O Círculo do Aventino na Roma do
século IV*
The Aventine Circle in 4th-century Rome
Maria Cristina da Silva Martins**
Resumo: Este artigo pretende divulgar o Círculo do Aventino, espécie de
escola de ascetismo cristão, de estudos bíblicos e de línguas, fundado
por Marcela (posteriormente Santa Marcela), na Roma do século IV
e frequentado por outras damas da aristocracia romana, também
santificadas. Nas reuniões desse círculo, São Jerônimo atuava como
professor e conselheiro espiritual. Uma breve contextualização histórica
do cristianismo do século IV, bem como a ideologia veiculada pelos Padres
da Igreja sobre as mulheres, também faz parte deste artigo.
Palavras-chave:
Círculo do Aventino.
Ascetismo Feminino.
Antiguidade Tardia.
São Jerônimo.
Cristianismo.
Abstract: This paper aims to spread The Aventine Circle, a kind of school
of Christian asceticism, biblical and language studies, founded by Marcela
(later Saint Marcella), in fourth century Rome, attended by other ladies
of the Roman aristocracy, also later sanctified. In the meetings of this
circle, St. Jerome acted as a teacher and spiritual advisor. A brief historical
contextualization of Christianity from the IV century, as well as the ideology
conveyed by the Church Fathers about women, is also part of this article.
Keywords:
The Aventine Circle.
Female asceticism.
Late Antiquity.
Saint Jerome.
Christianity.
Recebido em: 11/06/2021
Aprovado em: 22/11/2021
Agradeço à Michelle Raupp Selister e ao Lucas Neves Costa pela leitura atenta e revisão deste artigo. Sem dúvida, uma
grande alteração no Império Romano ocorreu entre os imperadores Marco Aurélio (121-180) e Diocleciano (c. 244311), conduzindo-o ao empobrecimento, à violência e à decadência, situação que culminou com a queda do Império
Romano do Ocidente, no século V. A partir daí tradicionalmente diz-se iniciar a Antiguidade Tardia, termo cunhado por
RIEGL (1901), no contexto das artes (MACHADO, 2015, p. 84).
**
Professora e pesquisadora de latim do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Possui graduação em Letras Licenciatura Português-Latim pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, mestrado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas e doutorado em Linguística pela
Universidade Estadual de Campinas (2002).
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Introdução
século IV foi um período de grandes transformações no Império Romano, tendo
O
sido considerado por muitos historiadores como o período de seu declínio e de
transição entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média. As modificações sofridas
no Império Romano durante esse período resultaram em grande parte da “crise do século
III”, provocada por dificuldades financeiras e contínuas guerras, principalmente contra
germanos e hunos, que ameaçavam suas fronteiras. Embora Constantino tenha unificado
o Império de 307 a 337, em 395, após a morte de Teodósio, ocorreu a sua divisão definitiva,
tornando-se Roma a capital do Ocidente, e Constantinopla a do Oriente. Nesse mesmo
século, o cristianismo passou de uma religião altamente perseguida, com Diocleciano,1
para a religião oficial do Império, com Teodósio I, em 380, a partir do Édito de Tessalônica.
Entretanto, entre esses dois extremos, houve a conversão de Constantino e a promulgação
do Édito de Milão, em 313, que instituiu a liberdade religiosa no Império, pondo fim à
perseguição aos cristãos.2
Resumidamente, a trajetória intelectual e religiosa de Jerônimo3 teve início quando
ele partiu de Estridão,4 na região dos Balcãs, para estudar em Roma, aos doze anos de
idade, no ano de 360. Nessa altura, Jerônimo teve uma educação clássica e foi pupilo
do famoso gramático Élio Donato. Conforme a prática corrente na época, foi batizado já
com certa idade, aos 21 anos, em Roma, pelo papa Libério. Pouco depois de seu batismo,
1
A chamada Grande Perseguição ocorreu entre 303 e 311, período no qual estiveram à frente do Império Romano
Diocleciano (284-305), Maximiano (285-305; 306-308), Galério (293-311), Severo (305-306) e Maximino Daia (305313). Uma das principais fontes para compreender esse período histórico é a obra De mortibus persecutorum
(c. 318), literalmente, “Sobre as mortes dos perseguidores” (traduzida para o português como “Sobre a morte dos
perseguidores”), de Lactâncio (250-325), escritor cristão. Essa obra é considerada um panfleto para mostrar como todos
os perseguidores, particularmente aqueles de seu próprio tempo, tiveram um fim maléfico (HAMMOND; SCULLARD,
1970, s. v. “Lactantius”, p. 576). Vale lembrar que os imperadores Nero (54-68), Domiciano (81-96), Décio (249-251),
Valeriano (253-260) e Aureliano (270-275) também perseguiram os cristãos.
2
A partir da concessão da liberdade de culto do cristianismo, com o Édito de Milão, tiveram início as peregrinações aos
Lugares Santos (MARAVAL, 2002; MARAVAL, 2004), no IV século. Nesse contexto, a narrativa de viagem conhecida como
“Itinerário de Egéria” ou “Peregrinação de Egéria” destaca-se por ter sido realizada por uma mulher desacompanhada,
entre 381 e 384. Cronologicamente, a Peregrinatio Egeriae é a terceira peregrinação documentada aos Lugares Santos
(MARTINS, 2017).
3
Juntamente com Agostinho, Ambrósio e Gregório Magno, São Jerônimo figura entre os quatro grandes doutores da
Igreja do Ocidente. O duplo título de Pai da Igreja e de Doutor da Igreja foi concedido pelo papa Bonifácio VIII, por um
decreto de 20 de setembro de 1295. São Jerônimo começou a ser venerado como santo quando se tornou objeto de
culto público, por volta do ano 800, e incluído também no catálogo dos mártires e confessores, por volta dessa data
(RICE, 1985, p. 33).
4
Ele próprio descreveu o seu local de nascimento desta forma na Ep. 7, 5: In mea enim patria rusticitatis uernacula deus
uenter est, et sanctior est ille, qui ditior est. “De fato, na minha pátria natal, de costumes rústicos, deus é o ventre, e é mais
santo aquele que é mais rico”. Há ainda outra referência à sua terra natal na biografia que escreveu sobre si mesmo em
De Viris Illustribus, 135: Hieronymus patre Eusebio natus oppido Stridonis, quod a Gothis euersum. “Jerônimo, nascido de
Eusébio, na cidade de Estridão, que foi varrida pelos godos”.
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quando já havia terminado seus estudos de retórica, partiu para Trier, com seu amigo
Bonósio, pois Valentiniano tinha acabado de se instalar nessa cidade com sua corte. Uma
vez que era um jovem bem formado, talvez buscasse um posto na administração do
Império, como desejava seu pai (MARAVAL, 1998). Isso não se concretizou, mas foi em
Trier que Jerônimo decidiu-se pela vida ascética. Foi, então, para Aquileia, juntar-se ao
padre Cromácio, que havia criado aí uma comunidade de clérigos e leigos em torno do
ascetismo.5 Nesse local, entrou em contato com o ascetismo oriental, aprofundou-se em
grego e passou a estudar hebraico. Depois desse período no deserto, dirigiu-se para
Antioquia, onde se ordenou sacerdote.
A experiência ascética, o conhecimento de línguas e a notoriedade em exegese
bíblica fizeram com que Jerônimo se destacasse quando voltou a Roma em 382.6 Nessa
ocasião, atuou como intérprete numa delegação da Igreja, liderada pelos bispos Paulino
de Antioquia e Epifânio de Salamina (CAIN, 2009, p. 44).7
O conjunto de competências de Jerônimo fez com que o papa Dâmaso o
contratasse como secretário. De fato, de 382 a 385, trabalhou nos escritórios do papa,
onde respondia às consultas sinodais do Oriente e do Ocidente (Ep. 123, 9).8 Logo que o
papa Dâmaso percebeu a perfeição de seu estilo em latim e o seu profundo domínio de
grego, de hebraico e das Escrituras, encarregou-o de uma reformulação da tradução da
Bíblia, o que culminou numa nova tradução a partir do hebraico para o latim.9 Além disso,
indicou-o a participar de reuniões com um grupo de mulheres de família senatorial, que
se encontravam para estudar as Escrituras, entre outras práticas cristãs. Jerônimo assumiu
5
A cronologia da vida de São Jerônimo, do seu nascimento à sua chegada em Roma em 382, permanece bastante
imprecisa, por falta de dados datáveis nos textos. A cronologia de Callavera (Saint Jérôme: sa vie et son œuvre, 1922,
apud MARAVAL, 1998, p. 15, n. 2) é a mais correntemente adotada e data a partida para o Oriente em 374. Maraval
(1998) pensa que essa data é tardia demais, e propõe 371 ou 372.
6
Entre 374 e 380, Jerônimo viajou por vários lugares do Oriente, como Antioquia, Aquileia e Constantinopla. Na verdade,
além de ter sido teólogo, filólogo, tradutor, exegeta, e de ter desenvolvido uma enorme obra literária, Jerônimo foi
um grande viajante. Desde que saiu de sua cidade natal para estudar em Roma, viveu em diversos lugares – Roma,
Trier, Aquileia, Antioquia, Constantinopla e Belém –, e também passou por muitos outros em viagem, sendo os mais
importantes os territórios da Cilícia, Capadócia, Egito, Grécia e a ilha de Chipre. Para um estudo aprofundado sobre as
viagens de São Jerônimo, sua vida e carreira, vide Bernard (1864).
7
Poucos autores abordam a questão de onde teriam se hospedado os bispos Epifânio e Paulino, e Jerônimo, quando
chegaram a Roma, em 382. Maraval (1998), Henne (2009) e Moreno (1992) afirmam que o bispo Epifânio foi acolhido
na casa de Paula, mas restam muitas dúvidas sobre o benfeitor ou a benfeitora que teria recebido Jerônimo. Apenas
Maraval (1998) sustenta que Jerônimo foi hospedado na casa de Marcela. Seja como for, é unânime a afirmação, na
bibliografia consultada, que o papa introduziu Jerônimo ao círculo de mulheres que se reunia na casa de Marcela, com
o objetivo de estudar a Bíblia.
8
Ep. 123,9: Ante annos plurimos, cum in chartis Ecclesiasticis iuuarem Damasum Romanae urbis Episcopum, et Orientis
atque Occidentis synodicis consultationibus responderem [...]. “Durante muitos anos, como respondesse às cartas
eclesiásticas em consultas de sínodos do Oriente e do Ocidente para ajudar Dâmaso, pontífice da cidade romana [...]”.
9
A tradução da Bíblia a partir do hebraico, realizada entre 390 e 405, denominada Vulgata, é a obra mais importante de
sua vida. Entretanto, concordamos com Arns (2007, p. 89), quando declara que são as cartas de São Jerônimo a parte
mais pessoal e mais reveladora de sua obra literária.
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a posição de instrutor, mestre, conselheiro espiritual e propagandista da vida ascética
para essas nobres damas, também no período de 382 a 385. Esse local de encontro de
mulheres aristocráticas ficou conhecido como “Círculo do Aventino”, pois tinha lugar na
casa de Marcela, situada no Monte Aventino. De um modo essencialmente descritivo, o
relacionamento entre Jerônimo e essas nobres damas romanas no Círculo do Aventino
será o objeto deste artigo. As possíveis inserções e contribuições do Círculo do Aventino
à historiografia, bem como a análise mais profunda do ponto de vista ideológico da obra
epistolográfica de São Jerônimo não serão abordadas. No entanto, algumas implicações
ideológicas do cristianismo em relação às mulheres, destacadas por Clark (1983; 1994;
1999), e igualmente das epístolas de São Jerônimo, ressaltadas por Cain (2006; 2009),
norteiam nosso trabalho. Finalmente, convém notificar que todas as traduções do latim
foram realizadas por nós, sendo, portanto, de nossa inteira responsabilidade.
O ascetismo no cristianismo
No final do século IV, o movimento ascético dentro do cristianismo havia
conquistado muitos adeptos. Rufino de Aquileia e Paládio informaram que, por volta do
ano de 370, três mil monges viviam no mosteiro de Nítria, no Egito, e que, em 390, esse
número teria sido em torno de cinco mil (CLARK, 1999, p. 34).
No Ocidente, São Jerônimo foi um encorajador do ascetismo, tendo ele próprio
vivido como monge asceta no deserto da Síria, entre 375 e 377. As primeiras de suas
dezesseis epístolas (Ep. 2-17) têm sido consideradas como fontes documentais dos
primeiros estágios de sua carreira monástica e literária (CAIN, 2006; MARAVAL, 1998;
KELLY, 1975).10 Porém, a descrição do período em que viveu no deserto está fora desse
conjunto de cartas, encontrando-se relatada, na carta 22, dedicada à Eustóquia. A intenção
da carta é de aconselhar Eustóquia, filha de Paula, a preservar a virgindade, considerada
a primeira etapa do ascetismo cristão. Para muitos Padres da Igreja, a abstinência sexual
era o começo de uma vida de asceta, que também incluía períodos de jejum, redução do
sono, desapego de bens materiais, além do fortalecimento de virtudes morais, como a
superação da raiva e do orgulho.
A Epístola 22 é, de fato, um enorme livreto (libellus), podendo ser considerado um
panfleto de propaganda dos benefícios da vida ascética para as mulheres. Destacamos
10
Sobre a vida no deserto destaca-se a Epístola 14 de estilo retórico, na qual Jerônimo, com muito entusiasmo, convida
Heliodoro a juntar-se a ele para adotar o ascetismo. Esse contentamento não dura muito, porque na carta 17, escrita no
fim desse período em que viveu no deserto da Síria, Jerônimo confessa haver muitos problemas entre ele e os monges
locais, devido ao cisma entre a Igreja Ocidental e a Oriental, vigente na época: “uma coisa agradaria (a eles): que eu vá
embora daqui. Logo, logo, cedo” (Ep. 17, 3: Unum tantum placet hinc recedam. Iam iam cedo).
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abaixo um pequeno trecho dessa carta, em que Jerônimo, embrenhado no deserto de
Cálcis, relata:
O quotiens in heremo constitutus et in uasta solitudine, quae exusta solis ardoribus
horridum monachis praestat habitaculum, putaui me Romanis interesse deliciis!
Sedebam solus, quia amaritudine repletus eram. Horrebam sacco membra deformis,
squalida citus situm Aethiopicae carnis adduxerat. Cotidie lacrimae, cotidie gemitus
et, si quando repugnantem somnus inminens oppressisset, nuda humo uix ossa
haerentia conlidebam. De cibo uero et potu taceo, cum etiam languentes aqua
frigida utantur et coctum aliquid accepisse luxuriae sit. Ille igitur ego, qui ob
gehennae metum tali me carcere ipse damnaueram, scorpionum tantum socius et
ferarum, saepe choris intereram puellarum. Pallebant ora ieiuniis et mens desideriis
aestuabat in frigido corpore, et ante hominem suum iam carne praemortua sola
libidinum incendia bulliebant.
Ó, quantas vezes eu, instalado no deserto e naquela vasta solidão, abrasada pelo
sol ardente, horrível morada oferecida aos monges, imaginei-me estando presente
aos prazeres romanos! Sentava sozinho, pois havia sido consumido pelo amargor.
Eu, deformado, erguia meus membros como um saco; minha pele esquálida havia
sido aproximada à de um etíope. Passava os dias em lágrimas e em gemidos,
e, quando o sono iminente tivesse me vencido, mesmo eu sendo resistente,
deixava cair dolorosamente meus ossos imóveis no chão nu. Sobre a comida e
a bebida, calo-me, como também sobre os enfermos que faziam uso de água
fria e sobre qualquer comida quente que seria um luxo. Portanto, aquele eu, por
medo da Geena, tinha ele próprio me condenado a tal cárcere, e companheiro de
tantos escorpiões e feras, muitas vezes sentia-me presente às danças das jovens
moças. As bocas empalideciam pelo jejum e, no corpo frio, a mente aquecia pelos
desejos. Diante desse homem, com o corpo já prematuramente morto, só ferviam
os incêndios dos desejos (Ep., 22, 7, tradução nossa).
Inicialmente, o modo de vida ascético era essencialmente masculino, mas temos
testemunho de comunidades ascéticas femininas instaladas no Egito, no início do século
IV (CLARK, 1983, p. 133). Essas comunidades femininas cresceram seguindo o modelo do
monge egípcio Pacômio,11 que criou a prática do monaquismo comunitário, afastandose do ascetismo solitário do deserto. O ascetismo, teoricamente, é um meio pelo qual
se atinge a humildade e, com isso, o reino de Deus. Vários autores entre a bibliografia
consultada afirmam que a prática do ascetismo no século IV substituiu a morte pelo
martírio, como forma de manifestar o compromisso cristão.
Sob forte influência dessa vida monástica do Oriente, houve a formação de dois
grupos comunitários femininos em torno do ascetismo, na Roma do século IV, liderados
por Paula e Marcela. Inicialmente, tanto Paula quanto Marcela desejavam compreender
a fundo as Escrituras, o que significava aprender grego, hebraico e exegese bíblica.
Buscavam renunciar ao luxo e viver uma vida de oração e caridade, depois de terem se
tornado viúvas. Um segundo casamento era totalmente desaconselhado pelos Padres
11
Sabemos sobre Pacômio por intermédio de Paládio, escritor do século V, em seu livro História Lausíaca (BUTLER, 2014).
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da Igreja,12 como Tertuliano, João Crisóstomo e, inclusive, Jerônimo. Este, na Ep., 123, 8
(ad Geruchiam), dirigindo-se a uma nobre viúva gaulesa, emite-lhe a opinião de que um
segundo casamento não lhe faria deixar de ser cristã, mas que a deixaria impura. Para
sustentar essa argumentação, faz um paralelo com a Arca de Noé, que abrigava animais
puros e impuros.
O juízo de valor em relação ao gênero feminino, tanto das Escrituras quanto da
sociedade antiga, era de menosprezo, desconsideração e desprestígio. As mulheres eram
vistas como inferiores, tanto física quanto intelectualmente. Por um lado, representavam
Eva e todo o pecado perpetuado por essa herança; por outro, eram virtuosas quando
obedientes aos pais e aos maridos. De acordo com Marcos Sanchez (1986, p. 243), a
caracterização da mulher, seja por suas qualidades valorosas – dedicação ao lar, respeito
ao marido e às leis de Deus –, seja por sua desqualificação como a expressão do mal,
repousa igualmente numa atitude misógina, eliminando-a de qualquer possibilidade de
equiparação ao homem. Dessa forma, o modo de vida ascético possibilitava às mulheres
uma real mudança de estatuto social,13 pois as conduzia ao caminho da perfeição (Virgem
Maria) e, novamente, à conquista da pureza do paraíso perdido, além de lhes permitir sair
do jugo do marido e do casamento.
Entretanto, adotar o ascetismo não estava ao alcance de muitas mulheres. Sabemos
que, no mundo antigo, o acesso à educação se dava a uma parcela muito pequena da
população, normalmente da classe alta e do gênero masculino. Por essa razão, tanto no
Círculo do Aventino, como em outras participações femininas da Antiguidade, podemos
considerar como afortunadas e, em certa medida, “transgressoras” as mulheres que
conseguiram deixar algum legado para a posteridade.14 Mesmo que o estereótipo da
mulher fosse o de um ser com fraqueza física e intelectual, inconstância emocional e
capaz de maldades intencionais para com o homem, encontram-se, na literatura patrística,
referências à doçura de sua alma, à sua bondade, inteligência e sensibilidade. Para
Constantino, o Grande, e Santo Agostinho, Santa Helena e Santa Mônica, respectivamente
12
Clark (1994) mostra que os Padres da Igreja sustentavam a naturalização da fraqueza e da incapacidade da mulher
para legitimar a sua submissão ao pai e ao marido. Narrativas bíblicas, citações da literatura clássica e dos mitos de
Roma eram trazidas com esse propósito. Segundo a autora, os Padres da Igreja ajudaram a promover essa relação
de poder assimétrica entre homens e mulheres, que acabou prevalecendo através dos séculos. No Novo Testamento,
especialmente nas Epístolas de Paulo de Tarso, lê-se sobre a superioridade do macho, e sobre a natural submissão da
mulher ao homem, o que não acontece no Gênesis.
13
Novamente Clark (1994) trata em profundidade da questão da ideologia de gênero na Antiguidade, analisando as
marcas ideológicas dos Padres da Igreja, sob a luz dos conceitos políticos de Althusser, Marx, Gramsci, entre outros. A
ideologia de gênero pode ser vista, sem dúvida, como uma estratégia de contenção do feminino e de negação de sua
participação na sociedade. A fraqueza física e mental das mulheres era tomada como um padrão universal e natural das
mulheres, que servia de base para a sua segregação e contenção.
14
Veja-se Melânia, a Velha (340-410), Melânia, a Jovem (383-439), Pelágia (430-457), Tecla (séc. I d.C.), Olímpia (361-408)
e Egéria (séc. IV), restringindo-nos à Antiguidade Tardia.
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suas mães, eram exemplos de mulheres cristãs virtuosas e santas, submissas aos maridos
(CLARK, 1983, p. 93; 184; 246). João Crisóstomo, igualmente, deixou um importante relato
sobre sua mãe, enaltecendo sua devoção a Deus e subordinação ao marido (CLARK, 1983,
p. 202). Nessa perspectiva, São Jerônimo foi indubitavelmente o mais importante dos
Padres da Igreja. Além das inúmeras cartas que dedicou às amigas, alunas e benfeitoras,
ofereceu-lhes os Prefácios dos Evangelhos e alguns comentários bíblicos.15
Conforme Cain (2009, p. 111), os principais instigadores da expulsão de Jerônimo
de Roma foram os membros da família de Paula, por terem sido os mais prejudicados pela
liberalidade com que ela dispunha de seu patrimônio. Seja como for, Paula foi “a ovelha
modelo” de Jerônimo, segundo Duchesne (apud MARAVAL, 1998, p.47),16 acompanhando-o
a Belém, onde compartilhou sua vida e herança por mais de trinta anos, construindo com
seu dinheiro dois mosteiros, um para mulheres e outro para homens. Das acusações que
lhe foram imputadas diante do um tribunal eclesiástico romano, cujo caráter oficial ainda
é incerto (HENNE, 2009, p. 98), Jerônimo soube se defender. Na Carta 45, dedicada à
Asela – uma de suas alunas do Círculo do Aventino, escrita pouco antes de sua partida de
Roma, provavelmente em julho de 385, Jerônimo relata:
Paene certe triennio cum eis uixi; multa me uirginum crebro turba circumdedit;
diuinos libros, ut potui, nonnullis saepe disserui; lectio adsiduitatem, adsiduitas
familiaritatem, familiaritas fiduciam fecerat. Dicant quid umquam in me aliter
senserint quam Christianum decebat? Pecuniam cuius accepi? Munera uel parua
uel magna non spreui? In manu mea aes alicuius insonuit? Obliquus sermo
oculus petulans fuit? Nihil mihi aliud obicitur nisi sexus meus, et hoc numquam
obicitur, nisi cum Hierosolyma Paula proficiscitur. Esto:crediderunt metienti; cur
non credunt neganti? Idem est homo ipse qui fuerat: fatetur insontem qui dudum
noxium loquebatur; et certe ueritatem magis exprimunt tormenta quam risus, nisi
quod facilius creditur quod aut fictum libenter auditur, aut non fictum ut fingatur
inpellitur (Ep., 45, 2).
Certamente quase três anos vivi com aquelas <mulheres do Aventino>.17 Uma
multidão de virgens repetidas vezes me circundou; falei frequentemente para
algumas <delas>sobre os livros divinos como pude<da melhor maneira>. O
ensino havia criado a assiduidade, a assiduidade a familiaridade, a familiaridade
a confiança. Elas que digam se perceberam em mim alguma coisa de modo
muito diferente do que convinha a um cristão. De quem recebi dinheiro? Não
desdenhei os presentes pequenos e grandes? A moeda de outrem tiniu em
minha mão? Minha linguagem foi oblíqua, meu olhar imprudente? Nada me é
censurado a não ser o meu sexo, e isto nunca se censura, a não ser <agora>,
quando Paula está de partida para Jerusalém. Ora vamos, acreditaram no que
mente, por que não acreditam no que nega? O homem é aquele mesmo que
fora: proclama-se inocente aquele que no passado se dizia culpado. Certamente,
as torturas exprimem melhor a verdade do que os risos. A não ser que se creiaou
À Paula, Jerônimo dedicou “Efésios”, “Filêmon”, “Tito”, “Gálatas”, “Miqueias”, “Naum”, “Sofonias” e “Ageu”, além da
tradução do “Comentário sobre Lucas”, de Orígenes. À Marcela (e Pamáquio), dedicou o “Comentário sobre Daniel”.
16
Louis Duchesne (1843-1922), prelado e historiador francês.
17
Colocamos entre os sinais <...> palavras que foram acrescentadas na tradução, a fim de torná-la mais clara.
15
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mais facilmente na mentira que se ouve com prazer ou na não mentira que é
provocada para que seja maquinada (Ep., 45, 2, tradução nossa).
As mulheres cristãs da aristocracia, sem dúvida, foram o principal aporte financeiro
para bispos e monges como Jerônimo (SALISBURY, 2001, p. 223). Além do auxílio para a
subsistência desses pensadores do catolicismo, as viúvas ricas auxiliavam na construção de
igrejas e de mosteiros, faziam doações e davam esmolas para a caridade. Nesse particular,
podemos citar Olímpia, que, ao adotar o ascetismo depois de viúva, doou todos os seus
bens a João Crisóstomo e à Igreja de Constantinopla, inclusive fundando um mosteiro
na cidade (FURLANI, 2012). Melânia patrocinou Rufino em Jerusalém e lá construiu um
mosteiro. Paula agiu de modo semelhante ao financiar Jerônimo e ao fundar com ele dois
mosteiros em Belém. Não obstante, Jerônimo pede a seu irmão, Pauliniano, numa carta
escrita em 397, que ele venda alguns terrenos em sua cidade natal para cobrir despesas
em Belém (Ep., 66, 14).18 Sabe-se que a construção dos mosteiros durou três anos e que
consumiu os recursos de Paula (HENNE, 2009, p. 113).
Ao empregarem suas riquezas em prol da Igreja e de alguns Padres, ao adotarem
o ascetismo, essas nobres damas não estavam acumulando somente prejuízos. Na
condição de ascetas, tornavam-se noivas de Deus e trilhavam um caminho espiritual que
as levaria à perfeição. Sobretudo, o ascetismo proporcionar-lhes-ia liberdade em relação
à habitual submissão à figura masculina, seja do pai ou do marido, como nos referimos
anteriormente. Na Epístola 130, 8, de 414, escrita à virgem Demétria – da ilustre gens
senatorial Anicia, que fugiu para Cartago com sua mãe, depois da invasão dos visigodos
a Roma (CAIN, 2009, p.16) –, Jerônimo reforça os benefícios do ascetismo. Segundo ele,
a virgindade voluntária ofereceria às mulheres uma liberdade sem precedentes e as
libertaria da maldição do Gênesis,19 já que não sofreriam as dores do parto e nem seriam
dominadas por um homem. Jerônimo vai ainda além, pois, segundo ele, pela via ascética,
as mulheres se igualariam aos homens (Ep., 71, 3). Exemplo disso é a comparação de Paula
com Abraão na Epístola 108, 31.
Quando se lê qualquer um dos escritos de São Jerônimo, exceto a tradução da
Bíblia, percebe-se uma enorme intertextualidade, da qual ele faz uso para dar mais peso
às ideias que deseja difundir. Esse é um recurso de seu estilo retórico. Para além das
obras da literatura clássica greco-latina, bastante empregadas para esse fim, a Bíblia
é, sem dúvida, o seu maior interlocutor. Pode-se facilmente extrair de seus escritos as
18
Para um aprofundamento sobre a importância dessas mulheres e de outras aristocratas para a Igreja, vide Clark
(1983).
19
Gn 3, 16: À mulher ele disse: “Multiplicarei as dores de tuas gravidezes, na dor darás à luz filhos. Teu desejo te impelirá
ao teu marido e ele te dominará”.
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bases do ascetismo propagado em Roma, muito bem recebido pelo Círculo do Aventino,
frequentado por virgens e viúvas aristocratas. Para Clark (1994, p. 177), a exegese que
faz Jerônimo de 1 Coríntios 7, em Aduersus Iouinianum, bem como de 1 Timóteo 5,
na Epístola 123 (ad Geruchiam), lançam aspectos essenciais do ascetismo romano. Na
passagem da referida carta aos Coríntios, São Paulo diz que “é melhor para um homem
não tocar uma mulher”. Essa passagem liga-se aos Provérbios 6, 7 e 9, que advertem os
jovens dos perigos a que estão sujeitos os homens quando são tocados pelas mulheres,
pois perdem a razão. Partindo dessa afirmação, Jerônimo diz que, se o ato de tocar nas
mulheres não é bom para os homens, então necessariamente é mau. Quanto à passagem
de Timóteo, Jerônimo a utiliza para se referir à inconveniência para as viúvas de um
segundo casamento que seria representado como “as ervas daninhas entre os espinhos”.
Seja como for, as mulheres que adotaram o ascetismo, fizeram-no de corpo e alma e
contribuíram para que São Jerônimo pudesse nos deixar a sua maior herança: a tradução
da Bíblia, a Vulgata. Além disso, se não fossem pelas inúmeras cartas dedicadas a essas
damas aristocráticas, não saberíamos nada sobre elas e, mais ainda, muitas não teriam
sido santificadas, como de fato aconteceu, graças aos escritos de São Jerônimo. Jerônimo,
no parágrafo 5 da Epístola 127 (ad Principiam), para sustentar a atitude elogiosa em
relação às várias virtudes que teve Marcela em vida, lembra das qualidades das santas
mulheres ao pé da cruz do Senhor. Declara que ele, assim como Cristo, julgava a virtude
das mulheres não pelo sexo, mas pela alma. Já na Epístola 65, 1,20 também dedicada à
Princípia, defendendo-se dos que o criticavam de escrever para mulheres, disse que, se
os homens quisessem saber sobre as Sagradas Escrituras, ele não falaria com as mulheres.
Em seguida, justifica a importância das mulheres no Antigo e no Novo Testamento,
citando o papel que tiveram Débora, Olda, Maria Madalena, Rebeca, Ruth, entre outras.
De fato, muitas de suas cartas endereçadas às damas do Aventino são para ensiná-las ou
esclarecê-las sobre as Escrituras.
Turcan (1968) vê em São Jerônimo alguém que escolheu como apóstolos as
mulheres, com o intuito de que seguissem o caminho do ascetismo.
20
Ep. 65,1: Scio me, Principia, in Christo filia, a plerisque reprehendi quod interdum scribam ad mulieres, et fragioliorem
sexum maribus praeferam. Et idcirco debeo primum obtrectatoribus meis respondere, et sic uenire ad disputatiunculam
quam rogasti. Si uiri de scripturis quaererent, mulieribus non loquerer. “Eu sei, Princípia, filha em Cristo, que sou
repreendido por muitos porque, algumas vezes, escreveria às mulheres, e que preferiria o sexo frágil aos homens. Por
isso, devo primeiro responder aos meus detratores, e na sequência vir a esta questãozinha que perguntaste. Se os
homens quisessem saber sobre as Escrituras, não falaria com as mulheres (tradução nossa)”.
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O Círculo do Aventino
Antes da chegada de Jerônimo a Roma, Marcela já se reunia em sua mansão, espécie
de mosteiro, com sua mãe, Albina, e outras nobres damas da sociedade romana para estudar
a Bíblia e praticar a caridade (MORENO, 1992, p. 57). Considerando-se o que diz Jerônimo
(Ep., 127, 5), Marcela foi uma das primeiras mulheres ascetas em Roma. No parágrafo quinto
dessa epístola, que é o seu elogio fúnebre, ele afirma que a decisão de Marcela de seguir
o ideal asceta foi por ocasião da presença de sacerdotes de Alexandria em Roma, fato
ocorrido em 340. Porém, a adoção da vida ascética e casta de Marcela e a criação do Círculo
do Aventino teriam ocorrido por volta do ano de 370 (CAIN, 2009, p. 37).
Marcela (325-410), segundo nos revela Jerônimo (Ep., 127, 1), era de família
senatorial, descendente de cônsules e prefeitos do pretório. Logo após ter se tornado
viúva, aos sete meses de casamento (Ep., 127, 2), fundou uma espécie de convento em
sua casa, junto com sua mãe Albina. Dedicava-se a obras de caridade e ao estudo da
Bíblia, com grande interesse em lê-la no original hebraico e no grego da Septuaginta.
Nessa mesma epístola (Ep., 127, 5), Jerônimo elogia Marcela por ter sido professora de
tão distintas alunas, como Paula e Eustóquia, e, no capítulo 10, credita a ela uma gloriosa
vitória contra alguns hereges (Ep., 127, 10). A competência de Marcela era tal que, depois
da expulsão de Jerônimo de Roma, ela se tornou professora do Círculo (Ep., 65), fato a que
já aludimos anteriormente. Temos testemunho de conselhos dados por Jerônimo sobre o
que ela deveria ensinar às noviças (Ep., 37, 4), assim como de que dominava muito bem
as Escrituras (Ep., 41, 4).
No último capítulo (135) da obra De uiris illustribus, Jerônimo declara que escreveu
dezenove cartas à Marcela, sendo que dezesseis estão reunidas num livro cujo nome
é Ad Marcellam Epistularum Liber. Dentre as dezenove, três não estão em seu nome
ou não foram exclusivamente destinadas a ela (Ep., 46; Ep., 59; Ep., 97). Infelizmente, as
cartas enviadas por Marcela (assim como também as que foram enviadas pelas outras
participantes do Círculo) não chegaram até nós. Conhecemos o tema dessas dezesseis
cartas pelas respostas de Jerônimo a perguntas pontuais de Marcela sobre a interpretação
da Bíblia. Por exemplo, na Ep., 25, Jerônimo explica o significado dos dez nomes pelos
quais os hebreus designam Deus; na Ep., 26, expõe o significado dos nomes hebraicos
Amen e Maran Atha; na Ep., 28, diapsalma, e, na Ep., 29, ephod e teraphim.
Por fim, tal era a amizade entre os dois que, na Ep., 44, Jerônimo agradece os
presentes que ela lhe tinha oferecido e aproveita para fazer uma leitura simbólica dos
objetos, dizendo que o saco era um símbolo de oração e de jejum, que os assentos
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significavam que as virgens não deviam se dirigir ao exterior, que as velas significavam à
espera da chegada do esposo e os cálices a mortificação da carne.
Quanto ao fato de Marcela nunca ter ido a Belém, mesmo tendo sido convidada
pelo sacerdote (Ep., 46), Maraval (1998) supõe que uma briga entre os dois teria sido
a causa. Para sustentar essa afirmação, o autor aponta a falta de cartas endereçadas a
Marcela entre 385 e 394. Entretanto, Cain (2009, p. 69) refuta essa ideia, pois o próprio
Jerônimo cita, na Epístola 127, 8, que ele teria estabelecido uma volumosa correspondência
com Marcela, após ter deixado Roma. Ademais, o autor lança a hipótese de que Marcela
não fora, porque não achava interessante estabelecer residência na Terra Santa. Segundo
o autor, mulheres como Paula e Melânia foram exceções (CAIN, 2009, p. 95-96). Outra
possibilidade seria de que Marcela não teria aceitado o convite em função da má fama de
Jerônimo, depois de ter sido expulso de Roma (CAIN, 2009, p. 97).
Paula (347-404), de família aristocrática, descendente dos Gracos e dos Cipiões,
por parte de sua mãe, e de Agamenon, por parte de pai (Ep., 108, 3), ficou viúva aos
trinta e dois anos, com quatro filhas e um filho.21 A partir daí, como asceta, renunciou
ao luxo e transformou sua casa num verdadeiro mosteiro, onde todos levavam uma vida
de oração e de estudo da Bíblia e praticavam caridade (HENNE, 2009, p. 93). Tal como
Marcela, solicitava a Jerônimo muitos esclarecimentos a respeito da Bíblia, principalmente
sobre o sentido místico dos textos sagrados. Perguntou-lhe, por exemplo, sobre o sentido
simbólico das letras hebraicas presentes no Salmo 118 e, nesse particular, a interpretação
de Henne (2009, p.93) é a de que se diferenciava de Marcela, porque esta perguntava
mais sobre os aspectos históricos dos textos bíblicos. A resposta de Jerônimo à pergunta
de Paula foi dada na Ep., 30,13, com muitos detalhes, na qual Jerônimo também elogia o
seu interesse pelos estudos filológicos. Segundo Turcan (1968, p. 269), Marcela e Paula,
pela capacidade intelectual de ambas e pela interação com Jerônimo, certamente devem
ter participado no trabalho de tradução da Bíblia.
Quase tudo o que sabemos sobre Paula provém das cartas de Jerônimo, que foram
endereçadas a ela ou que falaram sobre ela, principalmente o seu elogio fúnebre (Ep., 108).
Esse longuíssimo epitáfio, composto de 34 capítulos, tem sido estudado sob diferentes
aspectos, assim como a peregrinação que nele está contida. Lamprecht (2017, p. 1) resume
que a obra tem sido examinada sob os seguintes aspectos: como hagiografia, homenagem
biográfica elogiosa, elogio fúnebre, diário de viagem, livro de memórias, relato metafórico
da vida de Paula, peregrinação, e como peça de propaganda ascética, que serviria como
uma base textual para o culto de Paula como santa, mártir e asceta em Belém.
21
Toxócio foi o último filho, porque finalmente ela deu à luz a um menino, desejado pelo seu marido (Ep., 108, 4).
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O capítulo 15 do Epitáfio à Santa Paula é particularmente importante, pois resume
as qualidades morais e cristãs de Paula, que a caracterizam como um perfeito modelo de
asceta. Nesse capítulo, Jerônimo aproveita para mencionar a retidão de conduta de Paula,
depois de ter se tornado viúva. Vale-se igualmente da oportunidade de mostrar que ele
se preocupava com o fato de que o patrimônio familiar de Paula estava se desfazendo:
“eu desejava ser mais cauteloso sobre a situação do patrimônio familiar, mas ela, com sua
fé mais ardente, se apegava com toda sua alma ao Salvador”. Assim como Cain (2009, p.
132), interpretamos que Jerônimo estivesse tentando desfazer possíveis suspeitas sobre
sua relação com Paula, tanto no plano amoroso quanto material.
Paula parecia ser a contraparte feminina de Jerônimo, não somente pelo ascetismo,
mas também pelo amor ao estudo do Evangelho e de línguas. Os trechos abaixo evidenciam
essas afirmações:
Seguem abaixo alguns desses aspectos retirados da Epístola 108, 15; 26:
Quae prima Christianorum uirtus est, tanta se humilitate deiecit, ut qui eam
uidisset, et pro celebritate nominis uidere gestisset, ipsam esse non crederet, sed
ancillarum ultimam. Et cum frequentibus choris uirginum cingeretur, et ueste et
uoce et habitu et incessu minima omnium erat. Nunquam post uiri mortem usque
ad diem dormitionis suae cum ullo comedit uiro, quamuis eum sanctum et in
pontificali sciret culmine positum. Balneas, nisi periclitans, non adiit. Mollia, etiam
in grauissima febri, lectuli strata non habuit, sed super durissimam humum stratis
ciliciolis quiescebat, si tamen illa quies dicenda est, quae iugibus paene orationibus
dies noctesque iungebat, illud inplens de Psalterio: “Lauabo per singulas noctes
lectum meum, in lacrimis meis stratum meum rigabo”.
Se entre tais e tantas virtudes, ela própria entregou-se à humildade, primeira virtude
dos cristãos, é para alguém que a tivesse visto, ou que desejasse ardentemente
vê-la pela celebridade do nome, não acreditasse ser ela mesma, mas a última
das escravas. E quando se cercava frequentemente de grupos de virgens, dentre
todas era a menor delas, não só pela veste, mas pela voz, pelo hábito e pela
maneira de andar. Nunca depois da morte do marido até o dia de seu sono
eterno, não comeu com nenhum outro homem, ainda que soubesse que fosse
santo e provido de um grau elevado no episcopado. Não ia aos banhos a não ser
quando estava doente. Igualmente, mesmo quando tinha febres fortíssimas não
possuía cama macia, mas deitava-se sobre o chão duríssimo com camadas de
pelinhos de cabra,22 se, porém, pode-se chamar de repouso os dias e noites que
ela unia quase continuamente em orações, cumprindo o Saltério: “lavarei todas as
noites o meu leito, e regarei minha cama com as minhas lágrimas”.
Loquar et aliud, quod forsitan aemulis uideatur incredulum: Hebraeam linguam,
quam ego ab adulescentia multo labore ac sudore ex parte didici, et infatigabili
meditatione non desero ne ipse ab ea deserar, discere uoluit, et consecuta est ita ut
Psalmos hebraeice caneret, et sermonem absque ulla latinae linguae proprietate
resonaret.
22
Jerônimo chama a atenção para as vestes das mulheres monásticas, que eram feitas de cilício. O pano de cilício era
um tecido grosseiro e resistente, feito a partir de pelos de cabra ou de camelo. No início, era utilizado para armazenar
cereais, objetos e alimentos.
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Direi o que para alguém que é invejoso talvez pareça inacreditável: a língua
hebraica, a qual eu estudei, em parte, desde a adolescência com muito trabalho
e suor, e com infatigável contemplação, não a deixo nem sou deixado por ela,
<Paula> desejou aprender, e seguiu de tal forma que cantava os Salmos em
Hebraico, e ressoava os sermões sem qualquer sotaque de língua latina”.
Essa carta, segundo Cain (2010, p. 105), apesar de ter como motivo explícito um
consolo à Eustóquia pela morte de sua mãe, na verdade teria sido redigida com o intuito
de estabelecer o culto de Paula, já que nela o sacerdote descreve o local de seu enterro
e a data de falecimento. No início da Igreja, alguém se tornava santo quando passava a
ter um dia estabelecido no calendário litúrgico para que pudesse ser comemorado (CAIN,
2009, p. 134).
Quanto às outras participantes do Círculo, limitar-nos-emos a informações mais
sucintas, principalmente pela falta de referências, à exceção das próprias cartas de
Jerônimo a elas endereçadas. Neste artigo, de fato, pretendemos ressaltar a importância
fundamental de Paula, enquanto mecenas de Jerônimo, e de Marcela, enquanto fundadora
do Círculo do Aventino.
Asela (334-385) era irmã de Marcela. Assim como Marcela, jamais foi a Belém para
juntar-se a Jerônimo, Paula e Eustóquia. Viveu o ascetismo em uma cela na mansão do
Aventino. Graças a um sonho que seu pai tivera durante a sua gestação, foi consagrada
desde o nascimento para permanecer virgem e servir a Deus (SALISBURY, 2001, p. 22).
Adepta dos jejuns, só comia pão, sal e água (GONZALEZ SALINERO, 2011, p. 549).
Blesila (364-384) era filha de Paula e Toxócio. Casou-se com 18 anos e, assim como
Marcella, ficou viúva com sete meses de casamento. Gostava das festas, teatros e dos
luxos da vida aristocrática. Em 384 ficou doente, com febres. Após se recuperar, passou
a seguir os costumes ascéticos de sua mãe, usando roupas simples e fazendo jejuns.
Começou a estudar línguas e as Escrituras, tendo aprendido em tempo recorde grego e
hebraico (TURCAN, 1968, p.268). Atribui-se sua morte aos jejuns excessivos incentivados
por Jerônimo, já que morreu antes de completar quatro meses de adesão ao novo estilo
de vida. A Epístola 39, dedicada à Paula, é o elogio fúnebre de Blesila. Nela, Jerônimo
também comenta o fato de o odiarem na cidade e de lhe atribuírem a culpa pela morte
de Blesila: “Essa detestável laia de monges, o que estão esperando para expulsá-los da
cidade, enterrá-los debaixo de pedras, jogá-los ao mar?” (apud MARAVAL, 1998, p. 53).
Fabíola era uma viúva da gens Fábia. Casou-se duas vezes, tendo se divorciado do
primeiro marido e se casado novamente antes de este falecer. Construiu o primeiro hospital
civil público em Roma (CAIN, 2009, p. 172; 173; 178). Chegou a ir a Jerusalém na escola de
Jerônimo (Ep., 77), mas não permaneceu lá por muito tempo (TURCAN, 1968, p. 266).
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As poucas informações que se tem sobre Léa estão contidas na pequena Epístola
23, composta de três capítulos. Em 23, 1, Jerônimo diz que um pouco depois da hora
do terço, foi informado do falecimento de Léa, notícia que o empalideceu. No capítulo
2, descreve suas virtudes de mulher asceta, que depois de viúva renunciou ao luxo e
aos bens materiais. Relata que dirigia um mosteiro,23 vivia isolada num quarto pequeno,
jejuava e passava horas em oração. Tornou-se exemplo de humildade, oração, serviço e
testemunho de amor a Cristo. Morreu em Roma, no ano 384.
Eustóquia (c. 368-419), assim como Asela, havia sido dedicada à virgindade perpétua
desde seu nascimento (SALISBURY, 2001, p. 118). Participava das reuniões do Círculo e
acompanhou sua mãe a Belém, para se unirem a Jerônimo. Após a morte de Paula, em 404,
continuou em Belém, comandando os mosteiros fundados por eles. A ela é endereçada
a famosa Epístola 22, escrita em 384, na verdade um pequeno tratado composto de 41
capítulos, para incentivá-la a guardar a virgindade, primeira etapa do ascetismo. Jerônimo
dá conselhos práticos à Eustóquia, longamente desenvolvidos, apoiando-os em muitas
citações bíblicas, dentro do seu estilo belo e habitual. A fim de preservar a virgindade,
encoraja a jovem a ter vigilância com os instintos, além de sobriedade, mortificação,
recolhimento, leitura, prece, alimentação moderada e contemplação (Ep., 22, 17-18). Não
poupa críticas às falsas devotas (Ep., 22, 27) e aos clérigos (Ep., 22, 28), e volta ao tema
das chateações do casamento (Ep. 22,2). Como essa epístola não se tratava de uma carta
privada, a opinião pública começou a voltar-se contra o sacerdote. Essas críticas iriam
se acentuar depois da morte de Blesila, que viera a óbito em novembro de 384, poucos
meses após adotar a vida ascética promovida por Jerônimo.
Conclusão
Este artigo procurou apresentar o Círculo do Aventino, espécie de monaquismo
feminino formado por mulheres cristãs – moças virgens ou viúvas – da nobreza romana
do século IV. Essas damas da aristocracia empenharam-se em seguir os princípios do
cristianismo asceta que, além da abstinência sexual, condição primeira para o início
de uma vida de asceta, incluía períodos de jejum, redução do sono, desapego de bens
materiais, além do fortalecimento de virtudes morais, como a humildade.
O apoio financeiro de algumas das mulheres nobres do Círculo – notadamente o de
Paula – possibilitou não só a construção dos mosteiros feminino e masculino em Belém,
23
Pelo testemunho do próprio Jerônimo nesta ocorrência e também nas Ep., 22,6 e Ep., 28, percebe-se que houve outros
grupos similares aos do Aventino, em Roma. Aliás, de acordo com Cain (2009, p. 94), nas primeiras décadas do século
IV, existiu em Roma um grupo de virgens dedicadas à mártir Santa Agnes.
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como também o patrocínio de Jerônimo para que ele pudesse realizar a tradução da Bíblia,
além de produzir uma obra literária que contribuiu para os fundamentos do catolicismo.
Obviamente, Jerônimo não foi o único a alicerçar o cristianismo. Teólogos como Tertuliano,
João Crisóstomo, Ambrósio, Joviniano, Agostinho e Pelágio – para citar apenas alguns – são
também importantes expoentes da literatura cristã da Antiguidade Tardia.
As ideias de Jerônimo sobre a virgindade, o casamento, a educação das mulheres
e a vida perfeita através do ascetismo não foram facilmente aceitas em seu tempo. Temos
consciência de que Jerônimo foi um tanto radical e aguerrido em sua postura moral cristã.
No entanto, reconhecemos uma particularidade positiva de Jerônimo por valorizar a alma
das mulheres e o seu intelecto. Prova disso está na correspondência trocada com as damas
do Círculo do Aventino, que o instigaram a refletir sobre as Escrituras e sobre a história e
a cultura de sua época. O Círculo do Aventino não foi somente um lugar de estudo sobre
as Escrituras e de exegese bíblica, mas, antes, foi um enorme polo de fomento à tradução,
ao estudo filológico e à aprendizagem de línguas. Tivemos oportunidade de ver certos
exemplos dessas questões em trechos de cartas.
Vale lembrar que algumas mulheres do Círculo foram canonizadas pela Igreja
Católica, graças às epístolas de Jerônimo: Marcela (Ep., 127), Paula (Ep., 108), Eustóquia
(Ep., 151), Léa (Ep., 23), Asela (Ep., 24), Blesila (Ep., 39) e Fabíola (Ep., 77). Conforme observou
Cain (2010, p. 125-126), essas epístolas teriam como objetivo documentar a vida virtuosa
dessas mulheres para que, posteriormente, pudessem ser santificadas.
Acreditamos que, se tivessem sobrevivido os escritos das mulheres do Círculo do
Aventino, o destino das mulheres no mundo ocidental poderia ter sido diferente, com
mais valorização e independência em relação ao mundo masculino.
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