Ler e escrever
De V.S. Naipaul
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Ler e escrever - V.S. Naipaul
Biblioteca Âyiné 22
Ler e escrever
Readind and writing
V. S. Naipaul
© V. S. Naipaul, 2020
para Reading and writing
© The Nobel Foundation, 2001
para Two Worlds
© Editora Âyiné, 2017, 2021
Nova edição revista
Todos os direitos reservados
Tradução Rogério Galindo (Ler e escrever, O escritor da Índia)
Sandra Dolinsky (Dois mundos)
Preparação Fernanda Alvares
Revisão Andrea Stahel, Leandro Dorval
Imagem da capa Julia Geiser
Projeto gráfico Renata de Oliveira Sampaio
Conversão para ebook Cumbuca Studio
ISBN 978-65-5998-006-2
Âyiné
Direção editorial Pedro Fonseca
Coordenação editorial Luísa Rabello
Coordenação de comunicação Clara Dias
Assistente de comunicação Ana Carolina Romero
Assistente de design Rita Davis
Conselho editorial Simone Cristoforetti, Zuane Fabbris,
Lucas Mendes
Praça Carlos Chagas, 49 — 2º andar
30170-140 Belo Horizonte, MG
+55 31 3291-4164
www.ayine.com.br
info@ayine.com.br
Ler e escrever - V. S. Naipaul - Tradução de Rogério Galindo e Sandra Dolinsky - Editora ÂyinéLer e escrever
O escritor e a Índia
Dois mundos
Para David Pryce-Jones
Ler e escrever
1.
Não tenho absolutamente nenhuma memória. Esse é um dos grandes defeitos da minha mente: fico meditando sobre o que quer que me interesse, e examinando aquilo de diferentes pontos de vista acabo vendo algo novo, e altero seu aspecto como um todo. Miro e estendo os tubos de meus aparelhos ópticos em todos os sentidos, ou os retraio.
Stendhal, A Vida de Henry Brulard
Eu tinha onze anos, no máximo, quando me veio o desejo de ser escritor; e em muito pouco tempo essa ambição criou raízes. É incomum que isso ocorra tão cedo, mas não acho que seja extraordinário. Ouvi dizer que colecionadores importantes, de livros ou de imagens, podem começar muito novos e, recentemente, na Índia, ouvi um importante diretor de cinema, Shyam Benegal, dizer que tinha seis anos quando decidiu ganhar a vida fazendo filmes.
Comigo, porém, a ambição de ser escritor foi durante muitos anos uma espécie de farsa. Gostei de ganhar uma caneta-tinteiro e um frasco de tinta Waterman e cadernos pautados novos (com margens), mas não sentia qualquer desejo ou necessidade de escrever o que quer que fosse; e não escrevia coisa alguma, nem mesmo cartas: não tinha ninguém para quem escrever. Eu não era especialmente bom em redação na escola; não inventava histórias para contar em casa. E, embora gostasse de livros novos como objetos físicos, não era um grande leitor. Gostava de um livro infantil barato das fábulas de Esopo que eu havia ganhado, com páginas grossas; gostava de um volume das histórias de Andersen que comprei para mim com dinheiro que me deram de aniversário. Mas com outros livros — especialmente aqueles de que meninos em idade escolar supostamente devem gostar —, eu tinha problemas.
Durante um ou dois períodos por semana na escola — isso foi no quinto ano —, o professor, Sr. Worm, lia para nós trechos de Vinte Mil Léguas Submarinas, da coleção de Clássicos da Collins. O quinto ano era a turma de «exibição» e era importante para a reputação da escola. As exibições, organizadas pelo governo, eram dirigidas às turmas de ginásio das escolas da ilha. Vencer uma exibição significava não precisar pagar mensalidade durante todo o ginásio e ganhar todos os livros escolares de graça. Também significava conseguir alguma fama para o aluno e para sua escola.
Passei dois anos na turma de exibição; outros meninos brilhantes tinham de fazer o mesmo. No meu primeiro ano, considerado um ano de teste, houve doze exibições, envolvendo toda a ilha; no ano seguinte, vinte. Fossem doze ou vinte exibições, cada escola queria ganhar o seu justo quinhão, e isso nos deixava muito determinados. Sentávamos debaixo de um estreito quadro branco em que um dos professores, o Sr. Baldwin (de cabelos emplastrados, brilhantes e quebradiços), tinha pintado, com uma mão não muito habilidosa, os nomes dos alunos da escola que haviam vencido exibições nos dez anos anteriores. E — honraria aflitiva — nossa sala de aula era também o gabinete do Sr. Worm. Ele era um mulato idoso, baixo e robusto, de aparência correta, com óculos e terno, e um belo de um carrasco quando se empolgava, respirando curto e forte enquanto batia com a palmatória, como se fosse ele a vítima. Às vezes, talvez só para fugir do pequeno e barulhento prédio da escola, onde as janelas e as portas sempre estavam abertas e as turmas eram separadas por divisórias até a altura da cintura, ele nos levava para o pátio empoeirado à sombra do chorão. Sua cadeira era levada para fora e ele se sentava debaixo da árvore, como fazia na sua grande mesa na sala de aula. Ficávamos em volta dele e tentávamos ficar parados. Ele olhava para baixo, para o pequeno volume dos