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The Technological Plan - evaluation
Antonio Bob Santos
ISCTE-IUL
June 2012
Online at https://mpra.ub.uni-muenchen.de/63020/
MPRA Paper No. 63020, posted 20 March 2015 14:28 UTC
Working Paper (Jun. 2012)
O Plano Tecnológico - avaliação
António Bob Santos1
ISCTE-IUL (University Institute of Lisbon)
abmsantos@netcabo.pt
Abstract: Neste working paper pretendemos contribuir para um primeiro exercício de
avaliação do principal programa público de apoio à inovação na última década – o Plano
Tecnológico. Não se tratando de uma avaliação de impacto, a análise dos principais
indicadores definidos permite averiguar se as metas inicialmente propostas foram (ou não)
alcançadas, tendo por base o período 2005-2009 (período de implementação do Plano
Tecnológico). A análise efetuada evidencia que grande parte das metas propostas foram
ultrapassadas.
Abstract: In this working paper we intend to contribute to a first evaluation of the main
Portuguese public program to support innovation in the last decade - the Technological Plan.
Although this is not an impact assessment, the analysis of the main indicators that have been
set allows to determine the fulfillment (or not) of the goals initially proposed, based on the
period 2005-2009 (the Technological Plan implementation period). The performed analysis
shows that most of the proposed goals were met.
Keywords: plano tecnológico, inovação, política de inovação, políticas públicas.
Working paper realizado com base na aprovação da unidade curricular de “Planeamento,
Programação e Avaliação de Políticas”, no âmbito do Doutoramento em Economia, no ISCTE-IUL.
1
1
Working Paper (Jun. 2012)
1. Introdução
No atual trabalho de investigação pretendemos avaliar um instrumento de política
pública, com foco na realidade portuguesa. O instrumento escolhido para a análise é
o “Plano Tecnológico”, tendo como referência o período 2005-2009. Pretende-se,
sobretudo, dar resposta às seguintes questões: em que contexto económico, político e
social surge o Plano Tecnológico (secção 2); 2) qual a finalidade e quais os principais
objetivos do Plano Tecnológico (secção 3); em que consiste e de que forma é suposto
o programa funcionar (secção 4); como se operacionalizou e quais os instrumentos de
implementação e monitorização/avaliação do Plano Tecnológico (secção 5); e que
impacto é possível aferir da implementação do Plano Tecnológico (secção 6).
Finalmente, serão apresentadas as principais conclusões na secção 7.
A análise irá ter como base o documento de apresentação do Plano Tecnológico, os
relatórios de progresso existentes, legislação referente às iniciativas do Plano
Tecnológico, Portais públicos existentes, bem como os relatórios anuais do
“Innovation European Scoreboard “ para o período em análise.
2. Contexto económico, político e social
Enquanto prioridade política, o Plano Tecnológico foi parte integrante do Programa
do XVII Governo Constitucional, aprovado na Assembleia da República em 2005.
Contudo, o Plano Tecnológico surgiu num determinado contexto económico, político
e social em Portugal, que se torna importante recordar para um correto
enquadramento de análise.
Contexto Económico
Portugal encontrava-se em 2005 numa situação de estagnação económica
(crescimento de 0% no 1º trimestre de 2005), tendo tido uma recessão económica em
2003. De acordo com o relatório do IMD - World Competitiveness Yearbook 20052,
2
Relatório anual do IMD - International Institute for Management Development.
2
Working Paper (Jun. 2012)
Portugal ocupava o 45º lugar entre 60 países em termos de competitividade,
destacando-se negativamente nas seguintes áreas:
Baixo nível de qualificação e de habilitações da população portuguesa, em
geral;
Debilidade do sistema educativo e de formação;
Funcionamento do sistema de Justiça e da Administração Pública em geral,
salientando-se os elevados níveis de burocracia e um ambiente pouco
favorável para os negócios;
Baixo nível de transferência tecnológica e de cooperação entre empresas e
entre estas e o sistema científico e tecnológico nacional (SNCT);
Nível baixo de financiamento à inovação e à investigação de
desenvolvimento (I&D), com pouco envolvimento das empresas;
Um atraso significativo face à média dos 60 países considerados no estudo
em relação às exportações de produtos com elevada incorporação tecnológica.
Além do relatório do IMD, outras análises e relatórios permitiam percepcionar as
debilidades da economia portuguesa, pouco assente na inovação e no
desenvolvimento tecnológico, de acordo com o “Innovation European Scoreboard”
(IES), relatório da Comissão Europeia sobre as políticas de inovação na União
Europeia (UE):
Em 2005, Portugal encontrava-se no 22º lugar no ranking europeu de
inovação3;
Portugal integrava o grupo dos países em “catching-up”, bastante abaixo da
média da UE;
De acordo o IES4, Portugal demoraria cerca de 20 anos para atingir a média
europeia em termos de inovação;
Portugal posicionava-se nos últimos lugares da UE em termos de “drivers”
para a inovação, de criação de conhecimento, de aplicação do conhecimento e
de propriedade intelectual;
As despesas das empresas em I&D eram 4 vezes inferiores à média da UE
(em percentagem do PIB);
A percentagem de população com Ensino Superior era cerca de metade da
média da UE.
3
De acordo com o Innovation European Scoreboard 2006. Na edição de 2005 (com dados mais antigos), Portugal ocupava o 18
lugar.
4
De acordo com o Innovation European Scoreboard 2005
3
Working Paper (Jun. 2012)
Contexto Social
O contexto económico do país descrito atrás refletia-se, também, nas variáveis
sociais. Se olharmos para uma das variáveis mais significativas – a taxa de
desemprego – constatamos uma progressiva deterioração nos primeiros cinco anos
da década. De facto, de uma situação de quase “pleno emprego” no ano de 2000, a
taxa de desemprego atingiu os 6,7% em 2004, percentagem pouco habitual para a
economia portuguesa na altura:
Quadro 1 – Evolução da taxa de desemprego em Portugal
Ano
Taxa de
Desemprego
Fonte. INE
2000
3,9%
2002
5%
2004
6.7%
Na área da Educação, era também visível o enorme atraso que Portugal registava
nessa altura face à média da UE, mais notória se tivermos em consideração os
chamados países do “alargamento, que tinham entrado em 2004 na União Europeia.
Países como a Eslováquia, Polónia ou República Checa tinham uma percentagem
mais elevada de jovens com o Ensino Secundário (percentagens perto dos 90%,
enquanto que em Portugal se situava nos 49%), de população ativa com o Ensino
Superior, bem como menores taxas de saída precoce do sistema educativo (quase
40% dos jovens portugueses em 2004 tinha abandonado a escola).
Quadro 2 – Nível de habilitações e saída precoce do sistema de ensino
Aliado ao crescente desemprego e dos níveis baixos de habilitações da população,
havia também uma elevada taxa de pobreza em 2005, com cerca de 20% da
população abaixo do limiar da pobreza5, após transferências sociais. Estes valores
5
Pessoas com rendimento disponível familiar equivalente, depois das transferências sociais, abaixo dos 60% da mediana
nacional.
4
Working Paper (Jun. 2012)
apenas comparavam com a Polónia e Lituânia (21%), sendo média da UE (na altura a
25) de 16%, bastante inferior à média portuguesa (ver Gráfico 1, em Anexo).
Contexto Político Nacional
O contexto político nacional em 2004/2005 era dominado por uma alternância de
ciclo político, que se veio a verificar na primavera de 2005, fruto da dissolução da
Assembleia da República pelo Presidente da República (em Dezembro de 2004) e
pela consequente marcação de eleições antecipadas.
Na campanha eleitoral da altura havia duas visões distintas para estimular o
crescimento da economia e dar resposta aos problemas económicos e sociais com que
Portugal se deparava na altura, que correspondiam às visões dos dois principais
partidos políticos nacionais:
Necessidade de um “choque fiscal”, com o argumento de que a
competitividade da economia seria estimulada através de custos mais baixos
dos fatores de produção, nomeadamente do nível de carga fiscal suportado
pelas empresas. Esta visão defendia que com menos encargos, as empresas
teriam mais recursos para investir, para exportar e, consequentemente, para
criar mais emprego;
Necessidade de um “choque tecnológico”, estando o argumento assente na
necessidade de se estimular a inovação e as qualificações da população
portuguesa, visando a produção de produtos e serviços de maior valor
acrescentado, capaz de competir nos mercados internacionais pela
diferenciação e pela qualidade. Esta visão defendia o desenvolvimento da
economia e da sociedade assente no conhecimento, no desenvolvimento
tecnológico e na inovação empresarial, tendo em vista um desenvolvimento
sustentável e inclusivo.
As eleições de 2005 elegeram a visão política orientada para a necessidade de uma
economia assente na inovação e no conhecimento (“choque tecnológico”), tendo esta
visão sido materializada num programa de acção a que se designou de “Plano
Tecnológico”.
Assim, o Plano Tecnológico constituiu uma aposta estratégica do XVII Governo
Constitucional para promover o crescimento e o desenvolvimento em Portugal, sendo
5
Working Paper (Jun. 2012)
parte integrante do Programa do Governo aprovado na Assembleia da República na
primavera de 2005.
3. Principais objetivos e finalidade do Plano Tecnológico
A elaboração do Plano Tecnológico foi precedida de um profundo diagnóstico
realizado pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (UCPT)6, no qual
foram identificados os principais constrangimentos da economia portuguesa no que
respeita à sua competitividade em geral, incluindo as falhas de mercado existentes
(défice de investimento em recursos humanos, em inovação, investigação e
desenvolvimento - I&D) e as falhas sistémicas (défice de articulação dos atores do
sistema de inovação - Laboratórios de Estado, entidades do ensino superior, centros
tecnológicos, empresas, associações empresariais, etc.)7.
A elaboração do Plano Tecnológico partiu desse diagnóstico com a finalidade de
estabelecer uma agenda de crescimento e de desenvolvimento para Portugal a médio
e longo-prazo, assente no conhecimento, na inovação e no desenvolvimento
tecnológico, com o pressuposto de que seria também necessário promover a
articulação e a coordenação das políticas públicas de estímulo à inovação. A
qualificação da população portuguesa, a modernização tecnológica e administrativa e
a mudança do padrão de especialização da economia portuguesa - assente na
diferenciação, na produção com maior valor acrescentado e orientada para os
mercados globais - foram algumas das áreas incluídas na agenda do Plano
Tecnológico.
De uma forma resumida, podemos identificar como principais objetivos do Plano
Tecnológico:
Estimular a criação, difusão, absorção e uso do conhecimento, como alavanca
para transformar Portugal numa economia dinâmica e capaz de se afirmar na
economia global;
6
A UCPT foi criada, em 2005, na dependência do Ministro da Economia e da Inovação, com o objetivo de definir o programa
do Plano Tecnológico, tendo dado lugar em Dezembro de 2005 ao Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e
do Plano Tecnológico.
7
Foram elaborados 16 documentos temáticos. Ver lista em http://www.planotecnologico.pt/document/Doc_1.pdf
6
Working Paper (Jun. 2012)
Estimular a inovação e a modernização tecnológica;
Promover a modernização administrativa e o desenvolvimento da Sociedade
da Informação;
Acelerar o processo de mudança do padrão de especialização da economia
portuguesa;
Produção de bens e serviços diferenciados, apoiados em atividades de
investigação e desenvolvimento e cada vez mais vocacionados para os
mercados externos;
Capacitação dos atores do sistema de inovação;
Elevar os níveis médios de qualificação dos portugueses.
Para atingir estes objetivos, o Plano Tecnológico considerava como essencial
mobilizar as empresas, as instituições e a sociedade em geral para o esforço de
modernização de Portugal, sendo a inovação e a qualificação assumidas como
grandes prioridades da política pública para esse fim8.
Como agenda de modernização, o Plano Tecnológico estava também alinhado com
a agenda europeia em termos de competitividade, dando resposta à componente de
“Competitividade e Qualificação” do “PNACE - Programa Nacional de Acção para o
Crescimento e o Emprego”9, que constituiu o programa de implementação da
“Estratégia de Lisboa renovada” em Portugal para o período 2005-2008 (para o
período 2008-2010, o PNACE passou a designar-se de PNR – Plano Nacional de
Reformas).
O Plano Tecnológico pretendia também dar coerência e ser o quadro de conjugação
das políticas públicas para a competitividade, constituindo-se também como um
referencial conceptual mobilizador para uma agenda de modernização e
desenvolvimento da economia portuguesa, promovendo sinergias e fomentando redes
e parcerias para a inovação.
8
De
acordo
com
o
documento
de
http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
9
Ver página 1 do PNACE em www.qren.pt/download.php?id=53
apresentação
do
Plano
Tecnológico:
7
Working Paper (Jun. 2012)
4. Em que consiste e funcionamento do Plano Tecnológico
Enquanto prioridade política, o Plano Tecnológico foi parte integrante do Programa
do XVII Governo Constitucional, aprovado na Assembleia da República em 2005,
tendo o documento programático sido aprovado por Resolução do Conselho de
Ministros de 24 de Novembro de 2005.
De acordo com o Documento de apresentação do Plano Tecnológico, o horizonte
temporal previsto para a sua implementação era a legislatura do XVII Governo
Constitucional (previsivelmente até Outubro de 2009)10, embora se considerasse que
o seu impacto se pudesse continuar a sentir após esse período, dados os efeitos de
longo-prazo de muitas das medidas previstas.
O Plano Tecnológico contemplava 78 medidas iniciais11, definidas para dar resposta
aos principais problemas de competitividade identificados no diagnóstico realizado.
Estas medidas foram elaboradas pela UCPT (enquanto entidade responsável pela
definição e coordenação do programa), após um processo de audição das principais
entidades públicas e privadas mais relevantes para as áreas da inovação e da
competitividade. Além destas medidas iniciais, era também admitida a incorporação
futura de novas medidas, com origem na sociedade civil ou em entidades públicas, de
acordo com as necessidades identificadas ao longo do seu período de implementação,
bem como era admitida a correção de trajetórias que viesse a ser necessária
decorrente do processo de monitorização e avaliação periódica proposta12.
As 78 medidas iniciais estavam organizadas em três Eixos de Ação e em três
Dimensões Transversais. Em relação aos Eixos de Ação13, estes refletiam as
prioridades identificadas pelo diagnóstico realizado para a economia portuguesa em
termos de competitividade, passando também a constituir as prioridades políticas do
XVII Governo Constitucional:
10
Ver http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
Ver as 78 medidas em http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
12
De acordo com o último Relatório de Progresso do Plano Tecnológico (Julho de 2009), as medidas passaram de 78 (em 2005)
para 176 (em 2009). Este aumento contempla iniciativas públicas e da sociedade civil. Ver relatório em
http://www.planotecnologico.pt/document/RelatorioCCPT9Julho09.pdf
13
Ver página 4 do Plano Tecnológico, em http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
11
8
Working Paper (Jun. 2012)
Eixo I: Conhecimento - Qualificar os portugueses para a sociedade do
conhecimento: promoção de medidas estruturais para elevar os níveis médios
de qualificação da população, apostando num sistema abrangente e
diversificado de aprendizagem ao longo da vida e mobilizando os portugueses
para a Sociedade de Informação;
Eixo II: Tecnologia - Vencer o atraso científico e tecnológico: reforço das
competências científicas e tecnológicas (públicas e privadas), estimulando a
I&D e a criação de emprego qualificado pelas empresas;
Eixo III: Inovação - Imprimir um novo impulso à inovação: promoção da
adaptação das empresas aos desafios da globalização através da inovação e da
melhoria de processos, organização, produtos e serviços.
O Plano Tecnológico procurava também ter um papel de coordenação e de atuação
transversal, dada a natureza de algumas áreas de intervenção (ex. Educação). Desta
forma, e além dos três Eixos acima identificados, as medidas do Plano Tecnológico
estavam também organizadas de acordo com três Dimensões Transversais14:
Desenvolvimento das instituições que atuam nos mercados e que coordenam
os sistemas de incentivos no qual os agentes económicos actuam;
Economias de rede, promovendo a interacção entre os diferentes agentes da
inovação;
Mecanismos alternativos de financiamento, atuando sobre as falhas de
mercado nos domínios do Conhecimento, Tecnologia e da Inovação.
Para cada uma das 78 medidas foi identificada uma entidade responsável pela sua
implementação, bem como definido o ano previsto para a sua execução. No que
respeita ao financiamento do Plano Tecnológico, não foi definido um orçamento
concreto para a sua execução, dada a natureza das próprias medidas e o modelo de
coordenação que foi adoptado (ver detalhe no capítulo seguinte). Cada entidade
responsável pela implementação das medidas era também responsável por assegurar
o seu financiamento, podendo as fontes ser internas - orçamentos próprios
(Orçamento de Estado, no caso as entidades públicas) ou de fontes externas (ex.:
QCA III15; QREN16; Programas Comunitários17, etc.). As medidas de natureza
14
Ver página 38 do Plano Tecnológico, em http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
Quadro Comunitário de Apoio 2000-2006
Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007-2013
17
Exemplos: 6º Programa-Quadro de I&DT (até 2006); 7º Programa –Quadro de I&DT (período 2007-2013); Competitiveness
and Innovation Programme (2007-2013)
15
16
9
Working Paper (Jun. 2012)
legislativa/regulamentar eram asseguradas pelos recursos próprios dos organismos
públicos responsáveis pela sua execução.
O facto do Plano Tecnológico ser um programa aberto a novas iniciativas,
possibilitou ainda a inclusão de 98 novas medidas entre 2005-2009, de acordo com o
último Relatório de Progresso apresentado em Junho de 2009. Além de iniciativas
individuais, com origem em entidades públicas e na sociedade civil, o Plano
Tecnológico foi impulsionador do desenvolvimento de iniciativas transversais (ex.:
iniciativa “Ligar Portugal”, aprovada em 200518) ou sectoriais (ex.: Plano
Tecnológico da Educação, lançado em 200719).
5. Implementação,
Tecnológico
Monitorização
e
Avaliação
do
Plano
De acordo com o documento do Plano Tecnológico20, a implementação
(operacionalização) das medidas seria realizada de forma descentralizada, dado
que além da responsabilidade direta das entidades públicas (Ministérios, Institutos
Públicos, etc.) nas 78 medidas iniciais, o sucesso do Plano Tecnológico dependeria
em grande parte da adesão das entidades e dos agentes da sociedade civil (empresas,
ensino superior, empreendedores, empresas, entidades de I&D, etc.) e da sua
capacidade de propor novas medidas e de as executar, quer de forma individual quer
conjunta.
Esta implementação descentralizada pressupunha a existência de mecanismos de
coordenação e de monitorização eficazes, que envolvessem não só as entidades
públicas (e
governamentais), como
a própria sociedade civil, incluindo
personalidades reconhecidas na área da inovação. Assim, foram definidos os
seguintes mecanismos de monitorização e de coordenação:
18
Ver iniciativa Ligar Portugal, www.ligarportugal.pt
Ver Plano Tecnológico da Educação, www.pte.gov.pt
20
Ver página 9 do Plano Tecnológico, em http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
19
10
Working Paper (Jun. 2012)
CNELPT - Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e
do Plano Tecnológico21 - estrutura na dependência direta do PrimeiroMinistro, responsável pela coordenação global do Plano Tecnológico, pela
sua monitorização e reporte periódico, bem como pela definição e
dinamização de novas medidas a incluir no Plano;
Comissão Interministerial de Acompanhamento, constituída por uma rede
de pontos focais representantes diretos de cada Ministro, responsável pela
monitorização e implementação executiva das medidas do Plano;
Conselho Consultivo, constituído por personalidades da sociedade civil de
reconhecido mérito na área da inovação, responsável pelo aconselhamento
estratégico e pela produção de recomendações para o ajustamento do quadro
de medidas, com base em relatórios semestrais de balanço produzidos pela
CNELPT;
Monitorização online22: “SM.PT” – intranet de gestão/monitorização das
medidas, reservada aos membros da Comissão Interministerial, do Conselho
Consultivo e do CNELPT, sendo os principais dados de execução de cada
medida disponibilizados publicamente no Portal do Plano Tecnológico;
Portal de acesso público: www.planotecnologico.pt, com disponibilização
atualizada do grau de execução das medidas e evolução dos indicadores
associados.
Avaliação, Metas e Indicadores
A avaliação prevista para o Plano Tecnológico baseava-se fundamentalmente em
três componentes:
Acompanhamento do grau de execução de cada medida - execução
física e financeira - suportada no sistema de monitorização online
“SM.PT”;
Acompanhamento da evolução das metas definidas para cada um dos
três Eixos do Plano Tecnológico;
Acompanhamento da evolução das metas dos indicadores de impacto
(definidos para 2010), que pretendiam refletir o efeito das medidas a
médio e longo-prazo na economia23.
Estrutura que funcionou entre Dezembro de 2005 e Outubro de 2009, e que sucedeu à UCPT – Unidade de Coordenação do
Plano Tecnológico.
22
Ver “Sistema de Monitorização do Plano Tecnológico”, em http://www.planotecnologico.pt/document/Apresentacao_SM.pdf
23
Os indicadores de impacto tiveram como base os indicadores do European Innovation Scoreboard, da Comissão Europeia.
21
11
Working Paper (Jun. 2012)
Em relação à execução de cada medida, suportada no “SM.PT”, foi construída uma
“ficha de medida” para cada uma das 78 medidas iniciais (e para as medidas que
foram sendo incluídas ao longo do tempo), com informação detalhada quanto à
caracterização, objetivos propostos, indicadores de execução e metas (físicos e
financeiros), constrangimentos de execução, etc. Cada medida era atualizada
regularmente por cada um dos pontos focais responsáveis da Comissão
Interministerial, responsável também pela verificação e análise do cumprimento das
metas associadas e pela proposta de melhorias e correções de trajetória24. No que
respeita às metas para cada um dos três Eixos, do Plano Tecnológico, foram
definidas as seguintes:
Quadro 3 – Metas para cada eixo do Plano Tecnológico
Eixo I
- Permitir que em 2010 o número de jovens
abrangidos pelas vias profissionalizantes
corresponda a metade do total de jovens a
cumprir o ensino secundário;
- Aumentar para 15% a população em idade
ativa com diploma do ensino superior;
- Garantir que, no escalão etário dos 20-24
anos, 65% da população termina o ensino
secundário;
- Aumentar o número de diplomados em
ciência e tecnologia para 12 em cada mil
habitantes;
- Aumentar o número de investigadores em
Portugal para 5,3 em cada mil habitantes;
- Assegurar, na população entre os 25 e os 34
anos, que 9,3 em cada mil habitantes sejam
doutorados em C&T;
- Triplicar o número de agregados familiares
com acesso à Internet em banda larga até
2010;
- Multiplicar o número de computadores nas
escolas, de forma a atingir a proporção média
de um computador por cada 5 estudantes até
2010.
Fonte:
Documento
de
Eixo II
- Fazer crescer em 50% os
recursos humanos em I&D e a
produção
científica
referenciada
internacionalmente;
- Fazer crescer para 1500 por
ano
o
número
de
doutoramentos em Portugal e
no estrangeiro;
- Triplicar o esforço privado
em I&D empresarial, criando
as condições de estímulo
necessárias;
- Duplicar o investimento
público em I&D, de forma a
atingir 1% do PIB;
- Promover a criação e o
preenchimento progressivo, de
forma competitiva, de 1000
lugares adicionais para I&D
no Estado, por contrapartida
da extinção do número
necessário de lugares menos
qualificados noutros sectores
da Administração;
- Triplicar o número
patentes registadas.
apresentação
do
Eixo III
- Aproximar o nível de
VAB por trabalhador em
Portugal do nível médio
da União Europeia;
- Aumentar para 0,8% o
peso no PIB do I&D
empresarial;
- Aumentar para 4,7% o
peso do emprego nas
indústrias de alta e média
tecnologia no total da
economia;
- Incrementar para 11,4%
o peso das exportações de
sectores
de
alta
tecnologia;
- Aumentar o peso das
exportações nacionais no
PIB.
de
Plano
Tecnológico:
http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
24
Ver “Sistema de Monitorização do Plano Tecnológico”, em http://www.planotecnologico.pt/document/Apresentacao_SM.pdf
12
Working Paper (Jun. 2012)
Foi também considerado fundamental definir “indicadores de impacto”, que
permitissem aos decisores políticos e à sociedade civil analisar o impacto de médiolongo prazo do Plano Tecnológico, tendo sido definidas metas para 2010 para cada
um desses indicadores:
Fonte:
Documento
de
apresentação
http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
do
Plano
Tecnológico:
6. Principais impactos 2005-2010
Conforme referido ao longo do trabalho, no período 2005-2010 a política de
inovação foi enquadrada pelo Plano Tecnológico, enquanto “programa chapéu”
orientador e integrador de várias medidas (as 176 até final de 2009), mas também
impulsionador de iniciativas transversais ou sectoriais. Se bem que a taxa de
execução das 176 medidas que faziam parte do Plano Tecnológico em 2009
13
Working Paper (Jun. 2012)
(incluindo as 78 iniciais) era de 100% (muitas delas de execução contínua, como por
exemplo a iniciativa “Empresa na Hora” ou as “Novas Oportunidades”), interessa
analisar qual o impacto na economia da implementação do Plano Tecnológico,
analisando o período 2005-2010.
Sabendo que não é linear a análise esse impacto, dado que devido às características
de muitas das suas medidas muitos dos efeitos só serão visíveis a médio e longoprazo (ex.: Inglês no 1º ciclo do Ensino Básico ou o SIFIDE – investimento das
empresas em I&D), podemos fazer uma avaliação objetiva com base no seguinte:
Análise do cumprimento das metas definidas em 2005 para cada um dos três
Eixos do Plano Tecnológico;
Análise da evolução e cumprimento das metas dos chamados “indicadores de
impacto” (com metas definidas para 2010);
Análise da evolução de Portugal nos principais rankings internacionais na
área da inovação e da competitividade no período de vigência do programa
(2005-2010).
6.1. Análise do cumprimento das metas definidas para cada um dos três Eixos
do Plano Tecnológico;
A análise do Quadro 0 (ver em anexo) permite verificar que foram alcançadas
11 das 19 metas propostas para os três Eixos do Plano Tecnológico, para 2010,
havendo ainda mais 3 indicadores com metas muito próximas de serem atingidas.
Contudo, a análise por Eixo mostra que a situação é desigual em termos de
cumprimento das metas:
O Eixo II (Tecnologia), foi onde se registou uma percentagem mais
elevada de cumprimentos das metas, tendo sido atingidas 5 das 6 fixadas
em 2005. Apenas o indicador “despesa pública em I&D” não atingiu o
valor proposto (rácio de 1% do PIB), tendo atingido os 0,91% em 2009,
mas quase duplicando o valor que se registava em 2005 (0,48%). Neste
eixo, de salientar que se atingiu a meta de triplicar o número de patentes
registadas, bem como triplicar o esforço das empresas em I&D face ao
valor de referência em 2005 (0,24% em 2003 para 0,8 em 2009). Estes
valores refletem a forte aposta do Plano Tecnológico na Ciência e
Tecnologia (pela primeira foram afetos 1% do Orçamento do Estado para
a Ciência em 2008 e 1,6% em 2009), onde os valores de partida eram
bastante baixos, tendo-se conseguido um assinalável progresso no período
entre 2005-2010;
No Eixo I (Conhecimento), foram atingidas 5 das 8 metas fixadas em
2005, destacando-se o rácio de 50% de jovens no Ensino Secundário que
14
Working Paper (Jun. 2012)
opta pelas vias profissionalizantes, o facto de ter mais do que triplicado a
percentagem de agregados familiares com internet de banda larga ou de se
ter superado a meta proposta de 5,3 de número de investigadores por mil
habitantes (8,2 em 2008). Neste Eixo, destaque-se ainda os 14,3% de
população em idade ativa com diploma do ensino superior (em 2008),
perto da meta proposta de 15% (o valor de referência em 2005 era de
10,3%, relativo ao ano de 2003). A forte aposta política na Educação
(“Novas Oportunidades”, eixo Jovens), na generalização da Banda Larga
e utilização de computadores (programas “e-Escola”, “Magalhães” ou
“Ligar Portugal”) e na Ciência (programa “Ciência”) justificam os bons
resultados em termos de metas alcançadas no Eixo “Conhecimento” do
Plano Tecnológico;
O Eixo III (Inovação), foi onde se conseguiu uma menor percentagem de
metas atingidas (apenas 2 das 5 propostas). As metas superadas são as
relativas aos indicadores de investimento privado em I&D (atingiu-se os
0,8% em 2009) e de aumento das exportações em relação ao PIB entre
2005-2010 (27,8% para 29,8%). Para estes resultados contribuíram
positivamente programas como o “SIFIDE”, de incentivo fiscal à I&D
(reposto em 2005) ou os estímulos à exportação no da medida “Exportar
Mais”. Já nos indicadores referentes ao emprego nas indústrias de alta e
média tecnologia e às exportações dos setores de alta tecnologia ficaram
longe de terem sido atingidas as metas. Estes resultados podem ser
explicados, entre outros, pelo facto das alterações na estrutura produtiva
não serem tão imediatas quanto noutras áreas de política (devido a vários
factores que não são alvo de análise neste trabalho, como o nível de
qualificação dos dirigentes empresariais e dos seus trabalhadores, a pouca
capacidade de absorção de conhecimento e de ligação com as
universidades, a pequena dimensão das empresas ou a reduzida aposta nos
factores imateriais de competitividade, entre outros).
6.2. Análise da evolução e cumprimento das metas dos chamados “indicadores
de impacto” (com metas definidas para 2010);
A análise dos “indicadores de impacto” (Tabela 0, em anexo) permite
constatar que foram atingidas 13 das 25 metas definidas para 201025, ou seja,
cerca de metade. Constatamos que os indicadores onde as metas foram
superadas são os relativos à área da formação avançada de recursos humanos
(população com ensino superior, diplomados em ciência e tecnologia, novos
doutorados em ciência e tecnologia..), à sociedade da informação (agregados
familiares com banda larga, rácio de alunos por computados, serviços
25
Em 2005 foram definidos 21 indicadores de impacto para o Plano Tecnológico, tendo passado a 25 indicadores após uma
revisão efetuada em 2006.
15
Working Paper (Jun. 2012)
públicos online..), à ciência e investigação (nº investigadores por mil
empregados, produção científica por milhão de habitantes, despesa privada e
pública em I&D..) e aos setores mais intensivos em conhecimento e
tecnologia (emprego nos serviços de alta tecnologia, nº patentes e marcas
registadas). De referir que a maior parte das metas propostas para estes
indicadores foram ultrapassadas antes da data prevista, ou seja, antes de 2010,
resultado do esforço de implementação das medidas do Plano Tecnológico
associadas a esses indicadores.
Por seu lado, verifica-se que nos indicadores mais ligados à mudança da
estrutura produtiva e à indústria (como no emprego ou a criação de empresas
em setores de alta e média-alta tecnologia) não foram atingidas as metas
propostas. Outros indicadores, como o VAB (Valor Acrescentado Bruto) ou
as exportações de produtos de alta tecnologia registam valores apenas para o
ano de 2006, não sendo possível efetuar uma análise sobre o impacto nestas
variáveis.
6.3. Análise da evolução de Portugal nos principais rankings internacionais na
área da inovação e da competitividade
Em relação à evolução de Portugal nos principais rankings de competitividade e
inovação entre 2005-2010), e sabendo que não é fácil identificar qual o grau de
influência/impacto do Plano Tecnológico nessa evolução, podemos constatar o
seguinte:
De acordo com o “Union Innovation Scoreboard 2011” (ranking anual da
Comissão Europeia em política de inovação), Portugal foi o 5.º país que
mais progrediu no ranking da inovação na UE27 no período 2007-201126;
Portugal passou do 22º lugar (em 2006) para o 16º lugar (em 2011) na
UE27 no ranking da inovação, passando do grupo dos países em
“catching-up” para o grupo dos países “moderate innovators”, sendo líder
de crescimento neste grupo27;
Também o “Community Innovation Survey 2008” (CIS2008) indica que,
entre 2006 e 2008, Portugal foi o quarto país da União Europeia com mais
empresas inovadoras. A tabela é liderada pela Alemanha, situando-se a
26 Ver Quadro 1, em Anexo.
27 Ver Tabela 1 e Tabela 2, em Anexo.
16
Working Paper (Jun. 2012)
média da UE27 nos 52% (dados do publicados no dia 10 de Novembro
2010 pelo Eurostat);
Segundo o “Global Competitiveness Report 2010-2011” (Setembro 2010)
do World Economic Forum, Portugal voltou a subir no pilar Inovação,
colocando-se agora na 32ª posição numa lista de 139 países. Na edição de
2009-2010, Portugal havia já subido duas posições neste mesmo pilar;
O relatório “Doing Business 2011” (Banco Mundial, Novembro 2010),
Portugal subiu 17 posições no ranking que avalia o ambiente de negócios,
estando posicionado no 31.º lugar, numa lista de 183 países.
Mas se também olharmos para indicadores concretos utilizados para medir a
inovação, vemos que esta evolução tem sido consolidada:
Portugal foi o 1º país da UE27 com a maior taxa de crescimento no registo de
Patentes, de acordo com o “Union Innovation Scoreboard 2011”28;
A despesa total em Investigação e Desenvolvimento em Portugal duplicou
entre 2005 e 2010, atingindo os 1,6% do PIB nacional em 2010 (0,80% em
2005), depois de ter atingido o máximo histórico de 1,71% em 200929;
Em valor absoluto, em 2009, a despesa total em I&D, em Portugal,
ultrapassou os 2.791 milhões de euros, um valor mais do que o dobro daquele
que havia sido registado em 2005 (1.201 milhões de euros)30;
Relativamente ao número de investigadores, atinge os 8,2 investigadores
(ETI) por mil ativos, equivalentes a 45.909 investigadores quando medidos
em equivalente a tempo integral (ETI), para um pessoal total de 52.313
(ultrapassando a meta definida pelo Plano Tecnológico para 2010: 6,0
investigadores (ETI) por mil ativos, situando-se o valor da média da OCDE
nos 7,2 por mil ativos)31;
Acresce que o total das exportações das 100 empresas que mais investiram
em I&D em 2008 representou mais de 25% do total das exportações nacionais
e cresceu a uma taxa quatro vezes superior à das exportações do conjunto da
economia nacional, entre 2007 e 200832;
Por outro lado, o valor acrescentado bruto (VAB), do conjunto das 100
empresas que mais investiram em I&D em 2008 cresceu a uma taxa de 12%,
i.e., quase dez vezes superior à do VAB gerado no conjunto da economia
nacional, entre 2007 e 200833;
28 Ver Tabela 3, em Anexo.
29 Fonte: Eurostat, 2011.
30 GPEARI (2010), IPCTN - Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2009, GPEARI/MCTES.
31 GPEARI (2010), IPCTN - Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2009, GPEARI/MCTES.
32 Dados GPEARI/MCTES (2010), com base no IPCTN 2009.
33 Dados GPEARI/MCTES (2010), com base no IPCTN 2009.
17
Working Paper (Jun. 2012)
Balança de Pagamentos Tecnológica: Portugal conseguiu em 2007, pela
primeira vez, um saldo positivo da Balança Tecnológica, que reflete as
transações de serviços intensivos em conhecimento (marcas, patentes,
royalties, licenciamentos, serviços técnicos especializados, etc.). O saldo
continuou positivo em 2008 e 2009 (foi negativo em 2010), continuando
positivo em 2011 (com valor recorde em termos de exportações)34.
7. Conclusão
O Plano Tecnológico foi definido como uma agenda para a modernização de
Portugal a médio e longo-prazo, tendo como base um forte impulso político interno
(resultante de um compromisso eleitoral) e um alinhamento político externo, através
do compromisso de resposta ao programa de implementação da Estratégia de Lisboa
em Portugal na sua vertente de competitividade e de qualificações. Através da análise
dos documentos disponíveis (Documento de apresentação, Relatórios de Progresso e
Portal do Plano Tecnológico) constata-se que o Plano Tecnológico constitui um bom
exemplo de “planeamento racional”, seguindo a tradição dominante nas políticas de
planeamento (rational planning process). De facto, foi possível identificar que se
tratou de uma clara opção política (aposta na inovação através do “choque
tecnológico” em contraponto à aposta nos baixos custos de produção, via “choque
fiscal”), que teve como base a legitimação política decorrente da mudança de ciclo
político e da sua inclusão no Programa do XVII Governo Constitucional.
O processo de planeamento partiu de um diagnóstico à situação do país nas várias
componentes da competitividade e pela opção política pela “inovação” e pelas
“qualificações” como resposta ao diagnóstico elaborado. Foram definidos os
principais objetivos e finalidades (a que se propunha o programa), definidas as
principais metas a atingir e a propostas de medidas e executar. Foram também
definidos os instrumentos de implementação (e de coordenação), de monitorização e
de avaliação.
No que respeita à avaliação e impacto do Programa, o processo de avaliação
incorpora indicadores de execução física e financeira (relativa a cada medida), e os
chamados “indicadores de impacto”, que pretendiam analisar o efeito da
implementação do Plano Tecnológico na economia num horizonte temporal de 5
34 Fonte: Banco de Portugal (2012), Balança de Pagamentos Tecnológica
18
Working Paper (Jun. 2012)
anos. Os indicadores de execução de cada medida permitiram uma avaliação em
contínuo, possibilitando a correção de trajetórias e a redefinição/reorientação das
medidas que estavam a ser executadas, tendo em vista o cumprimento dos objetivos a
que se propunham. Em relação aos “indicadores de impacto”, permitem neste
momento uma análise objetiva do grau de cumprimento das metas propostas em 2005
para o ano de 2010 (embora com a ressalva de que para muitos destes indicadores
não há ainda valores para 2010, o que limita as conclusões a retirar).
Podemos ainda analisar o impacto do Plano Tecnológico analisando o progresso de
Portugal nos principais rankings internacionais de inovação entre 2005-2010.
Embora seja difícil perceber a relação e o efeito direto da implementação das
medidas na evolução registada nesses rankings, o facto é que foi no período de
execução do Plano Tecnológico que se registou um maior progresso de Portugal em
termos de estatísticas e rankings de inovação, quer em termos absolutos quer
relativos (por exemplo, progresso superior à média da UE nos indicadores de ciência
e tecnologia, de formação avançada de recursos humanos ou de sociedade da
informação).
No entanto, a avaliação a posteriori, e de natureza mais qualitativa, necessita de uma
investigação mais aprofundada, centrada nos resultados da intervenção, nos
processos de aprendizagem (centrada no conhecimento e nas competências
produzidas e difundidas), bem como na capacitação dos atores que foi gerada.
19
Working Paper (Jun. 2012)
Bibliografia
Banco de Portugal (2012), www.bportugal.pt
Documentos
Temáticos
do
Plano
Tecnológico:
http://www.planotecnologico.pt/document/Doc_1.pdf
Eurostat (2012), http://epp.eurostat.ec.europa.eu
Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa (2005), PNACE, Plano Nacional
de Acção para o Crescimento e o Emprego, Presidência do Conselho de Ministros,
www.qren.pt/download.php?id=53
Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico (2006),
Sistema de Monitorização do Plano Tecnológico, Presidência do Conselho de Ministros,
http://www.planotecnologico.pt/document/Apresentacao_SM.pdf
Gabinete do Coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico (2009),
Relatório de Progresso do Plano Tecnológico, Presidência do Conselho de Ministros,
http://www.planotecnologico.pt/document/RelatorioCCPT9Julho09.pdf
GPEARI (2010), IPCTN - Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional 2009,
GPEARI/MCTES.
IMD - International Institute for Management Development (2005), World Competitiveness
Yearbook 2005, IMD
MCTES (2005), Iniciativa Ligar Portugal, MCTES, www.ligarportugal.pt
Portal do Plano Tecnológico da Educação (2010), www.pte.gov.pt, Plano Tecnológico da
Educação, Ministério da Educação
OECD (2005), Education at a Glance 2005, OECD
Portal do Plano Tecnológico: www.planotecnologico.pt, Presidência do Conselho de
Ministros
PRO INNO Europe (2012), Innovation Union Scoreboard 2011, European Commission
PRO INNO Europe (2011), Innovation Union Scoreboard 2010, European Commission
PRO INNO Europe (2006), Innovation European Scoreboard 2006, European Commission
PRO INNO Europe (2005), Innovation European Scoreboard 2005, European Commission
QREN (2011), Quadro de Referência Estratégico Nacional, www.qren.pt
UCPT - Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico (2005), Plano Tecnológico,
Ministério
da
Economia
e
da
Inovação,
http://www.planotecnologico.pt/document/OPlanoTecnologico.pdf
20
Working Paper (Jun. 2012)
Anexo
Gráfico 1 – Taxa de Risco de Pobreza (após transferências sociais) - 2005
Eixo I
- Permitir que em 2010 o
número
de
jovens
abrangidos pelas vias
profissionalizantes
corresponda a metade do
total de jovens a cumprir o
ensino secundário;
- Aumentar para 15% a
população em idade ativa
com diploma do ensino
superior;
- Garantir que, no escalão
etário dos 20-24 anos, 65%
da população termina o
ensino secundário;
- Aumentar o número de
diplomados em ciência e
tecnologia para 12 em cada
mil habitantes;
Quadro 0 – Metas para cada Eixo do Plano Tecnológico
Eixo II
Eixo III
√
50%
(10/11)
14,3%
(2008)
58,7%
(2010)
√
20,7
(2008)
√
- Aumentar o número de
investigadores em Portugal
para 5,3 em cada mil
habitantes;
8,2
(2008)
- Assegurar, na população
entre os 25 e os 34 anos,
que 9,3 em cada mil
habitantes
sejam
(sem
dados)
- Fazer crescer em 50% os
recursos humanos em I&D e
a
produção
científica
referenciada
internacionalmente;
- Fazer crescer para 1500 por
ano
o
número
de
doutoramentos em Portugal e
no estrangeiro;
√
√
1500
(2009/2010)
√
- Triplicar o esforço privado
em I&D empresarial, criando
as condições de estímulo
necessárias;
Mais que
triplicou
(2009)
- Duplicar o investimento
público em I&D, de forma a
atingir 1% do PIB;
0,91%
(2009)
- Promover a criação e o
preenchimento progressivo,
de forma competitiva, de
1000 lugares adicionais para
I&D
no
Estado,
por
contrapartida da extinção do
número necessário de lugares
menos qualificados noutros
sectores da Administração;
>1000
(2009)
- Triplicar o número de
patentes registadas.
√
√
- Aproximar o nível de
VAB por trabalhador
em Portugal do nível
médio
da
União
Europeia;
- Aumentar para 0,8%
o peso no PIB do I&D
empresarial;
√
0,8% (2009)
- Aumentar para 4,7%
o peso do emprego nas
indústrias de alta e
média tecnologia no
total da economia;
3,30%
(2008)
- Incrementar para
11,4% o peso das
exportações
de
sectores
de
alta
tecnologia;
6,99%
(2006)
- Aumentar o peso das
exportações nacionais
no PIB.
√
27,8% (2005)
para
29,8%
(2010)
21
Working Paper (Jun. 2012)
doutorados em C&T;
√
- Triplicar o número de
agregados familiares com
acesso à Internet em banda
larga até 2010;
- Multiplicar o número de
computadores nas escolas,
de forma a atingir a
proporção média de um
computador por cada 5
estudantes até 2010.
50%
(2010)
√
1 por cada
2,1
(08/09)
Tabela 0 – Evolução dos Indicadores de Impacto do Plano Tecnológico
Indicador de Impacto
População com diplomas de ensino superior
(em % do grupo etário 25-64 anos)
População com o ensino secundário (em % do
grupo etário 20-24 anos)
Diplomados em ciência e tecnologia por 1000
habitantes (entre os 20-29 anos)
15%
65%
12%
Formação ao longo da vida (por 100 habitantes
do grupo etário 25-64 anos)
12,5%
Utilização regular da Internet pelos indivíduos
(16-74, pelo menos 1 vez por semana, nos
últimos 3 meses)
60%
Percentagem de agregados familiares com
ligação à Internet em Banda Larga
Alunos por computador
Percentagem de Serviços Públicos disponíveis
online
Investigadores por 1000 empregados
Novos doutorados em C&T por 1000 habitantes
(entre os 25-34 anos)
Produção científica por milhão de habitantes
50%
5
100%
5,3
0,45
609
Pessoal total (ETI) em I&D por permilagem da
população ativa
7,5
Investigadores (ETI) por permilagem de
população ativa
6,0
Despesa pública em I&D (Estado, Ensino
Superior e Instituições Privadas sem fins
lucrativos, em % do PIB)
1%
Despesa das empresas em I&D (em % do PIB)
Emprego nas indústrias de alta e média-alta
tecnologia (em % do total do emprego)
Emprego nos serviços de alta tecnologia (em %
do total do emprego)
Portugal
Meta 2010
0,8%
4,70%
1,8%
União Europeia
Valor Inicial
Último valor
Valor Inicial
Último valor
10,5%
14,3%
20,90%
24,30%
2003
2008
2003 | UE27
2008 | UE27
49,6%
58,7%
77,1%
79%
2004
2010
2004 | UE27
2010 | UE27
8,2%
20,7%
12,3%
14,5%
2003
2008
2003 | UE27
2008 | UE27
4,3%
6,5%
9,3%
9,3%
2004
2009
2004 | UE27
2009 | UE27
25%
51%
36%
60%
2004
2010
2004 | UE27
2009 | UE27
12%
57%
15%
67%
2004
2011
2004 | UE27
2011 | UE27
17,3
2,1
2001/2002
2008/2009
40%
100%
41%
71%
2004
2009
2004 | UE25
2009 | UE27
4,0
8,2
6,0
6,4
2004
2008
2004 | UE27
2007 | UE27
0,33
0,45
0,49
0,49
2003
2008
2003
2003
373
703
664
871
2004
2009
2004 | UE25
2009 | UE27
4,3
2001
9,4
2009
9,4
2001 | UE15
10,5
2003 | UE15
3,7
7,2
5,3
5,6
2003
0,48%
2008
0,91%
2003
0,67%
2007
0,69%
2003
2009
2003
2008
0,24%
0,8%
1,19%
1,21%
2003
2009
2003 | UE27
2008 | UE27
3,33%
3,30%
7,23%
6,69%
2002
2008
2002 | UE27
2007 | UE27
1,45%
1,83%
3,42%
3,29%
2001
2008
2001 | UE27
2007 | UE27
22
Working Paper (Jun. 2012)
Percentagem de trabalhadores que utilizam
computadores c/ ligação à Internet
40%
Investimento em Capital de Risco - Early Stage
Investments (em % do PIB)
0,15%
Valor acrescentado dos sectores de alta e
média-alta tecnologia na indústria (em % do
VAB da economia)
6,2%
Valor acrescentado dos serviços de alta
tecnologia (em % do VAB da Economia)
6%
Exportação de produtos de alta tecnologia (em
% das exportações totais)
Criação de empresas em sectores de alta e
média alta tecnologia (em % do total de
empresas criadas no período)
11,40%
12,5%
Patentes EPO (por milhão de habitantes)
12
Marcas comunitárias registadas (por milhão de
habitantes)
50
19%
29%
32%
41%
2004
2009
2004 | UE27
2009 | UE27
0,025%
0,077%
0,022%
0,095%
2010 | UE27
2004
2010
2004 | UE15
3,84%
3,33%
7,60%
2003
2006
2002 | UE15
4,46%
4,48%
4,9%
2002
2006
2002 | UE15
7,477%
6,991%
18,568%
16,645%
2003
2006
2003 | UE27
2006 | UE27
3,40%
3,72%
2004
2009
3,99
14,34
104,12
115,8
2002
2009
2002 | UE27
2009 | UE27
36,5
108,1
60,9
122,4
2002
2008
2002 | UE27
2008 | UE27
A amarelo: indicadores com metas já atingidas
A laranja: indicadores com metas quase a serem atingidas
Evolução de Portugal no Ranking Europeu de Inovação (Innovation
Union Scoreboard)
Tabela 1 - Quadro síntese da evolução de Portugal no ranking Europeu de Inovação 2006-2011:
2006
2007
2008
2009
2010
2011
22º
22º
17º
16º
15º
16º
Catching-up”
Catching-up”
Moderate
Innovators
Moderate
Innovators
Posicionamento de
Portugal no contexto
da UE27
Agrupamento de
países a que
pertence Portugal
Moderate
Innovators
Moderate
Innovators
Fonte: Innovation Union Scoreboard 2011
Tabela 2 - Portugal é “growth leader” no grupo dos países “Moderate Innovators” (2007-2011):
Growth
rate
Growth leaders
Moderate growers
Slow growers
Innovation
leaders
1.0%
Finland (FI)
Germany (DE)
Denmark (DK), Sweden (SE)
Innovation
followers
2.4%
Cyprus (CY), Estonia (EE),
Slovenia (SI)
Austria (AT), Belgium (BE), Luxembourg (LU), United
Kingdom (UK)
France (FR), Ireland (IE),
Netherlands (NL)
Moderate
innovators
2.5%
Malta (MT), Portugal (PT)
Czech Republic (CZ),
Hungary (HU), Italy (IT),
Poland (PL), Slovakia (SK)
Group
Modest
4.4%
Bulgaria (BG)
Latvia (LV), Romania (RO)
innovators
Average annual growth rates as calculated over a five-year period
Fonte: Innovation Union Scoreboard 2011
Greece (GR), Spain (ES)
Lithuania (LT)
23
Working Paper (Jun. 2012)
Quadro 1 - Portugal foi o 5º país da UE27 que mais progrediu entre 2007-2011 e é líder de
crescimento no seu grupo
0.850
0.800
SE
DK
0.750
DE
Innovation performance
0.700
FI
0.650
0.600
UK
LU
BE
AT
NL
IE
0.550
FR
SI
CY
0.500
0.450
IT
EE
PT
CZ
ES
0.400
HU
0.350
MT
GR
0.300
PL
SK
RO
LT
0.250
BG
LV
0.200
0.150
-1.0%
0.0%
1.0%
2.0%
3.0%
4.0%
5.0%
6.0%
7.0%
8.0%
9.0%
10.0%
Average annual growth in innovation performance
Fonte: Innovation Union Scoreboard 2011
Tabela 3- Portugal apresenta-se bem posicionado na evolução (melhoria) de vários indicadores
de inovação:
Posição de Portugal no
Indicador
ranking de crescimento
% youth aged 20-24 having attained at least upper secondary level
education
Innovative SME’s collaborating with others as % of SME’s
PCT patents applications per billion GDP (in PPP€)
Public R&D expenditures (% of GDP)
SME’s introducing product or process innovations as % of SME’s
Business R&D expenditures (% of GDP)
PCT patents applications in societal challenges per billion GDP (in
PPP€)
Sales of new-to-market and new-to-firm innovations as % of
turnover
Community designs per billion GDP (in PPP€)
International scientific co-publications per million population
Knowledge-intensive services exports as a % of total services
exports
Non-EU Doctorate students as a % of all doctorate holders
1º
1º
1º
3º
3º
4º
4º
5º
7º
7º
9º
10º
Fonte: análise própria, a partir do Innovation Union Scoreboard 2011
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