A Gestão de Design como Estratégia Organizacional
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Pré-visualização do livro
A Gestão de Design como Estratégia Organizacional - Rosane Fonseca de Freitas Martins
Reitora:
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Conselho Editorial:
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Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
M386g Martins, Rosane Fonseca de Freitas.
A gestão de design como estratégia organizacional [livro eletrônico] / Rosane Fonseca de Freitas, Eugenio Andrés Diaz Merino. – 2. ed. – Londrina : Eduel, 2011.
1 livro digital : il.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://www.eduel.com.br
ISBN 978-85-7216-829-8
1. Gestão empresarial. 2. Gestão do design. 3. Planeja-mento estratégico. I Merino, Eugênio Andrés Diaz. II Título.
CDU 658.512.2
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Depósito Legal na Biblioteca Nacional
2016
Para Ivone e Roni
Para Beatriz e Giselle
Sumário
Capítulo 1
Por que Gestão de Design?
CapÍtulo 2
Sobre Design
CapÍtulo 3
Sobre Gestão Empresarial
CapÍtulo 4
Gestão de Design
CapÍtulo 5
Modelo para Integração da Gestão de Design em Organizações
Considerações Finais
A abertura econômica, o processo de privatização e de internacionalização de empresas tem exigido esforços crescentes de capacitação tecnológica em relação a atividades de pesquisa e desenvolvimento e absorção de tecnologia com vistas ao processo de inovação. A recuperação econômica do Brasil, tão anunciada, está repleta de novas oportunidades de negócios – as empresas fabricam produtos mas vendem serviços para se tornarem difíceis de imitar. A inovação, nesse sentido, é um ingrediente essencial da competitividade e o resultado do bom uso da criatividade aliado ao conhecimento técnico, um dos motivos do aumento de valor dos produtos e serviços da empresa.
O tratamento adequado de um conjunto de fatores de natureza gerencial, produtiva, comercial, mercadológica, tributária, financeira, dentre outras, pode contribuir para que países e empresas possam se inserir no mercado global de forma mais competitiva. Preço, qualidade e Design inovador são importantes fatores para conquistar mercados internacionais, estratégias que têm sido incorporadas por um número cada vez maior de empresas.
A sustentação e a ampliação da capacidade de competir em médio e longo prazo, porém, dependem, cada vez mais, do processo de inovação, e, portanto, do seu gerenciamento. O Design é uma atividade importante no processo de inovação, no qual as ideias são geradas num alinhamento perfeito entre a criatividade e as especificações técnicas, juntamente com demandas e oportunidades de mercado, sem deixar de ter o foco centrado no usuário. Trata-se de um processo de busca na satisfação dos usuários e a lucratividade das empresas por meio do uso criativo dos elementos que compõem sua atividade.
A cada dia, porém, torna-se mais difícil oferecer produtos competitivos: o consumidor exige cada vez mais segurança, ergonomia, praticidade, preço, tecnologia, valores atendidos. Por outro lado, a empresa tem que lidar com limitações de orçamento, prazo, tecnologia disponível, patente, investimentos. Para atender a todas essas exigências são necessários procedimentos capazes de articular, integrar e viabilizar todas estas situações de forma harmônica, equilibrada e eficiente.
O mercado mundial tem evidenciado, cada vez mais, a necessidade do emprego do Design, que deixa de ser visto apenas como a adição externa da estética, mas de forma concreta o desenvolvimento consciente de projetos em toda a sua complexidade. Seu potencial é melhor aproveitado quando incorporado ao processo de produção desde a concepção da estratégia da empresa, passando por todas as fases de desenvolvimento, de uma forma integrada com outras áreas e sob todos os aspectos. Nas últimas décadas o Design vem ganhando destaque e redefinindo suas funções, ganhando o status de atividade estratégica. Tudo isto já nos leva a percebê-lo como um elemento dinamizador para os administradores, diferenciador para os concorrentes, peça chave nas vendas e fundamental ao avanço tecnológico. Neste sentido, a Gestão de Design, ou Design Management, pode ser descrita como a atividade macro das estratégias que grupos com poder decisório em que o Design esteja envolvido estruturam para moldar um perfil da empresa com base nos produtos desenvolvidos e/ou na identidade visual que a representa.
Tema central deste livro, a Gestão de Design é um conjunto de técnicas de gestão dirigido a maximizar, ao menor custo possível, a competitividade que a empresa obtém pela incorporação e utilização do Design como instrumento de sua estratégia empresarial, o que vem se tornando importante e necessário com a aceleração do processo de globalização¹ dos fluxos de comércio e de capitais, em especial após a falência da URSS.² Suprimiram-se, em grande parte, as fronteiras que restringiam o fluxo comercial e financeiro e foram postas as condições econômicas, tecnológicas e políticas para a utilização desta economia global. Cresce, de forma simultânea, a percepção da interdependência entre as diversas economias nacionais. Nesse novo contexto, surge um sistema baseado em três espaços principais: o europeu, o americano e o asiático. Diversas matérias³ vêm apresentando o Design como uma ferramenta que pode auxiliar na maximização dos negócios e melhorar o desempenho econômico. Entretanto, a quantificação do seu impacto no sucesso dos negócios ainda se apresenta de forma tímida.
Nesta linha, o Conselho de Design do Reino Unido (UK Design Council) vem realizando pesquisas que utilizam padrões comparativos (por escala de medidas de desempenho) entre os negócios com e sem foco no Design. Os que apresentam resultados significativamente melhores são os negócios com foco no Design. Desses estudos, sob uma perspectiva econômica, a aclamação mais convincente do uso do Design como maximizador internacional competitivo é determinado pelo Relatório do Fórum Econômico Global de Competitividade (World Economic Forum’s Global Competitiveness Report), realizado pelo New Zealand Institute of Economic Research (NZIER) desde 1979, cuja base é um conjunto de indicadores que medem uma escala de fatores, incluindo o uso do Design como força nos negócios e sua influência competitiva. Esses indicadores são combinados para prover uma avaliação completa de competitividade de 125 países (na versão 2006), cuja comparação com a mensuração completa revela um alto grau de correlação entre o uso do Design e a competitividade.
Os países identificados como os mais competitivos no ranking são: Estados Unidos, Suíça, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Finlândia e Singapura. Cada um desses países possui suporte do governo para as ações do Design. O papel do Estado como facilitador do processo inovador não deve ser desprezado. Como exemplo, os Estados Unidos, Europa e as nações mais ricas da Ásia estimulam a inovação por meio de renúncias fiscais, encomendas tecnológicas do governo ou investimentos diretos nas empresas. No caso do Brasil ações desta natureza já começam a se tornar uma constante, principalmente com editais de órgãos de fomento, que continuamente desafiam a pesquisa e o desenvolvimento, instigando uma aproximação entre as empresas e instituições. É importante mencionar que estas medidas, ainda que importantes, precisam ganhar mais força, frequência e consistência, considerando as dimensões territoriais, populacionais e econômicas do Brasil. Num ranking de 131 economias, o Brasil é o 72º colocado em crescimento competitivo, tendo sofrido uma queda (ocupou o 66º no ano anterior). Podemos observar que alguns dos indicadores usados para este ranking podem ser afetados positivamente pelo Design, dentre eles a inovação.⁴
Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), desde a implantação do Plano Real, em 1994, após anos de inflação, a estabilização econômica teve um impacto positivo no setor produtivo e, consequentemente, na sociedade. Desde o início da década de 1960, retomou-se o costume do crédito pessoal. A estabilidade econômica provocou uma fase de otimismo e a retomada de investimentos para atender à demanda. O capital estrangeiro voltou a fazer novos planos para sua expansão no Brasil. Programas federais, estaduais e municipais revigoraram a disposição do capital estrangeiro. Nos últimos anos, houve um aumento generalizado no consumo de todos os tipos de produtos. A redução das tarifas de importação permitiu a entrada de produtos a preços competitivos, obrigando a indústria nacional a aumentar a produtividade e a qualidade da sua produção. Novos padrões de consumo estabeleceram-se com a entrada de produtos sofisticados e marcas internacionais. Os consumidores, mais exigentes, podem comparar a qualidade e preço dos produtos importados que estão nas prateleiras de lojas e supermercados, competindo com os produtos nacionais. É importante mencionar que esta abertura, a estabilização da moeda nacional e sua relação com o dólar vêm provocando reações adversas, nas quais empresas de diversos setores encontram dificuldades, principalmente, na exportação de alguns produtos, pela queda da moeda de troca internacional. No entanto, tanto as empresas quanto o próprio governo vêm implementando estratégias para minimizar esta situação.
Neste ambiente altamente competitivo, o governo brasileiro tem percebido a importância do Design e promovido ações de incentivo ao seu desenvolvimento. Programas Federais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), executado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (ProTeM), o Programa Brasileiro do Design (PBD), o Fundo Verde Amarelo (FVA), entre outros, além de pesquisas como Cara Brasileira
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), vêm implementando ações para atender à necessidade da qualidade e da competitividade de produtos nacionais, tendo o Design como diferencial, incrementando o interesse pelos investimentos em inovação. Tais programas têm incentivado empresas a adequar seus produtos ao mercado e conquistar fatias cada vez mais significativas na economia mundial, visando à geração de novos produtos ou processos. Estimulam a exportação, impulsionam a competitividade e visam fortalecer a imagem das empresas para implementar o feito e produzido no Brasil, aliado a fatores positivos como criatividade, Design, qualidade e capacidade produtiva das organizações.
Estas ações vêm se refletindo em alguns indicadores utilizados para acompanhar e mensurar o crescimento da Produção Industrial Brasileira, que vem dando sinais de crescimento. Estimulada pela queda de juros e pelo aumento do consumo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), mostra um crescimento de 1,2% no 1º trimestre de 2008. Com estes dados, o principal objetivo passou a ser a competitividade do setor industrial e sua integração à economia mundial. O livre comércio eleva ao bem-estar mundial, e as reduções tarifárias das negociações multilaterais levam, de forma gradual, à liberalização do comércio em âmbito mundial e à distribuição de ganhos. A busca de ganhos econômicos é a causa da aceleração do processo de interação de mercados internacionais, mas torna-se fundamental a existência de medidas de controle para evitar os excessos, que acabam comprometendo principalmente as classes menos favorecidas.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) pesquisou as principais barreiras externas enfrentadas pelos exportadores brasileiros de bens e serviços nos principais mercados dos países desenvolvidos: EUA, União Europeia e Japão. O documento resultante do estudo aponta que as altas barreiras tarifárias são obstáculos ao acesso a esses mercados. As barreiras não tarifárias podem ser definidas de formas diferentes, com níveis distintos de restrições às importações, tais como leis, regulamentos, políticas ou práticas de um país que visa controlar o acesso de produtos importados, medidas baseadas em costumes, instituições ou diretrizes informais, e não na legislação, nas quais se incluem as quotas de importação. Ou seja: as normas e os regulamentos não são entraves comerciais, assim, os produtos brasileiros tornam-se cada vez mais competitivos, uma vez que as barreiras tarifárias têm sofrido redução.
Novamente o Design pode ser um forte aliado na exportação, partindo do princípio que a abertura do mercado induz ao investimento em tecnologia e inovação para atrair consumidores. Com a abertura do mercado brasileiro nos anos 1990, as empresas tiveram que iniciar um processo de adaptação, tanto no processo quanto no gerenciamento, para se alinhar, manter e melhorar a sua competitividade, necessitando cada vez mais da inovação como fator estratégico de diferenciação. A inovação ainda é incipiente neste processo. A maioria delas, mesmo as subsidiárias de multinacionais, ainda conserva o hábito de copiar modelos e produtos do exterior, fato que tende a ruir com o mercado global. A inovação não se limita ao produto: pode surgir no processo, na maneira de abordar o mercado, na gestão.
Isso se reflete no número expressivo de depósitos de marcas e patentes que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) recebe anualmente, mostrando que as organizações vêm tomando consciência da importância do registro de produtos inovadores, não apenas como proteção de uso, mas como um bem material de valor econômico. A propriedade intelectual privilegia a inovação, a Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e a ciência e a tecnologia. É um tema importante para a economia nacional, um canal de inserção no mercado internacional e um instrumento poderoso na política industrial e tecnológica. No caso da marca registrada, ela garante o direito de uso exclusivo ao proprietário e sua identificação pelo usuário pode proporcionar um mercado estável, tornando-a um ativo valioso para a organização.
Para que ações desta natureza possam ser implementadas com sucesso, um fator se apresenta como crucial: a cultura organizacional. Uma empresa consiste em sua estrutura, suas políticas e sua cultura. Enquanto a estrutura e as políticas podem ser alteradas de forma mais fácil, é muito difícil mudar esta cultura organizacional, que se refere à forma como os membros de uma determinada organização tratam os problemas internos e externos, criando formas e procedimentos próprios. Neste sentido, ao ser necessárias mudanças e incorporações de novas formas de pensar e agir, visando às novas tecnologias, por exemplo, a própria organização deverá aceitar e tornar estas mudanças focadas como soluções e não como novos problemas. A dificuldade está em mudar. O medo do novo e, principalmente, de sair da zona de conforto e segurança, as novas ideias, provocam diversas reações no ser humano.
As organizações estão diante de novos desafios, nos quais o Design se integra: abertura econômica, público cada vez mais exigente por bens e serviços direcionados e mais eficientes, e meio empresarial mais sensível a estas questões, procurando processos adequados que proporcionem melhores condições de competitividade. Consequentemente, a incorporação da Gestão de Design passa a ter uma relação estreita com o nível de industrialização. A necessidade de diferenciar-se aumenta com