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Carne Crua
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E-book111 páginas1 hora

Carne Crua

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Sobre este e-book

Rubem Fonseca é um verdadeiro mestre na arte de esfolar a pele das palavras para deixar as histórias em carne viva. Neste seu livro mais recente, o autor reuniu 26 textos que, embora mantenham a crueza de assassinatos, traições e injustiças sociais, trazem também a avidez das descobertas, a delicadeza das histórias de amor e uns flertes com a poesia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de nov. de 2018
ISBN9788520943670
Carne Crua

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    Carne Crua - Rubem Fonseca

    Copyright © 2018 by Rubem Fonseca

    Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela Editora Nova Fronteira Participações S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

    Editora Nova Fronteira Participações S.A.

    Rua Candelária, 60 — 7º andar — Centro — 20091-020

    Rio de Janeiro — RJ — Brasil

    Tel.: (21) 3882-8200 — Fax: (21) 3882-8212/8313

    CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE

    SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    F747c

    Fonseca, Rubem, 1925-

    Carne crua / Rubem Fonseca. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2018.

    144 p.

    ISBN 978-85-209-4336-6

    1. Contos brasileiros. I. Título

    18-52565

    CDD: 869.3

    CDU: 82-34(81)

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de rosto

    Ficha catalográfica

    A praça

    Amor e outros prolegômenos

    Aparecida

    Boceta

    Boceta — parte II

    Cafetões

    Carne crua

    Cornos

    Desculpas esfarrapadas

    Diarreia

    Falsificado

    Feitiço brasileiro

    Gosto de ver o mar

    Grande amor

    Homens e mulheres

    Igreja Nossa Senhora da Penha

    Nada de novo

    Noel

    O mundo vai mal

    O ser é breve

    Oropa

    Os originais e as imitações

    Os pobres, os ricos, os pretos e a barriga

    Papai Noel

    Penso e falo

    Tecido

    O autor

    Colofão

    A PRAÇA

    Moro sozinho, num apartamento de sala e dois quartos, perto da praça. É uma dessas praças com árvores, cujos nomes não sei, mesas de cimento com quatro bancos, também de cimento, onde toda tarde uns velhotes gordos jogam cartas. Eu só vejo gente gorda andando na rua, homens e mulheres de todas as idades. Li que a obesidade é um fenômeno mundial, ligado à alimentação errada, na maioria das vezes, conquanto existam alguns casos de origem genética.

    Fico sentado no banco da praça alguns minutos, todos os dias, pela manhã, para receber um pouco de sol na pele. Li, na internet — hoje ninguém vive sem a internet, mas essa é outra história —, que todas as formas de vida do planeta necessitam, direta ou indiretamente, dos efeitos da luz solar para viver. No caso dos humanos, além da manutenção da temperatura corporal, a incidência dos raios solares permite processos químicos importantes, como a produção de vitamina D, responsável pela fixação do cálcio em nosso corpo.

    Mas tem gente que não gosta de sol, antigamente as mulheres saíam na rua abrigadas por uma sombrinha e os homens usavam chapé-panamá, que na verdade é feito de palha do Equador, mas isso é outra história, fica para depois.

    A luz solar é fundamental, ainda, para que as plantas da minha praça possam realizar a fotossíntese, processo através do qual os vegetais transformam gás carbônico em glicose (que é absorvida por eles) e em oxigênio (liberado para a atmosfera).

    A glicose produzida nos vegetais irá transmitir energia a toda a cadeia alimentar que vem adiante, nas várias espécies de animais que se alimentarão das plantas, nos animais que se alimentarão desses animais etc. Mas a glicose pode ser um problema, quando ela é alta pode causar diabetes, doença comum nas pessoas obesas. Quando eu ando pela rua, a cada dez pessoas que vejo, homens e mulheres, seis são obesos.

    Novamente, nós, seres humanos, acabamos sendo beneficiados pela luz solar — já que também nos alimentamos dessas plantas e/ou animais e retiramos deles a nossa energia. O calor do sol (que resulta de partes da luz solar invisíveis aos nossos olhos) tem, também, a função de acelerar a quebra das moléculas de proteínas e, em alguns casos, regula diretamente a temperatura corporal de animais como peixes, anfíbios e répteis.

    De volta aos seres humanos, a parte visível da luz solar tem a função de regular o nosso ritmo biológico e todas as suas atividades, como a liberação de hormônios durante nossas atividades diárias e durante o sono. É também com a ajuda da luz solar que desenvolvemos a nossa capacidade natural de visão. Sei que mesmo com todos esses benefícios, a ação dos raios solares sobre nossa pele, em excesso, pode causar danos, levando ao desequilíbrio celular e ao surgimento de doenças, como o câncer de pele. Por isso, é importante equilibrar a exposição ao sol tomando cuidados como evitar horários de forte incidência de raios (entre 12h e 15h) e utilizar, sempre que possível, protetor solar.

    Perto da praça tem um botequim. Toda tarde eu vou lá, tomar um cafezinho. Odeio café, essa porcaria me faz mal, mas o café é um pretexto para ver Odete. Acho que ela é mulata, mas não parece. Aqui neste país, e também na Colômbia, muitos negros vieram plantar café, os donos das fazendas fornicavam as negras e mulatos e mulatas foram nascendo. Enfim, gente mestiça, mesmo que isso não apareça na cor da pele, existe numa proporção imensa. O que é bom, a mistura de raças é benéfica sob todos os aspectos.

    Hoje fui ao botequim. Odete estava lá, de saia preta, blusa preta e avental preto. O botequim, que é muito pequeno, tem apenas dois empregados, Odete e um sujeito magrinho, vestido de preto, que não usa avental. Além deles há o patrão, um português de cabeça branca, um cara legal que me cumprimenta amistosamente quando eu apareço.

    Odete veio me atender.

    Um cafezinho, por favor, adoçante separado.

    Sou magro, mas tenho horror de ficar gordo. Meu pai era magro e minha mãe que era inda mais magra dizia a gordura é mortal, não coma porcarias, meu filho. Eles morreram cedo, magrinhos, mas não quero pensar nisso.

    Naquele dia, no botequim, enchi-me de coragem, e quando Odete trouxe o café eu disse meu nome é José.

    Ela sorriu. Um sorriso lindo.

    O meu é Odete, ela disse.

    Era o nome da namorada do Fernando Pessoa, eu disse.

    É o meu poeta favorito, disse Odete. O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.

    Meu amor por Odete cresceu tanto que meu coração começou a bater desordenadamente, pensei que ia morrer.

    Mas não morri. Agora, Odete e eu tomamos sol juntos na praça e ela está morando na minha casa.

    AMOR E OUTROS PROLEGÔMENOS

    Um filósofo, de cujo nome não me lembro, disse que a vida se resumia em nascer, comer, defecar e morrer. Ele está parcialmente certo. De fato, a vida começa quando o bebê nasce. Ele depois come, toma o leite do peito da mãe ou de alguma doadora, e defeca — os bebês defecam sem parar, existem fraldas descartáveis, mas quem é pobre tem que limpar o cocô da bunda e da fralda do bebê, lavar, quarar, um trabalho ininterrupto. Mas bebê não morre, não é? Alguns morrem, a maioria no entanto sobrevive, tanto que existe cada vez mais pessoas no mundo, já somos alguns bilhões espalhados pela Terra. Sim, o bebê nasce, come, defeca, e depois quer andar. Primeiro engatinha, mas quer andar, e quando anda gosta de dar

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