Poeta não tem idade
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Sobre este e-book
Dividido em quatro partes, o livro faz um passeio pelo nordeste retratado em cordéis e avança em versos mais livres ao abordar temas como os direitos humanos. As homenagens a amigos e ícones da cultura popular brasileira aparecem como ápice da narrativa de viagens, de tributos, de fatos históricos, de episódios que transitam entre o real e o imaginário.
"Passando de certa maneira a vida a limpo, Moraes recompõe, com sabedoria e maturidade, os cenários da infância, os laços de família, as relações de amizade, as esquinas do planeta, os becos da existência, o sentimento do mundo. Tudo é matéria viva da memória", avalia Júlio Diniz, que assina o prefácio do livro.
Tom Zé, mestre de Moraes nos seus primeiros passos na carreira artística, João Gilberto, Rita Lee, Elisa Lucinda, Gilberto Gil, os "eternos Dodô e Osmar" e muitos outros ícones da cultura popular brasileira são celebrados nas poesias melódicas do autor. As homenagens à família fecham com ternura esta viagem realizada pelo artista ao passado e presente de sua própria vida artística e pessoal.
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Pré-visualização do livro
Poeta não tem idade - Moraes Moreira
ser tão humano, ser tão poeta
Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de
repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Ser-
tão é quando menos se espera.
João Guimarães Rosa
Moraes Moreira é, antes de tudo, um homem apaixonado pela arte de seduzir e ser seduzido pelas palavras. Além do ofício de cantor e compositor, este baiano de Ituaçu resolveu, para a felicidade de seus admiradores, mergulhar fundo no indizível e inefável universo da poesia. E nos presenteou com esse livro, um ritmado, harmônico e melódico conjunto de poemas que percorre com sensibilidade, força e afeto os sertões da criação artística e as veredas da contemplação estética. Passando de certa maneira a vida a limpo, Moraes recompõe, com sabedoria e maturidade, os cenários da infância, os laços de família, as relações de amizade, as esquinas do planeta, os becos da existência, o sentimento do mundo. Tudo é matéria viva da memória. Tudo é praça, estrada, povo, país. O livro é uma narrativa de viagens, de tributos, de fatos históricos, de episódios que transitam entre o real e o imaginário. É como se ele tivesse esticado uma linha invisível onde os poemas, como livros de cordel, estivessem à disposição dos leitores. Aproximando o cosmopolita do sertanejo, Moraes faz da sua poética um espaço mesclado, sincrético, diverso, como ele mesmo diz. É uma conversa entre o cantor e o cantador, o erudito e o popular, o maior e o menor, uma conversa de grandes e pequenos gestos. O poeta não tem idade, afirma nosso artífice da métrica e da rima. Nem a poesia se basta, se abraça ao tempo, se esvai, meu querido Moraes. O criador e a criatura são amantes, cúmplices, sofridos parceiros condenados ao silêncio. Mas como lutam sem trégua contra a finitude, poeta e poema resistem, recontam, refazem a vida no concreto gesto de marcar com letras fortes o sensível e poroso vazio do papel.
Júlio Diniz
alvorada dos setenta!
Na terra bem preparada
Que seja enfim promissora
Caros leitor e leitora
A minha sorte lançada,
Pulsando nessa levada
Deixei o amor carregar
A inspiração navegar
Por oceanos bravios
Incendiando navios
Pra não saber mais voltar
Vivendo estes versos
Eu sou todo prosa
O que sofre e goza
Caminhos diversos,
Criando universos
Num mundo virado
A mim me foi dado
A chance do risco,
Que nem um Curisco
Arrisco ado0ado
Ao embalar corações
O imaginário me leva,
Para livrar-me da treva
Convoco meus Lampiões,
Por esses Grandes Sertões
Veredas tão tropicais
Até pelos litorais
É a luz do sol que me acalma
Pelas marés de minh’alma
Vivo afogando meus ais
Na carpintaria
Dos meus devaneios
Eu tive outros meios
E fiz poesia,
De noite e de dia
E nas madrugadas
Ouvi trovoadas
De nuvens tão pretas,
Em nome das letras
Topei as paradas
No tempo pegando a reta
Nas páginas deste livro
Não imaginas o crivo
Que passo como poeta,
Pra quem a v0a interpreta
O tempo se reinventa
– Não me derruba a tormenta...
No traço de cada linha
Aqui, vou deixando a minha
Alvorada dos setenta
o cordel é meu roteiro
O cordel tem seu rigor E jamais permite ultraje
Pra quem com más intenções
Tirando proveito age
O crime se configura
Nas instâncias da cultura
E até o povo reage
E aí os mais radicais
Estabelecem debates
Os ânimos exaltados
Evocam todos os vates
Ali naquelas alturas
Se elevam temperaturas
Chegando quase a mil watts
O cordel é como um rio
Corre através dos meandros
E para que alcance o mar
Me digam, quantos Leandros
Precisamos com certeza
Pra vencer a correnteza
E excluir os malandros?
O cordel tá no varal
Enxugando suas lágrimas Acumulando vitórias
Sem nunca perder as rimas
Encara o tempo ruim
A poesia é assim
Resiste a todos os climas
Existem muitos segredos
Eu posso citar exemplo
Contar sílabas nos dedos
É um dos que mais contemplo
O cordel só se embeleza
Pra quem ajoelha e reza
A inspiração é um templo
Sextilhas ou septilhas
Versos quebrados nos ferem
Ampliem seus universos
Em décimas, se puderem
Para ilustrar, eu prometo
Publicar este folheto
Pra’queles