Ao longo dos tempos o sangue sempre foi considerado sinónimo de vida. Este simbolismo ganhou expressão concreta no último século com a criação dos derivados do sangue. O desenvolvimento do fraccionamento do plasma, em particular, colocou...
moreAo longo dos tempos o sangue sempre foi considerado sinónimo de vida. Este simbolismo ganhou expressão concreta no último século com a criação dos derivados do sangue. O desenvolvimento do fraccionamento do plasma, em particular, colocou à disposição da medicina produtos hoje imprescindíveis no tratamento das mais diversas condições. Transacções de milhões são efectuadas anualmente por uma indústria cuja matéria-prima depende, paradoxalmente, das doações voluntárias e muitas vezes graciosas de cidadãos altruístas. Metáfora de vida e de morte, o sangue encerra em si um forte valor simbólico. O seu carácter misterioso e místico permeia culturas, tradições e religiões, que desde sempre celebraram os seus poderes divinos e curativos. Esta reverência foi-se desvanecendo à medida que a biologia do sangue foi sendo desvendada. Graças ao esforço da ciência, o papel da maioria dos componentes do fluido vital não oferece hoje grande mistério. Uma fracção do sangue é ocupada por células especializadas-os glóbulos vermelhos transportam oxigénio, os glóbulos brancos conbatem infecções e as plaquetas produzem coágulos que impedem hemorragias fatais. Separadas as células, sobra a parte líquida ou plasma, que contém proteínas (incluindo albumina, imunoglobulinas e factores de coagulação), sais minerais e outras substâncias dissolvidas em água. Distribuídos pelo corpo por uma rede imensa de artérias, veias e capilares, os nossos 6 litros de sangue percorrem num dia uma distância equivalente à que separa Lisboa da Nova Zelândia. O desenvolvimento do fraccionamento de plasma está intimamente ligado à segunda guerra mundial [1]. Cientes de que a maioria das mortes em campo de batalha resultam da perda de sangue, as forças armadas americanas encetaram a procura por derivados de sangue que fossem estáveis, seguros e compactos, e pudessem substituir o sangue inteiro. Neste contexto, solicitaram em 1940 ao Dr. Edwin Cohn, um bioquímico da Universidade de Harvard, que identificasse no plasma bovino, uma matéria-prima abundante, um substituto transfusível alternativo. À época, a investigação de Cohn em química-física de proteínas era de cariz fundamental, com foco clínico mínimo. Porém, o saber científico acumulado permitiu à equipa de Cohn criar um método inovador que produzia fracções ricas em albumina, a proteína dominante no plasma. Face às semelhanças