A Sustentabilidade Ambiental da Agricultura e de Florestas Tropicais: Uma Visão Científica, Ecológica, Política e Social
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Pré-visualização do livro
A Sustentabilidade Ambiental da Agricultura e de Florestas Tropicais - Elke Jurandy Bran Nogueira Cardoso
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SUSTENTABILIDADE, IMPACTO, DIREITO, GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
AGRADECIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE FOMENTO
O presente livro foi realizado com apoio das seguintes agências de fomento aos pesquisadores envolvidos:
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – Processos: 2016/18944-3, 2018/20607-0, 2019/13436-8 e 2019/27682-0.
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ‒ Brasil ‒ Código de Financiamento 001.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Bolsas de Produtividade 305193/2016-3 e 311254/2019-5.
Dedico aos meus pais, Richard e Margot Bran, ao meu marido, Caio Cardoso (in memoriam). Às minhas irmãs, Annemarie e Karin, e aos meus filhos, Richard, Carla e Cláudia. Aos netos, Taian, Tasso, Eric Nils e Marcelo Henrique, e aos meus bisnetos, Isi e Orus. Também quero dedicar este livro a todos os meus orientandos e ex-orientados da pós-graduação (minha segunda família).
Quando a desinformação é uma doença, a Ciência é a
cura por meio de sua divulgação e aplicação.
(em analogia a um anúncio jornalístico na contra
capa da Revista Veja, Edição 53 – n.º 50).
APRESENTAÇÃO
Por que estamos escrevendo este livro?
Reflexões que levaram à gênese deste livro... A inquietação sobre os rumos do Brasil e do mundo
Estávamos nós, eu e meu grupo de pesquisas, já empenhados em escrever o livro sobre a sustentabilidade da política ambiental brasileira, quando senti que devíamos uma explicação aos nossos leitores sobre o que nos levou a essa iniciativa, de quem somos e qual a razão do livro. Neste momento de escrita do livro, continuamos em quarentena e trabalhando em home office, como deveríamos estar todos nós brasileiros. Embora o nosso presidente tenha considerado que a Covid-19 seja apenas uma gripezinha, a pandemia vem nos envolvendo desde março (de 2020), ou seja, já por mais de nove meses (até dezembro), com altos e baixos, já tendo infectado quase sete milhões de pessoas e causando uma mortandade de 177 mil (até 8 de dezembro de 2020), eliminando boa parte dos mais vulneráveis, como os idosos e aqueles com comorbidades, um grupo no qual eu me encaixo.
Entretanto, ainda posso me considerar uma pessoa afortunada, porque disponho de condições financeiras suficientes para sobreviver e até para ajudar alguns familiares e outras pessoas necessitadas. Como gosto muito do meu trabalho, que é ensinar e orientar, principalmente em nível de pós-graduação, fazendo pesquisa juntamente aos pós-graduandos e com o auxílio de pós-doutores na área de microbiologia e preservação do solo, considero-me uma felizarda e estou bastante realizada porque posso manter minha posição na Universidade, apesar dos meus quase 80 anos.
Pois bem, apesar de me sentir realizada profissionalmente e suportar bem a quarentena obrigatória devido à pandemia, nos últimos dois anos comecei a sentir cada vez mais uma crescente preocupação com relação aos acontecimentos políticos no país, bem como com os rumos de nosso Brasil e do mundo. O governo executivo, juntamente ao ministro do Meio Ambiente, iniciou uma verdadeira guerra contra o nosso meio ambiente, aparentemente copiando as atitudes do então presidente Trump, nos Estados Unidos, que deu o exemplo de menosprezar todos os atos de proteção ambiental ou proteção do clima, o que dá no mesmo.
Os Estados Unidos da América do Norte assustaram o mundo com sua entrada num negacionismo total do aquecimento global, da preservação ambiental, da necessidade de trocar os combustíveis fósseis, altamente responsáveis pela produção e emissão de gás carbônico para a atmosfera que, sabidamente, é a causa principal das mudanças climáticas, e foram imediatamente copiados pelo Brasil. Ver as nossas florestas derrubadas e queimadas por fazendeiros, grileiros, mineradores invasores e outros irresponsáveis foi uma das piores coisas que poderia acontecer em nossas vidas, deixando-nos revoltados, pois ia contra tudo aquilo em que acreditamos e pelo que trabalhamos incansavelmente.
Ficamos aguardando as reações das nossas instituições democráticas, mas nada foi feito para paralisar tal movimento, no qual havia incentivo para a atuação de invasores, destruição das matas protegidas constitucionalmente, aumentar a invasão de terras indígenas, fazer mineração até nelas e nos parques naturais de preservação. Desiludidos e reconhecendo nossa impotência em lutar contra essa ameaça, começamos a sentir grande amargura e depressão crescente, pois o Brasil estava caminhando para trás não só no âmbito do ambiente, mas também com relação à Educação, que foi igualmente desmantelada, à saúde, e começou a vigorar a negação da ciência e de sua importância para o crescimento do Brasil. Tentamos explicar tudo isso nos diferentes capítulos deste livro.
Portanto, vendo toda a inércia de nosso Congresso, da Justiça e dos Órgãos responsáveis pela proteção de nossa Constituição e de nossas leis, começamos a sentir uma grande responsabilidade com relação a tudo que estava acontecendo. Ou seja, devido ao nosso aprendizado com relação à sustentabilidade ambiental, sabíamos que o que estava acontecendo era errado e contraproducente, e nossos resultados nos permitiam afirmar que aquilo levaria a um desastre ambiental ainda maior do que a destruição total pelo fogo de milhões de árvores, algumas milenares, das reservas ambientais e das terras indígenas.
Vimos uma perda inédita da diversidade ambiental, uma das maiores riquezas do Brasil, uma mortandade de pequenos e grandes animais, aos milhares, perecendo nas chamas, muitos deles já ameaçados pela extinção. Ver o sofrimento ímpar das onças, das antas, tamanduás, porcos selvagens, jacarés, cobras e pássaros de todas as cores e tamanhos, dos mil cantos e gorjeios fez-nos chorar. E o mesmo se deu com muitos cidadãos brasileiros que se ofereceram como voluntários para cuidar dos animais queimados, para levar comida e água para os poucos animais sobreviventes das labaredas e amenizar um pouco o sofrimento deles. Tudo isso, enfim, levou-nos a tomar a decisão de escrever este pequeno livro para expor tudo o que está acontecendo, para explicar o horror e o perigo dessa agressão ao meio ambiente, confiantes de que muitos concidadãos de boa vontade irão acreditar em nós e enxergar como estão sendo enganados pelos políticos que não se cansam de passar a boiada
, como disse nosso ministro do Meio Ambiente, enquanto o povo estivesse ocupado com a pandemia.
Os autores
PREFÁCIO
A idealização do conteúdo deste livro provém da percepção da organizadora, professora Elke J. B. N. Cardoso, e seus supervisionados de pós-graduação e pós-doutorado, de que há um rápido processo de degradação ambiental dos biomas brasileiros, que os impactos ambientais da agricultura são elevados e que existem vários desacertos na política ambiental do governo atual. Imbuída de grande determinação, a professora Elke, aos 80 anos de idade, mantém uma rotina exemplar de trabalho à frente de um dos grupos de pesquisa mais dinâmicos da Esalq. Seu grupo tem notável competência no tema desta obra, baseado em intensa produção científica e vivência prática na área de microbiologia do solo e ambiental, obtida ao longo de quase 50 anos de carreira.
Em seis capítulos, os autores debatem questões ambientais essenciais e advogam a defesa do meio ambiente, reivindicando medidas de proteção ambiental e, sobretudo, ampla mudança de hábitos arraigados, de tradições culturais, de interesses políticos e econômicos, de modo a estabelecer um paradigma de vida sustentável. Parte dos princípios apregoados é ilustrada com resultados de estudos próprios do grupo. Os impactos negativos que a sociedade moderna tem acarretado ao meio ambiente requerem medidas urgentes de mitigação ou reversão, de modo a interromper consequências globais catastróficas, particularmente agravadas pelo rápido crescimento da população do mundo e pela consequente pressão sobre os recursos e sistemas naturais.
Os autores destacam a integração e a interdependência dos processos naturais nos ecossistemas florestais e agrícolas, os quais afetam as perspectivas de vida na Terra. Enfaticamente, destacam a importância da prudência da ação humana no manejo florestal e agrícola, sem perder de vista a justiça social e a viabilidade econômica que devem nortear os sistemas de produção rural e industrial. Os planejamentos das atividades rurais e urbanas devem ser de longos prazos, sem improvisos e soluções imediatistas não ecologicamente sustentáveis. Os limites de cada ecossistema devem ser estabelecidos levando em conta que o planeta não suportará um crescimento interminável da população humana. Ou seja, a natureza tem valor intrínseco, que deve ser reconhecido e respeitado, independentemente de seu valor utilitário. A humanidade precisa compreender que não é o centro do universo. Enfim, baseado em extensa e atual reflexão da sustentabilidade das florestas e da agricultura, o livro cumpre seus propósitos, com narrativa fluente e coerente, contribuindo para o debate e a elucidação de questões complexas e controversas.
Prof. José Leonardo de Moraes Gonçalves
Departamento de Ciências Florestais da USP/Esalq.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Sumário
INTRODUÇÃO 21
CAPÍTULO 1
A sustentabilidade ambiental e os serviços
ecossistêmicos 27
1.1 Definindo sustentabilidade e serviços ecossistêmicos 27
1.2 O desmatamento e queimadas vs. a perda da biodiversidade 33
1.3 As raízes sociais (indígenas) e ambientais (vegetal e animal) em risco
de extinção 43
CAPÍTULO 2
As florestas nativas e plantadas como agentes prestadores de serviços ecossistêmicos 51
2.1 Florestas nativas e plantadas: um panorama mundial e brasileiro 51
2.2 Eucaliptocultura no Brasil e o setor de árvores plantadas 52
2.3 Os sistemas florestais e a sustentabilidade 53
2.4 Serviços ecossistêmicos providos pelas florestas nativas e florestas
plantadas 56
2.4.1 A biologia do solo como indicadora de qualidade do solo e prestadora de serviços ecossistêmicos em florestas puras e mistas de eucalipto 60
2.5 Considerações finais 62
CAPÍTULO 3
A saúde dos solos agrícolas frente às mudanças
climáticas globais 69
3.1 Introdução 69
3.2 O que é um solo saudável e por que é importante estudar esse assunto? 70
3.3 A saúde do solo em agroecossistemas 71
3.4 Como acessar a saúde do solo? 73
3.5 Mudanças climáticas e suas perspectivas no uso dos solos 74
3.6 O solo e as emissões de gases de efeito estufa 77
3.7 Os micro-organismos e a saúde do solo no contexto de mudanças
climáticas 80
CAPÍTULO 4
Agricultura sustentável e o manejo ambiental 89
4.1 Introdução 89
4.2 A monocultura e as suas consequências 91
4.3 Sistemas de integração entre a agricultura,