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Cancioneiro
Cancioneiro
Cancioneiro
E-book113 páginas37 minutos

Cancioneiro

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Sobre este e-book

As poesias do escritor, reunidas sob o título de Cancioneiro, além de prestar uma homenagem à tradição lírica lusitana de preservar os seus mais antigos textos literários, também se relacionam com as cantigas medievais, pois o ritmo e a métrica dos versos deixam esses poemas tão harmoniosos que eles se transformam também em verdadeiras letras de música. A obra é composta por poemas líricos, rimados e metrificados, de forte influência simbolista.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de jan. de 2020
ISBN9788582651971
Cancioneiro
Autor

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935) fue un poeta, ensayista y traductor portugués. TAmbién fue uno de los exponentes más brillantes e importantes de la literatura mundial y lusófona. Es especialmente reconocido por sus heterónimos: Alberto Caeiro, Alexander Search, Álvaro de Campos, Bernardo Soares y Ricardo Reis. Su obra ha sido traducida en casi todo el mundo.

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    Cancioneiro - Fernando Pessoa

    ABAT-JOUR

    A lâmpada acesa

    (Outrem a acendeu)

    Baixa uma beleza

    Sobre o chão que é meu.

    No quarto deserto

    Salvo o meu sonhar,

    Faz no chão incerto

    Um círculo a ondear.

    E entre a sombra e a luz

    Que oscila no chão

    Meu sonho conduz

    Minha inatenção.

    Bem sei... Era dia

    E longe de aqui...

    Quanto me sorria

    O que nunca vi!

    E no quarto silente

    Com a luz a ondear

    Deixei vagamente

    Até de sonhar...

    ABDICAÇÃO

    Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços

    E chama-me teu filho. Eu sou um rei

    que voluntariamente abandonei

    O meu trono de sonhos e cansaços.

    Minha espada, pesada a braços lassos,

    Em mãos viris e calmas entreguei;

    E meu cetro e coroa — eu os deixei

    Na antecâmara, feitos em pedaços

    Minha cota de malha, tão inútil,

    Minhas esporas de um tinir tão fútil,

    Deixei-as pela fria escadaria.

    Despi a realeza, corpo e alma,

    E regressei à noite antiga e calma

    Como a paisagem ao morrer do dia.

    ABISMO

    Olho o Tejo, e de tal arte

    Que me esquece olhar olhando,

    E súbito isto me bate

    De encontro ao devaneando —

    O que é sério, e correr?

    O que é está-lo eu a ver?

    Sinto de repente pouco,

    Vácuo, o momento, o lugar.

    Tudo de repente é oco —

    Mesmo o meu estar a pensar.

    Tudo — eu e o mundo em redor —

    Fica mais que exterior.

    Perde tudo o ser, ficar,

    E do pensar se me some.

    Fico sem poder ligar

    Ser, ideia, alma de nome

    A mim, à terra e aos céus...

    E súbito encontro Deus.

    A GRANDE ESFINGE DO EGITO

    A Grande Esfinge do Egito

    Sonha por este papel dentro...

    Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente

    E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...

    Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena

    Ser o perfil do rei Quéops...

    De repente paro...

    Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...

    Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro

    E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...

    Ouço a Esfinge rir por dentro

    O som da minha pena a correr no papel...

    Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,

    Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,

    E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve

    Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito abertos,

    E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo

    E uma alegria de barcos embandeirados erra

    Numa diagonal difusa

    Entre mim e o que eu penso...

    Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim!...

    A MINHA VIDA É UM BARCO ABANDONADO

    A minha vida é um barco abandonado

    Infiel, no ermo porto, ao seu destino.

    Por que não ergue ferro e segue o atino

    De navegar, casado com o seu fado?

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