Comicidade

Resumo: A pesquisa e o trabalho com a comicidade e suas técnicas vêm desenvolvendo formas potentes de presença. Nos processos de criação e produções do Coletivo Bonobando, "rir de si" tornou-se uma chave para atritar micro e macro políticas na cidade. Neste artigo, apresentarei procedimentos realizados em nossos processos, analisando-os a partir da relação entre comicidade e política, destacando a centralidade da noção de "brincadeira" em nosso trabalho. Palavras-chave: Comicidade; Arte e política; Brincadeira.

Abstract: The research and work with comicality and its techniques have developed potent forms of presence. In Coletivo Bonobando"s processes of creation and production, "laughing at oneself" has become a key to creating tension with the micro and macropolitics of the city. In this article, I present procedures from our processes, which I analyze based on the relationship between comicality and politics, with special emphasis on the centrality of the notion of the "brincadeira" (play) in our work.

O riso tem sido motivo de reflexão de diversos teóricos e filósofos. Contudo, no campo das artes cênicas, são raros os trabalhos que abordem o ofício do ator na cena cômica sem restringirem-se a formas, gêneros ou estéticas específicas. Diante disso, esta pesquisa busca investigar possibilidades de construção ou potencialização dos efeitos risíveis no trabalho do ator dentro de uma cena cômica através dos gestos. Para isso, são tomados como referencial teórico os pensamentos do filósofo francês Henri Bergson a respeito do riso. A partir dos estudos do pensador e de sua teoria do mecânico colado no vivo, traçam-se paralelos com as reflexões de encenadores como Stanislavski, Burnier e Dario Fo, encontrando neles aproximações com a prática teatral. A partir daí, observa-se no gesto do ator a possibilidade da utilização das reflexões bergsonianas na cena cômica. Do ponto de vista metodológico, são analisadas duas oficinas realizadas com os atores-alunos dos cursos de graduação em Interpretação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). Estas incursões práticas foram estruturadas a partir de exercícios criados pelas relações entre as ideias de Bergson e a prática teatral. Por meio delas, analisam-se as implicações que a utilização do gesto trouxe à prática destes atores-alunos nas oficinas e suas possíveis contribuições para a cena cômica

Essa dissertação investiga o processo de Baladas Mortais, uma pesquisa cênica sobre violência, sexualidade e comicidade. A investigação parte da pergunta: por que um certo grupo de pessoas é atraído pela experiência estética da violência? Para isso, a pesquisa, em processo colaborativo, se propôs a analisar a questão tendo como dispositivo fundamental o disco Murder Ballads da banda Nick Cave and the Bad Seeds, as estéticas trash e camp e os estudos sobre o teatro do Grand-Guignol. Os ensaios aconteceram às segundas-feiras pela manhã, durante oito meses com doze atores. O processo finalizou-se na realização do espetáculo Baladas Mortais, apresentado duas vezes junto à festa Sangria no espaço independente És uma Maluca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O processo contou com uma grande produção de materiais: diários, textos, fotos, vídeos, entrevistas, entre outros. Analiso aqui o processo do espetáculo por meio desses materiais residuais. A análise é realizada tomando por base a criação de cada personagem, cujo desenvolvimento parte de uma música respectiva do álbum, sempre em diálogo com as experiências do ator, as referências de outros meios e a percepção do mundo que nos cerca. Os personagens e suas respectivas cenas são síntese de nossos diálogos e é a eles que devemos retornar para tentarmos compreender as relações entre festa, violência, sexualidade e exclusão na contemporaneidade.

Dificilmente se encontra uma instituição regular voltada para a formação do ator que deseja trabalhar especificamente com a cena cômica. Exceto em especificidades estéticas, como clowns e mímicos, entende-se que a prática deste artista raramente é fruto de uma escola tradicional ou formação acadêmica. Partindo destas afirmações, o presente artigo busca apontar a importância da experiência prática na formação do ator cômico. Para isso, inicia suas reflexões defendendo que, apesar desta aparente ausência de formação clássica, não significa que tal artista não possua um repertório técnico ou que trabalhe apenas com elementos subjetivos como "talento" e "dom natural". Na realidade, parte-se do conceito de bricolagem de Leví-Strauss, para demonstrar que o aprendizado do ator cômico pode ser fruto de uma intrincada rede de intersecções e seleções de materiais apreendidos em suas vivências práticas. A partir deste ponto, o artigo elenca apontamentos de encenadores como Stanislavski, Grotowski, Eugenio Barba e Dario Fo para analisar como tais reflexões podem influenciar o trabalho na cena cômica.