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Rotinas da Emergência Médica
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E-book774 páginas21 horas

Rotinas da Emergência Médica

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Sobre este e-book

Nesta nova edição da Série Acta médica, abordamos a temática rotinas da emergência médica. Procuramos complementar a nossa última publicação, que abordou o tema atendimento de urgência voltado ao indivíduo vítima de traumatismos. Agora, focamos em situações de atendimento emergencial de natureza clínica e cirúrgica. Mantivemos a abrangência das edições anteriores, tratando de tópicos nas áreas de clínica médica e cirurgia, bem como de suas especialidades: pediatria, ginecologia e obstetrícia, neurociências, psiquiatria e ciências básicas. Procuramos oferecer ao leitor uma obra que aborde o conteúdo fisiopatológico das doenças, ao mesmo tempo em que disponibilizamos informações diretas para a prática assistencial nas unidades de emergência e pronto atendimento médicos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de ago. de 2022
ISBN9786556230580
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    Pré-visualização do livro

    Rotinas da Emergência Médica - Ana Paula Avila Pinzon

    Capítulo 1

    Síndrome coronariana aguda sem supra ST

    FLÁVIO VINÍCIUS COSTA FERREIRA

    ANTÔNIO LESSA GAUDIE LEY

    MARIO WIEHE

    Introdução

    A Síndrome Coronariana Aguda (SCA) decorre de injúria miocárdica com apresentação aguda ou subaguda. O mecanismo fisiopatológico envolve ruptura ou erosão da parede (capa fibrosa) de uma placa aterosclerótica localizada em uma artéria coronariana. A apresentação clínica contempla, com variações, sintomas de dor torácica, retroesternal, com irradiação para membros superiores e/ou mandíbula, sudorese, náuseas/vômitos, dispneia, podendo evoluir, dependendo da extensão, com sinais de baixo débito, a desfechos desfavoráveis, como choque cardiogênico e óbito (1).

    Alguns fatores de risco estão fortemente associados à maior prevalência da doença: hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabete melito (DM), tabagismo, dislipidemia, sedentarismo e história familiar de doença arterial coronariana (DAC) (2).

    A classificação da SCA é determinada pelas alterações no eletrocardiograma (ECG) e/ou dos marcadores de necrose miocárdica (Troponina I ou T), sendo dividida em três diferentes categorias, de acordo com essas alterações: Angina Instável (AI), Síndrome Coronariana Aguda Sem Supradesnivelamento do Segmento ST (SCASSST) e Síndrome Coronariana Aguda com Supradesnivelamento do Segmento ST (SCACSST) (3).

    Angina Instável

    A Angina Instável (AI) consiste em dor anginosa de início recente, pronunciada desde leves esforços à dor em repouso; evidencia tanto isquemia subendocárdica ou subepicárdica no traçado do eletrocardiograma (ECG), como ausência de alterações isquêmicas (primárias), com valores de troponina dentro do intervalo da normalidade, tornando o diagnóstico, neste contexto, eminentemente clínico. Representa uma categoria de SCASSST, na qual os sintomas anginosos decorrem de oclusão parcial da luz arterial coronariana, com manutenção do fluxo anterógrado através da placa instabilizada (4).

    Síndrome Coronariana Aguda Sem Supradesnivelamento do Segmento ST

    A SCASSST, diferentemente da AI, apresenta lesão de tecido miocárdico, decorrente da oclusão parcial da luz arterial coronariana, resultando em isquemia e lesão miocárdica. Evidencia alterações no ECG, como depressão ou elevação transitória de segmento ST e/ou inversão de onda T, associadas à elevação de biomarcadores cardíacos (4).

    Síndrome Coronariana Aguda Com Supradesnivelamento de Segmento ST

    A SCACSST decorre da oclusão completa da luz arterial coronariana. Seu diagnóstico se dá pelos achados clínicos, aumento de biomarcadores séricos de necrose miocárdica, associados a alterações eletrocardiográficas como supradesnivelamento de ST de pelo menos 2 mm (homens) ou 1,5 mm (mulheres) em pelo menos duas derivações contíguas e/ou surgimento de novo bloqueio de ramo esquerdo (BRE) ou, menos frequente, novo bloqueio de ramo direito (BRD) (5). Esse assunto será abordado com maior detalhamento no capítulo 2.

    Abordagem do paciente com dor torácica

    Para todo paciente que chega à emergência com queixa de dor torácica, uma anamnese detalhada deve ser realizada, buscando identificar características da dor, presença de irradiação, tempo de duração, fatores de alívio e/ou piora e presença de dispneia associada. A presença de dor torácica definitivamente anginosa (Tipo A) é considerada um dado clínico de alta sensibilidade e valor preditivo negativo elevado na SCA (12). Além disso, devem ser avaliados os fatores de risco correlacionados como idade, sexo, histórico de doença cardiovascular prévia, histórico familiar de doença cardiovascular e tabagismo (6,7).

    É importante atentar para os diversos diagnósticos diferenciais (Tabela 1) de dor torácica quando um paciente se apresenta na emergência, dado que a acurácia diagnóstica de um ECG de 12 derivações para identificar eventos isquêmicos apresenta cerca de 50% de sensibilidade quando avaliado isoladamente (8).

    Tabela 1 – Causas não isquêmicas de dor precordial

    Fonte: ROFFI, Marco et al. 2015 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation. European Heart Journal, v. 37, n. 3, p. 267–315, 29 ago. 2015. DOI 10.1093/eurheartj/ehv320. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1093/eurheartj/ehv320.

    A abordagem inicial desses pacientes consiste em correção e estabilização de distúrbios hemodinâmicos e respiratórios, registro e interpretação qualificada de um ECG (preferencialmente em até 10 minutos da admissão na emergência), e coleta laboratorial para avaliação de biomarcadores de necrose miocárdica. Alterações no eletrocardiograma, como identificação de BRE ou BRD novos, inversão de onda T, e supra ou infradesnivelamento de segmento ST em duas derivações contíguas, caracterizam uma SCA (9).

    Deve-se destacar que a presença de um ECG inicial dentro dos limites da normalidade não exclui a possibilidade de o paciente estar cursando com uma SCA, devendo ser repetido em intervalos de 3, 6 e 9h após a chegada do paciente ou em caso de recorrência de dor. Isso se deve aos biomarcadores, que apresentam alterações com tempos de início, pico e duração diferentes, devendo ser seriados em 3, 6 e 9h após início do quadro álgico. Uma radiografia de tórax também está indicada para investigação de diagnósticos diferenciais, especialmente dissecção aórtica aguda, embolia pulmonar, pneumotórax hipertensivo, e alterações pulmonares decorrentes de uma possível SCA (e.g. edema agudo de pulmão) (9).

    Estratificação de risco

    Todos os pacientes com SCASSST devem ser estratificados quanto a risco de eventos cardíacos maiores, baseados em escores validados, como TIMI-risk e HEART-score, e risco de sangramento, como Crusade e Roxana. As classificações estratificam os pacientes em alto, intermediário e baixo risco e têm implicações no prognóstico e nas estratégias terapêuticas a serem adotadas (Tabela 2) (10).

    Tabela 2 – Heart Score

    Escore: 0-3 pontos, Baixo risco; 4-6, Risco intermediário; 7-10, Alto riscoFonte (13): Adaptado de Brady, W., & de Souza, K. (2018). The HEART score: A guide to its application in the emergency department. Turkish journal of emergency medicine, 18(2), 47–51.

    Para pacientes de baixo risco, com estabilidade clínica e hemodinâmica, sem elevação de troponina ou alteração eletrocardiográfica, apesar de repetições seriadas, e sem recidiva de dor torácica, pode ser considerada alta hospitalar, com realização de estratificação não invasiva 12 horas após o evento e acompanhamento ambulatorial subsequente (10).

    Pacientes de médio risco devem permanecer no hospital, sob monitorização, e, idealmente, serem submetidos a estratificação invasiva em laboratório de hemodinâmica dentro de 24-72h. Caso apresentem risco de sangramento ou insuficiência renal, devem realizar um teste não invasivo, como cintilografia miocárdica com estresse farmacológico ou ecocardiograma de estresse em 24-48h após admissão (10).

    Pacientes de alto risco devem ser estratificados com base na classificação clínica da gravidade de disfunção cardíaca por meio do escore KILLIP, que confere valiosa informação prognóstica (Tabela 3). Pacientes KILLIP I ou II devem realizar estratificação invasiva em até 24h. Em pacientes KILLIP III ou IV, ou se apresentarem instabilidade elétrica ou hemodinâmica, deve ser realizado cateterismo cardíaco de emergência (10).

    Tabela 3 – KILLIP Score

    Fonte (14): Adaptado de MELLO, Bruno Henrique Gallindo de et al. Validação da Classificação de Killip e Kimball e Mortalidade Tardia Após Infarto Agudo do Miocárdio. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 103, n. 2, p. 107-117, Aug. 2014.

    Conduta terapêutica inicial

    No presente tópico, abordaremos terapias aplicadas no manejo inicial comum tanto de SCACSST como de SCASSST / AI (Tabela 4).

    Inicialmente, o paciente deve ser colocado no leito, em repouso, jejum, com monitorização cardíaca, aferição de saturação periférica e de pressão arterial; acesso venoso periférico deve ser obtido, preferencialmente em membro superior esquerdo, devido à possibilidade de intervenção coronariana percutânea através de artéria radial direita; oxigênio suplementar de baixo fluxo deve ser ofertado por meio de cateter nasal, se saturação <90% (1).

    É mandatória a dose de ataque de AAS 300mg, via oral. Deve ser associado uma segunda droga antiagregante plaquetária como o Clopidogrel 75 mg, 4 comprimidos, totalizando 300 mg, VO, ou Ticagrelor 90 mg, 2 comprimidos, totalizando 180 mg. (1)

    A administração de Morfina 2-5 mg, potente analgésico opioide, em pacientes com dor precordial intensa e refratária, apesar de ser classificada nas diretrizes americanas como classe de recomendação IIb por atrasar a reabsorção intestinal do Clopidogrel, ainda é muito utilizada (11). Os vasodilatadores, como os nitratos administrados por via sublingual (dinitrato de isossorbida, 5 mg, mononitrato de isossorbida 5 mg, propatilnitrato 10 mg) ou endovenosa (nitroglicerina) em infusão contínua, são utilizados para controle da angina, consequente redução da demanda de oxigênio e redução do retorno venoso, especialmente benéfico em pacientes que evoluem com congestão pulmonar. As contraindicações para sua utilização incluem envolvimento do ventrículo direito sob isquemia e infarto, hipotensão arterial, ou uso recente de sildenafila, por potencial aprofundamento da piora do débito cardíaco, exigindo reposição volêmica para estabilização hemodinâmica (1).

    Para redução de frequência cardíaca e consumo de oxigênio pelo tecido miocárdico sob sofrimento, podem ser utilizadas agentes betabloqueadores, como metoprolol via oral ou endovenosa, buscando frequência cardíaca em torno de 60 bpm. Seu uso é contraindicado em caso de hipotensão ou choque cardiogênico, bloqueios atrioventriculares de 2º ou 3º grau ou em pacientes com escore de KILLIP >1 (1).

    Outros pontos a serem considerados na terapêutica inicial são: o uso de estatinas potentes em altas doses, como atorvastatina 40-80 mg, visando redução de desfechos cardiovasculares; e o uso de protetores da mucosa gástrica, como ranitidina ou omeprazol (contraindicado se uso concomitante de clopidogrel) (1).

    Tabela 4 – Manejo inicial em casos de SCA

    *Laboratoriais: hemograma completo, função renal, eletrólitos, coagulograma, proteína C reativa, perfil lipídico, ácido úrico.

    **Clopidogrel ou análogos: Ticagrelor 180 mg via oral.

    Fonte: ROFFI, 2015.

    Revascularização em AI / SCASSST

    Após a abordagem diagnóstica, estratificação de risco e conduta terapêutica na emergência, o paciente com AI / SCASSST de moderado e alto risco deve ser encaminhado para unidade coronariana para acompanhamento monitorizado. A aplicação de fondaparinux, agente anticoagulante administrado por via subcutânea (SC), está indicada considerando seu comprovado benefício na redução de isquemia refratária, evolução para IAM e mortalidade, associado a um menor risco de sangramento comparado a outros tipos de heparinas de baixo peso molecular, como enoxaparina (SC). A utilização das heparinas não fracionadas, administradas diluídas em bomba de infusão, com controle do tempo de tromboplastina parcial ativada (KTTP) de 6/6 horas, fica reservada para pacientes com perda significativa de função renal. É necessário manutenção de anticoagulação plena por oito dias ou até alta hospitalar (recomenda-se suspensão imediata após cateterismo) (1).

    A estratificação invasiva associada ao cálculo de escore SYNTAX direcionam a estratégia de revascularização miocárdica. A revascularização pode ser realizada tanto por angioplastia transluminal percutânea (ACTP), com implante de endoprótese coronária (STENT), como por cirurgia cardíaca com esternotomia, com ou sem circulação extracorpórea (CEC), e implante de enxertos de veia safena e/ou artéria torácica interna esquerda (ATIE/mamária). Cada caso deve ser individualizado e suas particularidades devem ser levadas em consideração na escolha do tratamento. Na tomada de decisão em casos de maior complexidade, o Heart Team, equipe composta por representantes da cardiologia clínica, cardiologia intervencionista e cirurgia cardíaca, deve ser acionado para definição da melhor estratégia de tratamento (3).

    Condutas na alta hospitalar

    Fatores de risco modificáveis, como HAS, dislipidemia e DM, devem ser identificados durante a internação hospitalar. O paciente tem indicação para manutenção de dupla antiagregação plaquetária por 12 meses (uso diário de AAS 100 mg, associado à clopidogrel 75 mg ou ticagrelor 90 mg). Um betabloqueador deve ser mantido na busca de uma frequência cardíaca de 60-70 bpm. Se o ecocardiograma, realizado antes da alta hospitalar, revelar disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE), definida por uma fração de ejeção (FE) menor que 40% (FEVE<40%), deve-se optar por Carvedilol, Succinato de Metoprolol ou Bisoprolol, em doses crescentes. Visando à redução do remodelamento ventricular, deve ser acrescentado um inibidor da enzima de conversão de angiotensina II (I-ECA), como Enalapril ou Captopril, ou um bloqueador dos receptores da angiotensina (BRA), se ocorrer intolerância ao I-ECA (ex: tosse seca). Uma estatina, visando um LDL colesterol <70 mg/dl, deve completar o arsenal terapêutico de prevenção secundária no contexto da cardiopatia isquêmica (10). Estratégias de abandono do tabagismo devem também ser fortemente estimuladas e implementadas.

    O paciente deve realizar pelo menos duas consultas de revisão após o evento coronariano: a primeira, em cinco semanas, para abordar possíveis sintomas anginosos, que, se presentes, indicam otimização do tratamento medicamentoso, e em sequência, avaliação não invasiva com testes funcionais, como cintilografia miocárdica ou ecocardiograma com estresse farmacológico (Ecostress). Frente à identificação de áreas de hipoperfusão transitória (isquemia) e à alteração de motilidade segmentar significativos, uma estratificação invasiva por cineangiocoronariografia se impõe. A segunda consulta está indicada em três meses após alta hospitalar para avaliar, além da sintomatologia e da adesão ao tratamento medicamentoso, as mudanças de estilo de vida (MEV) orientadas e o controle dos fatores de risco, especialmente o perfil lipídico, revelados pelos exames laboratoriais de controle (10).

    Conclusão

    A prevalência dos fatores de risco para DAC, como sedentarismo, obesidade, HAS, DM e dislipidemia, é crescente em nossa população, que está em acelerado processo de envelhecimento. Frente a esse contexto, as estimativas predizem que eventos relacionados a doenças cardiovasculares aumentem gradualmente nas próximas décadas (2).

    A morbimortalidade decorrente SCA gera crescente impacto nos gastos do poder público e do setor de medicina complementar (operadoras de saúde). Assim, adoção de estratégias de avaliação de pacientes e implementação de medidas de prevenção, de diagnóstico e de tratamento são alvo de discussões e de revisões permanentes pelos comitês e órgãos reguladores envolvidos, constituindo tema de debate recorrente entre especialistas e gestores da área de saúde. Dessa forma, a aplicação das melhores evidências geradas por pesquisas científicas visa à redução de desfechos clinicamente desfavoráveis, como choque cardiogênico e óbito, por meio de intervenções efetivas com custo adequado.

    Referências

    1. CONSOLIM-COLOMBO, Fernanda Marciano; SARAIVA, José Francisco Kerr; IZAR, Maria Cristina de Oliveira. Tratado de cardiologia SOCESP. 4. ed. Barueri: Manole, 2019. 1616 p. ISBN 9788520460054.

    2. ARNETT, Donna K. et al. 2019 ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease: A Report of the American College of Cardiology. American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines. Circulation, v. 140, n. 11, 10 set. 2019. DOI 10.1161/cir.0000000000000678. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1161/CIR.0000000000000678.

    3. ROFFI, Marco et al. 2015 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation. European Heart Journal, v. 37, n. 3, p. 267–315, 29 ago. 2015. DOI 10.1093/eurheartj/ehv320. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1093/eurheartj/ehv320.

    4. Nicolau JC, Timerman A, Marin-Neto JA, Piegas LS, Barbosa CJDG, Franci A, Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol 2014; 102(3Supl.1):1-61

    5. PIEGAS, LS et al. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq. Bras. Cardiol.,  São Paulo ,  v. 105, n. 2, supl. 1, p. 1-121,  Aug.  2015. Disponível em: https://doi.org/10.5935/abc.20150107.

    6. GRIJSEELS, E. W. M. et al. Implementation of a pre-hospital decision rule in general practice: Triage of patients with suspected myocardial infarction. European Heart Journal, v. 17, n. 1, p. 89–95, 1 jan. 1996. DOI 10.1093/oxfordjournals.eurheartj.a014697. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1093/oxfordjournals.eurheartj.a014697.

    7. Bassan R, Pimenta L, Leões PE, Timerman A. Sociedade Brasileira de Cardiologia – I Diretriz de Dor Torácica na Sala de Emergência. Arq Bras Cardiol. 2002;79 (supl II): 1-22

    8. LEE, THOMAS H. Sensitivity of Routine Clinical Criteria for Diagnosing Myocardial Infarction Within 24 Hours of Hospitalization. Annals of Internal Medicine, v. 106, n. 2, p. 181, 1 fev. 1987. DOI 10.7326/0003-4819-106-2-181. Disponível em: http://dx.doi.org/10.7326/0003-4819-106-2-181.

    9. IBANEZ et al. ESC Scientific Document Group, 2017. ESC Guidelines for the management of acute myocardial infarction in patients presenting with ST-segment elevation: The Task Force for the management of acute myocardial infarction in patients presenting with ST-segment elevation of the European Society of Cardiology (ESC). European Heart Journal, Volume 39, Issue 2, 07 January 2018, Pages 119–177, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehx393

    10. SOEIRO, Alexandre de Matos; LEAL, Tatiana de Carvalho Andreucci Torres; ACORSI, Tarso Augusto Duenhas; GUALANDRO, Danielle Menosi; JUNIOR, Múcio Tavares de Oliveira; FILHO, Roberto Kalil. Manual Da Residência Em Cardiologia. 1. ed. Barueri: Manole, 2015. 1184 p. ISBN 9788520443873.

    11. AMSTERDAM, Ezra A. et al. 2014 AHA/ACC Guideline for the Management of Patients With Non–ST-Elevation Acute Coronary Syndromes. Circulation, v. 130, n. 25, dez. 2014. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1161/CIR.0000000000000134.

    12. SILVA DOS SANTOS, Elizabete; TIMERMAN, Ari. Dor torácica na sala de emergência: quem fica e quem pode ser liberado? Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, v. 28, n. 4, p. 394–402, 15 dez. 2018. DOI 10.29381/0103-8559/20182804394-402. Disponível em: http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20182804394-402.

    13. BRADY, W., & DE SOUZA, K. The HEART score: A guide to its application in the emergency department. Turkish journal of emergency medicine, 18(2), 47–51, 2018. https://doi.org/10.1016/j.tjem.2018.04.004

    14. MELLO, Bruno Henrique Gallindo de et al . Validação da Classificação de Killip e Kimball e Mortalidade Tardia Após Infarto Agudo do Miocárdio. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 103, n. 2, p. 107-117, Aug. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.5935/abc.20140091.

    Capítulo 2

    Infarto agudo do miocárdio com supra ST

    CAROLINA MARQUEZIN GIACOMELLO

    CAROLINE GRANDINI COSTA

    FLÁVIO VINÍCIUS COSTA

    ANTÔNIO GAUDIE LEY

    MÁRIO WIEHE

    Introdução

    Dor torácica é o sintoma preponderante na síndrome coronariana aguda, evento potencialmente associado à elevada morbimortalidade. As doenças cardiovasculares (DCV) ocupam o primeiro lugar como causa de mortes em países em desenvolvimento, apesar do investimento crescente em ações preventivas e melhoria nas estratégias de tratamento. Nesse cenário se torna relevante o rápido e adequado reconhecimento dessa síndrome, na qual a velocidade do correto encaminhamento diagnóstico e terapêutico, através de protocolos bem estabelecidos e validados, resulta em importante redução de desfechos clinicamente relevantes (1). Neste capítulo, será discutido principalmente o manejo do infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST (IAMCSST). A síndrome coronariana aguda sem supra ST foi revisada no capítulo 1.

    O infarto agudo do miocárdio com elevação do segmento ST é definido por dor precordial decorrente de isquemia miocárdica, com elevação persistente do segmento ST (repolarização ventricular) identificadas no eletrocardiograma (ECG) acompanhado pela elevação de marcadores de necrose miocárdica.

    A maioria das mortes decorrentes de um Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) ocorre nas primeiras horas de manifestação da doença, sendo 40 a 65% na primeira hora e, aproximadamente, 80% nas primeiras 24 horas (2). As variáveis mais fortemente associadas com mortalidade são: idade avançada, classificação de Killip, atraso no início do tratamento, escolha da terapêutica inadequada, doença renal crônica, história prévia de DCV, números de artérias coronárias acometidas e a função ventricular esquerda (3).

    As diretrizes internacionais e o próprio protocolo institucional do Hospital São Lucas (HSL) da PUCRS preconizam que a primeira abordagem a ser realizada no paciente com dor torácica aguda seja a realização precoce do ECG de 12 derivações seguida da prescrição de analgesia de uma dose de ataque de 300 mg do antiagregante plaquetário ácido acetil salicílico (AAS) (4).

    Fisiopatologia

    A patogênese do IAM está basicamente relacionada com a morte de cardiomiócitos secundária à isquemia prolongada. Em geral, essa isquemia é causada por trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa aterosclerótica. O processo migra do subendocárdio para o subepicárdio (5). No IAMCSST, ocorre oclusão trombótica completa e persistente da luz de uma artéria coronária, secundária à erosão ou ruptura de uma placa aterosclerótica obstrutiva, em maior ou menor grau, pré-existente. Com o fluxo sanguíneo coronário interrompido, o dano miocárdico é iniciado, e, quanto maior o tempo de obstrução desse fluxo anterógrado, maior será a quantidade de miocárdio sob sofrimento, com gradual substituição do tecido miocárdico por fibrose (tecido de cicatrização) (6). A extensão da área de necrose se constitui em variável com implicação decisiva no prognóstico do paciente.

    Quadro clínico

    O quadro clínico do IAMCSST é caracterizado por sintomas de desconforto torácico com características anginosas, porém de maior intensidade, descritos como uma opressão ou queimação. A dor localiza-se mais comumente na região retroesternal, paraesternal esquerda, precordial ou em tórax anterior. Pode ser percebida como desconforto torácico difuso que se irradia para membros superiores, epigástrio ou região mandibular. Irradiar para o braço esquerdo é o padrão, porém há casos em que a dor é percebida no braço direito (7).

    O desconforto pode ser acompanhado por sintomas neurovegetativos, como fraqueza, dispneia, náuseas, vômitos, diaforese, apreensão ou agitação. A duração, em geral, é maior do que 20 minutos, podendo chegar a várias horas. É persistente e não apresenta alívio com repouso ou nitroglicerina. Em geral, a dor não tem relação com esforços, porém, o estresse físico e emocional, são identificados como gatilhos frequentes, assim como o horário de despertar matinal, período em que ocorre com maior frequência. Pacientes portadores de comorbidades como hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabete melito (DM), mulheres e idosos apresentam com maior frequência um quadro caracterizado como infarto silencioso, no qual prepondera sintomas atípicos e ausência de dor anginosa clássica. Podem cursar com fraqueza, dispneia súbita, que pode evoluir para edema agudo de pulmão, tontura, náuseas e vômitos, confusão mental e perda de consciência. Essa apresentação clínica pode ser encontrada em um terço até metade dos pacientes com diagnóstico de IAM. No exame físico podem aparecer alterações (como B3 (galope), taquicardia e hipertensão – atividade simpática em infarto de parede anterior; bradicardia e hipotensão – atividade parassimpática em infarto de parede inferior), assim como palidez e sudorese. Na ausculta cardíaca, pode-se identificar 3ª e 4ª bulhas cardíacas, revelando disfunção ventricular, bem como desdobramento paradoxal da 2ª bulha e hipofonese da 1ª bulha (7).

    Diagnóstico

    O diagnóstico emergencial deve ser feito considerando-se as fases temporais do infarto. É feito a partir de clínica compatível com IAM, eletrocardiograma (ECG) nos primeiros 10 minutos de atendimento demonstrando elevação do segmento ST e biomarcadores de necrose miocárdica mais específicos com valores elevados – troponinas I e T com valores > 99% do limite superior são considerados anormais. A elevação da troponina é detectada dentro de 2 a 4 horas após o início do IAM, tem seu pico máximo com 10 a 14 horas, e persiste elevada por 5 a 14 dias (7, 8).

    ECG

    No IAMCSST identifica-se elevação do segmento ST consequente à oclusão total de uma artéria coronária epicárdica. Uma onda T apiculada ou hiperaguda pode ser a alteração eletrocardiográfica inicial. Na sequência, ocorre elevação do segmento ST no território envolvido pela obstrução da artéria coronária culpada, identificado pelas derivações (eletrodos) que exploram os diferentes segmentos do miocárdio. Observa-se elevação do ponto J com segmento ST mantendo-se côncavo. Posteriormente, acentua-se a elevação de ST, que toma a forma convexa ou arredondada para cima. Pode ser difícil distinguir o segmento ST da onda T e o complexo QRS pode se assemelhar a potencial de ação monofásico.

    Os critérios eletrocardiográficos que remetem ao IAMCSST são: presença de supradesnivelamento do segmento ST, maior que 1 mm em, no mínimo, duas derivações periféricas (bipolares) contíguas ou, 2 mm em, no mínimo, duas derivações precordiais contíguas; presença de bloqueio completo do ramo esquerdo (BCRE) novo, ou presumivelmente novo.

    Marcadores de necrose miocárdica

    As troponinas I e T são os biomarcadores de lesão dos cardiomiócitos disponíveis na prática clínica. A sua dosagem através de coleta em sangue periférico faz parte do protocolo de dor torácica implementado nos serviços de atendimento de emergência devido a sua valiosa informação diagnóstica e prognóstica. Se o valor da dosagem inicial da troponina estiver dentro do limite da normalidade, recomenda-se repetir sua dosagem após três a seis horas. Quando seus valores são maiores ou iguais a 99% do limite superior de referência, devem ser considerados anormais. Havendo detecção de aumento de valores de troponina com pelo menos um valor acima da URL do percentil 99 também se considera o diagnóstico de IAMCSST. Após 6 horas, um resultado normal pode excluir IAM na maioria dos pacientes, mas no contexto de alta suspeição de SCA, uma nova dosagem deve ser realizada com 12 horas após o início da dor.

    Deve-se ressaltar, no entanto, que o quadro clínico típico de IAM, conforme descrito acima, associado à identificação das alterações do ECG características do IAM com supra de ST, são elementos determinantes e suficientes para estabelecer o diagnóstico e para a rápida implementação da estratégia terapêutica, dispensando a espera pelo resultado da dosagem do marcador de necrose miocárdica, visando reduzir a extensão, complicações e consequentemente, melhorando o prognóstico destes pacientes.

    Tratamento

    Manejo Inicial

    O manejo inicial busca reduzir o tempo entre o início do evento isquêmico/necrose muscular até o tratamento efetivo, visando à restauração da perfusão miocárdica (2). Deve-se realizar com celeridade o diagnóstico da SCA em curso, baseando-se na semiologia típica do IAM e no ECG, que deve ser idealmente realizado e interpretado em até 10 minutos, seja no cenário pré ou intra-hospitalar (9).

    Ainda na sala de emergência, o doente deve ser monitorizado e receber terapia adjuvante, que consiste na administração de Morfina se dor intensa ou edema agudo de pulmão, oxigênio se saturação de oxigênio for < 90%, nitroglicerina sublingual e dose de ataque de AAS (300 mg). Esse manejo deve ser rapidamente instituído sem gerar atraso na instituição da estratégia de reperfusão, que é o tratamento definitivo do IAMCST. A administração de um segundo antiagregante plaquetário se constitui em pedra angular na terapia farmacológica inicial do IAMCSST, gerando impacto relevante na evolução e prognóstico do paciente com esse evento em curso. O Clopidogrel 75 mg (dose de ataque=300 mg), Ticagrelor 90 mg (dose de ataque=180 mg) e Prasugrel 60 mg (dose de ataque=120 mg) são os representantes dessa classe disponíveis para a dupla antiagregação plaquetária que deve ocorrer no setor de emergência ou no laboratório de hemodinâmica.

    Terapia de Reperfusão

    O pilar da terapia para IAMCSST, com até 12 horas do início do evento agudo, é a rápida recanalização da artéria coronária obstruída. A abordagem com Angioplastia Coronária Percutânea (ACTP) com implante de endoprótese coronária através da artéria radial ou femoral, se constitui no padrão-ouro do tratamento do IAMCSST. Ela consiste em um procedimento minimamente invasivo que visa recanalizar mecanicamente artérias obstruídas, restabelecendo assim o fluxo anterógrado normal a partir da obstrução, identificada pela cineangiocoronariografia (cateterismo cardíaco), do vaso culpado pelo IAM. No entanto, essa é uma técnica pouco disponível fora dos municípios de maior densidade, pois além do alto custo, requer uma equipe de cardiologistas intervencionistas de sobreaviso permanente e hospitais com alta complexidade instalada. Além disso, a estratégia percutânea só é vantajosa em relação à terapia fibrinolítica, em termos de mortalidade, recorrência da dor, reinfarto e outros desfechos relevantes, se realizada em até 2 horas após o diagnóstico do IAM. O tempo de atraso do tratamento de reperfusão da artéria acometida é inversamente proporcional às taxas de sucesso do procedimento.

    A terapia fibrinolítica, alternativa terapêutica farmacológica à ACTP, tem grande espaço de utilização em nosso meio, sendo amplamente utilizada em caráter de urgência em instituições de saúde periféricas e com menor complexidade instalada, devido a dificuldades de logística e de sistema de referenciamento dos pacientes para hospitais terciários para estudo hemodinâmico e, eventualmente, realização de ACTP com implante de STENT em tempo hábil. Age através da lise do trombo responsável pela obstrução da artéria culpada pelo evento coronariano, restabelecendo o fluxo normal no vaso acometido. Os fibrinolíticos são fármacos que estimulam a conversão do plasminogênio inativo presente no sangue em plasmina ativa, enzima cuja função é degradar a proteína responsável pela formação do trombo. Seu uso está baseado em dois princípios: alta prevalência da presença de um trombo oclusivo nas artérias coronárias nas primeiras horas do IAM, redução da necrose miocárdica com a reperfusão do vaso e consequente redução da mortalidade. Os agentes desta classe disponíveis em nosso meio são a Alteplase, a Tenecteplase e a Estreptoquinase (tabela 2), fibrinolíticos que devem ser administrados idealmente em até 3 a 6 horas a partir do início do início do quadro clínico, período em que a taxa de sucesso é maior, com menor risco de complicações (tabela 1). No entanto, nem todos os pacientes são candidatos a essa terapia: são contraindicações à fibrinólise pacientes com qualquer sangramento intracraniano prévio, que tenham tido AVC isquêmico nos últimos três meses, com qualquer dano ou trauma na região da face nos últimos 90 dias, com sangramento ativo ou diátese hemorrágica, portadores de malformações arteriovenosas ou que tenham tido algum episódio de dissecção de aorta. A maior vantagem dessa terapia, contudo, é que ela pode ser usada ainda no manejo pré-hospitalar e não exige logística complexa para sua utilização. Nessa estratégia de reperfusão, o tempo curto entre o diagnóstico e o início da administração do medicamento também é determinante para obtenção do sucesso terapêutico e melhora do prognóstico do paciente (3). Todos os pacientes tratados com fibrinolíticos, que apresentaram sinais de reperfusão miocárdica, ou seja, alívio da dor precordial, redução de 50% do supradesnivelamento do segmento ST e arritmias de reperfusão, devem ser submetidos à angiografia coronariana, idealmente em até 24 horas. Nos casos de ausência de sinais de sucesso da terapia fibrinolítica (fibrinólise não efetiva) o paciente deve ser rapidamente encaminhado a um hospital com laboratório de hemodinâmica para ser submetido à angioplastia de resgate.

    Nos hospitais em que um laboratório de hemodinâmica e uma equipe de sobreaviso está disponível 24 horas por dia, a terapia de escolha deve ser a ACTP com implante de STENT. Contudo, o momento da entrada do paciente pela emergência até a realização de uma terapêutica será considerado com base em dois indicadores de tempo: tempo porta-agulha (fibrinólise) e tempo porta-balão (ACTP). Caso o tempo porta-balão seja <90 min, é indicada a ACTP; se a diferença do tempo porta-balão sobre o tempo porta-agulha for > 60 min, deveremos lançar mão da terapia fibrinolítica (2, 10).

    Tabela 1 – Fibrinolíticos disponíveis no Brasil.

    Fonte: criada pelo autor com adaptação (2).

    Tabela 2 – Contraindicações à fibrinólise.

    AVCi: Acidente vascular cerebral isquêmico; SNC: Sistema nervoso central; RCP: Reanimação cardiopulmonar; HAS: Hipertensão arterial sistêmica.Fonte: criada pelo autor com adaptação (2).

    Prognóstico

    O prognóstico do IAMCSST está relacionado com a ocorrência de complicações após o infarto e com a capacidade de um rápido reconhecimento e manejo emergencial (figura 1), além de ser diligente a busca de atendimento médico por parte do paciente. As potenciais complicações após o infarto são de natureza elétrica ou mecânica.

    IAM: infarto agudo do miocárdio; ECG: eletrocardiograma; ACTP: angioplastia coronária transluminal percutânea.

    Figura 1 – Manejo do IAMCSST.

    Fonte: criada pelo autor.

    As complicações elétricas, capazes de gerar instabilidade, são as arritmias cardíacas como extrassistolia ventricular, taquicardia ventricular e, a fibrilação ventricular que é a arritmia responsável por 50% das mortes na primeira hora após o início do IAM. O tempo entre a apresentação dos sintomas e a identificação dos casos em que o paciente se torna candidato à terapia de reperfusão também se constitui em fator prognóstico relevante.

    Entre as complicações mecânicas, a extensão do comprometimento ventricular vai determinar o impacto na evolução clínica identificados pelos sinais de congestão pulmonar, presença de terceira bulha (B3) com ritmo de galope, quarta bulha (B4) e mortalidade precoce, inclusive, no período intra-hospitalar.

    A diretrizes estimulam que o estabelecimento de mudança dos hábitos de vida como alimentação balanceada, cessação do tabagismo, limite da ingesta alcoólica e, exercícios de reabilitação cardíaca são estratégias com reconhecido benefício na prevenção secundária na cardiopatia isquêmica.

    Referências

    1. Sriha Belguith A, Beltaief K, Msolli MA, Bouida W, Abroug H, Ben Fredj M, et al. Management of acute coronary syndrome in emergency departments: a cross sectional multicenter study (Tunisia). BMC Emerg Med [Internet]. 2018;18(1):50.

    2. Piegas LS, Timerman A, Feitosa GS, Nicolau JC, Mattos LAP, Andrade MD et al. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2015;105(2):1–105.

    3. Ibanez B, James S, Agewall S, Antunes MJ, Bucciarelli-Ducci C, Bueno H, et al. 2017 ESC Guidelines for the management of acute myocardial infarction in patients presenting with ST-segment elevation. Eur Heart J. 2018;39(2):119–77.

    4. Caramori PR, Baldisserotto S, et al. Protocolo de SCA HSL/PUCRS. Intranet. 2017.

    5. Pesaro AEP, Serrano Jr. CV, Nicolau JC. Infarto agudo do miocárdio: síndrome coronariana aguda com supradesnível do segmento ST. Rev. Assoc. Med. Bras. [Internet]. 2004; 50 (2): 214-220.

    6. National Clinical Guideline Centre (UK). Myocardial Infarction with ST-Segment Elevation: The Acute Management of Myocardial Infarction with ST-Segment Elevation [Internet]. London: Royal College of Physicians (UK); 2013 Jul.

    7. Long DL et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed.; 2020. 2v.

    8. Daubert MA, Jeremias A, Brown DL. Diagnosis of Acute Myocardial Infarction. Card Intensive Care. 2010;97–105.

    9. Em A, Dor UDE, Pré-hospitalar T. Atualização na Síndrome Coronariana Aguda Editora Chefe : Maria Cristina de Oliveira Izar. 2016;26.

    10. O’Gara PT, Kushner FG, Ascheim DD, Casey DE Jr, Chung MK, de Lemos JA, et al. 2013 ACCF/AHA guideline for the management of ST-elevation myocardial infarction: a report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2013;61(4):e78-140.

    Capítulo 3

    Fibrilação atrial

    MATHEUS DE MOURA

    GABRIEL LENZ

    FELIPE AUGUSTO KUNZLER

    MARCELO MENEGOTTO

    Introdução

    A fibrilação atrial (FA) representa uma das arritmias mais comumente encontradas em serviços de urgência. A sua prevalência é estimada entre 0,5%-1% na população geral. Dentre as principais causas de FA encontramos as listadas a seguir: doença do nó sinusal, síndrome de Wolf-Parkinson-White, Hipertensão Arterial Sistêmica, valvulopatia reumática, cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca congestiva, hipertireoidismo e distúrbios hidroeletrolíticos (1,2).

    É causa importante de eventos embólicos, especialmente, de acidente vásculo-encefálico com significativa morbi-mortalidade (1,2).

    O presente texto tem como intuito abordar os principais aspectos referentes ao atendimento do paciente com quadro compatível de arritmia atrial aguda.

    Quadro clínico

    FA é uma arritmia supraventricular caracterizada por atividade elétrica atrial desorganizada, secundária a múltiplos focos de despolarização atrial. A FA pode ser assintomática ou sintomática, formas que podem ocorrer em um mesmo paciente. O quadro assintomático costuma ser diagnosticada durante a ausculta cardíaca e confirmada pelo ECG, sendo impossível precisar a sua duração. Já o sintomático é variável e pode se expressar como palpitações, dor torácica e fadiga (1,2,7).

    Essa arritmia pode ainda ocorrer como descompensação de uma cardiopatia de base ou como primeira manifestação de uma complicação de fenômeno tromboembólico (1,2,7).

    É preciso atentar para história de síncope; entretanto não é um achado frequente e, por isso, nesses casos, deve-se suspeitar de FA de alta resposta ventricular, com condução por via acessória ou sua associação com bloqueio atrioventricular total (1,2,7).

    Diagnóstico

    O diagnóstico de FA é realizado pela identificação eletrocardiográfica de intervalos R-R totalmente irregulares associadamente à ausência de qualquer atividade elétrica atrial organizada (1,3,5,7).

    Desse modo, é correto afirmar que o ECG tem papel fundamental na confirmação diagnóstica da FA. Nesse sentido, também é indispensável lançar mão de exames que possivelmente apontem para outras causas de FA, tais como exames de função tireoidiana e dosagem de eletrólitos (sódio, potássio e magnésio) (1,3,5,7).

    O ecocardiograma transtorácico (ETT) é importante para a avaliação de alterações cardíacas que justifiquem a presença da FA, não obstante, esse exame possui baixa sensibilidade para pesquisa de trombos intracavitários. Em contrapartida, o ecocardiograma transesofágico (ETE) tem sensibilidade e especificidade próximos a 100% para diagnóstico desses trombos sendo, por isso, mais indicados para esta pesquisa (1,3,5,7).

    Classificação

    Ao longo dos últimos anos, as diretrizes de FA propuseram uma classificação eficaz do ponto de vista clínico e terapêutico com o objetivo de facilitar a abordagem da arritmia dividindo-a em quatro tipos de acordo com sua apresentação e duração, quais sejam (1,3,6,7):

    a) primeiro diagnóstico: paciente que apresenta FA pela primeira vez, livremente de sua duração, assim como a presença e a severidade dos sintomas;

    b) paroxística: forma autolimitada de FA, geralmente com duração de 48h. Embora possa durar até sete dias, as primeiras 48h são de grande importância clínica pela probabilidade de reversão espontânea e pela necessidade de anticoagulação;

    c) persistente: episódios de FA com duração superior a sete dias ou quando há necessidade de reversão farmacológica ou por cardioversão elétrica. Se usada a estratégia de controle do ritmo, os casos com duração ≥ 1 ano são subclassificados como FA de longa duração;

    d) permanente: a presença da arritmia é aceita pelo médico e o paciente. Nesse caso, a estratégia de controle do ritmo foi ineficaz ou não aplicada.

    Conduta

    Na emergência, o manejo de pacientes com FA objetiva o alívio dos sintomas e a prevenção de complicações relacionadas à arritmia. Para a decisão correta quanto ao tratamento, certas informações clínicas são essenciais, como a duração do intervalo entre o início dos sintomas e a chegada ao atendimento médico e a severidade da sintomatologia. O tratamento consiste em abordagem direta da arritmia, por meio do controle da frequência cardíaca e/ou do ritmo, bem como prevenção de eventos tromboembólicos por meio da anticoagulação ( 1,5,7).

    Algumas vezes, os pacientes podem apresentar comorbidades como, por exemplo, hipertireoidismo, síndrome coronariana aguda e doença pulmonar obstrutiva crônica exacerbada. O reconhecimento e o tratamento dessas condições apontam para um desfecho clínico adequado, já que a arritmia atrial pode ser uma manifestação secundária à doença principal (1,5,7,8).

    Tratamento

    O manejo inicial da FA é determinado pelas condições hemodinâmicas do paciente. Na presença de instabilidade hemodinâmica, deve-se realizar cardioversão elétrica imediata. Na ausência de instabilidade hemodinâmica, a terapia anticoagulante, o controle da frequência cardíaca e a cardioversão para ritmo sinusal são abordagens plausíveis (1,3,5,6,7,8).

    Controle da frequência versus controle do ritmo

    Diferentes abordagens no tratamento da FA têm sido observadas na prática clínica, principalmente por falta de evidência consistente para guiar o manejo agudo de pacientes com episódios recentes da doença. As diretrizes disponíveis atualmente não oferecem orientações precisas para os médicos que atuam na emergência (1,3,5,6).

    As evidências suportam igualmente as estratégias de controle da frequência ou do ritmo em pacientes estáveis com início de FA de até 48h. A definição de estratégia inicial dependerá de múltiplos fatores, incluindo idade do paciente, precisão na história do início dos sintomas, tipo e duração da FA, frequência cardíaca, severidade dos sintomas, doenças cardiovasculares associadas, como também comorbidades clínicas (1,3,5,6,8).

    Em suma, a conduta envolverá principalmente a avaliação rápida do estado hemodinâmico do paciente, o tratamento de causas precipitantes ou subjacentes, além de uma avaliação cuidadosa da história médica pregressa do indivíduo, com atenção especial para o risco de tromboembolismo (1,3,5,6,8).

    Controle de frequência

    O primeiro passo frente a um paciente sem instabilidade hemodinâmica que se apresente com FA, deve ser reduzir a resposta ventricular. A frequência cardíaca elevada é a principal causa de sintomas como palpitações, tontura e cansaço nos pacientes com FA. Habitualmente tornam-se assintomáticos quando se reduz a frequência cardíaca para cerca de 60-80bpm, mesmo mantendo a desorganização atrial. O controle da frequência cardíaca é feito pela administração de drogas que agem inibindo o nódulo AV (1,3,5,6,7,8).

    Digitálicos: É indicado principalmente em pacientes com insuficiência cardíaca sistólica devido a sua ação inotrópica positiva (1,2).

    Beta-bloqueadores: o propranolol, o metoprolol e o esmolol são os mais utilizados. Tais medicações mostram-se como opções viáveis em situações de estenose mitral, de hipertireoidismo e na hiperatividade adrenérgica. Contudo, são contraindicados em pacientes com história de broncoespasmo ou com insuficiência cardíaca descompensada, hipotensão arterial ou bradiarritmias (1,2).

    Antagonistas do canal de cálcio: diltiazem e verapamil. Reduzem a velocidade de condução e aumentam o período do refratário através do bloqueio das fibras nodais. Em casos de hipotensão e/ou bradiarritmia, essas medicações estão contraindicadas (1,2).

    Restauração do Ritmo sinusal – Cardioversão

    FA de início recente com instabilidade hemodinâmica

    As principais manifestações de instabilidade hemodinâmica encontradas em pacientes com FA são hipotensão significativa, dor precordial insustentável, sinais de baixo débito cardíaco, síndrome coronariana aguda e edema agudo de pulmão. Ressalta-se a importância de sempre suspeitar de condições associadas à descompensação aguda da FA, tais como sepse ou hipovolemia. Pacientes instáveis geralmente não necessitam de anticoagulação antes da cardioversão caso a duração da FA seja conhecida e menor que 48h. A cardioversão química não é indicada, já que há necessidade de restabelecimento rápido do ritmo (1,3,5,6,7,8).

    FA de início recente com estabilidade clínica

    As alternativas para restauração do ritmo sinusal envolvem a cardioversão elétrica e farmacológica. A cardioversão possui risco aceitável em paciente com FA<48h, exceto em grupos de alto risco (AVC/AIT recente, prótese valvar, estenose mitral reumática, idade superior a 75 anos). Nesses casos, a cardioversão deve ser estabelecida após anticoagulação adequada (1,3,5,6,7,8).

    Cardioversão famarcológica: propafenona e amiodarona são as medicações disponíveis atualmente para uso clínico no Brasil (1).

    Todos pacientes que realizam a cardioversão elétrica ou química necessitam de observação clínica e monitoramento cardíaco contínuo por período mínimo de 2h. A alta com medicação antiarrítmica e prevenção de tromboembolismo dependerá da frequência da arritmia e do risco de AVE (1,3,5,6,7,8).

    Prevenção de eventos tromboembólicos

    A decisão sobre o uso de anticoagulantes leva em consideração os escores de risco de tromboembolismo e de sangramento, além da avaliação do risco de quedas e da possibilidade de uso correto da medicação, bem como de seguimento clínico adequado (1,3,5,6,7,8).

    Dessa forma, o objetivo da anticoagulação é minimizar efetivamente os riscos de tromboembolismo sem impacto significativo nas taxas de hemorragia. Essa finalidade foi alcançada com o nível de RNI entre 2,0 e 3,0. Esquemas terapêuticos isolados ou combinados com baixas doses de varfarina não demonstraram eficácia. Pacientes com prótese valvar metálica devem manter RNI superior a 2,5 (1,3,5,6,7,8).

    A estratificação de risco para tromboembolismo na FA é de grande importância e muitos esquemas já foram testados e descritos. Dentre as diversas ferramentas de avaliação clínica para esse propósito, o CHADS2 (Cardiacfailure, Hypertension, Age, Diabetes, Stroke) é um dos mais significativos e inclui aspectos de diversas publicações em que a história de AVE ou EIT recebe 2 pontos e idade acima de 75 anos, hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito ou insuficiência cardíaca recente recebem 1 ponto cada. Escores mais altos estiveram relacionados com maiores taxas de ocorrência de acidente vascular cerebral. Escores iguais ou maiores que 2 devem receber anticoagulação. Para se obter os efeitos desejados com a terapia anticoagulante, é indispensável a monitorização periódica e confiável do RNI (1,3,5,6,7,8).

    Conclusão

    O atendimento do paciente com quadro clínico de FA é rotina nos serviços de emergência. Tal arritmia apresenta alta morbidade e sua prevalência vem aumentando ao longo dos últimos anos (1).

    Dessa forma, seu manejo adequado é essencial para a prevenção de complicações. Há duas estratégias principais para o tratamento agudo dessa patologia: o restabelecimento do ritmo sinusal ou a manutenção da FA com controle da frequência cardíaca. A anticoagulação imediata dos pacientes dependerá da duração do episódio de FA e de seu perfil de risco para eventos

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