<lenonmpff@gmail.com> em 5 nov. 2016
10
Recomenda-se verificar o site Internet Live Stats. Disponível em <http://www.internetlivestats.com/>. Acesso
em 06 out. 2016.
26
grande fluxo de informação, afirmando que um site não indexado na internet se encontra no
limbo tanto quanto um livro deixado na estante errada da biblioteca (GLEICK, 2013, p.420).
Barabási (2009, p.147) nos traz uma reflexão importante acerca da organização da
informação e sua navegabilidade na web, expondo a relação entre os links dentro da
direcionalidade das redes com base no trabalho de Andrei Broder, do site de buscas e
indexador AltaVista11 (atualmente desativado12), em 1999. Broder dividiu a web em quatro
grandes continentes: 1. Núcleo central, abriga todos os grandes sites da web (Google, Yahoo!,
Facebook); 2. Continente interior, tão grande quanto o núcleo central porém mais difícil de
navegar, a partir dele pode-se chegar ao núcleo central, mas o caminho contrário não ocorre;
3. Continente exterior, semelhante ao continente interior, porém este continente é acessado
através do núcleo central e o caminho reverso não ocorre (sites corporativos); e 4. Filamentos
e ilhas, formado, que são grupos isolados de páginas interconectadas que são inacessíveis a
partir do núcleo central e não possuem links de volta para ele , como sites não indexados em
ferramentas de pesquisa (BARABÁSI, 2009, p.149).
Sempre que colocamos um texto numa rede de outros textos, reforçamos a sua
existência como parte de um diálogo complexo. A linkagem hipertextual, que
tende a mudar os papéis de autor e receptor, altera também os limites do texto
individual (LANDOW, 1992, p.63 apud DALMASO, 2010).
Dentro dessa perspectiva, e considerando as relações entre os continentes da web
(BARABÁSI, 2009, p. 147), os links presentes na web a partir dos sistemas hipertextuais
permitem linkar em um texto outros textos complementares ou contraditórios, agregando mais
informação a uma primeira informação dada. Através da linkagem hipertextual toda
informação é dotada de informações subsequentes, umas sempre relacionadas com as outras, e
assim se configura a construção de um universo midiático de acontecimentos
(CHARAUDEAU, 2015). Neste sentido, podemos refletir acerca da intertextualidade de
notícias e e a sua inerência ao caráter hipertextual do meio digital, bem como situar aqui o
nosso objeto empírico.
11
Disponível em: <http://web.archive.org/web/20130705170943/http://www.altavista.com/>. Acesso em: 02
dez. 2015.
12
Ver: <https://sites.google.com/site/historiasobreossitesdebusca/historia-dos-principais-sites-de-busca/historiado-site-de-busca-alta-vista>. Acesso em: 02 dez. 2015.
27
3.2 MÍDIA ALTERNATIVA E JORNALISMO INDEPENDENTE
O campo do Jornalismo no Brasil se deteve por muito tempo em pesquisar a mídia
hegemônica e empresarial, a grande mídia brasileira. Esta realidade se perdura até o
momento, e as pesquisas em jornalismo alternativo e independente não são maioria, e os
estudos atuais não são suficientes para a determinação de um conceito do que é alternativo ou
independente dentro das iniciativas jornalísticas. Sendo assim, trazemos para a discussão estes
conceitos que, a partir de uma revisão teórica, iremos expor.
Iniciativas jornalísticas alternativas e independentes têm uma característica
essencial que influi na sua condição de veículo midiático: a não vinculação a instituições e
organizações de direto privado, propiciando uma maior pregnância na democracia.
O confronto entre o hegemônico e o alternativo se coloca aqui, portanto, no processo
de legitimação de agendas e fontes. Por isto, a existência da mídia alternativa é
garantia de uma reflexão radical (no sentido de pegar pela raiz) da própria estrutura
do debate democrático. (OLIVEIRA, 2011, p.62)
Essas iniciativas podem ser compreendidas como um empreendedorismo jornalístico,
podendo se caracterizar como um negócio emergente. (DEUZE e WITSCHGE, 2015). É
necessário lembrar também da importância da mídia alternativa na atualidade. Oliveira afirma
que
A mídia alternativa cumpre um importante papel, dentre outros, de ampliar as vozes
da esfera pública, agindo como um elemento problematizador do processo
instituinte de determinadas vozes feito pela mídia hegemônica. Desta forma, o
espectro de opiniões e de olhares sobre os assuntos se amplia, assim como há outros
definidores das agendas públicas para além do estreito círculo das fontes
oficiais.(OLIVEIRA, 2011, p.62).
Na presente pesquisa percebemos que o portal Ponte Jornalismo se configura como
jornalismo alternativo e independente13, por instituir diferentes vozes além do que é instituído
no debate público pela mídia hegemônica. Aqui podemos elencar preliminarmente uma
característica da cobertura jornalística do Ponte sobre a violência policial (e também sobre
outras pautas): a recorrência predominante a fontes não institucionais (testemunhas, vítimas,
pessoas próximas à vítima e especialistas), e não apenas as fontes institucionais (instituições
coercitivas).
13
Recomenda-se ver o Mapa do Jonalismo Independente, uma iniciativa da Agência Pública. Disponível em <
http://apublica.org/mapa-do-jornalismo/#_ >. Acesso em 15 nov. 2016.
28
3.3 O PORTAL PONTE JORNALISMO
Com 58.060 curtidas na sua página do Facebook14, o Ponte Jornalismo surgiu em maio
de 2014. Segundo um dos fundadores em entrevista por e-mail, Fausto Salvadori, o Ponte
Jornalismo surgiu a partir de um grupo de jornalistas experientes vindos da grande mídia e
outros iniciantes que perceberam a necessidade de criar um canal para dar mais visibilidade
ao grave problema das violações de direitos humanos praticadas pelas forças de segurança do
Estado brasileiro, que não recebem a cobertura merecida dos grandes veículos de
comunicação.
Nos primeiros meses, a Pública - Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo15
incubou a equipe do Ponte, disponibilizando recursos para a criação do site e uma estrutura
mínima de computador e telefone. O portal conta com cerca de dez jornalistas que formam o
núcleo de redação16, e com várias entidades e colaboradores parceiros.
Segundo Fausto Salvadori, em entrevista por e-mail, a maioria dos colaboradores é
jornalista, pois segundo ele abordar o tema da segurança pública requer conhecimento
mínimo de Direito, de questões da segurança pública e de técnicas jornalísticas, como a
necessidade de ouvir todos os lados envolvidos (SALVADORI, 2016, entrevista concedida
ao autor). Também há colaboradores17 que são professores, como Camila Nunes Dias;
ativistas, como as Mães de Maio; e artistas, como Emicida e Sérgio Vaz.
14
Disponível em < https://www.facebook.com/pontejornalismo/?fref=ts >. Acesso em 17 nov. 2016.
Disponível em <http://apublica.org/>. Acesso em 24 ago. 2016
16
Em entrevista, Fausto Salvadori reforça a busca pela pluralidade da cobertura jornalística do portal, dando
visibilidade ao que a grande mídia não atenta. Por isso um núcleo de reda Disponível em
<http://ponte.org/contact/autores/>. Acesso em 24 ago. 2016.
17
Disponível em <http://ponte.org/contact/apoiadores/> . Acesso em 24 ago. 2014
15
29
Figura 1: Print do portal Ponte Jornalismo
Homepage
Fonte: Site do Ponte Jornalismo. Disponível em < http://www.ponte.org/ >. Acesso em 15 nov. 2016.
Conforme a descrição no site, o portal Ponte é um canal de informações sobre
Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos que surgiu da convicção de que jornalismo de
qualidade sob o prisma dos direitos humanos é capaz de ajudar na construção de um mundo
mais justo.
O principal objetivo do Ponte é dar visibilidade a questões que passaram a ser omitidas
pela grande mídia e levar à sociedade informações sobre o que está silenciado e encoberto .
Assim, o Ponte se propõe, a partir de um jornalismo investigativo isento de compromissos
econômicos, agendar o debate público, levar o Estado e a sociedade a buscar soluções para a
desigualdade, a injustiça e a opressão policial. Por e-mail, Fausto Salvadori afirmou
Como a Ponte é uma iniciativa que busca pensar na informação levando em conta o
impacto que ela pode ter na sociedade, e não sua possibilidade comercial, não
pensamos muito no conceito de público-alvo. (SALVADORI, 2016, entrevista
concedida ao autor)
O Ponte nasce com o apoio institucional da Agência Pública de jornalismo
investigativo, uma organização sem fins lucrativos pioneira no Brasil, que visa ao
fortalecimento do direito à informação, à qualificação do debate democrático e à promoção
30
dos direitos humanos. É sob esse prisma que deve ser vista a sua participação na fundação da
Ponte, fornecendo apoio institucional e estrutura, como incubadora do projeto.
Figura 2: Print do portal Ponte Jornalismo
Aba lateral e editorias
Fonte: Site do Ponte Jornalismo. Disponível em < http://www.ponte.org/ >. Acesso em 15 nov. 2016.
No menu lateral do site podemos ver como o mesmo se estrutura, em relação à
disposição das suas notícias. A divisão do site compreende nas editorias Direitos Humanos,
Justiça e Segurança Pública, e as subeditorias Gênero, Racismo e Violência Policial. Fausto
nos informa que o Ponte Jornalismo pensa primeiramente na informação levando em conta a
sua relevância e o seu potencial de impacto na sociedade e não pela sua possibilidade
comercial, e por isso afirma que a redação do Ponte não se atém muito ao conceito de
público-alvo.
Temos uma informação importante para passar e vamos passá-la. Começa por aí.
Quem vai nos ouvir? Aí é o segundo passo. Vamos começar a estruturar essa ideia
de público-alvo a partir de agora, pelo caminho inverso: quase três anos após lançar
nosso site, queremos fazer uma pesquisa para ver quem é que nos lê. Idealmente,
penso que o leitor da Ponte é qualquer pessoa preocupada com a questão dos direitos
humanos no Brasil, incluindo aí ativistas, estudantes, moradores de bairros pobres
etc. (SALVADORI, 2016)
Fausto afirma que o Ponte surgiu com a ambição de fazer as pessoas prestarem mais
atenção aos problemas que afetam os direitos humanos, ajudando a superar a invisibilidade da
violência que afeta os moradores pretos e pobres das periferias. Ninguém é remunerado por
atuar no Ponte. Os jornalistas que compõe o quadro do Ponte Jornalismo tem emprego em
31
outras organizações, e usam do seu tempo livre para apurar e produizir o conteúdo que
alimenta o site. Segundo Fausto, o que mantém o Ponte são os esforços de todos nós,
trabalhando nas horas vagas, porque o projeto ainda não é sustentável e não vivemos dele .
Uma das formas do portal se manter é através de doações, que podem ser feitas no próprio
site18.
Um ponto essencial que nos permite remeter ao portal Ponte como um veículo de
Jornalismo Especializado é seu espectro definido: a temática explicitada no próprio site
direitos humanos, justiça e segurança pública
o que resulta na seleção de acontecimentos
determinados para a construção de um universo midiático específico. Além disso, conforme
iremos demonstrar no capítulo 5, a maioria das matérias se remete à um acontecimento já
relatado pelo portal, o que denota o seu caráter hipertextual e de pertinência nos
acontecimentos relatados pelo portal. O portal Ponte não visa o lucro: é produzido de forma
independente por um conjunto de jornalistas do Rio de Janeiro e São Paulo.
18
Disponível em < http://ponte.org/doe-para-a-ponte/> Acesso em: 12 nov. 2016.
32
4. PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS DE ANÁLISE
Tendo em vista a importância da cobertura jornalística sobre a violência para o
agendamento de políticas públicas e como essa cobertura influencia na forma de ver e viver o
mundo, elencamos neste momento os nossos critérios e métodos de coleta e análise.
Para a metodologia, nós adotamos a Análise de Conteúdo para uma análise macro
mais abrangente visando definir textos específicos e representativos de uma futura
categorização, para posterior análise micro mais focada e determinada no nosso objeto.
Utilizando a metodologia de Análise de Discurso e Análise de Conteúdo, proponho a verificar
como é dada a cobertura jornalística do portal Ponte sobre a violência policial. Para isso,
consideramos a importância em investigar tal temática, por abranger uma das pautas mais
recorrentes e que, quando abordadas na mídia, mais influem no imaginário e na visão de
mundo de uma sociedade: a violência policial.
4.1 CONSTRUÇÃO DE UM BANCO DE DADOS: METODOLOGIA E CRITÉRIOS
Conforme elencado nos capítulos anteriores, tratar do fenômeno da violência é algo
complexo. Atrelando esta temática ao jornalismo, foi um desafio definir um protocolo
metodológico para analisar como o portal Ponte Jornalismo trata a violência policial.
Para definir os nossos critérios para coleta das matérias do portal Ponte, percebemos a
necessidade de restringir o nosso espectro visando o nosso objetivo principal. Por isso
definimos como critério principal que as notícias analisadas devem relatar sobre um
determinado acontecimento de violência policial. Entendemos por violência policial toda as
ações de instituições coercitivas onde ocorre: uso excessivo e desmedido de força, abuso de
poder, negligência, homicídio e não cumprimento dos direitos humanos, em momento de
serviço. A respeito da violência policial, Paulo Mesquita Neto (1999) afirma que
Os casos de violência policial, ainda que isolados, alimentam um sentimento de
descontrole e insegurança que dificulta qualquer tentativa de controle e pode até
contribuir para a escalada de outras formas de violência. A violência policial,
principalmente quando os responsáveis não são identificados e punidos, é percebida
como um sintoma de problemas graves de organização e funcionamento das
polícias. Estes problemas, se não forem solucionados, particularmente em
democracias emergentes como o Brasil, podem gerar problemas políticos, sociais e
econômicos sérios e podem contribuir para a desestabilização de governos e de
regimes democráticos. (NETO, 1999)
Percebemos em nossa análise que os acontecimentos de violência policial podem
ocorrer à nível urbano (que ocorre no cenário urbano, manifestações, reintegração de posse,
33
blitz, operações urbanas), à nível periférico (intervenções securitárias em vilas, favelas) à
nível carcerário (abuso de poder por parte de agentes penitenciários), e à nível investigativojudicial (investigação de inquérito, mandados judiciais).
Caso o critério principal não se cumpra, definimos como critério subseqüente que as
notícias analisadas devem se relacionar a um acontecimento de violência policial já relatado
pelo portal Ponte. Isso nos permitirá inferir acerca da pertinência da cobertura jornalística do
portal em relação à um mesmo acontecimento. Primamos por uma análise que compreenda
também a perspectiva da resolução semântica dos acontecimentos (FIDALGO, 2007).
Contudo, não consideramos em nossa análise as notícias que tratam de acontecimentos que
não foram noticiados anteriormente pelo portal Ponte Jornalismo.
Consideramos pertinente também incluir na nossa análise as publicações que tratam do
fenômeno policial como um todo, e não se referem à um acontecimento em específico19 Como
nosso objetivo principal é analisar a cobertura jornalística sobre a violência policial, não
consideramos, na construção do nosso banco de dados, textos de cunho opinativo ou de
divulgação. Assim, nosso corpus compreende as matérias que dizem respeito a
acontecimentos que ocorreram a partir de maio de 2014.
Em relação à nuvem de tags, uma maneira visual de identificar predominância de
determinados termos na cobertura jornalística sobre violência do Ponte, nós as concebemos no
aplicativo Tagul
Word Cloud20, e a fizemos com dois conjuntos de termos: o conjunto de
títulos das 87 matérias coletadas; e conjunto de termos pesquisados em todos os textos
Neste sentido acreditamos que, ao utilizar as metodologias de Análise de Conteúdo e
Análise de Discurso para analisar matérias representativas das categorias pré-estabelecidas,
em comparação com estudos já realizados sobre notícias publicadas na mídia tradicional sobre
a violência, poderemos realizar reflexões acerca da cobertura jornalística sobre a violência
realizado pelo portal Ponte Jornalismo, se existem características específicas na mesma, e
quais que são estas especificidades.
Nosso corpus é composto por 87 textos que compreendem o período de 30 de maio de
2014 até 30 de maio de 2015, o primeiro ano de atuação do Ponte. As matérias foram
coletadas a partir da captura em *.pdf das notícias publicadas no site (DE PAULA, 2014) e
podem ser conferidas na tabela abaixo.
19
Como por exemplo matérias que trazem dados e análises acerca do cenário da segurança pública, atrelada ao
fenômeno da violência policial.
20
Disponível em <https://tagul.com>. Acesso em 15 nov. 2016;
34
Tabela 1: As notícias do nosso corpus (data em MM/DD/AAAA)
(continua)
Título
Data
(MM/DD/AAAA)
Vídeo indica que rapaz morto pela PM não teria reagido a abordagem
5/30/2014
Letalidade policial aumenta 206% em SP
6/23/2014
Investigação contradiz PM
6/24/2014
Saiba identificar os policiais
6/24/2014
Cicatriz na dignidade
6/25/2014
Depoimento que Patrícia Rodsenko concedeu à Ponte no mesmo local em que foi atingida
6/25/2014
PMs de SP mataram 10 mil pessoas em 19 anos
6/25/2014
Foi bala da polícia, sim , afirma professora
6/26/2014
Policiais arrastam advogado durante desocupação em SP
6/26/2014
Conselho ouvirá advogado detido pela PM
6/27/2014
Lógica de eliminar oponente deve acabar, diz delegado
6/27/2014
A morte da palhacinha
6/30/2014
A guerra silenciosa na Zona Leste de São Paulo
6/30/2014
"Os jovens policiais estão desesperados"
6/30/2014
Ativista preso diz que polícia quis mostrar serviço–
7/1/2014
Ativista preso diz que polícia quis mostrar serviço (2ª versão)
7/2/2014
PM mata suspeitos de crime contra soldado de Mogi
7/3/2014
Advogados pedem que MP investigue PMs por tortura
7/4/2014
Direitos humanos cobram investigação em Presidente Prudente
7/9/2014
PM assumiu risco de matar atriz, diz ouvidor das polícias
7/9/2014
Disparo contra Luana foi acidental, segundo Polícia Civil
7/9/2014
Dois meninos e uma sentença de morte no Rio de Janeiro
7/10/2014
Testemunha contradiz PM sobre morte de Luana
7/17/2014
Oficiais de protestos no RJ têm histórico violento
7/17/2014
Ouvidoria critica abuso da PM em manifestações
7/23/2014
Polícia Civil vai investigar morte de atriz em Prudente
7/23/2014
9 casos de tortura ou de tratamento cruel
7/28/2014
Grupo protesta em São Paulo por morte de atriz
7/29/2014
Família diz que pichadores foram executados por PMs
8/3/2014
"Estamos vivendo um ciclo de violência", diz Fernando Grella
8/5/2014
PMs já mataram 62% a mais que em 2013
8/5/2014
Número de mortos por PMs no litoral e interios sobe 45%
8/7/2014
Pichação se une em protesto por mortes de Alex e Ailton
8/8/2014
35
Tabela 1: As notícias do nosso corpus (data em MM/DD/AAAA)
(continuação)
Polícia de SP mata sempre nos mesmos lugares, nos mais pobres
8/8/2014
Letalidade da PM é escandalosa, diz diretor da Anistia Internacional no BR
8/10/2014
Começa julgamentos de PMs suspeitos de matar vítima de assalto
8/14/2014
Jurí condena ex-PMs por matar assaltante e vítima em 2004
8/15/2014
Justiça cobra laudo de jovem acusado por PM de se matar algemado
8/15/2014
Maternidade condenada
8/15/2014
Mulher que deu à luz algemada na prixão dá entrevista pela 1ª vez
8/15/2014
Policiais são investigados sob suspeita de torturar motoboy
8/20/2014
Justiça militar libera PMs acusados de matar pichadores
8/28/2014
7 fatos difíceis de explicar na morte de 2 pichadores
9/1/2014
Perícia começa a derrubar versão de que jovem algemado se matou
9/30/2014
Família diz que guarda foi morto por ser negro
10/1/2014
Mãe luta para salvar vida de filho baleado por policiais
10/4/2014
Líder comunitária denuncia intimidação policial na Favela do Moinho
10/15/2014
Libertado motorista acusado no Facebook de matar delegado
10/17/2014
Documento secreto: PM viola normas de uso para bala de borracha
10/29/2014
Corregedoria vai investigar PMs da Rota suspeitos de homicídio e de sumiço de jovens
11/14/2014
Moradores acusam Rota pela morte de um jovem e sumiço de outro
11/14/2014
Jovem some após abordagem policial em Salvador (BA). Sumiço já dura 25 dias
11/17/2014
Policiais civis humilham grávida em vídeo divulgado no Facebook
11/25/2014
Jovem que sumiu após morte de PM é encontrado preso
11/25/2014
Jovem pede socorro antes de ser alvejado por PMs na zona sul de SP
12/4/2014
Afastados, PMs que executaram jovem com 10 tiros serão investigados
12/12/2014
MP-SP só vai investigar PMs que executaram jovem em 2015
12/26/2014
O Natal das mães que perderam seus filhos para o Estado
12/18/2014
Jovem que sonhava ser policial é morto por PM
12/29/2014
36
Tabela 1: As notícias do nosso corpus (data em MM/DD/AAAA)
(continuação)
Polícia reprime com bala de borracha manifestação contra morte de jovem por um PM
1/5/2015
Detenção e humilhação depois do 1º Grande Ato contrao o Aumento das Tarifas"
1/10/2015
PM reprime ato do Passe Livre com violência
1/10/2015
PM de SP bate recorde de mortes e não reduz crimes
1/12/2015
PM de SP será investigada por tortura contra manifestantes
1/17/2015
PM ataca manifestantes e mente nas redes sociais
1/18/2014
Ainda não sei se vou voltar a enxergar', diz nova vítima de bala de borracha
1/21/2015
A farsa da PM de SP no Réveillon de 2015
1/22/2015
Veja imagens da reconstituição da execução cometida por PMs contra pedreiro
1/25/2015
PMs que executaram jovem com 10 tiros não devem voltar à corporação
2/1/2015
Documentos apontam que pichadores foram executados por PMs
2/4/2015
Testemunha diz que vítimas da chacina do Cabula (BA) estavam rendidas
2/7/2015
Mais três morrem em ações da PM em Salvador. São 15 mortos desde a 6a Feira
2/8/2015
PMs de São Paulo matam uma pessoa a cada 10 horas
2/10/2015
Policiais acusados de montar farsa para executar pedreiro são soltos
2/10/2015
Comunidade protesta contra chacina no Cabula. PM intimida
2/12/2015
Sargento da PM que confessou farsa para executar pedreiro é preso
2/12/2015
PMs matam pai de família com 3 tiros na zona sul de SP
3/5/2015
Justiça manda prender 5 PMs por Farsa que resultou na morte dos pichadores
4/25/2015
"Baltimore é aqui" vira grito de guerra na Cracolândia
4/30/2015
PM do Paraná feriu 4 adolescentes. Eles gritavam "sem violência, sem violência".
4/30/2015
"A guerra às drogas legitima a violência policial"
5/1/2015
Polícia quer reconstituir execução de PMs contra jovem, mas caso emperra
2/12/2015
Após 19 dias presos, 5 PMs acusados de matar 2 pichadores são soltos
5/13/2015
PM mata jovem de 16 anos e cria clima de terror no Grajaú
5/28/2015
PMs demoram 5 horas para informar sobre morte de adolescente
5/28/2015
"Se você não sair agora, vou dar um tiro bem na sua barriga, matar você e seu filho"
5/30/2015
Testemunhas dizem que Lucas estava algemado e que pediu a PMs para não ser morto
5/30/2015
Fontes: Elaboração própria do autor
37
Reforçamos aqui que o nosso banco de dados contém apenas as notícias publicadas no
portal Ponte Jornalismo (e não textos de outros gêneros, como opinativos e divulgação de
eventos), com a temática
violência policial , no período de Mai./2014 à Mai./2015,
compreendendo o primeiro ano de atuação do portal Ponte.21 As matérias desse universo
possuem diferentes características, e por conveniência metodológica nós as categorizamos
matérias por título, data, fontes utilizadas, a presença da polícia no título, a forma de relato
(primário, secundário, isolado), a abordagem do órgão coercitivo e a natureza da notícia.
4.2 FONTES CONSULTADAS
Em sua obra, Charaudeau (2015, p.148) elabora um quadro sistemático para
identificação das fontes jornalísticas, afirmando que as fontes podem ser internas às mídias (1.
internas ao organismo de informação: correspondentes, enviados especiais, arquivos próprios;
e 2. externas ao organismo de informação: agências de informação, outros veículos
midiáticos) ou externas às mídias (1. Institucional - oficiais/oficiosas: estado/governo,
administrações, organizações sociais - partidos, sindicatos -, políticos
e 2. Não institucional: testemunhas, especialistas, representantes
representantes sociais;
corpos profissionais). A
partir de tais categorizações, pretendemos observar se o discurso sobre a violência policial na
cobertura jornalística realizada pelo portal Ponte Jornalismo se diferencia da cobertura
tradicional realizado pela grande mídia, uma vez que conforme Ramos e Paiva (2007), as
notícias sobre violência trazem um vício em fontes institucionais oficiais, principalmente do
Estado-Governo, representada pelas instituições coercitivas (NOBREGA JUNIOR, 2005)
Atentamos o leitor para as especificidades encontradas na análise da cobertura
jornalística do portal Ponte sobre a violência policial. Tais especificidades exigiram que
adaptássemos a teoria supracitada para melhor definirmos e categorizarmos as fontes. (ver
Tabela 2). No caso das fontes institucionais, categorizamos como fonte Estado-Governo não
só quando é citado sobre o lado das instituições coercitivas acerca de um determinado
acontecimento de violência policial, mas também quando trata-se de laudos oficiais, perícia,
inquéritos, e demais relatórios destas instituições cuja atuação compreende na elucidação e
investigação do fato. 59 matérias no nosso corpus contém informações oriundas do
Estado/Governo. Também institucionais temos as Organizações Sociais (Organizações Não
Governamentais e institutos) e Administrações (gestora de órgãos).
21
A planilha com os dados quantitativos e qualitativos da presente pesquisa está disponível para visualização e
comentários no link < https://goo.gl/660R6t>. Acesso em 5 dez. 2016.
38
Já nas fontes não institucionais, se tornou necessário que incluíssemos dentre as já
elencadas por Charaudeau as fontes
vítimas
e
pessoas próximas à vítima , fontes
recorrentes nos textos que compõe o nosso universo de análise. Assim, expomos a nossa
adaptação da tabela de identificação das fontes proposta por Charaudeau, que se enquadra na
nossa especificidade de análise. A grande presença de fontes Institucionais do
Estado/Governo é dada pela pertinência da cobertura jornalística do portal Ponte em obter
documentos e dados oriundos das investigações e inquéritos elaborados pelas instituições
coercitivas, e assim percebe-se a grande recorrência à fonte oficial. Entretanto, as fontes não
institucionais (testemunhas, vítima, pessoas próximas à vítima e especialistas), foram
consultadas 87 vezes em 61 matérias, ou seja, estas aparecem 67,82% a mais do que as fontes
institucionais nas notícias do nosso corpus.
Tabela 2: A identificação das fontes com adaptações
Int. Mídias
int. org. info
ext. org. info
Correspondentes
Enviados especiais
Arquivos próprios
Agências e indústrias
de serviço
Outras mídias
Ext. Mídias
institucional
(oficiais/oficiosas)
Estado-Governo
Administrações
Org. Sociais
(partidos, sindicatos)
Políticos
(representantes
sociais)
não institucional
Testemunhas
Vítimas
Pessoas próximas às
vítimas
Especialistas
Representantes
Fonte: Charaudeau, P. Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2015. (p.148)
4.3 ANÁLISE DE CONTEÚDO E OS TERMOS RECORRENTES
Acredito na importância de utilizar a metodologia de Análise de Conteúdo para análise
do portal Ponte Jornalismo, pois a mesma permite destacar questões relacionadas à gênero,
representações de violência, minorias, identidades (SOUSA, 2006, p. 662). É relevante
citarmos Laurence Bardin (1979, apud GERHARDT e SILVEIRA, 2009) que afirma que:
[...] ela representa um conjunto de técnicas de análise das comunicações que visam a
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens.
(BARDIN, 1979, p.42 apud GERHARDT e SILVEIRA, 2009, p. 84)
39
Shoemaker e Reese afirmam que a análise de conteúdo da mídia nos ajuda a entender
um pouco mais sobre quem produz e quem recebe a notícia e também a estabelecer alguns
parâmetros culturais implícitos e a lógica organizacional por trás das mensagens. (1996, apud
LAGO e BENETTI, 2008, p.124, grifo nosso). Também entendemos que essa metodologia é
importante para a análise de um grande conjunto de textos.
Com essa metodologia, em um primeiro momento, pretendemos realizar uma leitura
flutuante das matérias jornalísticas publicadas no portal para posteriormente estabelecer
critérios para categorização dos dados obtidos. Atentamos para nosso interesse em focar
nossos estudos apenas para as produções noticiosas-jornalísticas do portal, uma vez que no
portal Ponte Jornalismo também é veiculado conteúdo de natureza opinativa e de divulgação
(de eventos, seminários, e afins). Para tanto acreditamos que ao focar nossos estudos nas
notícias veiculadas pelo portal Ponte será possível tensionar e problematizar sobre uma forma
ideal de tratar o fenômeno da violência policial na cobertura jornalística, enquanto geradora
de discussões e promotora de um agendamento de políticas públicas para a segurança.
Outro ponto importante na definição do nosso percurso metodológico são as fontes
elencadas nas matérias publicadas. Estas se tornam um importante ponto de categorização ao
utilizar a metodologia de Análise de Conteúdo, uma vez que são aspectos inerentes à nossa
intenção de analisar a cobertura jornalística realizada pelo Ponte
as fontes consultadas e
mencionadas nas matérias nos possibilitam observar quais vozes são citadas nas notícias, se as
mesmas se diferenciam nas vozes presentes na cobertura jornalística da grande mídia sobre a
violência (RAMOS e PAIVA, 2007).
Após levantar categorizações a partir de se há ou não polícia na manchete, de qual
instituição coercitiva se trata (polícia civil, militar, guarda municipal, ou exército), qual
imagem é dada a estas instituições (como por exemplo negligente, opressora, truculenta,
dentre outros), e quais fontes são consultadas, pretendemos elencar matérias representativas
destas categorias a partir da metodologia de Análise de Discurso. Para isso, pretendemos
analisar as três matérias mais lidas de cada mês, elencando os textos que tiveram maior
visualização num determinado mês.
4.4 ANÁLISE DE DISCURSO, O ACONTECIMENTO MIDIÁTICO DA VIOLÊNCIA
POLICIAL E A SUA RESOLUÇÃO SEMÂNTICA
Com a Análise de Discurso, Charaudeau propõe uma perspectiva analítica e
interdisciplinar da construção de sentido da máquina midiática (CHARAUDEAU, 2015,
p.25), com um quadro de referência teórica que é um modelo de análise de discurso que se
40
baseia no funcionamento do ato de comunicação (CHARAUDEAU, 2015, p.23). Esse ato de
comunicação consiste em uma troca entre duas instâncias: a de produção e a de recepção.
Na ilustração do seu modelo de análise, o autor propõe a estruturação da máquina
midiática compreendendo as instâncias de produção e recepção, além do próprio produto
midiático (CHARAUDEAU, 2015, p.23). Essa máquina midiática acaba por construir o
espaço público e a opinião pública através do contrato midiático e através da construção e
transformação do acontecimento. Como são diversas as formas em que o portal trata os
acontecimentos de violência, sobretudo a violência policial que é o nosso foco nesta pesquisa,
percebemos a necessidade de apresentar definições teóricas sobre acontecimento e as suas
dimensões.
[...] o mundo a descrever é o lugar onde se encontra o acontecimento bruto e o
processo de transformação consiste, para a instância midática, em fazer passar o
acontecimento de um estado bruto (mas já interpretado), ao estado de mundo
midiático construído, isto é, de notícia ; isso ocorre sob a dependência do processo
de transformação, que consiste, para a instância midiática, em construir a notícia em
função de como ela imagina a instância receptora, a qual, por sua vez, reinterpreta a
notícia à sua maneira. (CHARAUDEAU, 2015, p.114)
O acontecimento midiático é construído por este universo da informação midiática
(CHARAUDEAU, 2015), fazendo com que a instância midiática imponha ao cidadão uma
visão de mundo previamente articulada, sendo que tal visão é apresentada como se fosse a
visão natural do mundo
(CHARAUDEAU, 2015). Charaudeau (2015) afirma que os
acontecimentos do mundo ganham sentido apenas quando estruturados num ato de linguagem
através da tematização (quando o acontecimento vira tema, ou no caso do Jornalismo,
pauta). Nesse sentido, o acontecimento é sempre construído, pois
passa pelo trabalho de construção de sentido de um sujeito de enunciação que o
constitui em mundo comentado , dirigido a um outro do qual postula, ao mesmo
tempo, a identidade e a diferença (CHARAUDEAU, 2015, p.95)
Assim o acontecimento se encontra nesse mundo a comentar , e nunca é transmitido
em sua plenitude, enquanto acontecimento bruto. O acontecimento depende do olhar ao qual é
submetido para ser relatado, tornando-o inteligível e ser passível de uma captura perceptiva e
interpretativa.
Para pensarmos acerca da dimensão de um acontecimento, traremos para o nosso
trabalho o conceito de resolução semântica, cuja concepção teórica nos possibilita
comprender o aumento da dimensão dos fatos. Fidalgo (2007), em uma compreensão análoga
41
a da imagem digital
que é composta por vários pixels na sua resolução, e quanto maior a
quantidade de pixels, maior a sua resolução e, consequentemente, a sua dimensão
afirma
que a pluralidade e a diversidade das notícias online sobre um acontecimento aumenta a
informação sobre o mesmo, juntamente com a dimensão do acontecimento. Nessa concepção,
a dimensão dos acontecimentos podem ser aumentadas, e a esta dimensão é dada o nome de
resolução semântica.
Consoante a importância dada ao acontecimento, as notícias aumentam em número e
detalhe, dando uma visão mais em pormenor do que se passou. Ao princípio, a
informação é dada em traços gerais, consistindo preferencialmente na resposta
sumária às perguntas que tradicionalmente enformam um lead: quem, o quê, quando,
onde, porquê. Depois vêm as notícias subsequentes completando e pormenorizando
a informação. (FIDALGO, 2007)
O complexo de notícias sobre um mesmo acontecimento compõe o universo de
informação midiática (CHARAUDEAU, 2015, p.151), tratando-se da construção e
estruturação do espaço social através dos discursos produzidos para tentar torná-lo inteligível.
Na nossa compreensão, no ambiente digital este espaço social pode ser tomado a partir da
perspectiva da resolução semântica. Assim dito, tenho como objetivo analisar as
especificidades da cobertura jornalística e da narrativa de notícias que envolvem a temática de
violência policial no portal Ponte Jornalismo utilizando a presente proposta de percurso
metodológico.
42
5. PONTE JORNALISMO E VIOLÊNCIA
JORNALÍSTICAS DE UMA GUERRA URBANA
POLICIAL:
TRINCHEIRAS
Neste capítulo iremos elencar discutir os dados resultantes da nossa análise em
diferentes perspectivas: predominância de termos; fontes; as formas em que o acontecimento
é relatado e as tipologias do noticiário. Dessa forma pretendemos alçar referências para uma
cobertura jornalística ideal do fenômeno da violência policial.
5.1 PREDOMINÂNCIA DE TERMOS: A PM E A MORTE
Ao analisarmos os títulos das 87 matérias que compõem o nosso corpus, podemos
perceber a predominância do termo PM , que aparece nos títulos de 46 matérias diferentes.
Destacamos também o termo Morte e Jovem (com 13 aparições cada termo); e SP (10). A
predominância destes termos nos títulos nos permite observar os destaques dados pelo portal
Ponte nas chamadas das suas matérias.
Tabela 3: Predominância de termos nos títulos das notícias que compõem o nosso corpus
Termos nos títulos
PM
Morte
Jovem
SP
Diz
Polícia
Matar
Policiais
São
Contra
Morto
Pichadores
Preso
Violência
Acusado
Bala
Vítima
Recorrências
45
13
13
10
10
9
8
7
7
7
6
6
5
5
5
4
4
Fonte: Elaboração própria do autor
A partir dos dados obtidos nessa perspectiva de análise, elaboramos a seguinte nuvem
de tags, nos permitindo fazer um contraste entre os termos a partir da proporção que cada um
ocupa do espaço total da ilustração.
43
Gráfico 1: Nuvem de tags
Recorrência de termos nos títulos das notícias
Fonte: Dos autores / Tagul
A predominância da PM nos explicita uma característica da cobertura jornalística do
portal Ponte: a grande recorrência da PM enquanto pauta e enquanto fonte. Com 45 aparições
dentre as 87 matérias do nosso corpus, Morte é o segundo termo mais recorrente dentre as
manchetes, 13.
Observamos também a recorrência de termos no corpo dos 87 textos que compõem o
nosso corpus. Incluímos novos termos além da tabela anterior, que traz a predominância dos
termos apenas nos títulos das matérias. Essa análise se divide em duas perspectivas:
predominância por instâncias, contabilizando quantas vezes o termo aparece no texto de todas
as matérias que compõem o nosso corpus; e predominância por documentos, que nos mostra
em quantas matérias determinada um determinado termo está presente. O gráfico abaixo,
seguido da nuvem de tags, nos trazem estes números.
44
Tabela 4: Lista de termos recorrentes no corpo do texto das notícias
Ordenados a partir do número de recorrências no corpo do texto das notícias (instâncias)
Termos no corpo do texto
PM
Polícia
Morte
Policial
Segurança
Tiro
Estado
Arma
Crime
Segurança Pública
Jovem
Violência
Justiça
Vida
Vítima
Preso
Letal
Prisão
Disparo
Homicídio
Força
Direitos
Delegacia
Inquérito
Poder
Prova
Testemunhas
Ferido
Documentos
Direitos Humanos
Assassinato
Abuso
Farsa
Revolta
Violação
Contradiz
Terror
Insegurança
Truculência
Imperícia
Fontes: Elaboração própria do autor
Instâncias
Documentos
458
534
461
401
230
217
214
203
187
163
154
132
118
111
109
106
97
96
84
70
65
59
58
56
50
46
46
41
40
38
32
27
21
19
16
15
11
8
8
2
81
81
70
80
69
58
73
56
53
63
61
53
43
54
47
31
33
28
33
44
32
33
27
22
25
27
26
26
22
26
22
13
8
9
8
9
7
3
6
2
Com os dados da presente lista, elaboramos uma nuvem de tags a partir da perspectiva
da recorrência por instância, ou seja, conforme o número de vezes que determinado termo está
presente no texto de todas as matérias do nosso corpus.
45
Gráfico 2: Nuvem de tags
Recorrência de termos no corpo do texto das notícias
Fonte: Dos autores / Tagul
PM e morte são os termos mais recorrentes na cobertura jornalística do portal
Ponte sobre a violência policial. PM está presente em 51,72% dos títulos das matérias e em
98,05% das matérias como um todo. Já morte , assim como o termo foi constatada em
14,94% dos títulos e 80,46% das matérias.
Matérias que relatam acontecimentos envolvendo morte trazem com grande
frequência relatos de testemunhas e pessoas próximas à vítima, construíndo um universo de
informação midiática que envolve dor, luto, medo, tristeza e revolta, como podemos ver na
matéria PM mata jovem de 16 anos e cria clima de terror no Grajaú
22
. Essa matéria relata a
morte de Lucas dos Santos, 16 anos, vítima de um homicídio cometido por policiais na favela
do Sucupira, zona sul de São Paulo (SP). Testemunhas relataram que policiais militares
22
Disponível em < http://ponte.org/pm-mata-jovem-de-14-anos-e-cria-clima-de-terror-no-grajau/>. Publicada
em: 28 mai. 2015. Acesso em 15 nov. 2016.
46
deram seis tiros contra o jovem, acertando três, e que um dos policiais envolvidos colocou as
mãos na cabeça dizendo-se arrependido. Por revolta e indignação, familiares e moradores da
região fizeram uma manifestação onde, conforme a reportagem, depredaram cinco ônibus e
atearam fogo em lixo para interromper o trânsito. Tal manifestação resultou em confronto
com a PM e com a Rota, onde no acontecimento relatado é informado que a postura das
instituições coercitivas (...) provocou terror em quem protestava .23
Consideramos válido trazer para esta pesquisa uma visão antropológica da morte e o
seu impacto numa comunidade. Assim como a violência enquanto ação cênica premeditada de
modo a disseminar pânico, medo, raiva e rancor (WAINBERG, 2010), José Carlos Rodrigues
(2006) afirma que a morte de um indivíduo configura uma ruptura violenta, o fim de tantos
eventos e relações que o indivíduo morto mantinha em seu tecido social, e por isso o
desaparecimento ou a morte de alguém propicia uma hipetensificação das relações sociais.
A morte do outro é o anúncio e a prefiguração da morte de si , ameaça da morte do
nós . Ela mutila uma comunidade, quebra o curso normal das coisas, questiona as
bases morais da sociedade, ameaça a coesão e a solidariedade de um grupo ferido
em sua integridade. A reação da comunidade é um impulso contrrário a essas forças
desagregadoras. A violência de suas manifestações significa que a comunidade
continua a viver. Quanto mais ela chora, quanto maior sua dor, quanto maior a
efeverscência pela qual dirige os indivíduos uns em direção as outros, tanto mais
intensa a sua presença na almas de seus membros. A comunidade reage com
veemência igual à da força que a feriu e os indivíduos nunca se sente tão iguais a ela
quanto quanto ela é ameaçada. (RODRIGUES, 2006, p.82)
Os acontecimentos envolvendo mortes acabam por ter outra complexidade quando
relatados, envolvendo toda a luta de familiares e amigos e por se integrar à um contexto social
de revolta e indignação. A morte de inocente acaba por ser atrelada ao sentimentos de toda
uma comunidade, e esse sentimento coletivo tem no Jornalismo de Violência uma forma de
cobrança por justiça, explicitada através dos questionamentos que o portal Ponte faz à fontes
institucionais, bem como no impacto de determinadas matérias no âmbito jurídico.24
Vide matéria citada, PM mata jovem de 16 anos e cria clima de terror no Grajaú . Disponível em
<http://ponte.org/pm-mata-jovem-de-14-anos-e-cria-clima-de-terror-no-grajau/>. Publicada em: 28 mai. 2015.
Acesso em 15 nov. 2016.
24
Em e-mail, Fausto Salvadori afirmou que na matéria Cicatriz na Dignidade , publicada em 25 de junho de
2014, é um caso emblemático. “Foi a primeira reportagem que fizemos juntos, ainda antes da estreia do site, e
porque conseguimos uma resposta rápida. Logo após a publicação da reportagem, a Justiça recuou e libertou um
inocente , afirma. Disponível em <http://ponte.org/cicatriz-na-dignidade/>. Acesso em: 15 nov. 2016
23
47
5.2 AS FONTES QUE PAUTAM O JORNALISMO DE VIOLÊNCIA
Conforme o gráfico 1 e 2, percebemos a predominância de referências à PM, e isso
pode ser explicado pelo fato da PM, enquanto órgão coercitivo, ser tomada como pauta de
determinadas matérias (devido ao abuso de poder, crime, homicídio cometido); e não apenas
como fonte. Assim, a referida instituição coercitiva acaba por ocupar um papel ambivalente
no noticiário sobre violência policial, sendo quem a pauta e quem pode trazer detalhes acerca
de investigações e inquéritos.
Tabela 5: As fontes consultadas
Fontes
Institucional - Estado/Governo
Institucional Administrações
Institucional - Org. Sociais
Ext.
Não Institucional Testemunhas
Mídias
Não Institucional Vítima
Não Institucional - Pessoas próximas à vítima
Não Institucional Especialistas
Int. Outras Mídias
Mídias Arquivos Próprios
Recorrências
57
1
12
30
16
33
9
2
2
Rel. Prim.
35
4
12
4
15
2
Rel. Sec.
13
1
7
18
12
18
1
Rel. Isol.
9
1
6
Fonte: Elaboração própria do autor
A grande presença de fontes Institucionais do Estado/Governo é dada pela pertinência
da cobertura jornalística do portal Ponte em obter documentos e dados oriundos das
investigações e inquéritos elaborados pelas instituições coercitivas, e assim percebe-se a
grande recorrência à fonte oficial. Entretanto, conforme a tabela 5, as fontes não institucionais
(testemunhas, vítima, pessoas próximas à vítima e especialistas) foram consultadas 85 vezes,
estão presentes em 61 matérias. As fontes não institucionais aparecem 67,82% a mais do que
as fontes institucionais nas notícias do nosso corpus. Isso nos permite observar que o Ponte se
diferencia da cobertura predominante da grande mídia (RAMOS E PAIVA, 2007).
5.3 FORMAS DE RELATAR O ACONTECIMENTO DE VIOLÊNCIA POLICIAL
A variedade do noticiário sobre a violência policial no portal Ponte Jornalismo em
relação à construção do seu discurso pode ser analisada a partir de três grandes formas de
relato as quais denominamos: primário, secundário, e relato isolado.
No relato primário, a violência policial é informada em primeiro plano e tem em um
determinado acontecimento e em suas fontes uma base para se explicitar como força de
48
coerção e estratégia de poder de Estado, bem como denotar o despreparo dos policiais e suas
mais depreciativas características de atuação, como negligente, violenta, truculenta, homicida,
injusta e repressora. Aqui é configurado como a construção de um acontecimento midiático
(CHARAUDEAU, 2015), ainda sem inquérito policial ou sequer investigação. O relato
primário é correspondente à dimensão de fato relatado proposto por Charaudeau (2015,
p.152). Confome o autor, o fato relatado é objeto de descrição, explicações e reações
(dimensão do acontecimento propriamente dito); busca-se construir
história a partir de
perspectiva intencional. Envolve descrição do espaço da ação, dos atores implicados, do
contexto espaço-temporal (o quê, quem, onde e quando?). Na nossa análise constatamos o
número de 22 textos enquadrados como relato primário., como por exemplo a matéria PM do
Paraná feriu 4 adolescentes. Eles gritavam sem violência, sem violência
25
,que relata a
truculência da polícia do Paraná, causando o ferimento de 4 jovens em uma manifestaçãodo
dia 29/04. Trata-se do primeiro relato deste acontecimento.
No relato secundário, a notícia faz referência à um relato primário. A violência policial
segue compondo o complexo de informações de um determinado acontecimento, mas este por
sua vez não é a principal pauta. Nessas notícias se sobrepõe ao acontecimento os seus
desdobramentos, as suas consequências, as análises feitas por especialistas e os relatos de
testemunhas e/ou vítimas, que trazem uma nova perspectiva para o mesmo, expandindo sua
dimensão. A violência policial em questão é tomada como referência em alguns momentos,
mas o que mais se evidencia em notícias que tratam de forma secundária a violência policial é
o impacto
nas vidas de vítimas e familiares conforme seus próprios relatos 26 , e/ou a
contradição nas pronúncias dos órgãos coercitivos envolvidos.
Aqui se percebe o aumento da resolução semântica dos acontecimentos (FIDALGO,
2007). Os relatos que se enquadram como secundários se encontram na dimensão de dito
relatado (CHARAUDEAU, 2015, p.161), pois relaciona-se ao discurso relatado (dimensão
discursiva, do acontecimento enquanto relato). Parte de uma compreensão do espaço público
como lugar de debate. Mídias não fazem mero relato, mas fazem uma encenação organizada
que torna o confronto de falas o próprio acontecimento. Na nossa análise contabilizamos 52
notícias categorizadas como relato secundário.
25
Disponível em < http://ponte.org/pm-do-parana-feriu-4-adolescentes-eles-gritavam-sem-violencia/>. Publicada
em 30 abr. 2015. Acesso em 12 nov. 2016.
49
Os relatos isolados são as notícias que não relatam ou se referem a um acontecimento
em específico. Essas notícias se configuram em uma perspectiva mais analítica e
interpretativa a partir de dados expostos. Sobressaem-se as fontes especialistas (não
institucionais) ou pronunciamentos oficiais de fontes institucionais acerca da conduta da PM,
de forma geral. Registramos em nossa análise 13 matérias que não se encaixam na categoria
primária ou secundária.
5.4 TIPOLOGIAS DO NOTICIÁRIO SOBRE A VIOLÊNCIA POLICIAL
Para analisar a cobertura jornalística do portal Ponte Jornalismo, foi conveniente que
categorizássemos cada matéria conforme a sua natureza, ou seja, sobre o seu contexto e do
que se trata cada, devido as características internas do corpus. Nesse sentido, em nossa
análise de conteúdo nos textos analisados dividem-se em: analítico/interpretativo; compilado
de casos; divulgação de dados, entrevista com especialistas; informativo/noticioso; instrução
aos cidadãos; abuso de poder cometido por policial; homicídio cometido por policial;
mobilizaçãode pessoas próximas à vítima; relato de vítima/testemunha e violência em ato.
Cabe lembrar que, em nossa análise, uma mesma notícia pode se enquadrar em naturezas
diferentes27.
Analítico-interpretativo: Nestas matérias incluem-se as análises feitas pelos próprios
repórteres ou por especialistas consultados, bem como as matérias que trazem dados
estatísticos acerca da violência policial e/ou detalhes e meandros das investigações de um
determinado acontecimento de violência policial. É o que nos mostra a matéria 7 fatos
difíceis de explicar na morte de dois pichadores, onde são elencados pontos cruciais do caso
da morte dos pichadores Alex Dalla Vechia Costa e Ailton dos Santos28. Ambos foram mortos
por policiais na noite do dia 31 de julho de 2014. Neste caso, a versão oficial admitida pelo
poder judiciário é o relato dos policiais, que alegam agir em legítima defesa, e nesta matéria é
feito um contraponto entre as versões, verificando os pontos que não se encaixam.
Outra
matéria
que
podemos
elencar
como
representante
das
analítico/interpretativo é PMs de São Paulo matam uma pessoa a cada 10 horas
de
29
cunho
. Nela são
expostos os dados oriundos de um levantamento feito pelo Ponte a partir dos dados do Centro
Como por exemplo a matéria Cicatriz na Dignidade , publicada em 25 de junho de 2014. Na nossa análise,
esta matéria se categoriza como abuso de poder cometido por policial, e ao mesmo tempo como relato de
vítima/testemunhas.
28
Recomenda-se a leitura da matéria Família diz que pichadores foram executados por PMs . Disponível em
<http://ponte.org/pm-executou-pichadores-diz-familia/> Publicada em: 3 ago. 2014. Acesso em: 15 nov. 2016.
29
Disponível em <http://ponte.org/pms-de-sao-paulo-matam-uma-pessoa-a-cada-10-horas/>. Publicada em: 10
fev. 2015. Acesso em 15 nov. 2016.
27
50
de Inteligência e da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo. As matérias aqui
categorizadas como analítico/interpretativo compõe o universo de notícias sobre a violência
policial, mesmo sem se referir a um acontecimento em específico, propiciando assim a
complementação das informações que formam a opinião pública acerca da segurança pública.
Nesta categoria, temos um total de 9 matérias (vide tabela da natureza das notícias): 2 relatos
primários, 2 relatos secundários e 5 relatos isolados.
Compilado de acontecimentos: São matérias que fazem um agrupamento de vários
casos recentes de violência policial. No nosso corpus temos duas matérias que se enquadram
nesta categorização. Na matéria 9 casos de tortura ou de tratamento cruel , publicada em 28
de julho de 201430. Esta matéria se aportou no relatório da organização Human Rights
Watch31 para identificar 9 casos emblemáticos de tratamento cruel, desumano ou degradante
entre 2010 e 2014 no Brasil.
Essa categoria é importante por apresentar ao público como o fenômeno da violência
policial se estabelece no Brasil, propiciando a construção da opinião pública com base nos
acontecimentos passado e a sensibilização pela magnitude e crueldade por parte das
instituições coercitivas nos casos relatados. Das duas matérias categorizadas como compilado
de casos, registramos em nossa análise 1 relato secundário e 1 relato isolado.
Divulgação de dados: Trata-se de matérias de cunho informativo e noticioso, que
amplificam o universo de informação sobre a violência policial a partir de dados estatísticos.
É o que podemos perceber na matéria Letalidade policial aumenta 206% em SP
32
, são
expostos dados do Instituto Sou da Paz33, que registra um aumento de 206,9% no número de
pessoas mortas por policiais em serviço na cidade de São Paulo. Já na publicação PMs já
mataram 62% a mais que em 2013
34
, os dados são oriundos do Centro de Inteligência e da
Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar de São Paulo, e afirma que de janeiro a
junho de 2013 269 pessoas foram mortas por PMs em todo o estado. No mesmo período em
2014, foram 43435 (uma média de 5 mortos a cada 2 dias). Estes dados, assim como as
entrevistas com especialistas (categoria exposta logo abaixo) informam de uma maneira mais
30
Disponível em <http://ponte.org/8-casos-de-tortura-ou-de-tratamento-cruel/> Acesso em: 15 nov. 2016.
ONG sem fins lucrativos, reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações de direitos humanos,
elaboração de relatórios e por ser um importante veiculador de informações e dados no mundo todo. Disponível
em <https://www.hrw.org/pt/sobre-human-rights-watch>. Acesso em 15 nov. 2016
32
Disponível em <http://ponte.org/letalidade-policial-aumenta-206-em-sp/>. Publicado em: 23 jun. 2014. Acesso
em 15 nov. 2016.
33
Disponível em <http://www.soudapaz.org/o-que-fazemos>. Acesso em 13 nov. 2016
34
Disponível em <http://ponte.org/pms-ja-mataram-62-a-mais-que-em-2013/>. Publicada em 05 ago. 2014.
Acesso em: 15 nov. 2016.
35
317 cometidos por policiais militares em serviço, e 117 por policiais militares em folga.
31
51
ampla e chocante acerca do cenário da violência policial no estado de São Paulo. Ao todo
obtivemos 6 matérias do nosso corpus que se enquadram como Divulgação de dados , sendo
2 relatos primários, 1 relato secundário e 3 relatos isolados.
Entrevista com especialistas: São as matérias que tem como fonte um (ou mais)
especialista(s) para falar acerca de um determinado acontecimento ou do cenário da segurança
pública como um todo. Publicada no dia 27 de junho de 2014, a entrevista Lógica de
eliminar oponente deve acabar, diz delegado
36
traz a perspectiva do delegado da polícia
carioca e estudioso da segurança pública Orlando Zaccone. Na sua pesquisa de doutorado em
Ciência Política, pesquisou os autos de resistência (nome técnico para as mortes cometidas
por policiais, alegadas como mortes em confronto), e afirma que
A militarização da
segurança passa pela construção do inimigo matável e que a construção do inimigo legitima
os autos de resistência. A entrevista traz também a avaliação do delegado sobre as UPPS e
sobre o uso do Exército na segurança pública.
Na matéria Letalidade da PM é escandalosa, diz diretor da Anistia Internacional no
BR
37
, o especialista consultado (Atila Roque, diretor da Anistia Internacional no BrasiL)
busca discutir a grande aceitação das mortes cometidas pelos policias por parte da sociedade.
A perspectiva de uma fonte especialista, no caso do Ponte, colabora com a pluralidade de
abordagem da cobertura jornalística do portal acerca do fenômeno da violência policial, bem
como permitir uma compreensão mais técnica e especializada do cenário da segurança pública
em todo o país (sobretudo nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, onde ocorre a maioria
dos acontecimentos relatados pelo portal). No caso da entrevista com o delegado Zaccone, é
exposto também a perspectiva científica, uma vez que trata-se de uma tese de doutorado.
Verificamos no nosso corpus 7 matérias que se enquadram como entrevista com especialista.
Destas, uma está atrelada à um relato secundário, e as outras 6 configuram-se como relato
isolado.
Instrução aos cidadãos: Aqui temos matérias que instruem os leitores sobre como agir
em casos de violência policial. No nosso corpus temos apenas uma matéria que se enquadra
nesta categoria, intitulada Saiba identificar os policiais
36
38
, que orienta os cidadão sobre como
Disponível em <http://ponte.org/a-militarizacao-da-seguranca-publica-passa-pela-construcao-do-inimigomatavel-afirma-delegado/>. Publicada em: 27 jun. 2014. Acesso em 15 nov. 2016.
37
Disponível em <http://ponte.org/letalidade-da-pm-de-sp-e-escandalosa-diz-diretor-da-anistia-internacional-nobrasil/>. Publicada em 10 ago. 2014. Acesso em 15 nov. 2016
38
Disponível em <http://ponte.org/saibaidentificarospoliciais/>. Publicada em 24 jun. 2014. Acesso em: 15 nov.
2016.
52
proceder acerca da identificação de policiais em caso de abordagem. Quanto à forma de
relatar o acontecimento, consideramos este um relato isolado.
Abuso de poder cometido por policial: sendo terceira categoria mais predominante das
tipologias elencadas, trata-se de matérias que trazem mais detalhadamente os casos de abuso
de poder, como voz de prisão sem flagrante, flagrante forjados por PMs, coerção com uso
excessivo e desmedido de força, tortura, dentre outros. A matéria pode relatar um
determinado acontecimento (relato primário), ou estar situada a nível investigatório (relato
secundário), detalhando os seus desdobramentos, as suas consequências, com análises feitas
por especialistas e os relatos de testemunhas e/ou vítimas, aumentando a resolução semântica
de um determinado acontecimento. Muitas vezes, em matérias dessa categoria, percebemos é
recorrente os casos em que as instituições coercitivas não respondem aos questionamentos dos
jornalistas do Ponte.
Na matéria
Libertado motorista acusado no Facebook de matar delegado
39
, é
relatado à história do motorista Antonio Oliveira, 31 anos, que foi preso injustamente acusado
como responsável pela morte de um delegado. Enquanto detido, Oliveira teve uma fotografia
sua veiculada em uma página de incitação à violência policial no Facebook, afirmando ser ele
o autor do crime. A reportagem do Ponte entrou em contato com a SSP - SP, questionando
como foi dada a divulgação da imagem de Oliveira visto que a investigação ainda não tinha
confirmado se ele era ou não. A SSP não respondeu as perguntas da equipe nesta
reportagem40.
No portal Ponte Jornalismo, é perceptível o confronto de informações de fontes
institucionais e não institucionais, bem como a obtenção de documentos exclusivos que, na
veiculação e na repercussão do acontecimento, dá amparo à vítima41 como podemos verificar
na matéria
Foi bala da polícia sim , afirma professora
42
. Em 15 de maio de 2014, Patrícia
Rodsenko, professora de filosofia, foi atingida por uma bala de borracha disparada por um
PM. Enquanto esperava pela reabertura da estação de metrô, que estava fechada por conta de
uma manifestação contra os impactos da Copa do Mundo em São Paulo, foi surpreendida pela
presença truculenta da PM para conter tal manifestação. O disparo acertou a região nasal
esquerda de Patrícia, resultando em uma fratura que necessitou intervenção cirúrgica. A SSP39
Disponível em: <http://ponte.org/libertado-motorista-que-teve-foto-divulgada-no-facebook-como-autor-demorte-de-delegadod/>. Publicada em 17 out. 2014. Acesso em 15 nov. 2016.
40
Das 87 matérias que compõe o nosso corpos, 57 consultaram as fontes institucionais Estado/Governo, e 8 não
tiveram resposta das instituições coercitivas.
41
Em entrevista por e-mail, o jornalista e um dos fundadores do Ponte, Fausto Salvadori
42
Disponível em <http://ponte.org/foi-bala-da-policia-sim-afirma-professora-2/> Publicada em 26.06.2014.
Acesso em 15 nov. 2016.
53
SP afirmou em nota, na época, que a polícia não tinha usado balas de borracha, e que tinha
dado total apoio à manifestação. Após a veiculação do caso, e a obtenção de documentos
hospitalares que comprovavam que Patrícia sofreu uma Lesão por Arma de Fogo, emitido
pelo Hospital de Clínicas de São Paulo, a referida matéria a SSP instaurasse inquérito oficial
para investigar os relatos de Patrícia. Dentro da categoria Abuso de poder cometido por
policial, identificamos 16 ocorrências em nossa análise, sendo 3 relatos primários, 12 relatos
secundários e 1 relato isolado.
Na matéria Documento secreto: PM viola normas de uso para bala de borracha
43
,o
portal Ponte expõe com exclusividade um documento secreto que normatiza a ação da PM
com uso da munição de borracha em manifestações.
Homicídio cometido por policial: Trata-se de matérias que relatam os homicídios (ou
tentativas de homicídios) cometidos por policiais, caso extremo de violência policial. As
notícias dessa natureza, assim como na categoria abuso de poder cometido por policial,
trazem novas informações que elucidam os fatos, trazendo uma nova perspectiva que
contradiz o órgão coercitivo em questão (predomina a Polícia Militar) e o emerge como
culpado. Esta categoria é a mais recorrente do nosso corpus, com 10 relatos primários e 29
relatos secundários.
Atentamos para alguns aspectos pertinentes: o órgão coercitivo em questão é tomado
como pauta e também como fonte; e existe um efeito emocional presente no relato transcrito
de familiares e pessoas próximas à vítima, que acabam por compartilhar suas dores e
sensações.
Na matéria Mãe luta para salvar vida de filho baleado por policiais
44
temos um a
presença o relato da vítima. Em 31 de agosto dois jovens, Valter (20) e Alexandre (19) foram
alvejados por dois PMs que os confundiram com assaltantes e atiraram à queima roupa em
um bairro nobre de São Paulo. Alexandre não sobreviveu. No relato, transmitida ao repórter
através da mãe de Valter, destacamos o seguinte trecho. A matéria informa sobre a versão dos
policiais
Dez minutos depois, Valter ouviu alguém se aproximando. Vocês ainda estão aqui?
Para com isso, me mata logo pediu. Por que te matar? Eu sou bombeiro , ouviu
uma voz responder. Abriu os olhos. Não me deixa morrer, pelo amor de Deus ,
43
Disponível em <http://ponte.org/pm-bala-de-borracha-documento-secreto/>. Publicada em 29 out. 2014.
Acesso em: 15 nov. 2016.
44
Disponível em <http://ponte.org/mae-luta-para-salvar-vida-de-filho-baleado-por-policiais/>. Publicada em 4
out. 2014. Acesso em 15 nov. 2016.
54
pediu ao bombeiro. Alguém tirou um barato, dizendo que Valter não havia pensado
em Deus na hora de assaltar. Eu não assaltei ninguém , respondeu. E apagou.45
Aspecto semelhante é percebido na matéria Jovem que sonhava ser policial é morto
por PM
46
, onde é relatado o caso de Ruzivel Alencar, 19 anos, morto pelo soldado Getulio
Alves no dia 26/12, que alegava pensar que a vítima sacaria uma arma. Podemos inferir que
ao tratar de homicídios cometidos por policiais, o portal Ponte traz de igual forma a voz da
vítima, testemunha ou pessoas próximas à vítimas (familiares e amigos), tanto quanto a de
fontes oficiais. Este soma-se a mais um acontecimento em que a SSP-SP não responde à
equipe.
Mobilização de pessoas próximas à vítima: Nesta categoria as matérias envolvem a
manifestação de amigos e familiares de vítima de homicídio realizado pela polícia. As
manifestações clamam por justiça e são contra a violência policial. Foram registrados apenas
um relato primário e dois relatos secundários.
Relato de vítima/testemunha: Aqui temos a perspectiva da(s) vítima(s) ou testemunha(s) de
um determinado acontecimento, cujo relato e seus detalhes são essenciais para guiar o
impacto das postagens, pois muitas vezes se configuram como conteúdo exclusivo de um
inquérito policial. Também estão inclusos aqui amigos e parentes próximos. Registramos em
nossa análise um total de 30 recorrências, sendo 7 relatos primários, e 23 secundários.
Violência em ato: aqui se enquadram os textos que noticiam os casos de violência policial em
manifestações públicas e em desocupações. Foram 8 as recorrências, sendo 5 relatos
primários, 2 relatos secundários e um relato isolado.
Tabela 6: Natureza das notícias
(continua)
Natureza das notícias
Recorrências
Rel. Primário
Rel. Secundário
Homicídio cometido por policial
39
10
29
Relato de vítima/testemunha
30
Abuso de poder cometido por policial
16
3
12
1
Analítico/interpretativo
9
2
2
5
45
Rel. Isolado
23
Ibid.
Disponível em <http://ponte.org/jovem-que-sonhava-se-tornar-policial-e-morto-por-pm-em-sp/>. Publicada
em: 29 dez. 2014. Acesso em: 15 nov. 2016
46
55
Tabela 6: Natureza das notícias
Violência em ato
8
Entrevista com especialista
7
Divulgação de dados
6
Mobilização de pessoas próximas à
vítima
3
Compilado de casos
2
Instrução aos cidadãos
1
5
2
(conclusão)
1
1
6
2
1
3
1
2
1
1
1
Fonte: Autores
Os dados obtidos apontam para uma grande recorrência aos acontecimentos
envolvendo homicídios cometidos por policiais, e ao mesmo tempo para a pluralidade de
abordagens ao construir o universo midiático acerca da violência policial.
56
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: À GUISA DE UM JORNALISMO DE VIOLÊNCIA
A violência policial é um fenômeno complexo, e a cobertura jornalística sobre esse
fenômeno deve ser amplamente estudada devido aos seus impactos sociais, jurídicos e
investigativos. O Portal possui um propósito diferenciado que abrange diversos cenários e
contextos atrelado aos cumprimentos dos direitos humanos e justiça. Na análise sobre os
termos recorrentes, percebemos a grande recorrência do termo morte , (conforme os gráficos
1 e 2), a grande recorrência à fontes oficiais (conforme tabela 4), e a maioria das notícias
tratarem a respeito de homicídios cometidos por policiais (conforme tabela 5).
Assim o conflito urbano atrelado à violência policial é relatado: a instituição coercitiva
que deveria proteger também mata, e acaba pautando o Ponte Jornalismo. O universo
midiático sobre violência construído pelo portal Ponte tem na morte seu objeto mor, tanto no
relato primário quanto no relato secundário. Nos deparamos então com um cenário
semelhante ao encontrado por correspondentes de guerra, e com a necessidade de noticiar a
morte e com a obrigação de atentar-se ao impacto desse noticiário na sociedade.
Na nossa revisão teórica podemos perceber que a cobertura jornalística da grande
mídia sobre o fenômeno de violência, possui um desregramento próprio da violência que
compõe o seu universo midiático. O próprio ato de não consultar as fontes não institucionais,
observado na maioria das matérias da mídia hegemônica, acaba por ser um ato violento, por
se desassociar à uma regra essencial do Jornalismo: a de ouvir os dois lados. Neste sentido
que tratarmos do termo Jornalismo de Violência torna-se necessário: para pensarmos um
campo do Jornalismo que se atente à estes fenômenos e as especificidades das pautas. Assim,
destacamos a importância do portal Ponte para este cenário de guerra.
Deste modo explicitamos como a violência está implícita no próprio fazer jornalístico
que permeia este fenômeno. A proposta do termo Jornalismo de Violência justifica-se pela
ausência de termos que nos permitem amparar e situar os estudos que abrangem a violência e
o Jornalismo. Não tratamos aqui a violência apenas enquanto pauta e as suas especificades ao
promover uma cobertura jornalística, mas também a violência que permeia as práticas
jornalísticas já citadas, como a escolha de não ouvir fontes não institucionais (promovendo
uma cobertura não plural e descontextualizada, que promovem um universo midiático que não
abrange a complexidade do fenômeno), e o discurso da violência por ela mesma (perspectiva
reducionista da violência).
A presente configuração do termo Jornalismo de Violência ocorre em decorrência de
duas observações resultantes das reflexões do nosso estudo. A primeira observação trata do
57
declínio dos termos Jornalismo Policial e a editoria Polícia . A crítica que aqui fazemos é
que estes termos, pela explícita referência, associam o noticiário sobre violência à polícia, o
que foge do que consideramos preceito básico do Jornalismo de Violência: a necessidade que
a cobertura jornalística sobre violência e criminalidade tem de se desvincular das fontes
policiais para buscar uma abordagem mais plural e contextualizada.
A segunda observação diz respeito à necessidade do Jornalismo de Violência integrar
a grade curricular dos cursos de Jornalismo, ambientando os estudantes e futuros profissionais
jornalistas acerca da complexidade e dilemas éticos desta área de estudo (NJAINE e
VIVARTA, 2005, p.74). Nossa hipótese é que explorando essa temática à nível de graduação
não só a violência policial, mas a violência em sua complexidade
muito se reforça na
formação crítica dos estudantes, e também aprimoraria à cobertura sobre violência no futuro.
Neste sentido, temos no Jornalismo de Violência do portal Ponte o poder de
investigação como inquérito, pois temos no nosso corpus matérias que contradizem a PM e a
SSP, bem como análises do processo investigatório de um determinado acontecimento. Sendo
assim, ao nosso ver o portal Ponte se enquadra como Jornalismo de Violência, nos mostrando
como a construção do universo midiático sobre violência se assemelha à investigação policial.
Defendemos que o âmbito conflituoso que configura o Jornalismo de Violência
necessita ser estudado de forma veemente no campo do Jornalismo. Como podemos perceber,
processo de apuração e produção do jornalismo atrelado à este fenômeno possui
especificidades, como o jornalista ser também a própria testemunha de ações de abuso de
poder e de uso desmedido de força. Nas trincheiras jornalísticas desta guerra urbana, o
Jornalismo de Violência acaba por construir um universo midiático que, além de relatar
determinados acontecimentos, possui significativo impacto em nível judicial e político.
58
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60
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SILVEIRA, A. C. M. A cobertura jornalística de fronteiriços e favelados – narrativas
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SODRÉ, M. O social irradiado: violência urbana, neogrotesco e mídia. São Paulo: Cortez,
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SODRÉ, M. Sociedade, Mídia e Violência. Porto Alegre: Sulina, 2002.
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SOUSA, J. P. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. 2.ed. Porto:
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TAVARES, F. M. B. O jornalismo especializado e a especialização periodística. Estudos em
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ZIZEK, Slavoj. Violência. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2014
61
APÊNDICE – Planilha de dados qualitativos
Título
Vídeo indica que
rapaz morto pela
PM não
teria reagido a
abordagem
Data
Forma de
relato
Sim
Secundária
Homicida
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
Sim
Primária
Letal
Ambas
Divulgação de
dados
Sim
Secundária
Contraditóri
Militar
a
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Não se aplica
Fontes
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
5/30/2014
Int. Mídias
Ext. à org. info. Outras mídias
Letalidade policial
aumenta 206% em 6/23/2014
SP
Investigação
contradiz PM
6/24/2014
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Saiba identificar
os policiais
6/24/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
CIcatriz na
dignidade
Qual
Abordage
Polícia
m do órgão
se
coercitivo
trata?
Polícia
no
título
6/25/2014
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
vítima
Não
Secundária
Não
Secundária
Não se
aplica
Militar
Injusta,
racista
Abuso de
poder cometido
por policial;
Militar
Relato de
vítima/testemu
nha
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Depoimento que
Patrícia Rodsenko
concedeu à Ponte
6/25/2014
no mesmo local
em que foi
atingida
PMs de SP
mataram 10 mil
6/25/2014
pessoas em 19
anos
Foi bala da
polícia, sim ,
afirma professora
6/26/2014
Ext. Mídias
NãoInstitucional Vítimas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Institucional Administrações
(Hospital de Clínicas
de Sp)
Ext. Mídias
NãoInstitucional Policiais arrastam
Vítima
advogado durante
6/26/2014
NãoInstitucional desocupação em
Pessoas próximas à
SP
vítima
Natureza
Instrução aos
cidadãos
Relato de
Truculenta,
Militar vítima/testemu
violenta
nha
Sim
Primária
Letal
Divulgação de
dados,
Militar
analítico/interp
retativo
Sim
Secundária
Truculenta
Abuso de
Militar poder cometido
por policial
Sim
Primária
Truculenta
Militar
Violência em
ato
62
6/27/2014
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítimas
Sim
Secundária
Abuso de
Truculenta,
Militar poder cometido
arbitrária
por policial
Lógica de
eliminar oponente
6/27/2014
deve acabar, diz
delegado
Ext. Mídias
NãoInstitucional Especialistas
Não
Não se aplica
Truculenta,
Entrevista com
violenta,
Militar
especialista
arbitrária
Não
Primária
Conselho ouvirá
advogado detido
pela PM
A morte da
palhacinha
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
6/30/2014
"Os jovens
policiais estão
desesperados"
Ativista preso diz
que polícia quis
mostrar serviço–
6/30/2014
7/1/2014
Ativista preso diz
que polícia quis
mostrar
serviço (2ª versão)
7/2/2014
PM mata
suspeitos de crime
contra soldado de
Mogi
7/3/2014
Advogados pedem
que MP
investigue PMs
por tortura
Direitos humanos
cobram
investigação em
Presidente
Prudente
Militar
Repressora
Divulgação de
dados,
Militar
analítico/interp
retativo
Homicida
Militar
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
A guerra
silenciosa na Zona
6/30/2014
Leste de São
Paulo
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
NãoInstitucional Vítima
NãoInstitucional Pessoas próximas à
vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Não
Secundária
Sim
7/4/2014
7/9/2014
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
Institucional Estado/Governo
Entrevista com
especialista
Não se aplica
Sim
Primária
Injusta
Relato de
Militar vítima/testemu
nha
Sim
Secundária
Opressora;
Injusta
Relato de
vítima/testemu
Militar nha, Abuso de
poder cometido
por policial
Sim
Secundária
Vingativa,
homicida
Civil e
Militar
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítima
Homicídio
cometido por
policial,
Homicida
Sim
Secundária
Não
Secundária
Homicídio
cometido por
policial,
Abuso de
poder cometido
por policial,
Torturadora
Militar
Relato de
, injusta
vítima/testemu
nha
Homicida
Civil e
Militar
Homicídio
cometido por
policial,
63
PM assumiu risco
de matar atriz, diz
ouvidor das
polícias
Disparo contra
Luana foi
acidental, segundo
Polícia Civil
Dois meninos e
uma sentença de
morte no Rio de
Janeiro
Testemunha
contradiz PM
sobre morte de
Luana
7/9/2014
7/9/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
7/10/2014
Sim
Sim
Não
Secundária
Secundária
Secundária
Homicida
Negligente
Sim
Secundária
Homicídio
cometido por
policial,
Civil
Homicídio
cometido por
policial,
Entrevista com
especialista,
Homicida
Homicídio
cometido por
policial, Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
Homicida
Homicídio
cometido por
Civil e policial, Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
7/17/2014
Civil e
Militar
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Abuso de
poder cometido
por policial,
Truculenta;
Militar
Relato de
fraudulenta
vítima/testemu
nha
Abuso de
poder cometido
Opressora;
por policial,
Truculenta; Militar
violência em
violenta;
ato
Oficiais de
protestos no RJ
têm histórico
violento
7/17/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Secundária
Ouvidoria critica
abuso da PM em
manifestações
7/23/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Não se aplica
Polícia Civil vai
investigar morte
de atriz em
Prudente
7/23/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Secundária
Homicida
Abuso de
Civil e
poder cometido
Militar
por policial
9 casos de tortura
ou de tratamento
cruel
7/28/2014
Int. Mídias
Arquivos próprios
Não
Secundária
Opressora;
efetivadora
de tortura
Civil e
Militar
Grupo protesta em
São Paulo por
7/29/2014
morte de atriz
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Não
Secundária
Homicida
Família diz que
pichadores foram
executados por
PMs
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
vítima
Sim
Primária
Homicida
8/3/2014
Compilado de
casos
Homicídio
cometido por
policial, Relato
de
vítima/testemu
Militar
nha,
mobilização de
pessoas
próximas à
vítima
Relato de
vítima/testemu
Militar nha, Homicídio
cometido por
policial
64
"Estamos vivendo
um ciclo de
violência", diz
Fernando Grella
PMs já mataram
62% a mais que
em 2013
Número de
mortos por PMs
no litoral e
interios sobe 45%
Pichação se une
em protesto por
mortes de Alex e
Ailton
Maternidade
condenada
Mulher que deu à
luz algemada na
prixão dá
entrevista pela 1ª
vez
Letal
Sim
Não se aplica
Letal,
homicida
Militar
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Não
Secundária
Homicida,
injusta,
torturadora
Militar
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Não se aplica
Homicida,
injusta
Militar
e Civil
Sim
Não se aplica
Letal,
homicida
Militar
8/5/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
8/7/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
8/8/2014
8/14/2014
Jurí condena exPMs por matar
8/15/2014
assaltante e vítima
em 2004
Justiça cobra
laudo de jovem
acusado por PM
de se matar
algemado
Não se aplica
Divulgação de
dados,
MIlitar
analítico/interp
retativo
8/5/2014
Polícia de SP
mata sempre nos
8/8/2014
mesmos lugares,
nos mais pobres
Letalidade da PM
é escandalosa, diz
diretor da Anistia 8/10/2014
Internacional no
BR
Começa
julgamentos de
PMs suspeitos de
matar vítima de
assalto
Não se aplica
Compromis
Entrevista com
sada em
Militar
especialista
reduzir a
violência
Ext. Mídias
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Não
Sim
Sim
Secundária
Homicida
Sim
Secundária
Atuação
trágica
Divulgação de
dados,
analítico/interp
retativo
Relato de
vítima/testemu
nha
mobilização de
pessoas
próximas à
vítima
Divulgação de
dados,
analítico/interp
retativo
Entrevista com
especialista
Homicídio
cometido por
policial, Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
Homicídio
cometido por
policial, Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
8/15/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Secundária
Faz
acusações
Militar
inconcluden
tes
8/15/2014
Ext. Mídias
NãoInstitucional Vítima
Não
Secundária
Negligente,
Relato de
opressor, Militar vítima/testemu
violento
nha
8/15/2014
Ext. Mídias
NãoInstitucional Vítima
NãoInstitucional Pessoas próximas à
vítima
Não
Secundária
Negligente,
Relato de
opressor, Militar vítima/testemu
violento
nha
Homicídio
cometido por
policial
65
Policiais são
investigados sob
suspeita de
torturar motoboy
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociais
8/20/2014
Sim
Secundária
Abuso de
poder cometido
Violento,
por policial
Truculento, Militar
Relato de
opressor
vítima/testemu
nha
Faz
acusações
Militar
inconcluden
tes
NãoInstitucional Vítima
NãoInstitucional Pessoas próximas à
vítima
Justiça militar
libera PMs
8/28/2014
acusados de matar
pichadores
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Secundária
7 fatos difíceis de
explicar na morte
de 2 pichadores
9/1/2014
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Secundária
Perícia começa a
derrubar versão de
que jovem
9/30/2014
algemado se
matou
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Família diz que
guarda foi morto
por ser negro
10/1/2014
Mãe luta para
salvar vida de
filho baleado por
policiais
10/4/2014
Líder comunitária
denuncia
10/15/201
intimidação
4
policial na Favela
do Moinho
Libertado
motorista acusado 10/17/201
no Facebook de
4
matar delegado
Documento
secreto: PM viola
normas de uso
para bala de
borracha
Ext. Mídias
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Vítima
Corregedoria vai
investigar PMs da
11/14/201
Rota suspeitos de
4
homicídio e de
sumiço de jovens
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
Militar
Analítico/inter
pretativo
Faz
acusações
Militar
inconcluden
tes
Homicídio
cometido por
policial
Não
Secundária
Não
Secundária
Assassina,
homicida
Relato de
Militar vítima/testemu
nha
Sim
Primária
Assassina,
homicida
Militar
Sim
Primária
Abuso de
Repressora,
Militar poder cometido
violenta
por policial
Não
Secundária
Negligente,
Abuso de
despreparad Miltar poder cometido
a, injusta
por policial
Int. Mídias
Arquivos próprios
10/29/201
4
Violenta,
repressora
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Não se aplica
Não
respeita as
normas
Sim
Secundária
Homicida
Homicídio
cometido por
policial
analítico/interp
retativo,
Militar
compilado de
casos
Militar
Homicídio
cometido por
policial
66
Moradores
acusam Rota pela
morte de um
jovem e sumiço
de outro
11/14/201
4
Jovem some após
abordagem
policial em
11/17/201
Salvador (BA).
4
Sumiço já dura 25
dias
Policiais civis
humilham grávida
11/25/201
em vídeo
4
divulgado no
Facebook
Jovem que sumiu
após morte de PM 11/25/201
é encontrado
4
preso
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Especialistas
Int. Mídias
Outras Mídias
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociaiss
12/4/2014
Afastados, PMs
que executaram
jovem com 10
tiros serão
investigados
12/12/201
4
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
MP-SP só vai
investigar PMs
que executaram
jovem em 2015
12/26/201
4
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
Jovem que
sonhava ser
policial é morto
por PM
12/29/201
4
Sim
Primária
Homicida
Sim
Primária
Homicida
Sim
Primária
Negligente,
despreparad
a, injusta
Civil
Abuso de
poder cometido
por policial
Sim
Secundária
Repressora,
violenta,
injusta
Civil
Abuso de
poder cometido
por policial
Sim
Primária
Homicida
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Homicida
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Assassina,
homicida
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Não
Secundária
Relato de
Militar vítima/testemu
nha
Primária
Homicídio
cometido por
Civil e
policial;
Militar
analítico/interp
retativo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Jovem pede
socorro antes de
ser alvejado por
PMs na zona sul
de SP
O Natal das mães
que perderam seus 12/18/201
filhos para o
4
Estado
Homicídio
cometido por
policial, Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
Homicídios
cometido por
policial; Relato
Militar
de
vítima/testemu
nha
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunha
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Sim
67
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Polícia reprime
com bala de
borracha
manifestação
contra morte de
jovem por um PM
Detenção e
humilhação
depois do 1º
Grande Ato
contrao o
Aumento das
Tarifas"
1/5/2015
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Sim
Primária
violência em
ato;
Mobilização de
Militar
pessoas
próximas à
vítima
Sim
Primária
Militar
e Civil
violência em
ato
Sim
Primária
Militar
violência em
ato
Sim
Não se aplica
Militar
Entrevista com
especialista,
Ext. Mídias
1/10/2015
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
PM reprime ato
do Passe Livre
com violência
1/10/2015
PM de SP bate
recorde de mortes
1/12/2015
e não reduz
crimes
PM de SP será
investigada por
tortura contra
manifestantes
PM ataca
manifestantes e
mente nas redes
sociais
Ainda não sei se
vou voltar a
enxergar', diz
nova vítima de
bala de borracha
A farsa da PM de
SP no Réveillon
de 2015
1/17/2015
1/18/2014
1/21/2015
1/22/2015
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Sim
Secundária
Sim
Primária
Não
Secundária
Sim
Primária
violência em
ato, Abuso de
Militar
poder cometido
por policial
Militar
violência em
ato
violência em
ato, Abuso de
poder cometido
por policial,
Militar
relato de
vítima/testemu
nha
Militar
Homicídio
cometido por
policial
68
Veja imagens da
reconstituição da
1/25/2015
execução
cometida por PMs
contra pedreiro
PMs que
executaram jovem
com 10 tiros não
devem voltar à
corporação
Documentos
apontam que
pichadores foram
executados por
PMs
2/1/2015
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Secundária
Relato de
vítima/testemu
Militar nha, Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Relato de
vítima/testemu
Militar nha, Homicídio
cometido por
policial
Sim
Não se aplica
Militar
Analítico/inter
pretativo
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Relato de
vítima/testemu
Militar nha, Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Militar
Ext. Mídias
2/4/2015
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Testemunha diz
que vítimas da
chacina do Cabula
(BA) estavam
rendidas
Mais três morrem
em ações da PM
em Salvador. São
15 mortos desde a
6a Feira
2/7/2015
2/8/2015
PMs de São Paulo
matam uma
2/10/2015
pessoa a cada 10
horas
Policiais acusados
de montar farsa
para executar
2/10/2015
pedreiro são
soltos
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Testemunhas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Sim
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Ext. Mídias
Comunidade
protesta contra
chacina no
Cabula. PM
intimida
Sargento da PM
que confessou
farsa para
executar pedreiro
é preso
2/12/2015
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
2/12/2015
Institucional Estado/Governo
Homicídio
cometido por
policial
69
Ext. Mídias
PMs matam pai de
família com 3
tiros na zona sul
de SP
3/5/2015
Justiça manda
prender 5 PMs por
Farsa que resultou 4/25/2015
na morte dos
pichadores
"Baltimore é
aqui" vira grito de
4/30/2015
guerra na
Cracolândia
PM do Paraná
feriu 4
adolescentes. Eles
4/30/2015
gritavam "sem
violência, sem
violência".
"A guerra às
drogas legitima a
violência policial"
5/1/2015
Polícia quer
reconstituir
execução de PMs 2/12/2015
contra jovem, mas
caso emperra
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Sim
Primária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Primária
Militar
relato de
,
vítima/testemu
Guarda
nha, Homicídio
Civil
cometido por
Munici
policial
pal
Sim
Primária
Abuso de
poder cometido
por policial,
Militar
relato de
vítima/testemu
nha
Sim
Não se aplica
Militar
Entrevista com
especialista
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Não
Institucional Estado/Governo
Institucional - Org.
Sociais
NãoInstitucional Especialistas
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Especialistas
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
70
Ext. Mídias
Após 19 dias
presos, 5 PMs
acusados de matar 5/13/2015
2 pichadores são
soltos
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
Sim
Secundária
Militar
Homicídio
cometido por
policial
Ext. Mídias
PM mata jovem
de 16 anos e cria
5/28/2015
clima de terror no
Grajaú
PMs demoram 5
horas para
informar sobre
morte de
adolescente
5/28/2015
"Se você não sair
agora, vou dar um
tiro bem na sua 5/30/2015
barriga, matar
você e seu filho"
Testemunhas
dizem que Lucas
estava algemado e 5/30/2015
que pediu a PMs
para não ser morto
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
Institucional Estado/Governo
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítima
Ext. Mídias
NãoInstitucional Testemunhas
NãoInstitucional Vítima
NãoInstitucional Pessoas próximas à
Vítima
Primária
relato de
vítima/testemu
Millita
nha, Homicídio
r
cometido por
policial
Sim
Secundária
relato de
vítima/testemu
Millita
nha, Homicídio
r
cometido por
policial
Não
Secundária
relato de
Militar vítima/testemu
nha
Sim
Secundária
relato de
Militar vítima/testemu
nha
Sim