LAMPIÃO: Herói ou Bandido
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LAMPIÃO - Ranulfo Prata
Ranulfo Prata
LAMPIÃO
Herói ou Bandido?
Coleção Aventura Histórica
1a edição
img1.jpgIsbn: 9786587921198
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Prefácio
Estimado Leitor
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião (1898 — 1938), foi um cangaceiro que atuou no sertão nordestino. Ficou conhecido como Rei do Cangaço, por ter sido o mais bem-sucedido líder cangaceiro da história. Um bandido cruel, frio e assassino para muitos e um justiceiro para alguns, o fato é que Lampião, juntamente com sua companheira Maria Gomes de Oliveira – Maria Bonita – e seu bando tornou-se uma lenda. Uma mistura de história sangrenta, ficção e misticismo que estimulava o imaginário dos brasileiros nas décadas de 1920 e 1930 e chegou até os Estados Unidos em reportagem do jornal New York Times.
Em 1933, quando o famoso cangaceiro já assombrava o sertão, o médico e escritor Ranulfo Prata, nascido em Sergipe, portanto, conterrâneo de Virgulinoo Ferreira da Silva, realiza uma ampla pesquisa sobre Lampião e seu bando que resultou em um livro chamado Lampião: O documentário. É a essa obra que o leitor tem acesso agora. Em português atualizado, com a inclusão de fotos históricas bem como a narrativa do trágico desfecho, ocorrido oito anos após a publicação original.
Uma excelente leitura
LeBooks Editora
Quando cubro um macaco na mira do meu rifle, ele morre porque Deus quer; se Ele não quisesse, eu errava o alvo.
José Virgulino da Silva – O Lampião
Sumário
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor
Introdução à obra
UM CLAMOR E UM APELO
I - NASCIMENTO — FAMÍLIA — TIPO FÍSICO-E PSÍQUICO — VERSÕES SOBRE O APELIDO — ENTRADA NA BAHIA — PAZ ILUSÓRIA — UMA HIPÓTESE — FIGURAS
II - A PROTEÇÃO DO CORONEL PETRONILLO — INÍCIO DA PERSEGUIÇÃO POLÍCIAL — PRIMEIROS ENCONTROS — AÇÃO DO TENENTE CAMPOS DE MENEZES
III - ENCONTROS DE ABOBORAS E MANDACARU — ATAQUES A MIRANDELA E LAGÔA DO MARY
IV - AÇÂO DO TENENTE ARSENIO DE SOUZA RECONTRO DO TOURO - RASO DA CATARINA - DESALOJAMENTO PELOS TENENTES OSÓRIO E MACEDO
V - CRIMES
VI - INCURSÃO ÀS CIDADES SERGIPANAS DE DORES, CAPELA E AQUIDABAM
VII - COITEIROS
VIII - FASE DA CAMPANHA APÓS A REVOLUÇÃO DE 30
IX - O ÊXODO
X - FINALMENTE
EPÍLOGO
FOTOS HISTÓRICAS DE LAMPIÃO E SEU BANDO
APRESENTAÇÃO
Sobre o autor
Ranulfo Hora Prata nasceu a 4 de maio de 1896, na cidade de Lagarto, na Estado de Sergipe, tendo falecido a 24 de dezembro de 1942, na Capital de São Paulo.
Fez seus estudos primários em Estância, Sergipe, no Colégio Camerino. Iniciou os estudos secundários no Ginásio Carneiro Ribeiro, completando-os no Ginásio Ipiranga, ambos na cidade do Salvador, na Bahia, onde Ranulfo Prata deu ainda início ao seu curso de medicina, que veio completar, em 1919, no Rio de Janeiro.
Começou a clinicar na cidade de São Tomadas de Aquino, no Estado de Minas Gerais, passando-se mais tarde para Mirassol, no Estado de São Paulo, onde em 1923 casou-se com Maria da Gloria, com a qual teve um filho, Paulo Prata, que é médico nesta Capital,
Clinicou também em Aracaju, onde organizou a convite do Governador de Sergipe, Dr. Graccho Cardoso, um modelar gabinete radiológico.
Para tal mister, porém, escrupuloso como era, retornou à Capital Federal, aí fazendo um curso de especialização radiológica.
Em 1927 transferiu-se de Sergipe para Santos, onde foi chefe do Serviço Radiológico da Santa Casa e da Beneficência Portuguesa, dirigindo, também, igual serviço na Fundação Gaffree e Guinle.
Médico e escritor, honestamente serviu a medicina e o; literatura, conseguindo, graças ao seu caráter, nas cidades onde clinicou, vastos círculos de amigos e admiradores.
Ranulfo Prata dividiu, como vimos, sua vida entre a medicina e a literatura, cotidianamente servindo mais à primeira do que a segunda, embora fosse uma forte constituição de escritor.
Era de baixa estatura física, um tipo meio calado e arredio, sensível e triste, sem grandes arrebatamentos, de saúde frágil, lutou muito e trabalhou bastante, destacando-se como um profissional médico muito consciencioso. Apesar de ser do tipo introspectivo e doméstico, sua literatura é de natureza límpida, descritiva e quase toda exteriorizada em tipos, casos e paisagens.
O poeta Cleomenes Campos, que além de conterrâneo foi seu amigo íntimo, certa vez dedicando um livro seu, escreveu uma quadrilha, até hoje muito citada, pois vale como indicação da bondade do romancista que tinha prata no nome e ouro no coração.
Espírito culto e observador, de uma operosidade rara, apesar de sua saúde precária, Ranulfo Prata deixou as seguintes obras: O TRIUNFO
, DENTRO DA VIDA
, O LÍRIO NA TORRENTE
e NAVIOS ILUMINADOS
, — romances; A LONGA ESTRADA
, contos; MARTINS FONTES, MEDICO
, estudo; LAMPIÃO
, documentário; DO RISO
, tese de doutoramento; A RENASCENÇA DAS LETRAS EM FRANÇA
, REPERCUTIU NA NOSSA LITERATURA O MOVIMENTO ROMÂNTICO de 1830?
e o O TEATRO NO BRASIL
, teses de concurso e O VALOR DA RADIOGRAFIA NO ESQUELETO E NO DIAGNOSTICO DA SÍFILIS CONGÊNITA
, monografia.
Deixou diversas colaborações. literárias e médicas em jornais e revistas da época, tendo ainda realizado várias conferências, dentre as quais, destaca-se SERVIDÃO E GRANDEZA DA DOENÇA
, publicada no Volume 1, de 1340, do Boletim da Associação dos Médicos de Santos
.
Entre originais inéditos, deixou ainda Ranulfo Prata um romance e um livro de contos a publicar.
Obteve em 1927 o Prêmio de Romance
da Academia Brasileira de Letras concedido ao livro O Lírio na Torrente
e Benjamin de Garay verteu para o espanhol a obra prima de Ranulfo Prata, Navios Iluminados
, belo e impressionante painel da vida de um nordestino nas docas de Santos, figurando ao lado de OS CORUMBÁS
de Amando Fontes como as duas maiores contribuições do romance sergipano à moderna literatura, nacional.
Era desejo de Benjamin de Garay traduzir para o castelhano o documentário de Ranulfo Prata sobre Lampião, segundo confessou em carta ao enviar o primeiro exemplar da tradução de Vapores Iluminados
, que a seu ver, era um grande romance, sabendo seu autor fugir ao pernosticismo de um freudismo barato
então em voga na novela brasileira.
Ranulfo Prata que pertenceu à Academia Sergipana de Letras, embora vivendo em Santos a maior parto de sua vida, como bom Sergipano que era, tinha sou coração na terra natal, onde ia passar suas férias anuais em casa da seu pai, o coronel Felisberto Prata, fazendeiro de grande prestigio na zona de Simão Dias, cidade onde o autor concluiu, em 1933, este Lampião
.
Introdução à obra
Lampião, figura tenebrosa e já lendária, retrata bem uma determinada condição humana e ecológica da alma do Nordeste naquilo que ela possui demais bárbaro e primitivo. É uma mística violenta, de fundo heroico e aterrador, que já foi muito explorada, embora ainda não suficientemente estudada.
Há em torno do assunto, que pela sua natureza requer maior densidade e aprofundamento, muita sofreguidão de ordem sensacionalista, muita exploração jornalística ou cinematográfica, embora já tenha chegado o tempo do necessário assentamento e da perspectiva histórica para os estudos de teor mais sério sobre a figura desse facínora, morboso e sinistramente vaidoso, que a si mesmo dava o título de o terror do sertão
.
É provável que o enorme interesse popular, agora latejante em torno do assunto, force o aparecimento deste estudo, pois já estamos fartos dos clichês
e das explorações sobre o tema, que sendo velho como o Nordeste, adquiriu com os modernos métodos de divulgação escrita, vista e falada uma tremenda virulência, de caráter epidêmico e quase vesânico, considerando-se que a onda criminal se propaga por contágio e imitação, dois elementos bem típicos dos processos de desvairado fundo divulgador do jornalismo atual.
A imprensa, na sua sede de captação de leitores, deforma o assunto, fazendo que essa deformação atinja o sensacionalismo, fonte de venda certa, mas que no fundo nada vem acrescentar à compreensão do fenômeno. A deformação aqui requerida deveria ser para a introspecção, para o estudo analítico, elementos que esquadrinham e pesquisam, projetando novas iluminações sociológicas à psique brasileira.
Sendo um livro concebido com o caráter de denuncia nacional, de apelo, de clamor, este LAMPIÃO
de Ranulfo Prata ainda está cheio desses clichês
e desses vícios sensacionalistas, mas bem que, como documentário, aliás o melhor já publicado no Brasil sobre o assunto, poderá representar um ponto de partida para o empreendimento do novo estudo lampiônico, pois sendo uma obra básica e cheia de facetas, tem ainda a virtude de ser escrita por um autêntico escritor, que era conhecedor profundo da alma sertaneja, com ela vibrando em completa empatia, do que nos dá notícia certos trechos de Navios Iluminados
e os contos de A Longa Estrada
.
Ranulfo Prata, o mais sergipano dos escritores nacionais, romancista de pulso, autor desse afresco proletário, Navios Iluminados
, que é sem dúvida alguma, um dos grandes romances nacionais de todos os tempos, escrevendo LAMPIÃO
desobrigou-se de uma bela tarefa imposta pela sua terra natal, cujas vozes anônimas o pediam, na noite de pesadelo de Simão Dias, para escrever tal livro, desabafo e clamor, grito e protesto contra um estado de coisas que não podia continua.
O ponto de vista de Ranulfo Prata era, como não podia deixar de ser, o de um filho de coronel fazendeiro ameaçado e prejudicado pela situação criada pelo terrível facínora que descendo dos sertões da Bahia, entrara em Sergipe, falsa e cinicamente cantando:
É Lampião que chega — amando, gozando e querendo bem!
O escritor vibrante, escondido na alma do homem tímido e modesto, que foi Ranulfo Prata, ampliaria, porém, esse ponto de vista de filho de coronel, dando ao seu depoimento uma dimensão maior, um rasgo euclidiano qualquer, que chegou a raiar pelo fraseado pedante que foi uma mania nacional, da qual pouca gente se livrou.
O gênio iluminador e grandiloquente do cinzelador apocalíptico de Os Sertões
deixara um rasto, uma coivara acesa há caatinga, uma palpitação de anseios e de rebeldias que influenciaram no fundo e na forma toda uma nascente literatura.
O humilde escritor de Sergipe, quando em férias na casa dos seus pais, ouvira do fundo da noite de sua cidadezinha arrepiada pelo medo, o doloroso clamor de milhares de vozes aflitas e desprotegidas, e ao pegar na pena vira diante de si a sombra enorme de Euclides da Cunha.
Ranulfo Prata também precisava escrever o seu livro vingador. O destino o escolhera para tal fim,, dando um grande tema de chão e de brutal realidade., Sabia que seu livro não teria a grandeza, nem a pompa de Os Sertões
, mas mesmo contido na sua fatura de documentário, poderia representar algo para a compreensão de certos fenômenos sertanejos, também de natureza exaltada. Escreveria, numa mescla de jornalista combativo e de literato euclidiano, um relato cruel e virulento, dramático e acusador.
A influência de Euclides da Cunha, complicada ainda mais pela via portuguesa de Camilo Castelo Branco, não vencida na pressa com que foi escrito este livro, marcá-lo-ia de um certo pedantismo, de um frasear