VIVENCIANDO A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM SALA DE AULA
Giovani Rosa Delazeri 1
Leandro Millis da Silva2
Resumo:
Desde a década de 1980, por ocasião da publicação da “An Agenda for Action: Recommendations for School
Mathematics of the 1980’s”pelo National Council of Teachers of Mathematics - NCTM vem se ressaltando a
importância da Resolução de Problemas nas aulas de Matemática. No entanto, tal prática ainda se configura
tímida em sala de aula. Além disso, quando existe, não é totalmente explorada. O objetivo deste minicurso é
fazer um resgate da teoria da Resolução de Problemas, salientar sua importância bem como, por meio de
exemplos práticos, mostrar possibilidades de uma utilização mais dinâmica dessa proposta em sala de aula. Visa
também instigar e motivar que os professores possam adaptar suas aulas e inserir a Resolução de Problemas
Matemáticos em seu quotidiano de forma a tornar mais interessantes aos educandos essa prática, contribuindo
assim para um melhor entendimento da Matemática escolar. Por fim, procura-se evidenciar alguns equívocos
durante uma aula envolvendo Resolução de Problemas e que acabam influenciando no desempenho dos
estudantes.
Palavras Chaves: Resolução de Problemas. Matemática. Sala de aula. Dinâmica.
1.INTRODUÇÃO
Em nosso dia a dia os problemas estão ao nosso redor. Apesar da implicação negativa
que a palavra assumiu com o passar dos anos, as diversas situações que enfrentamos são
problemas, como por exemplo, trocar o pneu do carro, escolher um trajeto melhor para nosso
deslocamento diário, entre outros. Embora nem todo problema seja Matemático, criar
estratégias para resolvê-los torna-se mais fácil e eficiente se tivermos uma boa base
Matemática que nos possibilite pensar de forma organizada.
Se desenvolver habilidades em Resolver Problemas é positivo, onde devemos
“treinar”? Com certeza em sala de aula, em nossas aulas de Matemática. No entanto, essa
utilização ainda é tímida. Pensando nisso foi proposto esse minicurso com o intuito de
1
Especialista em Educação Matemática. E.M.E.F. João Belchior Marques Goulart, Porto Alegre.
giovani_matematica@yahoo.com.br
2
Mestrando em Educação em Ciências e Matemática. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –
PUCRS. prof_millis@yahoo.com.br
esclarecer, motivar e sugerir utilizações mais interessantes de Resolução de Problemas
Matemáticos em sala de aula.
2. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
É importante compreendermos o que é um problema, o que é um problema
matemático e sua importância no desenvolvimento do individuo. Além disso, é interessante
que se tenha conhecimento da Teoria da Resolução de Problemas para que se possa operar de
forma mais eficiente tanto em sala de aula como na vida.
2.1Concepções sobre problema
Ao se buscar a etimologia da palavra problema, encontra-se, conforme o dicionário de
etimologia on-line:
[...] significa "lançar-se à frente", pois surgiu do prefixo grego pró, "diante, à frente",
mais bállein, "pôr, colocar, lançar". Daí o sentido de algo que precisa ser transposto,
o que gerou, inclusive, o termo geográfico "promontório". No latim, gerou
propositum (pro, com o mesmo significado do grego, e positum, "posto, colocado").
Assim, tem-se problema como um obstáculo a ser superado. Algo que nos foi imposto
para ser superado. Como foi mencionando antes, problemas estão em diversas áreas do
conhecimento, não sendo algo particular da Matemática. Conforme Dante (1996, p.9),
problema é “[...] qualquer situação que exija o pensar do indivíduo para solucioná-la.”.
Salienta-se então a importância de observar onde ocorre a situação e o momento em
que ocorre para assim poder analisar se é ou não um problema. O que em determinado
momento se configura como problema pode avançar para ser um mero exercício em outra
ocasião.
2.2 Problema Matemático
O foco deste estudo são os problemas matemáticos e suas resoluções. Mas o que é um
Problema Matemático? Para Dante (1996, p.10): “Problema matemático é qualquer situação
que exija a maneira matemática de pensar e conhecimentos matemáticos para solucioná-la.”.
Os problemas assumem características importantes em sua identificação, como traz
Stancanelli (2001), ao tipifica-los como: convencionais e não-convencionais. Como
convencionais entende-se aqueles que possuem resposta única, geralmente numérica. Todos
os dados necessários para sua resolução estão dispostos no texto e na ordem necessária para
sua resolução.
Os problemas não-convencionais seriam aqueles em que os textos são mais
elaborados, possibilitam estratégias variadas de resolução, mais de uma solução que pode não
ser numérica. De acordo com a autora (ibid) eles podem ser listados como: problemas sem
solução, problemas com mais de uma solução, problemas com excesso de dados e problemas
de lógica.
Problemas sem solução - possibilitam que os estudantes tenham uma visão diferente,
desenvolvendo sua capacidade de duvidar. Desse modo, torna-os mais críticos em relação à
informação que recebem. Uma das formas de trabalho que a autora sugere ao professor é
pedir aos estudantes que modifiquem o enunciado de problemas desse tipo, para que passem a
ter solução.
Problemas com mais de uma solução- oportunizam aos estudantes a verificação de que
o processo de resolução não necessita ser único. Possibilita ao estudante a análise de sua
solução e a comparação com a dos colegas, verificando a eficiência e valorização de sua
resolução.
Problemas com excesso de dados – valorizam a importância do hábito da leitura e a
percepção dos dados necessários a resolução do problema dispostos dentro dos textos.
Problemas de lógica – muito apreciados fora das salas de aula, em revistas de
entretenimento, em brincadeiras com amigos, na escola possibilitam treinar a habilidade de
checar as situações, criar hipóteses, analisar e classificar dados.
2.3 Teoria da Resolução de Problemas
Existem diversas formas de se resolver um problema, no entanto em termos de teoria,
a mais difundida foi a de George Polya. Ele sistematizou uma forma organizada de resolver os
problemas. Pode-se verificar na obra de Polya (1995) essa sistematização dividida em quatro
fases: compreensão do problema, estabelecimento de um plano, execução do plano e por
último o retrospecto da resolução.
1ª fase – Compreensão do problema – é o ponto de partida para resolução de qualquer
problema, conforme Polya (1995, p. 4) : “[...] o enunciado verbal do problema precisa ficar
bem entendido. O aluno deve também estar em condições de identificar as partes principais do
problema, a incógnita, os dados, a condicionante.”.
2ª fase – Estabelecimento de um plano – após compreender o problema que se tem que
resolver, passa-se a traçar estratégias que possibilitem essa solução, de acordo como o autor
(Ibid., p.5) “[...], o principal feito na resolução de um problema é a concepção da ideia de um
plano.”.
3ª fase – Execução do plano – para o autor está fase é mais fácil que a anterior, porém
depende dela para seu sucesso.
4ª fase – Retrospecto – esta é a etapa do fechamento, um olhar para o que foi feito,
uma análise dos passos desenvolvidos até a solução do problema em busca de além de
compreender a ação, procurar identificar possíveis falhas ou novos caminhos mais eficientes.
Polya (1995) comenta que mesmo bons estudantes acabam por parar na terceira fase,
abandonando a questão sem fazer um retrospecto do processo todo.
3. DESENVOLVIMENTO
Inicialmente pretende-se provocar os participantes com um problema inicial, antes de
iniciarmos a conversa. Para que possam vivenciar como pode ser interessante resolver um
problema Matemático, sem a preocupação inicial de conceituar e teorizar.
Após buscaremos conceituar problema e verificar quais as concepções os participante
tem a respeito do tema. Posteriormente, para que possamos fundamentar teoricamente nosso
estudo, procuraremos elucidar a diferença entre problema e exercício. Desenvolver a ideia do
momento adequado para utilizar o método da Resolução de Problemas durante as aulas.
Depois de conceituarmos a ideia de problema e sua diferenciação de exercício,
buscaremos desenvolver a teoria da Resolução de Problemas. De posse desses conceitos
passaremos a desenvolver trabalhos com diversos problemas, alguns clássicos da matemática
e outros menos divulgados que serão tratados de forma diferenciada.
Alguns problemas intitulados como O pescador e o rio (envolvendo travessia) , Onde está
o R$ 1,00?(envolvendo a ideia de ter cuidado com os números), De quanto foi o prejuízo? (geralmente
causa duvida em sua resolução), circulam nas redes sociais e muitas vezes nossos alunos trazem com
respostas e resoluções absurdas. Então, é conveniente que professores novos e mais experientes
conheçam tais problemas e entendam sua resolução para esclarecer seus estudantes.
Outros exemplos de problemas :
1. Num jarro estão sete amebas, elas se multiplicam tão rapidamente que dobram o seu
volume a cada minuto. Se para encher o jarro, elas levam 40 minutos, quanto tempo levara
para encher metade do jarro? R. 39 min.
2. Qual o peso de um peixe, se ele pesa 10 quilos mais que a metade do seu peso? R.
20 quilos
3. Diversos cometas passam perto do Sol periodicamente. O cometa A passa de 12 em
12 anos. O cometa B passa de 15 em 15 anos. Se os dois cometas A e B passarem perto do
Sol em 1979, em que ano essa coincidência voltará a ocorrer? Resposta: 2039
4. O rato roeu a roupa do rei de Roma, quantos erres tem nisso? R. nenhum (problema
sem sol numérica)
5. Seis retângulos idênticos são reunidos para formar um retângulo maior conforme
indicado na figura. Qual é a área deste retângulo maior? (OBM XXVII 11 de junho de 2005)
21 cm
A) 210 cm2
B) 280 cm2
C) 430 cm2
D) 504 cm2
XE) 588 cm2
O epitáfio de Diofante. (TAHAN, 1972):
Com
um
artifício
aritmético
a
pedra
ensina
a
sua
idade:
"Deus concedeu-lhe passar a sexta parte de sua vida na juventude; um duodécimo na
adolescência; um sétimo em seguida, foi passado num casamento estéril.
Decorreram mais cinco anos, depois do que lhe nasceu um filho. Mas este filho
desgraçado e, no entanto, bem amado! - apenas tinha atingido a metade da idade que viveu
seu pai, morreu.
Quatro anos ainda, mitigando sua própria dor com o estudo da ciência dos números,
passou-os
Diofante,
antes
de
chegar
ao
têrmo
de
sua
existência."
Salientando que são apenas exemplos, durante o minicurso serão apresentados outros
problemas para que se desenvolva as atividades.
O intuito é fazer uma apresentação e
resolução diferenciada dos problemas. Essa é a ideia de dinamizar as aulas.
Para finalizar será discutido com os participantes os “Cinco tabus da Resolução de
Problemas” de Smole (2003). Muitas vezes o professor se depara com eles em sua sala de aula
e identifica-los favorece uma melhor atuação.
De acordo com a autora, o primeiro tabu seria “A resposta de um problema sempre
existe, é numérica, única e chega-se a ela por um só caminho.”. Por exemplo, você está no
centro de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, e quer ir à Canoas, na
chamada grande Porto Alegre, em um dia de muita chuva. O que fazer? Ir de ônibus, táxi,
carro, bicicleta ou trem. Escolher as principais avenidas ou caminhos alternativos para tentar
fugir do congestionamento. Tudo isso é possível, certo? Mas o que é mais importante?
Ponderar várias hipóteses: o dinheiro para a condução, a hora do compromisso, pontos de
alagamento, locais perigosos. A crença de que o enunciado sempre tem resposta, numérica, e
de que há apenas uma forma correta para chegar até ela é efeito direto do uso exclusivo de
problemas ditos convencionais na sala de aula.
O segundo é “A resolução deve ser rápida. Do contrário isso indica que não se sabe
resolver.”. A agilidade não é condição para determinar se alguém sabe ou não chegar a uma
solução. Cada pessoa tem seu ritmo, uma alternativa nesse caso é dar prazos maiores e ir
diminuindo a medida que os estudantes vão ganhando prática.
O terceiro tabu é “Se errar, não adianta investigar o erro, é preciso começar de novo.”.
Não é possível simplesmente recolher atividades, verificar se a resposta está correta e
devolver uma nota ao aluno. Não necessitamos de professores que só corrijam certo e errado e
sim daqueles que avaliam todo o procedimento do aluno, agindo em busca do ponto onde ele
encontrou dificuldades.
O quarto é “Acerto só vem com esforço e prática para a memorização dos
procedimentos.”. Os estudantes ainda acreditam que basta decorar os conceitos para se sair
bem, não valorizando o entendimento dos conceitos.
O quinto tabu “Uma questão não pode gerar dúvida, pois o bom professor não pode
fazer isso com a turma.”. Deve-se encorajar os estudantes a buscarem as respostas, serem
mais autonômos em suas vidas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Oportunizar aos estudantes novas formas de desenvolver a Matemática escolar que
fuja do método tradicional é um dos objetivos de se trabalhar com Resolução de Problemas.
Espera-se que as atividades realizadas neste encontro possam servir para que os professores
reflitam sobre sua prática e o que pode ser feito para incrementá-la. Não foi dada nenhum
fórmula de sucesso e sim sugestões metodológicas, cabendo a cada professor adapta-las ou
sentir-se desafiado a melhora-las para ter aulas mais dinâmicas e estudantes mais interessados.
5.REFERÊNCIAS
DANTE, Luiz Roberto. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 8.ed.São
Paulo: Atica,1996.
POLYA, George. A Arte de Resolver Problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 1995.
SMOLE, Kátia Stocco. Quebre cinco tabus da resolução de problemas. Revista Nova
Escola
Ed.
N.
160
-
Março
de
2003.
Disponível
em:
<http://www.mathema.com.br/default.asp?url=http://www.mathema.com.br/publicacoes/_dis
play.html> acesso em 10/05/13.
STANCANELLI, Renata. Conhecendo diferentes tipos de problemas. In: SMOLE, Kátia
Stocco; DINIZ, Maria Ignez (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre:
Artmed , 2001.p.103-120.
TAHAN, Malba . As Maravilhas da Matemática. São Paulo: Ed. Bloch, 1972.