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A vida da angustia

2021

A vida da angústia É possível morrer de angústia? Talvez. Hoje, numa pandemia que se não mata pelo vírus tem gerado tamanha angústia na vida do mundo, talvez seja mesmo possível morrer de angústia. Certo é, porém, que a angústia está estreitamente ligada à experiência da presença da morte na vida. A experiência da presença da morte na vida não é o mesmo que a consciência de que, sendo vivo, se é mortal, ou seja, de que quem vive um dia haverá de morrer. Sem dúvida, a consciência da morte como uma certeza não é coisa simples, pois a morte certa é ela mesma incerta, já que, à exceção de uma execução, não se sabe quando a morte chega. Pode-se então dizer que a consciência da morte é a consciência de uma certeza incerta. Por oposição à consciência da morte, a experiência da presença da morte na vida, é a experiência de um estreitamento da vida, da vida estreitada, apertada, estrangulada. Isso tampouco é o mesmo que temer a morte. Como entender esse aperto da vida na vida, que chama de angústia? Vários filósofos e psicanalistas insistiram sobre a necessidade de se distinguir a angústia do medo. A distinção proposta em várias discussões filosóficas e psicanalíticas referese sobretudo à diferença do “objeto” no medo e na angústia. Enquanto o medo tem um objeto – tem-se medo da morte, do cachorro, até do futuro, a angústia não tem objeto: não se sabe bem o que angustia, por que acordamos angustiados, com coração apertado, o peito estrangulando. Parece que a angústia vem mesmo do nada e nos leva para o nada. Não se sabe o que angustia, mas que se está angustiado. Heidegger propôs uma interpretação da angústia que é um marco não só para a investigação do fenômeno psicológico da angústia, mas para a própria compreensão da filosofia que atenta para como os conceitos, teorias e idéias se enraízam no modo como a existência humana é no ser. Pois o homem não está simplesmente dado como algo que meramente “está aí”, mas que é enquanto uma relação com esse é. O homem é relação e não algo que é e depois tece relações com as coisas, consigo mesmo, com os outros, com o mundo. Como ser é para Heidegger relação, dizer o homem é, significa dizer que o homem se relaciona e que são as relações que constituem o seu ser. Ser relação é ser tocado e só assim se tocar e tocar; ou ainda, é tocar e se tocar ao ser tocado por tudo que ele não é. Esse foi o modo como Heidegger definiu ser-relação. Para salientar esse tocar e se tocar em sendo tocado, essa ação recíproca, que é atividade e passividade ao mesmo tempo, o que os gramáticos chamam de “voz média”, Heidegger definiu o ser-relação constitutivo do ser do homem como disposição. Ser relação é ser disposição e não ocupar uma posição. Essa disposição não é contudo meramente racional e sim uma “disposição afetiva”, um “humor”, uma “tonalidade afetiva”, usando aqui algumas traduções do termo alemão usado por Heidegger que é Stimmung. Essa palavra alemã e nórdica é difícil de ser traduzida devido à sua rica polissemia. Provém de Stimme, que significa voz. Como verbo, stimmen não significa uma tonalidade, mas o afinar, ajustar, como um instrumentista afina o seu instrumento. Daí o sentido extensivo de concordar, votar, ajustar uma voz à voz dos outros, à voz de uma coletividade. Como substantivo, Stimmung diz, em seu uso cotidiano, atmosfera, clima, ambiente, quando se afirma por exemplo, a presença de fulano criou um clima pesado ou o inverno nórdico tem uma atmosfera muito peculiar, intimista. Essa terminologia que provém da palavra para dizer voz, Stimme, traz o som como seu elemento, e o som é por natureza algo que envolve e circunda tudo e nunca algo que se dá apenas parcialmente, apenas de um lado, em frente, atrás, ou do lado. Ao afirmar que o melhor é a Stimmung, a afinação da alma pela atmosfera que a envolve, o poeta alemão Novalis considerou que essa afinação era propriamente uma “acústica da alma”, um campo ainda a ser explorado, caracterizado por vibrações harmônicas e desarmônicas ao mesmo tempo1. 1 Hoje se eu fosse retraduzir Ser e Tempo usaria vibração para dizer Stimmung em português] Para Heidegger o homem só pode se colocar a pergunta sobre o sentido de ser e da existência numa afinação, numa vibração afetiva, numa Stimmung. Pois essa pergunta não se coloca todos os dias ou a qualquer hora. É preciso que o fato de ser, o fato bruto de que há ser, toque a existência humana. E uma das vibrações privilegiadas para que a pergunta sobre o sentido de ser se coloque é, segundo ele, a angústia e o tédio. Mas não apenas estas: também a alegria e o amor são vibrações fundamentais. Heidegger não desenvolve estas últimas e dele guardamos a análise existencial-fenomenológica da angústia e do tédio. Não vou reproduzir aqui a análise heideggeriana mas apenas chamar atenção que a angústia heideggeriana, desprovida de objeto, é angústia diante do nada da existência. Mas é nessa atmosfera e vibração da existência não valendo nada, não tendo sentido ou valor, que se pode fazer duas grandes descobertas: a primeira, a descoberta do que é ser-todo, ser-tudo. Pois o nada da angústia avassala tudo. Mas com isso, descobre-se que há tudo e o todo. A segunda descoberta é talvez a mais importante: a de que a experiência da existência sem valor ou sentido algum também faz aparecer que a existência vale por ela mesma, e que seu sentido não está fora dela mas somente no existir. Pode-se assim descobrir que todo o valor e sentido da existência está em existir sem razão e sem finalidade fora dela, que existir é entregar-se ao existir, que ser é entregar-se a ser, não isso ou aquilo, não em razão ou em vista disso ou daquilo, mas simplesmente a existir e ser, intransitivamente. Por isso, Heidegger considera a angústia uma vibração fundamental da alma, um modo fundamental como a alma vibra no ser de maneira a mostrar que ser é “nada”, ou seja, coisa alguma, mas um verbo em aberto. O nada de um sem saída assustador esconde um em aberto liberador, como dois lados de uma mesma folha de papel em branco. Às análises filósoficas, poderíamos somar as contribuições da psicanálise, como as clássicas de Freud e Lacan, que buscam justamente explicitar como a angústia diante do nada, da falta, do todo avassalador e sem saída atua no âmbito da esfera igualmente aterradora da liberação transformadora. A angústia age na soleira que faz coincidir o sem-saída e o em-aberto, o supradeterminado e o supra-indeterminado. Mas em todas essas análises da angústia acentua-se a angústia da existência individual diante da totalidade e imensidão do mundo e da vida. Nelas, o foco está na existência humana, no modo como o homem existe na vida do mundo e no mundo da vida. Mas há ainda outras dimensões desse fenômeno chamado angústia. Uma outra dimensão é o que o filósofo que também se situa na atmosfera do romantismo alemão Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling descreveu como a angústia da própria vida. Para ele, é antes de mais nada a vida quem se angustia e não apenas o homem jogado na vida. A vida se angustia no sentido de estreitar-se, de ser um estreitamento de sua força explosiva e criadora ao se ‘confinar’ por assim dizer numa existência finita, numa forma de vida. Pois vida é pura dinâmica de formação, força de proliferação e transformação, uma movimentação que como tal não é nada determinado, mas continua possibilidade e possibilitação , que no entanto só pode ser essa continua possibilitação, ao se determinar em múltiplas e infinitas formas finitas de vida. Os românticos estavam possuídos pelo sentido de vida como dialética entre o infinito e o finito, entendendo a vida finita como o modo em que o infinito se realiza e concretiza, opondo-se a si mesmo. Não precisamos entrar em muitos detalhes mas eu trouxe essa breve referência à expressão schelligniana de “angústia da vida” para indicar que não só o homem se angustia mas também a vida se estreita e aperta e que talvez esse seja um bom modo de definir a finitude, não só temporalmente mas como uma dinâmica de expansão vital através de contrações, como se dá na vida nascente, essa que em algumas espécies, dentre as quais a humana, nasce contraindo-se. A angústia da vida é o modo como a vida se cria e expande no modo paradoxal e até trágico de expandir-se ao contrair-se, de crescer ao estreitar-se. A angústia da vida faz aparecer uma dimensão digamos extra-humana da vida, ou seja, não como o homem é na vida mas como a vida é no que vive, inclusive no homem. Nesse sentido, a angústia não é uma exclusividade humana, mas o modo como a vida inclui tudo o que vive. A angústia da vida faz aparecer a possibilidade de uma vida da angústia. A linguagem romântica que trata a angústia num sentido metafísico e cósmico e não somente existencial e psicológico, ou seja, como fenômeno especificamente “humano” faz aparecer a angústia como uma condição criadora de existência. Foi essa condição criadora de existência que também orientou o pensamento que inaugurou a compreensão existencialista da angústia com Kierkegaard, que guarda, em muitos aspectos, profundas conexões com a filosofia do romantismo e idealismo alemão. Kierkegaard partiu da questão do homem criado, da criação divina do homem. Nos vários tratamentos filosóficos da angústia, sejam eles metafísicos ou existencialistas, está em questão antes de tudo a criação de existência, como a existência se cria enquanto algo que é para si, enquanto busca de si, enquanto existência singular. A angústia pode ser tomada filosoficamente como dinâmica de singularização e finitização – a dinâmica em que se vem a ser o que se é – o que significa, do vir a ser o que se pode ser. Mas o que dizer de uma angústia que não é só “minha”, de uma angústia compartilhada? Não falo aqui de uma angústia coletiva pois isso seria mais a transposição de um “eu” singular para um “eu” geral ou coletivo. O que dizer da angústia enquanto uma experiência compartilhada? É possível compartilhar a angústia, esse estreitamento no peito, esse tremendo aperto no coração, que tira a fala dos lábios, que sufoca e asfixia a singularidade de cada um? Aos tratamentos filosóficos hoje já clássicos da angústia caberia acrescentar uma reflexão sobre a partilha da angústia, sobretudo quando hoje nos vemos combalidos e assolados por uma tremenda angústia comum a ponto de talvez ser necessário acrescentar à angústia do homem e à angústia da vida, uma outra angústia, a angústia do mundo: sim o estreitamento do mundo na sua expansão digital virtual – um estreitamento que se mostra de forma violenta na pandemia. Clarice Lispector pode nos dar alguns sinais para aprofundar essa questão. 30 de novembro de 1968, Clarice publica uma crônica intitulada Angina petoris da alma. Angina pectoris é o nome científico para o “estrangulamento no peito”, a dor toráxica devido à baixa entrada de oxigênio, provocada geralmente por aterosclerose ou trombo. É o nome científico dos mesmos sintomas da angústia. Clarice fala do estrangulamento do peito da alma, do aperto do coração da alma, quando o peito e o coração da alma se estreitam. Ela parte de que a alma tem um peito e um coração. Ela descreve a angústia como um acontecimento e não como uma atmosfera ou vibração. Na crônica se lê: “quando mal vem, o peito se torna estreito, e aquele reconhecível cheiro de poeira molhada naquela coisa que antes se chamava alma e agora não é chamada nada”. Ela descreve a angústia como a experiência do mal estar vindo e não do mal que já chegou. Não descreve a angústia como uma disposição humana diante de um sentimento de vazio abissal, de falta de futuro ou esperança, mas como acolhimento desse estar vindo. Fala de como o que antes se chamava alma agora não é chamada nada. Clarice situa, portanto, a angústia como experiência de uma perda do nome e dos chamados do nome. Ela escreve ainda que a angústia é “a falta de esperança na esperança”, um “confirmar-se sem se resignar”. Ao dizer falta de esperança na esperança, Clarice sublinha que existir não é poder ter ou não esperança, mas que existir é esperança e que a angústia é quando se experimenta falta de esperança na esperança, uma falta de existência na existência, já que é preciso existir para sentir angústia. Em um de seus livros, a Maçã no Escuro, Clarice fala de que não se trata de conseguir ter ou reaver esperança de um mundo melhor, mas de que o mundo é que espera de nós a esperança – pois nós somos a esperança do mundo. A crônica de Clarice continua dizendo que na angústia, eu cito, “Não se consegue confessar a si próprio porque nem se tem mais o quê. Ou se tem e não se pode porque as palavras não viriam. Não ser o que realmente se é, e não se sabe o que realmente se é, só se sabe que não se está sendo. E então vem o desamparo de se estar vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal. Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo, por ser vivo, se contrai”2. Essa breve crônica pensa a angústia desde os seus “sintomas”, digamos, básicos: não conseguir respirar, não conseguir falar. É uma reflexão que aprofunda os sentidos apertados e estrangulados no peito. É um pensamento da angústia como aperto e estrangulamento no peito dos sentidos. Na angústia, quando o peito e o coração da alma se apertam, as palavras não vem, o que antes se chamava alma agora não é chamada nada. Clarice relaciona essa impossibilidade de dizer e chamar, da linguagem vir à boca ao não estar sendo. E faz aparecer um traço muito decisivo na angústia que é não estar existindo na existência, não estar sendo no sendo. Ela pensa a angústia como uma relação interrompida, sufocada, com o sendo da existência, que impede a presença no presente, mais do que a vibração na qual o todo e o nada se tocam, o sem-saída e o em aberto co-incidem. Para Clarice, a angústia chega mesmo a ser descrita como a “incapacidade de enfim sentir a dor,” como ela diz no livro a Aprendizagem ou o Livro dos prazeres. Porque a angústia sufoca e obstrui o estar sendo, porque ela tira a possibilidade de dizer e exprimir ela atravanca a partilha da existência. Como compartilhar a angústia?3 Num conto chamado Mensagem, Clarice descreve a partilha da angústia entre dois jovens. Não no sentido de que os dois jovens sentiam a mesma angústia, mas que compartilhavam a discrepância entre a experiência da angústia, a sua vida, e a palavra angústia, o dizer dessa experiência. Eles compartilham a angústia de ter de falar o que não se deixa falar, e falar na língua dos “outros”, já que a linguagem é sempre a língua dos outros, a língua aprendida e herdada numa cultura, num mundo. A grande angústia partilhada era de compartilhar o que não pode ser compartilhado, de comunicar o que não se deixa comunicar. Eles queriam dizer a 2 3 In A descoberta do mundo, 155-156 Heidegger em seus escritos políticos, chegou a falar de um espírito de comunidade que se forma na angústia quando vivida não como intimismo mas como uma espécie de solidariedade dos abalados pela dor metafísica, cf. GA 39, Hölderlins Germanien, p. 87 e outras. experiência e não podiam pois experiência sempre gagueja na boca, fica na ponta da língua procurando palavras precisas e só encontrando a precisão da palavra. Experiência, escreve Clarice nesse conto, “às vezes também se confundia com mensagem”4. Nem a palavra poesia era capaz de dizer essa angústia de não poder dizer a angústia. Na literatura de Clarice, a angústia é a experiência de como experiência é ela mesma a mensagem e de como isso fala uma língua impossível, a língua da linguagem atravessada na garganta, a língua do não conseguir dizer. Os dois jovens estão andando em Botafogo, na rua apertada em frente ao cemitério. Todos as experiências descritas no conto trazem a marca da angústia: caminho apertado e estreito, morte diante de si, e de repente uma casa “ensobrada e enraizada”, como ela diz, uma “casa angustiada”5. A casa é que era angústia e calma, como palavra nenhuma o fora, podemos continuar a ler. A casa era “aquela catedral do medo solidificado”6, “aquela coisa erguida tão antes deles nascerem, aquela coisa secular já esvaziada de sentido, aquela coisa vindo do passado”7. A angústia literária, por assim dizer, pensada por Clarice é a angústia do passado vazio, do passado que se esvazia ao permanecer em forma de sentidos fixos e solidificados, como por exemplo na palavra angústia. A casa – quer era a angústia como nenhuma palavra o fora – era a expressão vazia de expressão, a expressão em busca de sua própria expressão. O conto acaba com os dois jovens descobrindo-se homem e mulher sentindo a angústia de estar sendo o que eram – não homem ou mulher – não isso ou aquilo mas o estar sendo naquela partilha do que não se sabe ou pode compartilhar. A contribuição literária de Clarice para as visões filosóficas e psicanalíticas da angústia faz aparecer a difícil vida da angústia, a vida que por ser e estar viva é sempre uma partilha, mas que inclui a partilha do que não se pode partilhar. Essa talvez seja a experiência literária da angústia, que faz do não conseguir dizer um modo de dizer. Não que a literatura 4 Felicidade clandestina, 125. Ibdiem, 128. 6 Ibdiem, 129. 7 Ibidem. 5 consiga dizer o que comumente não se consegue dizer mas de dizer esse não conseguir dizer; de a literatura ser uma língua onde a própria linguagem está sempre na ponta da língua e o peito apertado e o coração estrangulado vaza em sons e murmúrios inauditos. Essa reflexão final sobre a contribuição literária de Clarice para pensar a angústia talvez nos dê alguma coisa hoje, quando fazemos a experiência de uma angústia comum – onde a experiência, a mensagem, se vê arrancada da experiência, quando tudo vira vivência e espetáculo, alcançando um grau de narcisismo que tanto envergonharia o velho Narciso e faz do narcisismo um verbo transitivo direto quando a pratica social se reduz a um “eu te narciso” e “nós narcisamos você ou vocês”, como se isso pudesse anestesiar o coração apertado do mundo, o peito estrangulado da vida. A contribuição literária de Clarice parece pedir de nós leitores – que ao lermos sobre a angústia, ao citarmos os filósofos e teóricos da psicanálise refletindo sobre a angústia – não esquecermos da necessidade de ouvir as batidas do coração apertado do mundo, de auscultar o peito estrangulado da vida buscando vir à palavra, como os índios livres que escutam os tremores e tenores da vida com orelhas coladas no chão. Assim nascem palavras vindas da vida da angústia, pois se a angústia designa falta de vida na vida, falta de esperança na esperança, essa falta é ela mesma viva. E mesmo se a experiência, a mensagem, se vê hoje, como Clarice escreve no final do conto, “esfarelada na poeira que o vento arrastava para as grades do esgoto” é preciso falar como quem tem farelos de poeira na boca. Num mundo da ambiguização de todos os sentidos, da manipulação de todos significados, da mutação de todos os valores, do esvaziamento de toda existência quando tudo que é pode ser qualquer coisa, na experiência de um capitalismos virulento que nada mais faz do que “qualquerizar” tudo o que é para substituir qualquer coisa que seja por qualquer coisa que seja, nunca foi tão necessário reaprender a falar, nunca foi tão necessário re-existir, não para existir de forma mais autêntica e verdadeira mas para existir e dizer, escutando o bater do coração estrangulado, o sem fôlego da vida apertada. Se comecei dizendo que a angústia é a presença da morte na vida, talvez agora depois de uma reflexão possamos dizer que a nossa angustia comum refere-se à experiência da morte ou ausência da presença na vida. Talvez a grande lição literária de Clarice tenha sido indicar que a relação entre a angústia da vida e a angústia da existência humana na vida seja que a angústia humana é a angústia da angústia da vida Marcia Sá Cavalcante Schuback Rio de Janeiro, 2021