Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007
Título: A imprensa e as novas cartografias urbanas 1
Christina Ferraz Musse2
Universidade Federal de Juiz de Fora
Resumo: No atual contexto histórico, autores os mais diversos têm apontado para a
crise das identidades que tradicionalmente davam suporte à noção de pertencimento do
sujeito frente ao mundo social (gênero, classe, nacionalidade, etc.). Hoje, conceitos
como deslocamento, diáspora, desterritorialização, nomadismo, hibridismo, entre
muitos outros, tentam dar conta da instabilidade, complexidade e das inúmeras rupturas
que se instauraram na sociedade. Neste sentido, a imprensa, entendida como mediadora
das relações sociais, parece ser um lugar privilegiado para a compreensão das novas
representações das identidades no espaço urbano.
Palavras-chave: imprensa; identidade; tecnologia; hibridismo; espaço urbano.
Os jornais, a construção do lugar e os fluxos da comunicação
Na elaboração do imaginário sobre a nação, a cidade e a comunidade, Benedict
Anderson (1989) afirma que o romance e o jornal tiveram lugar de destaque, no
desabrochar do pensamento liberal, sendo posteriormente acompanhados por outros
veículos de comunicação, como o rádio, a televisão e a internet.
A popularização da informação impressa em língua vulgar, isto é, a relação entre
o que era produzido e o público consumidor, foi feita através do mercado de imprensa,
que estabeleceu, segundo Anderson, as principais relações entre os burgueses de regiões
distantes. Antes, as classes pré-burguesas tinham gerado sua rede de relações
independente da língua, pelo menos, da língua impressa. Para elas, as solidariedades
eram produto do parentesco e das lealdades pessoais.
Para Anderson:
[...] uma nobreza analfabeta ainda podia atuar como nobreza. Mas e a
burguesia? Eis aí uma classe que, falando figuradamente, só veio a
ser uma classe mediante muitas cópias. Um dono de fábrica em Lille
só estava ligado a um dono de fábrica de Lyon por reverberação. Eles
não tinham uma razão necessária para conhecer a existência um do
outro, tipicamente, não se casavam com a filha um do outro, nem
herdavam as propriedade um do outro. Mas chegavam a visualizar de
um modo geral a existência de milhares e milhares de outros como
eles por intermédio da língua impressa. Pois é difícil imaginar uma
burguesia analfabeta. Assim, em termos de história mundial, as
burguesias foram as primeiras classes a consumar solidariedades numa
base essencialmente imaginada (1989, p.87).
1
Trabalho apresentado ao NP de Jornalismo, no XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
Professora do Departamento de Televisão e Rádio da Faculdade de Comunicação da UFJF; professora do Curso de
Especialização em Comunicação Empresarial da UFJF; professora do Programa de Educação Tutorial (PET) da
Faculdade de Comunicação da UFJF; doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. E-mail: musse@terra.com.br.
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Essas novas solidariedades, que surgem através da imprensa, vão configurar o
aparecimento do conceito de “público”, que inaugura uma nova teia de relações,
conforme defende Gabriel Tarde (1992). Se a multidão não prescinde da vizinhança, do
face a face, e daí tira o seu poder de construção ou de destruição, o público, por sua vez,
é um sentimento que une pessoas de lugares os mais distantes, através de um interesse
comum, que é estabelecido pela imprensa.
Entre outros aspectos, a multidão está
limitada pelo espaço físico, geográfico, isto é, pelo território, já o público é
“indefinidamente extensível”(ibid., p. 37). Para Tarde, “o público poderia ser definido
como uma multidão virtual”(ibid.,
p.38), que por sua extensão e por sua
homogeneidade, representa uma força emergente, que a imprensa mobiliza. Da mesma
forma, que a máquina a vapor vai imprimir um novo ritmo de produção às fábricas, e
diminuir o tempo de viagem entre uma cidade e outra, a imprensa vai possibilitar a
circulação e a difusão rápida de informações, criando uma solidariedade que já não
depende mais da presença física, é uma nova rede de trocas que se estabelece. “As
grandes conversões de massas, hoje, são os jornalistas que as realizam”(ibid., p. 50). A
constatação de Tarde, no final do século XIX, antecipa uma tendência que se confirma
nos novecentos. A imprensa, no que nos diz respeito, vai ser a grande fiadora da nação
republicana e do modo de produção capitalista, estando intimamente ligada à
conformação dos imaginários urbanos.
Nos séculos XIX e XX, os sucessivos movimentos nacionalistas demonstraram
a criação de vínculos entre as populações, estruturados por fatores como a língua vulgar
e a imprensa.
Mas, se, durante um longo período, este sentimento de pertencimento a
uma “comunidade imaginada”, denominado por Anderson (1989, p. 11) de “nationness”, ainda teve uma relação intrínseca com o espaço geográfico, no final do século
XX, observou-se uma ruptura: a implosão do Estado-nação, nos moldes liberais
burgueses do século XVIII, e uma explosão do sentimento de “nation-ness” com o
aparecimento de dezenas de novas nações, resultado de novas fidelidades.
Segundo
Anderson (ibid., p.11), “[...] o ‘fim dos tempos do nacionalismo’, há tanto tempo
profetizado, não está à vista, nem de longe. De fato, a nation-ness constitui o valor mais
universalmente legítimo na vida política de nossa era”.
Neste sentido, o discurso dos veículos impressos ainda trabalharia dando
respaldo ao mito fundador3 do “lugar”, que se oporia ao sentimento tão contemporâneo
3
“Os mitos fundadores são, por definição, transistóricos: não apenas estão fora da história, mas são fundamentalmente
aistóricos” (HALL, 2003, p. 29).
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de “des-locamento” (HALL, 2003).
A construção dessa “identidade cultural” pela
imprensa escrita funcionaria como um “cordão umbilical”, que possibilita estar “em
contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente
numa linha ininterrupta”(ibid., p. 29). Por outro lado, ainda são escassas, por exemplo,
as experiências de novas mídias e de veículos alternativos e comunitários, que
representem a margem e a periferia, no sentido em que Homi K. Bhabha (1998, p. 25)
explicita as culturas “nacionais” como sendo cada vez mais um produto idealizado a
partir das perspectivas das minorias destituídas.
O indiano Arjun Appadurai (1997) nos diz que podemos pensar numa
possibilidade de novas configurações narrativas, quando afirma que é a “imaginação”,
que terá que nos levar além da nação. Na verdade, o que se inaugura na
contemporaneidade, são novas formas de pertencimento, em que o território, como
espaço físico de convívio, cada vez tem menos importância, e em que a tecnologia e os
meios de comunicação reorganizam o social, transformando-se na principal argamassa
para as cartografias pós-nacionais.
Appadurai (1997) nos fala das “translocalidades”, quando se refere aos lugares
que se encontram divorciados do contexto nacional.
São zonas de fronteira, cidades
turísticas, de livre comércio, campos de refugiados, bairros de exilados e de
trabalhadores imigrantes que não compartilham do ideal da nação ou do estado e da
cidade dos quais fazem parte. Da mesma forma, Bhabha (1998) se refere aos “entrelugares”, e Hall (2003) às “culturas híbridas”, que surgem através do contágio entre as
diferenças culturais, resultado do trânsito cada vez mais intenso de pessoas e de
informação.
Nesse contexto, o que nos parece fundamental é a compreensão de que, como
nos lembra Hall, estamos sempre em processo de formação cultural. “A cultura não é
uma questão de ontologia, de ser, mas de se tornar” (ibid., p. 44). É o que acontece com
a globalização: se, de um lado, temos as forças de homogeneização, de outro, temos as
de disseminação da diferença cultural (ibid., p. 45).
A cidade e a desterritorialização
A noção que temos da cidade ultrapassa hoje o simples conceito geográfico,
impondo-se muito mais como o símbolo complexo da existência humana. A arquiteta
Raquel Rolnik (1995) define a cidade como um ímã e como uma escrita, no sentido em
que viver na cidade implica necessariamente viver de forma coletiva e a cidade opera
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como uma rede de significados móveis. Rolnik chama a atenção em especial para as
características específicas da conformação das cidades brasileiras, não só as
megalópoles, mas as cidades de porte médio, que repetem em escala menor o mesmo
processo de urbanização excludente.
A intensidade, velocidade, e modelo excludente da urbanização
brasileira trouxeram à tona todo um campo de pesquisa ligada aos
impactos ambientais e, mais particularmente, ao aspecto social da
urbanização, juntamente com o tema da violência urbana e da
expressão conflituosa de um território construído por
desterritorializados e excluídos.
Neste campo, sociólogos,
antropólogos e urbanistas têm procurado apontar para as raízes da
violência, uma das marcas contemporâneas de um novo etos urbano,
fragmentado e totalmente fora do controle das políticas
governamentais 4 .
É interessante compararmos o status da localidade àquela disposição global,
denominada por Hardt e Negri, de Império, no sentido da “nova forma de soberania que
sucedeu a soberania do Estado-nação, uma forma ilimitada de soberania que não
conhece fronteiras, ou melhor, conhece apenas fronteiras flexíveis e móveis”5 .
No
cenário de fluxo global do capital, possível através das novas tecnologias, e de uma
aumento intenso da mobilidade das populações, tudo e todos parecem estar
constantemente em trânsito, o que fragiliza o conceito de lugar.
O sentimento do
“lugar” seria semelhante àquele do “estar em casa”, definido por Beatriz Jaguaribe
como uma âncora de estabilidade, num cenário de desgarramento, implosão e invenção
do mundo pelo consumo:
Fortalecido pela memória, convívio social, formas de interação
personalizada, esse “estar em casa” não é somente uma prerrogativa
de culturas tradicionais. A fabricação da cotidianeidade, a formação
de hábitos, a absorção naturalizada de leis sociais são medidas
domesticadoras do estranhamento6 .
Se a Modernidade foi a
inspiradora da criação das nações e da consciência
nacional, do lugar e da identidade, a Pós-Modernidade, ao contrário, veio implodir a
4
ROLNIK, Raquel. Cidade brasileira: uma ou muitas? Ciência e cultura – temas e tendências, revista da SBPC,
São Paulo, ano 56, n.2, p.22, abr/mai/jun 2004.
5
HARDT, Michael, NEGRI, Antonio. Globalização e democracia. In: PACHECO, Anelise; VAZ, Paulo (org.).
Vozes no milênio: para pensar a globalização. Rio de Janeiro: Gryphus, Museu da República, 2002. p. 15.
6
JAGUARIBE, Beatriz. Fins de século: viagens no cosmopolitismo e na globalização. In: MENEZES, Philadelplho
(org.). Signos plurais: mídia, arte e cotidiano na globalização. São Paulo: Experimento, 1997. p.76.
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noção de origem, raiz e pertencimento, criando o que Marc Augé chamou de não-lugar.
Para ele (1994, p. 73), “se um lugar pode se definir como identitário, relacional e
histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como
relacional, nem como histórico definirá um não-lugar”. Ambos, porém, nunca existem
sob uma forma pura: “o lugar e o não-lugar são, antes, polaridades fugidias: o primeiro
nunca é completamente apagado e o segundo nunca se realiza totalmente – palimpsestos
em que se reinscreve , sem cessar, o jogo embaralhado da identidade e da relação”(ibid.,
p.74).
Diante da mobilidade do capital, à qual também corresponde uma mobilidade de
populações, há uma evidente desterritorialização, que impôs ao mundo uma nova
dinâmica cultural. Para Arjun Appadurai,
Deterritorialization affects the loyalties of groups (especially in the
context of complex diasporas), their transnational manipulation of
currencies and other forms of wealth and investment, and the
strategies of states. The loosening of the holds between people,
wealth, and territories fundamentally alters the basis of cultural
reproduction (1991, p.49).
Appadurai se pergunta sobre qual seria a natureza da localidade como uma
experiência vivida, num mundo globalizado e desterritorializado.
Para ele, uma das
respostas possíveis seria “the role of the imagination in social life” (ibid., p. 52).
A
imaginação, expressa através de sonhos, músicas, fantasias, mitos, sempre fez parte do
repertório de qualquer sociedade, mas a novidade, hoje, é a de que será através da
mídia, incluindo a imprensa e a indústria de entretenimento, que as populações vão
imaginar novas formas de vida, antes nunca pensadas, como vão tentar reinventar os
laços com uma origem perdida.
More persons throughout the world see their lives through the prisms
of the possible lives offered by mass media in all their forms. That is,
fantasy is now a social practice; it enters, in a host of ways, into the
fabrication of social lives for many people in many societies (ibid., p.
54).
Neste sentido, parece-nos extremamente importante o papel de veículos como o
rádio e a televisão, no cenário da América Latina. O rádio, por exemplo, para muitas
das populações pobres latino-americanas que, em especial, em meados do século
passado, deixaram o campo em direção à cidade, foi capaz de recriar o “espaço de
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identificação que não é só evocação de uma memória comum, e sim produção de uma
experiência profunda de solidariedade”(MARTÍN-BARBERO, 1997, p. 317), em
especial na apropriação de gêneros como o melodrama, em que a estranheza do mundo
é domesticada. Através da “dramatização do real” (ibid., p.318), os programas policiais,
por exemplo, também atingem este objetivo.
Esses personagens têm casa, endereço, família e o que é mais
importante, têm uma história de vida que inclui amor, amizade, ódio,
vingança. Uma história que fala de seres reais e não de meras fichas
de identificação. O desenraizamento das pessoas de origem rural é
compensado por esses programas7 .
A televisão, através da maciça produção de telenovelas, principalmente a partir
da década de 70, no Brasil, caminhou também neste sentido, recriando no imaginário
popular o que poderíamos chamar das cartografias do desejo (zona sul do Rio de
Janeiro, o eterno balneário), do poder (os grandes prédios da Av. Paulista, as mansões
dos poderosos de São Paulo) e da afetividade (subúrbios, com suas vilas, quitandas e
festas populares; o interior, com sítios, fazendas, natureza exótica), entre outras. MartínBarbero afirma que, comumente, nos países latino-americanos, a narrativa do romancepopular e do melodrama, mais do que a objetiva textualidade do jornalismo, tem
possibilitado uma identificação intensa entre as populações e o imaginário nacional.
A imprensa e as novas cartografias urbanas
Quando analisamos o fenômeno das migrações, vemos que, à exportação de um
estilo ocidental, corresponde, em sentido inverso, um movimento intenso da periferia
para o centro.
“Esta formação de ‘enclaves’ étnicos minoritários no interior dos
estados-nação do Ocidente levou a uma ‘pluralização’ de culturas nacionais e de
identidades nacionais”(HALL, op.cit., p. 83).
Deleuze e Guattari (1997) tratam dessa questão quando se referem ao espaço liso
e ao espaço estriado, ao espaço nômade e ao espaço sedentário. Os espaços não se
opõem de forma simples: eles se misturam e um pode ser transvertido no outro. O mar
é o espaço liso por excelência, da mesma forma que a cidade é o espaço estriado. Mas
se pode habitar a cidade de um modo liso, ser “um nômade das cidades”(ibid., p. 189).
Isto é, não há essência, ou verdade, mas processo:
A cidade libera espaços lisos, que já não são só os da organização
mundial, mas os de um revide que combina o liso e o esburacado,
7
FADUL, Ana Maria. Violência, rádio e o imaginário popular, p.12 apud MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios
às mediações – comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997, p. 318.
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voltando-se contra a cidade: imensas favelas móveis, temporárias, de
nômades e trogloditas, restos de metal e de tecido, patchwork, que já
nem sequer são afetados pelas estriagens do dinheiro, do trabalho ou
da habitação (DELEUZE;GUATTARI, op.cit., p. 188).
Todo o progresso se faz “por e no espaço estriado, mas é no espaço liso que se
produz todo o devir”(ibid., p. 195).
No nosso ponto de vista, teríamos, então, um
convívio do espaço da ordem pré-estabelecida, espaço estriado, com o espaço periférico,
à margem, o espaço liso, onde todas as possibilidades são possíveis.
Os meios de comunicação dividem e esquadrinham a cidade, refletindo os
interesses do Estado e dos grupos hegemônicos, atuando de preferência na ordem do
espaço estriado:
O Estado produz inúmeros discursos que são reproduzidos, de acordo
com o público a que se destina, pela própria sociedade civil. A grande
imprensa, que depende dos grupos que detêm o poder, econômica e
politicamente, reproduzirá assim um discurso específico de acordo
com o seu público, mas este será sempre o das classes hegemônicas,
sob as mais variadas formas (BARBOSA, M., 1993, p. 61).
O jornalismo diário seleciona as informações e cria uma cartografia da cidade,
levando em consideração critérios altamente subjetivos. Existem bairros associados ao
bem-estar, normalmente nomeados nas editorias de política, economia, cultura, esportes
e nas colunas de opinião e sociais. Outros espaços urbanos, como aqueles das favelas,
costumam aparecer com freqüência nas páginas policiais ou então naquelas da editoria
de “Cidade”, que privilegia problemas e reclamações dos moradores. O jornal divide a
cidade e a classifica de acordo com juízos de valor, embora tudo venha embalado pela
“retórica da imparcialidade e da neutralidade” (ibid., p. 86). Da mesma forma, Barbosa
(ibid., p. 101) nos lembra que, entendendo o jornal como documento8 que recria a
memória coletiva, temos nesses veículos
a coexistência da dialética do lembrar e do
esquecer, já que a cidade é “percebida em pedaços” e muitas das histórias que a
constituem, ao não ganhar visibilidade, são relegadas ao plano do esquecimento.
8
“A elaboração da narrativa jornalística confere-lhe, pela própria característica de montagem do texto, um caráter de
documentalidade. O texto jornalístico informativo é elaborado a partir de uma hierarquização das informações e dos
relatos, da transcrição literal das falas dos responsáveis pela divulgação daquela informação e pela profusão de provas
da sua autenticidade. Uma das formas usuais para dar verossimilhança à informação é a utilização de dados
numéricos, apresentados como prova de realidade à qual o jornalista se refere, ao lado de fotografias, esquemas,
mapas e outros recursos gráficos que colocam o leitor na cena do espaço geográfico da notícia”(BARBOSA, 1999, p.
86).
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Mas se observarmos que “o espaço estriado é constantemente revertido,
devolvido a um espaço liso” (DELEUZE; GUATTARI, op.cit., p. 180), poderemos
entender como vários movimentos e organizações não governamentais têm tentado
provocar uma reocupação do espaço social, a partir da reapropriação do espaço das
mídias. São os casos do Movimento dos Sem-Terra, do grupo Afro-Reggae, da Central
Única e do Observatório das Favelas, no Rio de Janeiro, das rádios comunitárias, de
jornais alternativos, de produtoras independentes de vídeo, de vários blogs na internet,
entre outros, que introduzem novas lógicas no cenário ordenado do jornalismo
tradicional.
Canclini reconhece que algo de novo surge nesse ambiente caótico, ao se referir
à desintegração das megacidades e de tantas cidades médias latino-americanas:
As grandes cidades do continente, que os governos e os migrantes
camponeses imaginavam até há poucos anos como avanços de nossa
modernização, são hoje os cenários caóticos de mercados informais
nos quais multidões procuram sobreviver sob formas arcaicas de
exploração, ou nas redes da solidariedade ou da violência (1999, p.
18).
A mudança no cenário das cidades, no caso latino-americano, reflete não só a
mudança da esfera de influência da Europa para os Estados Unidos, como a
instabilidade das democracias e o cancelamento dos organismos de representação da
cidadania pelas ditaduras das décadas de 70 e 80, que reduziram as sociedades civis
latino-americanas a “conjuntos atomizados de consumidores” (ibid., p.14).
Um dado
revelador é a perda da importância da cidade dentro de sua concepção européia, como
núcleo da vida cívica e comercial, acadêmica e artística, uma evidência que o autor
constata nas cidades americanas, mas que pode ser facilmente traduzida para as
metrópoles e cidades médias brasileiras, em que as elites se isolam em condomínios
fechados e shopping centers, cada vez mais afastados do centro; evitam caminhar a pé
pelas ruas, usar transporte coletivo, ou dirigir o carro de vidros abertos.
Ao analisar o novo cenário sociocultural, resultado do processo de uma
economia e cultura globalizadas, Canclini chama a atenção para a redefinição do senso
de pertencimento e identidade, “organizado cada vez menos por lealdades locais ou
nacionais
e
mais
pela
participação
em
desterritorializadas de consumidores”(ibid.,p. 52).
comunidades
transnacionais
ou
Há também, segundo o autor, a
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“passagem do cidadão como representante de uma opinião pública ao cidadão
interessado em desfrutar de uma certa qualidade de vida”, isto é, “as formas
argumentativas e críticas de participação dão lugar à fruição de espetáculos nos meios
eletrônicos”(CANCLINI, op.cit., p. 52).
Os laços sociais que, antes, eram mantidos entre as populações pelo contato da
vizinhança nos bairros, pela proximidade dentro da escola, ou pelo convívio para o lazer
e o consumo, no centro da cidade, hoje, se encontra disperso.
A expansão territorial e a massificação da cidade, que reduziram as
interações entre os bairros, ocorreram junto com a reinvenção de laços
sociais e culturais que passam através do rádio e da televisão.
Atualmente, são estes meios que, com sua lógica vertical e anônima,
diagramam os novos vínculos invisíveis da cidade (ibid.,p.102).
Canclini faz sua pesquisa, tendo como objeto a Cidade do México, uma
megalópole, uma cidade globalizada, mas muito do que ele conclui sobre os novos
vínculos, tecidos através dos meios eletrônicos de comunicação, se adequa às cidades de
porte médio em outros países. Pensando nestas cidades, poderíamos tentar uma
analogia: no momento em que a maior parte da programação veiculada nas emissoras
de rádio desses lugares é
de música
estrangeira, não só no sentido de música
internacional, mas de música nacional produzida nas grandes capitais, e em que a
programação televisiva é produzida nas grandes metrópoles, o que, no Brasil, significa
Rio de Janeiro e São Paulo, poderemos concluir que, a partir dos anos 70, do século
passado, temos cada vez mais um processo de fidelidade ao que é de fora e de alienação
ao que é de dentro, o que poderíamos chamar de uma produção de sentidos diaspórica.
Não há, por exemplo, como na década de 50, uma reprodução local dos programas de
auditório ou das radionovelas de sucesso, mas uma simples exibição, via satélite, do que
é produzido fora.
O novo cenário global faz Canclini (ibid, p. 112) concluir que hoje, para a
compreensão da cidade, não nos bastaria uma definição “sociodemográfica e espacial”,
mas seria indispensável também uma definição “sociocomunicacional”, já que os
veículos de comunicação estariam entre os vetores que reuniriam “em totalidades
fragmentos dispersos do tecido urbano”(ibid., p. 117), isto é, seriam responsáveis pelas
novas fidelidades e criação de vínculos, antes determinados, por exemplo, pelo
território. Para o antropólogo, aí reside a emergência de se pesquisar a cidade, tendo
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como base as narrativas que se fazem sobre ela, numa direção multidisciplinar, que
reuniria aos saberes da antropologia àqueles da sociologia, da psicanálise e dos estudos
de comunicação.
Os meios eletrônicos e a nova geopolítica
Ao investigar a imagem da cidade, Kevin Lynch (1997, p.3) sugere que ela é
resultado
da imagem mental que dela fazem seus habitantes.
Ele acredita que a
legibilidade da cidade não é um atributo apenas vinculado à cidade como uma coisa em
si, isto é, um objeto, mas, sim, a “cidade do modo como a percebem seus habitantes”.
Neste aspecto, considerando os meios de comunicação como mediadores nas relações
do sujeito com o seu entorno, observaremos que a imprensa tem um papel capital na
construção do imaginário da cidade.
Janice
Caiafa
acredita
que
a
comunicação
pode
ser
um
instrumento
extremamente relevante para os estudos sobre a cidade:
Historicamente, as cidades surgem provocando o povoamento espacial
e a produção de espaço públicos. A ocupação cole tiva gera
heterogeneidade, de alguma forma misturando os habitantes, e em
diferentes graus, dessegregando os meios fechados e familiares. Há
um trânsito que marca as cidades e que implica também certas formas
de comunicação e de produção subjetiva.
Tais experiências
certamente se deixam afetar pelas novas formas da produção
comunicativa. É crucial examinar a dimensão e a qualidade dessa
interferência, procurando, inclusive, distinguir suas manifestações
específicas nas diferentes configurações urbanas 9 .
Em vários trabalhos, Caiafa mostra como, nos Estados Unidos, por exemplo, a
televisão colaborou para a “autonomização do subúrbio familiar”, daquele modus
vivendi que se tornou típico das cidades americanas (com exceção de Nova York), em
que há um verdadeiro “despovoamento” do centro em favor dos subúrbios. “Já não vale
mais a pena ir até a cidade para uma sessão de cinema”10 . Caiafa defende que esse
processo leva à “privatização” ou “desurbanização” das cidades. “ A primeira vítima da
cidade privatizada é, a meu ver, a alteridade.
É a experiência fortemente urbana do
contágio que tende a ser eliminada nessas anti-cidades”11 .
Caiafa não acredita nem
mesmo numa possível interatividade oriunda dos meios de comunicação. Ao contrário,
9
CAIAFA, Janice. Povoar as cidades. Fronteiras – estudos midiáticos. Rio Grande do Sul, Universidade do Vale
dos Sinos. Vol. III. n.2, p.124, dez. 2001.
10
Ibid., p. 127.
11
Ibid., p. 128.
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ela afirma que “a ilusão de alteridade produzida nesses modelos não cessa de agravar
mais e mais a privatização e o despovoamento das cidades”12 .
Se, hoje, nos países desenvolvidos, como bem observa Virilio (1993), a
arquitetura dos prédios e das cidades se vê definitivamente influenciada pela
preocupação com os ataques terroristas, o que resultou, de forma clara, mais
recentemente, na construção do muro que separa israelenses e palestinos, nas grandes
cidades, a relação entre periferia e centro, ou entre favela e asfalto, criou “muros
invisíveis” entre os habitantes, quando não, “muros reais”, como as cancelas e grades
dos condomínios fechados, as câmeras de monitoramento de ambientes, os sistemas de
alarme, os automóveis blindados.
Outra observação importante se refere à ocupação do espaço privado. Se, na
década de 60 e 70, o espaço doméstico era um espaço de troca, de almoços familiares,
de reuniões políticas, de saraus musicais, de festa, aos poucos, este espaço privado vai
funcionar menos como lugar de convívio interpessoal e mais como espaço de
isolamento
individual.
Há,
inicialmente,
uma
verticalização
da
cidade,
com
a
conseqüente perda do espaço dos quintais, das árvores e dos bichos. Em seguida, há
uma diminuição da área da moradia. E, dentro deste espaço exíguo, cada um se dedica
a uma tarefa pessoal, como assistir às transmissões ao vivo dos canais de notícias.
Virilio (1999) chama a atenção para a subversão do limite entre público e
privado, ocasionado por esta nova “topologia eletrônica”, que termina com a separação
entre o “próximo” e o “distante”, ao mesmo tempo em que subverte a noção de duração
do tempo, ao instaurar um “presente permanente”. Segundo o autor, o espaço urbano
perde assim a sua “realidade geopolítica”
em benefício único de sistemas instantâneos de deportação cuja
intensidade tecnológica perturba incessantemente as estruturas sociais:
deportação de pessoas no remanejamento da produção, deportação da
atenção, do face a face humano, do contato urbano para a interface
homem/máquina (ibid., p. 12).
Teríamos então um cenário que Virilio chama de “pós-urbano” e transnacional,
em que se observaria a degradação das cidades, numa espécie de “desurbanização ‘pósindustrial’”, a atingir os países desenvolvidos.
À cidade onde a “pólis inaugurou um
teatro político com a ágora e o fórum, hoje nada resta além de uma tela catódica onde se
agitam as sombras [...]” (ibid., p. 14). É a “teledistribuição metropolitana”. Da mesma
12
CAIAFA, Janice. Povoar as cidades. Op. cit., p. 129.
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forma a “hiperconcentração” de determinadas megalópoles, como Cidade de México,
Xangai ou São Paulo não tende a significar o desenvolvimento do urbano, mas significa,
segundo Virilio (op.cit., p.95), “a desintegração próxima da cidade histórica, da
urbanização tradicional e, igualmente, da forma-Estado”. Para o autor (ibid., p. 116), o
que está em gestação na alvorada deste novo século é a “‘Cidade-Mundo’” totalmente
dependente das telecomunicações”, em que se estabelece uma relação inusitada com os
lugares e as distâncias, resultado da revolução tecnológica, que abole a noção de trajeto
e distância.
Segundo Muniz Sodré (2002, p.21), mais do que mediação, o que a comunicação
promove hoje é a midiatização, isto é, a “telerrealização das relações humanas”. Neste
sentido, não temos mais uma mediação das relações sociais como aquelas realizadas
pela família, a escola, ou o partido político, que promovem uma troca legitimada,
investida de valores, que dão um sentido social às mediações. Ao contrário, temos um
processo de mediação exclusivamente a serviço dos interesses do mercado, das
corporações
capitalistas,
e
que
privilegia
um
tipo
especial
de
interação,
a
“tecnointeração”, caracterizada por Muniz Sodré, como uma “espécie de prótese
tecnológica e mercadológica da realidade sensível, denominada medium”(ibid., p.21).
Segundo o autor, no sistema moderno de comunicacão, as informações eram
representadas, caracterizadas pela ideologia política das liberdades civis e do discurso
crítico. Com as tecnologias do som e da imagem, o receptor passou a receber o mundo
em seu fluxo, em tempo real, passando-se a falar de simulação.
A partir do
computador, a simulação digitaliza-se, caracterizando uma cultura da simulação e do
fluxo.
“Saber e sentir ingressam num novo registro, que é o da possibilidade de sua
exteriorização objetivante, de sua delegação a máquinas”(ibid.,p.17).
Considerando a midiatização como condicionadora de uma nova forma de
presença do sujeito no mundo, “(...) estruturadora ou reestruturadora de percepções e
cognições, funcionando como uma agenda coletiva”(ibid., p.26), Muniz Sodré resgata a
classificação aristotélica das formas de vida na Polis13 ,
para pensar a midiatização
como uma quarto âmbito existencial, ou um novo bios, “que implica uma transformação
das formas tradicionais de sociabilização, além de uma nova tecnologia perceptiva e
mental”(ibid., p.27), criando o que ele denominou de bios midiático.
13
O autor faz referência ao bios theoretikos – vida contemplativa; bios politikos – vida política e o bios apolaustikos
– vida prazerosa, do corpo.
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Utilizando os conceitos apresentados por Sodré, podemos concluir que o espaço
urbano é construído, hoje, especialmente
pela mídia, fazendo com que a relação das
cidades com seus habitantes seja, em alguns casos, mediada e, em outros, midiatizada,
chegando ao paroxismo em que não se consegue mais distingüir a cidade real da cidade
simulada, como nos filmes da série Matrix, onde “[...] já se joga com a hesitação
coletiva na determinação do que é original (substância) ou simulado ( linguagem,
discurso, informação numérica) em matéria de vida”(SODRÉ,, op. cit., p.26).
A mobilidade e o fluxo constante, possíveis através das novas tecnologias,
traduzem-se numa sociedade mais aberta e interconectada, mas
[...]apagam memórias, transtornam o sentido do tempo e a
percepção do espaço, ameaçando as identidades, pois é nelas que
se configuram os imaginários em que se plasmam os novos
sentidos que, em sua heterogeneidade, hoje cobrem tanto o local
quanto o pertencimento e reconhecimento que fazem a identidade
nacional 14
Há uma diferença significativa entre o que Martín-Barbero (1998) chama das
culturas letradas, ligadas à língua e ao território, e as culturas eletrônicas, que
respondem por novos modos de perceber e narrar a identidade. “Identidades de
temporalidades menos extensas, mais precárias, mas também mais flexíveis, capazes de
amalgamar e fazer conviver ingredientes de universos culturais muito diversos” (ibid.,
p. 59).
De acordo com o autor, é o paradigma de comunicação que regula, hoje, o caos
urbano.
Um paradigma centrado no fluxo, o que pode ser traduzido por
“tráfico
ininterrupto, interconexão transparente e circulação constante de veículos, pessoas e
informações”(ibid., p. 59). Daí todo o planejamento urbano das cidades que privilegia a
circulação pelas auto-estradas, viadutos, pontes e túneis, os “não-lugares” de Marc Augé
“A verdadeira preocupação dos urbanistas não será, portanto, que os cidadãos se
encontrem e sim que circulem, porque já não se quer os cidadãos reunidos e sim
conectados” (ibid., p.59).
Martín-Barbero
conclui
que
este
paradigma
da
comunicação ou do fluxo, leva à “des-espacialização, ao des-centramento e à desurbanização” (ibid., p. 59), em outras palavras, ao esvaziamento da cidade “real”
14
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Cidade virtual: novos cenários da comunicação. Comunicação & Educação, São
Paulo, 11, p. 53-67, jan./abr. 1998.
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ocupada pelos cidadãos, em prol da
fabulação15 , que “a constante mediação e
entrecruzamento de informações e de imagens produz”(MARTIN-BARBERO,op.cit.,
p. 60).
Conclusão
A relação dos cidadãos com o espaço urbano é mediada pelos meios de
comunicação, que, de acordo com a evolução tecnológica, representam esse espaço de
diferentes formas.
Ao período moderno, podemos estabelecer uma relação de
correspondência da cidade com os veículos impressos, em que ao espaço urbano
ordenado correspondia uma cidade letrada, também organizada pelas narrativas dos
jornais.
Na Modernidade,
a imprensa construiu a imagem da cidade imaginada,
idealizada, de acordo com as narrativas de uma cultura hegemônica, mas muitas outras
cidades continuavam invisíveis.
Somente com a crescente urbanização, o
maior
trânsito das populações e o advento das novas tecnologias de comunicação, estamos
inseridos num cenário de complexidade e velocidade, em que o imaginário urbano passa
a ser configurado através de uma infinidade de narrativas não mais limitadas ao
território de origem, mas globalizadas e instantâneas, estabelecendo novas relações do
cidadão com o espaço público.
Se a tecnologia possibilita a pluralidade e ajuda a
contruir a grande babel contemporânea, ela também sinaliza uma mudança significativa
na relação dos cidadãoes com o espaço público, que poderia determinar até mesmo um
esvaziamento, uma desurbanização das cidades. Neste processo, a imprensa e os meios
de comunicação não mais apenas representariam, mas também simulariam o real, num
jogo em que o face a face é substituído pela interface homem-máquina, o cidadão
reunido é substituído pelo cidadão conectado, o que estabelece, enfim, uma nova
socialibidade.
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15
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