A Hipocricia Da Política & A Estupidez Da Guerra
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A Hipocricia Da Política & A Estupidez Da Guerra - Walter E. Carena
Primeira parte
Involução
I
Harmonia sócio-política
Meados de outubro de 2022. Faltam 12 dias para o segundo turno das eleições brasileiras.
São eleições muito peculiares, já que é a primeira vez que a extrema direita governa este belo país de origem lusitana que ocupa a maior parte do continente sul-americano e abriga cerca de 215 milhões de habitantes das mais variadas etnias. Em sua maior parte distribuída, como ocorre em quase todas as nações do mundo, ao longo da costa dos mares e oceanos. Neste caso, é o Oceano Atlântico.
A esquerda no Brasil representa cerca de 30% da população votante, é a ideologia socialista com menor número de militantes e simpatizantes da América do Sul em relação aos seus habitantes. É por isso que, para chegar ao poder por meio de eleições compulsórias [não livres, como expressa a Constituição], o partido de máxima esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT), é obrigado a tecer coligações com partidos de da centro-direita e da direita, nunca com os da extrema-direita, pois essa ideologia radical vê a esquerda, não como rival na disputa política, mas como arqui-inimiga que deve ser exterminada, como expressa diariamente o presidente da república, passando por seus militantes, até simpatizantes e filósofos ocasionais como o brasileiro, e já extinto, Olavo de Carvalho.
O que mais me chamou a atenção, desde o início da campanha para o primeiro turno, até hoje, é a grande influência que as religiões cristãs exercem nas decisões dos eleitores. Chama a atenção porque, já na terceira década do século XXI, é lógico pensar que a evolução tecnológica deva ser acompanhada pela evolução social, e tudo parece indicar que, pelo menos na América Latina, essa lógica não ocorre.
A religião é uma doutrina baseada em filosofias e histórias subjetivas, ou seja, um produto da imaginação. Assim como a política, as religiões ocidentais têm marcadas conotações de hipocrisia, pois pregam a espiritualidade e o desapego das coisas materiais de púlpitos e templos de alto valor material; seus pregadores não usam o traje de humildade que promovem e, o que é pior, costumam recolher dízimos, quando não é para frequentar os cultos, é para realizar os sacramentos; no catolicismo passa-se a manga para recolher esmola
entre os fiéis... raramente alguém prefere passar vergonha na frente dos outros, por não depositar dinheiro nela.
No entanto, a política, com todas as suas falhas, erros e abusos, é objetiva. Os candidatos são pessoas físicas, suas propostas e promessas são, ou serão, fatos reais, tangíveis; partidos e sistemas políticos, bem como suas regras e códigos, são criados por pessoas físicas. É claro que não são perfeitos, mas são os que estão em vigor, e os que podem ser modificados, atualizados e legalizados por pessoas escolhidas para o efeito... não dependem de documentos antigos escritos por divindades imateriais
.
Como pode funcionar corretamente um sistema sócio-político em que subjetividades e objetividades se misturam? Religião e política são como óleo e água.
Não se trata de desacreditar o trabalho social [regulação de comportamento] que as religiões oferecem. Por isso, são importantes e respeitados; trata-se de impedir que interfiram nas decisões políticas do Estado, principalmente quando o Estado em que atuam é laico.
Nos últimos meses, aqui no Brasil, acontecimentos deploráveis têm sido vistos entre os fiéis do novo cristianismo dentro de templos porque seus pastores, ao invés de pregar o Evangelho, fazem discursos políticos, como se fosse um comício partidário. Não faltaram fiéis que se sentiram atacados por pensarem diferente da pregação
do pastor, gerando discussões e altercados violentos... isso pode ser chamado de evolução social?
Enquanto o anterior presidente e líder da extrema-direita instigou a violência e o ódio contra os que pensam diferente, o líder da esquerda promove a paz, apelando ao diálogo e ao equilíbrio das diferentes forças ideológicas, de forma a tentar restabelecer a harmonia nas relações sociais, no interior e fora do Brasil. Se essa atitude não é produto da evolução social... o que é?
A harmonia sócio-política é a relação pacífica entre a sociedade como um todo e a política como sistema administrativo central. Significa que a sociedade, mesmo com ideais diferentes, pode e deve conviver em paz.
No passado, quando a evolução social não atingia os níveis atuais, os mais poderosos torturavam, aprisionavam, queimavam vivos, baniam e faziam desaparecer todos aqueles que pensavam diferentemente de seus interesses religiosos-financeiros-ideológicos.
O referido nível evolutivo não atingiu todas as sociedades do planeta, mas podemos apreciá-lo naqueles países cujos habitantes vivem em paz com seus rivais políticos/religiosos. Não vou listar esses países, vou simplesmente pedir ao leitor que pesquise na internet para saber mais sobre eles. Tenho certeza de que você ficará surpreso com o que esses sistemas políticos evoluídos têm em comum: influência religiosa mínima ou nenhuma na política de estado de cada um.
A maioria dos sangrentos conflitos sociais ocorre em países muçulmanos e no chamado Terceiro Mundo. Não é surpreendente, mas é alarmante, o ponto que esses Estados têm em comum: Profunda influência religiosa nas políticas de Estado de cada um.
É comum ouvir esta pergunta: Por que no Oriente Médio sempre há conflitos sociais sangrentos em seus países? A resposta é sempre a mesma: a religião está acima da política. É um absurdo que, nesta região, a evolução sócio-cultural-política seja proibida e reprimida com extrema violência.
Na América Latina, a religião está se espalhando de forma alarmante, ameaçando o processo evolutivo sócio-cultural-político de mãos dadas com o neo-pentecostalismo (evangelismo). Assim como nos séculos anteriores o catolicismo dominava a política, hoje é o evangelismo que cumpre esse papel. Quem pode negar que milhares de pastores já ocupam altos cargos políticos nos Três Poderes do Estado de Direito em nossas repúblicas? É verdade que todos os cidadãos têm o direito de ser candidatos e ocupar esses cargos, mas nos Estados onde a Constituição especifica a laicidade, não é saudável nem correto misturar em discursos, programas de governo e projetos de lei, com paradigmas e doutrinas religiosas. A diversidade ideológica na política já é motivo de polêmica, se somarmos a essa diversidade religiosa,
Para ser mais gráfico, posso citar um país que costuma ser visto como exemplo de harmonia sociopolítica na América Latina: a República Oriental do Uruguai. Não o menciono porque este é meu país de nascimento, já que me considero sul-americano, e não uruguaio; cito-o porque a UNESCO e outras instituições sociais, jornalísticas e políticas assim o especificaram. Será coincidência que o Uruguai seja o país laico e com menos religiosidade das Américas?
As religiões surgiram há mais de 200.000 anos como símbolo da integração pacífica entre vários clãs de homens primitivos; lá eles se reuniam para compartilhar o produto da caça e da coleta de vegetais comestíveis; episódios de acontecimentos cotidianos foram narrados entre si e experiências foram compartilhadas para melhorar a qualidade de vida coletiva. Naquele período, era a única forma de comunicação grupal, tornando esses encontros uma quase obrigação em que, na ausência de explicações científicas para fenômenos climáticos e comportamentos extraordinários das pessoas, foram criados seres ultrapoderosos e imateriais, aos quais se atribuiu estes eventos. Não encontravam