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António Fernando Cascais
  • New University of Lisbon
    School of Social and Human Sciences
    Department of Communication Sciences
    Ave. of Berna, 26C, Torre B, 5º piso
    1069-061 Lisbon
    Portugal

António Fernando Cascais

  • António Fernando Cascais Scholar at the Department of Communication Sciences, School of Social and Human Sciences, Ne... moreedit
A obra Anatomia. Arte & Ciência, em co-autoria de João Lobo Antunes e Manuel Valente Alves, é a todos os títulos notável, para o que não deixa de contribuir também a luxuosa qualidade gráfica da edição. Nela se reúnem e selecionam algumas... more
A obra Anatomia. Arte & Ciência, em co-autoria de João Lobo Antunes e Manuel Valente Alves, é a todos os títulos notável, para o que não deixa de contribuir também a luxuosa qualidade gráfica da edição. Nela se reúnem e selecionam algumas dezenas de reproduções de desenhos anatómicos da autoria de estudantes de Belas-Artes, identificados na sua maioria, e todos executados (com uma única exceção) nas quatro primeiras décadas do século XX, embora uma parte não negligenciável deles não se encontre datada. No seu conjunto, o livro restitui à memória pública uma coleção de inestimável valor conservada no Museu de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sobre a qual desenvolve igualmente uma pesquisa historiográfica até hoje inédita. Com efeito, a originalidade deste estudo, no preciso tema de que trata, se constitui por si só uma mais-valia absoluta, não deixa de consubstanciar, pelo próprio facto dela, uma denúncia do mar de esquecimento, negligência e desmemória crítica e académica a que desde sempre têm estado sujeitos preciosíssimos patrimónios nacionais que nunca entre nós mereceram atenção idêntica à que foi votada noutros países, que costumamos ter por modelares, aos patrimónios que são os deles. A rotura com a inércia, rotura que este livro significa, deverá por isso servir igualmente à muito desejável prossecução de um campo de pesquisa empírica em que ele figura como inspirador e guia. A coleção foi originalmente reunida pelo médico Henrique de Vilhena, professor de Anatomia Artística na Escola de Belas-Artes de Lisboa entre 1905 e 1938, mas que se distinguiu na história da Medicina Portuguesa sobretudo como fundador da única escola anatómica nacional digna desse nome, que se desenvolveu na então Escola Médico-Cirúrgica da Universidade de Lisboa, onde lecionava, a partir do Instituto de Anatomia por ele criado na sequência da reforma republicana da universidade em 1911 e que designadamente se divulgou através da revista Arquivo de Anatomia e Antropologia. Henrique de Vilhena compôs a coleção com exemplares cedidos pelos estudantes de Belas-Artes que frequentavam as aulas práticas de anatomia artística e que através delas tinham acesso a peças anatómicas preparadas pelos assistentes da Faculdade de Medicina. Não integra este livro uma outra coleção de desenhos anatómicos de Maria Helena Vieira da Silva, aluna de um curso livre de Vilhena em 1929, que permaneceram na posse da pintora e que depois passaram para o espólio da Fundação Arpad
Resumo O habitus homossexual comporta um modelo estético-erótico de beleza/juventude com profundos efeitos homonormativos nos processos de subjetivação dos homens gay, sobretudo os mais jovens. Pode volver-se sobre esse modelo um olhar... more
Resumo O habitus homossexual comporta um modelo estético-erótico de beleza/juventude com profundos efeitos homonormativos nos processos de subjetivação dos homens gay, sobretudo os mais jovens. Pode volver-se sobre esse modelo um olhar produti-vamente crítico enformado: pela performatividade queer (Eve Kosofsky Sedgwick), pela arte queer do malogro / queer art of failure (Judith Halberstam), com o seu pro-grama de incumprimento ativo e criativo dos padrões assimilacionistas do modelo estético-erótico que apagam e branqueiam a história de combate à opressão que sedi-mentou a comunidade gay; pela crip theory (Robert McRuer) com a sua alternativa ao modelo estético-erótico que desqualifica, inferioriza e rebaixa toda a falha estética e a faz corresponder a deficiência a ser superada por meio de correcção capacitista de tipo biomédico; e pela ideia de contra-sexualidade (Beatriz Preciado), que veicula uma crítica da conceção protésica da sexualidade. Palavras-chave: homonormatividade; malogro; performatividade; queer; crip theory ; contra-sexualidade. Em ensaio anterior (Cascais, 2015) de que o presente texto constitui a sequência, considerá-mos um modelo estético-erótico de beleza/juventude com um caráter geracionista, eugenista e melhorista que se encontra identificado pelo menos desde que Michael Pollak (1982) o descre-veu como elemento constitutivo do "habitus homossexual". A sua generalizada disseminação, potenciou-a o desenvolvimento da chamada economia rosa a partir de finais da década de 1980, com a proliferação de um certo número de publicações periódicas dedicadas ao que se tem convencionado chamar o "estilo de vida" gay e lésbico, claramente dependente dos patrocínios publicitários de empresas diretamente ligadas à comunidade LGBTQI ou de empresas mainstream particularmente atentas ao nicho de mercado da comunidade caraterizado por padrões de consumo ascendentes, sobretudo masculinos (Lewis, 2009, p. 655). A emulação destes pa-drões tendeu a ser apresentada como um indicador de integração na comunidade mais ou menos claramente demarcada da participação nas atividades cívicas e políticas privilegiadas nas pu-blicações periódicas predominantes até então e frequentemente ligadas ao ativismo LGBTQI. Além disso, esse modelo expandiu-se globalmente, acompanhando a difusão universal de um estilo de vida gay de matriz norte-americana e norte-europeia, tornando-se inclusivamente num parâmetro aferidor do grau de modernização ou ocidentalização das sociedades não-europeias e periféricas ou semi-periféricas e fazendo das comunidades gay uma espécie de ponta-de-lança IX Congresso Sopcom. pp. 360-372. Coimbra, novembro de 2015
A história serve para nos conhecermos a nós próprios. A história dos homossexuais durante o Estado Novo não é apenas uma questão de minorias, ou de uma minoria. Diz respeito ao País, diz respeito a todos nós. São José Almeida sabe-o bem e... more
A história serve para nos conhecermos a nós próprios. A história dos homossexuais durante o Estado Novo não é apenas uma questão de minorias, ou de uma minoria. Diz respeito ao País, diz respeito a todos nós. São José Almeida sabe-o bem e é isso mesmo que diz no início do seu livro. O que aconteceu com os homossexuais no Estado Novo proporciona-nos um retrato do País que fomos e do modo como chegámos até aos nossos dias. Permite-nos saber o que se mantém e o que mudou. É por isso que este passado se faz presente. Os Homossexuais no Estado Novo abre caminho num terreno em grande medida ignorado. Esta ignorância não é apenas uma questão de distracção ou descuido, embora também o seja. Ela constitui, sobretudo, a versão racionalizada e intelectual de uma ideia vulgar muito difundida, a de que o passado passou definitivamente, que acabou sem deixar rasto que mereça atenção séria. Pior ainda, se esse passado diz respeito àquilo que se diz e se acredita não passar de uma minoria ínfima de indivíduos cujo destino pouco ou nada tinha a ver com o destino colectivo da comunidade mais vasta, mas de que são parte inseparável, por mais Outros que para ela possam ter sido. Podemos estar certos que esta concepção repete, afinal, agravando-as, a discriminação, a menorização e a marginalização de que ao tempo as pessoas podiam ser objecto e que a presente ignorância histórica mais não faz do que corroborar e reactivar noutros termos, o que torna aquelas pessoas duplamente vítimas: nas suas vidas então, na sua memória agora. É aqui que encontramos um dos indiscutíveis méritos deste livro da São José Almeida. Trata-se de um trabalho que obedece às regras do jornalismo de investigação e que não tem que ser avaliado por outros critérios, nomeadamente aqueles a que obedece a investigação académica. Como jornalismo de investigação, constitui um trabalho a todos os títulos notável. A história dos homossexuais no Estado Novo fornece um contributo para re-escrever a história, e nessa medida, para desfazer ideias feitas, tanto mais tidas por adquiridas quanto o silêncio de décadas as parecia ter entregue ao eterno descanso das certezas onde não havia que mexer porque nada mais haveria para acrescentar ou corrigir que já não se soubesse. Ou que interessasse a alguém, ou que se devesse saber. Ora é exactamente o contrário que o livro da São José Almeida vem mostrar. Uma das mais evidentes conclusões deste livro é que aquilo que mais chegou até nós, se não o que 1 Este texto de apresentação de Homossexuais no Estado Novo, de São José Almeida (Lisboa, Sextante Editora, 2010), foi escrito para a sessão de lançamento do livro em Lisboa, no El Corte Inglés, no dia 20 de Maio de 2010.
Research Interests:
The basic grounding of a productive approach to disability in science fiction stems from two interrelated assumptions: (1) that science fiction (SF) narratives dealing with disabled bodies usually are narratives of technological... more
The basic grounding of a productive approach to disability in science fiction stems from two interrelated assumptions: (1) that science fiction (SF) narratives dealing with disabled bodies usually are narratives of technological embodiment that can range from simple mechanical prosthesis to (post)human-machine hybridization and (2) that in the ontological (relating to the modes of being) and the epistemological (relating to the modes of knowledge and its appropriation by beings) planes, these narratives of technological embodiment have incomparably more affinities with a social model of disability (which rests in the distinction between disability and impairment) than with a biomedical model.
Resumo O habitus homossexual comporta um modelo estético-erótico de beleza/juventude com profundos efeitos homonormativos nos processos de subjetivação dos homens gay, sobretudo os mais jovens. Pode volver-se sobre esse modelo um olhar... more
Resumo O habitus homossexual comporta um modelo estético-erótico de beleza/juventude com profundos efeitos homonormativos nos processos de subjetivação dos homens gay, sobretudo os mais jovens. Pode volver-se sobre esse modelo um olhar produti-vamente crítico enformado: pela performatividade queer (Eve Kosofsky Sedgwick), pela arte queer do malogro / queer art of failure (Judith Halberstam), com o seu pro-grama de incumprimento ativo e criativo dos padrões assimilacionistas do modelo estético-erótico que apagam e branqueiam a história de combate à opressão que sedi-mentou a comunidade gay; pela crip theory (Robert McRuer) com a sua alternativa ao modelo estético-erótico que desqualifica, inferioriza e rebaixa toda a falha estética e a faz corresponder a deficiência a ser superada por meio de correcção capacitista de tipo biomédico; e pela ideia de contra-sexualidade (Beatriz Preciado), que veicula uma crítica da conceção protésica da sexualidade. Palavras-chave: homonormatividade; malogro; performatividade; queer; crip theory ; contra-sexualidade. Em ensaio anterior (Cascais, 2015) de que o presente texto constitui a sequência, considerá-mos um modelo estético-erótico de beleza/juventude com um caráter geracionista, eugenista e melhorista que se encontra identificado pelo menos desde que Michael Pollak (1982) o descre-veu como elemento constitutivo do "habitus homossexual". A sua generalizada disseminação, potenciou-a o desenvolvimento da chamada economia rosa a partir de finais da década de 1980, com a proliferação de um certo número de publicações periódicas dedicadas ao que se tem convencionado chamar o "estilo de vida" gay e lésbico, claramente dependente dos patrocínios publicitários de empresas diretamente ligadas à comunidade LGBTQI ou de empresas mainstream particularmente atentas ao nicho de mercado da comunidade caraterizado por padrões de consumo ascendentes, sobretudo masculinos (Lewis, 2009, p. 655). A emulação destes pa-drões tendeu a ser apresentada como um indicador de integração na comunidade mais ou menos claramente demarcada da participação nas atividades cívicas e políticas privilegiadas nas pu-blicações periódicas predominantes até então e frequentemente ligadas ao ativismo LGBTQI. Além disso, esse modelo expandiu-se globalmente, acompanhando a difusão universal de um estilo de vida gay de matriz norte-americana e norte-europeia, tornando-se inclusivamente num parâmetro aferidor do grau de modernização ou ocidentalização das sociedades não-europeias e periféricas ou semi-periféricas e fazendo das comunidades gay uma espécie de ponta-de-lança IX Congresso Sopcom. pp. 360-372. Coimbra, novembro de 2015

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