Vamos agora estudar as manifestações literárias do século XIX, começando por um
período importante, o Romantismo.
É importante ter em mente alguns acontecimentos mundiais, para entender o contexto
histórico
que antecedeu
esse movimento
literário.
Você poderá pesquisar,
especialmente, sobre a ascensão da burguesia e sobre a revolução francesa. Com relação
a esta última, vale destacar o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Das três palavras que compõem esse lema, os artistas românticos talvez tenham
colocado mais ênfase em uma delas: Liberdade. Eles queriam para si a liberdade de
criação individual, sem seguir nenhum modelo anterior, especialmente os modelos
neoclássicos, já esgotados há algum tempo. O modelo que eles queriam privilegiar era o
de a sua própria imaginação, de seus sonhos, de suas fantasias.
Dessa forma, todo artista romântico acabou por se voltar para si mesmo, num processo
muito forte de egocentrismo, da valorização exagerada do eu individual. Os românticos
faziam uma literatura intimista e, muitas vezes, idealizadora de um mundo perfeito que,
pretensamente, existia dentro de si.
Como exemplo, trecho de um romance de José de Alencar:
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Se passasse há dez anos pela Praia da Glória, minha prima, antes que as novas ruas
que se abriram tivessem dado um ar de cidade às lindas encostas do morro de Santa
Teresa, veria de longe sorrir-lhe entre o arvoredo, na quebrada da montanha, uma
casinha de quatro janelas com um pequeno jardim na frente.
Ao cair da tarde, havia de descobrir na última das janelas o vulto gracioso de uma
menina que aí se conservava imóvel até seis horas, e que, retirando-se ligeiramente,
vinha pela portinha do jardim encontrar-se com um moço que subia a ladeira, e
oferecer-lhe modestamente a fronte, onde ele pousava um beijo de amor tão casto que
parecia antes um beijo de pai.
Depois, com as mãos entrelaçadas, iam ambos sentar-se a um canto do jardim, onde a
sombra era mais espessa, e aí conversavam baixinho um tempo esquecido; ouvia-se
apenas o doce murmúrio das vozes, interrompidas por esses momentos de silêncio em
que a alma emudece, por não achar no vocábulo humano outra linguagem que melhor
a exprima.
O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite, quando uma
senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa , já então iluminada, e
debruçando-se um pouco, dizia com a sua voz doce e afável:
- Olha o sereno, Carolina!
A estas palavras os dois amantes se erguiam, atravessavam o pequeno espaço que os
separava da casa, e subiam os degraus da porta, onde eram recebidos pela senhora que
os esperava.
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A Viuvinha, de José de Alencar. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/000600702.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h.
Um poema de Bernardo Guimarães:
Amor ideal
Há uma estrela no céu
Que ninguém vê, senão eu
(Garrett)
Quem és? - d'onde vens tu?
Sonho do céu, visão misteriosa,
Tu, que assim me rodeias de perfumes
De amor e d'harmonia?
Não és raio d'esp'rança
Enviado por Deus, ditamno puro
Por mãos ocultas de benigno gênio
No peito meu vertido?
Não és anjo celeste,
Que junto a mim, no adejo harmonioso
Passa, deixando-me a alma adormecida
Num êxtase de amor?
Ó tu, quem quer que sejas, anjo ou fada,
Mulher, sonho ou visão,
Inefável beleza, sê bem-vinda
Em minha solidão!
Vem, qual raio de luz dourando as trevas
De um cárcere sombrio,
Verter doce esperança neste peito
Em minha solidão!
Nosso amor é tão puro! - antes parece
A nota aérea e vaga
De ignota melodia, êxtase doce,
Perfume que embriaga!...
Amo-te como se ama o albor da aurora,
O claro azul do céu,
O perfume da flor, a luz da estrela,
Da noite o escuro véu.
Com desvelo alimento a minha chama
Do peito no sacrário,
Como sagrada lâmpada, que brilha
Dentro de um santuário.
Sim; a tua existencia é um mistério
A mim só revelado;
Um segredo de amor, que trarei sempre
Em meu seio guardado!
Ninguém te vê; - dos homens te separa
Um véu misterioso,
Em que modesta e tímida te escondes
Do mundo curioso.
Mas eu, no meu cismar, eu vejo sempre
A tua bela imagem;
Ouço-te a voz trazida entre perfumes
Por suspirosa aragem.
Sinto a fronte incendida bafejar-me
Teu hálito amoroso,
E do cândido seio que me abrasa
O arfar voluptuoso.
Vejo-te as formas do donoso corpo
Em vestes vaporosas,
E o belo riso, e a luz lânguida e meiga
Das pálpebras formosas!
Vejo-te sempre, mas ante mim passas
Qual sombra fugitiva,
Que me sorriu num sonho, e ante meus olhos
Desliza sempre esquiva!
Vejo-te sempre, ó tu, por quem minh'alma
De amores se consome;
Mas quem tu sejas, qual a pátria tua,
Não sei, não sei teu nome!
Ninguém te viu sobre a terra,
És filha dos sonhos meus:
Mas talvez, talvez que um dia
Te eu vá encontrar nos céus.
Tu não és filha dos homens,
Ó minha celeste fada,
D'argila, d'onde nascemos,
Não és decerto gerada.
Tu és da divina essência
Uma pura emanação,
Ou um eflúvio do elísio
Vertido em meu coração.
Tu és dos cantos do empíreo
Uma nota sonorosa,
Que nas fibras de minh'alma
Ecoa melodiosa;
Ou luz de benigna estrela
Que doura-me a triste vida,
Ou sombra de anjo celeste
Em minha alma refletida.
Enquanto vago na terra
Gomo mísero proscrito,
E o espírito não voa
Para as margens do infinito,
Tu apenas me apareces
Como um sonho vaporoso,
Ou qual perfume que inspira
Um cismar vago e saudoso;
Mas quando minh'alma solta
Desta prisão odiosa
Vaguear isenta e livre
Pela esfera luminosa,
Irei voando ansioso
Por esse espaço sem fim,
Até pousar em teus braços,
Meu formoso Querubim.
Cantos da Solidão. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01755.html. Acessado em
25/04/2006, às 11h.
Por estas idealizações, o romântico vai fatalmente entrar em conflito com a realidade,
sempre problemática, que o cerca. Daí vamos encontrar poemas em que predomina o
pessimismo, a melancolia, o tédio, a desilusão, a morte. Outros superam essa falta de
esperança, criando uma realidade idealizada e feliz:
MEUS OITO ANOS.
Casimiro de Abreu
Oh! Souvenirs! Printemps! Aurores!
V. Hugo.
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores.
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras.
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
.....................................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Lisboa – 1857.
As Primaveras. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-00737.html. Acessado em
25/04/2006, às 11h.
Este versos do poeta Casimiro de Abreu é um bom exemplo da linguagem do
Romantismo. Veja como o poeta usa a primeira pessoa: “eu tenho”, “minha vida” etc.
Outros temas foram explorados pelos poetas: a pátria, a mãe, a família, a infância, o
amor, a natureza, a religião; o “par romântico” era sempre idealizado e era ressaltada a
beleza física e espiritual do homem e da mulher. Abaixo, vão alguns exemplos:
O HOMEM FORTE
Gonçalves Dias
O modesto varão constante e justo
Pensa e medita nas lições dos sábios
E nos caminhos da justiça eterna
Gradua firme os passos.
O brilho da sua lama não mareia
A luz do sol, nem do carvão se tisna;
Morre pelo dever, austero e crente,
Confessando a virtude.
Pode a calúnia denegrir seus feitos,
Negar-lhe a inveja o mérito subido;
Pode em seu dano conspirar-se o mundo
E renegá-lo a pátria!
Tão modesto no paço de Lóculo
Como encerrado no tonel do Grego,
Nem o transtorna a aragem da ventura,
Nem a desgraça o abate.
A tiranos preceitos não se humilha,
Ante o ferro do algoz não curva a fronte,
Não faz calar da consciência o grito,
Não nega os seus princípios.
Antes, seguro e firme e confiado
No tempo, vingador das injustiças,
Co’s pés no cadafalso e a vista erguida
Se mostra imperturbável.
Sofre mártir e expira! A pátria em torno
Do seu sepulcro o chora, onde a virtude,
Afeita ao luto e à dor, de novo carpe
Do justo a flébil morte!
Novos Cantos, de Gonçalves Dias. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-01209.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h.
À Minha mãe
Álvares de Azevedo
Se a terra é adorada, a mãe não é mais
digna de veneração.
Digest of hindu law.
Como as flores de uma árvore silvestre
Se esfolham sobre a leiva que deu vida
A seus ramos sem fruto,
Ó minha doce mãe, sobre teu seio
Deixa que dessa pálida coroa
Das minhas fantasias
Eu desfolhe também, frias, sem cheiro,
Flores da minha vida, murchas flores
Que só orvalha o pranto!
Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-00784.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h.
A Luís
(NO DIA DE SEU NATALÍCIO)
Castro Alves
A imaginação, com o vôo ousado
aspira a princípio à eternidade...
Depois um pequeno espaço basta em breve
para os destroços de nossas esperanças
iludidas! ..
GOETHE
Como um perfume de longínquas plagas
Traz o vento da pátria ao peregrino,
O meu amigo! que saudade infinda
Tu me trazes dos tempos de menino!
É o ledo enxame de sutis abelhas
Que vem lembrar à flor o mel d'aurora...
Acres perfumes de uma idade ardente
Quando o lábio sorri... mas nunca chora!
Que tempos idos! que esperanças louras!
Que cismas de poesia e de futuro!
Nas páginas do triste Lamartine
Quanto sonho de amor pousava puro! ..
E tu falavas de um amor celeste,
De um anjo, que depois se fez esposa...
— Moça, que troca os risos de criança
Pelo meigo cismar de mãe formosa.
Oh! meu amigo! neste doce instante
O vento do passado em mim suspira,
E minh'alma estremece de alegria,
Como ao beijo da noite geme a lira.
Tu paraste na tenda, ó peregrino!
Eu vou seguindo do deserto a trilha;
Pois bem... que a lira do poeta errante
Seja a bênção do lar e da família.
Espumas Flutuantes, de Castro Alves. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01150.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h.
E como foi a prosa romântica?
No período romântico surgiram as primeiras narrativas, os primeiros romances.
Mas eles não eram publicados em livros em um primeiro momento. Os primeiros
romancistas escreviam suas histórias em capítulos e publicavam nos jornais. Eram os
folhetins. Isto significava que os autores para conseguir leitores tinham que escrever
com um estilo que trouxesse muita ação, muito suspense, muito romance. O leitor tinha
que manter o interesse para saber o que aconteceria no próximo capítulo, para que
comprasse a edição seguinte. Notou que é o mesmo procedimento das telenovelas da
televisão?
Veja uma lista (incompleta, é claro!) de romances brasileiros publicados primeiramente
em folhetins, em jornais, e, apenas depois disso, em livros:
51 Mário Prata 1993
A Afilhada Manuel de Oliveira Paiva 1962
A Cabeça que Fala Olavo Bilac e Guimarães Passos 1897
A Carteira de Meu Tio Joaquim Manuel de Macedo 1855
A Casa de Palha Franklin Távora 1866
A Casa verde Filinto de Almeida e Júlia Lopes de Almeida 1898
A Cruz de Cedro Antônio Joaquim da Rosa 1854
A Família Medeiros Júlia Lopes de Almeida 1891
A Luneta Mágica Joaquim Manuel de Macedo 1868
A Mão e a Luva Machado de Assis 1874
A Mentira Nelson Rodrigues 1953
A Mortalha de Alzira Aluísio Azevedo 1891
A Mulher que Amou Demais Nelson Rodrigues 1949
A Muralha Dinah Silveira de Queiroz 1953
A Ponte do Catete José do Patrocínio 1882
A Profissão de Jacques Pedreira João do Rio 1910
A Providência Teixeira e Sousa 1853
A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi Márcio de Souza 1981
A Terra e as Carabinas Bernardo Élis 1951
A Viuvinha José de Alencar 1857
A Vitória da Fome Pausílipo da Fonseca 1911
Amor sem Mácula Virgínia G. Tamanini 1922
As Infâncias da Quaderna Ariano Suassuna 1977
As Jóias da Coroa Raul Pompéia 1882
As Tardes de um Pintor Teixeira e Sousa 1847
Asfalto Selvagem Nelson Rodrigues 1958
Boca de Bagre Orígenes Lessa 1963
Cangaceiros José Lins do Rego
Carolina Casimiro de Abreu 1856
Carolina José de Alencar 1856
Casa de Pensão Aluísio Azevedo 1883
Cenas da Vida de Estudante José Cândido de Lacerda Coutinho 1863
Cinco Minutos José de Alencar 1857
Clara dos Anjos Lima Barreto 1923
Correio da roça Júlia Lopes de Almeida 1909
Cruel amor Júlia Lopes de Almeida 1908
D. Narcisa de Villar Ana Luísa de Azevedo Castro 1858
Dente de Ouro Menotti Del Picchia 1922
Diva José de Alencar 1856
El Rey Jorge Amado , Osvaldo Dias da Costa e Édison Carneiro 1929
Encarnação José de Alencar 1877
Entre sem Bater Edmundo Donato 1961
Escravas do Amor Nelson Rodrigues 1944
Ex-homem José de Alencar 1877
Filomena Borges Aluísio Azevedo 1884
Folhas ao Vento Renato José da Costa Pacheco 1981
Folhetim Luís Fernando Veríssimo 1988
Folhetim Voador Ricardo José Hofstetter de Jesus 1987
Helena Machado de Assis 1876
Heroína entre os heróis Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel 1895
Iaiá Garcia Machado de Assis 1878
Ismênia Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos 1928
Livro de Domingo João Carlos de Sousa Ferreira
Lourenço Franklin Távora 1878
Luizinha Araripe Júnior 1980
Madrugadas de Vinho Dentro da Alma Josué Favaro 1950
Maria Teixeira e Sousa 1852
Mattos, Malta ou Matta? Aluísio Azevedo 1885
Memórias de Marta Júlia Lopes de Almeida 1889
Memórias de um Condenado Aluísio Azevedo 1882
Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antônio de Almeida 1853
Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis 1880
Mengo, uma Odisséia no Oriente Carlos Eduardo de Agostini Novaes 1981
Menina Luzia Nestor Freire 1912
Meu Destino é Pecar Nelson Rodrigues 1943
Minha Vida Nelson Rodrigues 1946
Mistério da Tijuca Aluísio Azevedo 1882
Mistérios de Araçatuba Manuel Alves Lima Maldonado
Mota Coqueiro José do Patrocínio 1877
Nenê Bonet Janete Clair 1980
No declínio Alfredo d'Escragnolle Taunay 1898
Numa e a Ninfa Lima Barreto 1915
Núpcias de Fogo Nelson Rodrigues 1947
O Ateneu Raul Pompéia 1888
O Caso de Ruth Júlia Lopes de Almeida 1897
O Cazeca Gastão de Deus Vítor Rodrigues 1910
O coronel Sangrado Inglês de Sousa 1877
O Crime da Rua Fresca Olavo Bilac , Aluísio Azevedo Coelho Neto Artur Azevedo
Alcindo Guanabara 1896
O Culto do Dever Joaquim Manuel de Macedo 1865
O Encilhamento Alfredo d'Escragnolle Taunay 1893
O Ermitão de Muquém Bernardo Guimarães 1858
O Esqueleto Olavo Bilac Pardal Mallet 1890
O Forasteiro Joaquim Manuel de Macedo 1855
O Galo de Ouro Rachel de Queiroz 1950
O Guarani José de Alencar 1857
O Homem Proibido Nelson Rodrigues 1951
O Índio Affonso Bernardo Guimarães 1872
O Mistério Medeiros e Albuquerque 1920
O Mistério Coelho Neto 1920
O Mistério Afrânio Peixoto 1920
O Mistério Viriato Correia 1920
O Sacrifício Franklin Távora 1879
O Subterrâneo do Morro do Castelo Lima Barreto 1905
Os Dois Amores Joaquim Manuel de Macedo 1848
Os Índios do Jaguaribe Franklin Távora 1862
Os Jagunços Afonso Arinos 1898
Os Retirantes José do Patrocínio 1879
Os Sete Meninos José Louzeiro 1993
Os Varões Assinalados Tabajara Ruas 1985
Ouro sobre azul Alfredo d'Escragnolle Taunay 1875
Padre Belchior de Pontes Júlio Ribeiro 1874
Paula Matos Aluísio Azevedo Olavo Bilac Coelho Neto Pardal Mallet 1890
Pedro Espanhol José do Patrocínio 1884
Pobre amor, o amor de Dona Amanda Emílio Kemp Larbeck Filho 1908
Quincas Borba Machado de Assis 1886
Recordações do Escrivão Isaías Caminha Lima Barreto 1907
Reino não Conquistado Renato José da Costa Pacheco 1980
Rosa Joaquim Manuel de Macedo 1849
Sanatorium Olavo Bilac Carlos Magalhães de Azeredo 1893
Til José de Alencar 1872
Trindade Maldita Franklin Távora 1861
Triste Fim de Policarpo Quaresma Lima Barreto 1911
Tormento do coração Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel 1890
Vicentina Joaquim Manuel de Macedo 1854
Zulmira Campos da Paz
Sugerimos que você leia alguns desses romances e os compare, tomando como
referências aqueles do Romantismo. Pode também comparar sua trama com as das
telenovelas.
Como eram os temas destas narrativas?
Os escritores românticos trouxeram à tona os valores da sociedade burguesa, seja
contra, seja a favor. Como já afirmado acima, valores como pátria, família e religião
tiveram grande importância dentro dessa estética da primeira metade do século XIX.
Ao se ocuparem da pátria, os escritores românticos , escreveram algumas narrativas que
foram classificadas como literatura nacionalista. Através delas, eles ressaltavam as
belezas da natureza, as diferenças e especificidades regionais, a valorização do passado
histórico da pátria.
No Brasil, a busca de uma origem histórica fixou-se na imagem do índio, tematizado em
muitos poemas e romances. Em algumas narrativas, ele era idealizado, puro, bom; em
outras, o índio era um elemento narrativo, um personagem, que queria marcar a
diferença do Brasil e da Europa. Através de tais personagens, os autores queriam
mostrar que tínhamos uma identidade própria, distinta da européia e, sobretudo, da
portuguesa.
Veja um trecho de Iracema, de José de Alencar:
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e
mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde
campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava
apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da
oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores
sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em
manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e
concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes sobe aos ramos da árvore e
de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru te palha matizada, onde traz a selvagem
seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de
que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não
deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau
espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste
das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu Gotas de sangue
borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas logo sorriu. O moço guerreiro
aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma
que da ferida.
O sentimento que ele pos nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e
a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois
Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta
farpada.
O guerreiro falou:
- Quebras comigo a flecha da paz?
- Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas,
que nunca viram outro guerreiro como tu ?
- Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje
têm os meus.
- Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de
Araquém, pai de Iracema.
Iracema, de José de Alencar. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01155.html. Acessado em
25/04/2006.
Mas a maior herança que o romantismo deixou foi a idealização do par romântico: uma
moça graciosa, bonita, meiga, delicada, educada e um rapaz belo, corajoso, forte e puro
de alma. Os dois tinham que manter uma relação singela e terna, quase sempre se
realizando no casamento final. Se o casal não fazia nada “errado”, segundo a moral
burguesa e cristã da época, casariam e seriam felizes para sempre. O romance A
Moreninha, escrito por Joaquim Manuel de Macedo, é um bom exemplo desses
elementos da prosa romântica.
Então, vamos fazer uma síntese das principais idéias da literatura romântica:
Liberdade de criação individual
Fuga de modelos
Individualismo
Intimismo
Subjetivismo
Fantasia, sonho, imaginação
Fuga da realidade
Idealização da realidade
Conflito “eu” e o mundo
Temas como nacionalismo, regionalismo, natureza, indianismo, saudosismo, amor,
religiosidade, morte, pessimismo, tédio
Simplicidade da linguagem.
Vamos conhecer alguns poemas românticos:
AINDA UMA VEZ – ADEUS! –
Gonçalves Dias
I
Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti!
II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
III
Louco, aflito, a saciar-me
D’gravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!
IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.
V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pode o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que ma darias – bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mas sabes quanto lutei!
VII
Oh! se lutei!...mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?
VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t’esquecerias,
Que, sem mim, alegres dias
T’esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu quinhão de dor!
IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa=te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel, disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!
XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse engano desfez!
XII
Enganei-me!... – Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra,
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão! reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu’era...
E um louco fui, nada mais!
XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d’alta virtude!
Que tinha eu bronco e rude
Co’o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Estava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na ausência do mal
XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que a não quis!
XV
És doutro agora, e p’ra sempre!
Eu a mísero desterro
Volto, chorando o meu erro,
dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!
XVI
Dói-te de mim, qu t’imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
e se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
XVII
Adeus qu’eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
`por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!
XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos, d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; — e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiede,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, — de compaixão.
Novos Cantos, de Gonçalves Dias. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/004201209.html#AINDAUMAVEZADEUS. Acessado em 25/04/2006.
Atividade: pense no Brasil do século XXI?. Se tivesse que escrever uma canção
para o Brasil, o que você diria? Veja dois exemplos desse exercício poético:
Canção do exílio
Murilo Mendes
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá con certidão de idade!
Do livro Poemas (1925-1931)
Canção do exílio facilitada
José Paulo Paes
lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
Mais dois poetas importantes e dois de seus poemas, para você conhecer:
Se eu morresse amanhã
Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Poemas Irônicos, Venenosos e Sarcásticos, de Álvares de Azevedo. Texto eletrônico:
http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-00863.html. Acessado em
25/04/2006.
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É fundamental também conhecer Castro Alves, poeta de que o crítico Candido disse ser,
provávelmente, o maior poeta romântico brasileiro.
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