Nefelomancia
De Lys Köhler
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Nefelomancia - Lys Köhler
DEDICATÓRIA
Nefelomancia vai para muitas pessoas de uma maneira abrangente, mas, na verdade, pouca gente vai ser citada aqui, pois suas presenças não foram meras sombras que não tiveram força (e nem me deram a mesma).
Primeiramente, agradeço e dedico este livro à minha família, que teve de esperar vinte anos para realmente ler algo meu e por me incentivar quando finalmente tive a ideia de escrever e publicar um livro. O apoio de vocês foi imprescindível e eu não teria ido a lugar algum se vocês não tivessem endossado esse meu sonho. Mãe, pai, vó Julieta, vó Neusa, vô Juan, tias Thais e Sílvia, tio Daniel e a Ana Clara. Amo muito todos vocês!
Agradeço também às famílias que escolhi ter. São algumas e cada pessoa merece seu próprio agradecimento, então…
Aos meus amigues: Frankie, por ter torcido por um livro desde os primórdios da minha escrita e me ameaçado algumas vezes durante o processo. Tenho certeza que, se esse livro for parar em alguma editora, a culpa é tua. Tu sempre vai ser a minha irmãzinha. Janz, que fez a capa do livro e foi uma das pessoas que fizeram críticas construtivas durante meu processo de escrita. Mari, por também ter praticado um pouco da boa e velha pressão psicológica para que eu terminasse logo meu livro.
Ao Chlann Ashling dè Dannan. Mais especificamente à Jade, que fez com que eu me sentisse uma autora de verdade conforme surtava com meu livro no Whatsapp, a Nikki, minha dama, que revisou o livro antes de todo mundo e me deu muitos toques úteis (coitado do Isaac :c) e a Patty, minha testadora oficial de PDF.
Ao Bosque Sagrado e seus integrantes, mas, principalmente, ao Killian, por ter prontamente se oferecido para ler o livro quando disse que estava escrevendo (ainda estou esperando você publicar o seu!).
Um agradecimento superespecial às pessoas que contribuíram com a minha Vakinha para a publicação do livro: Senise Astolfi Carvalho, Elizabete Regueira Fernandez da Costa, Julieta Astolfi Carvalho, Silvía Yaskara Astolfi Carvalho, José Fernandes Pinho Júnior, Marina Guimarães (tu de novo?), Victor do Rosário Silva, Ben-Hur Ferré e Thais Ferré Faila (só minha família me doou dinheiro?!). Eu não consigo expressar o quão importante suas doações foram para a realização do meu sonho, e pode soar falso simplesmente citar seus nomes aqui, mas saber que vocês usaram seu dinheiro para me ajudar é uma sensação indescritível. OBRIGADA, do fundo do meu coração. Espero que o resultado de seus investimentos esteja a altura.
À minha terapeuta, que deu um divã para o Edward e a Diana conforme a estória se desenvolvia. E não apenas isso, mas por fazer com que eu visse que esse livro não era apenas sobre seus personagens, mas sobre mim também.
E, por fim, à Mafy. Essa dedicatória é especial, pois, sem você, não teria Exilium, Nefelomancia, e muito menos uma dedicatória. Obrigada por me dar o Edward e me ajudar do começo ao fim desta jornada, que é apenas um passo pequeno para uma caminhada mais longa que faremos juntes. Nefelomancia nasceu e foi dedicado a você desde que era apenas uma série de cinco parágrafos pra te inspirar. Espero que, agora que terminado, seja tão especial para você quanto foi para mim. Obrigada por tudo, amo-te. E arrebenta com esse TCC!
INTRODUÇÃO
Este é um livro sobre um garoto e uma garota. Mas não um garoto e uma garota comuns. Diana e Edward pertencem a famílias um tanto quanto distintas e ainda mais diferentes se comparadas entre si... Mas será mesmo?
Os dois têm solidão. A história é uma alegoria sombria sobre a infância e como lidar com a solidão. O poder da amizade, do amor. A dupla que protagoniza tal obra se tornam personagens tão cativantes por, acima de tudo, mostrar que apesar das diferenças entre uma pessoa e outra, quando há respeito, companheirismo e amizade, pode e provavelmente existirá amor. As divergências não são nada se não as deixarmos ser, e a amizade entre Edward e Diana nos deixa isso claro pois em meio a tantas desavenças, aventuras e desventuras, eles mantêm viva a sua amizade.
Tudo começou cerca de doze anos atrás. Edward foi criado a partir da ideia e da febre (na época) dos fakes recoloridos
no Orkut. Essa febre consistia em recolorir
alguma espécie de personagem querido e adaptá-lo a um novo, criar um Orkut para o mesmo, editar imagens, conhecer, conversar e fazer novas amizades. Os fakes utilizados por nós, na época, eram baseados no filme Spirit – O corcel indomável. Depois de ter introduzido uma personagem
nesse mundo, onde além de outras valiosas lições, fui apresentada à interpretação entre personagens, não me satisfiz ou me contive com apenas uma ideia ou história. Logo veio a necessidade de criar outra personagem, outra história e uma nova vida
, pois era assim que eu me sentia ao criar e interpretar uma nova personagem (ou fake), na época. Mas, em meio à quantidade de personagens e fakes que eram colocados por dia na rede, as ideias tornavam-se cada vez mais restritas... havia desde bruxos até piratas, personagens baseadas em atores e cantores... enfim, existia uma infinidade delas. Criar ou recriar algo que fosse novo para aquela realidade era muito complicado e exigia análise, se não quiséssemos comprar
uma briga desnecessária.
E foi assim, em meio à tentativa de inovar com uma personagem, que surgiu Edward. Edward Mãos de Tesoura, em forma equina. Sim, essa foi a ideia! Sempre fui fascinada pelo trabalho de Tim Burton, por seus filmes, suas personagens marcantes e enigmáticas e, ao pensar em bizarrice
, não pude deixar de lembrar dele e de seus trabalhos. Edward então foi escolhido para entrar naquela realidade e eu nunca esperava que tal escolha pudesse trazer essa reviravolta na minha vida, pois foi a partir dela que pude estar aqui hoje, a voz que prefacia este trabalho magnífico e que conta boa parte da nossa história.
Conheci Lys naquela época, depois que Edward e Diana se encontraram e firmaram uma amizade. Edward, o cavalo com tesouras, e Diana, uma égua bruxinha inspirada na própria personagem Diana dos livros da saga Harry Potter, iniciaram uma grande amizade e a partir dela, surgiu a nossa (Lys e eu), a qual tenho orgulho e felicidade em dizer que dura até hoje.
Bem, os anos se passaram, as interpretações tornaram-se cada vez mais presentes em nossos encontros e conversas, era tudo sempre muito divertido... deixávamos a imaginação literalmente voar, inventávamos situações completamente malucas e jogávamos, ríamos e nos divertíamos muito. Porém, iniciei o Ensino Médio, logo depois veio a faculdade e a vida foi exigindo cada vez mais de mim, obrigando-me a deixar, aos poucos, o querido mundo das personagens. Acabamos por perder o contato. Deixar de escrever e desenvolver minhas personagens só piorou as coisas, e com as exigências da faculdade, fui me fechando cada vez mais em obrigações, tendo saído da única rota de fuga que parecia aliviar toda aquela pressão – afinal, para mim, a imaginação sempre foi uma chave para escapar dos problemas do dia-a-dia, sendo esses banais ou não.
Certo dia, lembro-me de ter acordado sentindo a estranha necessidade de entrar no tal Orkut, de voltar àquele lugar depois de todo o tempo perdido. Passei o dia na faculdade e a vontade apenas aumentava, então logo que cheguei em casa conectei uma de minhas personagens. Passei um olhar rápido pelos recados, analisei as atividades, queria ver se de repente alguém ainda se lembrava de tudo aquilo. A saudade apertou forte e machucou o peito, e foi então que, por meio dessa outra personagem, acessei a conta de Edward, que teoricamente estaria mais esquecida. Olhei a foto, sorri com a descrição abobalhada que havia no perfil e me senti mal por tê-lo abandonado daquele modo, depois de tudo que ele havia me proporcionado. Respirei fundo e decidi dar a ele a atenção que merecia, por isso o refiz por inteiro. Edward não possuía mais tesouras nas mãos (ou patas, se preferir), mas havia se tornado um caçador. Agora possuía uma família, uma história, um propósito; sua personalidade, no entanto, persistiu. Não poderia retirar-lhe a essência que o fazia ser quem era.
Fiz as alterações, editei uma nova foto para expor aos amigos, reescrevi o perfil todo com a nova história que havia redigido e o deixei ali. Não esperava que fosse realmente reativá-lo, usá-lo, mas sentia que possuía uma dívida, que ele merecia toda aquela dedicação. Fiquei satisfeita e até insisti em visitar seu perfil por vezes para ver se algum colega ou amigo antigo de repente desse as caras por ali, mas não havia nada. Isso me desanimou nessa iniciativa, fez-me voltar ao mundo real
e deixar Edward e as novas fantasias de lado.
Um novo e mais forte aperto no peito me obrigou a visitar Edward mais uma vez algum tempo depois. Creio que seria a última que iria fazê-lo, pois não tinha mais esperanças de que alguém ainda o utilizaria. Foi então que, para o meu espanto e felicidade, encontrei um recado vindo de uma querida pessoa, com a qual não conversava há um bom tempo e que fez meus olhos brilharem. A mensagem fora uma tentativa de retomada de contato e, realmente, me sentia como uma pessoa naufragada em uma ilha recebendo o primeiro contato de resgate. Ela também dizia que eu lhe procurasse no Facebook, para que pudéssemos conversar. Eu não podia acreditar, principalmente depois de todo aquele tempo.
Conversamos então pela rede social e trocamos mensagens, atualizamos rapidamente os status de nossas vidas, falamos e prometemos não perder contato daquele modo de novo e assim o fizemos. O tempo foi passando novamente, conversávamos cada vez mais e, ao contar tudo pelo qual passava durante aqueles últimos anos, surgiu a proposta de voltarmos a interpretar com as nossas antigas personagens. Foi assim que Edward e Diana se reencontraram, literalmente, em outra vida.
Alteramos as histórias de cada um. Edward não mais era apenas uma adaptação do Edward de Tim Burton, assim como Diana também não era mais apenas a bruxa de Harry Potter. Algumas características se mantiveram, como nomes e outras pequenas coisas (como traços físicos, o fato de Diana ser uma bruxa etc), mas os novos personagens eram únicos e não mais se apoiavam na antiga bengala de quem foram baseados. Cada um tomou seu próprio rumo, tornando-se donos de seus próprios destinos. Destinos, esses, que adaptamos e as entrelaçamos. Porém, nunca esperávamos que esse enlace nos trouxesse os resultados que podemos observar aqui, nesta obra incrível. Mas trouxe e com ele veio o sobrenatural, quando, em uma típica e divertida conversa, decidimos levar adiante uma história que não ficaria restrita apenas a nós, não dessa vez. Foi quando Lys se empenhou em escrever sobre isso, em desenvolver efetivamente a trama e não apenas deixá-la nos planos de jogos futuros, fazê-la acontecer de fato.
Era tudo o que eu precisava naquele tempo turbulento, e foi assim que topamos entrar nessa, juntas. Lys escrevia e compartilhava comigo cada capítulo, cada nova etapa e eu apenas me deixava levar por esse dom magnífico que ela tem, ode encantar também com a escrita. Aquilo tudo me fez um bem sem igual e quando nos demos por conta, Lys havia quase terminado o primeiro livro de nossa história que agora se tornava uma série.
Agora todos terão o mesmo prazer que tive de poder apreciar e se encantar com essa obra que é, de longe, um dos trabalhos mais magníficos que já vi, feito com um amor e dedicação sem igual, aquele no qual a pessoa dá a melhor parte de si para concluir. Ao fim, vale a pena cada pequeno sacrifício deixado por estas páginas.
Parabenizo esta nova e competente autora pelo trabalho fantástico, fico feliz em ter ajudado nesta caminhada e por ter a honra de acompanhar cada passo até chegar aqui, sinto-me lisonjeada! Pretendo continuar a ser a parceira de todas as horas (a parceira de crimes, lembra?), e fazer parte desta inicial, mas promissora, carreira literária.
"— Não há — disse — tormento mais dorido
Que recordar o tempo venturoso
Na desgraça."
Inferno, de Dante Aliguieri (canto V)
1999, Verão
Desde que Edward podia se lembrar, seus pais o levavam para aquele vilarejo no meio do nada, numa viagem que durava três horas e meia, tempo o suficiente para que Edward ficasse dolorido. O garoto nunca realmente guardou muitas lembranças de lá, além de que dormia com cobertas que pinicavam, e uma vez que um inseto gigante grudou na tela da janela de seu quarto e ele saiu gritando até o quarto de seus pais. As memórias da infância de Edward eram um tanto incompletas – a ausência do pai, Isaac, e sua mãe constantemente preocupada. Os únicos momentos de família eram aqueles e, mesmo assim, Isaac mantinha uma distância segura de seu filho; o que, em retrospecto, provavelmente foi a principal causa da reclusão sentimental de Edward em sua vida adulta.
De qualquer maneira, as viagens eram esporádicas e duravam pouco. Provavelmente, por isso, Edward não se lembrava muito bem das mesmas – e, principalmente, por isso, não se lembrava dela. Houve uma época, no entanto, em que Isaac começou a viajar frequentemente para a pequena cidade que ficaria nas lembranças de Edward como a cidade dos Fairweather
. Ele tinha onze anos e nenhuma memória prévia daqueles olhos grandes e cinzentos. Por isso, se tivesse que escolher um momento exato em sua infância no que ele realmente conhecera Diana Fairweather, ele colocaria uma marca sob a viagem que fizera a Sherborne quando tinha onze anos de idade.
Quando perguntou para sua mãe, Lilian disse que eles se conheciam desde a primeira vez que Isaac os levara para conhecer os Fairweather, assim que Aine e Duncan retornaram da Irlanda. Quando Diana era um bebê de dois anos e Edward tinha apenas sete. De fato, Lilian mostrara ao rapaz a fotografia de um Edward emburrado com uma pequena garota de cabelos claríssimos e cara de espanto sentada em seu colo. Mas, honestamente, ele não se lembrava. Para Edward, a primeira vez que ele realmente vira Diana estava marcada a ferro em sua memória. Não a Diana criança, mas a Diana pessoa. E de maneira alguma ele saberia que aquela garota estaria entrelaçada de maneira tão intrínseca com seu futuro.
Estava entediado, sua mãe dormindo e seu pai enfiado em seus misteriosos livros e diários. Quando o homem anunciou que faria uma pequena visita à velha Aine e a Duncan, Edward prontamente se ofereceu para ir junto. Lilian apenas grunhiu alguma coisa ininteligível e continuou dormindo. Isaac pareceu um pouco hesitante de levar Edward, mas acabou por permitir que o garoto fosse junto (mais por falta de opção do que por vontade própria).
Aine era uma moça bonita e jovem, de no máximo trinta anos, cujos cabelos louros na altura dos ombros a deixavam com a aparência ainda mais juvenil. Tinha a pele clara, sorriso fácil e olhos verdes; apertou as bochechas de Edward assim que ele chegou. O garoto ficou escondido atrás das pernas de seu pai depois daquilo, esfregando as bochechas e reclamando baixinho.
Enquanto Aine parecia uma noite de luar, Duncan parecia um dia ensolarado. Tinha a pele dourada, os cabelos louros escuros desleixadamente empurrados para trás e olhos de um tom acinzentado que o jovem nunca antes vira. O homem lembrou Edward de um surfista – um com quarenta e poucos anos, mas, ainda assim, um surfista. Ele era mais baixo do que Isaac e seu físico mais robusto. Ainda assim, sua presença era silenciosa, e seu traço mais marcante era, provavelmente, o sorriso discreto que nunca saía de seus lábios e olhos.
Logo após cumprimentar Isaac, Duncan saiu da sala e subiu para o segundo andar da casa. Isaac, Aine e Edward, foram até a sala e se sentaram em poltronas altas e confortáveis, mas o silêncio tinha um toque de desconforto. Quase como se Isaac e Aine quisessem conversar, mas a presença de Edward não permitisse tal troca de palavras. Isaac se remexia em sua poltrona, olhos indo de seu filho para a figura diminuta e delicada de Aine, que bebia seu chá e fitava a janela com olhos distraídos. Eventualmente, Duncan entrou na sala onde os três estavam, puxando Diana, que esfregava um dos olhos de maneira sonolenta, pela mão.
Ela não devia ter mais de seis anos e, ainda assim, havia algo naquela garota que lhe deixava um pouco assustado. Tanto que, quando a pequena foi até ele, o puxar para fora para brincar, Edward demorou um pouco para realmente segurar sua pequenina mão e deixar que a garota o guiasse ao jardim dos fundos.
Diana tinha um ar fantasmagórico, para dizer o mínimo. Não de uma maneira a dizer que ela era assustadora, mas sim pálida. Seus cabelos eram louros esbranquiçados e caíam em grandes ondas por suas costas. Suas sobrancelhas eram tão claras que sumiam em sua pele branca e algumas sardas tingiam a ponte do seu nariz. Sua feição mais misteriosa, no entanto, eram seus olhos. Eles tinham o mesmo tom acinzentado que os de Duncan, porém eram grandes e expressivos, o que lhes dava uma intensidade maior. Edward se pegou encarando aqueles olhos intensos e assustadores várias vezes durante aquele primeiro encontro.
No entanto, ainda que pálida, fantasmagórica e misteriosa, Diana continuava sendo uma criança e, sendo assim, agia como uma. Ela falava muito e muito rápido; e, além de tudo isso, tinha um sotaque forte do interior, assim como seus pais. No primeiro dia, Edward não disse nada, simplesmente por não entender nada do que Diana dissera. Ele apenas assentia e observava a garotinha andar em suas botas ortopédicas e vestido de melancias; assobiando para passarinhos e rindo de coisas tolas. Havia muita informação para assimilar ao mesmo tempo, por isso Edward, ainda que tenha ficado encantado, também ficou um pouco intimidado pela força e energia que Diana possuía.
Foi apenas ao retornar ao chalé alugado no qual sempre ficavam que Edward perguntou sobre Diana. Eles já haviam se encontrado antes? Lilian apenas assentiu e procurou entre as fotos que sempre carregava consigo assim que teve tempo. Quando a encontrou, Lilian lhe mostrou a foto onde Edward estava com Diana no colo. Com o cenho franzido e fotografia em mãos, o garoto se perguntou por qual razão não se lembrava de Diana.
Passou o resto da noite perguntando sobre a garota, o que pareceu divertir sua mãe e irritar um pouco seu pai.
Ela não falava?
perguntou, ignorando seu chá e preferindo um copo de suco de laranja e torrada com ovos – comida de café da manhã antes de dormir, como sua família sempre fazia.
Lilian riu e revirou os olhos, correndo os dedos pelos cabelos escuros de Edward e negando com a cabeça. Deus, não. Ela sempre falou demais. Até mesmo quando não conseguia produzir palavras, ficava fazendo aqueles sons de bebê o tempo todo. Bebê mais resmungão que eu já conheci.
Isaac expirou sonoramente e o garoto ergueu os olhos para o pai, que não parecia muito satisfeito com o assunto. Edward franziu o cenho e Isaac apenas deu de ombros, bebericando sua xícara de chá. Você nunca gostou de visitar os Fairweather, suponho. Talvez essa seja uma boa razão para que você não se lembre de Diana. E nossas visitas sempre foram poucas, de qualquer maneira.
Ou talvez só quisesse esquecer toda informação que aquela garota tentou enfiar no seu cérebro.
Lilian riu, antes de balançar a cabeça novamente e se focar na própria comida.
Edward assentiu e concordou silenciosamente com a mãe em mente. Diana realmente falava demais. Ainda assim, a garota o deixava curioso, e não com vontade de reprimir o que ela dizia.
Por isso, no dia seguinte, quando não precisou insistir para ir junto, pois Lilian estava acordada, Edward disse suas primeiras palavras para a garota. Ela estava tagarelando rapidamente sobre Deus sabe o que quando Edward começou a entrar em desespero, olhou para a garota e disse suavemente:
Fale mais devagar.
Diana interrompeu seu raciocínio infantil e ergueu os grandes olhos para ele. Parecia um pouco surpresa por ele ter dito algo e, por cinco segundos, até mesmo a mente infantil de Edward se arrependeu de ter proferido aquelas palavras.
Mas ela sorriu e assentiu, seus cachos louros balançando para cima e para baixo. Desculpe.
E nunca mais falou rápido na frente de Edward.
Naquela tarde morna e cheia de sol, ele segurou a mão de Diana enquanto ela andava em cima dos tocos de árvore que serviam como cerca ao redor da casa dos Fairweather. A garota falou de tudo um pouco: sobre bichos, o sol e histórias fantásticas que sua mãe lhe contava antes de ir dormir. Edward não falou sobre si, apenas absorveu toda a informação que pode sobre Diana. Ela gostava de laranja, pois era a cor dos coelhos
. Usava botas ortopédicas (opopéticas
, nas palavras dela), pois seus pés eram tortos. Suas flores prediletas eram girassóis, pois eles se mexem!
Diana falou por horas e Edward apenas escutou. Era