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1 Romantismo

Vamos agora estudar as manifestações literárias do século XIX, começando por um período importante, o Romantismo. É importante ter em mente alguns acontecimentos mundiais, para entender o contexto histórico que antecedeu esse movimento literário. Você poderá pesquisar, especialmente, sobre a ascensão da burguesia e sobre a revolução francesa. Com relação a esta última, vale destacar o lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Das três palavras que compõem esse lema, os artistas românticos talvez tenham colocado mais ênfase em uma delas: Liberdade. Eles queriam para si a liberdade de criação individual, sem seguir nenhum modelo anterior, especialmente os modelos neoclássicos, já esgotados há algum tempo. O modelo que eles queriam privilegiar era o de a sua própria imaginação, de seus sonhos, de suas fantasias. Dessa forma, todo artista romântico acabou por se voltar para si mesmo, num processo muito forte de egocentrismo, da valorização exagerada do eu individual. Os românticos faziam uma literatura intimista e, muitas vezes, idealizadora de um mundo perfeito que, pretensamente, existia dentro de si. Como exemplo, trecho de um romance de José de Alencar: ............................................................................................................................................. Se passasse há dez anos pela Praia da Glória, minha prima, antes que as novas ruas que se abriram tivessem dado um ar de cidade às lindas encostas do morro de Santa Teresa, veria de longe sorrir-lhe entre o arvoredo, na quebrada da montanha, uma casinha de quatro janelas com um pequeno jardim na frente. Ao cair da tarde, havia de descobrir na última das janelas o vulto gracioso de uma menina que aí se conservava imóvel até seis horas, e que, retirando-se ligeiramente, vinha pela portinha do jardim encontrar-se com um moço que subia a ladeira, e oferecer-lhe modestamente a fronte, onde ele pousava um beijo de amor tão casto que parecia antes um beijo de pai. Depois, com as mãos entrelaçadas, iam ambos sentar-se a um canto do jardim, onde a sombra era mais espessa, e aí conversavam baixinho um tempo esquecido; ouvia-se apenas o doce murmúrio das vozes, interrompidas por esses momentos de silêncio em que a alma emudece, por não achar no vocábulo humano outra linguagem que melhor a exprima. O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite, quando uma senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa , já então iluminada, e debruçando-se um pouco, dizia com a sua voz doce e afável: - Olha o sereno, Carolina! A estas palavras os dois amantes se erguiam, atravessavam o pequeno espaço que os separava da casa, e subiam os degraus da porta, onde eram recebidos pela senhora que os esperava. ............................................................................................................................................. A Viuvinha, de José de Alencar. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/000600702.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. Um poema de Bernardo Guimarães: Amor ideal Há uma estrela no céu Que ninguém vê, senão eu (Garrett) Quem és? - d'onde vens tu? Sonho do céu, visão misteriosa, Tu, que assim me rodeias de perfumes De amor e d'harmonia? Não és raio d'esp'rança Enviado por Deus, ditamno puro Por mãos ocultas de benigno gênio No peito meu vertido? Não és anjo celeste, Que junto a mim, no adejo harmonioso Passa, deixando-me a alma adormecida Num êxtase de amor? Ó tu, quem quer que sejas, anjo ou fada, Mulher, sonho ou visão, Inefável beleza, sê bem-vinda Em minha solidão! Vem, qual raio de luz dourando as trevas De um cárcere sombrio, Verter doce esperança neste peito Em minha solidão! Nosso amor é tão puro! - antes parece A nota aérea e vaga De ignota melodia, êxtase doce, Perfume que embriaga!... Amo-te como se ama o albor da aurora, O claro azul do céu, O perfume da flor, a luz da estrela, Da noite o escuro véu. Com desvelo alimento a minha chama Do peito no sacrário, Como sagrada lâmpada, que brilha Dentro de um santuário. Sim; a tua existencia é um mistério A mim só revelado; Um segredo de amor, que trarei sempre Em meu seio guardado! Ninguém te vê; - dos homens te separa Um véu misterioso, Em que modesta e tímida te escondes Do mundo curioso. Mas eu, no meu cismar, eu vejo sempre A tua bela imagem; Ouço-te a voz trazida entre perfumes Por suspirosa aragem. Sinto a fronte incendida bafejar-me Teu hálito amoroso, E do cândido seio que me abrasa O arfar voluptuoso. Vejo-te as formas do donoso corpo Em vestes vaporosas, E o belo riso, e a luz lânguida e meiga Das pálpebras formosas! Vejo-te sempre, mas ante mim passas Qual sombra fugitiva, Que me sorriu num sonho, e ante meus olhos Desliza sempre esquiva! Vejo-te sempre, ó tu, por quem minh'alma De amores se consome; Mas quem tu sejas, qual a pátria tua, Não sei, não sei teu nome! Ninguém te viu sobre a terra, És filha dos sonhos meus: Mas talvez, talvez que um dia Te eu vá encontrar nos céus. Tu não és filha dos homens, Ó minha celeste fada, D'argila, d'onde nascemos, Não és decerto gerada. Tu és da divina essência Uma pura emanação, Ou um eflúvio do elísio Vertido em meu coração. Tu és dos cantos do empíreo Uma nota sonorosa, Que nas fibras de minh'alma Ecoa melodiosa; Ou luz de benigna estrela Que doura-me a triste vida, Ou sombra de anjo celeste Em minha alma refletida. Enquanto vago na terra Gomo mísero proscrito, E o espírito não voa Para as margens do infinito, Tu apenas me apareces Como um sonho vaporoso, Ou qual perfume que inspira Um cismar vago e saudoso; Mas quando minh'alma solta Desta prisão odiosa Vaguear isenta e livre Pela esfera luminosa, Irei voando ansioso Por esse espaço sem fim, Até pousar em teus braços, Meu formoso Querubim. Cantos da Solidão. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01755.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. Por estas idealizações, o romântico vai fatalmente entrar em conflito com a realidade, sempre problemática, que o cerca. Daí vamos encontrar poemas em que predomina o pessimismo, a melancolia, o tédio, a desilusão, a morte. Outros superam essa falta de esperança, criando uma realidade idealizada e feliz: MEUS OITO ANOS. Casimiro de Abreu Oh! Souvenirs! Printemps! Aurores! V. Hugo. Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores. Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Como são belos os dias Do despontar da existência! – Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é – lago sereno, O céu – um manto azulado, O mundo – um sonho dourado, A vida – um hino d’amor! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, Da camisa aberto o peito, – Pés descalços, braços nus – Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras. Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar! ..................................................... Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! – Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Lisboa – 1857. As Primaveras. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-00737.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. Este versos do poeta Casimiro de Abreu é um bom exemplo da linguagem do Romantismo. Veja como o poeta usa a primeira pessoa: “eu tenho”, “minha vida” etc. Outros temas foram explorados pelos poetas: a pátria, a mãe, a família, a infância, o amor, a natureza, a religião; o “par romântico” era sempre idealizado e era ressaltada a beleza física e espiritual do homem e da mulher. Abaixo, vão alguns exemplos: O HOMEM FORTE Gonçalves Dias O modesto varão constante e justo Pensa e medita nas lições dos sábios E nos caminhos da justiça eterna Gradua firme os passos. O brilho da sua lama não mareia A luz do sol, nem do carvão se tisna; Morre pelo dever, austero e crente, Confessando a virtude. Pode a calúnia denegrir seus feitos, Negar-lhe a inveja o mérito subido; Pode em seu dano conspirar-se o mundo E renegá-lo a pátria! Tão modesto no paço de Lóculo Como encerrado no tonel do Grego, Nem o transtorna a aragem da ventura, Nem a desgraça o abate. A tiranos preceitos não se humilha, Ante o ferro do algoz não curva a fronte, Não faz calar da consciência o grito, Não nega os seus princípios. Antes, seguro e firme e confiado No tempo, vingador das injustiças, Co’s pés no cadafalso e a vista erguida Se mostra imperturbável. Sofre mártir e expira! A pátria em torno Do seu sepulcro o chora, onde a virtude, Afeita ao luto e à dor, de novo carpe Do justo a flébil morte! Novos Cantos, de Gonçalves Dias. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-01209.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. À Minha mãe Álvares de Azevedo Se a terra é adorada, a mãe não é mais digna de veneração. Digest of hindu law. Como as flores de uma árvore silvestre Se esfolham sobre a leiva que deu vida A seus ramos sem fruto, Ó minha doce mãe, sobre teu seio Deixa que dessa pálida coroa Das minhas fantasias Eu desfolhe também, frias, sem cheiro, Flores da minha vida, murchas flores Que só orvalha o pranto! Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-00784.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. A Luís (NO DIA DE SEU NATALÍCIO) Castro Alves A imaginação, com o vôo ousado aspira a princípio à eternidade... Depois um pequeno espaço basta em breve para os destroços de nossas esperanças iludidas! .. GOETHE Como um perfume de longínquas plagas Traz o vento da pátria ao peregrino, O meu amigo! que saudade infinda Tu me trazes dos tempos de menino! É o ledo enxame de sutis abelhas Que vem lembrar à flor o mel d'aurora... Acres perfumes de uma idade ardente Quando o lábio sorri... mas nunca chora! Que tempos idos! que esperanças louras! Que cismas de poesia e de futuro! Nas páginas do triste Lamartine Quanto sonho de amor pousava puro! .. E tu falavas de um amor celeste, De um anjo, que depois se fez esposa... — Moça, que troca os risos de criança Pelo meigo cismar de mãe formosa. Oh! meu amigo! neste doce instante O vento do passado em mim suspira, E minh'alma estremece de alegria, Como ao beijo da noite geme a lira. Tu paraste na tenda, ó peregrino! Eu vou seguindo do deserto a trilha; Pois bem... que a lira do poeta errante Seja a bênção do lar e da família. Espumas Flutuantes, de Castro Alves. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01150.html. Acessado em 25/04/2006, às 11h. E como foi a prosa romântica? No período romântico surgiram as primeiras narrativas, os primeiros romances. Mas eles não eram publicados em livros em um primeiro momento. Os primeiros romancistas escreviam suas histórias em capítulos e publicavam nos jornais. Eram os folhetins. Isto significava que os autores para conseguir leitores tinham que escrever com um estilo que trouxesse muita ação, muito suspense, muito romance. O leitor tinha que manter o interesse para saber o que aconteceria no próximo capítulo, para que comprasse a edição seguinte. Notou que é o mesmo procedimento das telenovelas da televisão? Veja uma lista (incompleta, é claro!) de romances brasileiros publicados primeiramente em folhetins, em jornais, e, apenas depois disso, em livros: 51 Mário Prata 1993 A Afilhada Manuel de Oliveira Paiva 1962 A Cabeça que Fala Olavo Bilac e Guimarães Passos 1897 A Carteira de Meu Tio Joaquim Manuel de Macedo 1855 A Casa de Palha Franklin Távora 1866 A Casa verde Filinto de Almeida e Júlia Lopes de Almeida 1898 A Cruz de Cedro Antônio Joaquim da Rosa 1854 A Família Medeiros Júlia Lopes de Almeida 1891 A Luneta Mágica Joaquim Manuel de Macedo 1868 A Mão e a Luva Machado de Assis 1874 A Mentira Nelson Rodrigues 1953 A Mortalha de Alzira Aluísio Azevedo 1891 A Mulher que Amou Demais Nelson Rodrigues 1949 A Muralha Dinah Silveira de Queiroz 1953 A Ponte do Catete José do Patrocínio 1882 A Profissão de Jacques Pedreira João do Rio 1910 A Providência Teixeira e Sousa 1853 A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi Márcio de Souza 1981 A Terra e as Carabinas Bernardo Élis 1951 A Viuvinha José de Alencar 1857 A Vitória da Fome Pausílipo da Fonseca 1911 Amor sem Mácula Virgínia G. Tamanini 1922 As Infâncias da Quaderna Ariano Suassuna 1977 As Jóias da Coroa Raul Pompéia 1882 As Tardes de um Pintor Teixeira e Sousa 1847 Asfalto Selvagem Nelson Rodrigues 1958 Boca de Bagre Orígenes Lessa 1963 Cangaceiros José Lins do Rego Carolina Casimiro de Abreu 1856 Carolina José de Alencar 1856 Casa de Pensão Aluísio Azevedo 1883 Cenas da Vida de Estudante José Cândido de Lacerda Coutinho 1863 Cinco Minutos José de Alencar 1857 Clara dos Anjos Lima Barreto 1923 Correio da roça Júlia Lopes de Almeida 1909 Cruel amor Júlia Lopes de Almeida 1908 D. Narcisa de Villar Ana Luísa de Azevedo Castro 1858 Dente de Ouro Menotti Del Picchia 1922 Diva José de Alencar 1856 El Rey Jorge Amado , Osvaldo Dias da Costa e Édison Carneiro 1929 Encarnação José de Alencar 1877 Entre sem Bater Edmundo Donato 1961 Escravas do Amor Nelson Rodrigues 1944 Ex-homem José de Alencar 1877 Filomena Borges Aluísio Azevedo 1884 Folhas ao Vento Renato José da Costa Pacheco 1981 Folhetim Luís Fernando Veríssimo 1988 Folhetim Voador Ricardo José Hofstetter de Jesus 1987 Helena Machado de Assis 1876 Heroína entre os heróis Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel 1895 Iaiá Garcia Machado de Assis 1878 Ismênia Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos 1928 Livro de Domingo João Carlos de Sousa Ferreira Lourenço Franklin Távora 1878 Luizinha Araripe Júnior 1980 Madrugadas de Vinho Dentro da Alma Josué Favaro 1950 Maria Teixeira e Sousa 1852 Mattos, Malta ou Matta? Aluísio Azevedo 1885 Memórias de Marta Júlia Lopes de Almeida 1889 Memórias de um Condenado Aluísio Azevedo 1882 Memórias de um Sargento de Milícias Manuel Antônio de Almeida 1853 Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis 1880 Mengo, uma Odisséia no Oriente Carlos Eduardo de Agostini Novaes 1981 Menina Luzia Nestor Freire 1912 Meu Destino é Pecar Nelson Rodrigues 1943 Minha Vida Nelson Rodrigues 1946 Mistério da Tijuca Aluísio Azevedo 1882 Mistérios de Araçatuba Manuel Alves Lima Maldonado Mota Coqueiro José do Patrocínio 1877 Nenê Bonet Janete Clair 1980 No declínio Alfredo d'Escragnolle Taunay 1898 Numa e a Ninfa Lima Barreto 1915 Núpcias de Fogo Nelson Rodrigues 1947 O Ateneu Raul Pompéia 1888 O Caso de Ruth Júlia Lopes de Almeida 1897 O Cazeca Gastão de Deus Vítor Rodrigues 1910 O coronel Sangrado Inglês de Sousa 1877 O Crime da Rua Fresca Olavo Bilac , Aluísio Azevedo Coelho Neto Artur Azevedo Alcindo Guanabara 1896 O Culto do Dever Joaquim Manuel de Macedo 1865 O Encilhamento Alfredo d'Escragnolle Taunay 1893 O Ermitão de Muquém Bernardo Guimarães 1858 O Esqueleto Olavo Bilac Pardal Mallet 1890 O Forasteiro Joaquim Manuel de Macedo 1855 O Galo de Ouro Rachel de Queiroz 1950 O Guarani José de Alencar 1857 O Homem Proibido Nelson Rodrigues 1951 O Índio Affonso Bernardo Guimarães 1872 O Mistério Medeiros e Albuquerque 1920 O Mistério Coelho Neto 1920 O Mistério Afrânio Peixoto 1920 O Mistério Viriato Correia 1920 O Sacrifício Franklin Távora 1879 O Subterrâneo do Morro do Castelo Lima Barreto 1905 Os Dois Amores Joaquim Manuel de Macedo 1848 Os Índios do Jaguaribe Franklin Távora 1862 Os Jagunços Afonso Arinos 1898 Os Retirantes José do Patrocínio 1879 Os Sete Meninos José Louzeiro 1993 Os Varões Assinalados Tabajara Ruas 1985 Ouro sobre azul Alfredo d'Escragnolle Taunay 1875 Padre Belchior de Pontes Júlio Ribeiro 1874 Paula Matos Aluísio Azevedo Olavo Bilac Coelho Neto Pardal Mallet 1890 Pedro Espanhol José do Patrocínio 1884 Pobre amor, o amor de Dona Amanda Emílio Kemp Larbeck Filho 1908 Quincas Borba Machado de Assis 1886 Recordações do Escrivão Isaías Caminha Lima Barreto 1907 Reino não Conquistado Renato José da Costa Pacheco 1980 Rosa Joaquim Manuel de Macedo 1849 Sanatorium Olavo Bilac Carlos Magalhães de Azeredo 1893 Til José de Alencar 1872 Trindade Maldita Franklin Távora 1861 Triste Fim de Policarpo Quaresma Lima Barreto 1911 Tormento do coração Joaquim Silvério de Azevedo Pimentel 1890 Vicentina Joaquim Manuel de Macedo 1854 Zulmira Campos da Paz Sugerimos que você leia alguns desses romances e os compare, tomando como referências aqueles do Romantismo. Pode também comparar sua trama com as das telenovelas. Como eram os temas destas narrativas? Os escritores românticos trouxeram à tona os valores da sociedade burguesa, seja contra, seja a favor. Como já afirmado acima, valores como pátria, família e religião tiveram grande importância dentro dessa estética da primeira metade do século XIX. Ao se ocuparem da pátria, os escritores românticos , escreveram algumas narrativas que foram classificadas como literatura nacionalista. Através delas, eles ressaltavam as belezas da natureza, as diferenças e especificidades regionais, a valorização do passado histórico da pátria. No Brasil, a busca de uma origem histórica fixou-se na imagem do índio, tematizado em muitos poemas e romances. Em algumas narrativas, ele era idealizado, puro, bom; em outras, o índio era um elemento narrativo, um personagem, que queria marcar a diferença do Brasil e da Europa. Através de tais personagens, os autores queriam mostrar que tínhamos uma identidade própria, distinta da européia e, sobretudo, da portuguesa. Veja um trecho de Iracema, de José de Alencar: Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru te palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida. O sentimento que ele pos nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O guerreiro falou: - Quebras comigo a flecha da paz? - Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu ? - Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus. - Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema. Iracema, de José de Alencar. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-01155.html. Acessado em 25/04/2006. Mas a maior herança que o romantismo deixou foi a idealização do par romântico: uma moça graciosa, bonita, meiga, delicada, educada e um rapaz belo, corajoso, forte e puro de alma. Os dois tinham que manter uma relação singela e terna, quase sempre se realizando no casamento final. Se o casal não fazia nada “errado”, segundo a moral burguesa e cristã da época, casariam e seriam felizes para sempre. O romance A Moreninha, escrito por Joaquim Manuel de Macedo, é um bom exemplo desses elementos da prosa romântica. Então, vamos fazer uma síntese das principais idéias da literatura romântica: Liberdade de criação individual Fuga de modelos Individualismo Intimismo Subjetivismo Fantasia, sonho, imaginação Fuga da realidade Idealização da realidade Conflito “eu” e o mundo Temas como nacionalismo, regionalismo, natureza, indianismo, saudosismo, amor, religiosidade, morte, pessimismo, tédio Simplicidade da linguagem. Vamos conhecer alguns poemas românticos: AINDA UMA VEZ – ADEUS! – Gonçalves Dias I Enfim te vejo! – enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado, A não lembrar-me de ti! II Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz! III Louco, aflito, a saciar-me D’gravar minha ferida, Tomou-me tédio da vida, Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esp’rança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi! IV Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido, E este pranto dolorido Deixar correr a teus pés. V Mas que tens? Não me conheces? De mim afastas teu rosto? Pois tanto pode o desgosto Transformar o rosto meu? Sei a aflição quanto pode, Sei quanto ela desfigura, E eu não vivi na ventura... Olha-me bem, que sou eu! VI Nenhuma voz me diriges!... Julgas-te acaso ofendida? Deste-me amor, e a vida Que ma darias – bem sei; Mas lembrem-te aqueles feros Corações, que se meteram Entre nós; e se venceram, Mas sabes quanto lutei! VII Oh! se lutei!...mas devera Expor-te em pública praça, Como um alvo à populaça, Um alvo aos dictérios seus! Devera, podia acaso Tal sacrifício aceitar-te Para no cabo pagar-te, Meus dias unindo aos teus? VIII Devera, sim; mas pensava, Que de mim t’esquecerias, Que, sem mim, alegres dias T’esperavam; e em favor De minhas preces, contava Que o bom Deus me aceitaria O meu quinhão de alegria Pelo teu quinhão de dor! IX Que me enganei, ora o vejo; Nadam-te os olhos em pranto, Arfa=te o peito, e no entanto Nem me podes encarar; Erro foi, mas não foi crime, Não te esqueci, eu to juro: Sacrifiquei meu futuro, Vida e glória por te amar! X Tudo, tudo; e na miséria Dum martírio prolongado, Lento, cruel, disfarçado, Que eu nem a ti confiei; "Ela é feliz (me dizia) Negou-me a sorte mesquinha... Perdoa, que me enganei! XI Tantos encantos me tinham, Tanta ilusão me afagava De noite, quando acordava, De dia em sonhos talvez! Tudo isso agora onde pára? Onde a ilusão dos meus sonhos? Tantos projetos risonhos, Tudo esse engano desfez! XII Enganei-me!... – Horrendo caos Nessas palavras se encerra, Quando do engano, quem erra, Não pode voltar atrás! Amarga irrisão! reflete: Quando eu gozar-te pudera, Mártir quis ser, cuidei qu’era... E um louco fui, nada mais! XIII Louco, julguei adornar-me Com palmas d’alta virtude! Que tinha eu bronco e rude Co’o que se chama ideal? O meu eras tu, não outro; Estava em deixar minha vida Correr por ti conduzida, Pura, na ausência do mal XIV Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera... E eu! eu fui que a não quis! XV És doutro agora, e p’ra sempre! Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro, dói-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto, Que a expressão deste desgosto Será um crime ante Deus! XVI Dói-te de mim, qu t’imploro Perdão, a teus pés curvado; Perdão!... de não ter ousado Viver contente e feliz! Perdão da minha miséria, Da dor que me rala o peito, e se do mal que te hei feito, Também do mal que me fiz! XVII Adeus qu’eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, `por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus! XVIII Lerás porém algum dia Meus versos, d’alma arrancados, D’amargo pranto banhados, Com sangue escritos; — e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiede, Que chores, não de saudade, Nem de amor, — de compaixão. Novos Cantos, de Gonçalves Dias. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/004201209.html#AINDAUMAVEZADEUS. Acessado em 25/04/2006. Atividade: pense no Brasil do século XXI?. Se tivesse que escrever uma canção para o Brasil, o que você diria? Veja dois exemplos desse exercício poético: Canção do exílio Murilo Mendes Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade e ouvir um sabiá con certidão de idade! Do livro Poemas (1925-1931) Canção do exílio facilitada José Paulo Paes lá? ah! sabiá... papá... maná... sofá... sinhá... cá? bah! Mais dois poetas importantes e dois de seus poemas, para você conhecer: Se eu morresse amanhã Álvares de Azevedo Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã! Que sol! que céu azul! que doce n'alva Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito Se eu morresse amanhã! Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã! Poemas Irônicos, Venenosos e Sarcásticos, de Álvares de Azevedo. Texto eletrônico: http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0006-00863.html. Acessado em 25/04/2006. ! "# $ % & ' ( & # ) * # + , - & ' ' ) & ( . # / , !# 0 1 2 + ' 1 / . $ / - 3 ) 4 # 5 + , 6 4 ) !# 7 2 #+ # ) ) # 1 5 ( 6 6 + ' , . ) 8 #+ ' # !# 1 7& !# 7 2 9 :::::: ; / ( - 1 , ! )1 89 & # ) * # # <=>= + 4 !@@ @ @ @ 4 ? ! @AABC9AADED C>@AB@CAAF É fundamental também conhecer Castro Alves, poeta de que o crítico Candido disse ser, provávelmente, o maior poeta romântico brasileiro. ' $G//'+ G 5 ' 1 ' H/ '4 ' 6 9 & ) G ) . ' , I ' $ .9 ) 9 9 9 9 ; K ' $ LH G ' 5 MN M6 J ) 9 ) 9 1 .9 & J I I ! & & M ! !@@ @ @ @ 4 <P H/ ; ' H/ I ) I N )Q * 8 H/ ) @AAAF9A<<>A + 4 ? ! O C>@AB@CAAF . & 2 & 2 H/ )Q 6 0 ) 2 2 & 1 & N 1 5 R ; / ' ' ) 2 4 ) H 4 I I & I - 9 3 $ L & S + N 0 ) 5 ) ' ' ' & 4 I& L L - 2 . 2 9 I . + / T ) .9 CP ) & 2 , & U L / 0 4 N ' U T ) . 6 I+ U V )1 0 - , I ) + 1 WL & $ U T X . N N 5 -K Y , I I ' - S ? ; G K8 S 61 6 5 6N S & EP ) $ ( N. 1 8 H & $ $ BP ' ' + T 5 $ ) Q S ) 0 ) U 1 5 ) 1 J ' ' ' . 9 ! 1 ? . K / - 1 9 ' L N 1 ' ) G - 8 5 ' 1 & N +1 ! M6 K ' ' 9 ) 9 M ? . 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