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I A UNIVERSIDADE FEDERAL DE sANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE Pós-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO; EDUCAÇÃO E TRABALHO ' 1 » ~ _ ` ' 9 j A Q _ PRODUÇÃO AGRÍCOLA INTEGRADA ~ o DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E ' HUMANO E A EDUCAÇÃO ~ A Ç O ROQUE STRIEDER- Í ~ _ FLORIANÓPOLIS, AGOSTO/1996 'Z ' . _ _ ~.'‹¡,` .__¿if'Í '-` -"`.'¡ uN|vERs|DADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO ' - ~ “PROD UÇAO AGRIC OLA INTEGRADA DESEN VOL VYMENTO ECONÓMICO, SOCIAL E H UMANO E A EDUCAÇÃO V _ Dissertação submetida ao Colegiado do Curso de Mestrado em Educação do Centro de Ciências da Educação em cumprimento parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. ~ APROVADO PELA COMISSAO EXAMINADORA em ‹ C Prof. Dr. /wi , *'Ú~*“ Â/ Prof. Dr. Pe. . L Iso '~ Schn Dr. Lui Prof. Dr. /, Norberto Jacob Etges-(O Irentador) 1 Prof... › f 09/08/96 ' er (Examinador) aetsäšxaminador) Lauro Carlos Witt~te) _. R UE STRIEDER Florianópolis, Santa Catgrina, agosto de 1996. ' - III' AGRADECIMENTOS: À Tasi, companheira e esposa, pelo incentivo carinhoso, pela força e compreensão. Aos filhos: Charlie, Diovana e Magda, por terem compreendido as minhas ausências e pelo carinho de seus sorrisos. Ao Prof. Dr. Norberto J. Etges, pelo desapela .exigência fio, rigorosa, na abertura do fantástico mundo conceitual e de desenvolvi- mento da inteligência humana, mas e, princi- pahnente estima e pela grande amizade. Aos integrados produtores, em especial ao meu irmão Hilário e aos meus pais, pela beleza e riqueza das nossas conversas, discussões e, porque as vossas ações produtivas, altamente qualificadas, são orgulho e contém o gérrnen da universalização e da construção de sujeitos livres e plenos. Aos amigos e las críticas. colegas, pelos debates e pe- IV “E na diversidade das condições e dos objetos que , . intervém, que se desenvolve a cultura teórica. Constitui ela não só um variado conjnmto de representações e conhecimentos mas ainda mobilidade, rapidez e encadeamento das representações e conhecimentos bem como a compreensão de relações complicadas e universais, etc... No entanto, o que há de universal e de objetivo no trabalho, liga-se à abstração que é produzida pela especificidade dos meios e das carências e de que resulta também a especificação da produção e a divisão dos trabalhos. Pela divisão, o trabalho do indivíduo torna-se mais simples, aumentando a sua aptidão para o trabalho abstrato bem como a quantidade de sua produção. Esta abstração das aptidões e dos meios completa, ao mesmo tempo, a dependência mútua dos homens para a satisfação das outras carências, assim se estabelecendo uma necossidade total. suma, a abstração da produção leva a mecanizar cada vez mais o trabalho Em e, por fim, é possível que o homem seja excluído e a máquina o substitua”. HEGEL, G.W.F. Filoso- fia do Direito, l990:187/88. ABSTRACT This dissertation takes as its Integrated Agribusiness Sistem. objetct the productive activites It tries in the to analyze the social, intellectual e ecnomie deve- new modem lopment of the Integrated farmer, as he manipulates engineering and develops of the small farmer new forms of tecnologies, genetic organization by connecting other sunilar agents of agricultural production to each other through networks of autonomus associates or as associates of a Abstract new type of independent cooperative Human Labor is the all agribusiness important explaining category, as the objective or- ganizing principle or force, of the intellectual, technological and organizational revoluti- on taking place organizations. in agricultural production as it is in other areas The Integrated small farmer does not seem to ductive structures as many other subsistence of industrial and business resist modernization of pro- peasantes do, and he becomes thes a new man of descentralized abilities, a much more nomic with his partners in the community, but with “Strangers” in the relations, not only flexible man, open to establish and eco- social larger world. In his actual dependency to big agribusiness the small Integrated farmer certainly does undergo many constraints whichoblige him to work the same time, there seems to economic and produces in his This, the infia-structure or the condition of his social development. own ways he was not used He now visualizes property, thus aggregating ways much more new ways of tackling time/space relations, a new view of quality production in the but at new view of value to his final products. new hygienie interests to, to industrialize his agro- of course, demands new forms of organizational thinking, new behavior, tion, lie- in athical atitudes and conditions of produc- of the consumer, and of course, a new view of man himself, not just as a mere consumer, but as a fully human being, fiee of alienated work, deserving the best come, effectively, of his attention. In a word, the small farmer a new man in a new and belter world. may be- SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................... .. CAPITULO I__ ................................... ..¿................................................................ A PRODUÇAO PARA A INTEGRACAO .. ........................................................... A COLONIZAÇÃO DO OESTE CATARINENSE A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO OESTE CATARINENSE 1.2.6 EM BUSCA DA COMERCIALIZAÇÃO 1.2.I›_ SURGEM AS AGROINDÚSTRIAS 1.3 _ NOVA GENÉTICA; NOVAS FORMAS DE PRODUZIR 1.4 _ PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM ESCALA INDUSTRIAL; A NECESSIDADE DA AGROINDUSTRIA ._ 011 011 1.1 _ ................................... .. _ ................. .. 1.2 _ ......................................... .. ................................................. .. ........................ .. “ ................................................................. 1.5 O SURGIMENTO DE TUNAS 1.6 _ CONSTRUÇÃO DA SUBIETIVIDADE 1.7 _ A PEQUENA PROPRIEDADE 1.8 _ A PEQUENA PROPRIEDADE INTEGRADA _ .. .................................................................. .. .................................................. .. ................................................................ .. ........................................ .. CAPÍTULO II _ ................................................................................................ A ESTRUTURAÇÃO PARA UMA PRODUÇÃO CAPITALISTA ................. .. DE OBRA 11.1.15 O TRABALHO DA MULHER E INFANTIL 111.6 UMA FORMA TERCEIRIZADA DE PRODUÇÃO 111.6 _ A FORMA DE PAGAMENTO 111.6 _ O COMPROMISSO DO AGRICULTOR INTEGRADO 11.1 .f_ A PROXIMIDADE COM TECNOLOGIAS PRODUTIVAS E GE11.1.a_MÃO .. ............................................................................ _ ................................ _ .. .. ..................... _. ..................................................... .. ............... .. 1I.1.g _ NETICAS ..................................................................................... UM AGRICULTOR COM PODER DE DECISÃO 014 014 018 019 023 028 029 031 033 037 038 038 039 040 042 047 048 049 050 052 053 .. ...................... 004 010 .. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DOS INTEGRADOS ...................... A INFLUENCIA RELIGIOSA E ESCOLAR ................................ 11.1.j. _ O JOGO DO VAI E VEM DA INTEGRAÇÃO ........................... 11.2 _ PRODUÇÃO CAPITALISTA; UM IMPASSE OU UMA1MPOSS1_ BIIDADE AO DESENVOLVIMENTO PLENO ................................................... 055 11.1.11 _ .. I1.1.i _ .. .. INTEGRAÇÃO NOVAS OPORTUNIDADES _ 11.4 A ESTRUTURA DA INTEGRAÇÃO 114.6 _ AVES 11.3 _ .. ....................................... .................................................... II.4.b _ .. .. ......................................................................................... .. ..................................................................................... .. SUÍNOS II.4.I›.1 _ 11.4.62 _ 1I.4.b.3 _ UPL _ UNIDADE DE PRODUÇÃO DE LEITÕES TERMINAÇÃO INTEGRADO- DE CICLO COMPLETO .............. .... _. .......................................... .................... _. .. 057 058 059 059 059 061 062 CAPÍTULO III _ ...................... ......................................................................... 066 A REORGANIZAÇÃO ECONÓMICAz DE AGRICULTOR PARA PRODUTOR, .. UMA GLOBALIZAÇÃO 111.1 _ ZAÇÃO ...................................................................................... .. DA GLOBALIZAÇÃO PARA A SUBMISSÃO, PARA A GLOBAL1_ ................................................................................................................. _ 111.2 111.3 _ DE SUBALTERNO PARA PRODUTOR PLENO BUSCANDO A UNIVERSALIZAÇÃO 1113.6 _ PRODUTOR HISTÓRICO .. ................................ .. ................................................. .. ....................................................... CAPÍTULO IV _ ................................................................................................... .. 067 067 074 084 086 091 .. 1 VII CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.1 - A OÊNESE DO TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.1.a - A PRODUÇÃO ARTESANAL IV.1.1› - MANUPATURAz DIVISÃO DO TRABALHO E PLANEJA- 092 092 093 ...... .. ......................... .. .................. ............................ .. MENTO DO PROCESSO IV.1.c A MERCADORIA FORÇA DE TRABALHO IV.1.d TRABALHO, VALOR DE USO E VALOR DE TROCA IV.1.e MÁQUINAS E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL IV.1_.`f- PRODUÇÃO INPORMATIZADA ......................................................... .. Ç - .......................... .. - ..... ._ '- _ ......................... 094 096 09s 100 103 104 .. ............................................ .. 4 IV.2 _ TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.2.a - O PRESSUPOSTO DO TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.2.1› - UMA ABSTRAÇÃOz VALOR DE TROCA IV.2.z - A OBJETIVIDADE DO TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.2.d - TRABALHO HUMANO ABSTRATO, UM DEVIR HUMA- .................................................. .. ` ................................................................................. ». ............................ .. ................................................................................... IV.3 - NO ............................ .; ............................................................ .. ATIVIDADE DE NÍVEL SUPERIOR; NO _. UM TRABALHADOR PLE ......................................................................................................... .. CAPÍTULO V - .................................................................................................. SISTEMA DE INTEGRAÇÃO: DE AORICULTOR A PRODUTOR PLENO V.1 - REORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS .................... V.2 - CIÊNCIAS E TECNOLOGIA: NOVOS CONCEITOS DE ESPAÇO E .. ..... .. _. ,DE TEMPO TEMPO E ESPAÇO E As NOVAS NECESSIDADES DE UMA EXISTÊNCIA MAIS PLENA V.4 _ A NOVA PONTE DE VALOR V.5 - SUPERANDO IMPASSES E EOUIVOCOS V.ó _ PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO DE NOVAS ESTRUTURAS DE AÇÃO _ V.7 DIALETICA DAS ESTRUTURAS DE AÇÃO E, AUTONOMIA V.s _ O TRABALHO HUMANO ABSTRATO, PÕE O SUJEITO COM TEMPO LIVRE CONCLUSÃO ............................................... .L ......................................... .. › V.3 106 108 110 111 113 11s 1 19 119 120 - .............. .... ..- ............................................... .. ....................................... ..; .............. .. ......................................... ._ ................................................................................................... .. ...... .. .................................................................................... .. .................................................................................................... BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ .. .. 124 127 132 137 140 144 149 154 4 RESUMO ~ O presente trabalho, ma de Integração, vimento toma como objeto de investigação a prática produtiva no da Região do Extremo Oeste de Santa Catarina e analisa o desenvol- social, intelectual matéria prima Siste- came- e econômico do agricultor integrado, frangos e suínos das possibilidade de construção do - ou seja, produtor da junto à Agroindústrias. da Região. É uma análise homem agricultor, uma vez que, ao manipular através de suas novas atividades, modernas tecnologias produtivas, organizacionais e da engenharia genética, encontra a perspectiva de estabelecer uma rede de relações entre estas novas tecnologias e o desenvolvimento da inteligência humana. Desde a década de mente do país, em outros 60, a agricultura da Região, objeto do presente estudo, e vem sofrendo uma intervenção para que as- atividades- agrícolas certa- ingressem ritmos de objetividade e racionalidade, agora proporcionados pelos avanços das conquistas tecnológicas e das pesquisas da engenharia genética. fazer as crescentes e os cada vez mais exigentes carecimentos limites, tanto qualitativos. da agricultura tradicional. A urgência em satis- humanos, aponta para os quanto quantitativos da produção alimentar obtida nas práticas Assim, após um vagaroso introdução das novas técnicas de produção, e longo processo de implantação e com uma engenharia genética que exigiu a re-estruturação das concepções de tempo, de espaço, de organização da propriedade, supera-se a produção tradicional-. O» que se presencia agora priedades do Oeste Catarinense, é a presença de rial produtiva. em grande uma racionalidade número de pro- e objetividade mate- A anterior e tradicional produção, quase que exclusiva para a sobrevivên- cia, assume nestes noyos padrões, proporções gigantescas, tomando o integrado produ- tor, um alguém com presença garantida no mercado em fase de globalização. Na insistência em conhecer e 'apreender os segredos das novas linhagens de suíno, o seu manuseio mais objetivo, mais sistemático, exigindo o usode novos equipamentos, o integrado passa a conviver de frango e uma maior presença, com as profundas nas relações de produção e de trabalho inerentes à sociedade capitalista, enquadramento nas quase infinitas possibilidades da terceira Revolução estas formas de re-organização nas atividades produtivas- u alterações em fase Industrial. em sua propriedade, de re- Todas requerem 2, do integrado produtor, uma maior capacidade no executar de atividades mais lizadas e de tomar um maior número de decisões. Para que essa percepção se fizesse possível, tomou-se Humano de Trabalho intelectua- encontra aplicação. como base teórica o conceito Abstrato, cujo processo de desenvolvimento A lógica do desenvolvimento do Trabalho aqui se justifica e Humano Abstrato, passa em ocorrência um princípio de a ser o princípio organizador de toda a revolução tecnológica e intelectual e, causa das possibilidades da informatização e da automação. Ele é um devir ação, do trabalhosimples, cuja dinâmica. determina todas as- formas históricas do trabalho e das forças produtivas. Assim, as profiindas alterações emergentes na edade capitalista, são resultado de um longo processo de desenvolvimento da inteligência humana, cujo fundamento encontra seu princípio ativo e primeiro, no Trabalho Abstrato. O que o força integrado produtor encontra pois, na produção integrada a, num espaço um soci- Humano catalisador, de tempo mais reduzido, absorver as alterações nas relações produtivas, e organizações de trabalho. Aparece então intermediado pelas infinitas possibilidades do Trabalho Humano Abstrato, a condição para o surgimento de novas estru- turas cognitivas que- possibilitam a saída das condições de vida confinadas â propriedade, lançando o integrado produtor dentro de um novo universo de relações sociais, econô- micas e intelectuais. As transformações lecimento de tecnológicas, a produção de mais e melhores produtos, o estabe- um novo mundo de relações, de interdependências, a necessidade de estar informado, de adaptar-se às constantes e incessantes inovações na genética, no consumo, na compressão do binômio tempo/espaço, exigem-lhe nova escala de valores, novos rit- mos, novas normas a serem construídas e seguidas e conseqüente novas estruturas de pensamento. Suas ações já não se resumem à comunidade, mas se estendem a nível universal. O integrado produtor toma-se mais flexível e certamente prepara-se para a toma- da de decisões muito mais particularizadas e detalhadas. Toda esta sua nova conjuntura, transforma-o num alguém com escolha e a decisão de o que e conhecimento de causa, encurtando a distância entre a como produzir. Mobilizado por esta nova dinâmica, o integrado produtor prepara-se para não apenas atuar de forma adequada e ética dentro das condições que a sociedade capitalista lhe oferece, criar mas toma-o capaz de produzir e novas condições, cuja ética, embasada neles mesmos, possibilita a quebra da relação 3 de pura dependência, enquanto o prepara para agir de forma mais universalizada e dentro de condições de vida mais humanizantes. Muito mais do que o agricultor que modernização da estrutura produtiva, o integrado produtor, torna-se resiste à um homem com capacidade descentralizadora,um ser mais aberto, superando suas angústias, dúvidas e medos, bases' necessárias para iniciar conquistou autonomia e que é ao um processo mesmo tempo diversidade de frentes de atuação que o de relacionamento como sujeito que muito mais flexível, diante da grande desafiam no cotidiano. O desenvolvimento» das forças e formas produtivas de trabalho, levados a` efeito» pelo tendofcomo princípio ativo capital, of Trabalho Humano Abstrato, hoje proporciona as homem condições para o não trabalho manual e concreto, ou seja está permitindo que o se coloque como alguém singular, sujeito do processo de sua própria construção. nologia presente na informatização, na automação, põe as condições para que o A tec- homem, o integrado produtor, sinta-se diante das condições que tornam concreto o seu ser pensante, pois é através do conceitual, do melhora as suas condições de abstrato, vida. Resta, como não do esforço fisico, que se afirma na conclusão, ele produz e criar e materiali- zar concretamente as condições que viabilizam a industrialização da produção propriedade, o que exige o estabelecimento de Este no entanto, está a exigir relação em sua um novo e diverso mercado de consumo. um novo código de ética, novas normas de organização, de com binômio tempo/espaço, de condições de higiene, de critérios e de qualidades mais orgânicas dos produtos, que superem e extrapolem os interesses da 'racionalidade capitalista. do e, ao São pressupostos para se construir o novo, o homem livre dotrabalho aliena- mesmo tempo são pressupostos para a materialização da sociedade de decisões. 9 INTRODUÇÃO Desde a década de sessenta que a região do Extremo Oeste Catarinense está sofi'endo tuna reestruturação do processo de produção agrícola, principalmente no setor de fi'an- gos e suínos. A partir dessa década tem início a implantação gradativa da produção inte- grada. Mais conhecido como Sistema de Integração, como uma articu- ela caracteriza-se lação entre empresas industriais e pequenos proprietários produtores. Os integrados são produtores, cujo processo de produção ,uma vez iniciado insere-se na lógica racional da produção industrial, onde a aplicação dos conhecimentos científicos, principahnente os da engenharia genética assumem papel preponderante. 1 . Por ter acompanhado o» t» _ processo de implantação do Sistema de Integração, experi- mentado as grandes contradições. que a acompanham, por do, por atuar como educador numa região ser filho de produtor integra- essenciahnente dependente da produção agro- em vários aspectos descritiva e, pela oportunidade e necessidade acadêmica de elaborar uma dissertação de Mestrado, decidi pelo presente estudo. A ótica do mesmo, não objetiva em seu eixo industrial e por considerar que a literatura referente era descontínua e central a análise lar da agroindústria e a estrutura de seus mecanismos que passam a contro- não só a produção mas todo o processo» produtivo. integrado. Não se pretende enxergar plorado e subjugado. que a eles são O interesse é A temática central é o produtor também este produtor pela oz simples fórmula do ex- de avançar para além de conceitos e das práticas inerentes. A integração cerca o produtor integrado de mn mundo de aparências cuja decodifica- ção não é alcançada se no centro da análise e se a direção do olhar .tiver como 'ponto de partida a agroindústria estendendo-se sobre os integrados. correta quando se pretende ver o integrado relação contratual com a empresa. preocupação e interesse quanto ele se reconhece em útil saber É certamente a atitude mais como homem sofrido e manietado por uma Vê-lo assim é confiná-,lo à passividade sem a menor como ele se sente, e imprescindível dentro o conceito que ele tem de si, o do mercado produtor de came. Neste sentido, as aparências são insuficientes para explicar e entender quais são de fato e concretamente as possibilidades e os limites da integração: um processo produtivo 5 que comunga padronização e qualidade com a tecnologia da engenharia genética., É na como produz, investigação concreta, objetiva e direta junto ao produtor integrado, de. que meios materiais utiliza para produzir a matéria prima came, enquanto e em paralelo vai produzindo a sua auto-confiança, que será possível desvelar o real conteúdo presente Ao mesmo tempo na prática quotidiana desse tipo de produção. as aparências mais tan- gíveis são incapazes de escamotear por completo, elementos essenciais duzir ao melhor e mais profundo conhecimento de si e da materiali'da__d'e ingredientes que integram a investigação por terem a capacidade dade, motivando o estudo. O produtor integrado ao ser analisado . \`. . .f .. _ . ._ .9- .-, , São esses z. . . ' ..¢_ l _ . 1 .¬ _ quando esta análise se mantém atenta às e, ' 1 ' . M5.. ;_.. 1 Í ' _ ` .- posta. in- despertar a curiosi- ~ . z -del \. , que possam' - I. condições materiais ultimamente emergentes da e_na sociedade, deduz-se facilmente que existe uma _ gradual revolução ein andamento: na qual ele mudanças patrocinadas pelas conquistas da ciência, afetam I também está inserido. Estas inteira e internamente grado. Profundas são as alterações que a tecnologia genética e organizacional o inte- tem pro- vocado nas condições materiais de produção. As conseqüências imediatas desse processo transformador são as. significativas alterações. trabalho, das noções de do conceito de produzir, do conceito de tempo e de espaço, da estrutura organizacional e que por sua vez afetam a própria forma de vida do integrado, o seu relacionamento consigo e~ com os não integrados, exigindo profundas modificações na sua forma de ser e de pensar. como negar que a modernização do processo do homem produtor integrado. - O produtivo implica na Não há também reconstrução seu novo. cotidiano é o ambiente propício para a ocorrência de significativos avanços cognitivos. Ou seja, é viável enxergar a nova estru- tura produtiva como uma perspectiva de que a medida que avançam as sua relações, os seus contatos com novas e modernas tecnologias, como oportunidades de desenvolvi- mento da sua inteligência. A inserção numa nova realidade produtiva, são segundo e o- e o reconhecimento dessa realidade- não materialismo histórico suficientes para transformá-la. nem mesmo o integrado cada qual tem da mesma. dade objetiva e material. modificam a realidade objetiva Nem o em função pesquisador daapreensão que Nem sempre a realidade pensada encontra simetria com a realiEssa contradição é conflituosa também na integração, cujos elementos interceptam-se entre ser tão somente um modelo produtivo que reforça o sis- 6 dade objetiva e material. Essa contradição é conflituosa também na integração, cujos elementos interceptam-se entre ser tão somente tema capitalista e, por si sis- ou tornar-se uma prática revolucionária capaz de romper com a repro- dução das relações sociais de produção modo de produção reproduz o um modelo produtivo que reforça o É capitalista. capitalista, correto» afirmar que a integração mas como a forma de produção só contraditória, a produção integrada tem a imanência da capitalista é contradição. Uma con- tradição na qual existe a possibilidade revolucionária, encontrando impulso na necessida- de do' um homem mais confiante, mais au- sistema de integração de construir e produzir tônomo e com muito mais decisões a tomar. As estratégias de uma maior racionalidade na organização material do processo produtivo colocadas à disposição dos integrados para o de`senvolvimento de- suas novas atividades produtivas, tomam-se os responsáveis pelo rompimento de suas tradicionais estruturas e verdades internas bem como zam a criação um agir mais produ- tivo tanto das novas estruturas que por certo o alavancam para nos aspectos econômicos quanto sociais, políticos e intelectuais._ nenhuma a mediação do Professor Dr. Norberto Jacob Etges, foi. , . oportuni- Sem dúvida extremamente proficua ‹ a ponto de a sua qualitativa ação- pedagógica ter propiciado a necessária sintonia entre as bases teóricas em Marx, Hegel, Giddenš* e, outros, o .enxergar da possibilidade ide cons- trução de mais autonon1ia"iciognitiva e social apartir da integração.. Acreditar no integra- do e na sua capacidade e- ao mesmo tempo encontrar nele vigorosas marcas de autoesti- ma são o pressuposto para o devir que em potencial nele existe. Também à luz das discussões tanto no periodo de aulas quanto na fase de orientação, Etges proporcionou uma profunda apreensão do mundo conceitual e da fantástica possibilidade de desenvolvimento conceitual e material do Trabalho Humano Abstrato. O pressuposto do devir a ele imanente, permite o enxergar-se a passagem do trabalho imediato e concreto para o trabalho intelectual materializado na máquina. É ver no desen- volvimento das relações sociais e cognoscitivas, proporcionados pela integração, a possibilidade do agricultor passar a sentir-se mais gente na caminhada construtiva da auto- nomia. O estudo se propõe a analisar as reais e concretas possibilidades da integração, enxergando o integrado como um ser potencialmente capaz de superar-se ao invés de sentir-se inepto e sem iniciativas, uma tão somente vítima da exploração Q capitalista. Na medida em 7 que a prática da integração alia-se à objetividade e racionalidade das conquistas da pes- quisa científica e tecnológica, ela passa a favorecer a exteriorização do potencial produtivo. O conteúdo que impõe um processo mais racional, encontra-se na sua base material, na forma material de organização do novo modo de produção e na estrutura das relações sociais que o acompanham. A opção é pois entender como e concretamenteo agricultor ao integrar-se passa por um' processo de reconstrução de sua personalidade de seu de ser de sua nova escala de valores. gração e cuja materialidade podem Há elementos que determinam e constituem ser o» modo a inte- agente indispensável da busca de maior auto- nomia econômica e cognitiva. ' Assim, no primeiro capítulo é feita uma análise do processo da implantação» da produ- como um resgate do ção para a integração. Configura-se contexto histórico e formal das formas materiais que se constituíram nos motivos e moldes da implantação do sistema integrado de produção-. Faz referência aos aspectos históricos da colonização, especifi- camente da região do Porto Novo - hoje Itapiranga, Tunápolis e São João do Oeste passa pela produção nos moldes artesanais, apontando os seus limites estrutura e, - avança até a da integração. Analisa também os pressupostos materiais que orquestraram a viabilização da introdução dos modernos processos organizacionais e produtivos e a tecnologia genética. Portanto, o~ primeiro capítulo da transformação do agricultor tradicional para muito mais comprometido. tem por um objetivo, analisar produtor muito alta o processo mais racional e j z ' 'tor No segundo capítulo, ér analisado a implicação da passagem do agricultor para produ- e a forma gradual da globalização não só de sua produção do, enquanto volvem o homem. Inicia uma análise mas também das condições, conflitos de contradições que en- setor agrícola e dentro das quais podem encontrar-se um compromisso com o rompimento da condição de subalterno e de trabalhador desqualificado. sociedade, a lógica do progresso estão impondo os sanal. Mas é importante constatar e reconhecer lirnites que estas ção de suas ações. O poder da agroindústria exercido deve como uma concebido estrutura de laboriosa produção de “corpos dóceis” › ou A matéria, a para as ações de cunho artecircunstâncias, quenos agricultores “não têm outra escolha” não são de per ser dele integra- si na qual os pe- uma dissolução ou nega- sobre o produtor integrado, não dominação firmada e compromissada sujeitos submissos com a com comportamentos de 8 autômatos. O “poder” do agro-industrial está regulado por relações de autonomia e de deP endência e P ortanto de interação. Éo fl ue exPressa Giddens: “Mas todas as formas de dependência oferecem alguns recursos por meio dos quais aqueles que são subordinados podem influenciar as atividades de seus superiores” (Giddens, do produtor integrado em ser responsável 1989:12). Assim, a condição pelas próprias atividades, habilitam-no a ar- gumentar as razões dessa mesma responsabilidade. Uma auto-responsabilidade que en- contra justificativa compartilhada no reconhecimento de que todos osseres humanos são dotados de potencialidades e capacidades No terceiro capítulo, Humano intelectuais. e cognoscitivas.. buscam-se as bases teóricas e materiais 'da gênese do Trabalho Abstrato. Seguindo' a lógica do desenvolvimento das formas materiais, mem está em condições de, pela apreensão trato, transformar-se num ser conceitual, tornando-a mais humana e mais o» ho- do devir legado pelo Trabalho Humano Abscapaz de solidária. E, abstrair' a materialidade do mundo, no eixo dessa possibilidade conceitual, o quarto capítulo analisa a reorganização dos processos produtivos, de forma ampla e geral e as contrações das grandezas tempo/espaço. A medida que o binômio tempo/espaço fica submetido mais amplamente ao- domínio da ciência, da genética ea da informatização, exi- uma rápida e constante adequação do modo de ser, do modo de agir e do modo de pensar, como elementos necessários para uma existência mais plena. Destaca-se como ge-se fator relevante ar, do extremo sucesso da produção agro-industrial sobre a produção domiciliar e tradicional ao triunfo gradas. famili- da concentração tecnológica nas propriedades inte- Coma tecnologia que implica num domínio extremamente maior e mais racional do binômio tempo/espaço, o mercado tradicional familiar perde existência dentro dos parâmetros de acumulação capitalista. a razão material de sua Nessa racionalidade está presente a necessidade de deixar de lado hábitos desordenados de trabalho qüente adoção de ações Também este com extrema regularidade, invariabilidade e capítulo avança, embasado em a conse- sistematização. Marx, Hegel e Etges, na perspectiva da superação radical da estrutura das relações sociais opressoras e simuladoras de perenidade. eo com cunho À luz do conceito de Trabalho Humano Abstrato e suas reais possibilida- des conceituais e materiais, postas hoje pelo avanço fantástico da tecnologia cientifica está dada a possibilidade do declínio da magnitude de trabalho empregado como gerador de riqueza. Rapidamente o valor passa a ter uma nova fonte: a da qualidade e do volume de satisfação que pode proporcionar. Essa profunda transfomiação, expondo mais intensamente a matéria como submissa ao homem, não escapa ao produtor integrado. O seu 9 cotidiano contato com a moderna engenharia genética e modernas onais e de equipamento, aproximam-no do tempo livre. A partir retomar à produção tradicional basicamente de exclusiva estruturas organizaci- não pretende daí ele subsistência. Deseja sim, imensamente ver a quantidade e a qualidade de seu produto exposto nas mesa da “Aldeia Global”. Renega as formas tradicionais de produção letização, em nada podem contribuir para resolver ot vitrines e agrícola, cuja na obso- grave problema da alimentação do homem planetário. Os principais pressupostos teórico/metodológicos, encontram sustento: a) Nem na prática da agricultura de quase exclusiva produção para a subsistência nem e. como produtor integrado, o duto. No agricultor exercia ou exerce o controle do preço de seu pro- entanto pela vastidão de abertura e de oportunidades em poder contatar com modernas tecnologias produtivas, organizacionais e da engenharia genética, esta resulta como grande perspectiva de saída do arcaísmo do seu limitado estado social político e cognoscivo. b) Uma vez inserido na nova racionalidade produtiva, o integrado se apossa de elementos estruturais dessa nova prática produtiva, que ampliam as suas condições produtivas, nando-se a alavanca de sua universalização c) ea tor- autonomização. A medida que a magnitude do tempo de trabalho imediato deixa de ser o fator único e imprescindível de geração da riqueza e “a produção passa a depender do “estado geral da ciência e balho), do progresso da tecnologia°_” (Etges, 1994:09 Sociedade do Trabalho sem Tra- põem-se efetivamente as condições da sociedade do não-emprego que princípio organizador o Trabalho trato é ordena Humano Abstrato. Também o Trabalho o princípio organizador do trabalho produtivo do integrado. e' determina todas as formas da produção do integrado. de como Humano Abs- É ele o princípio O Trabalho que Humano em valor que por sua vez se transforma em capital, põem as liberação do homem integrado das condições do trabalho manual, Abstrato, que se transforma efetivas condições terá que passa a realizar-se como trabalhador intelectual abstrato e livre. W _ 'r CAPÍTULO I A PRODUÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO I.1 - O meio A COLONIZAÇÃO DO OESTE CATARINENSE rural do Brasil, sua preocupação desde O período sistema latifundiário com em áreas ocupação e transformação colonial. sólida base produtivas foi A forma de ocupação que passou a emergir foi o na relação» escravagista.. Já. devido amanifestações contrárias à escravidão, aliado ainda às- no Período» Imperial, dificuldades de trazer os escravos negros, pelo bloqueio imposto pelos. ingleses, tornam-se necessários a elaboração de novas estratégias territórios nativos e improdutivos ram as normas que que garantam a ocupação e a produtividade dos em termos Foi assim que se estabelece- agrícolas. viabilizaram a execução de uma política gração de trabalhadores que pudessem atuar livremente, edade de terras rurais. que permitisse com direito Foi neste sentido que divulgações foram feitas a imi- à posse e propri- nos países da Eu- ropa, promulgando as facilidades para a aquisição de terras no Brasil. Especificamente o Governo Brasileiro dirigiu sua atenção e divulgação da vinda de agricultores conhecedores da mais domésticos, dentro de lida na Europa, visando a possibilidade com a terra, bem como da lida com ani- um sistema mais modernizado das técnicas produtivas além de estes grupos humanos apresentarem aspectos culturais e visões de mundo superiores aos escravos africanos e A mesmo aos índios brasileiros. vinda dos irnigrantes europeus e o seu estabelecimento no Brasil, principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná como pequenos proprie, tários, não significou a ruptura do sistema com nítidos traços de servidão e escravidão. a ver nos projetos de colonização os. latifundiário já Mesmo assim a _ elite latifundiária passou uma ameaça aos privilégios dos quais eram beneficiári- Apesar da colocação de vários obstáculos, dentre subsídios amplamente difundido e eles os sucessivos cortes que haviam sido» assegurados, servindo de estímulo à imigração, de várias regi- ões foram sendo ocupadas pelos imigrantes europeus e no caso específico imigrantes não portugueses. Nessa ocupação a prática agrícola diversifica a produção, ao contrário e em oposição às monoculturas dos latifúndios e firma-se, embora com bastante dade, a pequena propriedade como produtora de riqueza. fragili- 12 A partir de 1820, o Vale do Rio dos Sinos, no em Santa Catarina, vez dos imigrantes A . italianos ocuparem de Santa Catarina Sul, região Sul Paraná começam a receber vinda e, Rio Grande do Sul e o Vale do Itajaí imigrantes alemães., Por volta de 1870, é a terras na região serrana do Rio Grande do em menor intensidade regiões do Estado um modelo desses imigrantes permitiu a expansão de do de produção agrícola de pequenas propriedades e de produção familiar.. Estes agricultores ao- aqui chegarem, trataram de preservar a herança cultural, referiam-se tanto a aspectos econômicos, em cuja bagagem os traços típicos políticos, religiosos, sociais e morais. Isto permitiu a fomiação das peculiaridades de cada núcleo de igual origem. Já a colonização do Oeste Catarinense, tem início no final do século passado. Basi- camente os agricultores que aqui chegaram são descendentes dos imigrantes europeus que viam tornar-se impossível a reprodução da pequena propriedade, devido a escassez e mesmo falta de terra, e nem mais possível a redivisão da propriedade em outras me- nores ainda. Outro aspecto que induz à impossibilidade da reprodução, é a exploração imposta pelo capital ao pequeno proprietário. Inicia-se assim cujo vetor aponta para or uma rota migratória, Norte, tomando-se conhecido entre os agricultores como o “Caminho do Norte”. As propriedades a serem adquiridas, representavam pequenos lotes, numa média aproximada de 25 hectares. Elas podiam ser adquiridas junto às empresas colonizadoras, notadamente de origem gaúcha. A presas colonizadores, era normahnente forma de obtenção das pagamento por prestação de como: aberturas de estradas e construção de compromisso de em dividi-las terras ferrovias. Estas lotes, vendê-las e fazer pelas serviços, tais empresas ficavam com que fossem em- com o ocupadas, tor- nando assim a região produtiva. No polis caso específico da região que abrange os hoje municípios de Itapiranga, Tuná- e São João do Oeste, a Deutschen Katholiken - empresa colonizadora foi a Volksverein fiir Sociedade Popular para Católicos de Lingua Alemã. Essa empresa colonizadora adquiriu em torno de 58.500 hectares de terra da Empresa PeperiChapeeó, situados entre os rios Uruguai, Peperi-Guaçú, e das Antas. A Volksverein, 13 também conhecida como Sociedade União Popular Theodor Amstad. No SUP, - congresso dos católicos realizado em foi criada 1912 pelo Pe. em Novo Hamburgo nos- dias 14 a 16 de março de 1925, decidiu-se pela organização de expedições para conhecimento das terras a serem adquiridas. Neste congresso Caixa Rural Itapiranga. - também marcaram presença 53 Novo para juntos decidirem os caminhos da colonização de Porto Uma das chegou no dia 10 de expedições foi organizada pelo Pe. abril de 1926. Ao Max Von - em seu interior ber- bem como pés de milho e de mandioca. Posterior:. como Como bem autores das plantações. frisa Deutschen Katholiken, a Companhia Religiosa dos Padres Pe. Max von Lassberg, funda a colônia Porto Novo. No pioneiros. De volta para as Jesuítas, sob o comando do dia 11 de abril de 1926 o Pe. um “Colônias Velhas” - monumento- em RS, iniciam-se as campanhas para a imigração com slogans, como: “ das schönes land” Paralelamente instala-se o filtro de indi- o nome, Volksverein fiír Lassberg reza a primeira missa, local atuahnente identificado por homenagem aos hoje atravessarem o rio Uruguai, encontraram a hoje mente constatou-se a presença dos “wald leuferes”- andarilhos do mato caboclos e genas, - Lassberg, que aqui sede de Itapiranga, desmatada e coberta. por capoeira, destacando-se gamoteiras, laranjeiras e limoeiros, caixeiros - as lindas terras. ordem étnica e religiosa, uma vez que só se permitia a entrada de imigrantes de origem alemã e católicos. Sendo de origem alemã, mas não católico era lhe dado a oportunidade de ser batizado, tomando-se católico, satisfazendo assim as condições- de permanência. Esse controle da religião e da língua foi mantido até o ano de 1965. Inicialmente o atendimento religioso era Família. Em 01 de Ofenhitzer da SSJ abril `- Ordem da Sagrada Família. Novo Em Nan em 19294é substituído pelo cura Pe. 1930. Por desentendimentps e pela da Colonizadora e os padres, fez-se a troca 1931, com a vinda do Pe.. João Riek. idéias entre a Diretoria pela congregação dos Pe. Jesuítas No Padres da Sagrada de 1927, chega a Porto- Novo o primeiro cura, Pe. Henrique Pedro Ver Haelen, seguido do Pe. Miguel não comunhão de feito pelo em entanto, é preciso salientar que a primeira família de brancos, moradora de Porto foi a de Johan e Margarida Düngersleber, vinda da Alemanha trando via Porto Feliz - hoje Chapéu. Esta farnília chegou Mondaí em - 1925. O1 de Maio de 1938. Itapiranga é e fixando residência com 10 filhos, en- em Linha Poná - hoje Linha PortoNovo passou a denominar-se Itapiranga em um nome de origem indígena - guarani - que quer dizer Pedra Vermelha. Aqui encontram-se muitas pedras dessa cor. A primeira escola iniciou 14 em 19 de abril de suas atividades de ensino 1927, com 20 alunos, tendo como Prof. o Pe. Henrique Ofenhitzer. Professores leigos só eram aceitos após terem passado pela aprovação junto aos padres. Em 14 de janeiro de 193 8, chegam à Itapiranga a Congregação das Irmãs da Divina Providência, ficando responsáveis pelos setores da saúde e da educação. Já em dezembro desse ano de 1938, inaugura-se o Hospital Sagrada Família, ain- da hoje existente e administrado pelas irmãs. Destaca-se na área da saúde a presença das parteiras, 1927. Neff, sendo que a primeira, a senhora Elizabeta Rost, A partir de 1933, Porto mas que por motivos Novo contava com políticos instalou-se inicia suas atividades a presença do médico Sr. em Ulrich S. na comunidade de Sede Capela, distante da sede 6,5 km(1). 1.2- A FoRMAÇÃo ECONÔMICA no oEsTE CATARINENSE I.2.a Como - EM BUSCA DA CoMERCIAL1zAÇÃo nas “colônias velhas” do Rio Grande do Sul, as práticas agrícolas já eram estritamente para uma agricultura de subsistência, apresentando significativos índices comerciais, os imigrantes produção em escala comercial. que aqui chegaram deram continuidade ao processo de Processava-se assim a continuidade da prática da agricul- As dificuldades tura comercial que já não lhes era estranha. precariedade dos instrumentos para galinheiros, chiqueiros e estrebarias, oi iniciais, devido a desmatamento, construção de casas, galpões, bem como da obtenção de sementes para o vo, aliado às dificuldades de transporte, obrigaram cultura de subsistência nos primeiros anos. foram sendo superados não iniciou-se aqui o Mas culti- os agricultores à prática da agri- tão logo esses entraves e obstruções processo de produção em escala comercial. Produzir excedentes para o mercado, além de ser urna necessidade, para que pudessem comprar aquilo que não podiam ou mesmo não queriam produzir na propriedade, ué tam- bém uma necessidade de lhas” do Rio Grande do externar um valor manda nacional, que que era de praxe nas “colônias ve- Sul, já trazido pelos imigrantes de origem. Caracteriza-se ainda como consumidores urbanos. cultural Como um elo alemães e italianos de seus países de ligação entre produtores agrícolas e estímulo à produção de excedentes, temos a própria de- aqui se fez presente através de firmas que se localizavam no Rio de 15 Janeiro e principalmente São Paulo. Essa demanda nacional, exigia principalmente came de porco, banha, manteiga e galinha caipira. Tão logo as condições permitiram e, possibilidades de transporte se ofereceram, começaram a ante de Porto Novo foi o O primeiro comerci- pequenos estabelecimentoscomerciais. se constituir Sr. A ele seguem-se outros, sendo que a iniciati- Serafim Rech. va normahnente partia de algum dos novos imigrantes. Estes estabelecimentos» comerciais, fixavam-se em tando-se desde logo comunidades locais destinados a também os locais serem os centros/sedes das localidades, proje- para a escola e a se anteciparam 'à instalação dos que igreja, em inúmeras estabelecimentos comerciais. Esses de intermediadores comerciais pequenos comerciantes passaram a garantir e servir passando via repasse a fornecer aquilo que os agricultores estavam impedidos ou não queriam produzir. Os comerciantes passaram a fornecer o tecido em metro - usado para a confecção da roupa de trabalho e de domingo para queimar nas lamparinas que serviam de fonte de luz pás, foices, facões, machados, dustrializados. Em -, o serrotes, a querosene -, - ferramentas agrícolas como: enxadas, sal, armas e munições, e outros produtos in- contrapartida os comerciantes recebiam - compravam - os produ- tos agrícolas excedentes dos pequenos proprietários, possibilitando o seu escoamento para os centros industriais. Para fazer esse escoamento dos produtos agrícolas, considerados excedentes, os agricultores produtores não dispunham dos recursos financeiros e materiais para realizar o deslocamento até o que faz o comerciante entrar vida dos agricultores. ais, A em ligação ~ permitiu a constituiçao de cena, tomando-se mercado consumidor. um dos comerciantes locais com ele os setores industri- o~ um capital comercial emergente na regiao. O comerciante passa a ser uma espécie fatos e até pessoas, tudo esse fato elemento quase que central na Esse capital comercial fortaleceu a figura do comerciante, de característica. É uma fomia peculiar de central de pedidos de coisas, em nome da “amizade” e da “confiança” comercial e política. o agricultor leva as lamentações como: falta e de braços - filhos ainda pequenos -, A falta de sementes, de reprodutores, ausência de assistência técnica e financeira, o não encontrar run liares. preço justo para os produtos produzidos e, muitas vezes até de problemas fami- Acaba o comerciante tomando-se uma espécie de conselheiro para tudo todos. Esta busca de conselhos, ou simplesmente o ato de lamentar-se, e para toma o comerci- 16 ante um elemento O importante. seu poder sobre os agricultores se expande gradativa- mente e por outro lado força o aumento da relação de dependência do agricultor lação a ele. em re- O comerciante passa a ser um alguém que sabe mais, que tem mais, e estar de seu lado significa “status”. Daí ele não faltar em festas de casamento, ser o eleito integrar diretorias, para representar a comunidade, ser o escolhido para padrinho filhos. São significativos- os casos de dois filhos de uma mesma em que o família. casal comerciante são padrinho e uma Esta situação toda é que demonstra com precisão o estado de fragilidade mostra, para dos madrinha um diagnóstico em que se debatia o agricultor. Compreender e desvelar a centralidade do comerciante na vida do pequeno produtor agrícola, é fundamental para entender e apreender industrial, na medida em que ele passa a ser o a posterior relação com o agro- comercializador de sua produção. Basica- mente ocorreu uma transferência da relação de dependência: do comerciante para o agro-industrial. Significa compreender que a propalada dependência do produtor inte- grado da agroindústria não é exclusivamente produto da penetração destas empresas ' industriais capitalistas. Conforme - frisado acima, o papel do comerciante não se restringia ã aquisição dos produtos excedentes produzidos pelos agricultores, mas também fornecia tudo o que eles precisavam. Na maioria dos casos as compras eram feitas uma espécie de exigia uma troca de dinheiro e o agricultor “conta corrente” junto ao comerciante. Esta relação estabele- mantinha cida sem confiança. produção destinada à venda. O agricultor se comprometia a Com isso a “conta corrente” lhe entregar toda a sofria constantes atualizações e variações entre crédito e débito. Pela supremacia econômica, conhecimento do ato de comercializar, por exercer entender que agricultor, no que seio espécie de dominio cultural e político, não é dificil de quem fixava os preços dos produtos a serem vendidos ou comprados pelo era o comerciante. Dessa compreensão e mesmo uma análise, deduz-se que a existência de liberdade para comerciar e para estabelecer preço para seus produtos, não se constitui uma prática histórica dos pequenos agricultores. Contraditoriamente o produtor agrícola tem quase assírnilado agro-industrial a condição de espera pelo outro - - comerciante, governo: preço mínimo, para eles fixarem o preço para seus produtos. O atual sistema de inte- 17 gração compareceu para dar uma nova forma e uma maior racionalidade a essa prática já antiga e tradicional. Sabia o produtor agrícola e sabia- oz comerciante o tamanho da rela- ção de dependência que haviam estabelecido. Para o agricultor, o não fomecimento dos produtos excedentes, quando existiam e a conseqüente não quitação de parte ou da “conta corrente”, implicava num possível não outras mercadorias necessárias. fornecimento por parte do comerciante de Com certeza isto ternativas de sobrevivência até a próxima significava a existência de poucas Para o comerciante o não recebimento safra. dos excedentes agrícolas implicava no não pagamento das dívidas culdades para a continuidade de seus negócios. um compromisso al- _ o- que significava difi- A relação caracteriza-se então como mútuo. Apesar de este compromisso ou acordo ser apenas informal, o agricultor dificilmente entregava a sua É uma produção excedente a outro comerciante. relação que se configura na troca de bens distintos, portanto ela é assimétrica e persiste enquanto houver As um saldo devedor. caracteristicas dessa relação grado e agro-industrial. marcam significativa presença É a agroindústria que determina e impõe na atual relação inte- o preço, exige exclusi- vidade na entrega da produção, exerce significativa influência cultural, domina mais e melhor o conhecimento técnico científico, têm maior representatividade supremacia de seu poder econômico-. isto pela É política. Tudo importante salientar que aqui, grande Oeste Catarinense, os produtores agrícolas estiveram historicamente, dependentes dos comerciantes e com raríssimas exceções, em nenhum momento- participaram da fixação de preços, tanto de produtos que colocavam à venda, quanto dos que compravam para o consumo. . Pela tradição dos pequenos agricultores descendentes tanto de alemães quanto de italianos na criação de porcos, de gado, e consequentemente embutidos, se bem como na tradição do plantio de uva, fumo a expansão desses setores. O do fabrico de queijos e e vários cereais, possibilitou- desenvolvimento da oportunidade de expansão da produção de porcos esteve também aliada à associação do capital comercial local ao capital industrial das indústrias do setor de carnes, principahnente de São Paulo. Na se- qüência desse processo de comerciar a carne de porco, a região do Oeste Catarinense prepara-se para a constituição e implantação de frigorificos abatedores de porcos. 18 Assim, a partir de 1940, numa associação do capital comercial e de fundos de reserva dos pequenos agricultores, iniciou-se a construção dos primeiros fiigoríficos, que passam a partir de então a comprar e industrializar a produção de porcos da região. cio e ainda por um razoável período de tempo No iní- esta comercialização é intermediada pelo comerciante, proprietário dos caminhões de coleta e de transporte até o frigorífico de abate. servir Na sua quase totalidade, o dinheiro investido pelos agricultores, que como forma de aquisição de cotas ou título de sócio ou acionista. ações ou cotas perderam totalmente o seu valor atualizados dentro do grande I.2.I› - Amparado em fase sem retorno, negando-lhes com ações, junto às empresas frigoríficas de formação, na realidade não passou de contribuições o passar do tempo o deveria Em outras oportunidades em função aschamadas de não serem reajustados ou fluxo de trocas e cortes na nossa moeda. SURGEM As AGROINDÚSTRIAS nesta nova modalidade de exploração e intervenção, cria-se em 1940 o PERDIGÃO S/A COMÉRCIO E INDÚSTRIA em Videira. Segue em 1942, na município da Joaçaba aampfaaa CoMERCIo E INDÚSTRIA SAÚLLE PAGNONCELLI. Em 1943 é a vez. ,da SOCIEDADE ANÔNIMA INDÚSTRIA E CoMÉRCIO CONCORDIA, em Concórdia. Este nome muda em 1944, passando a ser SOA CIEDADE AN ONIMA CONCORDIA - SADIA. Em 1952, no rnunicípio de Chapecó, cria-se a SOCIEDADE ANÔNIMA INDÚSTRIA E COMÉRCIO CHAPECÓ - SAICC -, atualrnente denorninada de CHAPECÓ INDUSTRIAL. No- município de Seara, criase em 1956 ó FRIGORÍFICO SEARA, cuja denominação atual é SEARA INDUSTRIAL. Já- em 1962, no município de Itapiranga, funda-se a SOCIEDADE ANÔNIMA FRIGORÍFICO ITAPIRANGA - SAFRITA. No município de Salto Veloso, em 1963 cria-se a UNIFRICO _ SQCIEDADE ANÔNIMA INDÚSTRIA E COMERCIO. No município de Ouro funda-se a INDÚSTRIAS REUNIDAS OURO SOCIEDADE ANÔNIMA e, em Chapecó a.COOPERATIVA CENTRAL OESTE CATARINENSE, ambos em 1969. FRIGORÍFICO SÃO CARLOS no município de São Carlos em 1975. fiigorífico ' r Como as décadas de setenta e oitenta são economicamente, também aqui a consideradas a nível nacional, mortas crise generalizada se fez sentir. Aliada ou amparada um grave revés. 'O resultado na famigerada peste suína afiicana, a Suinocultura sofieu 19 sem dúvida drástico para os produtores de foi cos do com menor potencial foi suínos e também para os econômico, sucumbindo diante da benéfico, pois possibilitou crise. setores frigorífi- Para outros o resulta- uma grande concentração de capital industrial. Do total de empresas instaladas, cinco sucumbiram, sendo incorporadas às cinco maiores. Esse processo de concentração e contração ocorreu basicamente no quadriênio 1978 a 1982. Como exemplo temos os grupo PERDIGÃO, de Videira, PAGNONCELLI e INDÚSTRIAS REUNIDAS OURO; do município de Blumenau, adquiriu os frigoríficos SEARA INDUSTRIAL S/A. o grupo HERING-CEVAL, SEARA e SAFRITA, constituindo 'a ` _ novo contexto e na nova Neste' que adquiriu os frigoríficos et atual configuração do-potencial econômico» dominando cem porcento do mercado produtor de aves e suínos, agro-industrial e temos as cinco empresas restantes, quais sejam: SADIA, PERDIGÃO, SEARA IN- DUSTRIAL, GRUPO CHAPECÓ E COOPERCENTRAL. Estas empresas mantém unidades industriais em várias regiões do Brasil e hoje com a integração do MERCOSUL, com projetos de expansão para o exterior.. I.3 - tria NOVA GENÉTICA: NOVAS FORMAS DE PRODUZIR É importante ressaltar aqui que ou frigorífico era intermediada da ligação do pequeno agricultor pelo comerciante da localidade. Este fato ocorria quando ainda o porco era levado para os frigoríficos de São Paulo meiras décadas em coma indús- e, também nas pri- que os porcos passaram a ser abatidos na própria região. Iniciahnente os agricultores produziam e comercializavam o porco mais conhecido como porco comum, porco tipo 14 meses. Uma banha, cujo abate ocorria com uma média de idade de de suas principais características era a espessa camada de gordura banha - e partes de gordura associadas à carne. Neste contexto, não havia contatoto nem controle, nem relação direta do agricultor entanto talvez motivado pelo excesso de gordura do um substituto à banha - a extração de óleo da - banha soja, com - dire- a indústria de abate. No e talvez por se ter encontra- ou mesmo outros óleos vegetais, motivado ainda pelos reclames do excesso de gordura na própria carne de porco, exigências do mercado exportador, por - por alusões sanitárias e de doenças atribuídas ao 20 consumo da came e gordura animal intervir diretamentezno A colesterol sutil ela inicia um do comerciante para o forma de produzir do ta de melhoria estrutural elas destinada. agro-industrial. Tem início o processo da troca de depen- A intervenção agricultor, apresenta-se em da agroindústria sobre todos os momentos e econômica da propriedade. É um processo tem parâmetros para proceder uma lento todas momento o de, 'a como um rearranjo mas seguproprie- avaliação da perda de controle sobre a produção em ser controlada com os quais por elementos de fora de sua proprieda- por agentes extemos. Para esses agricultores, a integração a apresenta-se as a face- não sua propriedade. Relativamente a sua produção, ou pelos a dos produtos estabelece a integração, passa com a agricultor indiretamente. Possivelmente no primeiro ou De processo de subordinação do pequeno proprietário ro e que se estende de forma absorvente e inevitavelmente atinge dades direta decidem as indústrias frigoríficas evidenciar-se na década de 1950. começa a dependente até então do comerciante. dência: -, mercado produtor da matéria prima a intervenção da agroindústria, uma forma muito rural, - uma agroindústria, nas formas de produzir, comercializar e consumir, sem dúvida importantes, mas inovadoras- em com características que muitas vezes lhe são estranhas. Como acima referido, foi na década de 1950 que o processo de intervenção tem iní- Começa coma introdução de uma nova raça de suínos, que gradativamente passa a substituir o porco tipo banha. Foi o grupo SADIA, que trouxe reprodutores e matrizes cio. da raça DUROC JERSEY, importados dos Estados Unidos. Entre os este porco passou a ser chamado de porco- vermelho, devido agricultores, a cor vermelha de seus Uma das características do DUROC é o seu maior potencial produtivo de came, bem como um maior potencial de conversão alimentar - maior peso, com menor con- pêlos. stuno de alimento e também, cada de 1960, o LARGE WHITE em menor espaço mesmo grupo SADIA, e LANDRASSE. de tempo pronto para o abate. Já na dé- introduz as raças- européias denominadas de Entre os agricultores estas tomam-se conhecidas Com um potencial produtivo maior ainda de came, em relação ao DUROC, e consequentemente um maior valor comercial, como porco branco, por apresentar pelagem branca. o porco branco é o mais indicado e incentivado, passando por maior escala. isso a ser produzido em 21 Como forma LARGE WHITE, preferenciahnente do preços no mercado, para os ram a praticar e bém atrelada a' os frigorificos passam também diferentes um tipo de preço categorizar uma DUROC ou de forçar o agricultor a optar pela produção do inicial tipos ou a praticar raças de suínos. diferentes Assim começa- para o porco- branco, ou tipo came, tam- determinada faixa de peso, outro preço para o porco misto - DU- ROC - ou_ o branco acima da faixa de peso, e um terceiro preço, obviamente menor ainda, para o porco tipo banha ou o DUROC acima da faixa de peso. Esta diferenciação de preço para o porco com foi um forte argumento para que os agricultores rompessem a prática e o costume de criarem o porco tipo banha. Diante da escala hierárquica fixada para os suínos, agroindústria .encontrou modelo produtor ficava uma em um instrumento reorganização de toda a propriedade de então se fez necessário, para que passaram a LANDRASSE ser maiores. o- preços, a eficiente para provocar a derrocada do vigor até então. Substituir a raça suína normas e procedimentos com relação aos exigidos, nos tipificando e estabelecendo» diferenciação suínos. bem como com Todo e, mais ainda Os cuidados exigiam cuidados especiais deste a ninhada, o» signi- a prática de novas um novo aprendizado, projeto tivesse êxito. O DUROC na propriedade a partir sanitários LARGE WHITE e via um programa o de vacinação, até a construção de chiqueiros mais adequados e fechados, pois o tipo banha normalmente era criado solto em cercados abertos e expostos ao tempo. O trato passou a ser diferente: o porco preto recebia algumas espigas de milho, das quais muitas vezes nem se tirava a palha. que era cozinhando-se batata-doce, mandioca, abóbora e a chamada melancia de feita Este trato geralmente era acompanhado da lavagem, porco, produtos oriundos da propriedade. Já as raças novas exigiam o milho quebrado, feito em forma de ração e mais ainda, ração balanceada, ou como ficou conhecida entre os agricultores: “o trato seco”. No momento em que deu a lidar de forma eficiente acúmulo de or. as agroindústrias capital para si, com começam a perceber que o agricultor apren- as novas raças e que estas permitiam um maior projetam e passam a executar urna intervenção ainda mai- Assim, a partir da década de 1960, novos argumentos são usados e justificam a introdução de novos elementos de intervenção nas propriedades, principahnente naquelas onde o potencial produtivo e a aprendizagem foram mais eficientes. O Grupo SA- 22 DIA, cria ` o sistema de fomento, passando a dispensar o comerciante como intermedi- ário e acertando com 0 agricultor a aquisição de toda a sua produção. desse momento, portanto, a produção com exclusividade. Começa a partir A agroindústria passa a pro- duzir a ração- balanceada “trato seco”, fornecendo-a ao agricultor e a ser paga com o de suínos quando do seu abate. Esse modelo rapidamente passa a ser seguido pelas lote A integração demais agroindústrias. de agricultores, produtores de suínos, passou por um processo lento e gradativo, para que o produtor acompanhasse e se adaptasse à evolução da técnica exigida no manejo dessas novas raças de suínos. No início as agroindústambém em fase trias, experimental, aceitavam os integrados exigido a renovação das instalações e duas ou três criadeiras, e em paralelo um número fosse “x” de criadeiras. Bastava adquirir um reprodutor e propor-se a ampliar gradativamente este número também melhorar preestabelecidos. Já ou sem que dos mesmos as instalações, agora com a integração foi e é feita via ”pacote”. Exigia-se sirn, dentro de padrões técnicos de aves, a implantação é instantânea, ou a construção do aviário de 100 seja, ela m por 12 m ou de 50 m por 12 m, com capacidades respectivamente para 12 mil e 6 mil frangos. Na década de 1960, inicia-se pois a produção de frangos. nome de Sistema de Integração. Por meio de um dia, a ração, a medicação cultor entra ea e- modelo dá-se explícita, a agroindústria fomece os pintinhos dele, a assistência técnica/veterinária necessárias. O agri- bem planejada O Sistema de Integração configura-se hoje como a e _mais eficiente forma de intervenção das agroindústrias nas pequenas propriedades- rurais. . Uma das grandes importâncias que a fomia generalizada de penetração» do modo produção o- com a mão de obra, com as instalações e todos os equipamentos necessários indispensáveis dentro do aviário. mais A esse capitalista representa para o meio rural, a partir da década de 1960, é o desen- volvimento e a transformação do antigo padrão de produção para a sobrevivência, comercialização dos só excedentes, de em uma forma de produção com para o mercado. E, ela aqui se expressa de forma mais intensa na geração de Luna produção alimentar em escala capaz de atender a demanda não só do mercado urbano nacional mas também exportador - fiango e suíno. 23 1.4 - .PRODUÇÃO AGRÍCOLA EM ESCALA INDUsTR1ALz A NECESSIDADE DA AGROINDÚSTRIA A anterior caracterização da situação agrícola do Oeste Catarinense não é algo uma exclusivo da nossa região; Ela reflete nível ra. É de país passa a ser incorporado como realidade maior. É o espelho daquilo que a uma nova prática produtiva para a agricultu- a partir de 1960 que a agricultura passa a caracterizar-se por uma redefinição das relações entre a indústria e a agricultura, a partir do início exatamente do desenvolvi- mento das agroindústrias. As agroindústrias tomam necessário a re-estruturação» dos mecanismos e formas de produção agricola viabilizando O seu ingresso no produção industrial. bem como prima para posterior transformação ao modelo de produção capitalista, pais pela agroindústria que industrial. enquadrar-se como produtora de maté- Essa espécie de intercâmbio, necessário passa a ser intermediado aqui e nas demais regiões do assume o comando do processo de implantação dessa organização produtiva no setor agricola. dicionais da A agricultura do país precisa adaptar-se ao consumo de insumos e máquinas produzidas industriahnente, ria circuito Com relação à força de trabalho, re- as fomias tra- de exploração, são substituídas por novas formas, agora com presença de fortes traços de exploração da mais valia relativa, que encontra parâmetros no potencial de capitalização da pequena produção, que a bem ver toma-se o eixo central da re- estruturação das formas e dos conteúdos das novas relações de produção. Também aqui, a praticamente única opção trada no modelo da produção agro-industrial, que resta ao pequeno agricultor é a en- ou ser gradativamente empurrado à mar- gem dos processos produtivos,-pela baixa produtividade que representa e apresenta. Esse era o impasse sem opcional ao agricultor. Para a agroindústria e a implantação industrial na produção agrícola, era preciso romper setor agrícola. Pois de fomia geral no com as relações tradicionais de dominação no país: “O eraconsiderado O maior impedipara desenvolvimento o das forças produtivas na agricultura e na geração de um mercado interno para a indústria nacional, além do que os donos da terra eram considerados mento latifúndio os principais aliados 1980:23) (2) do imperialismo”. (Sorj; 24 argumento para a integração encontra-se a lógica da produção que se fim- Como damenta no assegurar das condições mínimas de reprodução da estrutura agrícola. Refere-se meio consumo básicos que riza se por produção uma também às expectativas do familiar agricultor de ingresso nos no moldes de caracteriza e são determinados pela sociedade capitalista. Caracte- integração por expressar a adaptaçao da expansão capitalista, à em pequena escala, submetendo de outro lado o pequeno proprietário à uma signi- indusficativas transformações na sua estrutura interna, jogando-o no grande mercado comercial e financeiro que, trial, integração, é pois sibilita que em princípio podem uma situação de ajuste do mercado integrá-lo ou marginalizá-lo. e ao: mercado. Ela modifica e pos- maiores e melhores oportunidades de acesso donprodutor agrícola aos insumos. de necessita, tanto quanto em termos decisão de integrar ou não, é ria-prima a ser produzida e de segurança na colocação da sua produção. com os insumos necessários para tal. mediados pela agroindústria, como na siderurgia, no A uma decisão com estreita relação com o mercado da maté- Podem-se associar as expressivas expansões no setor de produção país, A uma agrícola, inter- necessidade da própria expansão industrial no setor de máquinas automotrizes, na indústria quírnica, farmacêuti- na engenharia genética, na busca de novos campos de consumo, novos campos de dos valoração e maximização dos lucros. Diante do aceleramento da produção industrial, ca, incentivos a um maior índice de consumo torna-se necessário a expansão da produção de uma conseqüente adequação É uma revolução que como tal excedentes agrícolas. Torna-se necessário a existência de das forças produtivas agrícolas à economia industrial. exiprecisa concretizar-se. Paralelamente ao aumento do mercado consumidor existe a implantagência do crescimento acelerado da produção agrícola. Abre-se a porta para a ção dasagroindústrias. em fase de esgotamento tria, Os limites que se auto-impõe às formas produtivas artesanais já e ao padrão de expansão, constituem-se estímulos à agroindús- que se apresenta como forma de incrementar a produtividade agrícola. A implantação das agroindústrias em nenhuma parte do país, ocorre pois de forma isolada. Ela se faz acompanhar de toda uma rede de indústrias a fornecerem produtos industrializados básicos para a sua implantação e expansão. No Oeste Catarinense, es- de pecificamente ela se faz acompanhar das indústrias de produção de rações. Assim, 1966 a 1986, diversas firmas multinacionais se instalam no país e ingressam no- mercado. 25 Dentre outras, as que mais aqui se fizeram presentes e ainda estão operando são a Purina ambas de e a Cargill, capital norte-americano-. Elas são elementos importantes para o desenvolvimento e implantação do processo de modernização das instalações' e das dades nas propriedades. delas também a iniciativa dos esquemas de ativi- orientação técnica aos produtores, sempre acompanhados de propostas e planos de financiamento para uma maior aceleração da modernização da produção de fi°angos e suínos. Fato que permite uma maior penetração dos produtos, por serem levados diretamente às propriedades para então serem comercializados. O agricultor não necessita sair em sua busca. De forma idêntica, os produtos veterinários começam a chegar aos produtores. As visitas diretas a oferta promocional de produtos,_favorece o' início do consumo. Segundo Frederico, 1979, a liderança do setor veterinário encontra-se nas mãos da Bayer, da Pfizer, da Rhodier, da Ciba-Geigy, da Squigg e da Tortuga. Todas elas tem controle de capital ternacional.(3) - incentivo dado pelos órgãos govemamentais, no nosso caso Associação de Crédito Rural de Santa Catarina - hoje EPAGRI - Empre- sa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. extensão rural, que promovia a modernização agricola e gão propagador dos insumos A quantitativa das caracteristicas produtivas uma totalidade da produção , o órgão de um ór- tomava-se profunda transformação qualitativa e da pequena propriedade produtiva. ção mais intensiva do capitalismo na agricultura, em princípio em paralelo - industriais. modernização agrícola, determina terminando in- Também aqui, estas firmas 'dominaram e dominam até hoje esse mercado. É oportuno também frisar o a ACARESC e impõem seu A penetra- ritmo produtivo, não de- a erradicação do pequeno proprietário na nossa região em pequena escala, mas a fomia de produção. Ela se nem a mantém mas, as características básicas que a sustentam a partir de agora passam a impor trans- formações conduzindo para urna agricultura extremamente capitalizada: “o fato é que o mas mais seguras e Onde já existe uma capital busca sempre as forrentáveis de investimento... fábrica esta continua a se des- envolver através da poupança” (Gramsci; 1987:63)(4). Uma lógica que vale também para a logicamente, tende a crescer. agricultura. As economias, tecno- as poupanças por escassas que sejam tor- nam-se o fermento desse desenvolvimento. Já a capitalistas, A propriedade que produz insistência nas formas produtivas pré- formas produtivas obsoletas, geram instabilidades- _e incertezas e não são de 26 forma alguma atrativas de capital ou locais onde a certeza de nem para o capital. Este irá se colocar em propriedades lucros imediatos e tangíveis são concretas. A transfomiação industrial no setor de alimentos tem implicado em importantes modificações nos costtunes tradicionais do consumo alimentar. Verificou-se isso na substituição de antigos produtos por outros, banha pelos óleos vegetais - o» como é o caso da manteiga pela margarina, da que aqui implicou na gradativa substituição do porco tipo banha pelo suíno tipo carne'-, além de favorecer o aparecimento de toda novos produtos. Ao se suscitar a uma gama de modificação da cesta básica alimentar, exige-se cada vez mais e maiores alterações nas produções agrícolas, na tentativa da' adequação às novas demandas criadas pela agroindústria, cuja conseqüência_é a variação nos hábitos alimentares. As agroindústrias com maior penetração na região, tem o- seu desenvolvimento asse- gurado, por permitirem e estimularem a transformação da agricultura via introdução da modernização tecnológica. sistematizado esquema de Um serviço que é executado visitas às propriedades. pelos técnicos O seu apoio de produtos constante e à modernização agrícola encontra justificativa na necessidade de assegurar uma oferta constante e te em com qualidade e quantidade homogeneizada. Todo esse mesmo crescen- empenho junto às propriedades» encontra fundamento na necessidade das agroindústrias de assegurarem o nível de abastecimento dos produtos mercadorias, o que permite uma maior estabilidade dos preços, apesar das variações e instabilidades do mercado. Exige-se das agroindústrias o atendimento crescente da demanda consumista urbana. De imediato elas percebem a insuficiência de matéria prima fornecida pela produção de subsistência. Implantar Sistema de Integração, passa a ser uma questão de sobrevivência. Seguramente é um uma forma de produção mais estável garantindo por sua vez tuna melhor qualidade dos produtos, sua maior oferta e oferta da, as próprias agroindústrias com preços mais baixos. tal oferta seja garanti- apoiam e dirigem diretamente a modernização especialmente aqui no setor de produção de carnes festa pela presença Para que - agrícola, frango e suíno. Apoio que se mani- dos técnicos, pelo financiamento de reprodutores, tomam-se facilita- dores para financiar melhorias nas instalações, fornecem a ração, os leitões e pintinhos do lote. Por outro lado, estes incentivos transformam-se dos produtores integrados em relação em mecanismos de dependência à agroindústria que lhe forneceu os insumos. A 27 utilização de mecanismos de financiamento e do rígido controle técnico da produção e do contrato de 'compra da produção caracteriza a expansão num- dos pontos fundamentais e que constitui-se da forma de integração de aves e suínos. Por meio dela a agroin- dústria fornece a ração, os animais recém nascidos para serem criados pelos produtores em suas empresas farniliares. Estas empresas familiares fazem lembrar os primórdios da Revolução Industrial e de seus trabalhadores domiciliares. É uma fomia de integração, que certamente dificulta a busca da autonomia produtiva dentro do mercado, mente impossível. mas também que» não a toma total- A grande dependência do produtor, pelo menos na fase inicial do- pro- cesso, caracteriza-se pela existência do contrato pré-fixado com a agroindústria, o que dificulta sobremaneira fomias de solidariedade entre os produtores. Uma possivel solução viável para contrapor com a relação de dependência seria a associação de produtores e a criação de órgãos oriundos de tores que passariam a atuar industriais. como um mesmo grupo de produ- intermediadores entre os produtores e os agro- Entre as inúmeras' atividades que poderiam se propor seria a da racionaliza- ção do crédito, promover a comercialização da produção, desafiarem-se na produção de sementes, garantirem tuna assistência técnica tralizar do melhoramento- como forma de genético- do- plantel; garantir via instalação de comunitários a armazenagem de grãos e o fornecimento da ração; garantir a insta- lação de balanças- coletivas para a ar produtor, garantir e cen- a comercialização de insumos, aventurar-se na pesquisa genética, garantia da qualidade e silos também viável ao pesagem da. produção, ração e insumos a granel; inici- um processo gradativo de implantação da transformação/industrialização da produção. Embora, estas associações pela necessidade do processamento e da administração de enormes volumes tecnológicos e financeiros, correrem o transformarem em modelos similares às agroindústrias. sério risco de elas mesmas se Exemplos de semelhante proce- dimento e também desse final, vemos encontrando terreno entre as cooperativas, COTRIJUÍ no Rio Grande do fomia a concentração como a Sul e aqui a Cooperativa Central de Santa Catarina. Dessa em associações ou cooperativas que ao se tomarem grandes, não implicam necessariamente no melhoramento das condições materiais e sociais dos peque- nos proprietários produtores. Pode simplesmente significar um deslocamento da relação de dependência. Essas cooperativas do tipo centrais que industrializam a produção dos 28 pequenos produtores não se diferenciam de fomaa significativa das agroindústrias privadas, passando mesmo dificil assegurar com a se tomarem concorrentes uma expansão elas. Além de ser extremamente favorável de associações pelo domínio oligopolizado exercido pelas empresas trans-nacionais, de forte influência e presença na reorganização do sistema capitalista de produção, tanto no setor da industrialização, comercialização e de processamento. Talvez seja viável especular a possibilidade dos integrados tornaremse acionistas das agroindústrias. É notável em conversas» com os mesmos- a querer continuar no sistema, porém reivindicam insistentemente lucros. O uma participação município de Tunápolis, embora pequeno do qual em extensão tratar-se é importante territorial, do meu município de origem e den- mais intensamente o desenvolver da forma capitalista de produção e sinto toda a sua força exploradora tanto da terra quanto do proprietário agrícola, mas considerações sobre a vinda lutas nos - no setor da rede da integração. E, por tro intenção de por `de farei algu- seus pioneiros, suas lutas, seus sonhos, angústias e uma produção para além da subsistência. I.5 - O SURGIMENTO DE TUNAS 20 de setembro de 1951, é a data que caracteriza a fundação ,oficial de Tunas. Nesse dia nas proximidades de da, acompanhavam o Sr. Emílio possibilitou e rodeados por uma vegetação em tomo a primeira missa, da qual participaram rezava-se ano o um riacho exuberante e varia-- de 50 pessoas, que Pe. Balduíno Schneider. Registros históricos assinalam que naquele Germano Bieger, tornava-se o primeiro em novembro morador branco de Tunas. Ele de 1952, a primeira atividade industrial: uma madeireira. O funcionamento da madeireira permitiu as tábuas e madeira quadrada para a construção das casas. Já no ano de 1953, o primeiro comércio é instalado e aberto pelo João Hanzen. Tunas, teve este nome Deutschen Katholiken” aqui encontrar - indicado Sr. José pela colonizadora “Volksverein fiír Sociedade Popular para Católicos de Lingua Alemã -, por em grande quantidade o cactos dessa espécie.(5) À luz de uma terra fértil e no bojo dos parcos instrumentos de trabalho - manuais os primeiros colonos traziam o desejo indômito de melhorar de qualidade de vida. - Na 29 coragem e no afoito da satisfaçao deste sonho realizável, homem, mulher e crianças, Não pela sua força de trabalho, adentravam verdadeiros clarões no- meio do mato. eram tardava muito, e frutos suculentos sobrevivência. rística da colhidos. Estes constituíam a garantia A prática inicial de uma cultura de subsistência, trazia consigo a caracte- O pequeno proprietário rural, detinha da propriedade inquestionável da produção. os meios de produçao, ou seja a matéria prima instrumentos de trabalho - - sementes, etc. terra, solo, animais de tração, enxada, arado, foice, carroça... toda a produção para a subsistência bem como o e os -, -, logo, excedente eram de sua propriedade. Sendo proprietário dos meios de produção, da força de trabalho, a produção era do agricultor. Isto lhe dava lhe convinha: trocá-lo o- direito de fazer com o produto excedente, em por outros bens ou produtos falta, o- ou mesmo que melhor trocá-los por moeda, via comércio que paulatinamente começava a emergir. As relações sociais decorrentes desse processo de produção relativa. Havia entre os agricultores ção, apesar de limitados ao um clima de euforia, de entre ajuda, de intera- ou da comunidade. Mais e mais mundo da propriedade roças iam surgindo. Crianças* são geradas _ eram de auto-confiança como e garantia de mão de obra. Constante-- mente, mais e mais famílias chegam, atraídas pela saga de vencer na vida, impulsionadas também por aqui encontrarem uma forte intervençao católica, religiosidade continua sendo exercida pelos padres Em da. Congregação 22 de fevereiro de 1954, 33 crianças. dos acorriam à primeira escola. sala, nalismo, a pressão moralista jesuítica e as relações. de produção. m 1.6 foi e Jesuítas. professora Senhora Helga Anschau, soube retratar dentro da determinava a pedagogia e a prática que A primeira o rigor do tradicio- Todo esse conjunto` ' disciplinar. CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE V Vencidas as dificuldades trutura das propriedades vai iniciais de abertura das roças mudando e e. primeiras construções, a es- acena para um fortalecimento. São profundas as modificações que se fazem sentir tanto na realidade social quanto na econômica. alguns anos praticando uma agricultura voltada quase que Após exclusivamente para a subsis- 30 da madeira, o agricultor começa a produzir tência, ampliação das roças, comercialização um maior volume de excedentes. Podemos falar em: “agricultura de subsistência quando a maior parte do produto agrícola é consumido dentro da cogeral, as comunidades munidade produtora... estão incorporadas a uma economia de mercado e sofrem suas pressões” (Moser; 1985:45) (6) Em Como já frisado anteriormente, a prática da produção para a comercialização não é estranha ao agricultor. Por meio dela os agricultores passam a firmar relações. mercantis e, cada vez mais o comércio propicia e a troca de produtos excedentes. Cada vez facilita mais trocam-se os produtos excedentes pelo equivalente universal, dinheiro. Troca que é uma possibilidade que faz aumentar e alavancar a produção, enquanto obtido, gera novos» carecimentos, que com o mesmo podem mentos referem-se tanto a aquisição de equipamentos que o ser satisfeitos. Esses careci- agrícolas, apesar de ainda primiti- vos e rústicos, construção de pocilgas, galinheiro, estrebaria, galpão ou até quando a moradia ainda se dava num galpão; do em metro também na cozinha dorningueiro; pratos e bacias - deira; alguns misturar teci- uso nos dias de serviço, ou até o traje e outras repartições da casa, guns novos- equipamentos, panelas, talheres dáveis o› começaram a - começam a aparecer de barro e ou gamelas de ma- mais ousados, até já compravam a farinha de trigo da espécie comum para pão; material de limpeza e de higiene aos pou- numa cos também começa a fazer parte das compras, cera para o assoalho, embora ainda composição era feita em casa, também utilizada cer, pois misturando-se parafina diluída nas lamparinas que fomeciam a dormia-se cedo, para levantar cedo; luz. com querosene; a querosene nas primeiras horas ao escure- também no setor de iluminação, as novi- dades chegam e passam a ser tuna necessidade, era a vez do liquinho a gás, diversas modalidades; também chegam al- sendo aos poucos substituídos pelos inoxi- substituir as tigelas com aide milho na confecção do uma casa, também a aquisição do ele propiciava para a confecção de roupas para dinheiro. em suas as primeiras geladeiras que funcionavam à base de querosene... A nual e estrutura básica da produção segue com o auxílio características. dos animais de tração e se processa no círculo produtiva aumenta gradativamente que guardando as mesmas em função familiar. É ma- A demanda da possibilidade da comercialização. altera as relações entre as famílias, cujo subjetivismo Fato» começa a tomar-se mais agu- 31 çado e o individualismo familiar toma as rédeas do produzir mais convívio e da entre-ajuda anterior. ples em serviços intensidade. as familias, A maior parte da passa a ser paga, a semente de algum produto ou pastagem, a sim- rama da mandioca, as mudas de fumo, tudo é convertido do. Dessa maneira res. mesma do detrimento Logo nem as trocas de produtos entre antes tão comuns, continuam acontecendo na ajuda em uma forma de em dinheiro, é capitaliza- comércio passa a ocorrer entre os próprios agriculto- E, quando o comércio impõe a sua necessidade e estrutura, provoca modificações nas relações- sociais, que já não são mais cotadas. na ajuda mútua ou prestação de favores, mas sim visando recompensa, visando I.7 - beneficio, 'visando lucro. A PEQUENA PROPRIEDADE A configuração do relevo do terreno do extremo Oeste Catarinense caracteriza-se pela existência de acidentes naturais' cuja delineação anatômica oferece enorme para a mecanização. empecilho- Além da Geografia, destacando ondulações íngremes, também se encontram grande quantidades de pedras tanto- na superficie quanto no subsoSendo lo. no de 25 rural, ou inviável urna mecanização, as áreas hectares- seja o característica- em média, trigo, terras, nao possibilitaram a latifúndio. Portanto existência Os desta a diversificação das culturas. mandioca, feijão, arroz, quando demarcadas, entre as quais podemos como destacar: milho, amendoim, fumo, além da existência came e banha, dez animais, constando obrigatoriamente de neiro destinado para o abate. vizinhos. perus, e, em cada pro- como tais. Tam- todas as propriedades, encontra-se a criação de galinhas, fornecendo ovos e carne, criação de porcos, fornecendo te tor- agricultores plantam pequenas priedade de hortas e pomares, embora não delimitados especificamente bém em em da grande propriedade destaca-se aqui a pequena propriedade quantidades de grande número de culturas, soja, de O criação de gado, aproximadamen- uma junta de bois, vaca de leite abate é feito à domicílio, trocando-se a carne Em algumas propriedades encontravam-se também e ter- com os patos, marrecos, gansos, que além de ovos e came fomeciam penas para confecção dos acolchoados e travesseiros. Em toda esta produção o excedente era passível de comercialização. 32 A natureza, por sua vez, propiciava o equilibrio ecológico entre seres daninhos e predadores naturais. Não se utilizava pesticidas de qualquer espécie, mesmo porque não haviam chegado à região. Apesar dos clarões abertos na mata, para a estes ainda abertura de roças, a diversidade da fauna e os seus predadores naturais garantiam relativa segurança às plantações. É que em sua grande maioria eram utilizados como grande destaque das propriedades da região era e ainda Daí porque se justifica aqui o também existiam os de .animais terrestres quanto de aves de pequeno que se dedicavam à caça, tanto porte, óbvio que entre os agricultores uma dizer “em alimento» familiar. No- entanto o é a fertilidade de seus solos. se plantando dá”. Esta retribuição do solo, sua fertilidade, permitiu o plantio por longos anos sem ser necessário a adubação. Fator que fez e influenciou para que os agricultores se jogassem gem e empenho em compensação No viria em forma de frutos e colheitas fartas, para os parâmetros regionais. entanto, a fertilidade do solo, o arrojo troca por outros bens materiais, -, estava por industriais, arrojo, cora- preparar a terra para o plantio, pois sabiam que a retribuição e do agricultor obstinada de produzir não só para a subsistência filhosr com maestria, a mas de disponibilidade de ter proprietário, a luta quase um excedente passível de mão de obra - grande número de aguçar as narinas do capitalismo mais sedento. Empresas plantavam interesseiros olhares na direção dessa região. agro- De uma forma ou de um poder maior de domínio e de uma forma mais intensa, sobre essa parcela da população que, em algumas de suas atividades estava dando» certo. A implantação de um sistema latifundiário estava outra era necessário e, hora de a forma produtiva capitalista, exercer fora de cogitação, pelo próprio capital, devido aos acidentes geográficos. Outra lidade de dominio e de exploração dessa mão de obra, dessa riqueza do solo, mento crescente dos carecimentos, e a conseqüente necessidade de satisfazê-los, e induziu o capital a tomar a sua decisão. Essa decisão viria a preencher próprio capital. Tornara-se da matéria prima. O uma necessidade um modado aulevou vazio do das agroindústrias terceirizar a obtenção significado real da terceirização ligava-se a dois fatores básicos: garantir a própria sobrevivência e potencializar a obtenção de lucros via aumento da exploração da mais valia. Objetiva-se a criação de formas para submeter as condições de vida do pequeno agricultor, transformando-as basicamente em forças industriais. _Ô..-JMJ 33 . Cgi/Í-É Umversltarloñ UFSC - Biblioteca Uma das utilização formas encontradas de convencimento e “sedução” do a - ' ` , dos apêndices estaduais, ligados ao setor da agricultura. Foi assim que o psi- ACARESC, hoje EPAGRI, verdadeiros tentáculos do capital, se em um canal de uma mais rápida extinção ao sistema de produção aqui tacismo de técnicos da constituíram instalado. O discurso retórico, vinha entulhado de idéias da morte da forma de produ- ção agrícola tradicional, enquanto disseminava propostas de modernização na proprieda- de e nas formas de produzir. A ACARESC foi criada na década de 50 e, a partir dos anos 70 começou a prática de num modelo um programa norte-americano. Esse programa para o- Brasil, ficando» conhecido» Hand; e Saúde - vir - Heatcth. como um verdadeiro como forma de A ACARESC, tes e também um vasto bem como “modelo” O interesse na modemização agrícola As Estados Unidos Sentir via os Clubes - transpôs-se - Heart; Ser- 4S estendeu-se e variado programa de concur- estímulo para novas experiências produtivas nas propriedades. Era tas à propriedades consideradas ses nacionais. 4H nos de conquista junto aos agricultores, estimulando-os para pre- significativa a distribuição de premiações dos. - como “Clubes 4S”: Saber - Head; senciarem reuniões informativas. Executavam sos, educativo., cuja linha mestra' está calcada a participação em outras 'regiões e até- em excursões de visimesmo outros esta- e agro-industrial, extrapolava pois os interes- multinacionais produtoras de fertilizantes, máquinas agrícolas, semen- produtos veterinários marcam decisiva presença na mudança do processo produti- VO. Na esteira do sonho de melhorar a propriedade e de produzir mais, o agricultor pe- um envolver incitado a um envolver negociado e ou cooptado. A ainda é para um grande número de pequenos agricultores um grande rambula pois entre integração era e impasse, que lhe um gigantesco dilema diante da não existência de alternativas concretizáveis, sejam mais viáveis. I.8i - A PEQUENA PROPRIEDADE INTEGRADA Surpreendidos e muitas vezes desprevenidos, sem ter a car-se das informações passadas pelos técnicos, mentos que sequer compreende. fácil O quem recorrer para certifi- o agricultor sucumbe, diante de argu- enlevo diante da perspectiva de um trabalho mais mais lucrativo remove os últimos resquícios de resistência. Era o milagre econômi- W 34 co brasileiro, trazendo o milagre do lucro sessenta. e fácil bem maior para o Osprimeiros aviários são erguidos, por entre agricultor. sorriso ingênuo o~ Década de do agricultor e o olhar perverso de dominação e exploração acirrada de mais valia que se aproximava. A euforia dos primeiros lotes de fiango, em com capacidade para doze mil fiangos, cem metros de comprimento aviários de num e misto de perplexidade, são motivo para mais um, mais outro, e mais e mais... Os primeiros resultados, propícios, sem dúvida, não permitem nem de longe Aqui convém estabeleceu. uma análise do ressaltar cos pela de suinos, na Região, é potencial de intervenção que se quis e se que a intervenção,. substituindo a produção de por- bem anterior. Ela começou com a introdução das raças DUROC, LARGE WHITE e» LANDRASSE, por estas raças apresentarem mn valor comercial e um maior potencial produtivo de came em relação ao porco comum ou tipo banha. Sobre essa introdução, já tratamos anteriormente. À medida. que o modelo se expande, começa a revelar clarecidas anteriormente. Outras faces, sam a exigir do agricultor, e domingos, antes comum precisa postura, O outras decorrências, outros envolvimentos pas- novo- ritmo no executar das atividades diárias. Feriados trato, tanto um ser construído. rados, enquanto outros preto, verdades e condições não es- tornam-se agora religiosamente guardados e respeitados, de atividade. Uma nova um maior do frango quanto do suíno, são novo posicionamento se faz necessário, um um dia tarefas diárias. novo homem Novas normas de conduta, novos conceitos são incorpoperdem o sentido, são postos em dúvida e perturbam o modo de vida, pacato e perdido na mesmice até então. Mudanças profimdas ocorrem nas relações familiares e sociais. Profundas são fisica e mental. também as mudanças nos costumes, na saúde Há novos carecimentos e novos envolvimentos. A implantação - na região do Sistema de Integração nas suas mais diversas implica na instalação de mn faces, novo paradigma produtivo. São intensas as modificações, que atingem não só a materialidade, mas passam a ter profimdas repercussões na subjetividade do agricultor, afetando destas mudanças, rico podem e bem como devem toda a sua forma de as conseqüências tanto no ser visualizadas que a integração se expande, ou que o tência vai sendo destruído ser. A dimensão campo em toda a sua extensão capital avança, o e o significado teórico quanto no empí- A medida e profundidade. modo de produçao para a subsis- ou reorganizado, tanto nos aspectos tecnológicos - engenha- 35 ria genética -, redimensionamento do tempo e do espaço, ` . bem como técnicas e métodos . de produção. As atividades e produção, quase que- exclusiva para o autoconsumo, im- põem-se a partir de então uma produção mercantil, ou mais para o grande mercado consumidor. seja passa-se a produzir cada vez 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) WIGGERS, 1) Jornal Terezinha. Levantamento de Dados do Município de Itapiranga, Datilog., 1969. o Estado, de 27.10.1976, p. 17. Cinqüentenário de Colonização. 1) ROHDE, F. Maria. Beitrag zur 25 Jäbrigen Geschischte der Volksverenskolonie - Porto Novo: Wie eine Frau eine Urwaldsiedlung Wachsen sah. Tipografia do Centro S.A., Porto Alegre. ano de edição desse livro não consta mais nos exemplares 3 exemplares vistos em Itapiranga, por lhes faltar a capa. Existem articulações no sentido de que seja feita uma reedição desse livro, inclusive uma com tradução para a língua portuguesa, pela equipe de redação da revista Paulusblat, revista editada na lingua alemã, criada em 1927, com o objetivo de relatar e servir de material de informação da Volksverein. O 2) SORJ, Bernardo. Estado e classes sociais na p. 23. agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Guanabara, 1980, 3) FREDERICO, A. Produção de leite e integração- dos produtores na cadeia agro-industrial; produtores ligados à Nestlé. Belo Horizonte: Dissert. De Mestrado., UFMG, 1979. 4) GRAMSCI, Antônio. A questão meridional. 5) Arquivo histórico do Colégio Estadual Pe. Balduíno Rambo. A O caso dos Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, p.63. A nova submissão. mulheres da zona rural no processo de trabalho 6) MOSER, Anita. Porto Alegre, Edições Paz e Terra, 1985, p. 45. Industrial. CAPÍTULO 11 A ESTRUTURAÇAO PARA UMA PRODUÇÃO CAPITA- II.1, « LISTA \ . Certo é que da aliança ou a implantação da terceirização, via agroindústrias, no meio do Oeste Catarinense não pode agrícola separado de uma ser visto como algo estanque e muito realidade maior, pois significa a inserção do agricultor num menos contexto maior e a conseqüente necessidade de expansão das relações de produção dominantes nossa sociedade. Uma em de fatores precisam ser analisados. Dentre outros destaca- série mos: n.1.a - MÃO DE OBRA A mudança conceitual e prática é significativa. Produz-se mações trole pré-capitalistas, com uma absorção clara de grande contingente de trabalhadores. a desestruturação de for- da mão-de-obra e o conseqüente con- Uma forma de impor com sucesso a ope- racionalização dos mecanismos de extração de mais-valia, através de novos esquemas organizacionais: a terceirização. sentando como É ela urna das' opções da acumulação capitalista com o pressuposto básico a proletarização da força de trabalho, de explorá-la mais e melhor. No caso das agroindústrias torna-se inviável apreintuito o deslocamen- to dos trabalhadores e a infra-estrutura para produzir suíno e frango para a cidade, daí a opção pela manutenção dessa mão de obra no campo, deslocamento para mentos, a tecnologia e a organização industrial. Dessa forrna lá os equipa- viabiliza-se a relocalização Ao fugir da concentração urbana, encontram-se mais facilidades para evitar problemas com concorrência. Encontra-se uma força de trabalho com certa habilidade industrial. historicamente construída e por outro lado a inexistência de como classe operária. uma organização sindical A subordinação histórica e estrutural da força de trabalho no país, determinou e continua detemwinando a flagilidade das mobilizações e lutas politicas dos agricultores na busca de melhorias de suas condições de vida. bordinação põem-se como a possibilidade da continuidade De certa forma esta su- do modelo de produção propriedades familiares. Ato contínuo, permite o aumento da produção qüente aumento dos custos de produção. É em sem o conse- o que mostra a gradual implantação da mo- 39 demização tanto de máquinas e insumos, quanto o melhoramento genético dos planteis de suínos, fiangos e sementes, presentes Ao capital trabalho, o em nossa região. nunca importou que determinada população desempenhasse determinado que lhe interessa é a produção, fruto da exploração da força de trabalho. função disso pode-se afirmar que ao capital a força de trabalho não é a população, Em mas a sua capacidade de trabalho. Historicamente- o capital explorou tanto a força de trabalho de homens, mulheres e outra. O em certos momentos embora maior ou menor aproveitamento de alguma dessas lhe possibilitar xos, crianças, convinha por caracteristica desta força de trabalho como- possibilidade submetida a maiores níveis de exploraçao. - variáveis- lhe uma ou o aumento da extração da mais-valia, via pagamento de salários mais bai- ou mesmo pela II.l.b tenha priorizado de ser ' O TRABALHO DA MULHER E INFANTIL Na tradição histórica da submissão, encontramos a mulher. E, no esquema da integração ela exerce uma função primordial. A mulher do agricultor sempre trabalhou muito. Ela estava e está inserida ntun tipo de economia na qual a família constitui-se a unida- de produtiva e, por isso das atividades agrícolas do produtivo. situação muito mesmo ela e as crianças participavam e participam ativamente em geral. Raramente no entanto, seu trabalho era e é considera- A sua condição social a mantinha e ainda a mantém inferior ao homem. A de submissão da mulher agricultora e também das mulheres de forma geral, é bem expressa por Gianni ao afirmar: “Quanto mais profunda a insegurança, a dú- vida sobre o próprio valor, tanto mais profunda a ânsia de se conformar com o modelo imposto, tanto maior esforço e atenção para compreender aquilo que os outros desejam de nós, para nos confirmar às suas expectativas: quanto maior a conformidade, tanto maior a segurança de ser amado e aceito” (Bellotti; 1979:10) (1). A integração da mulher agricultora, ativamente no trabalho de produção de fian- gos e suínos, aliás este grados, configura-se ço do lar, era um argumento usado pelos técnicos para a conquista de inte- como uma duplicidade de compromissos. Ela continua com 0 cuidando da família, mas também adere ao servi- trabalho produtivo. Muitas vezes pela situação de submissão esta atividade produtiva asstune características de comple- 40 um maior incremento na força mentaridade. Assim a integração é também, motivo para produtiva, ao inserir um expressivo contingente feminino e mesmo infantil no mercado de trabalho. Quando incorporados no mercado de trabalho, a força de trabalho feminina uma mudança na estrutura produtiva. Ao explorar a força de trabalho das crianças, mesmo que ocupadas em tempos parciais, novas e mais e infantil, ocorre da mulher e complexas articulações a nível de consciência de classe são postas. Se a consciência de classe sofre já dos dissabores originários da heterogeneidade vivida no setor produtivo ei na vida social, tanto na esfera material quanto na da relação além da subjetividade, ela agora, entre indivíduo e classe implica na relação entre classe e gênero. Convém no dos agricultores entanto destacar o surgimento da com relação ao trabalho feminino e mais diversos setores produtivos.. Para integradas - frangos e suínos mudança no modo de pensar - infantil e de agir o seu uso diretamente nos isso é importante destacar ou mesmo naquelas onde e que nas propriedades existe Luna maior possibilidade mecanização agrícola, crianças e mulheres são cada vez menos solicitadas para participarem desses trabalhos. Não significa no entanto, uma retirada completa, pois existem de ainda trabalhos que são considerados essenciahnente e tradicionalmente femininos, por exemplo, II.1.c - tirar leite e como cuidar da horta. UMA FORMA TERCEIRIZADA DE PRODUÇÃO A integração é hoje caracterizada como forma terceirizada de produção. Uma fonna de produção que encontra parâmetros na própria gênese do capitalismo. Seu berço monta aos séc_ulos.XVI a XVIII, período em que Naquela época, as famílias, para os “capitalistas” recebendo agrícolas. deu ênfase à indústria doméstica. sem se desligarem da terra passavam a produzir mercadorias em troca pagamento. filhos menores, ajudavam ativamente no trabalho, mente de práticas se re- sem A família inteira, incluindo os no» entanto» se desligarem total- Esta fomia produtiva na época foi abolida, porque foram cercadas, os artesãos faliram o que ocasionou um acréscimo significativo- as' terras de mão- de-obra disponível nos centros urbanos. Hoje o processo novamente se inverte. A re- própria localização é fundamental e estratégica para aumentar a acumulação de lucros e a sobrevivência das empresas. 41 Nesta relocalização entra municípios, um outro fator importante; na avalanche criadora de novos ou em fase de criação, têm-se como sinônimo de progresso do chefe do executivo o trazer indústrias cançarem seus intentos muitas vezes os ou processos produtivos tivos fiscais e financeiros. Estes vão* desde a isenção de impostos até industriais. Para industriais. fazem quase que lideres eleitos, nos ou áreas de terra para a localização dos parques e de competência leilões al- de incen- o subsídio de terre- Outro fator relevante na relocalização industrial é a conseqüente transposição de tecnologia e ciência para regiões rurais. Isto permite uma diminuição de grande' parte da diferenciação de cidade e campo, principahnente na modificação das noções de tempo/espaço. A tecnologia produtiva, organizacional agroindústria, propaga A indústria beneficios. io e regulamentar de trabalho, que acompanha a urbanismo trazendo moderna que se ' faz em sua esteira tanto maleficios quanto acompanhar dessa propagação já não tem como norma de funcionamento a instalação num tipo particular de área. mais Para integrar-se no novo modelo- produtivo, o agricultor, suas atitudes, suas ações, seu modo de relacionamento com o mundo, mundo, seus dogmas, suas verdades trução começa muitas vezes seu conceito de e concepções. Ele terá que ser reconstruído um homem novo e diferente, para um mundo como necessita reconstruir adverso do seu até então; Acons- O contrato antes do fechamento» de um contrato formal. formal que se estabelece entre o integrado e o agro-industrial determina o tipo de matéria prima que o- exclusividade para agroindústria é A matéria-prima produzida será vendida com com a qual tem o contrato. O compromisso da primeiro irá produzir.. _a agroindústria com o» fornecimento casos, a facilitação de insumos, a assistência técnica etc. na construção de É mais benfeitorias, investir, com como: chiqueiros, auxílio tindo a em alguns de empréstimos bancá- aviários esterqueiras, estrebarias, nesses casos que muitas vezes as agroindústrias passam a ter direta, hoje do financiamento de instalações necessárias. Além da compra dos equipamentos o produtor integrado precisa rios, e, intermediando a relação banco e produtor integrado. compra da produção a um preço mais ou menos uma participação- A agroindústria garan- estável, evita pelo menos de forma aparente, que o produtor integrado que contraiu o empréstimo fique de repente sem recursos para cobrir a divida. Os produtos como ração, concentrado, leitoas e re- 42 produtores financíados diretamente integrado ao final de cada safra - II.1.d com a agroindústria, são descontados do produtor ou lote criado de animais. A FORMA DE PAGAMENTO Quanto a remuneração, ou melhor a distribuição de “lucros” ou “sobras”, a variação, O cálculo é feito pelas empresas sem de mn processo. ou “fónnula européia” e, a incerteza, a inconstância são presença marcante. a participação do segunda rios fazem uso os fatores básicos ou as variáveis consideradas são: mortalidade, conver- ela, são, peso agricultor. Elas e tempo.(2) Este último, considerado desde o recebimento até a entrega. jVá- órgãos sindicais, mobilizam os diversos segmentos da integração, avicultores, sui- com as condizente com o nocultores, fumicultores, a travarem constantes campanhas de reivindicações agroindústrias, na tentativa de obterem um retorno financeiro mais volume de trabalho despendido, com a quantidade e a qualidade de matéria-prima produzida e entregue. Diversos assessores dos integrados traçam paralelos entre os custos de produção, desde a necessidade da aquisição de insumos, implementos agrícolas, a depreciação das instalações, a necessidade de investir -, como forma de proteção em bio-esterqueiras - ambiental, a aquisição de máscaras fumicultores - de trabalho necessário e gasto na plantação ou nos cuidados na e No entanto para os suinocultores -, o tempo com a criação. produtores integrados, calcular a renda somente do produto inte- grado, digamos o suíno é complicado e praticamente inviável. O fato é que em sua pro- priedade, a produção dos diferentes produtos está interligada. Assim, o milho produzido é consumido pelos suínos, o esterco do suíno aduba a lavoura de milho e das pastagens para o- gado. Vender o suíno possibilita a aquisição da semente de milho, outras culturas. Permite cilitadores de serviço. peneirado e uma também a Na bem como a de aquisição de implementos agrícolas necessários e fa- avicultura o processo é semelhante. O esterco do aviário é das partes separadas, aquela que contém maior quantidade de ração é tratada para o gado, tanto o da propriedade ou vendido» para outros produtores. Especi- almente o esterco peneirado é tratado para o gado de leite e o gado que fica semi- A parte mais “grossa” do esterco de fiango é vendida ou usada na própria lavoura de milho, nas pastagens ou outras culturas. A interconfinado para a engorda e posterior abate. ligação produtiva dos diversos produtos torna a apuração final do cálculo extremamente. 43 complicada e não imediata após o porque fazer o» lote. Na verdade vêem os produtores integrados não cálculo específico de cada produto, já que tudo está na mesma proprieda- de e na maioria das vezes converge para um mesmo caixa. Tendo como parâmetro o argumento dos produtores de é uma unidade produtiva e fimciona como integrados, de que a proprieda- um todo, é possível suportar em alguns períodos o baixo preço do kg de suíno (R$ 0,71) e a do frango (R$ 0,16 a unidade). Ti- rando R$ 0,16 por unidade, o integrado considera-se satisfeito. frangos isto significa receber R$` 1.920,00, da agroindústria. em ou por 46 retorno. dias de trabalho, não O dinheiro obtido de doze mil O integrado tem certeza que há atividade agrícola que com a venda do Num lote ou lhe forneça este valor com esterco, cobre gerahnente as despesas maravalha, usada na cama do aviário, luz e gás ou lenha, usados no aquecimento nas épocas de clima se frio. Por outro lado o produtor integrado sabe muito bem que desligar- da agroindústria não lhe garante o poder de negociar ou mesmo fixar o preço para a sua produção. O produtor integrado que contraiu financiamento, quita-oz com raras exceções, gra- dativamente a partir da renda obtida. Logo, o financiamento de máquinas, equipamentos, benfeitorias, matrizes e reprodutores, a própria terra recuperada pela passam a que pemianecem na propriedade, e por ser considerados investimentos também passam a ser considerados como adubação orgânica, lucro. Ele considera lucro cada vez que conse- gue melhorar as instalações e adquirir equipamentos automatizados para os facilitadores cal, de serviço nos chiqueiros, como misturador de ração, mente eles infantil, etc. bomba isso aviários, ou esguicho, máquina para pintura a Nesses casos, embora seja dificil quantizar, mas concreta- significam mais tempo de lazer, menos ocupação de mão de obra da mulher e maior possibilidade de os filhos poderem estudar. A instalação, por exemplo dos bebedouros e dos comedouros inteiramente automatizados nos aviários reduzem o tem- po de dedicação e de serviço, à grados no sistema de fiangos, meia hora por dia como uma das grandes 6 a 8 horas de trabalho por dia no calhas. Eram necessárias 48 em média. É aviário, calhas, considerado pelos inte- conquistas, pois antes levavam de quando ainda, a instalação da água era pelas que precisavam ser limpas duas vezes ao dia. Esta limpeza se fazia ou ainda se faz necessária, porque os frangos ao beberam a água trazem presas ao bico partículas da ração que caindo na água provocam a fermentação. O co- 44 medouro automatizado também é altamente favorável, pois os comedouros do em lar níunero de 320, precisam ser abastecidos manuahnente tendo que oi tipo tubu- produtor com deslocar-se por entre os frangos, o que não é muito recomendado além de ser feita A capacidade dificuldade e vagar. de cada tubular é de 20 kg de ração. Se estiveram vazios significa distribuir 6.400 kg de ração o que eqüivale a 106,5 sacas de 60 kg. lote um lote misto, aproe metade fêmea, consome 46.000 kg e o de fêmeas em tor- de fiangos machos consome ximadamente metade macho em torno de 48.500 kg de ração; permanência média de 46» dias. no de 45.000 kg - consumo, considerando-se Nos primeiros _ nos de 3 em 3 dias dias, do do tubular precisa lote o abastecimento mas na última quinzena os aconteça e para que não tenham que carregar muita ração' de aí uma ser feito mais ou me- tubulares precisam ser abastecidos diaria- mente. Isto não quer dizer que eles estejam completamente vazios. amente. Está Um Mas para que isto não uma só vez, o fazem das grandes vantagens dos comedouros automatizados. diari- Além de diminuírem sobremaneira as horas de serviço, estes equipamentos potencializam os cros por possibilitarem um frango mais uniforme. Colocam à qualidade, e acesso mais uniformizado à ração-. uma relação em direta instalações, disposição água de melhor O fator tempo dentro da integração, tem com a tecnologia usada. Quanto menor a tecnologia de equipamentos maior o volume de serviço a ser despendido. Por conseguinte, quanto mai- or a tecnologianos equipamentos, nas instalações, nas formas organizacionais, mais fácil lu- menor e o serviço e maior a padronização da produção. Existe ainda uma série de outros elementos que precisam ser incluídos no rendimento. Um deles é o desvio de parte da ração ou de parte do concentrado. Embora não autorizada pela agroindústria, isto acontece com certa normalidade. Partes de ração, tanto na integração de frangos, quanto na de suínos, são desviados para ou galinhas. Esse desvio é controlado para os técnicos costumam fazer o» trato do gado, porcos que não seja de forma exagerada e os própri- uma “vista grossa”, diante desse fato-. Também ocorre algu- ma venda de suíno, ou frango, no mercado paralelo, ou como eles dizem “por fora”. Para fechar o controle numérico, os animais vendidos “por fora” são registrados como elimi- nados ou mortos por doença. Para os integrados na UPL - Unidade Produtiva de Leitões -, o descarte das criadeiras e reprodutores velhos, pelo fato de serem dono dos mesmos, fazem a sua revenda algumas vezes para açougueiros, o que em si não caracteriza desvio, 45 pois seu compromisso com a agroindústria é com a entrega dos leitões. Outra vantagem considerada expressiva pelos integrados é o fato de que os técnicos ou o veterinário, também ser questionado poupa o trazer com outros sobre problemas animais, o que alguém de fora e pagar as despesas para tal. infetantes deixados em inúmeras vezes Também os remédios e des- na propriedade para o produto integrado são regularmente utilizados para outros animais ou outras instalações. Portanto é preciso fiisar e dimento da integração é_pois insistir o- novamente que para o produtor integrado, o ren- somatório das vantagens dessa inter-relação e interde- pendência das diversas culturas e produtos produzidos na propriedade. Para o produtor integrado, a idéia de um endividamento constante e eterno não en- contra argumentos sólidos. Para os suinocultores integrados na va de Leitões - estar devendo ração, concentrado, criadeiras e reprodutores para a agroindústria, não significa qualquer momento. UPL - Unidade Produti- uma Nenhuma relação de dependência que não possa ser saldada a agroindústria permite o início da integração nanciando ao produtor '50 ou 100 matrizes e 2 ou 3 reprodutores. e seu financiamento- é normalmente gradativa. em quantias menores. Ocorre de forma crescente e Ao integrado é- dada a oportunidade de pagar a criadeira primeira ninhada de leitões por ela produzida. Assim por exemplo UPL, a 3,5 anos está hoje com 95 to. A entrega de criadeiras Digamos 10 no mês de janeiro, 7 no mês de julho, 12 no mês de dezembro e assim- gradativamente. tria na UPL, fi- criadeiras e aproximadamente- 27 criadeiras. com a um criador que está na 4 reprodutores, devendo para a agroindús- É uma dívida que ele pode quitar a qualquer momen- Nos aviários e terminação de suínos os processos são similares. A agroindústria fornece os pintinhos de um dia, ou os leitões numa média de 25 kg, fornece a ração, assistência técnica/veterinária, Quando os animais estão prontos para o bem como a medicação necessária. abate, são recolhidos, descontadas todas as des- A partir desse momento não existe mais nenhuma relação de dívida para com a agroindústria. A relação começa a se reestabele- pesas e, o integrado recebe o lucro ou renda. cer quando do recebimento de novo lote. O que existe por parte de alguns integrados são dívidas junto ao setor financeiro de bancos, para investimento no melhoramento das construções, instalações e aquisição de equipamentos mais modernos. Mas como é di- 46 foi nheiro para investimento e concretamente a construção existe, a instalação equipamento foi adquirido, feita, o tudo facilitando os serviços, prometendo lotes mais unifor- mes, prometendo potencializar os lucros, os integrados não vêem esta dívida como impagável. algo _ Para os integrados no setor de frangos dos quais se exige um elevado investimento equipamentos necessários, com rarísinicial, pela construção do aviário e aquisição dos simasz exceções ocorridas até hoje, o produtor vendeu ou teve- que vender o aviário, por debitados e não conseguir quitar as prestações do financiamento. Os casos ocorridos são do: produtor do que à atribuídos pelos demais integrados muito- mais ao “relaxamento” agroindústria. Já para os integrados na suinocultura, inicialmente as agroindústrias acei- que quando agricultores produtores, já possuíam. Estas vão sendo de franampliadas a medida que a renda permite. Logicamente existem integrados, tanto tavam as instalações com financiamento bancário a ser quitado, mas em prestações, e, a grande maioria. Mas muitos deles também têm as instalações básicas gos quanto de suínos pagáveis para totahnente quitadas. Existe inclusive um quase consenso entre os agricultores de que “ter dívida é bom”. Ela motiva para mais capricho e evita esbanjamento em festas, clubes, etc. como não é a relação- de dívida que mantém a relação de integração e a coação também não é a melhor solução, a 'integração continua sendo mantida via uma relação na relação agride “confiança”. O mesmo elemento essencial que já estava estabelecido “confiança” uma espécie de jogo de cultor e comerciante. Certamente é em nome dessa Então, mútuas obrigações, que a empresa tolera esticar prazos de pagamento, tolera desvio de da medidas de medicamentos e de partes da ração e do concentrado para outros animais “mercado paralelo”. À relapropriedade, bem como tolera a própria venda de animais no descapitalização geral dos peção de “confiança” é preciso acrescentar o fato de que a O intequenos agricultores é fator relevante na manutenção da continuidade da relação. de suficiente grado de frangos, de suínos, nas modalidades UPL, e terminação não dispõe capital de giro para bancar sozinho os custos sição da ração, da produção. Custos que vão desde a aqui- pesquisa pintinhos, criadeiras, leitões, seu transporte, assistência técnica, genética, medicamentos, etc. É deesta sim, a maior fonte alimentadora da relação de conseqüências não pendência, segundo os próprios integrados, problemas cujas causas e 47 podem debitar exclusivamente nem à agroindústria nem ao se certamente à II.1.e - falta de O COMPROMISSO DO AGRICULTOR INTEGRADO cos, o controle periódico e sistemático produção para a agroindústria exercido» através de com a qual firmou com O mecanismo contrato. visitas e fiscalizações periódicas aças e punições, mescla-se os rígidos padrões técni- da produção e a entrega incondicional de toda a de controle é dos técnicos da empresa junto às Um eficiente propriedades. São oportunizados cursos de treinamento.. esquema de ame- o de premiações e méritos. Programas via rádios e ou oque de final de ano, servem para homenagear e premiar os mais “competentes”, com corresponde por outro lado à punição aos menos compromissados certa mas uma política agrícola séria, definida e materializada. O compromisso do agricultor é em primeiro lugar, aceitar festas sistema de integração, forma, o resultado, ou ao se comparar se homenagear a empresa. os mais De bem “sucedidos”, motiva-se e estimula-se o individualismo. Diante das condições favoráveis do estímulo ao individualismo e subjetivismo exacerbado, vência um enorme retrocesso. Sua conseqüência mais de sindicalização. Constitui-se ameaça a quecer o próprio sindicato, torná-lo tinção. i uma direta na prática da convi- põem-se como dificuldade ação sindical mais combativa, um sindicato “pelego”, por enfra- ou mesmo condena-lo à ex- -~ Também o agricultor integrado precisa comprometer-se (por força de cláusula do contrato formalizado) de que os pintinhos recebidos de sumo de determinado volume de um prédeterminado produção de leitões, lhas de fumo. ração, e ainda num mn dia, tenham após mn con- determinado número de dias, peso e então seguir para o abate. Formas idênticas, aplicam-se na no término do suíno, para o tamanho a cor e qualidade das fo- Dessa forma, e nesse esquema a agroindústria pode programar-se quanto a recepção da matéria prima diariamente. risco de enfientar possíveis problemas Aos cria-se Com uma programação rigorosa, não corre o com abastecimento. agricultores vendeu-se desde o início a imagem de que uma vez integrado terá a colocação de sua produção garantida. Concretamente, quando o controle da produção dos integrados e toda a programação está nas mãos da agroindústria, isto tem se tomado 48 verdadeiro. Mas segundo produtores de observação dos próprios integrados, quando o controle dos uma região é entregue a um comerciante, o. integrado corre o ainda uma agroindústria aos e particularmente os criadores de leitões. Neste caso e, segundo os' integrados, entram em cena outros fatores, inclusive co/partidários constituindo-se a relação comerciante/integrado políti- numa espécie de paterna- lismo protecionista extrapolando as relações comerciais. Este fato ficil a colocação de não com relação conseguir vender a produção. Este fato está sendo registrado na Região, integrados de risco- toma ainda mais di- da produção dos não integrados, além de outros. dois motivos básicos: a sua baixa produtividade, por acarretar mais despesas na recolha e a não inclusão na pro- gramação da recepção. II.1.f - A PROXIMIDADE COM TECNOLOGIAS PRODUTIVAS E GENÉ- TICAS . Apesar de continuar basicamente atado à atividades manuais, o novo tor integrado, terá também com a sofisticação da contato com engenharia genética, dutivas mais modernas. Tem de produção de sementes, altas tecnologias com adubação química, com agora o compromisso de executar de absorver e executar ordens de cunho mais complexo. Tudo técnicas pro- um maior atividades intelectualizadas de controle, de organização, de absorver conjunto de novas estruturas que homem agricul- número de novos conceitos isso leva-o a criar 9 um vão sendo absorvidas e adotadas gradativamente. Vale aqui dizer que o produtor integrado é um dos grandes responsáveis pela evolução e pelos resultados favoráveis das constantes- pesquisas que se fazem necessárias para que a agricultura acompanhe a mutação constante do mercado consumidor. É ele-, na sua pequena propriedade e com seu abnegado e dedicado trabalho quem testa, sugere e da a decidir sobre a potencialidade de determinada variação genética, tipo ções ou brincadeiras. Enfatizam que a vontade ”inverdades” para o abate ue estavam sendo ditas. em seis meses - hoje 4 mesmo uando a 5 meses era de lhes diziam - , que os rir ue Cl leitões se Contam eles que pareciam com goza- diante um e quando das primei- ras visitas recebidas pelos técnicos, convidando-os para a integração.. no desenvolver da fala, a apresentação das vantagens muito mais de instalação, É interessante composição da ração, produtividade e possibilidade de competitividade. significativo o relato dos produtores integrados sobre o seu espanto, aju- do tamanho das orco estaria ronto poderiam ser desmama- 49 dos com 25 a 30 dias - hoje os desmame ocorre entre pelo silêncio contemplativo por acharem dido para o abate com a idade de 1,5 18 e 23 dias, optavam muitas vezes “do homem”. Para feio- rir a 2 anos, o desmame do leitão eles, porco era ven- após 60 dias. bem do dia em que um técnico da ACARESC, fez uma visita convidativa ao meu pai. Ela ocorreu no mês de janeiro de Particularmente, lembro-me muito setor Itapiranga, um cinamomo 1973. Sentávamos na sombra de técnico esforçava-se para convencer o capacidade para po necessário para médio de 2,5 kg fiangos. 12' - fazer hoje Ao um lote. com 46 meu um pai a construir aviário de 100 m com argumentar elencando vantagens, referiu-se ao tem- Disse ele que o frango, após 60 dias teria dias O após o meio dia tomando chimarão. - foi of suficiente para um peso meu pai balançar a cabeça diante do absurdo que acabara de ouvir, exclamar: “só se acontecer e um milagre”. A gali- uma média de 120 a 150 dias. Sem o “milagre divino” mas lidando pelo primeira vez com modema tecnologia genética, nha caipira para chegar a este peso levava e- ainda leva um dia eram alojados no aviário de 100 Sessenta dias após meu pai entregava o primeiro lote de 12 mil frangos com um peso o fato é que no dia 22.09.73, 12 mil pintinhos de m. médio de 2,5- II.1.g - Os kg. UM AGRICULTOR COM PODER DE DÉCISÃO integrados produtores lidam com matéria sujeito constantemente às variações climáticas. tárias, os integrados estão constantemente alteração nos animais. Isso exige variações do clima. Implica Além das com interferências zôo e fitosani- sua atenção voltada para qualquer um razoável volume num conhecimento mal ou não dos animais, sobre o prima viva, ou material biológico, de conhecimentos referentes às acentuado sobre o comportamento nor- tipo de medicação necessária para uma ou outra situa- ção. Esse conhecimento toma-se necessário e imprescindível porque, apesar de garantida a assistência técnica, esta veterinário morte de nem sempre tem ou a sua demora pode um leitão, suino acesso imediato. A espera pelo técnico sígnificar a morte e a conseqüente perda de ou frango dentro de um lote de duzentos leitões, trezentos ou A ou quatrocentos suínos, seis ou doze mil frangos, não pode ficar só pela morte. Precisa ser investigada pois, caso se tratar de doença contagiosa, medidas e providências rápidas precisam ser tomadas. Vale destacar então que, ao estarem em condições de fazer estes 50 produtores integrados deixam de ser diagnósticos os passa a ser ele sempenho um simples trabalhador agrícola, um produtor especializado. A acumulação de conhecimentos pelo de- no decorrer dos longos anos de suas atividades, avalizam esta es- tradicional pecialização. Precisam ser considerados uma força de trabalho qualificada, por incorpo- um padrão de qualidade garantida. São produtores especializados, reunirem competência produtiva, um significativo nível de planejamento, de vigi- rarem à sua produção por lância, e reunindo a sua experiência às técnicas produtivas e formas genéticas, proporci- onam um volume de alimento sem o. qual o- mercado das carnes» sofreria Esse novo potencial do grave revés. produtor integrado, será abordado mais detalhadamente, no A Reorganização Econômica. tópico: II.1.h -CRITÉRIOS DE SELEÇÃO- DOS INTEGRADOS Um dos fatores que influenciaram a concretização do Sistema de Integração na Região, foi o fato de que uma das tradições trazidas pelos pequenos produtores rurais eu- ropeus, descendentes de alemães e italianos, haverem praticado lá esta culturas. Para estes agricultores imigrantes, criar suínos, lidar uma atividade importante. Consideram-na passa a tomar-se consideração. As uma como um espécie de identificação, agroindústrias, com galinhas e um descobrindo este vaca de valor cultural. leite, Uma motivo de orgulho, potencial tornou-se atividade que uma marca de presente nestas tradi- ções, aproveitaram o conhecimento- da experiência e a vontade quase que “vocacional” de produzir a matéria prima came, a como: ser caprichoso praticar partir com a lavoura e com a de animais domésticos. As características criação, manifestar normas morais inquestionáveis e manifestar uma dedicação pelo temor a superiores, o que implica gada, o capricho na lavoura e com a criação, tem permitido região. fácil, facilitaram a A dedicação abne- aos agro-industriais, relati- facilidade para estabelecer os parâmetros para selecionar os agricultores produtores, candidatos à integração. fato A seleção torna-se necessária para a agroindústria, porque de não há vaga para todos e porque a racionalidade presente na produção concentrar maior volume de produção também os ser religiosa destacada numa tendência à dominação opção do agro-industrial pela concretização da integração na va uma rigidez cultural, critérios em um menor número capitalista é de integrados. Vários são de seleção de ordem material e moral. Considerados fundamentais: pequeno proprietário rural; apresentar uma razoável estrutura e organização na pro- `51 priedade; a distância da propriedade à agroindústria (3), ceira; condutas e atitudes sociais e morais razoáveis; nestidade; comportamento familiar incluindo uma relativa uma estabilidade finan- reputação de capricho e ho- o sexual, regrado. Está pois explícito que os não proprietários como os parceiros, os arrendatários e outras modalidades de ocupação não podem ser integrados. A facilidade demonstrada na incorporação das constantes inovações tecnológicas para que os índices de produtividade almejada pela indústria se- jam alcançados, é fator decisivo na indicação e respectiva inclusão na integração. bem como forço e a dedicação- são merecedores de estímulo 'neficios que permitem não só a continuidade mas, e, valem, por outro lado, ao descarte programado e_ causas de extensão de be- principahnente a ampliação-._ Eqüi- à eliminação do produtor integrado, que demonstrar menos capricho» ou demonstrar-se menos compromissado ou ainda por apresentar comportamentos dúbios sa, O es- e inconseqüentes. com a empre- Um outro argu- mento importante e crescente atualmente, usado pelas agroindústrias é a exigência de mínimo de 60 um um espaço fisico de 360 m2, para a engorda de aproximadamen- criadeiras, um aviário de 100 m de comprimento para alojar 12 mil frangos caso da CEVAL; para COOPERCENTRAL o tamanho do aviário é de 25 m com capa- te 450 suínos, ou de fiangos.. As. instalações e os equipamentos necessários, cidade para 3 devem atender constantemente aos modernos padrões técnicos. Estes critérios e exigências mais recentes, constituem-se em medidas drásticas de seleção, diante dos agricultores não integrados. No entanto eles são usados de forma diferenciada pelas agroindústrias. Apresenta-se mais exigente a COOPERCENTRAL. Embora com relação da à distribuição merciantes SADIA, CEVAL e mais maleável a SADIA' e a as maiores reclamações dos integrados de suínos seja pelo fato de eles» da ração, da recolha dos também são da crescente descapitalização usarem os comerciantes como intermediadores leitões e do suíno gordo, uma vez que estes co- integrados, o que segundo os produtores integrados viabiliza a ocorrência de fraudes (4). Infomiações, revistas, impressos diversos, cursos e palestras, constituem-se em íecur- sos usados pela agroindústria no sentido de facilitar o ajustamento e o enquadramento necessários ao integrado. A exigência formativa do- integrado é condição imprescindível de sobrevivência da própria agroindústria. Quanto mais informados sobre como agir, sobre o que fazer especificamente, melhor a qualidade da matéria prima que a agroindústria irá receber. ` 52 n.1.¡ - INFLUÊNCIA RELIGIOSA E ESCOLAR O aspecto religioso constituem-se num dos fatores chaves de integração da vida comunitária. A religião tem nas pequenas comunidades do interior a preocupação de envolver-se com o cotidiano das comtmidades. Apresenta-se do agricultor e da familia. em âmbito mentais para um comprometimento cooptado na integração. uma autoridade Grande do Sul e da consciência quanto da moral, são pontos decisivos religiosa e estes mesmo vem civil, Na escola o- processo _e fimda- Essa tradição de submissão trazida pelos agricultores vindos de seus países europeus- de origem. tradicional. Constitui-se horizonte cultural A submissão e a obediência dos agricultores às orientações do padre, tanto a como um do Rio 4 ' educacional rigoroso e tradicional, reforça a estrutura familiar como um forte ponto de apoio» que sublinha, o estímulo à famí- lias numerosas; reforça o grau de subordinação à autoridade e ao poder paternal ou mari- tal, nas decisões sobre a propriedade e a vida familiar. mas da conduta moral e estabelecem a escala de lias. De certa forma, elas, igreja e escola, condiciona e torna legítima um definido A igreja e a escola, ditam as nor- valores a serem preservadas pelas famí- tomaram-se a superestrutura ideológica que tipo de formação social. O cultivo tradicional num aliado importante no processo de instalação do sisteConstituem-se em variáveis importantes na aceitação dos novos me- desses. valores, transforma-se. ma de integração. A estru- canismos de exploração que se instalam no interior das propriedades produtivas. tura religiosa e escolar reforçam a estrutura familiar da submissão e da tradição do trabalho intenso. Isto é tão válido que, por tradição sa/escolar, os agricultores aceitam a idéia e. com o reforço da herança de que a pobreza é um castigo, uma punição, trazendo consigo o espírito de pecado e de culpa. Plantou-se e solidificou-se ra de trabalho, entre os agricultores da Região. religio- É preciso» assinalar uma cultu- que as condições ge- ográficas, as condições de desbravamento, a impossibilidade da maquinização, não deixa- ram outra alternativa a não ser pesado, árduo e contínuo. A submissão a de se jogar intensa e “o eu inteiramente a amor ao trabalho”, um tipo detrabalho abrem perspectivas de mão-de-obra, abundante e eficiente para o capital agroindustrial à procura de relocali, zação. Óbvio que dades de com a implantação da integração, põem-se uma maior racionalidade nos afazeres do dia a dia. concretamente as possibili- A modernização, nas suas 53 diversas modalidades que aqui chegaram, são de vida camponesa. _ na região atuam diversas agroindústrias, estas acabam estabelecendo de “respeito” mútuo.. Neste pacto uma. A necessidade comercial concreta de saída das formas O JOGO DO VAI E VEM DA INTEGRAÇÃO II.1.j - Como uma opção ficam reconhecidos os integrados tradicionais de cada de novos integrados depende nomaahnente de no mercado- consumidor nacional ou mesmo» um pacto uma maior demanda intemacionalz. Com o= melhora- mento da demanda, fomializa-se o convite para a ampliação dos já integrados ou usamse de estratégias de convencimento para que outros pequenos agricultores iniciem a produção pela integração. Essa maior demanda comercial refere-se hoje, principahnente à produção de fiangos. ponto que o É notório- o crescimento do consumo da came de mesmo tem se tomado um tipo de disputa partidária, no a sua estabilidade. A a tal sentido de elegê-lo É ele um dos grandes sustentáculos do plano que juntamente com outros produtos agrícolas está permitindo como mascote de campanhas econômico (Plano Real), frango-, eleitorais (5). consagração do frango como símbolo da estabilidade econômica é um sólido argumento junto ao pequeno agricultor para que amplie ou construa um aviário. No setor da produção integrada de suínos, no entanto, além de ser mais raro o convite para novos integrados, existe um claro caráter seletivo dos melhores criadores. Já tomado público, constitui-se provavelmente num processo irreversível. Estão em andamento projetos claros de eliminação ou simples não mais aceitação de produtores cuja produção Quando se é considerada irrelevante, para os. hoje padrões de acumulação capitalista. as leis de cada vez mais mercado regem livremente o consumo e as margens de lucro tomam- estreitas, a ordem capitalista é clara e definida: “reduzir custos de pro- dução”. Dentro dessa nova racionalidade, diminuir o número de integrados não significa diminuir a produção. Pelo contrário, os integrados que tencialidade de assumir a produção dos eliminados. inerente à atual forma de produção gem de lucros, toma-se inviável o trado e da coleta de leitões capitalista, tal ter a po- Em função dessa nova racionalidade redução de custos, minimização da mar- pagamento de técnicos, do em propriedades mais “dedicados” é ampliação, de permanecem precisam frete da ração, do concen- de baixo potencial produtivo. modo que A ordem aos os que permanecem possam cobrir a produção daqueles que vão sendo eliminados da integração. Os argumentos economicis- 54 com base na predominância da lei do mercado, tas e capitalistas lógica das agroindústrias. mente ir instável, É para elas uma questão de sobrevivência num mercado onde as opções convergem para a ordem da contenção de 8 técnicos visitando 100 integrados numa são a ótica diretiva dessa propriedade ou 70, 100, 150 ou 3. numa gastos. Possu- visitando 40, carregar 10, 15, outra, ou 23 capitalista estas leitões põe sem dúvida a racionalidade na gunda opção, priorizando produção e concentração (os números indicados são Dentro da lógica ações não só são corretas como imprescindíveis O pro- um aumento do potencial produtivo dos integrados que ficam. O grupo seleto dos que permanecem na integração- da suinocultura, certamente. se mais forte e mais combativo. Fato bem como o de se- fictícios). sob pena de a própria agroindústria. tomar-se vulnerável e ameaçada de falênciaf cesso seletivo significa alta- irá sentir- que pode aumentar o seu poder de mobilização barganhar maiores parcelas de participação nos lucros. Nesse particu- pode encontrar-se o gérmen de uma maior participação econômica e administrativa lar, junto a agroindústria.. _ os. Resta no entanto a. questão de como resolver a situação dos excluídos- da integração, que nela jamais encontrarão vaga. Esse ponto, pela relevância merece mais profunda. Segundo algumas literaturas que quem se integra é dominado, o zam nenhuma não integrado é alternativa opcional contrários à integração são de que os isto significa descapitalização em do situação. agrícola um excluído. Tais afirmações não ao pequeno agricultor. Os argumentos país, sinali- utilizados, e mesmos obtêm uma “renda negativa”. Diretamente crescente pauperização. ormente o cálculo da renda do integrado não pode lógica e prática a uma reflexão Mas como ser feito pelo do integrado o cálculo só tem sentido se feito Da mesma forma quem Excluído do que especificamente? Da dominação? demais produções da propriedade. foi abordado anteri- produto integrado. Pela quando interligado com as não se integra é excluído. Sem dúvida existe presente na integração uma lógica que a rigor a define. É a lógica racional da forma de produção capitalista. Sua presença no entanto, inaugura um mo- numental avanço tecnológico, que a própria racionalidade histórica do trabalho humano abstrato (como será frisado no Cap. IV), ela vai se trás inserida em seu conteúdo. Gradativamente expondo, através de formas cada vez mais complexas, mas também mais raci- 55 Existem sem dúvida presentes na integração, a lógica da empresa privada, o que onais. significa a lógica capitalista. Se foi esta que merece outras análise e outros ou não a única opção ou solução- possível, embasamentos. Dizer que a integração excluiu outras fomias ou possibilidades de produção e sem nenhuma preocupação integrados e social, nem com os menos ainda com os excluídos da integração não é suficiente para o lumbrar de alternativas, é reducionismo empiricista. um fato natural e nem pode imutável. Há. uma série que é fato ser considerado como A consumação tal e da integração, não é menos ainda como uma forma de fatores que contribuíram para a sua implantação. Obviamente em muitos desses fatores, interesses obscuros em substituição ao consumo de óleos vegetais, marcaram presença. Desde came o incentivo à banha, a proibição da comercialização da came suína por pessoas ou abatedores quando nos mercados, mercearias fosse ofertada vis- suína proveniente de frigoríficos. Cite-se e açougues também a “famosa” peste um plantel de suínos era eliminado pelas autoridades pela simuma doença em um dos animais. Mesmo que em inúmeros casos a suína afiicana. Nela, toda ples detecção de “peste” estava restrita recuperar e formar sível. uma simples e corriqueira diarréia. Mas, para estes agricultores um novo plantel com o dinheiro da indenização, isto Além da eliminação sumária dos animais, era algo impos- outra pena grave era imposta ao agricul- tor produtor: ele não poderia vir a criar porcos durante um período de no mínimo de 4 a Há sem dúvida interesses diversos presentes no processo da integração. Certo proprietário produtor e o produtor integrado estão inseridos num complicado 6 meses. é que o e intrigado jogo de forças, que mais comungar onde talvez a maior chance de ruptura com a tecnologia, com o esteja do lado daquele avanço da ciência na genética e a lógica da materialidade racional. PRODUÇÃO CAPITALISTA: UM IMPASSE OU UMA POSSIBILIDADE AO DESENVOLVIMENTO PLENO II.2 - A modernização da produção agricola encontra-se diante de um enorme impasse. Ela não tem como -conseqüência imediata a solução da pobreza e da miséria, econômica, social gama tecnológica antes ou política seja na ótica que prolifera entre os pequenos produtores. Toda esta e organizacional da reestruturação da propriedade produtiva familiar, ou ainda restrita à comercialização dos excedentes, em propriedade produtiva talista, vem acompanhada das capi- grandes contradições entre capital e trabalho, entre fome- 56 cedores da força de trabalho e detentores da produção. As grandes mazelas do mo urbano industrial, como: concentração da produção-, exploração da força de trabalho, manutenção de didas um contingente de trabalhodores como ou ignoradas. Elas acompanham o modo de produção. tração, A dominação, capital reserva..., ser escon- por serem integrantes e inerentes a esse a dependência, a seletividade, a exclusão e a concen- continuam disputando páreo com os supostos beneficios econômicos que a dernização agricola tanto proclama. Ela tem trazido juntamente “escolhidos” não podem capitalis- com mo- os beneficios aos uma maior proximidade da pauperização de grande número de propriedades com características produtivas tradicionais. Inúmeras medidas governamentais e do sistema econômico, forçam uma constante e gradativa descapitalização de grande parte de pequenas propriedades. Citam-se, o difi- ou negação pura e simples do acesso ao cultar como conseqüência imediata o não crédito no sistema financeiro, o que traz acesso à novas e mais produtivas tecnologias. Estas medidas. seletivas geram marginalização e a expulsão como reflexo direto da não mo- dernização da estrutura produtiva. Devido às suas cional, diata. características tanto» na forma de produzir quanto na forma organiza- a integração ou a modernização determinam um menor uso de O resultado é a expulsão e mão de obra ime- o abandono da propriedade agrícola oque traz como conseqüência imediata o inchaço da periferia de cidadãos e o aumento do número de favelas. Caracteriza-se certamente em muito mais uma vez que a modernização os problemas da produção material, contribuíram para não tem formas e talvez nem das formas de produção, que conteúdo para resolver o problema social e político dos homens. Enquanto esses problemas não encontram solução, gradativamente la crescente, dos. uma enorme e, em esca- parcela da população é excluída do acesso aos bens produzi- Uma exclusão que pela forma capitalista determina o não acesso aos bens materiais nem sociais, uma vez que este acesso ainda está condicionado à troca por moeda. Na verdade, e numa visão diversa daquela ancorada na lógica capitalista, a introdução de e novas tecnologias deveria fazer avançar o» desenvolvimento da humanidade, permitindo, além da crescente redução da jornada de trabalho, um acesso mais universalizado aos bens socialmente produzidos. Tudo passa a depender da estratégia dos mecanismos de regulação e da criação de outras modalidades de apropriação da produtividade gerada. A 57 possibilidade concreta, oferecida pela difusão cada vez mais abrangente nos setores produtivos, em reduzir o tempo do trabalho imediato é um da tecnologia pressuposto necessário para redimensionar as perspectivas sociais e politicas que relevem a uma nova forma de acesso aos bensproduzidos. A profunda reorganização _ econômica, tanto nos setores produtivos urbanos quanto nos que dependem diretamente de atividades um familiares- agrícolas, não encontram ainda equivalente nas transformações sociais. Estas ainda estão emperradas e presas a formas arcaicas, onde os monopólios, oligopólios e os corporativismos. sufocam projetos e ações de tar-se uma abertura mais social e universal. como uma alternativa A modernização agrícola pode apresen- à reforma agrária emperrada nos gabinetes, desde que res- peitadas as diferenças, não se restrinja a um acesso de forma desigual. II.3 - INTEGRAÇÃO: NOVAS OPORTUNIDADES Dentro das condições' objetivas postas pela prática produtiva da integração, permitese um abrir de horizontes, que de produção de alimentos. » envolvem o agricultor O seu anterior isolamento com novos e modemos processos social, limitado à família e ou co- munidade, a fomra arcaica e artesanal de produção, esvai-se agora pelo contato formas de produção universais, que 0 levam a ser tente, mais moderno e mais competitivo. com um indivíduo mais social, mais compe- A integração expõe o proprietário produtor a novas formas de exploração, mas também o expõe a novas formas de intercâmbio social, um campo mais abrangente de necessidades em sua vida e ampliam-se iguahnente as exigências da ordem cultural e cognoscitiva. Uma consciência mais dinâmica encontra nele um novo espaço, toma grande parte de seu tempo, toman- econômico e politico. Cria-se do possível o “surgimento e o desenvolvimento de amplas e profundas organizações” Gramsci; 1987:73)(6), dos proprietários produtores. econômicas A ( reconstrução de suas relações com a agroindústria, passa a ser uma constante. A medida que se descobrem mais indivíduos coletivos e universais, verão reivindicações se solidificarem e as metas passarem a ser conquistas históricas e concretas. 58 Diante do quadro, a situação dos agricultores, dos produtores integrados, saindo do perfil de produtor familiar de quase exclusiva subsistência, constitui-se numa questão que transcende a estrutura de fórmulas e marcas de cunho puramente economicista. Mais do que isto, intelectual ela se com perspectivas opera dentro de uma realidade econômica, potencial para apreender e criar. É de homem dentro dessa diversidade de novas que inevitavehnente se entrelaçam as relações de sua construção como produtor para além de sua propriedade e consumo. que o homem, integrado produtor, usca à exigência de mais e melhor vida a volvimento. social, política e si o- e a É também dentro dessa diversidade mecanismo do auto-desenvolvimento, uma aliado dinâmica mutável desse próprio desen- No dizer de Gramsci: “um mecanismo' de desenvolvimento autônomo e' auto- propulsor” ( Gramsci; 1987 :5l)(7). Todo esse conjunto de transformações de ordem econômica, social e intelectual, em desenvolvimento na Região, sublinham a inserção dos agricultores na forma capitalista de produção. Para Marx, citado por Gramsci: “O modo de produção capitalista... Cria a forma adequada, subordinando a agricultura ao capital; e desse modo, também a propriedade fundiária feudal, a propriedade do clã, a pequena propriedade dos camponeses unidos à comunidade de marca, apesar da disparidade de suas formas jurídicas, são transformadas na forma econômica correspondente a esse modo de produção” (Gramsci; 1987: 56) (8). ' 11.. 4 A “divisão - A ESTRUTURA DA rNTEGRAÇÃoobedece produção pelo sistema de integração social de trabalho”. Alguns agricultores vida. atingir em tomo tuna pré-detemiinada são responsáveis pela criação e entrega de leitões, outros atuam no processo da engorda. quando a A entrega do leitão ocorre de 22 a 25 quilogramas, tendo mais ou menos dois meses de Para fazer a engorda um outro cento e vinte dias, quando então .o- integrado terá um suíno deve atingir período aproximado de cem a uma média aproximada de 90 a 95 quilogramas. O sistema de integração, compreende. a seguinte estrutura: 59 II.4.a -_ Aves Mais conhecido pela denominação de parceria. lações do aviário, cujas dimensões Respectivamente fonte de água, silo com O agricultor precisa dispor das insta- podem ser de cem, cinqüenta ou vinte e cinco metros. capacidade para doze, seis e três mil fiangos. Precisa dispor de mão de obra, equipamentos de trato da água para estocagem da ração, tos, material de limpeza, ser trocados ou tirados, um galpão bem como da ração, um ou espaço para armazenagem de medicamen- 'utensílios defeituosos como: botijões de gás, ou os que no decorrer do lote precisam comedouros, equipamentos: de água, fer- ramentas, lenha, se o aquecimento for pelo modelo forno. Normalmente o agricultor financia as instalações e os equipamentos, pois a integração. A agroindústria, entra frete, assistência técnica e veterinária. seja necessária a presença capital com como já analisado, os pintinhos de O acerto do loteé do integrado. Existe um dia, feito uma tê-los é condição- ração, para medicação, na agroindústria, sem que escala de pontos, dentro da qual o integrado terá seu lote enquadrado. Esta escala de pontos, que se assenta basica- mente na conversão alimentar, diferencia-se de acordo ao tipo de chos, exclusivo de fêmeas ou lote misto. Hoje, os lote: exclusivo peso de 2,5 quilogramas. - I1.4.b.1 - A UPL leitão, em tomo de quacom uma média de frangos- permanecem renta e seis dias no aviário, quando são entregues à agroindústria II.4.b de ma- \ Suínos: UPL - UNIDADE DE PRODUÇÃO- DE LEITÕES. - Unidade de Produção de Leitões engloba os integrados que produzem o conforme já o nome especifica. Os leitões, quando atingirem o peso entre 18 e 25 quilogramas, são recolhidos pela agroindústria, e transferidos para o integrado que faz a sua terminação - engorda. instalações, de fonte- de água, mantém na região duas grama de leitão 1,5 lograma de Na UPL, o agricultor também precisa ser possuidor das depósitos de ração, etc. Basicamente as agroindústrias categorias de integrados em UPL: do preço do quilograma de suíno gordo os que recebem por quiloe, os que recebem por qui- leitão 1,6 desse valor. Estes integrados produtores, as matrizes diretamente da agroindústria, por normalmente financiam um período de 6 meses. Fato que possibili- 60 ao integrado ta or pagamento da matriz com a primeira ninhada de pago por matriz, corresponde a algo varia de acordo em tomo de 126 quilogramas de com a agroindústria a qual está integrado). merecedor de 1,6 por kg de leitão, é preciso que o- ra; estas laterais. como triz - local integrado satisfaça “local feitas com grade de ferro, de namoro”. Gestação individual - rem seguidos casos em que o desmame acontece no Além disso o ma- do parto e da amamen- a restritos 23 dias - já ocor- 18° dia após o parto. Creche - local após o desmame e até atingirem o peso de 18 a 25 quilogramas. integrado deve possuir bomba esguicho, que facilita a limpeza das instala- fechar as instalações evitando correntes de interior divisórias função de servirem uma ções; ter todas as instalações pintadas e repintá-las regularmente; ordem no padrão técnico As paredes com a local tação dos leitões, cujo período de tempo se estende hoje irão os leitões as seguintes local das matrizes cobertas. Nelas a -1 permanece praticamente imobilizadas. Maternidade onde com UPL e onde as matrizes permanecem antes da cobertu- são intercaladas pela repartição onde fica o reprodutor. são providas de janelinha que leitão (preço Para ser integrado na condições/exigências: mínimo de 60 matrizes, instalações de acordo indicado que consiste nas baias O 'preço leitões. ar, de todas as dependências. O para cortina controle de moscas, rigorosa limpeza e integrado na UPL, que em função de suas boas instalações, sua inquestionável estrutura organizacional e funcional, sua dedi- cação, seu capricho e empenho desmame com ou 23 18, 21 e, dias, incentivado por parte da agroindústria, conseguir com o desponta mérito de conseguir potencializar taxa anual de produtividade por matriz, sequer sonhada a 15 nhamos que o desmame matriz entra em cio, quando nos é de 114 ano ela seja dias. feito. com 21 dias. Em média, ou 20 anos atrás. 5 dias após o O período um uma Supo- desmame a de gestação nos sui- Então, após 140 dias, ela estará dando cria novamente. Durante um então é feita realiza pois 2,61 gestações e partos. a cobertura. Considerando urna média de 9,6 leitões por ninhada, teremos então 25,05 leitões por ano, que é considerado de elevado padrão e alto índice técnico. A fase de leitão, é aquela em que o suíno exige um maior grau de atenção e de cuidados. o Logo após o nascimento, o leitão integrado precisa tomar as seguintes providências: secar com panos velhos ou colocá-lo na estufa que acompanha a maternidade; cortar e amarrar o cordão umbilical; cortar a ponta de sua cauda ragias, (isto é feito para evitar hemor- quando adulto, causadas por mordidas especiahnente durante as brigas entre os 61 suínos); cortar os seus dentes “mcisivos” que mordam a prática necessária para evitar - mãe no momento da amamentação; aplicar vacina preventiva contra possíveis doenças; cuidar para que os leitões menores e com aparência mais frágil, consigam a sua teta para mamar; de “choro ou grito” pois pode estar alerta e atento para todo e qualquer sinal significar uma pisada ou um esrnagamento do leitão por parte da matriz. Hoje as instala- ções, dentro das modernas especificações técnicas, apresentam as maternidades com compartimentos especiais, repartições feitas com estrutura de madeira, ferro mistas, diminuindo significativamente os riscos de esmagamento. Dentro» e atendendo individualmente cada repartição, existe possuindo apenas uma abertura para a entrada dos para os mesmos ou dentro de um tapete térmico. No que é sinal um padrão um leitões, de identificação da granja, é feito via cortes da maternidade com lâmpada de como devem ser aquecimento tecnologia de ponta, marcados. A marca, nas orelhas. Três semanas após o Uma vantagem significati-va nascimento os machos precisam ser castrados. ou espaço pequeno e fechado, hoje considerado terceiro dia de vida os leitões como ção pela UPL, é o fato de que o produtor integrado ao vender os leitões na integra- permanece com o “grosso” do capital na propriedade. Ficam as matrizes e os reprodutores, o que já não acontece com os que fazem a terminação. Estes, ao entregarem o instalações vazias a espera de II.4.b.2 - as Terminação parceria. Nela o integrado recebe os junto aos integrados na UPL, e passa a fazer pronto para o abate. Este integrado a exigência pela CEVAL também or - engorda dos suínos leitões serviço - é denomi- adquiridos pela agroindústria do trato até precisa ser dono das é de no mínimo 360 fonte de água, depósito para queira, ficam com um novo lote. A exemplo da integração de frangos, a tenninação nada de lote, que o suino esteja instalações, m2 com capacidade para 450 - hoje leitões armazenagem da ração, para a guarda da medicação, - a ester- ferramentas e acessórios para a limpeza e outras exigências funcionais. Basica- mente este integrado executa a tarefa de cuidar do suino, tratando-o sistematicamente, aplicando medicação quando necessária ou indicada pelo técnico/veterinário, fazendo a limpeza diária das dependências e mantendo ao desenvolvimento do lote. O integrado da ração, dos medicamentos, do frete, um controle rigoroso de observação quanto não toma conhecimento dos custos do da assistência técnica, etc., ele leitão, apenas trata o 62 suíno, limpa as instalações e depois de cuja base de cálculo não lhe está aproximados cem bem clara. Sabe no dias, recebe entanto que or um pagamento, fundamento está na conversão alimentar, ou seja na quantidade de carne produzida por unidade (uma média 'considerada ração, aceitável é que para produzir com - de um kg de came haja um consumo de 2,49 kg de ração) também sabe que a medida da carcaça pode o seu lucro. Esta medida está relacionada kg' - potencializar o potencial de carne do suíno, ou seja quanto menor e menos espessa a camada de gordura melhor a sua avaliação e portanto ~ melhor o= seu rendimento. o rendimento da carcaça, variando hoje de 45% a 55%. de carne magra, que irá potencializar o seu lucro. II.4.b.3 - Integrado de ciclo completo É comumente denominado' de fomentinho. Engloba os integrados' que criam os leitões e em seguida procedem a sua engorda. Também este integrado precisa possuir as instalações, os equipamentos necessários, fonte boa de água e com garantia de suficiêne preferencialmente o milho para o preparo da ração. Ele é considerado integrado cia, pelo fato de trabalhar para uma determinada agroindústria, que garante a aquisição da produçao. Essa categoria de integrados eles é- a mais flexível. É aquela que é, suportável, segundo É esse que menos concebe fazer o cálculo da renda da propriedade pelo produto inte- argumentam, apesar de o rendimento da produção suína não ser elevada. integrado- grado. Nos seus relatos expressam ser a situação suportável, de obra; planta e colhe grande parte do milho consumido - uma vez que não paga mão podendo até adaptar o núme- ro de matrizes proporcional à quantidade de milho a ser colhido; a sua subsistência não depende exclusivamente desse produto integrado, integrados, as culturas alimentares, tais horta, pomar, leite vez que como: mandioca, para consumo e venda para a cultiva, como os outros feijão, batatinha, arroz, lacticínios; possui toda a produção- integrada o rendimento, mesmo que pequeno é garantido e caracteriza-se tem venda garantida; como de segurança. Nos períodos fator uma em que a crise do porco se acentua em função da queda do preço e do aumento dos custos do milho e do concentrado, a situação deles fica muito furo”, dificil. Ainda assim e, mesmo consideram que a atividade de tendo que vender alguma matriz para “tapar o criar suínos se paga. Sabe também o produtor in- 63 tegrado, que se ele tem déficit na produção, o não integrado também o tem. Por outro lado sabe também, e isto por experiência acumulada durante anos- de produção, que o mercado da came suína é te à agroindústria. instável e regido por fatores que ele não debita exclusivamen- Há variações em função da melhor ou pior safra de grãos, do preço no mercado da came bovina ou came de frango, dos acordos fixados pelos grandes blocos econômicos, dentre eles o Mercosul pela variação dos preços na bolsa de valores, pela manutenção de estoque regulador, por intempéries neta, etc. Os meios em outras regiões do país ou do pla- de comunicação, principalmente a televisão deixa-o. a par dessas in- formações e variáveis de oscilação. É comum os integrados na crise, não- é repor produtores integrados na suinocultura, e aqui incluídos os UPL e mesmo os da terminação, afirmarem que desistir de criar suínos na negócio. Porque, normahnente quando a crise tiver passado, até que consiga um novo plantel, já existe experiência reza que não com a criação a probabilidade da vizinhança de compensa trocar ou cedeu destaque, para entrar sim podem ser em outra, pois- desistir para ela uma produção de leite, Sua crise. para a qual con- também terá a época da de suínos, de frangos, de produção de tras culturas agrícolas. uma nova de fumo, ou É crise. mesmo as- ou- Levam muito em consideração e mesmo temem a possibilidade da outra produção não ser a do seu ramo ou da sua “vocação”. Percebe-se novamente a presença da insistência de que criar suíno ou fiango, ou que ela seja do “meu ramo”. Sabia como leite é agricultor, e sabe grado que todo o produto tem sua época de crise. Por ção da produção, ou seja na policultura. Isso permite algo cultural e é. preciso agora como produtor isso eles inte- apostam na diversifica- com que, quando um produto está em CIÍSG, OS OLIÍTOS O COI'I'lp€I1SaIIl. Tendo discorrido sobre a estrutura da integração, espera-se ter conseguido clarear e definir, pelo menos de forma aproximada aquilo que é o objeto do presente estudo. certo que muitos pormenores não foram ainda detectados e captados em sua essência. É A amplitude e as mínúcias que envolvem todo o esquema da integração, são extensas e merecem com certeza ainda muitas considerações e muitos estudos. Conseguir de concretamente expor todo o seu conteúdo, que substanciahnente e, fato e porque não dizer propositadamente encontra-se escondido daqueles que são o objeto de sua atuação, é um enorme desafio. Somente o desvelamento real de toda a sua estrutura, de todo o 64 seu potencial, ao mesmo tempo de dominação permitir que os hoje integrados, objetos do processo, e de produção, poderão mas também e, ainda agricultores, passem a ser sujeitos plenos diante e dentro utópico desse desvendar, acredita-se algum dia vistos e tidos do processo. estar contribuindo para acelerar ea No como sonhar redimensionar um papel mais contundente e condizente com o enorme poder de produção alimentar sob responsabilidade dessa parcela de agricultores.. 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) BELLOTTI, Elena Gianni. Educar para a submissão. A fórmula usada para 2) cultor e' a que segue: Petrópolis, RJ, Vozes, 1979, p.10. o cálculo do rendimento e que determina o número de pontos obtidos pelo agri- Rendimento = Peso Total x 1.000 Idade x Conversão x n° de animais lotados Ex. Se o peso total de um lote foi de 30.420,54 kg, a idade e de 46 dias a conversão alcançou o índice de 1,878 e o n° de animais alojados foi de 12000, teremos: 30.420,54 kg Rend = ------ --' ----------- -›-- x 1.000 = 29,345 pontos 46 x 1,878 x 12.000 pontos que eqüivalem mais ou menos aum valor em reais. de R$ 2.467,43, já incluidos os percentuais de premiaÇão e produtividade. ---------------------------------------------- -- ` - 3) A Ceval recentemente estabeleceu o limite de distância entre 0 integrado de aves e o abatedouro em no máximo 80km. Os agricultores integrados fora desse raio estão sendo avisados de seu desligamento após a efetuação de mais três lotes, tempo em que aconselham a procura de outra agroindústria. O relato dos produtores integrados com relação à intermediação de comerciantes, também criadores de suínos, são de que estes desviam parte de milho, de ração, quando a entrega é a granel, cometam erros propositais na balança quando da pesagem dos leitões ou suíno gordo, ou fazem marcação errada do peso, troca dos índices da carcaça, etc.,. Ao se perguntar aos integrados que recebem a ração a granel nos aviários e mesmo que estão recebendo 12 mil pintinhos, da agroindústria eles se reconhecem em não condições de conferir, mas tem uma tendência de “confiar” mais na agroindústria. 4) A 5) Isto É n°1374 ae31.o1.9õ,pl. 20 a 23. A questão meridional. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 6) GRAMSCI, Antonio. 7) GRAMCSI, Antônio. A questão meridional. 8) Marx, II 1987, Rio de Janeiro, Editora Paz, e Terra, 1987, Capitale Vol.l1I, p.716. In Gramsci: A Questão Meridional, p. 56. p. 73. p. 51). CAPÍTULO III A REoRGAN1zAÇÃo EcoNôMIcAz DE AGRICULTOR PARA PRoDUToR,UMA GLOBALIZAÇÃO 111.1- ÇÃO DA GLOBALIZAÇÃO PARA A sUBM1ssÃoz,. PARA A GLOBALIZA, Próximos ao. limiar_ do século nos deparamos com profundas mudanças tecnológicas e organizacionais tanto na produção de bens quanto na produção de serviços. Estimula-se As a criação de barreiras um mercado mundial, buscando a “Globalização da Economia”. espaciais são reduzidas pela na organização espacial via inovações na configuração da Incentiva-se' a racionalidade produção, na da circulação desejando-se ente. É - os fast food, e guardanapos, descartabilidade, hoje é' um consumo cada vez mais rápido e mais efici- destaque a ênfase na instantaneidade, como. alimentos e refeições instantâneas e rápidas tos, compressão do espaço através do tempo. etc. da descartabilidade “o usa e joga fora” de xícaras, copos, pra- Criam-se mecanismos que forçam as pessoas a lidar com esta com a novidade quase instantânea, com a perspectiva de que o novo de o obsoleto de amanhã. ou daquia pouco. Acentua-se a volatilidade, a efemerida- de, tanto de modas, quanto de produtos, técnicas de produção, processos de trabalho, idéias, concepções e ideologias, a tal ponto que tem-se a sensação de que “Tudo o que é sólido desmancha no ar”(l). O que se nos apresentava rança e solidez, tomou-se fluido. o estar mas não ser. grau de segu- uma nova preocupação, A comunicabilidade suscitou hoje predominante no capitalismo, a da produção virtual, com um elevado de signos e imagens, a realidade A profunda revolução da micro-eletrônica presente na mídia, confunde o telespectador, a ponto de ele não saber distinguir entre simulação, entre a existência e a aparência entre o significado e rece tão supérfluo, limites. mas ao mesmo tempo tudo significante. Tudo pa- show de máscaras não tem Presenciamos o jogo das moedas sem substância, que desprovidas da solidez de um trabalho que a precedeu, faz.instituições, culativo é tão real e o ot o que é real e o que é do estados e nações navegar no mercado espe- capital fictício.(2) A revolução e o acentuado - desenvolvimento e aprofundamento no estudo das partí- culas elementares diante da possibilidade de uma subestrutura dos quarks, (3) no avanço 68- da engenharia genética, seu estudo e conseqüente aproximação do desvelamento e da decifiação do genoma humano, da clonagem de seres vivos tanto animais quanto vegetais, são o preâmbulo de um talvez estar mais próximo do segredo da vida. e praticamente eliminação das fronteiras econômicas entre os países, que A redução vem consoli- UE União Européia, o Acordo Geral sobre Tarifas Alfandegárias e Comércio - GATT (General Agreement on Tarifi`s and Trade), a ASEAN, o NAFTA, o MERCOSUL e outros já firmados ou em dando a formação dos grandes blocos econômicos, como a fase de estruturação. - V - - _ V Certamente para osagricultores, especialmente os produtores integrados, para as empresas comerciais MERCOSUL *e industriais e para as agroindústrias o que no momento é incita movimento fárias. latino americano, Esta constitui-se numa o Catarinense, maiorespreocupações, pela proximidade pelo desconhecimento de suas bases econômicas. um do Oeste A sua característica inicial é .e a de ser intentando ultrapassar barreiras. alfandegárias e tari- exigência dos grandes blocos transnacionais em fase de instalação e a procura de ambientes protegidos que favoreçam a exploração dos potenciais dos mercados locais. São empresas que se lançam hoje pelo mundo afora a procu- ra de novos espaços econômicos que possibilitam maior competitividade cuja tendência é a mundialização e globalização. Uma globalização, no num mercado entanto, que não conseguiu e não está conseguindo dissolver a relevância da divisão, nas. relações de produção. Pelo contrário: “impregnam agora totalmente as forças produtisua evitando subordinando-as e vas, contradição, a. todo 0 resto aos ditames de sua acumula- ção”(Maar; 1995)(4). Permanece a característica de tuar a globalização como falar-se com estilo em “Aldeia um darwinismo e formas capitalistas. Global”, intercâmbio mundial fragmentado, já fizeram, social, mas sim em que leva precisamente a concei- Não permite, e não há porque, capitalismo de extensões mundiais. nem Um sem os preceitos da totalidade humana e histórica, que Marx e Engels Afirmar: ~ z _ “O intercâmbio universal moderno, só pode ser controlado por indivíduos... Quando controlado por todos os indivíduos” (Marx e Engels; 1984:67)(5). f 69 perspectivas de formação dos grandes blocos econômicos Diante das eles o MERCOSUL - e diante dos esforços e da economia e do mercado, torna-se necessário aproximação conciliar esta trônica. e, complexa e rápida sucessão um inex- principalmente do potencial da microele- Manter o produtor integrado à distância ou talvez vando-o na ignorância das relações comerciais do nem benéfico dentre da mundialização da de acontecimentos, diante do fato de que o produtor integrado, tem ainda pressivo domínio do conhecirnento cientifico - exclui-lo totalmente conser- MERCOSUL, já não é possível e para nenhuma das partes. Mantê-lo ignorante, para que sirva apenas de ponte estática e útil, não favorece a participação dos integrados dependências materiais em nada o projeto em debates, do MERCOSUL.. É imprescindível discussões e das muitas inter-relações e inter- em que está envolvido. É necessário que tomem conhecimento das decisões que estão sendo tomadas, participe ativamente, porque o capital econômico, produtivo e consumidor, busca forma produtiva que subjaz em um maior dinamismo e sua estrutura tem racionalidade, que é determinada pela tecnologia. diversos aspectos e fatores que permeiam mos humanos é excludente. uma maior envolvência. como parâmetro uma nova É A e maior necessário decifrar e conciliar os uma economia globalizante, mas que em ter- Negar acesso a esta nova racionalidade tecnológica presente no processo da mundialização, representa para o produtor integrado e mais agricultores o enorme risco de uma participação em escala decrescente dos lucros da matéria prima por eles produzida. Além de integrar-se materialmente, precisa integrar-se mentalmente, envolver-se de corpo e alma para saber porque» faz, porque produz. A própria “riqueza”, perde nesta reestruturação do capital a sua concepção de não mobilidade e de caráter de fixidez e estática,›como para nós ela se apresenta. dinâmica faz com econômicos mais A nova o capital seja mais circulante, também para nós, permitindo retornos substanciais, quando aplicado a formas produtivas mais rápidas controle maior do tempo e do espaço. A integração, apresenta-se como uma via de aces- so a esta mobilidade das coisas e bens. Dentro dela, é maior a oportunidade de acompanhamento mais direto desse dessa dinâmica, não é tão somente com um movimento. Estar mais próximo ou mesmo dentro um interesse necessidade econômica, social e politica. por conhecer fonnas novas, mas uma 70 Sem dúvida a humanidade está presenciando um novo taque para a microeletrônica, que obriga as compressões paradigma de produção. Des- do espaço e do tempo, exige novas formas organizacionais e dentro delas a da produção pela terceirização. Terceirizar tomou-se sinônimo de redução de custos. Ela está res, industriais, ário, etc. em decadência. Ela é aquela produção. Na expansão tanto nos seto- de prestação de serviços, nas áreas sociais do estado, no setor agropecu- Sua presença independe de pobres' ou volvimento ou em fase de sem ricos, de economias nem fionteiras geográficas, em estáveis, restrita desen- a esta ou . . agricultura perfilam-se enormes mudanças com destaque a mecanização do. pro- cesso produtivo, o uso de insumos modernos, a padronização na produção de frangos, suínos, fumo, leite, uva, e outros. tremamente significativos no contra-se Tunápolis do Estado um contingente e. antes Tunas País. - Esta, padronização consagrou-se e atinge niveiszex- interior do sistema de integração.-Nesta integração en- considerável de pequenos produtores tanto. do município de quanto da região do Oeste Catarinense, É um contingente de outras Regiões de agricultores que mantém e detêm alguns meios de produção como a terra, ferramentas e instalações. Pela integração passam a incorporar, inovações tecnológicas, da engenharia ge- nética e do melhor. aproveitamento espacial, que o processo de modernização cultura põe a disposição. A incorporação da agri- das inovações aqui trazidas, ocorre de uma forma mais acentuada e rápida pelos agricultores que aceitam o desafio da integração, do que pelos não integrados. Ao aderir `a esta nova conjuntura da produção agrícola, o agricultor passa a viver impasses e se defronta com incessantes desafios e expectativas. Dentre outros destacamse alguns, pois apesar de a relação ser similar àquela mantida tem outros pontos obscuros. Tratar com o comerciante era nhecida pessoa. Agora a relação com o lidar comerciante, exis- com uma única e co- com o “patrão”, distante e desconhecido é intermediada pelos técnicos, pelos motoristas dos caminhões, pelos comunicados, pelos panfletos, pelos manuais instrutivos, pelo contrato, etc. na propriedade. O Há um fluxo elevado valor do investimento inicial maior de pessoas circulando necessário pectiva de lucros compensatórios é motivo de apreensão, porque - frangos - e a pers- como Giddens trabalha 71 em seu livro “As conseqüências da Modernidade”, a nova situação bem como a institui- ção “ainda sem rosto”, é ainda algo que se faz representar, que não se constitui ainda fato. em A incerteza de possuir suficiente conhecimento para lidar com os suínos ou fiangos, com a genética inserida dentro de um ciclo precoce. As dificuldades de acesso aos meios de comunicação, cuja carência faz aumentar a angústia e a não tranqüilidade do produ- A necessária mudança da rotina diária e a conseqüente adesão a uma rotina exigindo um maior tempo de presença. A incerteza do alcance da qualidade, exigida através- do técnico, pela agroindústria. A exquando necessita chamar tor, o- técnico ou o veterinário. pectativa da necessidade de superar-se constantemente, de bater o seu próprio recorde e o medo de ficar para trás. ` O desenvolvimento tecnológico impõe urna alteração na escala produtiva da agricultura familiar. Manter presentes as inovações tecnológicas na propriedade familiar, impli- cam num redimensionamento das necessidades domésticas. de que essas necessidades passam a exigir familiar cresce, toma-se mais exigente uma crescente em A conseqüência imediata ampliação. qualidade e quantidade é O próprio consumo e, portanto passa a depender de níveis de produções maiores. Produzir mais e melhor começa a ultrapassar o sentido restrito ao querer e torna-se uma necessidade de estudo com maiores exigênci- as. No dilema de produzir mais, a agroindústria abocanha fatias significativas e certamente é a mais beneficiada economicamente. O mercado tradicional é superado gradativa- mente, eliminando algumas das características das antigas relações, enquanto torna-se o pressuposto de relações mais complexas. Mais agilidade e complexidade manifesta-se agora nas relações entre produtores e produtos, entre produtores e agroindústrias e mesmo entre produtores e consumidores. O jogo de interesses de todos os setores e hierarquias envolvidas geram novos e apresentam novas exigências e outros envolvimentos. sidade e desigualdade manifesta está longe conjunto, esta enorme diver- envolvendo todos os setores produtivos agrícolas, do estabelecimento e fixação de soluções. descaso, incompetência guiu firmar e-, No conflitos, O Brasil, ou atendendo a interesses obscuros uma política agrária condizente com o numa demonstração de e corporativistas, não conse- seu potencial agrícola. O não estabe- 72 lecimento de uma política agrária está deixando ao sabor do mercado os cerca de 500 com desdém os cerca de mil estabelecimentos empresariais agrícolas, enquanto trata milhões de propriedades com características de agricultura familiar. A criação pelo Governo Federal do PRONAF da Agricultura Familiar país, precisa - urgentemente princípio orientador; 6,5 - Programa Nacional de Fortalecimento que deixa claro a importância da agricultura sair familiar para o dos gabinetes de Brasília e cumprir, materializando o seu “As ações a serem executadas devem ocorrer a nível municipal, fortalecendo-se as organizações comunitárias e estabelecendo ações conjuntas do poder público federal, estadual e municipal”. Divulgado e senta a oportunidade do associativismo a produção, garantir emprego e gerar tomado como grande mercado consumidor, para garantir a obtenção de ta, são um mundo instrumento capaz de potencializar uma transfomiação Associar-se para trabalhar, para produzir, para prático este princípio repre- social facilitar no meio rural. a entrada dos produtos no crédito, ter participação como de realidades e oportunidades que o estabelecimento de quotis- uma política agrária precisa apoiar. Enquanto corporações e interesses diversos obstaculizam a prática de uma política agrária favorável ao produtor familiar, a situação de inúmeras propriedades se agrava e a população agrícola diminui drasticamente. Os excluídos são entregues ao sabor do mer- cado, que por sinal é muito doloroso. Ele é extremamente mutante e o expropriado não encontra metas orientadoras. Como fiuto decorrente da precariedade da política agrária, agricultores da região, pode-se destacar o abandono sistemático do campo dos filhos dos agricultores, caracterizando uma espécie de êxodo rural. “mandam os filhos embora”, ou porque são da propriedade não dá para todos. filhos soa com a qual convivem os se tomam excesso De certa forma os pais de braços ou porque a redivi- Na cabeça do agricultor esta situação de saída dos como uma espécie de abandono. Culpam então o governo pela pouca valoriza- ção de sua produção, pelo praticamente inexistente crédito fundiário, juro subsidiado e pela descapitalização gradativa. Por outro lado é obrigado a assistir profissionais liberais, 73 médicos, advogados, os próprios comerciantes e agro-industriais adquirindo terras do meio rural. A instabilidade dos preços dos produtos agrícolas, transforma-se num dos problemas do país que ano após ano gera impasses e vai agravando a situação dos agricultores Geralmente na inteiro. safra, o preço pago pela produção, baixa muito. Exemplo carac- O preço mínimo da saca de 60 kg estava fixado em terístico foi a safra de milho 94/95. R$ 6,30 e o agricultor era seguidas vezes obrigado a vender' ol milho- pela irrisória quantia R$ de até 3,00, como forma de honrar os seus compromissos junto ao comércio e, junto ao sistema financeiro- dos bancos. Esse valor era oferecido pelos comerciantes e, também pela COOPERITA, a cooperativa No local, que tinham a receber dos entanto, os custeios agrícolas feitas pela equivalência de produção só pelo valor do preço minimo. Some-se a isso, de pagamento dos custeios, o govemo com o agricultor, tabelou numa ot fato eram quitados após o período safra, clara demonstração de insensibilidade para o preço mínimo da saca de milho quando o preço dos produtos no mercado começa a vender a sua produção. de que após a agricultores. subir, o em R$ 6,00. Normalmente agricultor já foi obrigado Em parte para saldar dívidas e em parte por não priado para proceder a estocagem. Dessas distorções e impasses, o. a ter local apro- agricultor aprende que não é mais possível colher o milho para o mercado, mas, que é mais vantajoso transformar o milho em carne, ou leite, tratando-o para or suíno ou gado leiteiro, por ser mais compensador economicamente. Deduz-se assim, que a politica agricola adotada pelo Estado Brasileiro não um fato que seria em princípio a lógica sem alternativas opcionais: que o preço de safra e seu conseqüente lucro seja viabilizada pela moderna tecnologia, manutenção de fragmentos da natureza produtiva familiar. as novas formas organizacionais, inseticidas, as um Mas hoje são grau de conhecimento maior, os possibili- as máquinas fertilizantes, os sementes selecionadas, os reprodutores de raça, que estabelecem e são determinantes de novos parâmetros. No entanto, todas estas inovações não se acompanhar necessariamente de melhorias econômicas e grado. uma a alavanca financiadora do plantio da próxima safra. A ampliação dos índices de produção, ta a viabiliza Na prática o que ocorre é um crescimento sociais para fizeram o produtor inte- desigual entre os preços dos insumos 74 a tendência ao decréscimo do preço real dos produtos agrícolas industriais e Em conseqüência, vemos caracterizado uma manifestação, uma em geral. concreta e gradativa rninimização da renda agrícola para o pequeno agricultor. São fatos que levam a decla- podem constituir-se em denúncia ou rações, que tanto simples constatações, como a que segue: apoio à pequena agricultura se justifica, porpor sua produção como instrumento de uma economia capitalista» saudável, evitando assim que sua gente venha a aumentar a intranqüilidade rural (e, com oz êxodo, a urbana) (Elores; “o_ tanto, l995)p(6). DE SUBALTERNO PARA PRODUTOR PLENO' III.2 - Diante desses e de outros fatores de inquietação, os produtores integrados modo e, de geral os trabalhadores rurais, precisam reconhecer 0 seu potencial de produção. Ao tomarem consciência da importância e do volume da matéria prima produzida, 'seguramente saberão valorizar-se mais e, como conseqüência exigir melhor reconhecimento e atenção. Não há dúvida de que o País deve grande parte de sua produção agrícola, ã agricul- tura familiar, que em produção de ovos, trigo, banana, tomate, feijão, laranja, mandioca, carne suína e de frango. leite, Além de inúmeras vezes supera a agricultura patronal quando se trata da que, a agricultura familiar tem uma capacidade de absorção de mão de obra que supera a da agricultura patronal, fato que por si só é de extrema importância, índices crescentes de desemprego. A sua luta pela sobrevivência e, mais do que isso a luta pela vida e por vida plena, via um trabalho cole- quando o país vive às voltas com tivo e associativo tui-se uma situar-se de mutirão, como insistência de preservar a economia altemativa como real. familiar, consti- ã degradação, ã miséria e a desmoralização. Reconhecer-se e proprietário produtor, em ritmo de produção agro-industrial, como é o caso dos integrados, é de ftmdamental significação para que os produtores do setor agrícola, construam opções teóricas e práticas. Concretamente na diversidade conceitual de classes subalternas, encontra-se para enquadrar as famílias que constituem a base da agricultura familiar. Nela, uma como nas 75. grassam contradições, conflitos e confrontos demais, šllzlš no cønjnnto dc no ombato das contradições intomas. ospolhnn. a inserção no modo Çõos. o “ produção ospolllflr o de conflitos de interesse também modelados internamente. conflitos, como rola.- oêpitolista do ' Quadro contraditório torna-se mais complexo, por Esto. cia distint.QS, É geradores de relações não amistosas tanto entre expor a oxistên- possível elencar estes ag;'i921Ê.9FÊ.$é Ê ¡š1ÊÊ81.`¿}` dos, quanto entre integrados. Destacam-se alguns: a) entre os agricultores e os produtores integrados. Os' primeiros percebem uma maior capacidade de expansão dos grados; b) entre os produtores integrados com uma ou outra agroindústria. beneficios ou vantagens traz algnunas especificações que caracterizam É o._ CEVAL, exemplo, da tcm1_0.S, i11sta1a9Õfi$_; 9) A tabela de uma agroindústria. que na criação de suínos é mais exigente que a de matrizes e padrão técnico das dc inte- entre SADIA em QS. integrados em função da expressiva desigualdade do “lucro” obtido por lote. Este fato é mais comum dentro da parceria tanto de aves quanto de suínos; d) entre o integrado da UPL - produtor de leitões - e o integrado que faz de uma mesma agroindústria. Principahnente terminação. Enquanto os primeiros lutam pelo aumento do preço pago por kg de leitão, os últimos lutam para pagar menos pelo terminação reclamam da qualidade leitão. Também nem sempre boa dos os integrados da parceria da leitões que recebem, acusando de mal intencionados ou de desleixados os integrados da UPL; e) entre os integrados de modo geral com os agricultores produtores de o preço cobrado pelo esterco agroindústria, pela qualidade lucro - grãos ou de fumo, por considerarem alto adubo orgânico; Í) entre os integrados de frango e a do pintainho que recebem. Eles já aprenderam que o seu depende da qualidade do lote e que esta qualidade também depende da qualidade e da linhagem do pintinho; g) entre integrados de modo geral e as agroindústrias, pela qualidade da ração e pelas inúmeras vezes que são utilizados como cobaias para testarem alguma linhagem de fiango, raça de suíno, ingrediente na ração ou mesmo algum medicamento lançado no mercado. Estas disputas e contradições, marcam os subjetivismos presentes na agricultura familiar, tomando-se característica de sua condição de subalternidade. Uma subaltemidade com forte sustento sa na relação de dependência, sustentada 1í111í'Ç€.,S ÇL1_1.Il1Iêi_S, hierárquico, que visivelmente se expres- também técnicos e genéticos, pelas dificuldades econômicas, pelos e pelo acesso. desigual aos bens sociais 76 como saúde, educação e previdência. São graves problemas que ameaçam propostas de associações e perspectivas de produção mais coletivizadas. A categoria de subaltemo, pressupõe uma diversidade de situações e de formas de Cada qual assegura sua riqueza subalternidade. histórica, cultural e política e, dentro dessa diversidade de concepções, subjazem as esperanças e concretas possibilidades de superação. As integrados, conduzem a esperanças, as lutas de cada grupo, e no caso específico dos produtores diferentes resultados históricos e no caso a uma maior partici- pação. O envolvimento e o compromisso maior no campo da produção da matéria prima came, tende a desativação de antigas contradições básicas que cercam o do desenvolvimento capitalista. xas e abrangentes do que as presentes na relação das contradições internas, diante Novas com contradições, mais comple- o comerciante, tomam forma e corpo, inserindo o integrado na contradição base do capitalismo: burguesia versus proletariado. Assim, cros, traz a luta dos proprietários produtores por em seu interior aspectos uma participação maior dos lu- políticos, sociais e epistemológicos contra a exclusi- vidade do domínio da tecnologia e _da engenharia genética. O grande impasse para o agricultor e para o integrado, inovador capaz de abrir gica? como Mudar como acelerar o processo caminhos que atenuam ou destruam a autoridade da cultura tradicional? Diante' das adversidades agrárias, é: , das incertezas e da instabilidade das políticas predispõe-se para a reinvenção cultural paralela a apropriação tecnoló- e, abrir-se para novos aspectos políticos, culturais e epistemológicos, pre- cisam ser a pauta e a fonte da busca de uma legitimidade alternativa, contrária à legiti- midade hoje vigente, implica no rompimento do estado de cooptação às formas de subjugação da crença e da vontade dos trabalhadores agricultores. novas formas de consciência da abrangênfiíê da cultor, o integrado e, É um rompimento ao fazê-lo dade e de proprietário produtor. libertar cultural, as $.u.h3l-l¢mid?d¢› šíšâvçm ser ruptura das velhas relações de dominação e de exploração, dos vínculos de dependência. A inovação determi11a.11€lQ que precisa libertar Q fiutos da IQI11PÍ.I11ÊnÍ.Q o trabalhador agri- o trabalho e descobrir o significado de proprie- Uma nova concepção de trabalho, organiza novas con- 77 cepções de vida, do eu individual, do outro, das relações sociais, das relações míticas com a natureza, de novos valores, de novos projetos e de novos desafios. Mas, para isso, o conceito de subaltemo precisa ser redimensionado. Ele não pode tão somente expressar a expropriação material, social, política e mas também a dominação e a exclusão econômica. Faz parte desse entendimento da subalternidade, a supera- ção conceitual do arcaísmo da agricultura co de Lenín quando familiar. Pode-se dizia: iniciar superando um equívo- ' “ ...Mas na agricultura o capitalismo penetra com especial lentidão e através de formas extraordi- nariamente diversas”(Lenin; I974:167) (7). Significa dizer que o caráter progressista de desenvolvimento das forças produtivas, não encontram no agricultor os parâmetros da racionalidade objetiva do próprio processo econômico. Mas como pode não é esta a lógica presente. economia de Real. tras do As uma nação. ser observado junto aos integrados e nos não integrados, O potencial produtivo da agricultura é o No caso brasileiro, sustento básico da a agricultura é o sustentáculo do Plano seguidas safras recordes, beirando 75 milhões de toneladas de grãos, são mos- da importância e da alavanca que a agricultura representa para a solidez econômica país. em torno dela que gira a indústria de insumos, a genética das sementes, a dústria de máquinas, a industrialização alimentar, e a possibilidade de mais mesa do povo. Negar a potencialidade da agricultura é desejar or tante ao arcaísmo produtivo e desatar o seu caráter progressista. Q91QÇ.š!1Í Q agricultura no seu devido lugar, significa também lhadorcs agrícolas, a condição do ãgentes ativos do dlí111Ç.I1I,Q 1131 seu atrelamento cons- Não reconhecer e não destituir e liistória. Ez. in-.. negar aos traba- uma mais vez citando Lcoin: “Q mal... Não éz o que cs. camponeses pensam-_.. E sim depreende das relações econômicas da atual sociedade” (Lenin; 1980:83) Mesmo também age assim, por mais subaltemo que possa ser considerado e “faz diferença”, (8). ou considerar-se, ele ou seja possui a capacidade de mobilizar recursos e mudar o contexto das relações. Sente-se encorajado a monitorar suas próprias atividades c9.I.11Q nível influenciar a outros buscando de consciência mais racional. uma regularidade de Na condutas quotidianas bem com um condição de agentes, criando e exercendo ações 78 incorporam rotineiramente novas caracteristicas temporais e espaciais trazen- diferentes, do lhe outra constituição e outros significados. Se o capital é o agente da história por impor sua lógica, concebe também a necessi- dade do conflito entre a história e a consciência que dela tem os participantes. Isto eqüi- vale a dizer que, o ser e a consciência, são apenas antagônicos, motivo por não agentes e nem resultados históricos. Deduz-se assim ser a consciência alienação e de mediação crítica da história, um serem elemento de ou seja de contradiçãoe de luta social. Enfrentar essa situação de descrédito no potencial 'do agricultor, significa ultrapassar ` concepções iluministas de cunho positivista e liberalizantes da economia burguesa. Te- mos contribuições preciosas no sentido de superar estes impasses. dá mostras disso, O próprio agricultor quando, experiencia novas formas de organização e de aprovação ou como por exemplo o não, de genéticas alternativas Chester, o Bruster e o Classy (9). Importantes demonstrações de contestações, destacam os limites da desconsideração do potencial do ações. homem agricultor e a sua suposta incapacidade Insistir de criar propostas de novas no caráter de desqualificação e na incapacidade do desenvolvimento da uma forma conservadora e estática, que em nada contribui para solidificar uma auto-valoração do homem agricultor. força produtiva presente nos agricultores, é Seu objetivo e compromisso é divulgar a falsa idéia de impotência da luta dos homens do campo. Fazem questão de como alguém que situar situar o agricultor como alguém alheio politicamente, está por fora dos problemas a postura política como um terreno econômicos e forma mais convincente o integrado, estão surgindo como reconhecer movimentos em si mesmo de uma enorme reivindicatórios, significam para a burguesia dos agricultores tem tido grandes transformações do mundo um atual, pois o agricultor e de sujeitos políticos. riqueza produtiva, e da força de seus perda do monopólio político, econômico cultural e sociais Fazem questão de de interesse de outras categorias sociais que não os agricultores. Essas posturas conflitam com a situação O sociais. uma grave ameaça e, risco de social. Para Martins, os movimentos papel básico, desde a Revolução Francesa, nas capitalista. (10) 79 A produção agrícola e mais especificamente a do integrado, é determinada pela lógica do capital, este fato lado. O capital, ao não toma o marcar homem agricultor um ser totalmente passivo uma presença mais e manipu- significativa na agricultura, implantando a sua estrutura produtiva, pelo sistema de integração, ou ao modernizar diversos de seus setores, criou para mos. si e para o agricultor, o desafio de novas contradições e antagonis- A sua presença material no meio rural, custa ao próprio capital riscos que não en- contra no seu modo tradicional de ação nas grandes indústrias urbanas. dução objetivo da em tudo e constantemente uma das justificativas de uma implantação gradativa da pro- constante e necessária expansão, o capital arrisca, diminuir estes riscos. Esta é No mas tenta em escala industrial no meio rural. A agricultura é acompanhada de muitos riscos que em princípio não podem ser mensurados, mentos como os da indústria mecânica, noveleira, eletrônicos, etc. A agricultura encontra o montadoras de veículos, de equipa- seu sustento na matéria prima viva, de cunho orgânico e não mineral e morta, como nos setores quinas. Lidar com seres vivos, fato correr riscos maiores e animais industriais de produção de má- ou vegetais e passar a depender deles, significa de em conseqüência exigem maior habilidade de controle e mais cuidados na expansão. Por tratar-se de seres vivos e por precisar agilizar a produção tornou-se imprescindível um dominio maior do tempo e do espaço. Diminuir o tempo para o abate e para a maturação, reduzir os espaços por anirnal ou planta, tornam-se uma meta mais distanciada, alia-se ainda revestida de desafios. A sua presença, com mais vagar e aos tímidos conhecimentos científicos e tecnológicos de dominio de condições que são de ordem natural; chuvas, granizo, vendavais, geadas e calor excessivo. Ao agir dessa balternidade do agricultor, No mas capital, não está querendo realçar o grau de su- está reconhecendo e admitindo os seus próprios limites. seu objetivo de potencializar ganhos, minimizando os custos de produção, obrigam- no a levar ao meio to forma o rural, condições materiais concretas, para que o agricultor pelo conta- com a tecnologia e de formas produtivas mais avançadas, possibilitadas pela criação e ampliação do conhecimento, produza mais e melhor, tornando-se a alavanca do progresso do capital e da nação. 80 O Brasil do Real aposta e confia na agricultura, pois é ela atualmente quem paga a conta da estabilização, é ela que sustenta a urbanização. 408% dos investimentos do de A transformação do 1995 houve um acréscimo setor.(11) agricultor, tecnologia organizacional, Em com o de produtor familiar para produtor integrado, com redimensionamento de valores, de conceitos, concep- ções de tempo, de espaço e de homem, acenam como mn avanço e indicam novos graus e outros patamares de conquistas e de lutas. O integrado passa a fazer parte de um novo mundo e de uma nova. força produtiva. Influenciado por este novo e mundo comparece de forma diferente na sociedade. Sobre com ela formará uma nova consciência, ela recheada de contradições e de conflitos. Ele ainda não é soberano, pois continua submetido às normas do mercado, regido pela ótica capitalista. No entanto tem como pressuposto to de divisao do trabalho, presente básico de sua luta a superação do concei- na Ideologia Alemã: ~ “divisão do trabalho está dada a possibilidade, mais, a realidade de a atividade espiritual e a atividade material, o prazer e o trabalho, a produção e o consumo caberem a indivíduos diferentes”(Marx e» Engels; 1984236) (12)-. Esta divisão expressa a divisão manufatureira do trabalho contribui de forma parcelar na produção de trabalho coletivo de um grupo uma mercadoria. e, nela cada trabalhador Ou seja, é necessário o de trabalhadores parciais e o produto desse coletivo é a mercadoria que não lhes pertence, mas é assumida pelo capital. “A divisão manufatureira do trabalho pressupõe a autoridade incondicional do capitalista sobre seres humanos transformados em simples membros de um mecanismo que a ele pertence”, além de “pressupor a concentração dos meios de producapitalista” (Marx; ção nas mãos de um l985:408) (13). l Não é esse o caso dos agricultores e dos integrados. Para eles, muito mais se faz presente o conceito de divisão social do trabalho, que tem como pressupostos básicos a: “dispersão dos meios de produção entre os produtores de mercadorias independentes entre si”, e “faz confrontar-se produtores independentes de mercadorias” (Marx; 1985:407)(l4). 81 Enquanto a divisão manufatureira subdivide os homens, menospreza suas capacidades e necessidades, fato que por ó divisão social si só precisa ser considerado crime contra a humanidade, a do trabalho subdivide a sociedade e pode quanto a categoria ou o grupo uma social. É como individuo dos agricultores. Então a divisão do trabalho é mente a forma de produção do capitalista um na sua atividade específica, ao fazê-lo fortalece o conjunto uma necessidade histórica e social. Ela se um pressuposto do capital-. So- que viabilizou a cooperação, dentro dos preceitos condição para se chegar à cooperação diretamente capital, é possivel e, no gérmen da cooperação, que por sua vez é constituiu o indivíduo na divisão social que os integrados procuram maior realização de seu potencial humano. Cada frango ou suíno, quer fortalecer-se fortalecer tanto quando intermediada pela tecnologia e pela ciência. Por Mas esta só é a medida em que a solidária. isso, tecnologia, tanto a mecânica quanto a genética, difundir-se mais entre os integrados, mais e melhores condições estarão sendo dadas para que eles se tomem mais sociais, mais participativos e se reconheçam mais gente. O integrado encontra-se inteiramente mergulhado no mundo conceitos burgueses, está saindo do arcaismo e da ignorância. é atribuído e com o esvai rapidamente à medida vão surgindo. mercado, sabe dos seus preparado politica, para os O conceito que agora lhe qual passa a compartilhar, já não é mais o de agricultor tradicional perdido na sua própria obsolescência. trabalho, capitalista e, O em A ilusão do conceito de produtor capitalista pleno, que as novas relações, cunhadas na divisão integrado, apesar de produzir limites em relação a este uma mesmo mercado. em busca da globalização. do mercadoria vendável no econômica e socialmente, para o desafio que o pertencer ao mercado que está social Ele ainda não está capital lhe oferece Hoje ainda, ele de comparece no mercado, íntermediado pela agroindústria ou pela mercadoria que produz: frango ou suíno. Sua presença é pois ainda uma presença à representar. Mas não é este o projeto inerente ao distância, pois homem, comparece fazendo-se é sim comparecer inteiramente respeitando as diferenças e aparando asdesigualdades. A integração não tor integrado, muito 'significa por si só uma maior liberdade econômica para o menos a superação completa de sua condição de simples ato de integrar-se. As necessidades econômicas, agricul- subalterno, pelo sociais e políticas tanto dos 82 agricultores pequenos proprietários - agroindústrias, revestem-se de rurais e agora produtores integrados - quanto das novos elementos quando ambos se lançam numa integra- ção a nivel de globalização e agora profundamente inter-conectados à semelhança do que Giddens denomina de reencaixe. Uma integração relacionamento ou na interdependência entre sem o outro. mesmo um É uma interdependência que trás o num poder de decisão pauta-se e outro, a tal ponto que capital polarizado. que se expressa no inter- um não como seu fundamento e, existe por isso A agroindústria tem a seu favor mais elementos de poder e por isso é ela a geradora de maior volume de decisões. Sendo o capital um poder cício de capital um o parâmetro fundamental da relação, ela se reveste ainda, pelo exerbeirando ao despotismo, por parte da agroindústria. que rege a agroindústria, é extrapolada e estendida ao integrado, obrigando-o a envolvimento que se caracteriza por manipulação. Rege-se a relação nos principios que são próprios do capital gerando a necessidade regulamentos, que permitam mesmo guardando terísticas parcelares, de estabelecer detemiinadas normas e um controle e mesmo a manipulação características fordistas, pela produção em social. A integração, massa, pela produção de pelo controle do tempo e do espaço, pelo trabalho produtos padronizados, um A lógica do com carac- fragmentando funções, separando elaboração e execução, põe de lado os detentores do conhecimento de genética, do balanceamento da ração, do conhecimento e domínio do mercado, do potencial de industrialização da matéria prima carne, enquanto ou de tratar. mantém o No que se integrado ocupado sobremaneira refere às formas com a atividade de executar de convencimento, as estratégias de envolvi- mento, o relato dos beneficios, muito mais induzem o agricultor a se integrar, do que o obrigam. Cria-se um clima de expectativa tal, que a decisão para se integrar assume ca- racterísticas de cooptação. Assim, é possível nestes aspectos, dizer que existe proximidade com o novo paradigma uma produtivo do toyotismo nas suas versões: “família empresa”, “sindicato empresa”, “nossa empresa” e cooptação, levando os integrados a assim se expressarem: “a decisão de integrar foi uma decisão minha” : . Apesar das contradições, dos conflitos, da disparidade no campo das decisões e do conhecimento e, a integração caracterizar-se como capitalista e consequentemente ex- ploradora da força de trabalho do integrado, a agricultura, as agroindústrias, o consumi- dor a expansão da produção de alimentos, são grandes beneficiados. A integração é fi'uto 83 de se um desenvolvimento necessário ao capital, à sociedade e ao agricultor. constituir em um processo acelerador da emancipação do individuo Talvez possa enquanto em busca de ontogenias. Parte-se do princípio de que a integração é o prelúdio, é um pressuposto, ou seja urna situação necessária, conforme ver-se-á mais adiante, para o 'início de para a liberdade.. Mesmo material, independente definida. Para tanto, de apesar de ser considerada apenas e, uma uma prévia condição da ordem social e analisá-la, é olhá-la à luz de um processo de uma caminhada atividade do puro uma ordem política objetivado na estrutura material e fomial de organização de suas atividades. Superar o nível da aparência dessa prática produtiva, é desafiar-se, procurando desvelar o real conteúdo que a ela subjaz. Nessa perspectiva de enfoque, a integração não pode ser do do desempenho material ticos, ea objetivo formativos e cognoscivos, destaque. Certo também é, vista somente como o resulta- do agricultor integrado. Os aspectos com perspectivas sociais, polí- de ontogenias, ocupamseu lugar de que, o próprio agricultor e a sua prática são construídas independentemente do seu desempenho enquanto esforço individual. O integrado na sua com a sua produção, não há modernizar o produtor. É esse o atividade expressa aquilo que ele é, e o que ele é coincide como modernizar a produção se paralelamente não se projeto do agricultor ao se dispor a abandonar a forma de produção artesanal. Passará a ter história, e saber-se-á produtores, em desenvolvimento- e, por isso mesmo, os hoje proprietários - “são os homens que desenvolveram a sua produção material e o seu intercâmbio material que, ao mudarem esta realidade, mudam também o seu pensamento e os produtos do seu pensamento. Não é a consciência que determina av vida, é a vida que determina a -consciência”(Marx e Engels; 1985:23) (15). Tal qual o projeto da modernidade exigiu, a integração está a exigir da mentalidade, duzir, um entretenimento uma modificação nurna perspectiva de exigir novos métodos de pro- que aliado às novas estruturas e relações do e no trabalho, molda-se na constante exigência da evolução das tecnologias e da genética animal. ` 84 III.3 - BUSCANDO A UNIVERSALIZAÇÃO Todo o mercado de trabalho te de um mercado trabalhista está passando cada vez mais estreitamento das margens de lucro, por uma volátil, de radical reestruturação. E, dian- um aumento da competição e do o trabalhador, e aqui especificamente o produtor integrado, necessita participar e apropriar-se de informações precisas e atuais; toma-se cada vez mais relevante a apropriação e o acesso ao conhecimento cientifico e técnico, pela importância que o agir dentro mesmo representa na lutacompetitiva; tomar conhecimento da perspectiva da redução dramática do tempo de dutivo, quanto' no de consumo; é imprescindível espaços, produzindo mais e melhor; consumo, onde a fluidez, a giro, tanto setor pro- na reorganização dos o' participar inserir-se nas atividades materiais instabilidade no e de produção e o fienesi, significam palavras de ordem e ação. um novo e ainda difuso homem, um novo agricultor agora produtor integraque se desenha como um devir, pode abordar integralizar com lucidez e mai- Somente do, e- or rapidez a revolução conceitual de . oportunidades que se descortina. iniciada, mesmo, nesse impressionante desafio de novas Um mundo a ser descoberto, um homem em fase de construção de si mesmo e a e neste agricultor, lo» si uma nova partir de si vida a ser mesmo. É este produtor integrado, que se desenha a transição pela irrupção do casu- e exteriorização de seu conteúdo, a se por no mundo qual uma explosão cheio de vida e de futuro auto-consciente. O produtor integrado, dades que o como todo opõem a si mesmo e qualquer ser humano busca resolver as necessi- e as carências contraditórias pelas quais viabiliza a cons- trução de sua humanização. Ele deseja construir a própria possibilidade da humanização dentro de sua carência de humanidade. Esse movimento de construção e de transforma- ção aparece espelhado, expressando o que reahnente é e não acobertado pelo contraditório ou ainda como uma ruptura estranha ao processo Ao incorporar as novas formas de produção, ria genética, junto social. a tecnologia organizacional, a engenha- com os elementos críticos e as possibilidades históricas já contidas no conhecimento imediato e no cotidiano de sua prática, o integrado aproxima-se de possibilidades de superação. A superação profundamente conflituosa se realiza no embate contraditório entre o real e o racional. Podem ser considerados fontes do conflito, a 85 forma artesanal de produção do agricultor e a respectiva relação de submissão à natureza e as hoje relações sociais mediatizadas pela mercadoria, pela tecnologia, pela relação também a relação produtor capitalista; versus produtor, é conflituosa porque nela ainda sobressai o poder desigual da posse de bens materiais e de conhecimentos extremamente elitizados e hegemônicos. Também considerada fonte de conflitos é a dificuldade dos produtores integrados reconhecerem-se mento. da como sujeitos da história e sujeitos do conheci- O seu não reconhecimento no cenário histórico toma impossível a contraposição história- do homem e da história de homem, hoje contada como conseqüência dos compromissos ideológicos dos dominantes. Firmar-se nesta possibilidade é ver o quanto o capitalismo dominante, é capaz de reduzir tudo hegemonicamente a ponto de estender os seus beneficios em direção à classe dominante-_ É ter presente que, por mais que o capitalismo avance formas de domínio do fisico, ele não pode dominar a essência interior, o imaginário a força do eu, o poder do- eu. Consciente ou inconscientemente, o produtor integrado ao deliberar sobre a toma- da de decisão, de entrar ou não na integração faz uma análise das demandas. e neces- sidades econômicas e consumistas que o mercado e a sociedade estão leitura como domercado, um elemento feita exigindo. A pelo próprio integrado ou intermediada pela agroindústria, entra imprescindível na hora da decisão. Pela experiência adquirida ao co- merciar os excedentes, o integrado- sabe que o suprimento da sociedade uso e de troca é controlado muito mais pelas leis com valores. de do mercado, do que pelas necessidades fisicas dos indivíduos. Isso confere ao integrado o entendimento- de que o cide o que é consumido, suplantando por outro lado mercado de- a liberdade de satisfação das ne- cessidades fenomênicas, particulares e imediatas dos indivíduos. O que produzir, satisfaz mas a sociedade de consumo não é o que alguém é sim aquilo que o é passível de satisfação. mercado decide ser um carecimento indivíduo decide social, que então Com isso também está se dando a condição da criação de produ- tos e mercadorias que o próprio mercado não- se deu conta lidade dos sonhos, e a busca de sua satisfação conecta-se nomenologia do como Espírito: não mates os teus sonhos. “Não mates o senhor A diversidade das em ti”, ainda. Esta ilimitada possibi- com o dizer de Hegel na Fe- que muito bem pode significar: demandas do mercado e seu acesso, está condicionada ao poder de compra dos indivíduos, o que eqüivale a dizer que nem sempre 86 os carecimentos e os desejos externados pelo indivíduo são de fato seus reais carecimentos. Entendendo aqui que o poder de compra é a capacidade de atendimento total ou parcial de uma necessidade, que pode O dia a dia do estar limitado às condições sociais de classe. com um novo e dinâmico munseu contato com amplas e sofisticadas produtor integrado, O seu contato do, novas formas de produção de alimentos, o inovações da engenharia genética, certamente não são experiências limitadas ao campo do senso comum, mas são mais provavehnente experiências, abalam a segurança e não conhecer o todo. of aconchego Mas existe familiar, tentativas e ações que lhe trazendo certamente consigo a sensação de a possibilidade de, apesar da forma produtora ser ainda alienante, apesar da amargura de fracassos e resistências, O integrado sonha progresso permeado pela ação recíproca de incessantes conflitos. É com O nas falhas, nos re- veses e nos erros, que as verdades se firmam, que o progresso espiritual e material se concebe e se realiza. É no próprio conflito' que- se encontra o gérrnen da solução. E a despeito de todos os dissabores, de todos as dúvidas, quanto mais o integrado as vencer e solucionar, maior a sua proximidade com a meta do desenvolvimento e da auto- realização. É histórico O desencontro entre o tempo do fazer e o tempo do conceber, entre tempo da contestação e O tempo da dominação. Há rupturas no modo de com O possível, que emerge do na decisão de circunstanciaís, aderir interior, ser capitalista. São rupturas até mas trazem em si a chama da possibilidade da incorporação gam dentro de si um código que acenam que seembasa, que encontra expressão relevante à produção integrada na sua fomia da vontade de se por como ser of homem mais universal. Os de mudança social, tecnológica, produtores integrados carre- que começa a se manifestar como movi- mento dinâmico e que encontra resultados concretos na ações de se mostrar mais homem para sie para O mundo. nI.3.a - PRODUTOR HISTÓRICO A trajetória do pequeno agricultor, de produtor familiar e para a subsistência comercialização dos excedentes e hoje produtor integrado, produzindo para em fase de mundialização, é uma trajetória histórica. É histórica por: com um mercado 87 “que tiveram um início, sofreram - e continuam so- frendo um processo de desenvolvimento e pode se dissolver, depois de terem criado as condições para formas superiores de convivência social” (Gramsci; 1987:69)(16). - As condições e a realidade inicial, uma espécie de pré-capitalismo, foram superadas. O integrado passa para uma forma melhorada de produção, com melhor padrão de qualidade, com significativa redução de custos e produzindo Luna quantidade também maior. Tal qual a primeira fase, a atual não é eterna, ser perpetuada, ela da imutabilidade, mas, ao se formalizar tanto características ma, trazlem nem pode si mesma em conteúdo a concepção e o germe do desenvolvimento e' não tem as quanto na for- a conseqüente transformação para níveis superiores. Perpassa nessa trajetória histórica, o abandono do individualismo inoperante e cego. Concepção que substituída põe a possibilidade da uma outra forma de pensar o seu eu isolado. Pensá-lo como ser univercomo produtor coletivo. É na concepção da universalidade, no entendimento-' de si construção de sal, como totalidade que os proprietários produtores encontrarão formas de ação, para transformar as hoje. relações tendenciosas e verticalizadas, líticas em relações econômicas, po- e sociais mais horizontalizadas. Os agricultores em sua produção familiar, e mesmo- hoje produtores integrados: “não têm em seu conjunto nenhuma experiência organizativa autônoma” (Gramsci; 1987: 131) (17). Os primeiros encontram-se ainda enquadrados nos tradicionais esque- mas da burguesia capitalista, integrados, são ainda neste aqui representada pelos comerciantes e atravessadores; os momento determinados pelo agro-industrial; ambos estão sob controle e são dirigidos por esquemas burgueses e capitalistas. Os agricultores e os produtores integrados, de um modo geral, grupo de trabalhadores amorfos e desagregados. Individualmente, vizinho, eles estão em geral. Urge uma mesma uma em ou de categoria. não estão expressão às suas aspirações e necessidades de pois, a construção mentalidade, implica frango, de leitão em sua famflia, com o em constante efervescência, mas ainda como um coletivo, condições de formalizar modo formam um grande de uma um mentalidade coletiva e de equipe. Esta não mais pensar como produtor de fumo, como produtor de suíno, A mas pensar como produtor integrado, realização desta mentalidade universal, como membro de pode conquistar e 88 construir formas mais humanitárias de distribuição universal. praticado, produção material e Vencer o subjetivismo na sua forma mais primitiva, ou intelectual e sua conseqüente capitalista transmitido absorvido e em sua forma mais racional, isolamento e de distanciamento entre os homens. Marx e Engels, agora ainda é fator de referindo-se ao tema, escreverem: “A .A consciencia isola os indivíduos uns contra os outros, não apenas os burgueses mas ainda mais os proletários, e isto a despeito de os aproximar. Dai que demora muito tempo até que estes indivíduos se possam unir... E» por isso só ao cabo de longas lutas se consegue vencer todo o poder organizado contraposto a estes indivíduos isolados que vivem no seio de relações que diariamente reproduzem o› isolamento” (Marx e Engels; l985:80/81) (18). Todo e qualquer êxito de transformação real e concreta reside na desagregação dos sentimentos do individualismo egoísta, na desagregação das relações de dependência, na construção de versalizantes. modos de pensar e de ações coletivas, na construção de concepções uni- Ou seja, “Os indivíduos isolados só formam uma classe na medida em que têm de travar uma luta comum contra uma outra classe; de resto, contrapõem de novo hostilmente uns contra os outros, em con- corrência” (Marx e Engels; 1985:83) (19). E, para que se tenha urna possibilidade maior de compreensão de que esse contingente de trabalhadores produtores, possa encontrar-se tivo, é necessário que se faça do que seja possibilidade o Trabalho de um Humano do trabalho sujeito em si. de seu processo produ- Um conhecimento profundo Abstrato, a sua gênese, os seus pressupostos e a real de desenvolvimento posto tanto nas condições objetivas que o tornaram possível, quanto Humano um estudo como no desenvolvimento por ele viabilizado. É na essência do Trabalho Abstrato, no seu auto-desenvolvimento, no seu devir que estão os pressupostos tornar-se sujeito sobre a materialidade possivel para o produtor integrado. Ou do mundo, que espera-se então, propor como questão seja também desafio: pode o produtor integrado, no processo de produção que integra, realizar momentos de autorealização? 89 ¡ REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1 . BERMAN, Marshall. Tudo o que sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia de Letras, 1) 1986. 2) KURZ, Robert. A realidade irreal. Folha de São Paulo, Caderno MAIS. 03.09.95. Citam-se como exemplo o fracasso do Banco Barings de Londres, pelas mãos. de um corretor de 29 anos; o colapso do Econômico em 95, quando em 94 ainda configurava como o 8° banco em termos de economia; o efeito tequila provocando a quebra do Pais do Mexico, mais as constantes ameaças que pairam sobre a Argentina, o próprio México e inclusive o Brasil, diante do capital que funciona como uma espécie de “nuvem”, esvoaçante, sem alma e sem pátria, que se encontra retido nas mãos dos novos :senhores do mundo, particmlarmentez FMI, BIRD, OTAN ..., conforme descreve, Eric Hobsbawm, no livro, Nações e Nacionalismos. A revista Science, publicou no dia 09.02.96, o resultado de pesquisas que sinalizam para a possibili3) dade de que o quarck, partiwla considerada elementar não fosse de fato indivisível. A comprovação dessa hipótese põe em cheque o Modelo Padrão de Murray Gell - Mann, aceito como a teoria que explica a matéria, Artigo publicado na Folha de São Paulo em 08.02.96 sob o titulo Cientistas Questionam a Teoria da Matéria. ' 4) MAAR, Wolfgang. Globalização: mito 5) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. FLORES, Mário Cesar. 6) 7) 8) LENIN,.V.I. realidade. Folha de São Paulo, 07.08.95. São Paulo: Editora Moraes, 1984 p. 67. O campona questão social. Folha de São Paulo, 03.l0.95,Caderno 1, p.3. LENIN, V.J. El desarollo Paulo: Ciências e' del capitalismo en Rusia. Barcelona: Arial, 1974, p.167. O programa agrário da Humanas, 1980, p. 83. social democracia na 1° Revolução Russa de 1905/1907. São 9) O Chester foi lançado a 13 anos, pela Perdigão, como forma de competir com o pem da SADIA no mercado de produtos natalinos. Ele possui 70% de came na coxa e no peito. O Bruster é considerado um super-frango, uma ave geneticamente melhorada, cujas avós são importadas da Escócia. E produzido pelos integrados da Frangosul e também possui mais carne na coxa e no peito. ave Classy, produzida pela Seara, desde 1993, é também uma ave geneticamente melhorada com mais carne no peito e nas coxas. A 10) MARTINS. José de Souza. Caminhada no chão da noite. São Paulo: Hucitec, 1989. 11) A Folha de São Paulo publicou em 16.03.96 no cademo 1:06, um quadro comparativo dos investimentos feitos nos diversos setores no governo de Itamar e FHC e respectivos orçamentos de 1994 e 1995, dizendo: “A função de governo que recebeu mais adubo em 95 foi a agricultura. Tendo que enfrentar a crise deixada por Itamar, FHC elevou em 408% os investimentos no setor. Eles cresceram R$ 387,4 milhões e saltaram de sétimo para quarto lugar no ranking. Os maiores projetos agrícolas executados pelo governo no ano passado foram o Apoio ao Pequeno Produtor Rural (R$ 163,2 milhões), o Irrigação Nacional (R$l01,4 milhões) e pesquisa agropecuária (R$ 51,2 milhões)”. 12) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. 13) MARX, Karl. O Capital. Vol. I. São Paulo: Difel, 1985, p. 408. 14) MARX, Karl. O Capital. Vol. I. São Paulo: Difel, 1985, p. 407. São Paulo: Moraes, p. 36. 90 15) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. 16) GRAMSCI, 17) GRAMSCI, Antonio. 18) 19) Antonio. São Paulo: Moraes, p. 23. A Questão Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.69. A Questão Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã., São Paulo: Moraes, MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. São Paulo: Moraes, p. 131 p. 80/81. p. 83. 91 CAPÍTULQ IV CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE TRABALHO HUMANO ABSTRATO IV.1 As - A GÊNESE DO TRABALHO HUMANO ABSTRATO aparências são insuficientes, objetiva do real posto. A sensação deformam e dissimulam a potencialidade concreta e de impotência diante do real concreto, suprimindo pela incapacidade de desvelar o real conteúdo do trabalho, permite o sustento e a tenção de dogmas, nada esclarecedores. Adentrar nivel das aparências, é investigar e apreender em uma investigação que ultrapassa o a partícula primeira,o princípio ativador, a unidade geradora da ação e do conceito- de trabalho. ca num trânsito para além do pragmatismo pelos quais foi e ainda é distinguido.. circunstâncias e as condições que A partir do trabalho trabalho nas formas de produção capitalista. tente, A desrnistificação do trabalho impli- empírico e dos aspectos deformadores liberal, permitem também permite a sua determinação manu- um simples, surgem também as estudo imparcial da potencialidade do A configuração e apreensão. definitiva que se revela la- O conteúdo do trabalho, está na sua base material, na forma material de sua organização, na estrutura das relações sociais que o produzem e que produz. Entender os elementos' que o constituem que o estruturam e o determinam, permite o seu desvelamento e entendimento. Percorrer a trajetória do seu devir, do seu desenvolvimento, da sua dinamicidade e realização histórica, é adentrar não só na sua prática, elevar tal qual ele se elevou, ao nível rompe-se o compromisso com do conceito. confronto o velho' trabalho concreto, manual, com o seu conceito, servi] e escravizador A necessidade do conhecimento do conceito simples de trabalho, posto como do homem. humanos obtidos a partir da ato mediador entre a satisfação dos carecimentos permite a sua colocação mundo. No como elemento central da objetivação concreta do A saber que por esta mediação o homem se torna efetivamente nhor da natureza, da qual usufrui a construindo um mtmdo partir da ação trabalho. E neste mundo ele homem no soberano e se- num viver exercendo há de se reconhecer, reconhecendo-o como obra sua. É o homem adequando do ao mundo. natureza, O homem permite construir, mais hmnano e possibilitando a entrada atividades de nível superior. igualmente mas ou mundo a si, e não mais se adequan- 93 _ Não ceito só divagar, mas penetrar na substância última e primeira da construção do con- de trabalho, das categorias que possibilitam a transmutação do trabalho simples para o Trabalho superficial e- Humano Abstrato. Numa perspectiva de ultrapassar o imagético e o adentrar no real, busca-se o conceito simples. Encontrar este elemento sim- ples, detemiinante fator básico de si do homem e autodeterminante de si mesmo, possuindo vida própria, um desenvolvimento que nega o princípio, mas por Para isso toma-se imprescindível um mergulho, mes- mesmo, permitindo outro lado trás e expõe a essência. mo que sintético, na estrutura organizacional do- trabalho., como responsável em determinada época, pela construção de um determinado tipo de homem, de sociedade e de mun- do. 1v1.a - A PRODUÇÃO ARTESANAL. Na forma artesanal de produção, o- artesão lho apropriando-se do produto. O artesão era era quem controlava o processo de traba- um trabalhador individual, controlador e conhecedor de todo o processo de trabalho, como de considerava-se fato o fazia, desde a sua idealização, concepção do produto, sua produção e posterior comercialização. Marx, assim se refere a eles: “Cada artesão particular, o ferreiro, o oleiro etc. Realiza todas as operações pertinentes a seu oficio, de maneira tradicional, mas independente e sem reconhecer qualquer autoridade acima dele e em sua oficina” (Marx; l985:410)(1). Os artesões se bastam, são auto-suficientes e desconhecem toda e qualquer autorida- de superior que lhe queira indicar ou determinar o que e como produzir. Sendo o único controlador de seu trabalho, a produção do artesão, dependia dele mesmo. Era servo de seu trabalho. Somente dele, de seu trabalho concreto e imediato é que dependia a sua produção. Essa situação tomava o artesão trabalhador e, interdependentes e unidos. Essa integração constituiu-se envolvimento de outras forças produtivas. seus instrumentos de produção, num freio e num limite ao des- 94 MANUFATURA: DIVISÃO DO TRABALHO E PLANEJAMENTO DO PROCESSO IV.l.b - Já a manufatura concentrados tem início, em um mesmo quando vários trabalhadores individuais ou artesões são local de trabalho e passam a um capitalista. A partir desse momento, profundas transformações am as relações de trabalho por várias mãos, até próprio inicia o- homem artesão, se sucedem e permei- e a produção de mercadorias. Já o produto final deve passar seu acabamento. Uma profunda mudança se lham para si, mas trabalham para o capitalista, ` antes. independentes, capitalista Segundo Marx, a manufatura A manufatura não mais traba- sobre o proces- não domina tecnicamente a produção. assim o produto passa a ser controlado pelo no detentor dos meios materiais de produção. Nos primórdios da manufatura, os artesões ainda mantém algum domínio uma vez que o necessária faz. para que se submetaà nova forma de trabalho. o processo de colaboração. 'Os trabalhadores. so de trabalho, comandos de estar sujeitos aos Mesmo capitalista. origina-se de duas maneiras distintas, ou da combinação de vários oficios independentes e a partir da cooperação de seja: a partir artífices, pela em diferentes operações, tendo cada função um trabalhador esApesar de ser mais complexa em relação à produção artesanal, a manufatura con- decomposição do oficio pecial. tinua dependendo de operações manuais e artesanais do trabalhador individual, manejan- com habilidade e segurança o seu instrumento. do Cria o trabalhador coletivo, a proletarização, pela destruição do trabalhador individual, tomando dele a possibilidade de controlar racteriza-se pelo ol processo» produtivo. rompimento e destruição do indivíduo como A manufatura ca- sujeito universal, a submis- uma tarefa única, repetitiva e que nada mais lhe exige, a não caracteriza-se ainda como uma fase do desenvolvimento do são e redução à execução de ser destreza. processo A manufatura em que o trabalho vivo, concreto e humano é imprescindível, porque o uso da máquina é muito limitado. H Com a implantação da divisão do trabalho, o mesmo exige a introdução A partir de uma nova ser estabelecida uma racionalidade na produção, antes desnecessária, pois ela estava no próprio indivíduo, mas força produtiva, o planejamento do trabalho. dele pode 95 necessária agora, já que para executar sua tarefa, o trabalhador depende da execução da tarefa de outro trabalhador. ou outro. O A harmonia deve funcionar, sem desocupar ou atropelar um fator planejamento também tem destaque no acréscimo da Cresce o dispêndio de força de trabalho num mesmo local, bem como produtividade. acelera-se a inten- sidade do trabalho. Segundo Marx: “O efeito do trabalho combinado não poderia ser produzido pelo trabalho individual, e só o seria num espaço de tempo muito- mais longo ou uma escala muito reduzida” (Marx, 1985:374)(2). Vale dizer que a força total, ou ainda a produção uma emulação va. Produtividade da cooperação- é maior do que O próprio contato e convívio social de diversos a soma das forças ou produtos reunidos. artesões causa total dos mesmos, propiciando uma maior capacidade produti- que passa a depender também da virtuosidade do trabalhador como da perfeição, modificação bem e adequação cada vez mais sofisticada dos instrumentos de trabalho e também dos locais de trabalho. Destruído o trabalhador individual, por não mais controlar o processo total de produção, os produtos sendo resultado de diversos trabalhos parcelados, introduzida a divisão técnica do trabalho, a produção é agora indivíduo artesão, fica submetido a precisa estar perfeitamente ajustada um fruto um todo, com social. do qual as demais. Trabalhando coletivamente, o constitui-se como uma peça que Um ajustamento que implica numa um ritmo definido e a um tempo unium domínio um controle do capitalista sobre submissão a horários determinados de trabalho, a forme de atividades. Toma-senecessário o processo, para que o ça, que represente os mesmo interesses seja eficiente. ea A necessidade da coordenação, de lideran- comuns tanto em urna detemiinada comunidade como no caso dos vários artesaos reunidos é comentada por Marx ao afirmar, que: “Todo o trabalho diretamente social ou coletivo, executado em grande escala, exige com maior ou menor intensidade uma direção que harmonize as atividades individuais e preencha as funções gerais ligadas ao movimento de todo o organismo produtivo, que difere do movimento de seus órconsiderados” isoladamente gãos (Marx; 1985:379/80) (3). Significa de outro lado a condição de submissão de vários indivíduos à supremacia dos interesses de um outro, o capitalista. Uma situação que diante das condições de pro- 96 dução capitalista incide numa necessidade cada vez mais acentuada de exploração da como força de trabalho. Essa progressiva exploração e espoliação do trabalhador, gera conseqüência focos de resistência, criando dores e capitalista. Pode-se completar uma situação de antagonismo entre trabalha- com Marx e Engel: Pela divisão do trabalho está dada, logo de inía divisão também das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, e com ela a 66 cio, fragmentação do capital acumulado entre diferentes proprietários, e com ela a fragmentação entre capital e trabalho, e as diferentes formas da. própria propriedade. Quanto 'mais se desenvolve a divisão do trabalho, e quanto mais cresce a. acumulação, tanto mais agudamente se desenvolve também esta fragmentação. Of próprio» trabalho só pode existir sob a premissa desta fragmentação” (Marx Engels; l984:95)(4). & IV.1.c - A MERCADORIA FORÇA DE TRABALHO Extorquido do controle do processo produtivo, dos meios de produção e consequentemente do produto, o trabalhador coletivo, via cooperação pressuposto do salário, principiando trabalho. condicionado à venda de sua força de Sendo proprietário da única mercadoria que força de trabalho mercado da capital um viver -, lhe restou eificou permitida troca: o processo salário. A da troca da mercadoria força de trabalho por princípio e aparentemente, apresentam-se características quantitativas. justas. Diante das condições da entrada em cena do interações que - a sua o trabalhador é obrigado a vendê-la, entrando esta mercadoria no salário. propõem-se a trocar o valor da força de trabalho por um valor aparente, valente com o depara-se capitalista, salário, como ot equivalentes O equi- com de venda da força de trabalho, a manufatura passa a exigir novas e diferentes relações e passam a perrnear as condições de convívio entre o operário e o capitalis- ta: “Nas corporações continuam a existir a relação patriarcal entre os oficiais e o mestre; na manufaocupa o lugar daquela, a relação de dinheiro entre operário e capitalista” (Marx Engels, tura, 1984:71)(5).. & 97 Um novo elemento real e concreto, torna-se o essencial intermediador entre o lhador e o capitalista. É o dinheiro, um algo irreal, uma simulação, um valor traba- de troca, expressando concretamente esta relação contraditória e geradora de conflitos internos. Inicia-se efetivamente a produção capitalista. Após um considerável estágio de acu- mulação primitiva, caracterizada pela expulsão indiscriminada dos camponeses, a transformação» do solo em pastagens para ovelhas que forneciam lã para a indústria eliminação do sistema de guildas, considerados empecilhos por se ais, nasce o trabalhador modemo e livre. oporem aos têxtil, a industri- Um trabalhador que não mais depende dos se- nhores feudais e dos mestres das guildas, mas que foi desprovido dos meios materiais de produção. Trabalhador que agora é balho para quem livre e tem a liberdade de vender a sua força de tra- é possuidor dos meios e dos instrumentos de trabalho. Inúmeros e di- versos compradores da mercadoria força de trabalho aparecem para simbolizar concre- tamente a liberdade de escolha do também por um processo obscuro são Todos livre trabalhador. também donos dos meios eles e muitas vezes e instrumentos de produção. Implantavam-se assim as condições primeiras do modo de produção lho livre, assalariado e a propriedade privada dos meios de produção de mercadorias. Para que a força de trabalho se tomasse tência como força de trabalho vendê-la a alguém que também livre, ou uma mercadoria, foi necessário seja o indivíduo deveria fosse livre para comprá-la. capitalista: o traba- a sua exis- ser livre para poder A formalização da troca da um contrato de trabalho, espelha o sentido de liberdade, de igualdade, fraternidade e justiça. No Capital, Marx assim se mercadoria força de trabalho pelo equivalente refere, salário, via a esse disfarce explorador: “A esfera que estamos abandonando, da circulação ou troca de mercadorias, dentro do qual se operam a compra e a venda da força de trabalho, é realmente um verdadeiro paraíso dos direitos inatos do homem. Só reinam aí liberdade, igualdade, propriedade e Bentham. Liberdade, pois o comprador e o vendedor da mercadoria, força de trabalho, são determinados apenas pela sua vontade livre. Contratam como pessoas livres, juridicamente iguais. contrato é o resultado final, a expressão jurídica comum de suas vontades. Igualdade, pois estabelecem relações mútuas apenas como possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedades, pois cada um só. dispõe do que é seu. Bentham, pois cada um dos dois só cuida de si mesmo. A única O 98 força que os junta e os relaciona é a do proveito próprio, da vantagem individual, dos interesses privados. E justamente por cuidar de si mesmo, não cuidando ninguém dos outros, realizam todos, em virtude de uma harmonia preestabelecida das coisas, ou sob os auspícios de uma harmonia onisciente, apenas as obras de proveito recíproco, de utilidade comum, de interesse geral” (Marx; 1985:196/97)(6). IV.1.d - TRABALHO, VALOR DE USO E VALOR DE 'TROCA Comprando. a mercadoria força de trabalho, força de trabalho, e ao fazê-lo realiza ção capitalista. uma das o~ capitalista põem-se a consumir esta condições fimdamentais para a acumula- Através dela concretiza a realização» do valor de uso da mercadoria força de trabalho, mediante a qual produz e reproduz não só o seu próprio valor, mas mais ' valor. A mercadoria força de trabalho, apresenta uma especificidade, uma propriedade que lhe é imanente e particular. Ela é a única mercadoria cujo valor de uso implica em ser não apenas uma fonte de valor, mas ser e podendo externar mais valor que em sí possui. É essa mais valia, um algo novo propicíado e fiuto do Trabalho Humano Abstrato, que será melhor delineado» mais adiante. Uma enorme e nova possibilidade que se durante o tempo duzir para além externaliza diante em que a força de trabalho. estiver à sua do que vale, mediante ou do disposição, ela e irá pro- em contrapartida au- excedente. Assim o valor da força de trabalho e o valor que se cria a partir de seu uso, durante rentes. pode porque uso de processos produtivos que vão diminuin- do o tempo de trabalho necessário para a sua compensação, mas mentam o tempo de trabalho capitalista, o processo de trabalho, apresentam magnitudes dife- O trabalhador, ao vender a sua força de trabalho vende-a por um salário que cor- responde a uma determinada quantidade de meios de subsistência. Dessa forma o capitalista realiza a compra e paga a força de trabalho, que é mn elemento vivo, ação do trabalhador e não ao trabalhador especificamente. soa, enquanto ser humano, é livre e O trabalhador o potencial de enquanto pes- portanto não interessa ao capitalista. Seus mecanis- mos só tem olhos para a mercadoria força de trabalho e na perspectiva de potencializa-la sempre mais. 99 Ao produzir uma mercadoria, um produto, o dade da mercadoria - capitalista que possui também valor-de-troca - produz valor-de-uso - quali- quantidade de trabalho que 0 A mercadoria produto, possui um valor maior que a trabalhador repassa na produção. soma dos valores das mercadorias necessárias para produzi-la. Aí se encontram incluídos matéria prima, força de trabalho, desgaste de máquinas, processos produtivos e administrativos. Esse excedente de valor é. a mais cretização pelo capital do roubo de valia, extorquida ao trabalhador, que é a con- tempo de trabalho ao que aparentemente não se caracteriza como tal, pois 01 trabalhador. capitalista o» exploração paga pela mercadoria força de trabalho, para dela dispor enquanto valor de troca, realizando maior do que Uma um valor de uso necessário para recompensa-la. Para Marx: ` “O possuidor do dinheiro pagou o valor diário da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, o uso dela-durante o dia, o trabalho de uma jornada inteira” (Marx; 1985:218)(7). O valor-de-uso da força de trabalho é maior do do trabalhador. Para o capitalista isto significa que o necessário para a subsistência a transformação do dinheiro - salário- - investido na aquisição da mercadoria força de trabalho, produzir mais dinheiro. nheiro transformando-se vivo. É um em processo que É o .di- em mercadorias que incorporam força de trabalho converte em valor que se expande e de cuja metamorfose, capital, Marx fez a seguinte referência: ' _ « _ ' “Ao converter dinheiro em mercadorias que servem de elementos materiais de novo produto ou de fatores de processo de trabalho e ao incorporar força de trabalho viva à materialidade morta desses elementos, transforma valor, trabalho pretérito, materializado, morto, em capital, em valor que se amplia, um monstro animado que começa a trabalhar, -como se tivesse o diabo no corpo” (Marx; 1985:219/20)(8). A questão vital da divisão manufatureira do trabalho, é a implantação definitiva de um processo produtivo capitalista. E, segtmdo Marx: “Como forma do processo social de produção, é apenas um método especial de pro.duzir maisvalia relativa ou de expandir ou valor do capital, o que se chama de riqueza social, às custas do trabalhador. Ela desenvolve a força produtiva do trabalho coletivo para o capitalista e não para o trabalhador individual. Produz novas condições de domínio sobre o trabalho. Revela, de um lado, progresso histórico e fator necessário do capitalista 100 desenvolvimento econômico da sociedade, e, do outro, meio civilizado e refinado de exploração” (Marx; 1985:417/l8)(9). No entanto a manufatura, como processo de trabalho, que encontra dependência total no trabalho manual e imediato, contínuo e permanente do homem, começa a tropeçar na sua estreiteza tecnológica, a partir do momento em que a necessidade de produção de máquinas, pemiitem a eliminação do trabalhador manual e direto. A manufatura começa a escrever o seu fim, mas dentro dela encontra a raiz de sua própria superação: a oficina A introdução que gera a máquina. direta do homem, como produtor acentuada da maquinaria, dispensando a intervenção material, implicam a partir O mento fantástico das forças produtivas. capital que traz como conseqüência a expulsão do trabalho bre, e em muitos aspectos materiais de fato» são nada animadoras. lho embrutecedór de de então, produto desta inovação tecnológica é mais é, vivo. Se a causa parece no- as conseqüências para o trabalhador não A maquinaria que deveria marcar presença para minimizar o traba- homens, em inúmeros setores passa a ocupar de drinhada o seu tempo e o seu espaço, ou então simplesmente lhe tência. Inicia-se num desenvolvi- tira forma mais esqua- os meios de subsis- processo de produção de pobreza nos moldes tecnológicos, pois a revolução da produtividade afeta A “a quantidade de horas de trabalho de duas maneiras. introdução das tecnologias economizadoras de tempo e de trabalho têm permitido às empresas eliminarem trabalhadores em massa, criando um exército de reserva de trabalhadores desempregados com tempo- ocioso, ao invés de tempo livre à sua disposição. Aqueles que ainda se seguram em seus empregos estão sendo forçados a trabalhar mais horas, em parte para compensar a redução de salários e de benefícios. (...) Mesmo com o pagamento de uma vez e meia por hora extra, as empresas ainda assim pagam menos do que pagariam se tivessem de pagar pacotes de benefícios para uma força de trabalho maior”(Rifkin; 1995:245) (10). Iv.1.z - MÁQUINAS E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Com a derrocada da manufatura e a criação do motor e da transmissão, que passam a ser os responsáveis pelo movimento transmitido às máquinas ferramentas, Revolução Industrial. Inicia-se inicia-se a um processo de substituição do emprego da força muscu- 101 lar do homem, pela força motriz. Segue um processo progressivo com maior controle, de novas e mais sofisticadas máquinas, aptas a executar lidade e precisão o processo produtivo de mercadorias. e acelerado de criação maior fide- À medida que a sofisticação das máquinas aumenta, aumenta também a sua capacidade de transformar a matéria prima, sem a ajuda humana. Sobra ao ções. Como vigilante ou guardião máquina - torna-se o ca, trabalhador o papel sujeito da máquina, do processo. de vigilante, com eventuais interven- a ser seu servo, enquanto ela ele passa É a consagração do uso- do e é ela a da máquina automáti- o que significa também dizer que o trabalho, não depende mais da habilidade do balhador. Ele só aparece ao lado da máquina, é - um complemento seu, éz por ela tra- domina- que passa a controlar o trabalho. Constata-se e realiza-se não mais um controle aparente e simulado, mas concreto, dominando materialmente o trabalho. O que era tra- balho vivo é agora trabalho morto. A força humana gradativamente passa a ser substituída por forças naturais, à medida que os instrumentos de trabalho são máquinas cujos mecanismos não mais se apoiam experiências. empíricas, mas passam a seguir a lógica imanente do cientifico. Toda a sub- jetividade presente na organização num em do processo manufatureiro de trabalho, amparado processo parcelado .e cooperativo. dos. trabalhadores, converte-se pela Revolução Industrial, em processos objetivos. No Capital, Marx, assim se refere a eles: “No sistema de máquinas, tem a indústria moder- na o organismo de produção inteiramente objetivo que o trabalhador encontra pronto e acabado» como condição material de produção” (Marx; l985:440). (11). Como capital e _ acima já referendamos, o desenvolvimento das forças produtivas, gera mais impõe a redução do número de trabalhadores et a exclusão do homem do pro- cesso direto do trabalho. Negando-lhe os ganhos para a sua subsistência, produz-se a pobreza impedindo o trabalhador de partilhar da riqueza produzida.. Desnuda-se assim, uma das grandes contradições do modo social, apesar do considerável e capitalista fantástico de produção. Apesar da produção ser aumento das forças» produtivas, cresce a po- breza humana. Caracteriza-se o egoísmo e a não distribuição e a não socialização da queza produzida. O potencial econômico- e produtivo do capitalismo entregue a si ri- mes- um manancial criador de escravidão, de pobreza e fonte de acirramento intensivo do conflito de classes. É ot caráter equivalente da troca de salário por força de trabalho mo, é 102 que sustenta e legitima a extração da mais valia. E, mais próximo hoje, na sociedade capitalista burguesa, é a igualdade jurídica que serve de meio para legitimar a desigual- dade econômica, o que viabiliza a acumulação do capital, o desencontro e a desigualdade entre a fomia e o conteúdo. A luta do agricultor, a sua resistência e a obstinada contestação e teimosia em permasem limites da extração dos exce- necer no campo, é fruto e se energiza na intensificação dentes econômicos.. Situação que sempre gerou a igualdade formal de aparente, presente em toda a troca mercantil, e por isso manifesto de denúncia. o~ dentes econômicos que para 0 agricultor nome da igualdade aparente da troca, acordo e nem mostra Uma extração de exce- a luta pela sobrevivência-, foi feita mas nem sempre encontrou reciprocidade no o agricultor presente no processo do capital. Já como integrado produtor a relação passa a ter caráter de natureza contratual da relação trabalho estabelecidos limites reciprocos onde o produtor integrado aparece reprodução ampliada do em e, são como elemento da capital. De fomia idêntica, a produção pelo uso da máquina, deveria ser fator de diminuição da jornada de trabalho. Pelo contrário, as jornadas de trabalho aumentam, em parte para compensar a diminuição do número de trabalhadores, permitindo» a estabilidade, a manutenção e, ou aumento de extração da mais valia. Esta necessidade do pelido a tomar todo constitui-se em outro o» tempo do trabalhador e transformá-lo grande paradoxo do sistema de produção capital em tempo capitalista. de ser comde trabalho, Para isso o são imanentes, como por exemplo, a depen- dência do salário do percentual de peças produzidas, muito comum na hoje terceirização capital utiliza-se de vários recursos, e portanto que também entre os produtores parece ocorrer uma aparente lhe» integrados agrícolas. Em determinados setores, redução da jomada de trabalho. Semelhantes reduções im- plicam consequentemente na necessidade de intensificação do trabalho, levando- o- capital ao aperfeiçoamento da máquina, de sua capacidade e velocidade produtiva, submetendo o trabalhador à vigilância de trabalho no um maior número de máquinas, e permitido-lhe extrair mais mesmo espaço de tempo. ` 103 IV.1.f - PRODUÇÃO INFORMATIZADA Hoje presencia-se a era da produção Pós-Grande Indústria. Sua característica fim- damental é o emprego da eletrônica, da computação e da infomiatização generalizada. São máquinas controlando máquinas. Pela microeletrônica põem-se definitivamente a forma material do trabalho abstrato, o que significa dizer que o trabalho controla-se a O mesmo. trabalhador humano está posto de lado como si executor de trabalho. Dai se pode concluir que o valor da mercadoria não pode mais ser medido pelo tempo de trabalho, nem o próprio rencial é trabalho pela quantidade de sua execução, a sua expressão é o seu concreto e real valor preenche diante dos carecimentos do oque agora qualitativo.. homem à semelhança de É se toma refe- a satisfação que Sennas, Parreiras e Zaga- los. O aumento progressivo de capital acumulado pelo da produção implica no conseqüente crescimento do volume capitalista. Em contrapartida, o trabalhador é expropriado pela aparente igualdade de luta competitiva mente reduzindo-se a um número com o dono do capital, em cujas mãos e atual- cada vez menor, centraliza-se a posse e o poder. A pobreza das massas acentua-se violentamente, tomando mais agudos os contrastes entre a posse excessiva da riqueza O vertiginoso em estado de centralização e o poder nas mãos de poucos. desenvolvimento das forças produtivas, constantemente ameaçando supe- rar os limites estabelecidos, paraleliza-se tes do humanamente suportável. tro dominador - capitalista - com a opressão e a miséria que beiram os limi- A imposição de relações sociais a partir de um parâme- um projeto que trata Somente a sua negação radical, e 0 assumir de um não permitiu a real concretização de da produção da vida e da vida plena. processo que consiste em os homens tomarem conta das condições do processo em que se produzem, toma-se um pressuposto e abre a perspectiva de libertação e de universali- zação do homem. Para tanto não basta fazer uma democratização da renda, mas permitir sim o acesso universal à riqueza socialmente produzida. Eliminar relações prescritas sob a égide capital, como, o roubo de tempo de trabalho alheio, do que hoje se caracteriza como fonte de acumulação da riqueza, é condição imprescindível de desprendimento de uma forma produtiva assentada no valor de troca e o retorno ao fundamento do valor de uso(l2). O 104 permitir como do desenvolvimento pressuposto de analisar e penetrar efetivamente: uma livre das potencialidades imanentes e individuais, põe-se transformação social. Para tanto é necessário- desenvolver, com profimdidade naquilo que o próprio capitalismo materializou O Trabalho Humano Abstrato. É ele a possibilidade concreta de- exteriori- zação do homem, do produtor agrícola integrado e a possibilidade concreta e real de uma colocação efetiva no mundo e a universalização como HOMEM.. IV.2 - TRABALHO HUMANO ABSTRATO produto de conceito de trabalho como- profundamente na busca de preciso avançar um processo o» Uma realidade capaz de ser um mergulho nesta lógica do de desenvolvimento da realidade. apreendida pelo pensamento, pela inteligência. É' preciso trabalho enquanto conceito, na tentativa de apanhar suas diversas determinações e apre- imanente. Uma vez apreendido na sua totalidade, tornar-se-á a possibilidade posterior de colocá-lo como pressuposto da condição necessária ao produ- ender a unidade que lhe ée tor integrado e ao trabalhador em geral para tornar-se sujeito pleno. O» ato do desenvol- vimento e da transformação do mundo dado e da sociedade, ocorre paralelamente ao desenvolvimento e- transformação de si mesmo, pela interiorização e subsequente trans- posição de conceitos e teorias da ciência para o seu cotidiano de produtor. A produção do homem e sua objetivação no mundo, ocorre mediado por um continuo processo de transformação da natureza e na construção de uma nova mana. Esse processo» de atividades, que vai construindo homem, ocorre mediante dispêndio de seu potencial fisico e intelectual. o» natureza mais hu- um A causa propulsora dessa transformação da matéria, é a necessidade de satisfação dos seus carecimentos. Nessa inquirição sobre a natureza, transfomiando-a e transformando-se, ele busca a superação empírico, natural e imediato de si e do mundo material. do esterilmente O trabalho é o: “elemento central da objetivação do mundo. Por ' homem no esta mediação ele se constrói como e vai construindo um mundo mais humano, superando a mera naturalidade» e imediatidade dele e do mundo” (Etges; 1993:07)(13). homem O trabalho é uma necessidade para que se efetive a interrelação material entre 'o homem e a natureza. É desse intercâmbio que resulta a produção da subsistência e sobre- 105 vivência do tivas ao homem. É pelo mundo subjetivo. trabalho que o É um processo homem se constrói, põem novas formas objepelo qual o homem se apropria de elementos da natureza adaptando-os à satisfação de suas necessidades. Ele é um fator decisivo para a socialização da existência humana, transformando as condições naturais, empíricas e imediatas. É ele que determina o valor de todas as coisas. Pennite também o alcance e a chegada ao conhecimento abstrato universal, muito aquém do empirismo sensível e pragmático. O trabalho um meio para a verdadeira auto-realização do homem.. é- meio para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades, para a utilização consciente da natureza, reconstruindo-a» conforme» suas. necessidades como homem pleno na natureza. _. e É um domínio e reconstruindo-se Pela necessidade de satisfação de suas carências, o homem intervém Ao fazê-lo: “começa a distinguir'-se dos animais- assim que começa a produzir os seus meios, passo que é condicionado pela sua organização fisica” (Marx; l984:15)(l4), e que sem dúvida poderá gência, ser ampliado indefinidamente pela contribuição na construção tecnológica. homem se fisica, a capacidade pro- desenvolve. Pelo seu agir, e neste agir do trabalho em desenvolvi- mento, ele ultrapassa a sua simples propriedade de garantia da subsistência. minado estágio de seu processo de desenvolvimento, tral inteli- . Usando de seu potencial? intelectual bem como de sua força dutiva do da sua ele passa a ser uma Num deter- condição cen- da vida do homem, determinante de suas ações, dirigente de seus pensamento, indi- cando-lhe a forma determinada de vida. Historicamente esta possibilidade põe-se pelo e no modo de produção capitalista. Diversos são os estágios pelos quais passa mento. Começa na forma cesso de trabalho, era Mas al, artesanal, ou trabalho no seu processo de desenvolvi- na qual o artesão era o conhecedor de todo o pro- um produtor independente e reconhecia-se como única autoridade. era servo de seu trabalho e a produção -dependia diretamente de seu trabalho imediato e concreto. Já na manufatura o trabalho aparece como dividido manu- numa série de operações específicas, mas ainda guardando a característicade ser manual, de depender da subjetividade dos trabalhadores, agora reunidos sob o um trabalho extremamente subjetivo, comando do capitalista. Era mas influencia no estabelecimento de uma nova 106 forma de relações entre os homens. Ainda lhe dirigir-se materialmente. lar-se falta a objetividade própria para guiar-se e Essa possibilidade de objetivar-se em si mesmo começa a desve- com a gênese da Revolução Industrial. É neste estágio que ocorrea subsunção formal do trabalho ao capital. Agora o capital o sujeito, é ele quem exerce o domínio e determina o trabalho. Do trabalho ligado à és máquina alcança-se o momento-em que concretamente a máquina. objetiva homem deixa de do. ser trabalho. O a peça central do trabalho, é posto de lado, é literahnente dispensa- O trabalho abstrai do homem, o que significa dizer que negando o trabalho humano, uma vez que o. processo de trabalho. está se encontra materializado na máquina. A con- dição fundamental que possibilitou o crescente índice de mecanização das operações de trabalho, foi a divisão técnica do trabalho. Possibilidade cujo início ocorreu com o uso das ferramentas, alcançando a total substituição do trabalhador humano pela robotização da produção, pelo auto-gerenciamento da máquina. Abrem-se as prerrogativas da dis- pensa do trabalho humano concreto e imediato, enquanto dispêndio de esforço fisico. possibilidade da produção automatizada, via materialização objetiva na balho manual e intelectual humano-, abre as perspectivas do Trabalho máquina do A tra- Humano Abstrato. ,. IV.2.a -- O PRESSUPOSTO DO TRABALHO HUMANO ABSTRATO Uma vez que trabalho humano por, e mais o desenvolvimento abstrato, do que das- forças produtivas permite a concretização do há que se procurar a causa ou o fundamento que permite su- isso, realizá-lo efetivamente. Onde estaria este princípio gerador, esta categoria mais simples, esta base objetiva cujas prerrogativas pressupõe e determinam o Trabalho Humano Abstrato? Qual a fonte, o princípio primeiro, a substância social, que reduz todas as formas de trabalho convertendo-as conceito ou a realidade material em Trabalho Humano Abstrato? O do Trabalho Humano» Abstrato, já aparece especificado nas primeiras relações de troca de mercadorias. As trocas só se tomaram viáveis e trabalhadores livres e independentes concretizáveis como no exato momento em que havia individuos. Foi o trabalho de proprietários individuais e livres, a condição necessária e suficiente, que possibilitou a troca, e como , conseqüência o Trabalho Humano 107 Abstrato. Apesar de o trabalho ser 0 elemento funda- mental e essencial do capitalismo, ele não comparece concretamente, mas se expõe mercadoria e consequentemente A transposição tempo de feita como como valor. do trabalho em mercadoria e nesta com que as relações dos homens de uns para com os outros trabalho, faz por meio das mercadorias que eles trocam entre em valor, si. por estar baseado em seja A socialização dos indivíduos, seu padrão de vida, o nível de satisfação de seus desejos, sua liberdade, seu poder, pas- sam a mas é- também é acon- ser determinados inteiramente pelo valor das mercadorias, cretização do processo da reificação, no qual as relações pessoais entre os transmutados na forma de relações objetivas entre as coisas. trabalho significa o valor incorporado na mercadoria. todas as mercadorias é o trabalho, e lhador. passam a tração, do “Fetichismo um trabalho indístinto Uma da qualidade comum a individualidade do traba- A aferição do valor é puramente quantitativa, válida a todos os tipos de trabalhos individuais, tendo lhos capítulo em O Capital, Marx trata desse processo(15). das Mercadorias”, O No homens são como unidade de medida padrão, o tempo de trabalho. :Assim os traba- diferir entre- si somente pelo- tempo- de sua duração. que passa a transparecer como propriedade constituindo-se comum É uma forma de abs- a todas as mercadorias, no seu valor de troca. No ato da troca, é o- dispêndio da força de trabalho humano, expresso quantitativamente em horas de trabalho que define o valor. O trabalhador transfere oz valor de uma certa quantidade de força de trabalho abstrata, dução ao-Êobjeto mercadoria. É um novo que será adicionada via processo de pro- valor adicionado à mercadoria para além dos valores que o trabalho concreto e individual conserva e transfere. Neste valor de troca, a atividade concreta não tende a aumentar o valor da mercadoria, valor dos meios de produção ao produto. Mas, no posta no mercado, ela, aí comparece com um- novo ponde ao valor dos meiosfde produção. ao fato de que uma certa quantidade ela apenas transfere o momento em que a mercadoria é valor adicionado àquele que corres-- A presença desse novo valor deve ser creditado de força de trabalho abstrata, independente do balho concreto, foi acrescida a ela no processo produtivo. tra- los Existe ou g explica-se esta situação pelo duplo caráter não aplica ao mesmo tempo dois trabalhados, do um que conserva o valor e outro que um novo valor para a mercadoria. E a grandeza desse novo da pela quantidade de trabalho que cadoria, propriedade ta do trabalho. Por trabalho, pois o trabalhador valor da mercadoria é medi- A adição de- um novo valor a uma mer- ela contém. do Trabalho Humano Abstrato, permanece oculto na forma concre- isso na hora do contrato de não ocorra ao nível de consciência nem na do trabalho-, ela trabalhador e não se mostra, pemanecendo escondida, mas. é determinante, é para cria não se- expõe, embora isto nem na do tal capitalista. Ela qual o sistema binário. o um hardware.. É nessa segunda face do trabalho, que= se concentra ou se- potencia a mais-valia. Daí porque, sempre que ocorrer a apropriação de força de trabalho por alguém diferente de seu proprietário, caminha-se inevitavelmente para a exploração .. A força de trabalho transformada numa unidade quantitativa abstrata é um processo que se caracteriza como uma forma de trabalho social. Ele é diferente do trabalho simples atividade produtiva, necessário para a satisfação dos carecimentos do como homem implicando- na adaptação da natureza.. E, na troca, a satisfação que a mercadoria causa não especifica a categoria central, não é ela que conta. Ela é ato da troca. IV.2.b - um simples pressuposto no E . UMA ABSTRAÇÃO: VALOR DE TROCA No capitalismo especificamente prevalece a forma social de trabalho. Significa dizer que o trabalho produz mercadorias, cujos' produtos aparecem como valores' de- troca. É Na produção quem produz, é uma pois a substância social que se manifesta no valor, no valor da mercadoria. de valores, portanto, os abstrair de quem produz, o prescindir de condição para se pôr universahnente como valor. Conforme Marx: “Como valores-de-uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de qualidade diferente; como valores-de-troca, só podem diferir na- quantidade, não contendo portanto nenhum átomo de valor-deuso. Se prescindirmos do valor de uso» da mercadoria, só lhe resta ainda uma propriedade, a de ser produto do trabalho. Mas, então, o produto do trabalho já terá passado por uma transmutação. Pondo de lado seu valor-de-uso, abstraímos, também, das formas e elementos materiais que fazem dele um valor-de-uso. Ele não é mais mesa, casa, fio ou qualquer coisa útil. Sumiram todas as 109 suas qualidades materiais. Também não é mais o produto do trabalho do marceneiro, do pedreiro, do fiandeiro ou de qualquer outra forma de trabalho produtivo. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, também desaparece o caráter útil dos trabalhos neles corporificados, desvanecem, portanto, as diferentes formas de trabalho concreto, elas não mais se distinguem umas das outras, mas reduzem todas, a uma única espécie de trabalho, o trabalho humano abstrato” (Marx; 1985:44/45)(16). Criado o valor das mercadorias, o Trabalho duas faces. do Humano Abstrato trabalho, tornando-as veículos de valor homem. Este valor aparece como uma das além de serem objetos úteis ao destaca-se por não apresentar: “nenhum átomo de matéria encerrado. no seu valor. Vire e revire, à vontade, uma mercadoria: a coisa valor se mantém imperceptível aos senti- dos” (Marx; 1985:55)(l7). Por si uma ação só a troca ou o ato da troca, abstrata, cuja exclui o valor de uso da mercadoria, tomando-se unidade valorativa que aparece na equivalência, só se refere ao valor de troca, ao esforço de trabalho- humano despendido. Por isso, logo adiante Marx, complementa: “As mercadorias, só encarnam valor na medida em que são expressões de uma mesma substância social, o trabalho humano; seu valor é, portanto, uma realidade apenas social, só podendo manifestar, evidentemente, na relação social emque uma mercadoria se troca por outra” (lVlarx; 1985:55)(l8). São inúmeros indivíduos, ou grupos de indivíduos, produzindo independentemente, em mercadoria seus produtos.. Somente na hora da troca se estabelece o contato de uns com os outros e é neste momento da troca que o caráter social específique transfomiam co de cada produtor se manifesta. No ato da troca de um produto A por um produto B, cujos valores de uso são quali- tativamente diferentes, o que possibilita a troca é o fato de ambos refletirem e possuírem uma propriedade em comum, o Trabalho Humano Abstrato. “Que Isto consiste em dizer: comum, com a mesma grandeza, existe coisas diferentes... As duas coisas são portanto iguais a uma terceira que por sua vez algo em duas 110 delas difere. Cada uma das duas, como valor-detroca, é reduzível, necessariamente, a essa terceira” (Marx; 198S:43)(19). É esta terceira coisa, um algo- imaterial, que não contém; “nenhum átomo de valor-deuso, nenhum átomo de matéria”. É o Trabalho Humano Abstrato constituindo um conjunto de operações reais, efetivas. e. materiais- Ele. aparece no equivalente como algo uni- versal, concreto, singular e material. A substância, imaterial, impalpável exterioriza-se, objetiva-se como como do Trabalho Humano- Abstrato, põe-se como valor que, por sua vez se exterioriza como é, mercadoria, dinheiro. Ela é relação social, relação entre coisas, nega-se e se exterioriza livre- mente, cria outras relações para além da consangüinidade do senhorio e da escravidão. Como lente relação social amplia-se, tanto quanto ampliam-se as trocas e o dinheiro, é equiva- de troca, que também é relação social, confere poder e ind'ependênci`a=. por meio desta independência que se constróem relações universais, criam-se necessidades universais de mercado que iguahnente passam a ser universais, do IV.2l.c - ser satisfeitos por capacidades potenciahnente homem, universalizado. A OBJETIVIDADE. DO TRABALHQ HUMANO ABSTRATO Como processo material, a substância Trabalho Humano Abstrato, constitui-se como uma abstração real num mundo material. Na troca o- valor' não está em quem produziu, ela desvincula produto teve. o consumo da produção. que ser A quebra do vínculo que existia entre produtor e rompido, para que todos os atributos. do homem se desvinculassem da mercadoria. Desconsidera-se a habilidade, a idade, o sexo, para quantizar 0 valor da mercadoria. O interesse está apenas centralizado na mercadoria, cuja existência e valida- de são sociahnente reconhecidos, ra é, e como abstração real que, segundo tem portanto, existência social. Daí que se configu- Etges: “Em primeiro lugar, abstrai do- indivíduo- que produz, pois não importa quem produz, nem em que condições' ele trabalhou, etc., em segundo lugar, abstrai ou prescinde do indivíduo que vai consumir o produto. Terceiro, abstrai da qualidade do produto, que lhe interessa apenas enquanto expressão dele mesmo como valor. Quarto, no trabalho abstrato está posta a abstração dos carecimentos dos homens, importando apenas 111 a realização de si como valor. Quinto, nele- está presente a abstração do espaço onde se produziu ou produz alguma coisa, bem como-, sexto, está presente a abstração do tempo empírico individual de produção-, tempo e espaço realmente absdo conceito” (Etges; tratos, pré-condições 1993:10)(20). Já não é mais necessário produzir para consumiu guém da família está doente, mas Não uma produção social.. mas O não se conhece quem produziu, e este não conhece quem ele produtor integra- o produz para os ho- produto abstrai do produtor, irá consumir, ou- quando será A lógica do mercado passa a ser o sujeito enquanto o produtor torna-se seu objeto, seu predicado-. te O al- Produz sem. saber para quem nem quando será con- sumido, a produção independe do espaço e do tempo. consumido. produz o chá, quando ele é produzido indefinidamente. do, não produz o frango e o suíno para o seu consumo, mens, ele faz se Assim o Trabalho Humano Abstrato não- aparece. como equivalen- do trabalho concreto, mas põe-se como conceito, como realidade pensada e como valor que se realiza na troca. IV.2.d - TRABALHO HUMANO ABSTRATO, UM DEVIR HUMANO O Trabalho Humano Abstrato é um devir do trabalho- simples. É trabalho individual, qualitativo e concreto, que se apresenta apenas Ele é morte e nascimento, é negação, é: a. suprassunção do como expressão sua. existência concreta e universal, é o fundamento do novo, é o seu incondicionado. Ele é determinante e passa a determinar, é substância encontrando princípio e fundamento em si mesmo, é desenvolvimento. O Trabalho Humano Abstrato, não possui nenhum átomo de matéria, é impalpável, é substância que o sujeito» não pode determinar, pelo contrário, ela, a substância, o deter- mina, determinando suas ações, sua vida. Nela o sujeito pode perder-se, pois ela é e por si, material, põe determinações e se desenvolve, é potência. princípio de ação o Trabalho Humano Abstrato, elimina o trabalho genérico, empírico que não ultrapassa o sensível, o vivido e passa a ser mesmo tempo tual, e Como um em si como um concreto geral, um concreto singular e ao universal. Ultrapassando o nivel princípio de ação caracteriza-se procurando o do vivido, passa a ser puramente como procurando a categoria mais intelec- simples, DNA (21) como determinante de todas as outras formas de trabalho. Por 112 isso é princípio trabalho. como de ação e na sua dinamicidade determina todas as formas históricas de É um princípio de ação, que no seu desenvolvimento nega-se, dissolvendo-se como princípio primeiro, aparecendo algo concreto, palpável e determinante. Na proximidade com a metamorfose da borboleta, ele nega e dissolve as formas anteriores, mas não lhe é diferente, conserva-se como unidade do diverso. Como princípio de ação apresenta um desenvolvimento necessário e imprescindível, mediado pelas suas formas, mediado pela plena. realização como atividade e trabalho puramente intelectual, hoje materializado na máquina automática. princípio explicativo, como: conceito simples de todas as formas de trabalho qualitativos, suas transformações e transmutações são necessárias e imanentes. É uma negatividade sob múltiplas' formas que de resultado passou a ser princípio, pressuposto e condição das diversas fomias de trabalho. ção e determinante da mudança das formas de relação entre os homens para reza. Permite o aparecimento da inteligência, mundo si mesmo, dissolve a naturalmente posto, e. si mesmo e, - troca. É ne- sendo ação, sendo transformação, nega o dá-lhe formas humanas. Criando adaptando-o às necessidades humanas, atribui-lhe formas para existe com a natu- que nela encontra o seu pressuposto, pela elevação ao pensamento» abstrato a partir de operações concreto/abstratas gatividade de É condi- um mundo mim - homem humano, - o que em sie é pura alteridade. Ele permite ao- homem a saída inteira de sua interioridade estéril e vazia para criar o novo, quebrando o» gelo do arcaico, das corporações imediatis- É o princípio ativo que lança o agricultor, encolhido e reduzido ao círculo familiar, a ser um produtor integrado e produtor para o mundo, para além do necessário para a sua tas. subsistência. A categoria Trabalho Humano Abstrato, efetivamente posta, profundas modificações nas relações de trabalho. sociais, as acaso. O traz. no seu conteúdo que transparece hoje nas relações profundas mudanças nas relações de produção, não são portanto obras do São a concretização material, das pressuposições, do conteúdo que se exterioriza e vai sendo posto até a sua exaustão, até o seu esgotamento total. 113 IV.3 - ATIVIDADES DE NÍVEL SUPERIOR: UM TRABALHADOR PLENO A possibilidade da máquina automática passa a superar o gênero trabalho, zado por particularidades e singularidades. como caracteri- Na perspectiva, ou na medida em que se con- como conceito, ele perde a característica da exploração, de ser um instrumento de dominação do proprietário dos meios de produção sobre o proprietá- cretiza rio pensável, da força de trabalho. Liberto de prerrogativas determinadas, fixas e aparentemente imutáveis e alheias, passa a ser agora dependente de vontades individuais de homens sujeitos e universais. Estão dadas as condições, as pressuposições e as prerrogativas para o não trabalho imediato e manual, para o não assalariamento. Na possibilidade de existência do mundo do não trabalho imediato, o valor adquire uma nova configuração. Ele passa a ser expresso qualitativamente e nada mais guarda do tempo de cluída. trabalho. A medida quantitativa pelo tempo Um novo pressuposto de trabalho será literahnente ex- de produção de valores, não mais baseado na magnitude do tempo de trabalho empregado ou gasto, será posto como sendo concretização desse novo- estágio fator decisivo de do capitalismo. Uma nova fase do capital, negando as anteriores mas substnnindo-as, entra em cena e extemaliza o seu conteúdo. Fase que travestida por formas mais amenas de exploração do trabalhador, por uma nova ótica e capitalista. la-'se Por ela, inaugura-se ética que subordina os trabalhadores ao universo uma nova fase de desenvolvimento cuja essência emascu- na manipulação e na cooptação. Mudanças radicais e profundas estão acontecendo. Mas segundo ção de Etges, “continuamos sob a égide do capital”, e complementa com uma cita-- Marx nos Grundrisse: “O roubo de tempo de trabalho alheio, sobre o qual se fimda a riqueza atual, aparece como uma base miserável comparado- com este fundamento, recém desenvolvido, criado pela própria grande indústria. Logo que o trabalho deixa, e tem que deixar, de ser sua medida e portanto o valor de troca deixa de ser a medida do valor de uso. trabalho excedente da massa deixou de ser a condição para o desenvolvimento da riqueza social, assim como o não-trabalho de uns poucos deixou de sê-Io para o desenvolvimento dos poderes ge- O rais do intelecto humano. Com isto se desprende a produção fundada no valor de troca, se libera o processo de produção da forma da necessidade 114 angustiante e o antagonismo. Desenvolvimento livre das individualidades, e por aí, não redução do tempo de trabalho com o fim de pôr sobretrabalho, mas em geral redução do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, ao qual corresponde então a formação da vida artística, científica, etc., dos indivíduos graças ao tempo que se tornou livre e aos meios criados para todos” (Etges; l994:10)(22). Em função disso, novas necessidades estão sendo burocráticas de relações sociais e produtivas são percebidas suas estratégias de ação com características ditatoriais, como imutáveis, são jurássicas. um contato com as novidades que o novo de agora é Caia or A obsoletização de As dimensoes de tem- aparecem agora como flutuações, demonstrando uma efemeridade inimaginável até então. As oscilações, estão a exigir e irrelevantes, arcaicas e pesadas estruturas de massa, estão sendo literalmente estouradas. po e de espaço, antes fixas e Normas formais determinadas. as flutuações, a descartabilidade, quase instantâneas e com a perspectiva de obsoleto do daqui a pouco. verticalidade das e nas relações sociais e redes, as formas horizontais de contato, de ção material quanto da produção de produção. produção e de intelectual, Em seu lugar surgem as distribuição, tanto do conhecimento e da será proporcionado pela materialização da infomratízação, que tempo e do espaço, tomando presentes e ciência. rompeu as da produ- Tudo .isto barreiras do transparentes, aqui e agora os acontecimentos, os conhecimentos, a criação científica. Põe-se a sociedade do não- trabalho concreto, põe-se a sociedade da produção intelectual, a sociedade da produção universal dos ho- mens como lista HOMENS. É necessário eliminar o trabalho em sua fomra perversa e capita- porque na sua abrangência: “O ` E trabalho é... o principal poder sobre os indivíduos, e enquanto este existir tem de existir tamprivada” bém a propriedade (Marx; 1984:64)(23). completar dizendo, que a possibilidade de construção do mundo do não trabalho imediato já não é mais utopia, deixou de ser sonho. Está significando a gradual redução, até a eliminação por completo, do trabalho espoliação de mais valia, via roubo de assalariado, tempo ao uma .forma restrita e periódica expressando o grande trabalhador. O vilão da exploração, da salário ou o dinheiro e' determinadas relações entre os homens, pois: 115 “no dinheiro é que reside, portanto, or fato de todo o intercâmbio até aos nossos dias ser apenas o intercâmbio dos indivíduos em determinadas condições, e não dos indivíduos como indivíduos” (Marx; 1984:95)(24). _ Portanto, superá-lo é pressuposto da sociedade do não trabalho. Esta será viabilizada pela efetiva realização do Trabalho Humano Abstrato, é a resposta positiva, cante aos “eternos amigos da miserabilidade” esquerdístas retóricos. - embora cho- ultraconservadores do egoísmo burguês e talvez incompreensível aos autistas do- tradicional- e* jurássico, aos charlatães da miséria, aos amigos da anomia e derrisão, ao profetismo da desgraça e do conformismo, do desesperoens. Mas significa dizer que ez do nem no caos, palco com suasz litanias estiolam or Homo- sapido mundo enem mesmo nos seus bastidores é que possível perlustrar as nefastas sombras obnubiladas da destruição e da morte. Etges ' diz: Como ` “Ao contrário, a análise mais ampla do trabalho, especialmente do trabalho humano abstrato, alimenta enormes esperanças ao mesmo tempo que vê a travação inteira do edificio da sociedade do não-trabalho que os. homens e as mulheres estão construindo com rapidez assombrosa, mediante a ciência” (Etges; I994r:12)(25). Posto Humano isto o produtor integrado, não pode ficar alheio e na ignorância do Trabalho Abstrato. A gênese da inteligência e desta à produção científica- possui caráter imperativo junto a seu cotidiano de produtor de mercadorias e já nao mais simples ven- dedor de força de trabalho. Utiliza-se, mesmo que induzido, das conquistas da enge- nharia genética para facilitar o_ acesso universal da matéria prima - carne - de frango e de suino. Apropriar-se desse conceito implica no: “desenvolvimento das capacidades individuais correspondentes aos instrumentos da produção material. A apropriação de uma totalidade de instrumentos de produção é desde logo, por isso, o desenvolvimento de uma totalidade de capacidades nos próprios indivíduos... Só os proletários do presente, completamente excluídos de toda a autoocupação, estão em condições de realizar a sua completa auto-ocupação, não mais limitada, a qual consiste na apropriação de uma totalidade de forças produtivas e no desenvolvimento, assim iniciado, de uma totalidade de capacidades” (Marx; 1984: 9r7)(26). 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I,São Paulo: 2) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: Difel, 3) MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Volume I, São Paulo: 4) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã, São Paulo: Moraes, 5) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia alemã. São Paulo: Moraes, 1984, 6): MARX, Karl. Q Capital-: Volume I, São Paulo: 7) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: Difel, 1985, p. 218. 8) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política.. Volume I, São Paulo: Difel, 9) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia politica. Volume I, São Paulo: Difel, 1985, p. 417/18. crítica da economia política. Difel, 1985, p. 410. Difel, 1985, p. 379/80. 1984, p. 95. p. 71. Difel, 1985, p. 196/97. O fnn dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos 10) RIFKIN, Jeremy. força global de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995, p. 245. ll) 1985, p. 374. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: 1985, p. 219/220. empregos e a redução da Difel, 1985, p. 440. 12) FRIGOTTO, Gaudêncio. No Seminário sobre Educação e Trabalho, realizado em 18.08.95 na UFPR Curitiba, assim se referiu ao trabalho: valor de uso e valor de troca; “Sob o capitalismo o trabalho deixa de ter a prioridade do valor de uso e, passa a ser visto como trabalho sob a ótica do valor de troca. Nas relações sociais capitalistas or trabalho se volta contra o próprio homem, porque ele não tem a lógica do valor de uso, mas a lógica do valor de troca. Definição que justifica o massacre dos sem terras de Rondônia. No Brasil, o insignificante percentual de 6% das terras são tidas como valor de uso, os restantes são valor de troca. Terra, que é mercado de reserva para o fiituro. E, como capital, ela não tem a ótica do valor de uso, mas sim a ótica do valor de troca. - 13) ETGES, J. Norberto. Trabalho gre:FACED/UFRGS 18(l), 1993, p. 07. 14) e conhecimento. In: Educação e Realidade, Porto Ale- MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. São Paulo: Moraes, 1984, p. 15. São Paulo: Difel, 1985. Capítulo 15) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume A Mercadoria, pág. 79/93. As coisas aparecem diante dos indivíduos como sujeitos com qualidades soI: I, ciais. “A trabalho igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos produtos do como valores...Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fan- tasmagórica de uma relação entre coisas... Processando-se os contatos sociais entre os produtores, por intermédio da troca de seus produtos de trabalho, só dentro desse intercâmbio se patenteiam as características especificamente sociais de seus trabalhos privados”. Ver' também Mariano F. Enguita em Trabalho Escola e Ideologia, Cap. V. Herbert Marcuse em Razão e Revolução, pág 252/264. 16) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: Difel, 17) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: 18) MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Volume I, São Paulo: Difel, 1985, 19) MARX, Karl. O Capital: critica da economia politica. Volume I, São Paulo: Difel, 1985, p. 43. 20) ETGES, J. Norberto. meo., 1993, p. 10. O conceito do trabalho e a ação do conceito. 1985, p. 44/45. Difel, 1985, p. 55. Santa Catarina: p. 55. CED/UF SC: Mi- 117 ETGES, J. Norberto. Trabalho e conhecimento. In: Educação e Realidade, Porto Alegre: FACED/UFGRS, 18(l),1993. “Da mesma forma que o eu, a vida, a cultura, etc., e como o DNA, - coisas objetivamente abstratas, - vão se pondo, mas aparecendo como pondo coisas externas a eles, nas mais diversas formas, assim também o trabalho humano abstrato, cujas caracteristicas ainda precisam ser determinadas, vai se objetivando, vai se exteriorizando ou pondo em diferentes formas ou detenninida- 21) A árvore é a substância posta “unidade do ser e da aparência”, ou, digamos do conteúdo e da fonna enquanto aparência. Aparece só a árvore, e seu conteúdo, seu DNA, nela desapareceu, formando uma des... unidade”. ETGES, J, Norberto. Sociedade do CED/UFSC, Mimeo. 1994, pág. 10. 22) trabalho sem trabalho, desemprego estrutural. Santa Catarina: 23) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia alemãl. São Paulo: 24) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia alemã. ETGES, J, Norberto. Sociedade do CED/UFSC, Mimeo. 1994, p. 12. 25) 26) trabalho sem Moraes, 1984, pz 64. São Paulo: Moraes, 1984, p. 23. trabalho, desemprego: MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia alemã. estrutural-.. São Paulo: Moraes, 1984, Florianópolis: p. 97. CAPÍTULO V s1sTEMA DE 1NTE‹;RAÇAoz DE AGRICULTOR PARA 1>RoDUzu ToR PLENO V.1 - REORGANIZAÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS O surgimento, ou a nova legitimidade do Sistema de Integração, assenta-se base ideológica de teor capitalista e que se encontra central A em fase de re-estruturação. A idéia que perpassa esta nova base ideológica é de que, atualmente, os mundo põe-se contradição com o passado. O mundo não só está mas é diferente. No em bojo dessas transfomlações estão superadas, as formas e os sistemas: produtivos, sustentados por grandes corporações, firmadas na rigidez de estruturas hierárquicas de adrninistração da produção e da força de trabalho. Decorre dessa base de transformação, o desmantela- mento das grandes empresas, via urna nova forma produtiva: a terceirizaçao. A terceirização empresas, bem como do processo de trabalho. terceiros para indústria. aquela é a ação produtiva da atual forma de organização- das indústrias e que estes realizem serviços específicos de uma determinada empresa ou Pela terceirização a empresa ou indústria, define entre suas diversas atividades, em que melhor se destaca.. Passa então- a investir todo» 0 dade, passando a contratar outros grupos nesta Ela consiste na contratação de serviços de seu- potencial» ou empresas, que por sua vez ou naquela área específica, visando a plena execução de funcionamento da primeira. nesta ativi- se especializam atividades necessárias ao ' Com o acirramento da crise do modo de acumulação fordista, nas décadas de 60 e 70, as grandes empresas industriais, começaram a sentir o arcaísmo econômico e produtivo, no exercer de inúmeras atividades simultaneamente. Terceirizar passou a lavra e a ação sas, na ordem do dia de empresas e das quais se exige especialidade numa indústrias. ser então a pa- A contratação de novas empre- área iguahnente específica, passa a ser feita de forma tal que permitam a execução das atividades e do funcionamento da primeira. nesse viés econômico que embarcam as agroindústrias. É 120 A nível de Europa, o processo de terceirização está sendo implantado desde a década de 50. Nos países de terceiro maior numero de adeptos a cessária é a de mundo, a forma partir terceirizada de vem ganhando produção do final da década de 80. Ressalva que aqui que no setor agroindustrial, terceirização, mesmo mundo, encontra índices expressivos bem anteriores". É em países se faz ne- de terceiro o caso do Sistema de Integração, que no Extremo Oeste Catarinense, encontra seu berço na década de 60. V.2 - CIÊNCIAS E TECNOLOGIA: NOVOS CONCEITOS DE ESPAÇO' E TEMPO Embora ainda l incipiente na época, a terceirização» era e é o posto da nova forma de revelação do capital. Significou o apagar da luzes de agrícola e o conseqüente despertar de uma nova produtores, “davam-se as mãos” para, produzirem mais e melhor era. em conjunto uma época e modelo produtivo Cedo, agroindústria e proprietários e de forma cooperada desigual - em menor espaço de tempo. Consequentemente o setor agrícola, produtor de alimentos, passou a revestir-se de um dinamismosequer imaginado em períodos anteriores. A produção tria - projetou o produtor integrado numa nova para a agroindús- força estruturadora e socializadora, pela sua inserção objetiva no mercado, agora não mais como força de trabalho, mas sim como produtor de produtos e mercadorias. nas propriedades agrícolas. Uma nova lógica incorpora-se à produção alimentar A engenharia genética, a re-organização do espaço e do tem-- po, inovadoras formas administrativas dos processos de trabalho, deslocam zam a produção da teorias e riqueza para um novo» parâmetro. ou centrali- Agora, a ciência, seus conceitos, esquemas são elevados à categoria primeira da força produtiva, antes centradas na teoria do valor/trabalho. De nética, outro lado o avanço das formas produtivas, robótica, informática, engenharia ge- a reorganização do tempo e do espaço, permitem um processo versalização tanto do capital, quanto- das formas produtivas. substituição gradativa do trabalho htunano imediato, acelerado de uni- Em decorrência temos: a sensítivo e manual, pela maquinaria: os processos produtivos tornam-se mais eficientes, originando produtos de melhor qualidade; a margem de erros e a perda de produtos beiram os limites do zero; as margens de 121 lucros sofiem significativos aumentos pela grande centralização significativamente mesmo de em da produção mas, caem percentual por mercadoria; permite a oferta de mercadorias e sistemas prontos e personificados, como perspectiva de negação das massas e estímulos às exigências subjetivas da pessoa humana; diminui sobremaneira o tempo entre to a criação de princípios teóricos e sua objetivação material, de esquemas teóricos que se te criadores bem como o encadeamen- tomam geradores de novos esquemas e consequentemen- de novos mundos. ^ Cada vez mais e de forma concreta as novas formas produtivas- e organizacionais, homem se aproxima de pro- minho das rupturas, das redefinições e tem como pressuposto básico e central a existên- implicam no domínio da ciência pelo homem. Mais e mais o duções cognitivas e conceituais. cia e o desenvolvimento da A produção acumulativa de conhecimento, segue o ca- inteligência. E, posto da inteligência está no Trabalho se na troca. conforme acima já Humano Abstrato. foi explicitado, A sua concretização manifesta- É ela o momento prático da abstração, em que o trabalho produto mercadoria. Pois o trabalho concreto não comparece produção E, capitalista. 0 pressu- concreto se põe no como tal, no modo de Ele se revela e se põe plenamente na mercadoria, enquanto valor. como o produto do trabalho só se toma mercadoria a partir do momento em que opera a troca,(1) é neste ato que o trabalho humano se realiza como valor. se O trabalho: “comparece disfarçadamente na troca de mercaporque essa é a forma de aparência, de dorias, até manifestação primeira capital” (Etges; 1993:l3)(2). Nessa operação prático/abstrata estão presentes as condiçoes plenas e objetivas do devir da inteligência, do conhecimento, criando as condições para o nascimento lho abstrato intelectual. O do traba- que vemos hoje é que a inteligência assumiu definitivamente um processo de desenvolvimento autônomo, cujas ilimitadas possibilidades acenam em É essa virulência do desenvolvimento autônomo assusta atualmente. As criações científicas, penetram em minucio- direção à sua própria e plena realização. que nos surpreende e sidades e especificidades cada vez maiores, permitindo o» dornínio de parcelas e partes cada vez menores, microscópicas, obrigando a novos conceitos de espaço e de tempo. O produtor agrícola integrado, está convidado a se integrar nos conceitos da modemídade, tanto nos aspectos tecnológicos quanto nos da compressão temporal e espacial. ' 122 A reorganização do espaço e do tempo começa a fugir do conceito “naturalizado”, construído e atribuído a sentidos cotidianos agrícola familiar sumidor. As com pouca expressão variáveis, comuns e empíricos, atrelados a uma prática comunitária e pouca expressão no mercado con- tempo e espaço, tomam-se agora mais complexas, tomam-se um atributo objetivo das instalações, e sua representação mensurável encontra-se aliada aos conceitos de direção, área, forma, volume, distância que, exatamente por serem mensu- rados podem ser apreendidas. Tem reflexos não só na melhor ocupação objetiva dos espaços nas instalações, mas são parâmetros para novos conceitos de ocupação do tam- bém espaço social. O reconhecimento, o trânsito numa diversidade de econômico e político, implicam com novas oportuSobre essa mobilidade social, convém uma citação de Kern: “Uma das respostas foi um crescente sentido de significados mais amplos nidades de desenvolvimento. social, e' objetivos de espaço, unidade entre as pessoas antes isoladas pela distância e pela falta de comunicação. Isso não foi, contudo, uma coisa pacifica, porque a proximida- de também gerou ansiedade - a apreensão de que os vizinhos se aproximassem demais” (In: vey; 1993:245)(3). Uma sistemática seqüência de intensificação construção» de da ansiedade que passa a exigir Har- uma re- novos er alternativos- padrões de ações. Citando Giddenszi “A ruptura e o ataque deliberadamente sistemático às rotinas habituais da vida produzem um alto grau de ansiedade, uma eliminação das respostas socializadas à segurança da administração do corpo e a uma estrutura previsível da estrutura social” ( Gíddens; 1898: 51)(4). Essa confusão te inicial _ que se estabeleceu a nível de modernidade, também e, certamen- em idênticos parâmetros no seio dos integrados. Diante da necessinovas práticas em relação aos processos materiais de produção, bem como a marcou presença dade das necessidade de novas práticas sociais, novas concepções de tempo e de espaço são criadas. A objetificação dos novos conceitos de espaço e de tempo, implicam na reconstru- ção diferenciada tanto do tempo quanto do espaço reconstrução é constante, o que implica em forma social e produtiva. Esta em qualidades objetivas em permanente mudan- ça propiciado pela evolução da engenharia genética e consequentemente das práticas e processos de produção material e social, bem como a reprodução material e paralela 123 reprodução social. As práticas especificas do novo modo de produção, a nova organiza- ção do espaço necessário, de fato e concretamente passam a definir as relações entre as pessoas, entre as suas atividades, entre as coisas e entre os conceitos. O produtor integrado, só agora sente-se perturbado pelos suaves mas gradativos universalismos da tecnologia, pelo colapso da distância espacial e das identidades temporais, e pela aceleração aparentemente incontrolada dos processos temporais. A moderni- zação envolve a disrupção- perpétua dos ritmos espaciais e temporais e o modernismo tem como uma de suas missões, a produção de novos num mundo objetivo século do para o espaço» e capital desde o. seu estágio inicial tempo de desenvolvimento, remonta portanto ao XV e XVI, presente já em colégios e principalmente na manufatura. ele se oi de efemeridade e fragmentação. Dominar o tempo e o espaço, tornou-se mento conceitual chega mo, sentidos. ao» produtor integrado e o perturba. No Esse cresci- debate consigo mes- busca e se constrói como novo homem, enquanto se prepara para dar um salto de qualidade na produção. A produção em grande escala, de frangos e suínos, envolve certamente a mudança em sua localização e um conseqüente movimento espacial. A medida que produção intea. grada se põe tornando-se mais complexa, mais envolvente, passa a exigir uma re- organização espacial mais adequada. Para que o produtor integrado, possa vencer estas barreiras do redimensionamento espacial, terá que investir dinheiro e tempo bem como mudar a sua concepção de mundo. Sabe, por conseguinte, que a eficiência, tanto na or- ganização quanto no movimento espacial, são questões importantes para a potencializa- ção de lucros. A boa delimitação espacial e a redução ao lucro. Por isso o seu esforço e interesse e mesmo do tempo na criação são básicos insistência em lidar com tecnologias genéticas, inovações técnicas e organizacionais que reduzem o permanência, e de outro lado- aceleram processos sociais de consumo. as altas tempo de Num periodo mar- cado por dificuldades econômicas e pontuado pela intensificação da concorrência, quem for mais capaz construir de intensificar a produção, tem melhores condições de sobrevivência e de uma existência mais rica Fatos concretos mame de leitões como o após vinte e e dinâmica. abate de frangos após quarenta e seis dias de vida, o des- um dias, a engorda do suino em quatro meses, a grande 124 quantidade de sementes do tipo precoce, a medicação de efeitos quase instantâneos, o preparo da ração e a sua distribuição no aviárío ou chiqueiro, quase automatizada, telefone para chamar o técnico - alguns o tem já em sua propriedade, outros em via postos de serviço, ou nos comércios locais rial o- dele usufi'u- estabelecem a funcionalidade mate- -Y, de novos modos de pensar sobre o tempo e o espaço, determinando novas formas de vivenciá-los. E ESPAÇO E AS NovAS NECESSIDADES DE UMA EXISTÊNCIA MAIS PLENA v.3 - 'rEMI›o ' meiam o desconcerto das ências de espaço/tempo. em oposições e descontinuidades Incríveis confusões, relação ao tradicional, per- reações diante do crescente sentido da crise nas novas experi- A instabilidade do espaço/tempo do senso comum, entronizada na rotina do cotidiano, acaba por lançar uma luz a este momento crucial da necessidade de re-estruturação e adaptação a novas práticas de vivência e produção. A nova forma de produção, mobiliza e acelera Acelera o seu ritmo de consumo, tanto oz ritmo diário das ações do integrado. em vestuário, ornamentação em seu estilo de vida, atividades sociais - freqüência a clubes informação palestras, - filmes - bem como de recreação - -, a formas organizacionais, a tidos como modos de agir, decoração, quanto atividades. culturais atirar fora valores, estilos como o apego a determinadas a modos de e de lazer, esporte e música. Por conseguinte significa para o integrado a capacidade de de vida, relacionamentos fechados e ditos estáveis, Ve ser, de pensar e de coisas, sentir, antes imutáveis. Concretamente a integração golpeia o conteúdo e as formas das experiências quotidianas comuns ao agricultor até então. espaço, dentro da nova experiência Os novos em produzir, formam o conceitos de tempo e conteúdo dos mecanismos, com a novidade e as perspectivas da fragmentação e da instabilidade. Numa lúcida comparação entre o que acontece na vida em sociedade e o que acontece no novo cotidiano familiar, pode-se afirmar com Toffler: “Em comparação com a vida numa sociedade que que forçam o agricultor produtor a lidar se transforma com - rapidez, hoje fluem mais situações em qualquer intervalo de tempo dado - e isso implica profundas mudanças na psicologia humana”. (T ofller; 1970:40)(6). 125 Dessa forma distancia-se o produtor integrado, do agricultor que insistentemente nega o ingresso tecnológico, genético e organizacional tente permanência presidiária a imagens e formas de a fazer a diferença é em sua propriedade, numa um passado perdido. O que começa uma experiência espacial e temporal distinta, vivida por ambos. Um novo mundo se abre e se põe efetivamente pela integração.. redimensionado, que o agricultor passa a adquirir possibilidade de realizar limites cal, e. o integrado se entrega a uma lhe impõe. fantasia. poucos descobre a possibilidade da posso sentido de lhe; mesmo, vê uma Imagina e é tomado plenamente pela aura do deseinteiro, totalidade.. não mais fiagmentadaie alienada. Aos Ele quer ser um todo, quer ser completo, Marion do filme “Asas do Desejo”, de Wenders, me tomar o mundo”. É a fantasia do objetivados postos pela inteligência do ta, si dá destaque, apesar dos dizer: “Eu desejo e do sentir plenamente o quanto é agradável viver, sentindo e participando ativamente dos eventos e O nesse' espaço/tempo. Com a possibilidade de uma transformação radi- pessoa humana por quer, tal qual a trapezista um novo de pertencer a alguma coisa que que a sua identidade jo de vir a ser insis- momentos objetivos e homem através da Ciência. numa forma produtiva capitalis- produtor integrado ao se aproximar e se envolver passa a depender dos mercados competitivos. A lógica específica desses mercados» de natureza fortemente competitiva, provocam o aguçamento expansionista. Essa nova or- dem econômica implica em lançar o lógicas constantemente, cessidade de criar produtor integrado» a buscar/exigir inovações tecno- embora .muitas vezes de fom1a um ambiente difusa. O querer e a própria ne- produtivo de maior ação material, mediado- agora pela ciência e pela tecnologia, portanto não mais pelo natural, permitem ao produtor integra- do, transformar a matéria prima, a natureza, e o próprio mundo, de formas e maneiras sequer imaginadas em sua situação anterior. Nesse novo ambiente, não apenas natural, mas ambiente produtivo a sujeita criado, ele transforma a ao controle e coordenação, dele, substanciais alterações são manifestas paisagem de sua propriedade tornando- homem produtor integrado. Profundas e, na nova forma de relação entre a nova organiza- ção espacial e social do produtor integrado e o meio ambiente. Muitos aspectos do seu conviver cotidiano são diretamente afetados e influenciam o caráter agora mais genérico de sua interação com o meio ambiente. 126 A emergência do produtor integrado, incrivelmente dinâmico, integra-o a um empre- uma endimento econômico competitivo, associado a constante revolução tecnológica e da engenharia genética, torna-o gerador de processos produtivos e produtos mais eficientes, mais baratos - e portanto mais universais - e de maior qualidade.(7) Começa a tomar consciência de que a transformação local, a transformação de sua propriedade, a ça nas instalações e nos processos produtivos, o produto final de sua ação, ra de homem, superam o mesmo sua estrutu- em conexões sociais mais amplas. consumido em escala mundial, sente-se subjetivismo e se extrapolam Sente-se lançado para fora, pelo seu produto invadido por esse a~ mudan- universo, pela ciência, tecnologia e genética que aplica na sua ação trabalho. Opera dentro de um mercado globalizado. Integra uma complicada rede de laços eco- nômicos mundializados, dentro dos quais encontra e pratica novos conceitos de espaço e de tempo, muito distanciados das concepções tradicionais. Ele percebe-se apresentando características de integração, sente-se engajado em um outro sistema, onde se relacionam novas forças crescentes e diferentes determinando novos detalhes essenciais e mesmo com outros fenômenos sociais. cuja extensão» espaço temporal é certamente mais consistente. É na vivência desse secundários da vida quotidiana, mas, profundamente entrelaçados novo contexto, e diante das novas formas de práticas quotidianas, mais normatizadas, interação, que se manifestam dentro das que o produtor integrado apreende adequada- mente outros modos de posicionamento e de mensuração do espaço/tempo. Todo o conjunto de ações e condições, já trabalhados na nova modalidade produtiva e consequentente anteriormente, para integrar-se com novos reflexos sociais, depende da coerência dos procedimentos que os diversos agentes cognoscitivos lhe oferecem e o quanto permitem a sua viabilização. consiste A consciência das novas práticas mais dinamizadas no reconhecimento das normas e táticas que constituem e viabilizam a vida pro- dutiva e social capaz de ser reconstituída pela implementação das diversas e inovadoras formas de organização do espaço e do tempo. O conhecimento cognoscitivo que se in- corpora às atividades práticas da vida quotidiana, caracteriza-se pela capacidade de coordenar as suas atividades atingidos. com as de outros, de modo que objetivos traçados sejam 127 A atividade produtiva do produtor integrado, tem um novo fundamento: os conhe- cimentos técnico científicos e as criações genéticas. Fatalmente este novo fundamento, em oposição ao trabalho rotineiro, desqualificado e sem perspectivas, predominante até então. É o integrado, um trabalhador produtor que, no caminho do tornar-se sujeito entra começa a ser o regulador do seu processo de trabalho. Nessa inversão lê-se a grande expectativa de aumento do grau de libertação objetiva, pelo domínio- mais premente dos antes obscuros processos de trabalho. V.4 - A NOVA FONTE DE VALOR A agroindústria tal qual, e revestida da lógica do capital, historicamente passou por uma sucessão de formas, na busca daquela que melhor se adequasse às exigências de Nessa lógica do desenvolvimento do valorização. ção pela cooperação simples, que fatura, capital, destaca-se num processo interno de evolução passa para a manu- culminando na grande indústria. Marx, no Cap. IV, Vol. I de a forma de produ- - O Capital, apresenta a lógica desse desenvolvimento das Na forma de produção da grande indústria, o homem passa a ser o servo da máquina. Ocorre um processo gradativo de substituição do trabalho- vivo pelo trabalho morto. É na forma da grande indústria, que o capital, supera em definitivo as barreiras do formas. domínio sobre o trabalho. Analisado parcialmente e não tendo a ciência como base do desenvolvimento das forças produtivas, seremos conduzidos a conclusões precipitadas. Qual seja, a medida que ocorre capital entra lho um desenvolvimento das forças produtivas, máquinas, o em contradição com a sua base primordial de valorização, o tempo de traba- humano, trabalho vivo como criador de valor de troca. Como processo histórico, o capital na sua lógica dá-se conta de que por maiores e mais eficientes que sejam as inovações nos processos de trabalho e nas forças de trabalho, proporcionados pela ciência, não éi possivel a substituição completa do trabalho vivo. Exige pois a permanência do trabalho vivo como manancial produtor de valor e de mais valia, porém de uma forma menos grandes indústrias e, alienante. Isto quer dizer que por mais que as dentro delas as agroindústrias, potencializarem mecanicamente as 128 estruturas produtivas, alcançando prescindível, em alguns mesmo que de forma índireta, casos os limites da automação plena, é im- a presença e participação do trabalho vivo-. Uma das formas buscada no seu conteúdo e trazida para a materialidade, e que se caraccomo teriza uma fonte indireta de valor, é a terceirização espécie de subcontratação da força de trabalho. mento inerente ao capital, - possibilitada pela tecnologia -, A terceirização é um desenvolvi- da mesma forma que a maquinaria o- é. Nem um e outro» são: “mera casualidade histórica, mas fruto de um desenvolvimento necessário» e essencial, pelo- qual serve de instrumento de transmutação ou “metamorfose histórica? do meio- de trabalho tradicional em adequado para o capital”(Marx; l989:586)(8)'= É esta uma das opções de valoração. do capital, A base do *valor já não para viabilizar' a superaçãoda sua crise estrutural é mais o tempo de trabalho vivo e imediato. As grandes empresas, indústrias e agroindústrias, encontram na terceirização o seu revigo- ramento e a possibilidade concreta de majoração de lucros, além de superaram as pesadas e arcaicas regulamentações trabalhistas. Cercam-se mais e mais de pequenas e médias empresas, cujo compromisso é o fornecimento de partes de um todo, que naquelas será montado. - A agroindústria está cercada por um enorme contingente de trabalhadores domésticos pequenos proprietários rurais peças chaves nessa rede de terceirização. A nova lógica do - capital, marcando presença nas ainda grandes corporações trutura produtiva, não é mais a livre, também em toda a compra e a venda da força de trabalho mas, agora objetivada e subjacente As e. em es- seu estado em mercadorias pré-elaboradas.. implicações dessa inversão, são profundas e complexas. A nova demanda estrutu- uma delas é superação da até então ral produtiva, traz várias. e centralidade amplas conseqüências e, do elemento quantidade de tempo de trabalho, “O pois: pressuposto desta produção é e continua sendo a magnitude de trabalho empregado como fator decisivo na produção da riqueza”(Marx; 1989: 592) (9). 129 Já hoje e, para os produtores integrados, está claro que não é o tempo de trabalho, mas a nova tecnologia genética e organizacional que potencializa o valor e gera riqueza. A qualidade e a quantidade da produção do integrado basicamente depende do: estado geral da ciência e do progresso da tecnoou da aplicação desta ciência à produção” ( Marx; 1989: 592)(10) e Marx continua dizendo nos Grundrisse: “A agricultura , por exemplo transforma-se em mera aplicação da. ciência que se ocupa da troca material de substâncias, de como- ajustá-la de maneira mais. vantajosa para todo o corpo social”(Marx; 1989:592)(11)›. 66 logia, ' _ O valor já não é mais expresso pela quantidade de trabalho vivo, imediato nal. Isto irnplica e tradicio- na também mudança da base das formas de pagamento, deixando de estar atrelado ao tempo de trabalho despendido, e passando a sua medida para a quali- dade da mercadoria produzida. Significa que os. produtores integrados e demais vendedores de trabalho materializado tem agora a oportunidade de fazerem de seu próprio trabalho a razão de seu sucesso, de seus rendimentos, antesretido com exclusividade nas mãos da categoria patronal. Percebe-se nesta nova situação, uma possibilidade, antes sequer imaginada de o produtor integrado realizar de forma mais universal o seu potencial humano, ao descobrir-se comerciante, ao saber que suas atividades lhe abrem perspectivas de um existir mais pleno. Neste sentido, o pequeno, o micro-empresário, e aqui especialmente o inte- grado, desvinculam-se da subjetividade do- assalariamento. Ele é abandonado» e entregue a si mesmo. Tal qual o parto, é um rompimento mas necessário e único, para continuar ox viver e violento do aconchego seguro uterino, um viver em desenvolvimento, amarras e da redoma uterina. O fim do assalariamento e a possibilidade de libertação, do jogar para fora geworfen werden existir. - livre das i e do assumir-se como homem, como sujeito - hinaus- de suas ações e do seu A proteção excessiva e as amarras protecionistas e determinadas, conduzem ine- xoravelmente à aniquilação, à morte. O discurso retórico de cunho assistencialista induz ao falso humanismo. Sob o véu da redoma de “os coitados”, esconde-se o desprezível fato do não superação. acreditar É de fato no potencial humano. Portanto, sem a violência do parto não há uma forma violenta de dizer que o homem é bom, que ele está 130 pronto que agora é preciso abraçar o_mundo, e, arriscar-se do marasmo protetor da concha e sair a viver plenamente. Assim analisado, o parto é uma violação agressiva e radical. É ele a causa e a conse- um pressuposto e se põe como vida, é a derrocada da obscuridade e o começo para a luz. É simplesmente a divisória entre o limite presidiário e o incomensurável mundo sem fronteiras. O fim da compra/venda, da força de trabalho, é o parto de um homem qüência, é -. sofrido internamente, preso internamente às amarras. da subjetividade Abre-se salarial. uma perspectiva de maior equivalência, posto que agora nas duas extremidades- do mercado, estãoz assentados. proprietários produtores, pela terceirização e pela subcontratação ao invés da anterior situação: proprietário dos meios de produção e vendedor da força de trabalho. Novas relações de cunho ainda contraditório, tendem a se estabelecer. São re- lações antagônicas, concorrenciais e porque não dizer circunstanciais, ainda refletindo o poder de dominação. E, os produtos. mercadorias aparecem valorativas. .lá com outras características não são possuidoras de valor baseado no tempo de trabalho empregado, mas carregam agora algo expressivo humanamente. Carregam exatamente a qualidade do O deslocamento quantitativo para o qualitativo é a forma de valor em desenvolvimento. O homem é produtor não assalariado. homem. Certamente não é ainda a forma sublime de libertação plena do ções do capitalismo, nem ainda a universalização do tempo livre creta possibilidade para o desenvolvimento pleno de atividades tuais, espirituais e campo de do mundo possibilidades, artistico. que nem Mas éi homem das contradi- de trabalho, de nível nem a con- superior, intelec- certamente melhor e gerador de um vasto sequer no imagético era possível no assalariamento obnubilado pelo roubo extensivo do tempo de trabalho ao trabalhador. Daí porque 0 assalariamento deve ser condenado e considerado (Etges, l994:04)(_12), assim como crime contra a humanidade como já o foram a escravidão e a servidão. Passa-se gradativamente de uma sociedade de compra e venda da força de trabalho, para uma sociedade de proprietários produtores, para mercado, como vendedora de trabalho objetivado. uma sociedade que se encontra no 131 Nessa sociedade de proprietários produtores, possibilidade de superação divisa-se um novo homem. Diante da do trabalho assalariado, da necessidade de os produtores integrados serem eficientes, possuidores de um vasto conhecimento no campo tecnológi- homem trabalhador precisa ser mais habilidoso, maior e melhor dominador conceitual e com capacidade abstrativa. Na reorganização das formas produtivas, que também acenam para uma profunda alteração no conteúdo do trabalho, exige-se em co e cientifico, o conseqüência outro nível de qualificação para a sua execução. Numa estrutura solidificada no produtivas sofisticadas, a atividade desenvolvimento da tecnologia científica e de fomtas humana direciona-se para a tomada de decisões no que concerne à regulagem e manutenção de sistemas e mutações da genética da. Isto implica em capacidade criativa, em liderança, posicionamento rápido diante de situações imprevistas em tomada e. de abstração. Significa o gradativo apagar das luzes de combinava recursos materiais, máquinas, músculos..., matéria e o trabalhador era visto como proprietário lho e acéfalo. Necessário se faz hoje a substituição seja, precisa-se Eis o perfil do especializa- de decisões rápidas, portanto' de grande capacidade um modelo de produção que enfim, onde o que importava era a da tão só mercadoria força de trabado operariado- pelo. cognitariado, ou um produtor inteligente, criativo, capaz de conceitos e de abstrações. produtor integrado - um cognítário. Significa o desenvolvimento máximo de da capacidade potencial do homem a ponto de ele mesmo transmutar-se: de capital variável em capital fixo: isto é: a capacidade criadora de seu cérebro, de seu pensamento científico- é tal, que reduz inteiramente o espaço de tempo entre a concepção e a execução tecnológica.. Supera-se a separação entre ciência pura e ciência aplicada”(Etges, 1994: 11)(13). Significa o domínio intelectual do terializar, homem sobre a matéria. Ao pensar, teorizar e ma- poe se concretamente a possibilidade da omnilateralidade. E, é nesse momento que a matéria toma-se solidária, dando ao homem a sua resposta positiva. Nessa ótica, rapidamente estar-se-á saindo da sociedade de proprietários produtores, para entrar-se numa sociedade de decisão, numa sociedade de autonomia - a entscheidungsgesellchafi. 132 v.s SUPERANDQ 1M1›AssEs E Eouívocos -ç Quando a propriedade do usados como campos agricultor, suas instalações, ele trabalhador a sua força de trabalho, envolve-o também de seu ser experimentais de novas variações genéticas tanto animal quanto fica caracterizado o Modelo Toyotista, pelo qual o vegetal, mesmo, passam a saber, amparado em capital cooptativamente, além de extrair do extrai e se apropria anos de prática. Este exercício de experienciar e poder opinar sobre determinada espécie animal ou tipo- de semente, além de- ser um ele- mento de uso de sua capacidade é por outro lado também uma forma de valorização. Sentir-se, nem que dizer, falando a título de reclamação, mas com potencial e oportunidade de das qualidades ou não do material vivo experimentado, é para muitos mo- tivo de orgulho-. uma vez que seja Para outros é motivo de distinção entre integrados e não integrados, os últimos não tem essa oportunidade. Se tecnologicamente e economica- mente o experienciar aparece pouco- significante, a relevância dessa possibilidade está no S fato da auto-valorização que gera entre os integrados. É no Sistema de Integração que o» agricultor, proprietário produtor, encontra as con- dições de melhorar a sua estrutura material, não apenas no beneficio mas também sua entre uma em benfeitorias, estrutura social, material e econômica. Já hoje é notável a distinção propriedade inserida no Sistema de Integração e aquela que está alheia à um melhoramento tecnológico, genético e organizacional. Não apenas nos propriedade aspectos da genética como um todo. Há. e vegetal, mas também no manejo da subsídios materiais e empíricos que permitem esta afir- mativa. Ocorrem melhorias econômicas na propriedade e na lumam necessidades e carecimentos. Por outro lado, se familia, enquanto se avo- ocorrem sensíveis melhorias nos aspectos materiais, o que então dizer da amplitude e dos novos limites de concepção social, politica, religiosa, e de homem, que esta forma produtiva lhe confere. Se por um lado o agricultor fica mais atrelado e controlado, de outro lado ele encontra a possibilidade de tos, de realizar Sum abrir de horizontes, uma possibilidade de ver incluir em um mundo sob outros aspec- sua vida novas categorias, novas modalidades, novas formas de se como homem. São aspectos e argumentos, que não apenas se pretende enxergar, mas eles de fato ocorrem com o produtor integrado como relatados anteriormente. 133 àibaiofééa têélšÇ§Í,,,,¡¡,¿;'¿'š'*' L. Não há dúvida que um novo homem habilidades, diferente está em construção, um homem ~-f--~~1-f-ff*-'z×*1-¬fz.â_. diferente em na produtividade, diferente na competitividade, diferente como ser em suas concepções, diferente em seus argumentos, em sua comunicação, em suas ações, em seu ser, em suas relações com o mundo, com os outros e consigo mesmo, enfim um homem simplesmente diferente, mais senhor de suas decisões e de muito mais decisões a tomar. Um homem mais humano e mais cheio de- vida. Ele percesocial, diferente mudando radicalmente be-se mundo ea espaço. de homem. Precisa si necessita incorporar como sagrado como homem está sendo sa reconstruí-lo, torná-lo de e. O que antes se lhe apresentava Ele sabe que vel. as suas atitudes, os seus valores, os seus conceitos de diferente, novas dimensões de tempo- e de e fixo, agora é efêmero e mutá- reconstruído e a agroindústria sabe que preci- mais produtivo, capacitando-o para a tomada de decisões que mais competitivo, mais senhor em sua propriedade são importantes e necessárias para a empresa, para ele e também para os homens. Pretende-se cias' com isso dizer, que é possível e necessário superar o mundo das aparên- que envolvem e encobrem a integração e o agricultor integrado. Nela, como nas formas anteriores, mas com muito maiores condições concretas, estão postas as possibi- Uma possibilidade de, via descompromisso com a manutenção e com oz velho, estabelecer uma conexão- com um ser homem mais intelectualizado. A atividade do agricultor integrado pode ser um ato revolidades de reverter as relações sociais de dominação. em que nega as condições materiais postas, primeiro na sua primitiva forma de produtor artesanal, familiar, e agora, de romper com as condições sociais de produção capitalista. E, sendo um ato revolucionário, a integração, a condição de lucionário, na medida agricultor integrado, poderá contribuir para colocar indivíduos concretamente soberanos para decidir o que produzir e jeto cia do mercado. Por outro do como produzir, deixando de ser lado, analisar a possibilidade proprietário. integrado, livres e um simples ob- de formação da autoconsciên- à luz do que Hegel expressa como sendo a “luta de vida ou morte”, porque o hoje agricultor integrado deixou de ser “o indivíduo que não arriscou a vida” e ao arriscá-la conquista a possibilidade de ser reconhecido çando: “a verdade desse reconhecimento como (Hegel, 1992:l29)(14). uma como pessoa, alcan- consciência-de-si independente”, 134 Os produtores integrados devem ser os protagonistas de uma luta pela solução de sua situação de exploração e da situação limitante e de exploração de toda a agricultura tradicional. É deles e neles, massa de produtores qualificados de mercadorias que ser gestada mais rapidamente a semente uma casso, dor, como pode da revolução. Deve e será sim, sob pena de como elemento agrega- decisão interior, cujo desenvolvimento funcionará sem dependências consciência e guia da dinâmica de atos e ações sem corporativismos, sem paternalismos. Esta possibilidade que os integrados, ingressem profundamente fra- externas, é imanente e concreta, desde num processo de apreensão dos conheci- mentos presentes e inseridos nos vegetais e nos animais, na organização, nas construções, no técnico, nas entre sie com outros. É pela integração derno. ção. A As mais que o pequeno altas tecnologias agricultor, passa a com um mundo mo- de produção de alimentos estão postos a sua disposi- em sua propriedade através sementes, insumos, divisão das e nas instalações. Ele torna- leitão, suínos, mn trabalhador qualificado, porque conhece, decide, riencia ter contato sofisticação da engenharia genética marca presença do fiango, se nos panfletos, nos cursos, na possibilidade de discutir palestras, opina e sugere, quando se expe- alguma semente, alguma variação genética do fiango, do suíno, de algum me- dicamento, da melhor forma de fazer as instalações. Percebe sua importância, toma :A consciencia do seu potencial produtivo, de sua reivindicação da força e da importância que representa para industrial e ot mercado mundial, do quanto tornou-se indispensável ao agro- aos homens. Sabe que não só ele é dependente, que o mercado mundial também é seu dependente. Isso. coloca o integrado diante de novos desafios, de novas expectativas e diante da possibilidade de opção, de decisão e como conseqüência de caminhada para a libertação. ' Hegel, na Fenomenologia do Espírito, afirma que somente o~ servo tem e encontra as contradições necessárias para o estabelecimento da negação e é capaz de permitir a elevação para a consciência de si pelo entendimento e pela autoconsciência. Tratado e analisado dessa forma, é pela integração que o proprietário produtor, fará a para a liberdade, pois ai passagem encontra a possibilidade de construir-se mais e melhor, perspectiva de ultrapassar o senso comum. Toda a sua vida, terá uma nova numa dinâmica dirigindo as suas ações. Ele será todo movimento, será decisão, será e terá que ser 135 competitivo, qualificado e altamente produtivo. Sentir-se-á mais confiante mo, seu relacionamento com a natureza será em Sabe que precisa submetê-la, diferente. para buscar dentro dela a satisfação de seus infinitos carecimentos. Para Marx, a libertação real do homem, é ato histórico, não acontece, portanto, mais claramente: mes- si ' um processo de relações que culminam num como uma mera ação do pensamento. Dizia ele ~ - “de que não se pode abolir a escravatura sem a máquina a vapor... Nem a servidão sem uma agri- cultura aperfeiçoada -- ea hoje, a exploração capitalista sem o fim do assalariamento e suas diretrizes limitantes implicando na conseqüente erradicação da propriedade privada - de que de modo nenhum se pode libertar os homens enquanto estes não estiverem em condições de adquirir comida, bebida, habitação e vestuário na qualidade e na quantidade perfeitas” (Marx Engels; 1984:25)(l5). & Não se pode negar a existência da opressão, da intervenção bem como o enquadramento do no. Mas ficar nisso é por outro víduo espoliado de mais digna e como assim proprietário produtor humano. Está ai antes. como “escravo” do moder- Não convém, Mas certo é também que não pode lucros de sua produção e de uma vida a importância da busca de formas. e ações que viabilizem e oportunizem a sua congregação seu poder de reivindicação. em princípio, lado condena-lo» a continuar sendo exatamente esse indi- uma maior participação nos ser alienatória em associações para aumentar e fortalecer o e o agricultor sentir-se nem deseja voltar ao- que era pura e simplesmente agindo para os outros e percebendo-se explorado.. É preciso que, continuando tância, reverta em sua atividade, cada vez mais consciente de sua impor- mais beneficios a seu favor, assegurando econômicos para si. um maior volume ganhos Como negociante de mercadorias entenderá mais rapidamente que a tão propalada assimetria entre dois produtores possui cada vez menos saliências, apon- tando para relações cada vez mais simétricas possiveis, possibilitadas- pelas tecnologias, outras formas de organização e inclusive a possibilidade da industrialização priedade. e em sua pro- 136 O “grande” produtor certamente tem que seguir especificações administrativas e téc- A sua margem de lucro cada vez mais estreita de nicas mais rigorosas que o “pequeno”. a 2% impõe disciplina e controle 1% dades não ou mesmo de centrais, rizontaliza a total. A medida que o “grande” se desfaz de ativi- setores inteiros de sua produção, terceirizando-os, ho- produção e consequentemente a distribuição de buscar as soluções dentro daquilo que está posto. po e risco lucros. O contrário implica em perda de tem- de destruição e morte. Necessário é ver o mercado como homem, não o contrário.. É preciso ter claro e reverter um instrumento do os sistemas que só enxergam rentabilidade, legitimando o descarte de velhos, pobres, crianças, se Assim é preciso enfim do povo a quem nega os beneficios da ciência, do conhecimento e da tecnologia. Buscar uma sustentação prática já consagrada ou mesmo processar muito menos de uma enquadramento teórico de há décadas, e mais ver nela uma possibilidade para além da explo- ração pura e simples, certamente não é tarefa to, um fácil aceitação. lmplica fácil e nem um exclusivo ato de divertimen- em proceder uma exaustiva incursão preensão das mais diversas teorias da economia politica, da política social, e com- da sociologia formativa educacional, da epistemologia das formas, que tentaram conhecer e integrali- homem em seu todo. Na busca de elementos e categorias que viabilizarn esse descobrimento» do homem como uma totalidade, certamente serão encontradas as raizes zar o daquilo que possibilitou, estruturou e continua dando sustento e vida própria ao sistema de integração, associação entre o pequeno proprietário rural e o agro-industrial. Convém salientar, reforçando mais uma vez, que a estrutura da integração, aliança proprietário produtor e agroindústria encontra sustentação na própria estrutura tal. do capi- O capital, e as forças produtivas, dele decorrentes, criam novas formas de agir. Estas formas constituem-se no pressuposto, cuja materialização objetiva-se pela integração.. As relações decorrentes e resultantes do entanto a forma como capital via forças produtivas são universais, estas relações se põe, no obedecem ao maior ou menor uso da tecnologia produtiva. Daí se poder afirmar que a integração, proprietário produtor e agroindústria, está em estreita ligação com a estrutura lógica do proprietário produtor integrado, capital. A diferença do do não integrado, reside no maior grau de uso das tec- nologias de produção: engenharia genética, ocupação dos espaços, contração do tempo, maior relação com o mercado e maior potencial humano praticado pelo integrado. 137 O princípio gerador desse desenvolvimento é o Trabalho Humano Abstrato, que se em valor e aqui aparece como puro capital, com capacidade para realizar-se a si mesmo. É essa a lógica inerente- ao capital, que corresponde ao valor er que se realiza, tendo como sujeito do processo o Trabalho Humano Abstrato. É ele um conjunto de relações que põe uma ainda estrutura dependente do capital, mas que, com a possibilidade tecnológica da industrialização, toma concebível o não-emprego. No desenvolvimento mudam as formas no tempo e no espaço, mas permanece a interdependência tanto- entre si quanto com o próprio capital. converte Temos então, como base o Trabalho Humano Abstrato, cujo desenvolvimento de seu conjunto de relações, que se põe no trabalho de produção, universaliza-se, forma de materialização foi aqui denominada de integração. mas cuja O conjunto dessas relações, é permeada pela lógica da evolução tecnológica, evolução do conhecimento, e da expansão das forças produtivas. Sem dúvida estas relações são mediadas pelas forças sociais, antropológicas, politicas, religiosas, etc., também pelo Estado, mas que não foram objeto de análise no presente estudo. Como integrado, o agricultor passa por dução. Ele passa a integralizar Integra um um novo tempo e espaço. OI uma nova produtor integrado, está diante de ciona, por outro lado, anterior. às quais deve estar ajustado. Implica horário de trabalho, a vida, percebe-se diante “de ajustamento ao trabalho e à pro- todo, do qual é parte integrante e imprescindível. uma engrenagem ligada a outras, tamento a um novo estrutura, à novas dimensões de um novo modo uma forma determinada” de num ajus- de produzir a sua suas atividades que lhe propor- um outro mas também “determinado modo de vida”, diferente do A partir da integração eles exprimem uma nova fomia de vida. V.6 - PERSPECTIVAS AÇÃo DE PRODUÇÃO DE NOVAS ESTRUTURAS DE ' A injustiça e a desigualdade, ao assumirem novas formas e novos conteúdos, mexem com o segredo do e impulso para eu, são um abrir ameaças de libertação do novo que no velho encontra sustento de tempo e de espaço ao possível projeto de liberdade. Nesse 138 embate ganha consistência a força da humanização do numa perspectiva de maior universalização homem contra a objetificação, contra a particularidade. Hoje o agricultor, o produtor integrado, já tem consciência de que a veia da exploração representada pelo comerciante, é apenas cado. Ao um elemento tomar-se mais universal, produção familiar e para visivel, mas que existe o elemento invisível: o mer- com maior mobilidade social ao a subsistência, começa a perceber que a sair do arcaísmo da injustiça que o atinge, que a exploração a que é ainda submetido encontra presença na circulação de produtos mercadoria, no seu preço injusto e no valor de troca determinados. pelo- mercado; que ela está presente, versal - em si, ou do valor de uso ao valor de troca ao valor dinheiro - tem algumas condições Uma possibilidade perspectiva, Kant, é materiais que que podem auxiliá-lo .na em potência ato de preguiça “ser menor”. ou até Eé O produtor integrado superação da incômoda situa- lhe pertence, basta extemá-la. Constitui-se ou na utopia. do esclarecimento cômodo “uni- bem como no processo de acumulação de. forma desigual. Esta ainda situação de dominação não pode ser perenizada. ção. seu equivalente na e da libertação descritos por Kant (15). Diz nesta situação que grande parte dos homens, por de covardia, continuam de bom um gosto, menores durante toda a vida. Mas, decidir por sair de sua condição de produtor passivo, hibernante em sua propri- edade cuja estrutura e forma produtiva remontam a um passado inócuo, à semelhança da irracionalidade religião, da divisão dos homens o agricultor rompe em nobres. com esta postura de de produtor artesanal, assentado no imobilismo a fonte e a força motriz do movimento. e não nobres pelo nascimento e_pela inatividade. Ao negar a sua condição familiar, arcaico e jurássico, ele encontra A sua situação de indolência, que se caracteriza por Luna produção para a subsistência que mal e mal lhe asseguram a sobrevivência, é a saída do imobilismo estático e a conseqüente entrada em uma nova forma de atividade, que passa a demonstrar por ações todo o seu potencial. Ao situar-se numa relação imediatez irracional. do puro instinto de interdependência com o agro-industrial, distancia-se da de conservação, de impulsos particulares e do personalismo Assim, a opção pela integração é uma opção para um viver mais universali- zado, para sentir a vida mais plena e palpitante, tirando-o do estado inercial estático de 139 agricultor tradicional enclausurado familiares. na propriedade e confinando sua vida às relações baseada na comodidade e morosidade de suas Esta experiência artesanal, ações, certamente mereceu por parte do agricultor,. hoje integrado, imia estreita atenção quanto ao resultado de sua ação, levando-o a abandonar limitado, pela um opção de um conhecimento aberto A integração é nível a oportunidade de um conhecimento e ilimitado e universal. da certeza/incerteza sair restrito sensível, e adentrar para de percepção, que induz ao novo e ilimitado conhecimento, capaz de levá-lo ao entendimento e a um entendimento da certeza, pela maior racionalidade subjacente» ao processo. O entendimento imediato de irá e o esclarecimento não são no entanto resultado mecânico e uma revolução decisória, ocorrendo a mudança no conceito mas um processo modo de- pensar, e. Neste processo» vagaroso, dolorosamente. É, no seu próprio um processo histórico e pessoal. Ao agricultor importa o conhecimento e o reconhecimento do seu eu potencial oculto. Ele precisa desvendar para como lenta lento. ser humano. bém melhores No reconhecimento si o mistério e os e no acreditar em suas limites Ao tomar visível a sua do seu de seu potencial possibilidades, terá tam- condições de desvendar o lado oculto das relações seus próprios olhos, revelando-lhe aquilo que. ele enxerga invisível, sociais, olhá-las com mas ainda não vê na essência. essência e a das relações sociais, encontra-se mais próxima das condições objetivas e do abrir de possibilidades para o resgate pleno de sua universalização. Uma universalização qual assim se refere: que é para Kant o “uso público” da racionalidade tecnológica à ` ¬ - _ se exige senão liberdade. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que possa chamar liberdade, a saber:›a de fazer uso público de sua razão em todas as questões. uso público da razão deve ser sempre livre...”(Pucc_i; 1995:20)(17). “... Nada mais O Esta Óafirmação implica em dizer que fazer uso público da razão e da racionalidade produtiva não é privilégio de gênero, raça, religião, ou classe, qualquer ser humano pode e precisa usá-la. A ordem estabelecida cerceia a liberdade agricultor caracterizar-se da pela estrutura atingir como um simples capitalista, ele estará uma maior universalização. elo e impõe limites. Enquanto o da terceirização, uma situação submisso a estas determinações Porém no seu e, determina- não terá como potencial de esclarecer-se e de univer- 140 salizar-se está dada a possibilidade da discordância e da subsunção e o postos para construção de novos mundos. Ser toma o um integrado um produtor cidadão do mundo, rompendo abrir dos pressu- mais racional e universal, com as barreiras estreitas e tacanhas de feudos e corporações. Será um pressuposto para que o produtor de frango se una ao produtor de leitão, ao terminador de suínos, ao plantador de cereais, ao consumídor..., com possibilidades uma inclusive de superar as barreiras e os limites de nacionalidade. Será, atitude eminentemente política e prática, um caminho para a autonomia, um cami- nho para a autodeterminação de suas ações. Na racionalidade desta sua nova dinâmica, na superação da passividade, na capacida- de de se tomar produtivo, eficiente e competitivo, ele enseja fomiação de si mesmo. Toma-se mais senhor da pa ativamente da grande mundialização que trabalha, e, situação, capacidade produtiva do uma nova caminhada na da vida e do mundo. mercado, hoje de fase em a sua vida limitada e submissa passa a ser superada, na medida buscando e alcançando a intuição de ser independente. A medida que vai - o fiango, o fiimo, o suíno, 0 material de construção a água, etc. - ele apreende 0 domínio' sobre as coisas, e neste apreender ele se transformando a natureza os medicamentos, em Partici- educa, ele se forma, ele executa um exercício de autocontrole e passa a adquirir contingente de determinadas habilidades que o tornam não só útil um vasto mas, necessário para a sociedade. V.7 - DIALÉTICA DAS ESTRUTURAS DE AÇÃO E, AUTONOMIA O integrado cada vez mais começa a perceber sua importância e superioridade em relação à consciência da dominação. Por outro lado o agro-industrial, toma-se cada vez mais dependente do integrado. Quanto mais terceirizar mais o produto lhe está distante e menos independente será . Para industrializar o produto já não pode mais prescindir do integrado, e pelo terceirizar, perde gradativamente a maestria sobre a matéria prima de seu processo industrial. O- agro-industrial terminados pelo mercado, da atividade exercida. mesmo adquire o- produto do integrado, a preços de- assim este produto é apenas O que no entanto ele não lhe consegue uma expressão tirar é exterior o fato de que pela nova racionalidade imanente a seu trabalho, o integrado produtor, encontra uma buição essencial para educar-se e para tomar consciência de sua importância. contri- Éo prin- 141 cípio do encontrar-se como autoconsciência. limites, A medida que vencer as dificuldades e legados da agricultura tradicional, reconhece que a luta e a apreensão educativa da racionalidade das novas atividades são tuna das formas de chegar à autoconsciëncia, e ao conhecimento de suas potencialidades, vamente. Ou como bem como- à liberdade de realiza-los efeti- o próprio Hegel expressa: “O servo, ao serviço do senhor, vai formando- a sua singular e própria vontade, suprime a imedi~ do e no senhor, dá início à sabedoria, e assim. a~ passagem: para a autoconsciência”(Landucci, :6)(18). atez interna apetite. e, nesta alienação medo para com o ~ O produtor integrado passa a aceitar uma maior disciplina em suas atividades. A racionalidade da disciplina imposta é exigência da própria base tecnológica presente agora em sua propriedade. Os elementos dessa nova disciplina encontram presença na ex- tensão do horário de trabalho, na organização e programação, na necessidade de estar presente, na responsabilidade- de produzir com qualidade e no compromisso social de sua produção. Quanto mais seguir a lógica da racionalidade, exigência e necessidade da tecnologia implantada, maior será a congruência entre ele e a sua produção. A absorção das inovações tecnológicas nos seus processos produtivos facilitam aprendizado mais consistente, transformando-se além da exigência do rompe com as formas agroindustrial. Pela tradicionais nova em atividade disciplina de produção agricola. um auto-formadora, muito em seu trabalho, o integrado A presença da nova tecnologia produtiva e organizacional tem a capacidade de transfomiar o mundo, não mais baseado na obsoleta imposição de trabalho manual ao produtor agrícola, que destroi a ecologia e além disso é incapaz de resolver os problemas da alimentação humana. A eficiência e a presença efetiva das modernas engenharias genéticas, presentes no seu novo espaço produtivo serão o viés da transformação/criação de seu micro-mundo e si mesmo do- tempo. ao transforma-lo/criá-lo, transforma-se e cria-se a gra-se ao próprio desafio da ciência: or domínio diferente. Seu desafio. A inserção inte- das inovações, conquistas da ciência, diminuem as horas de serviço direto e tradicional, permitindo-lhe mais tempo de gerencimento, de aprendizagem e de uma demonstração lazer. de que a natureza, a matéria, está mais Seu produto é cada vez mais solidária. Isso fará com que 142 o integrado esteja cada vez mais inserido no seu processo de produção, e o seu produto será cada vez mais a manifestação suprema de sua exteriorização. Quanto mais planejado e controlado for a sua produção, mais o integrado poderá reconhecer-se no seu produto, o que significa dizer que estes produtos deixam de ser coisas mortas funcionando como elos de ligação entre outros homens. seu trabalho pensado, racional e técnico e portanto integramo seu próprio ser. No com São frutos de que ingredientes e elementos outro lado da mesa do mercado comprador da mercado- com trabalho objetivado, está o agro-industrial que também não mais recebe- um produto morto, mas recebe uma matéria, umamercadoria que é fruto do trabalho do ria produtor integrado . Um produto que carrega consigo o selo, conquista da racionalidade desenvolvida pelo integrado, seu produtor. Sentindo a presença concreta do integrado muito maior do que o dinamismo de seu exímio trabalho, nos produtos que adquire, o agroindustrial se percebe não independente e soberano, industrial, próprio ao mas dependente do saber-,se inserido um elo integrado e da ação por ele executada. numa relação de interdependência, rápido estado de obsoletização. integrando e sendo ele uma estrutura hierárquica, já em A medida que o grau de interdependência se tomar mais consistente, integrados e agroindústria estarão mais próximos, É no agro- da grande rede produtora de alimentos para a humanidade, será gradati- vamente- forçado a quebrar a sua posição no interior de metidos O interligados e compro- com a eficiência e a efetiva qualidade de sua produção. caminho da superação das velhas e ,arcaicas estruturas de produção que o integrado conquista um maior grau de liberdade. Quanto mais tradicional, sentir-se importante e necessário na grande rede produtiva de alimentos, mais valor se atribui, mais se conhe- ce e realiza as próprias potencialidades. mesmo, de integrar agroindústria, ar A possibilidade de se tornar mais senhor de si uma rede juntamente com seus colegas toma-o capaz de da própria produção constituir a rede industrial ou com a integrados, e também com a de sua autonomia, já entrando no limi- participação nos lucros da agroindústria. capacidade desse desenvolvimento, certamente regado de angústias e incertezas, traz seu interior a grande certeza de que o fato de ter decidido abandonar tradicional limitado às concessões naturais A em uma produção da matéria e, diante das novas relações com o 143 mundo, hoje intermediadas pela É o desafio de arriscar a própria vida de ções de liberdade. samente e trato. com o dinamismo da põe novas e efetivas condi- correr o risco de viver inten- inteligência proporcionado pelo Trabalho Humano Abs- O simples fato de colocar a vida em risco, de sair do estado letárgico, confinado trabalho manual e imediato, 1992:128)(19). já é uma certeza da 'conquista da Ou quando Marx expressa que a racionalidade de só pode ser alcançada se cial. ciência e pela tecnologia, uma ordem inovadora reger o do- ao liberdade, (Hegelg homem e da socieda- princípio de organização so- Este princípio está exposto, é preciso agilizar a sua consecução; Etges, captou este ' princípio gerador: “Temos humano - certeza que o dinamismo do trabalho abstrato, no interior de cada ação “produtiva” dos homens e das mulheres de hoje fará crescer a ciência e a tecnologia em ritmos cada vez mais acelerados; temos certeza que esse crescimento se acelera ainda mais pela pressão das carências cada vez mais. elevadas da maioria das pessoas, que, como nós, não estão envolvidos diretamente nos processos produtivos imediatos. Temos a certeza de que, embora a forma capital, que reveste e impregna esta tecnologia, com sua lógica e como tal tende a transformar toda a vida do trabalhador e-,z por indução, todas as nossas vidas em tempo de trabalho, esta mesma forma acelera, pela exigência de maior produtividade em todos os níveis e em todas as áreas da vida humasubsna, a diminuição do tempo de trabalho. tância social da riqueza efetiva será, não o tempo de trabalho, mas or tempo disponivel, o tempo de não-trabalho.”(Etges; 1994:13)(20) A Nessa ótica o= trabalho será a expressão da universalidade da satisfação» de to- das as potencialidades do indivíduo, segundo seus carecimentos. Na angústia da tomada da grande decisão :. integrar ou não, o agricultor se dissolve, treme nas suas certezas mais profimdas e tudo o que já era considerado fixo, se abala e se toma efêmero na agora condição de produtor integrado. Sentindo-se flexível e cada vez mais flexível, percebe-se disposto a mutações profundas e neste amplo campo de num impressionante mundo de oportunidades, de desafios e de liberdade. Percebe-se com perspectivas e possibilidades concretas de amnentar o controle sobre sua vida e sente-se cada vez mais em condições de decidir. O' grau de indeterminações projeta-se 144 autonomia está em fase de construção e quanto mais o integrado regular-se por idéias e condutas próprias maior será o seu poder individual e global enquanto categoria. A saída um caminho do imobílismo da agricultura tradicional, oportuniza ao produtor integrado para a liberdade, transforma-o interiormente, tornando-o outro mo. Ao educar-se para a autoconsciencia on mo, porque põe consciência de em jogo si ele passa a ser a sua vida e por isso mesmo terá cada vez mais independente e autônoma. pela vida, o produtor integrado-, -submerge ativamente. na ~ ea a partir da negaçao da sua consciencia nhece o quanto a vida uma autoprodução lhe é essencial. Quanto- aceitar buscado anterior, evanescente si mes- de si mes- reconhecimento- de ou Ao em uma o expandir-se na e alcance, da verdade, mas suprassumida e reco- mais abalados e estremecidos forem os .A conteúdos da sua consciencia natural anterior, mais ele deixará de ser determinado, mais se distanciará da habilidade de dominar apenas. determinada coisa, e- mais será capaz de expandir toda a sua potencialidade na direção do domínio do universal e na penetração da essência objetiva em toda a sua totalidade. Esta penetração, conquista. domínio do universal, assemelha-se à história da dominação de uma classe, 'e pela qual: “cada nova classe que substituíra outra que a precedera na dominação era obrigada, meramente para realizar sua meta, as representar seu interesse como interesse comum de todos os membros da sociedade... Ela dará às suas idéias a forma da universalidade e haverá de representá-las como as únicas idéias racionais» universalmente válidas” (Hegel; 1997: 128) (21) V.8 - O TRABALHO HUMANO ABSTRATO PÕE. O SUJEITO- COM TEMPO LIVRE . Quanto mais avança o integrado na sua construção como universal, para homem intelectual além do material e do empírico, mais avançará a sociedade, mais farão a ligação à abstração, mais irão desenvolver conceitos. vão assumindo formas universais, acabando que já não encontram sustento para ou com e- idéias e ele/ela que gradativamente estruturas e organizações obsoletas seu fimcionamento. Os abalos nos seus fundamen- tos anteriores, não ocorrem tanto por uma imposição, mas pelo nova dinâmica e na dinâmica de uma nova realidade. fato de penetrar numa 145 Está destinado ao homem o da servidão, da falsidade da aparênciae da libertar-se experiência sensível, e penetrar no reino da essência, no reino das atividades superiores do entendimento, esclarecer-se sobre as suas possibilidades. Kant, respondendo à questão: Vivemos agora em uma época esclarecida? nos responde: “Não, vivemos em uma época de esclarecimento... Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo no qual podem lançar-se livremente a trabalhar e tomarem progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento geral...” (Puccig 1995:22)(22). V A tecnologia que chegou ao campo em grande parte vinculada à integração, acena como a possibilidade maior de melhor compreensão do homem e do mundo, apoiado na ciência. A penetração no reino da essência do entendimento do cientifico constitui-se como o pressuposto» e a prerrogativa para o não des superiores só é viabilizada a partir do de trabalho, transformando-o citando Marx - Grundrisse - em tempo trabalho. A prática universal de ativida- momento em que o homem dominar o tempo disponível em tempo livre. Norberto Etges, confirma a presença destes pressupostos: “O roubo de tempo de trabalho alheio, sobre o qual se funda a riqueza atual, aparece como uma base miserável- comparado com este fundamento,. recém desenvolvido, criado pela própria grande indústria. Logo que o trabalho deixa, e tem que deixar, de ser sua medida e portanto valor de trotraca deixa de ser a medida do valor de uso.. balho excedente da massa deixou de ser a condição para o desenvolvimento da riqueza social, assim como o não-trabalho de uns poucos deixou de sê-lo para o desenvolvimento dos poderes gerais O intelecto humano. Com isto se desprende a produção fundada no valor de troca, se libera o processo de produção da forma de necessidade angustiante» e o antagonismo. Desenvolvimento livre das individualidades, e por aí, não redução do tempo de trabalho» com o fim de pôr sobretrabalho, mas em geral redução do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, ao qual corresponde então a formação da vida artística, científica, etc., dos indivíduos graças ao tempo» que se tomou livre e aos meios criados para todos” do (Etges; 1994:10)(23). Só assim, o produtor integrado - homem, ar sujeito do mundo e de apreendê-lo, transforma-lo dade por meio de -, terá a possibilidade de se apropri- em um mundo uma prática autoconsciente, seu, pelo domínio da reali-- destruindo a objetividade morta e pas- 146 sando a reconhecer o mundo não mais como algo hostil e falso, mas algo com vida sendo fonte de Vida. Pelo atingir da autoconsciência, o agricultor produtor sujeito -, estará no caminho da verdade do seu próprio mundo. - e homem A autoconsciência o desperta e a partir daí ele deseja as coisas da natureza, quer delas dispor, apropriar-se e usá-las na satisfação de seus carecimentos. 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARX, Karl. O Capital, crítica da economia política. 1) ETGES, J. Norberto. Trabalho CED/UFRGS, l8(1), 1993, pág. 13. São Paulo: 3) KERN, 4) GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. São Paulo: 5) TOFFLER, The S. culture of time Alvin. 97 e 93. e conhecimento. In: Educação- e Realidade, Porto Alegre: 2) Pau1o:1993, p. 245. Difel, 1985, p. and space, 1983. In: FA- Condição pós-modema de David Harvey. São Martins Fontes, 1989, O choque do futuro. Rio de Janeiro: Record, p. 51. 1970, p. 40. 6) Note o preço de compra de 1 kg de fi'ango por R$0,99, conforme a Revista Isto É n°1 1374- de 31.0196, pág. 20/23. Sendo que o frango é produzido com tecnologia e de forma sistemática, contra o kg de peixe de R 3,50 a 10,00, produzido naturalmente.. R 7)' Citado por Norberto nópolis: J. Etges, em Mimeo. CED/UFSC, 1994, Sociedade do trabalho sem trabalho, desemprego estrutural. Floria- p, 07. 8) Citado por Norberto J. Etges, em Sociedade nópolis: Mirneo. CED/UFSC, 1994, p. 09. do trabalho sem trabalho, desemprego estrutural. Floria- 9) MARX, Karl. Elementos ftmdamentales para la critica de la economia política (Grundrisse) Argentina: Siglo Veintiuno, 1989, p. 592. 10) Citado por Norberto J. Etges, em Sociedade nópolis: Mimeo. CED/UF SC, 1994, p. 09. 11) do trabalho» sem trabalho, desemprego MARX, Karl. Elementos fundamentales para la critica de la. economia politica (Grundrisse). tina: Siglo Veintiuno, 1989, p. 592. 12) ETGES,. J. Norberto. Sociedade do trabalho sem. Mimeo. CED/UFSC, 1994, p. 04. 13) estrutural. Floria- ETGES, J. Norberto. Sociedade do trabalho Mimeo. CED/UFSC, 1994, sem Argen- trabalho, desemprego estrutural. Florianópolis: trabalho, desemprego estrutural. Florianópolis: p. ll. 14) I-IEGEL, G.W.F. Fenomenologia doespirito.Petrópolis, RJ: Vozes, 1992, p. 129; 15) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Ideologia lemã.São Paulo: Moraes, 16) KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: 1979. O que é iluminismo? 17) Citado por PUCCI, Bruno. Teoria crítica e educação. Frankfurt.Pet.rópolis,RJ: Vozes, 1995, p. 20. Os Pensadores. São Paulo: Cultural. ' A questão da formação cultural na escola de A 18) LANDUCCI, 19) HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do espírito.Petrópolis, RJ: 20) ETGES, Assmann. 1984, p. 25. Sérgio. Figura do “Servo”. Excertos escolhidos e traduzidos por Dr. Selvino Florianópolis: CED/UF SC, 1992, p. 06. Norberto. Sociedade do trabalho meo. CED/UFSC, 1994, 21) Hegel. G.W.F. sem trabalho, Vozes, 1992, p. 128. desemprego p. 19. Os Pensadores. São Paulo: J. Cultural, 1979, p.128. estrutural. Florianópolis: Mi- 148 22) Citado por PUCCI, Bruno. Teoria critica e educação. Frankfurt. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, p. 22. 23) ETGES, Norberto. Sociedade do trabalho meo. CED/UFSC, 1994, p. 10. sem A questão da formação cultural na escola de trabalho, desemprego estrutural. Florianópolis: Mi- CONCLUSÃO Apesar de a integração ser parada na exploração, é mercadorias ses '-_ uma relação não uma relação amistosa, por ainda encontrar-se entre indivíduos livres - ambos são produtores de que, ao buscarem a satisfação de seus próprios interesses, realizam interes- comuns. Tanto produtor integrado, quanto agroindustrial são dade não significa igualdade, pois com interesses Um, rias. am- eles são diferentes, antagônícos, apesar de se situarem livres, mas esta liber- pertencem à classes diferentes e ambos como produtores de mercado- é ainda dominante detentor da tecnologia, e outro é ainda dominado, por ser um produtor limitado e não deter a totalidade do- processo produtivo. Mesmo assim uma das conseqüências normais de o integrado usar e pretender usar as novas tecnologias dos instrumentos, das instalações, novas tecnologias no trato e a própria tecnologia da en- genharia genética, é o poder contribuir para a reprodução, reinvestimento e continuidade das pesquisas tecnológicas no setor de produção de alimentos.. novas tecnologias é uma atitude intencional, de utilizar-se das no entanto a sua contribuição para o apro- fundamento da pesquisa tecnológica ainda não 0 um assalariado O fato é. O produtor integrado não se toma da agroindústria, mesmo que na balança da relação, a inclinação penda para a agroindústria. Existem como vimos- determinações, limites. e obrigações a serem cumpridas por ambas as partes. Estas obrigações apesar de penderem numa maior intensidade sobre o integrado, não lhe tiram. a condição industrial com uma divisão social lho põe em mercadoria a ser negociada. do trabalho ao qual Marx se Um comparecimento que caracteriza a referiu dizendo: “A divisão social do traba- contato produtores independentes que só reconhecem a autoridade da concorrência” 9 (Marx nível de comparecer diante do agro- de globalização. O Capital, p.: 408), concorrência hoje exercida pelo mercado em O integrado não pretende vender a sua força de trabalho. A rela, ção caracteriza-se como uma relação entre dois produtores de mercadorias. Certamente o produtor integrado, via interferência da agroindústria que deslocamento de para produzir modemas viabiliza o técnicas produtivas e alta tecnologia genética, qualifica-se um produto padronizado ciamento e toma a competição e de melhor qualidade. Fato que gera com os agricultores não integrados desigual. um distanNo entanto para os produtores integrados, a integração é sinal e sinônimo de segurança. Segurança quanto a venda do produto, quanto ao fomecimento da ração, medicação, assistência 150 técnica e grande certeza de estar inserido nos modernos moldes da produção Está claro para os integrados que a diversificação da produção é uma agrícola. garantia de pre- venção contra intempéries como; secas, geadas, granizo, chuvas torrenciais e também contra a instabilidade do mercado de grãos e- preços dos produtos agrícolas. consciência de que a integração caracteriza-se que estavam submetidos anteriormente, qual como uma seja Tem plena continuidade do processo a a dependência do comerciante. Sabem que a maior força sustentadora da integração não é o contrato formal estabelecido agroindústria, nem são as não possuírem o» capital dívidas contraídas- junto ao sistema financeiroz, de giro necessário e suficientepara na atual sozinhos adquirirem as bases materiais, as. bases. científicas e duzir qualitativamente e quantitativamente a matéria prima No de política agrícola, de conhecimento para pro- com a qual se integrou. como mais homem. É a oportunidade que já em Hegel ficou estabelecida, ou de que a servidão é a intermediação para a liberdade e para a universalização do homem. A partir disso» é lícito crer que todas as dimensões de dominação. que permeiam o sistema de integração trazem dentro de própria superação. irá fato- oz entanto o grande mérito da integração está na sua abrangência de construir o agricultor seja com a sucumbir sobre Quando todos os si mesma. si, as reais e concretas possibilidades de sua estágios da integração tiverem sido- esgotados, ela A plena realização dessa atividade capitalista, as formas capitalistas de produção, asseguram a não mais dependência do e de todas homem do ea não mais dependência do trabalho do homem. Criam-se as condições objetivas, reais e concretas de o homem tornar-se livre e ingressar no mundo do não trabalho. trabalho- A evolução possibilitada pelo desenvolvimento- das formas produtivas do capitalismo, a sua plena exaustão e esgotamento, permitem o conceber desenvolver o que já se tomou conceito e se delineia e, agora mais do que como uma nova isso, de sociedade, a soci- edade de homens livres e universais. Está amplamente difundido 0 conceito de que o homens forem livres e existirem como homem só será livre, se todos os seres universais. Para os integrados esta é proposição que parece exceder a imaginação mais alucinada. Mas, a produção da existência do homem ultrapassar no- uma momento em que os limites do próprio homem, ou seja de não mais depender de seu esforço fisico e mental, de suas habilidades e de suas vontades, abre-se o espaço e estarão produzidas as condições objetivas de liberdade do ho- 151 mem como ser universal. Realizar em plenitude o conceito de homem é pressupor a sua construção para além do empírico. e sensível é buscá-lo realizado na sua universalidade. Prescindindo do imediato e do concreto, e, cada vez mais do empírico, abstraído criam-se as condições objetivas, pressupostas de todo o desenvolvimento intelectual de homem. Destroem-se as condições concebidas a partir dos instrumentos de dominação, a partir da forma de trabalho jetivas Construindo-se e construindo as condições ob- capitalista. de sua produção, independentes dele - homem - postos e concretizáveis na má- quina automática, materializa-se a condição de liberdade- e universalidade. A expansão da capacidade de criação mental, intelectual máquina automática viabiliza uma nova proposta/ação de o máquina executar. A inimaginável possibilidade concreta, pois o liberdade e nalidade, tato homem pensar livremente e a do homem, toma-se intelectualmente. Põe-se as con- humana dentro e a partir de novos parâme- firmados e acorrentados à forma de trabalho com novos a sua materialização na universalização homem idealiza e produz dições concretas de produção da existência tros daqueles e» capitalista. Uma nova racio- aspectos, novos carecimentos, novas normas, outros tipos de con- a serem estabelecidos, agora entre indivíduos livres e universais. Já hoje a infor- mática e a multimidia estão tomando imediatamente transparentes e universais as in- formações, o conhecimento e as idéias. São condições concretas e materiais de desenvolver toda a potencialidade de homem, que jazem inertes, realizem na sua plenitude. Estas condições condizem cimento, que é ser livre e universal. realista com a O desenvolvimento do que está posto porque é esta a. realidade permitindo que aflorem e e- livre se própria natureza do conhe- da subjetividade é uma ação não fazemos parte de outra. É a saída da sociedade de massas, para a sociedade de indivíduos livremente associados. Todo esse conjunto de transformações aproximam o integrado de uma inovadora estrutura de vida e estrutura social a ponto de ele perceber a e nas relações sociais e de produção. queda da verticalidade das Começa a entender ea se integrar na nova estrutura de redes, as formas horizontais de contato, de produção e de distribuição, tanto da produção material quanto da produção momento em que o produtor intelectual, -_ do conhecimento e da ciência. No integrado assume plenamente a concepção das metas e o domínio sobre a genética animal e vegetal, estarão dadas as reais e concretas dades de opção no o que produzir e como produzir, para além do subjetivismo possibili- do agro- 152 industrial. Sua fonte de dependência será ainda o mercado, pois não tem produzir para o não consumo. Tudo isto está sentido algum sendo proporcionado, e aos poucos o tegrado terá a sua disposição, pela materialização da informatização, que já rompeu as barreiras com do tempo e do espaço, tomando presentes e transparentes, aqui e agora os acontecimentos, os conhecimentos, a criação científica. da preso a in- tarefas rotineiras, será e terá O produtor integrado, hoje ain- dado uma enorme contribuição para a afirma- ção da sociedade do não trabalho, da sociedade da produção intelectual, da sociedade da produção universal dos homens como te de si, o HOMENS. Tendo todos esses pressupostos integrado não propõe neste momento a extinção da integração, pois muito bem sabe que numa econornia a caminho da .globalização se agir de forma isolada. O dian- as suas chances são reduzidas que almeja é o aumento do poder de barganha junto à agroindústria. O produtor integrado ao sentir-se e mostrar-se capaz de produzir dentro das novas. condições tecnológicas e organizacionais, ao mostrar a sua capacidade de agir de outro modo e de forma mais racional externa o seu potencial de intervenção no mundo. As conseqüências tem efeito imediato: ele influencia todo o processo produtivo, o estado específico das instalações, da organização da produção, do consumo, da economia, do- mercado como um todo. Ele passa a exibir no seu novo cotidiano, enfim um novo fluxo de uma nova e enorme gama de poderes causais. As ações mais dinâmicas e mais racionais expõe o potencial da capacidade do produtor integrado em criar uma diferença vida, em relação ao estado inócuo da produção artesanal ou ainda sobre o tória que talvez se apresenta como preestabelecida. O produtor integrado necessita acelerar à caminhada curso de uma traje- - rumo a apropriação coletiva dos meios e das bases científicas e tecnológicas de sua produção. Somente uma colabo- ração voluntária e efetiva pode erradicar a divisão hierárquica entre o conceber e cutar. Apropriar-se coletivamente das técnicas, da ciência incorporada na o- exe- instalação, na organização, no segredo da fórmula da ração, na medicação e na. genética das sementes, das linhagens do frango e das espécies de suínos, terão para eles o significado da re- num fórum de poder em comum, transfonnando os integrados em pesquisadores e não apenas em experimentadores. No entanapropriação coletiva, podendo transfomiar-se to resta ainda outra questao pertinente que precisa ser colocada: Apreendido sistemati- 153 camente todos os segredos do “oficio” de da genética da produção, da capitalista e criar suínos e frangos, industrialização, o segredo laboratorial o segredo da lógica da industrialização dos mecanismos do consumo, não são no entanto suficientes se em paralelo não lhe for permitido o acesso ao segredo ou a arte da estrutura financeira, ou nao lhe permite a estrutura e a solidez financeira e eles, seja, isto ficarao íneptos e estáticos, capazes de poder estabelecer-se por conta própria. in- ~ Uma das saidas é partir para a industrialização da produção com 0 estabelecimento de um novo código de ética, de novas normas. de higiene, de qualidades. orgânicas do produto, que extrapolam os interesses da racionalidade capitalista. Esta será regida por uma nova rede de integrados: novo código ético, será por uma rede. de integração de proprietários produtores. eles construído, na busca de saidas a serem encontradas ne~ lesmesmos, como opção de entrada na produção edade. O industrial dentro de sua própria propri- É este um dos elementos que tomará viável a sociedade de decisões. BIBLIOGRAFIA g 01) ANDERSON, Perry. 02) ANTUNES, Ricardo. A rebeldia do trabalho, o confronto O3) ARENDT, Hannah. A condição humana. 04) ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 9 liense, 1989. as greves Considerações sobre o Marxismo Ocidental. São Paulo: Brasi de 1978/80. São Paulo: Unicamp, 1992. operário no ABC Paulista: Rio de Janeiro: Forense, 1993. . São Paulo: Perspectiva, 1992. _ 05) BERMANN, Marshall. Tudo 0 que. é. sólido» nhia das Letras, 1986. desmancha noz ar.. São Paulo: Compaz ' 06) BLACKBURN, Robin. (Organ.)~ Depois. da queda: fiacasso do comunismo. e o fiitu 07) BRAVERMAN, ro do socialismo. 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