Apresentação
Apresentação
Estar de acordo com a proposta da assembleia do XXVII Encontro Nacional da Anpoll, realizada em julho de 2012, na qual se decidiu que o tema da
revista para 2013 seria PENSAR E PRODUZIR INOVAÇÃO EM LETRAS
E LINGUÍSTICA foi o que moveu a organização do presente número.
A julgar pelos textos submetidos, compreendeu-se que para pensar e
produzir “inovação” em Literatura não se pode descuidar da investigação
sobre sua interface com o meio digital. Nesse sentido, a primeira parte da
revista reúne um corpus de sete artigos acerca do tema em questão. A segunda parte, apresenta uma seção com outros sete estudos que contemplaram
uma discussão não menos relevante sobre perspectivas críticas e teóricas
contemporâneas.
O artigo de Maria Clara Paixão de Sousa intitulado TEXTO DIGITAL: UMA PERSPECTIVA MATERIAL abre o rol dos artigos que
prometem uma discussão atual sobre a relação escrita e meio digital,
pois avalia em que medida a difusão digital instaura uma nova materialidade para o texto. Após postular que da participação conjunta entre
a lógica artificial e a lógica natural resulta um documento “descorporificado”, sendo essa a propriedade conceitual fundante do texto digital, o artigo conclui apostando na ideia de que para uma compreensão
da dimensão material completa do texto digital urge pensá-lo como a
superfície tecnológica de uma revolução na nossa sociedade de saber.
Em PROCESSOS INTERDISCURSIVOS EM LETRAS: LINGUAGENS
E MÍDIAS NO PROCESSO DE INOVAÇÃO DA ÁREA, Rogério Barbosa
da Silva e Wagner José Moreira centram o investimento discursivo no diálogo entre a linguagem e o tecnológico dentro de processos que recortam as
esferas histórica, temporal, discursiva e audiovisual, para dedicar especial
atenção às poéticas interartes.
No artigo CULTURA E TECNOLOGIA: A AUTOMAÇÃO NOS PROCESSOS CRIATIVOS DAS NARRATIVAS, Fernando Foglianoconsidera
que a automação é o aspecto mais evidente da presença de tecnologias nos
dispositivos utilizados para a produção, pós-produção e disseminação da
atividade cultural, compreendendo a Linguagem como elemento integrador
na busca pelo estabelecimento de um cenário capaz de atender às demandas
conceituais colocadas pela convergência tecnológica.
Em NOVOS PROCESSOS DE CRIAÇÃO LITERÁRIA? Alckmar Luiz
dos Santos indaga sobre o estatuto de escritos sobre obras virtuais investigando em que medida textos de especulação, de esboço e projeto de criações
digitais podem ser lidos como objetos de arte, e de arte literária.
Já discorrer sobre os desafios enfrentados por pesquisadores e professores interessados no ensino de literatura digital em instituições formais de
ensino é o que se pretende em DESAFIOS PARA O ENSINO DA LITERATURA DIGITAL, de Edgar Roberto Kirchof. O artigo privilegia a relação
entre poéticas de vanguarda e a poesia digital e apresenta os resultados de
alguns projetos pedagógicos realizados com ensino de literatura digital em
diferentes universidades europeias.
PALAVRA, CENA E MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA: EDIÇÃO ONLINE
DE OBRAS DRAMÁTICAS CLÁSSICAS, artigo de Marcus Mota, entre sucessos e adversidades, se exibe como um relato de experiência de um projeto
realizado recentemente no Laboratório de Dramaturgia da Universidade de
Brasília, intitulado “Tragédia e hipertexto: desenvolvimento de edição online
de obras dramáticas clássicas”, que objetivava a gestação de um protótipo
de uma interface online por meio da qual se disponibilizaria ao usuário um
conjunto de dados visuais e sonoros elaborados a partir da textualidade de
uma tragédia grega.
O artigo AS TESSITURAS INVISÍVEIS DO VERBO, de Cleomar Rocha, Carina Ochi Flexor e Elias Bitencourt, discorre sobre a relação texto e
imagem em código digital propondo que, mesmo em versões múltiplas do
hipertexto, o texto mantém sua estrutura linear, tanto de escrita quanto de
leitura. Conclui-se com uma reflexão sobre a literatura digital questionando se há um gênero novo ou variações da mesma matriz, em outro suporte.
Afora os textos diretamente relacionados à temática PENSAR E PRODUZIR INOVAÇÃO EM LITERATURA, também compõe este número sete outros artigos que, embora tangenciem a referida ideia de inovação, não deixam
de discutir temas atuais caros aos estudos literários, seja no que diz respeito às
relações teoria literária e interdisciplinaridade, o lugar do textor (no) contemporâneo, às diferentes práticas de escritura, bem como à aproximação entre
cenografia e hipertextualidade e as relações entre cinema e literatura.
Percorrendo territórios outros, o artigo EM TORNO DA PAISAGEM:
LITERATURA E GEOGRAFIA EM DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR, de
Ida Alves abre a segunda parte da revista. Aqui, a pesquisadora desenvolve
uma reflexão sobre a relação Literatura e paisagem, a partir de fundamentação teórico-crítica que trata a paisagem como construção cultural capaz de
expressar de maneira questionadora a relação entre sujeito, mundo e palavra.
Para discutir a inserção da Literatura no espaço social enquanto ferramenta de atuação cultural, no artigo LITERATURA COMO FERRAMENTA PARA PENSAR E INTERVIR NO MUNDO, Rejane Pivetta de Oliveira
elege como objeto de análise o papel de autor-produtor de Sérgio Vaz, considerando-o um dos representantes mais significativos da criação literária
emergente na periferia de São Paulo.
Já em MULTIDÃO E VULNERABILIDADE: POETAS E NOVAS POLÍTICAS DE SUBJETIVAÇÃO, Sandro Ornellas estuda a figura do poeta como
um tipo de crítico cultural. O artigo se concentra em avaliar os processos
de subjetivação ligados a certas práticas político-culturais contemporâneas,
amarrando essa discussão à noção de vulnerabilidade articulada à políticas
discursivas de gênero.
Em PENSANDO A TEORIA LITERÁRIA à LUZ DA INTERDISCIPLINARIDADE, Luiz Carlos Moreira da Rocha, para justificar a premência
de interação entre diferentes disciplinas acadêmicas, avalia em que medida a
transposição de contextos e personagens históricos para o ambiente literário
e formas de narrativa mantêm na ordem do dia as postulações da metaficção
historiográfica, nova história e pós-colonialismo.
Em A INOVAÇÃO DO MAL ESCRITO: LIMA BARRETO E ROBERTO ARLT, de Keli Pacheco, articula-se uma discussão sobre a relação entre o “ordinário” do trabalho e a “excepcionalidade” artística, tendo como
hipótese de leitura a ideia que aborda o mal escrever como um importante
modo de questionamento da instituição literária e do próprio mito de autor.
Na sequência, com o artigo intitulado ENTRE A MEMÓRIA E O DESEJO DAS CIDADES INVISÍVEIS: A CENOGRAFIA DO DISCURSO LITERÁRIO, Ernani Cesar de Freitas, Fabiane Verardi Burlamaque, Débora
Facini investem numa análise de As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, considerando a sua construção não linear a partir do cruzamento de teorizações
sobre os conceitos de cenografia e hipertexto.
E, finalmente, Cláudio Celso Alano Cruz, em O BONDE DE ORFEU:
CONSIDERAÇÃO SOBRE UM ENGUIÇO, sem disfarçar o laivo testemunhal, registra suas impressões de leitura sobre a peça Orfeu da Conceição,
de Vinicius de Moraes. O artigo tece considerações sobre a adaptação cinematográfica Orfeu negro que o diretor francês Marcel Camus concluiu em
1959, e discute em que medida a transposição para uma favela carioca do
mito grego de Orfeu foi capaz de suscitar uma reflexão sobre a constituição
de uma consciência negra no país.
Para finalizar, agradecemos especialmente aos autores que contribuíram
para a corporeidade deste número, e que esta edição seja capaz de animar
diálogos sobre a questão do pensar/produzir inovação na esfera dos estudos literários.
Andréia Guerini
StélioFurlan
Organizadores