Crise e crítica: forma e modernidade
Carolina Anglada de Rezende1
Resumo: O discurso da crise, decorrente de transformações do verso e do uso da
linguagem no fim do século XIX, tem como alicerce teórico o ensaio “Crise de vers”,
publicado à altura por Mallarmé, e cujo teor programático acaba por fundar o que
viriam a ser os paradigmas da modernidade artística – e porque não, da arte
contemporânea. O objetivo do presente artigo se dá no sentido de problematizar a
postura crítica convocada por esse cenário, e associar a inflexão do aspecto formal
de cada obra, seja ela de imagem ou de palavra, como resultado da intricada e tensa
relação entre crise e crítica.
Palavras-chave: Crise e crítica. Crise de verso. Paradoxo da forma. Modernidade.
Abstract: The discourse of crisis, resulting from the transformation of the verse
and the use of language in the late nineteenth century, has as its theoretical
foundation the esse "Crisis of verse", published at that time by Mallarmé, and
whose program tenor turns out to found what would become the paradigms of
artistic modernity - and why not, the contemporary art. The purpose of this article
is given to discuss the critical stance convened for this scenario, and associate the
inflection of the formal aspect of each work, whether image or word as a result of
the intricate and tense relationship between crisis and critique.
Keywords: Crisis and criticism. Crises of verse. Paradox of form. Modernity.
Resumen: El discurso de la crisis, como resultado de la transformación del verso y
del uso del lenguaje a finales del siglo XIX, tiene como fundamento teórico el
ensayo "Crisis de verso", publicado entonces por Mallarmé, cuyo contenido
programático de estudios resulta de establecer cuáles fueron los ser los paradigmas
de la modernidad artística - y por qué no, de la arte contemporánea. El propósito de
este artículo se da con el fin de discutir la postura crítica convocada para este
escenario, y asociar la inflexión del aspecto formal de cada trabajo, ya sea imagen o
palabra, como resultado de la relación compleja y tensa entre la crisis y la crítica.
Palabras-clave: Crisis y crítica. Crisis de verso. Paradoja de la forma. Modernidad.
1
Doutoranda em Literaturas Modernas e Contemporâneas, do programa de Pós-Graduação em
Letras — Estudos Literários —, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
Discurso da crise
Quando nos últimos anos do século XIX, Mallarmé publicou,
depois de longos dez anos de escrita, o ensaio intitulado “Crise de
versos”, estava, ao mesmo tempo, realizando um diagnóstico e
prescrevendo a cláusula que se tornaria condição da arte moderna e
contemporânea, a ser flexionada, singularmente, em cada obra, por
cada artista. Como responder à estreita e intricada relação entre crise e
crítica? Crise como modo de entender o tempo moderno porque o
fundamenta, e crítica como o posicionamento diferenciado que a arte –
e o artista – são chamados a assumir a partir daquele contexto.
A princípio, a crise de que trata Mallarmé é observada no
processo
de
abandono
dos
versos
tradicionais
na
poesia,
principalmente o alexandrino, de suas doze sílabas poéticas e,
consequentemente, de
seus
modos
de
composição
e
leitura,
metonimicamente exemplificado pela obra de Victor Hugo. Ao invés de
constatar o fim da poesia, de escrever-lhe o epitáfio, Mallarmé promove
uma abertura para pensar o movimento que se vale, justamente, desse
abandono do alexandrino: o do verso livre, considerado por muitos, à
altura, como “polimorfo”, pois resultava da dissoluç~o da métrica. Crise
esta, até aqui, puramente formal. Isto é, tratava-se de um problema de
forma. Mas crise feliz, poderíamos ainda afirmar, quando o que se
avista na mudança é “uma alta liberdade de aquisiç~o” (MALLARMÉ,
2010, p. 161). O poeta-crítico defende essa conquista como ampliação de
um direito democrático de expressão, portanto, individual e subjetivo:
“Para mim jorra tarde uma condição verdadeira ou a possibilidade de se
96
Carolina Anglada de Rezende
exprimir n~o somente, mas de se modular, a seu grado” (MALLARMÉ,
2010, p. 161).
A individualidade, prevista neste trecho e adquirida com a
democracia do verso livre, dialoga com o sentido de separação e
escolha, se retomarmos o sentido etimológico do termo crise: krisis, em
grego, significa "separação" e deriva do verbo krinein, "separar, escolher,
reparar, julgar, acusar". Do sentido original de "separação" veio
"julgamento", e daí "luta, litígio, processo". Assim entendemos os
derivados kritêrion como "faculdade de julgar, critério" e kritikos como
aquele que é "capaz de julgar, crítico". Desocupar-se do alexandrino
significou ocupar-se senão com a forma, que passou a manter certa
correspondência com o material poético (seja para estabelecer uma
relação de equivalência ou de contraste entre forma e conteúdo).
Digamos que a forma passou a ser, então, escolha do poema, isto é,
absolutamente indeterminável senão no momento de sua criação, na
marca da crise gerada pela singularidade em conflito com a totalidade
desse singular.
Mas essa passagem entre a forma fixa e o verso livre preocupou, à
altura, sobre a (im)possível (in)distinção que se faria, dali em diante,
entre a escrita prosaica – dos meios de comunicação, principalmente –
e a escrita poética, já que agora não era mais o verso fixo que o diferia.
A situação de crise, nesse sentido, culmina em um desejo de crítica, isto
é, de separaç~o, como o próprio poeta e crítico escreve: “Um desejo
inegável em meu tempo é de separar como em vista de atribuições
diferentes o duplo estado da fala, bruto ou imediato aqui, l| essencial”
(MALLARMÉ, 2010, p. 166). Os dois estados da fala abordados por
Mallarmé dizem respeito à distinção entre o estado da linguagem da
fala, “bruto ou imediato” e a linguagem poética, “essencial”, que se
97
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
torna imprecisa a partir do avanço do verso livre, mas indispensável. O
que particulariza a poesia diante, por exemplo, da multiplicação da
prosa poética, da interpenetração dos gêneros, da dissolução das
fronteiras – processo esse intensificado a partir do século XIX? Qual
seria o seu experimento linguístico, ausente na massificação da
linguagem cotidiana?
Identificamos, assim, que nos primórdios da reflexão sobre a crise
– social, artística e de pensamento – está uma desconfiança da própria
linguagem, ao mesmo tempo em que, é no moderno que toda a forma e
a força do poder traduzem-se em discurso, ou seja, em linguagem. Se
situarmos o desdobramento desse discurso crítico na emancipação de
um modelo moderno – social, artístico e de pensamento, novamente –
podemos, então, atrelar crise, modernidade e linguagem2.
O pesquisador brasileiro Marcos Siscar parte precisamente do
ensaio de Mallarmé para realizar um denso estudo sobre as relações
entre crise, crítica e modernidade, cujo resultado encontra-se na
potente obra Poesia e crise. Siscar retorna a Baudelaire para evidenciar
traços de uma profecia do fim do mundo em associação com o motivo
da queda, a Verlaine para identificar o sentido da maldição e ao poeta
2
Bruno Latour, pensador da contemporaneidade, em sua célebre obra Jamais fomos modernos,
intitula o primeiro capítulo, curiosamente, de “Crise”. Crise manifesta, inclusive, na ausência de
categorias transdisciplinares que abarcassem os estudos realizados por ele e seus companheiro.
Em suma, trata-se de um grupo de estudiosos das ciências, ou seja, de pesquisadores que
desejam reatar o “nó górdio” entre “conhecimentos exatos e o exercício de poder”, tomando como
exemplo os “híbridos”, as manifestações da “natureza-cultura”. Vale resumir, aqui, um dos dois
principais mecanismos em atuação do moderno, denominado de purificação, ao qual cabe criar
zonas de ontologia essencialmente distintas, separando, assim, humanos de não-humanos. É
interessante que Latour denomina esse segundo processo de crítica. O que a princípio
assemelha-se ao paradoxo, pois o outro mecanismo, de tradução, age na mistura de gêneros
distintos gerando seres híbridos de natureza e cultura, revela-se potente como construto de uma
mesma maquinação moderna. Se continuarmos a considerar essas práticas separadamente,
continuaremos a ser modernos. No entanto, se levantarmos as hipóteses de operação contínua e
conjunta, estaremos nos aproximando de um entendimento sobre a constituição moderna. A crise
da crítica está em separar o mundo natural, preexistente a nós, de uma sociedade com jogos de
interesse e poder, e ainda de uma terceira instância: a do discurso independente, distanciado da
referência e da sociedade.
98
Carolina Anglada de Rezende
contemporâneo Michel Deguy para confirmar a permanência desses
variados discursos da crise no tempo presente, assim como entre outros
escritores, retomados ao longo de todo o texto, como Paul Valéry,
Haroldo de Campos e João Cabral de Melo Neto. O fundamental,
portanto, é perceber, por meio de Siscar, como a crise constitui um
topos a partir da modernidade, isto é, um certo modo de atender ao
real, que ganha dimensão sui generis na poesia e acaba por fundar a seu
estatuto moderno.
Importante ressaltar como o pensamento da poesia em relação à
crise não se restringe ao desuso de determinado estilo ou modo, porque,
de certa forma, do tempo de Mallarmé em diante, ele passa a gerar
outros sentidos, como, por exemplo, a da baixa publicação, vendagem e
importância no mercado editorial. Como Siscar propõe, ponderar a
respeito das relações entre crise, poesia e crítica é também considerar,
necessariamente, a comunidade, o povo e a política. A comunidade
literária se torna uma comunidade crítica, cuja ocupação é, entre
outras, delimitar um lugar para esse discurso de crise e resguardar esse
lugar privilegiado para o pensamento.
Assim, se concordamos que o discurso poético está em crise,
dentro e fora de sua comunidade, é porque ele continua em crise
(condição), sendo também um discurso da crise (objeto) e um discurso
crítico (destinação), como o pensador brasileiro conclui. Siscar
aproxima o “crise de vers” do “crise de nerfs” (ataque de nervos) para
evidenciar “uma irritaç~o do verso, dentro do verso, e a propósito dele”
(SISCAR, 2010, p. 107), que está previsto no título do ensaio. A escolha
pela preposição de ao invés de do aponta para a ausência de uma
essência do verso; ao mesmo tempo em que coloca o verso em situação
e momento de crise, considera a poesia mesma como um estado.
99
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
História das formas
Os últimos anos da vida de Barthes foram dedicados à
explanação, em aula, daquela obra que viria a ser publicada como A
preparação do romance. O curso, ou a preparação, duraram dois anos,
começando em 1978. Preparação essa que, para alguns críticos, como
Antoine Compagnon 3 , culminaria na própria obra, um verdadeiro
romance barthesiano, se não fosse o acidente causando a sua morte, em
1980.
A iminência do fim faz-se presente, de uma forma ou de outra,
nesse momento da obra de Barthes. A preparação do romance é, para
Compagnon, não a elaboração de uma obra romanesca, seja ela autoral
ou não, mas a busca pelo poema como salvação diante da possível
morte da literatura. Lemos nesse texto barthesiano: “Alguma coisa est|
rondando em nossa História: a Morte da literatura está errando à nossa
volta; é preciso olhar esse fantasma nos olhos” (BARTHES, 2003, p. 49).
Esse livro marca, portanto, um segundo momento de cisma em relação
à possibilidade da literatura (mais especificamente, nesse caso, da
narrativa, do romance) no presente.
Assim como Mallarmé anteviu na literatura do fim do século XIX
a ameaça do fim causada pela transformação dos modos da poesia, pelo
avanço da prosa e do prosaico, Barthes, a sua altura, também pressentiu
o prenúncio de uma literatura por vir, dessa vez, observando o
desfazer-se das frases – da língua francesa – em Flaubert. O crítico
3
O aluno de Barthes, Antoine Compagnon, em sua obra Os antimodernos, é assertivo ao
defender que “Barthes não teria sido contrariado se o curso tivesse chegado a um romance; um
romance não teria sido uma consequência inoportuna do curso” (COMPAGNON, 2011, p. 418).
100
Carolina Anglada de Rezende
lamenta a ausência, na França, de escritores como Gide, Mauraux,
Valéry, e dos “grandes romances”. Haveria poeira nos livros que se
ajuntam, um pesar que faz pender a multiplicação das obras publicadas
para o depósito, para o descrédito. Da mesma forma, em O grau zero,
muitos são os anúncios do fim de uma literatura clássica.
A constatação de Barthes diferencia-se radicalmente da de
Mallarmé no sentido do fim. Barthes não situaria mais a desvalorização
da literatura e a mudança da linguagem literária, dos modos de escrever
e ler, na crise. Ela “est|, n~o em crise (fórmula excessivamente f|cil),
mas talvez morrendo = alguns sinais, entre outros, de desuso (ou de
falta de fôlego) [...]” (BARTHES, 2003, p. 306). Aqui, alerta-se para o
cumprimento em continuidade do destino da literatura – da língua
francesa, do bem escrever – no gerúndio, indefinindo-se, de fato, o fim
de uma condição que se evidencia, por ora, trágica. Morte no gerúndio
de uma literatura atrelada ao seu tempo e espaço, assim como outras,
possivelmente, já não mais se escrevem. Por isso, Compagnon não se
equivoca ao classificar Barthes, já nos últimos escritos, de antimoderno.
Para aqueles que acreditam na delimitação de uma obra em frases,
teríamos, a princípio, dois polos: um Barthes moderno, afastado das
posições estruturalistas rígidas e próximo a Julia Kristeva e a Jacques
Derrida, e um Barthes antimoderno, crítico dos excessos da
modernidade e afeito à ideia do prazer do texto. Prazer do texto
oferecido pelo poético, gênero esse tão pouco mencionado por Barthes,
mas talvez presente em toda noção de escritura. Não seria, então, o
prazer do texto, aquilo que não mais estaria sendo garantido pela
literatura de sua época, pela mudança das formas literárias?
Trazemos essa expressão não sem determinar-lhe o sentido. O
pesquisador brasileiro da obra de Barthes, Márcio Renato Pinheiro da
101
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
Silva, orientando de Marcos Siscar, concebe O grau zero como uma
“história da escrita liter|ria”, isto é, como uma “história das formas
liter|rias modernas” (DA SILVA, 2014, p. 347). N~o h|, no entanto, no
empreendimento de Barthes, nenhum compromisso com os valores de
uma história da literatura tradicional, responsável por datar a literatura
segundo “escolas”, “períodos” etc. Barthes, nesse sentindo, prescinde de
um
método
histórico
e
também
de
métodos
analíticos
ou
demonstrativos, pois raros são os exemplos de obras literárias
trabalhadas no texto. A literatura, em si, aparece em cena apenas
alusivamente. Mas, afinal, de que maneira procederia essa especulação
das formas literárias? Para Silva, a leitura de O grau zero implica em
diferenciar o tempo da escrita e o tempo histórico: “por mais que seja
por meio da escrita que o escritor ingresse na história, a história das
formas é, para Barthes, regulada por uma temporalidade distinta da
história geral” (SILVA, 2003, p. 306). A história em geral se dirigiria ao
presente colocando problemas e imposições, em especial, a partir de
meados do século XIX, e o artista moderno e contemporâneo estaria
por escrever a temporalidades escolhidas e próprias de sua escritura,
sendo o seu problema mais evidente, na verdade, a linguagem, como
podemos ler na introdução a O Grau zero:
Ver-se-á, por exemplo que a unidade ideológica da burguesia
produziu uma escrita única, e que, nos tempos burgueses (ou
seja, clássicos e românticos), a forma não podia ser dilacerada
à medida que a consciência não o era; e que, ao contrário,
desde o instante a partir do qual escritor deixou de ser uma
testemunha do universal para se tornar uma consciência
infeliz (por volta de 1850), o seu primeiro gesto foi escolher
um engajamento com a sua forma, seja assumindo, seja
recusando a escrita de seu passado. A escrita clássica, assim,
explodiu, e toda a Literatura, desde Flaubert a nossos dias,
tornou-se uma problemática da linguagem (BARTHES, s/d, p.
12).
102
Carolina Anglada de Rezende
Se a mudança da forma, para Mallarmé, implicava em uma crise
feliz, em Barthes, esse “dilaceramento da forma” converte-se em uma
“consciência infeliz”, implicando, não apenas nesse texto, que a
modernidade é, fatalmente, trágica. A forma se atrasa, segundo Silva, e
se repete. Ainda na introdução, Barthes (s/d, p. 06) confere à repetição
da forma, na modernidade, a sua tragicidade: “a forma tornou-se o
termo de uma ‘fabricaç~o’, como uma cer}mica ou uma joia (deve-se ler
que a fabricaç~o foi ‘significada’, isto é, pela primeira vez, entregue
como espet|culo e imposta)”. Vê-se, claramente que, em Barthes, o
problema da decadência da literatura, de sua tragicidade moderna,
possui uma dimensão formal.
Até aqui, três foram os pontos de ancoragem de uma possível
série de problemática da forma: irrompida no fin de siècle XIX, com
Mallarmé, retomada em alguns textos de Barthes e, recentemente,
estudada, no Brasil, por Marcos Siscar. Mas, afinal, não seria mais
conveniente desconfiarmos da própria concepção de forma, legada pela
tradição da arte?
A filósofa e crítica de arte Maria Filomena Molder, em As nuvens
e o vaso sagrado, descreve como, da pré-história à cultura greco-latina
(n~o por acaso, Goethe é considerado “o mais grego de todos os
modernos”), a noç~o de forma permanece em perfeita afinidade com as
noções de movimento, alteração e metamorfose. A morphê, origem da
noção de morfologia, ou seja, ciência das formas, consistia em
conformar o excesso da Vida, o caos, em configurações dotadas de
consistência e princípios internos de beleza e perfeição, fortificando o
elo entre as forças criativas e destrutivas da vida. Enfatizar a forma, a
morfologia, o conformar, não significa, portanto, subordiná-los ao
103
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
estanque. O inimigo da forma não seria, então, o movimento, mas a
imobilização. Os gregos souberam enxergar na Natureza, uma
produção de formas ininterrupta, que, apenas por pouco, permaneciam
idênticas a si mesmas.
Mesmo em um momento de valorização dos ideais clássicos, de
harmonia e regularidade, como foi o Renascimento, Camões não
opunha movimento e forma, como podemos perceber em um de seus
célebres versos: “Como a matéria simples busca a forma” (CAMÕES,
1977, p. 37). Relembremos que Camões imortalizou-se, precisamente,
pelos poemas líricos, pela potência expressiva do amor em seus sonetos
– o que, em parte, poderia tê-lo situado em um antagonismo com a
forma, se a medíssemos por sua força de oposição.
Não por acaso, manteve-se hegemônica, por muito tempo, a
concepção de história da arte de Johann Winckelmann, que procurava,
a partir de uma delimitação do caráter essencial da arte, excluir a
expressão das paixões, essa afetação cuja exaltação poderia impedir a
forma. Concepção fundamentalmente histórica, na medida em que, ao
deter-se no Renascimento, esse modelo prescreve uma morte – de toda
a arte antiga, causada pelo Medievo – e uma revitalização a partir da
arte do século XVI, de restauraç~o “neocl|ssica”. Georges DidiHuberman, ao comentar o método de Wincklemann, afirma
categoricamente que nele reside “a virada epistemológica de um
pensamento sobre a arte para a era – autêntica, j| ‘científica’ – da
história” (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 14).
A “an|lise dos tempos” correspondente a esse método, é o que
explica o Renascimento ter sido observado apenas pela perspectiva
apolínea de um classicismo sereno, de busca do ideal, de harmonia
104
Carolina Anglada de Rezende
formal, “bela alma”, em oposiç~o a um helenismo dionisíaco, explosivo,
bárbaro. O alemão Aby Warburg inscreve-se no campo dos
pesquisadores da arte com um trabalho sobre Botticelli, porque foi
nesse momento histórico que se iniciou o movimento de considerar a
história da arte como um saber; um saber demasiado importante para
Warburg, mas no qual o tempo ser| revertido, sempre, em “impureza”.
O interesse renascentista da Warburg não se restringe a Botticelli.
O pesquisador realiza uma incursão no grupo escultórico que foi objeto
de interesse do Renascimento, por ter sido redescoberto juntamente a
todas as outras peças desaterradas, recuperadas e revitalizadas, naquela
altura. Trata-se da imagem de Laocoonte e seus filhos, datada do século
III a.C, de um romano anônimo, em cujos contornos projeta-se a visão
de uma perspectiva trágica e dionisíaca da cultura renascentista,
enfaticamente denegada por Wickelmann. Segundo a mitologia,
Laocoonte teria sido sacerdote do templo de Apolo em Tróia e o único a
desconfiar do plano de invasão da cidade pelos gregos, escondido no
famoso cavalo de madeira de enormes proporções. A outra versão conta
que, por ter mantido relações sexuais diante de imagens sagradas, o
personagem é punido pelos deuses, favoráveis aos gregos, sofrendo,
juntamente com seus filhos, um ataque de serpentes. Em ambas, no
entanto, há o motivo do sofrimento, do pathos traduzido nos gestos e
na musculatura esculpida.
No Atlas Mnemosyne, de Warburg, a invenção de Laocoonte é o
tema da prancha 41. Nela, também figuram o retrato de um indígena da
tribo hopi durante o ritual da serpente e uma Caricatura renascentista
de Laocoonte, em xilogravura, representando ele e seus filhos como
símios, reagindo tão agressivamente quanto as serpentes que os
atacam. Essa montagem evidencia a Nachleben do pathos trágico, tão
105
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
cara a Warburg, e que se manifesta na prancha pela sobrevivência de
um certo primitivismo, exposto na proximidade do homem com o
animal, no sofrimento físico durante a luta pela sobrevivência, presente
em todas essas figuras. Sobrevivência essa que pode ser flexionada com
aquilo que Barthes afirmou ser o atraso das formas. Repetição sim, mas
diferença também. O olhar warburguiano transforma, nesse sentido, a
caracterização de um honrado sacerdote de Apolo em herói selvagem,
indócil e bravio, aproximando, consequentemente, as formas humanas
de Laocoonte das formas animais.
O problema da forma retorna aqui e justifica o apelo a Warburg,
no presente artigo. Para além de identificar, no Atlas e nas
Pathosformeln, um interesse na “quest~o antropológica do gesto”
(DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 198) e na “necessidade biológica da
express~o” (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 203) que Didi-Huberman
percebe no estudo da prancha 41, há também uma problematização
sobre as forças da forma e do informe, sob a própria influência de Apolo
ou Dionísio. A partir de Nietzsche, reconhece-se que para os gregos há
o deus de uma força vital (Dionísio) e outro deus da consagração da
forma (Apolo). O processo de formação (isto é, de realização da forma)
ergue um combate nunca finalizado, sempre adiado, de resposta ao
caos, o que confere à natureza a inseparabilidade de suas forças
destrutivas e criativas.
Warburg, na esteira do saber morfológico de Goethe, contempla a
forma, o tempo, o movimento, o momento. Saber morfológico
goethiano exposto em obras como Teoria das cores, O jogo das nuvens e
A metamorfose das plantas, cujo método conjuga a observação de devir
das formas naturais com a sua formação ou formulação artística. Didi106
Carolina Anglada de Rezende
Huberman (2013, p. 90) comenta sobre o saber morfológico: “n~o h|
morfologia, ou análise das formas, sem uma dinâmica, ou análise das
forças.” O ponto fulcral, garantia da convivência das forças e formas,
estaria na escolha (portanto, crítica) do momento a ser representado
pelo artista. Na escultura de Laocoonte é o que viabiliza a co-existência
das duas forças, tradicionalmente concebidas como opostas. DidiHuberman comenta essa partilha entre Warburg e Goethe, no que diz
respeito à observação da mesma escultura:
Goethe sabe contemplar o tempo: compreende que o
momento escolhido, construído pelo artista, determina
inteiramente a qualidade escultural do movimento
representado. Momento “transitório”, portanto: é esse o nó,
cabe dizer, de toda a imagem e do problema estético que ela
resolve (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 181).
O momento escolhido não faz jus apenas ao imperativo do
movimento, que deve estar na escultura, como também faz de uma
“escultura de movimento” o improv|vel, isto é, uma “escultura em
movimento” (DIDI-HUBERMAN, 2013, p. 181). O momento designado
deve se revelar na montagem de tempos distintos, de gestos variados.
Sendo a escultura, uma escultura carregada de pathos, depreendemos
que a paixão e o sofrimento não se opõem à forma, que é pensada
tradicionalmente como estabilização. A paixão gera a forma,
intensifica-a, aviva a pantomima e a expressão, e esta seria, então, a
aç~o da “fórmula patética” (Pathosformeln), presente no primeiro
momento do Renascimento e expressa no exagero gestual de suas
imagens. O interesse pela possibilidade de uma “escultura em
movimento” responde { obsess~o warburguiana em relaç~o { vida das
imagens, à maneira como as imagens não são apenas comoventes, mas,
principalmente, moventes.
107
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
Se a discussão de Warburg e sobre o seu Atlas restringe-se a priori
à imagem, podemos, no entanto, expandir o horizonte até as palavras.
As imagens são carregadas de tempo assim como as palavras, por isso
nelas deve se resguardar o devir, uma vez que o devir, à sua maneira,
conserva o movimento, a transformação, os fluxos e os retornos, os
avanços e os atrasos da forma. Passemos { leitura do poema “O cacto”,
de Manuel Bandeira, para visualizar a possibilidade de um “poema em
movimento”:
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades
excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-os pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
[privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.
(BANDEIRA, 1983, p. 127-128)
Nesse poema de 1925, o cacto é construído em sua semelhança
com obras de estátuas que representam a imagem do extremo da dor:
Laocoonte, cujo mito repercussão na história da arte já abordamos;
Ugolino, representando mais uma narrativa (desta vez, literária) de
punição; e a sua própria tragicidade vegetal, decorrente do tufão, que o
faz tombar. Não há como negar certo impulso para o patético e para o
trágico, que se evidenciam nesses três momentos de beleza e força
sobrepostos imageticamente. Ao mesmo tempo em que, no primeiro
momento do poema, sugere-se a elevação do cacto à ordem estatuária e
108
Carolina Anglada de Rezende
imóvel de Laocoonte, de Ugolino e mesmo do grandiosamente trágico
Nordeste, é essa condensação que possibilita o adensamento de uma
tensão que culminará no acidente e nas consequências catastróficas do
tombamento do cacto para a cidade. Há no cacto, assim como na
escultura de Laocoonte, a cristalização de uma força em movimento,
que constituirá o caráter heroico da sobrevivência no embate entre a
forma e o informe, entre a formação e a destruição.
Esse embate, poderíamos afirmar a partir do uso do verbo no
pretérito imperfeito, é um embate nunca finalizado ou talvez com
efeitos em ação. Quando Siscar defende que toda forma, a partir da
modernidade, principalmente, é fruto da relação com a crise, essa crise
pode ser pensada em decorrência da singularidade versus a totalidade
de uma marca, e também em virtude da ação das forças apolíneas e
dionisíacas. Siscar (2010, p. 115) é categórico ao afirmar: “A forma n~o é
uma experiência da identidade, mas da crise”. A forma é uma disposiç~o
composta
por
conflitos,
feridas,
reminiscências,
sobrevivências,
esquecimentos. Por isso, Warburg, esse elaborador de uma “ciência sem
nome”, como diria Giorgio Agamben, em A potência do pensamento, é o
criador de um “saber pl|stico, por excelência”, como define DidiHuberman (2013, p. 141). A plasticidade – que constituiria a força
material – do devir, do movente e do comovente das imagens, literárias
ou não, responde por toda a crise e se alimenta da crise, pois coloca em
relação o universal das formas com o singular da obra de arte. E esse
saber plástico não se dá sem fraturas, atrasos, abalos, arroubos. Ao
contrário, é a plasticidade que cria as fraturas da história – da história
geral e da história da formas literárias e artísticas, para não
esquecermos de Barthes. O que Warburg, porventura, promove, e que
ainda permanece impensado, é o alargamento da noção de crise para
109
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
além do moderno, para trás e para adiante, se nós jamais tivermos sido
modernos. Crise travada entre Apolo e Dionísio a respeito da forma,
crise da cultura, da transmissão, da memória, da imagem.
Fim do poema
Como uma montagem de três tempos, retornemos à discussão
inicial do artigo sobre a crise de versos, para repor o começo no fim.
Mallarmé afirma, logo no início do seu ensaio: “A literatura aqui sofre
uma esquisita crise, fundamental” (MALLARMÉ, 2010, p.157). Primeira
consideraç~o a respeito dessa assertiva é em relaç~o ao “esquisita crise”.
A estranheza será a condição da comunidade que se institui ao redor
dessa estranha instituição chamada literatura, para evocar o título da
entrevista concedida por Jacques Derrida, comunidade essa que deve
responder à crise, ao ter lugar dessa crise, de forma crítica, e tendo em
vista a herança (em aberto) de um tradição poética. Em seguida,
notamos que, se o título do ensaio associa a crise ao verso e Mallarmé
afirma, nesse trecho, ser da literatura a crise, digamos que encontramos
no verso a essência da literatura. Mas não o verso métrico, fixo,
completo, e sim sua potência de instruir a verticalidade, de romper, de
ritmar e modular o pensamento e a linguagem, tal qual um
enjambement, daí a constante presença de vocábulos referentes à
música,
como
“concertos”
“compositor”,
“sinfonia”,
“melodias”,
“orquestraç~o”.
A música não acontece sem certo controle, e a poesia, tampouco,
sem os ajustes que cabe ao poeta fazer na sintaxe da língua. A crise da
110
Carolina Anglada de Rezende
dissolução do verso, ainda, em certa medida, rígido no poema de
Manuel Bandeira, talvez aponte para o enjambement como índice de
uma crise sintática que deve acontecer no verso e que, ao contrário do
que muitos julgaram no século XIX, acabará por caracterizar a poesia e
lhe servir de condição. Rigidez aquela que diz respeito ao teor de tensão
e concentraç~o necess|rios ao poema “O cacto”. A partir da década de
1930, o enjambement se tornará cada vez mais comum, a ponto de se
tornar o principal recurso de composição dos poemas de Bandeira,
assim como de outros poetas modernistas a exemplo de Carlos
Drummond de Andrade.
Giorgio Agamben, em “Ideia da Prosa”, artigo homônimo ao livro
no qual ele se encontra, busca compreender a especificidade da poesia e
situa na possibilidade do enjambement a identidade do verso. Mas
vejamos do que se trata, para Agamben, o enjambement:
O enjambement exibe uma não-coincidência e uma
desconexão entre o elemento métrico e o elemento sintático,
entre o ritmo sonoro e o sentido, como se, contrariamente a
um preconceito muito generalizado, que vê nela o lugar de
um encontro, de uma perfeita consonância entre som e
sentido, a poesia vivesse, pelo contrário, apenas da sua íntima
discórdia (AGAMBEN, 2012, p. 31).
Experiência da não-coincidência, do descompasso, da hesitação:
eis o que a vivência da poesia lega ao pensamento. Poética da
interrupção, diria Siscar. Se trouxéssemos o Atlas de Warburg para cá,
expandiríamos essa poética para a experiência com as imagens. A
aposta na montagem como suspensão do fluxo espontâneo da
experiência visual pode ser entendida, em uma aproximação de
Mallarmé, como ênfase na crise, seja ela da percepção, do método ou da
história, convocando o gesto crítico de seleção para leitura e produção
das imagens, afinal, sua análise e seu efeito dependem das associações,
111
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
das relações de afinidades e diferenças entre elas. Enfim, dependem da
entrada da recepção na obra.
O final do ensaio “Ideia da prosa” define a hesitaç~o a partir do
duplo movimento que a leitura do poema em enjambement engendra:
para trás, que diz respeito ao do verso, e para diante, que corresponde à
prosa. Mas o verso só se identifica como verso na hesitação, na cesura
do som e do sentido, naquela brusca parada diante do abismo de se
tornar prosa, de ter seu sentido concluído. Experiência, então, do
limiar, da passagem, do deslocamento, como aquela do intervalo negro
– da negatividade – entre as imagens do Atlas Mnemosyne.
Em outro ensaio, intitulado “O fim do poema”, Agamben é ainda
mais certeiro em determinar o paradoxo da poesia. Para ele, o poema
não deve terminar; à medida que ele só se identifica no risco do fim, ele
teme e deseja esse mesmo fim, pois o próximo verso é a conclusão de
um sentido, mas se esse for também o último verso, ele é a
impossibilidade da continuação, é a interrupção de seu duplomovimento e de sua não-correspondência, uma vez que a finalização
harmonizaria som e sentido.
Essa paradoxo do poema, constituído, concomitantemente, pela
continuidade e pela interrupção do verso, pelo exercício da
verticalidade e da pendência, pela busca e por aquilo que falta, sempre,
pois o último verso é já sempre a iminência da prosa, a falência das
distinções ou a defesa do híbrido, é o que se aproxima do Atlas
warburguiano e que responde, sobretudo, à ideia da especificidade e do
fim. Se considerarmos o Atlas como uma coleção de imagens, o seu
arranjo indefine a “alta cultura”, presente nas reproduções de obras de
arte cl|ssicas, da “baixa cultura”, exposta nos mapas, registros
112
Carolina Anglada de Rezende
astrológicos, fotos etc. Na vivência do limiar e do intervalo entre essas
distintas categorias de imagens, na escultura de Laocoonte, as formas
humanas dissolvem-se na musculatura rígida, no instinto animal. A
imagem, a partir de Warburg, manifesta a crise da cultura, e se torna
crítica, pela disposição no Atlas, e a crítica, ela mesma, é pensada
enquanto imagem. A reversibilidade se dá também no âmbito da
poesia, pois na prática do poema, os versos voltam, vertem ao início, à
margem esquerda, enquanto avançam, restituindo sempre o começo. O
poema é a entrada sucessiva na linguagem. É a reposição do começo a
cada emergência do fim. Por isso não haverá fim para o poema: porque
a forma, singularmente trabalhada a cada obra, já contém a marca de
um duelo trágico.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Ideia da prosa. Trad. João Barrento. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2012.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1993, p.127-128.
BARTHES, Roland. A preparação do romance. São Paulo: Martins Fontes, 2005, v. I e
II.
______. O grau zero da escritura. São Paulo: Cúltrix, s/d.
CAMÕES, Luís de. Versos e alguma prosa de. Lisboa: Moraes Editores, 1977.
COMPAGNON, Antoine. Os antimodernos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
DA SILVA, M|rcio Renato Pinheiro. “História das formas e os tons da crítica”.
ALEA, Rio de Janeiro, v. 16/2, p. 346-361, 2014.
DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2014.
DIDI-HUBERMAN, Georges. A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos
fantasmas segundo Aby Warburg. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto,
2013.
113
Revista Investigações Vol. 29, nº 1, Janeiro/2016
______. O que vemos, o que nos olha. Prefácio de Stéphane Huchet; tradução de
Paulo Neves. 2 ed. São Paulo: Ed. 34, 2010.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Trad.
Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2013.
MALLARMÉ, Stéphane. “Crise de versos”. In: Divagações. Trad. Fernando Scheibe.
Florianópolis: Ed. UFSC, 2010.
MOLDER, Maria Filomena. As nuvens e o Vaso Sagrado. Lisboa: Relógio D’|gua,
2014.
SISCAR, Marcos. Poesia e crise: ensaios sobre a “crise da poesia” como topos da
modernidade. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
Recebido em 27/08/2015. Aprovado em 29/02/2016.
114