Refletir sobre a possibilidade de uma clínica fenomenológico-existencial é ainda hoje um grande desafio para os profissionais e estudiosos deste campo. Por se tratar de um trabalho que parte da filosofia, este se revela por vezes mais... more
Refletir sobre a possibilidade de uma clínica fenomenológico-existencial é ainda hoje um grande desafio para os profissionais e estudiosos deste campo. Por se tratar de um trabalho que parte da filosofia, este se revela por vezes mais árduo, ao se mostrar carente de pressupostos psicológicos. No entanto, esta carência, longe de ser um impedimento, abre espaço para pensarmos em uma clínica desembaraçada das amarras cientificistas e positivistas que impregnaram a psicologia desde o seu nascimento. Frente a essa possibilidade, destacamos dentre as filosofias fenomenológicas e existenciais a de Jean-Paul Sartre, devido à constante preocupação presente em sua extensa obra de considerar criticamente as teorias psicológicas. É diante deste panorama que pretendemos, neste artigo, levantar algumas considerações sobre o desafio de pensar e realizar uma psicologia fenomenológico- existencial, tendo em vista a importância de sustentar o caráter crítico do qual ela é oriunda. Para tal, discutimos o problema da “importação” de conceitos por via de noções fundamentais do pensamento de Sartre, como liberdade e má-fé.
In the interchanges of the literary and the biographical, we are interested in shedding light on the Sartrian concept of “existential psychoanalysis” – a method that aims to understand the psychic constitution of the individual from his... more
In the interchanges of the literary and the biographical, we are interested in shedding light on the Sartrian concept of “existential psychoanalysis” – a method that aims to understand the psychic constitution of the individual from his socio-historical reality. Gustave Flaubert is the concrete case on which Sartre focuses in the meticulous effort to demonstrate his “treatise”. The little Gustave resists all the attempts of those who set about the difficult task of teaching him to read. Regarded as incapable: “you will be the idiot in the Family”, he chooses passivity and inertia as a means of adapting to a world that appears hateful to him. Acting as an actor, the boy plunges into the imaginary world of representation, both in his life and in his projects, embodying the Sartrian maxim expressed in Jean Genet’s study: “what matters is not what they make of us, but what we ourselves make of what they have made of us”.