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Teoria Do Autocuidado de Orem

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Rev.latino-am. enfermagem - Ribeiro Preto - v. 7 - n. 2 - p.

47-53 - abril 1999

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APLICAO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM BASEADO NA TEORIA DE OREM: ESTUDO DE CASO COM UMA ADOLESCENTE GRVIDA

Gilson de Vasconcelos Torres* Rejane Marie Barbosa Davim** Maria Miriam Lima da Nbrega***

TORRES, G.de V.; DAVIM, R.M.B.; NBREGA, M.M.L.da. Aplicao do processo de enfermagem baseado na teoria de OREM: estudo de caso com uma adolescente grvida. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeiro Preto, v. 7, n. 2, p. 47-53, abril 1999.
Estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa, objetivando a aplicao do processo de enfermagem baseado na Teoria do Autocuidado de Orem, atravs de um estudo de caso em uma adolescente grvida, buscando identificar os diagnsticos de enfermagem na referida cliente, baseado nos diagnsticos de enfermagem da NANDA. Diante dos resultados obtidos identificouse trs diagnsticos: adaptao prejudicada, distrbio do padro do sono e processo familiar alterado. Destacou-se a aplicabilidade do processo de enfermagem baseado em Orem e a importncia dos diagnsticos de enfermagem na prestao dos cuidados de enfermagem cliente. UNITERMOS: diagnstico de enfermagem, adolescente grvida, teoria do autocuidado

INTRODUO
A adolescncia apresenta-se como um perodo muito importante na vida do indivduo, constituindo etapa decisiva e um processo de transio conflitante, a qual est exposta a muitos agravos, como por exemplo, as doenas sexualmente transmissveis (DST), o consumo de drogas, do lcool, e uma atividade sexual precoce. Tudo isto pode gerar, de certa forma, crises de alto grau de ansiedade, tornando os adolescentes vulnerveis, acarretando tambm, a debilidade fsica e mental dos mesmos, bem como, a maternidade e paternidade precoces. Um dos grandes conflitos dos adolescentes, a busca de uma noo coerente de identidade, onde os mesmos no se definem, buscando apoio em grupos ou em qualquer coisa que os identifique, como o andar, o vestir, o falar gria, fazendo com que os mesmos sintamse seguros e que tudo isto seja comum em sua idade. Segundo BEZERRA et al. (1988), a adolescente brasileira do ponto de vista biolgico e psicolgico semelhante s adolescentes de outros pases, s que a

realidade scio-econmica-cultural na qual se insere diversa. Como lhe foi dado o direito ao exerccio da sexualidade por uma revoluo sexual, no foi observada entretanto, a forma de lhe assegurar tais direitos, fazendo com que essas jovens por no terem atingido a completa maturidade, tenham maior possibilidade de incio precoce de atividades sexuais, o que implica em risco de DST e gravidez indesejada para as que no se previnem, seja por imprudncia, ou mesmo por desconhecimento dos meios como evit-los. Falando-se sobre a gravidez na adolescncia, SILVA & SARMENTO (1988), comentam que nestas trs ltimas dcadas, este assunto tem sido objeto de discusso tanto nos meios acadmicos como nos meios de comunicao de massa. Sua incidncia tem aumentado muito segundo as estatsticas de vrios pases, tornandose uma situao muito preocupante, pois a maternidade nessa faixa etria considerada como problemtica do ponto de vista biopsicossocial. Como a gravidez na adolescncia ocorre inesperadamente, isto vai acarretar uma srie de episdios negativos interferindo no desenvolvimento da jovem,

* Professor Assistente do Departamento de Enfermagem da UFRN - Mestre em Enfermagem de Sade Pblica/UFPB. Doutorando em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo ** Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFRN - Mestre em Enfermagem de Sade Pblica da UFPB *** Professora Mestre do Mestrado de Enfermagem de Sade Pblica da UFPB - Doutoranda em Enfermagem da PUC/USP Orientadora do trabalho

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como por exemplo, rejeio familiar, restries sociais e econmicas. Sendo assim, a adolescente entra em crise, a qual determinada por um fator criticamente duplo: a crise da adolescncia, somando-se crise da gravidez. Tem-se observado tambm, que a atividade sexual est ocorrendo cada vez mais cedo em todo o mundo, fazendo com que as chances de gravidez precoce ocorram com maior intensidade. Para RODRIGUES et al. (1993), essa atividade sexual na maioria das adolescentes inicia-se aproximadamente dois anos aps a menarca, onde 20% delas tornam-se grvidas. No Brasil, segundo os mesmos autores, 5 em cada 10 adolescentes tornam-se sexualmente ativas antes mesmo dos 20 anos de idade. Dessa forma, LUZ (1989), considerando a gravidez na adolescncia como um problema de sade pblica em nosso meio e de difcil soluo, acredita que seja necessria a implementao de programas de ateno sade dessas jovens, chamando a ateno para o poder pblico a fim de estimular e subsidiar programas de sade ao nvel preventivo para esse grupo etrio. Diante de todas estas consideraes, resolvemos desenvolver um estudo, aplicando o processo de enfermagem baseado na teoria do autocuidado de Dorothea Orem com uma adolescente grvida solteira, buscando detectar os diagnsticos de enfermagem, utilizando-se, por conseguinte, os diagnsticos de enfermagem propostos na Taxonomia dos Diagnsticos de Enfermagem pela North American Nursing Diagnosis Association da NANDA. Pretendemos, tambm, estabelecer objetivos e traar um plano assistencial no sentido de melhorar as condies de sade e bem-estar que essa jovem tenha para cuidar de si mesma, tendo-se em vista, o respeito pelas sugestes e decises da pesquisada. Entretanto, na literatura, encontramos poucos trabalhos sobre diagnsticos de enfermagem relacionados a adolescentes grvidas. Porm, dentre as publicaes encontradas, podemos citar o trabalho, Maternidade na adolescncia: escolha ou fatalidade? realizado por GARCIA (1992), o qual discute a adequao dos diagnsticos de enfermagem problemtica social das gestantes adolescentes solteiras, captada a partir das representaes dessas gestantes sobre o seu vivido humano social. Outro trabalho realizado por GARCIA (1996) sob o ttulo, Cuidando de adolescentes grvidas solteiras, a autora utilizou a teoria de Imogene King e demonstrou a inter-relao e interdependncia dos aspectos psicobiolgicos, psicoemocionais e psicossociais. Acreditamos, portanto, na importncia dos diagnsticos de enfermagem, e esperamos que os enfermeiros passem a trabalhar com mais nfase no

campo da adolescncia, adquirindo, assim, habilidades no uso dos diagnsticos de enfermagem nessa rea.

2- REVISO DA LITERATURA
2.1 - Teoria do autocuidado de Dorothea Orem A teoria do autocuidado de Orem, engloba o autocuidado, a atividade de autocuidado e a exigncia teraputica de autocuidado. O autocuidado, a prtica de atividades iniciadas e executadas pelos indivduos em seu prprio benefcio para a manuteno da vida e do bem-estar. A atividade de autocuidado, constitui uma habilidade para engajar-se em autocuidado. A exigncia teraputica de autocuidado, constitui a totalidade de aes de autocuidado, atravs do uso de mtodos vlidos e conjuntos relacionados de operaes e aes (FOSTER & JANSSENS, 1993). Para OREM (1980), o autocuidado a prtica de atividades que o indivduo inicia e executa em seu prprio benefcio, na manuteno da vida, da sade e do bemestar. Tem como propsito, as aes, que, seguindo um modelo, contribui de maneira especfica, na integridade, nas funes e no desenvolvimento humano. Esses propsitos so expressos atravs de aes denominadas requisitos de autocuidado. So trs os requisitos de autocuidado ou exigncias, apresentados por Orem: universais, de desenvolvimento e de desvio de sade. Os universais esto associados a processos de vida e manuteno da integridade da estrutura e funcionamento humanos. Eles so comuns a todos os seres humanos durante todos os estgios do ciclo vital, como por exemplo, as atividades do cotidiano. Os requisitos de desenvolvimento so as expresses especializadas de requisitos universais que foram particularizados por processos de desenvolvimento, associados a algum evento; por exemplo, a adaptao a um novo trabalho ou adaptao a mudanas fsicas. O de desvio de sade exigido em condies de doena, ferimento ou molstia, ou pode ser conseqncia de medidas mdicas exigidas para diagnosticar e corrigir uma condio. Dessa forma, POLIT & HUNGLER (1995), afirmam que a capacidade que o indivduo tem para cuidar de si mesmo, chamada de interveno de autocuidado, e a capacidade de cuidar dos outros chamada de interveno de cuidados dependentes. Sendo assim, no modelo de Orem, a meta ajudar as pessoas a satisfazerem suas prprias exigncias teraputicas de autocuidado. Portanto, a teoria do autocuidado de Orem segundo LUCE et al. (1990), tem como premissa bsica,

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a crena de que o ser humano tem habilidades prprias para promover o cuidado de si mesmo, e que pode se beneficiar com o cuidado da equipe de enfermagem quando apresentar incapacidade de autocuidado ocasionado pela falta de sade. 2.2. - A teoria de dficit de autocuidado Segundo FOSTER & JANSSENS (1993), a teoria de dficit de autocuidado constitui a essncia da teoria de Orem, quando a enfermagem passa a ser uma exigncia a partir das necessidades de um adulto, e quando o mesmo acha-se incapacitado ou limitado para prover autocuidado contnuo e eficaz. Esses cuidados podem ser oferecidos pela enfermagem quando [...] as habilidades para cuidar sejam menores do que as exigidas para satisfazer uma exigncia conhecida de autocuidado[ ...] ou habilidades de autocuidados ou de cuidados dependentes excedam ou igualem s exigidas para satisfazer a demanda atual de autocuidado, embora uma relao futura de deficincia possa ser prevista devido as diminuies previsveis de habilidades de cuidado (FOSTER & JANSSENS, 1993, p.92). Orem identificou cinco mtodos de ajuda, segundo os autores anteriormente citados: 1) agir ou fazer para o outro; 2) guiar o outro; 3) apoiar o outro (fsica ou psicologicamente); 4) proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, quanto a tornar-se capaz de satisfazer demandas futuras ou atuais de ao; e 5) ensinar o outro. 2.3 - A teoria de sistemas de enfermagem O sistema de enfermagem planejado pelo profissional, segundo FOSTER & JANSSENS (1993), est baseado nas necessidades de autocuidado e na capacidade do paciente para a execuo de atividades de autocuidado. Para satisfazer os requisitos de autocuidado do indivduo, Orem identificou trs classificaes de sistemas de enfermagem que so os seguintes: o sistema totalmente compensatrio, o sistema parcialmente compensatrio e o sistema de apoio-educao. O sistema de enfermagem totalmente compensatrio representado pelo indivduo incapaz de empenhar-se nas aes de autocuidado. O enfermeiro, atravs de suas aes, vai atuar na ao limitada do paciente conseguindo o autocuidado do mesmo, compensando sua incapacidade para a atividade de autocuidado atravs do apoio e da proteo ao paciente. O sistema de enfermagem parcialmente compensatrio est representado por uma situao em que, tanto o enfermeiro, quanto o paciente, executam medidas ou outras aes de cuidado que envolvem tarefas de manipulao ou de locomoo. Atravs de sua ao, o

enfermeiro efetiva algumas medidas de autocuidado pelo paciente, compensa suas limitaes de autocuidado atendendo o paciente conforme o exigido. O paciente age realizando algumas medidas de autocuidado, regula suas atividades e aceita atendimento e auxlio do enfermeiro. O sistema de enfermagem de apoio-educao ocorre quando o indivduo consegue executar, ou pode e deve aprender a executar medidas de autocuidado teraputico, regula o exerccio e desenvolvimento de suas atividades de autocuidado, e o enfermeiro vai promover esse indivduo a um agente capaz de se autocuidar. 2.4 - O processo de enfermagem de OREM O processo de enfermagem de Orem segundo FOSTER & JANSSENS (1993, p.98) um mtodo de determinao das deficincias de autocuidado e a posterior definio dos papis da pessoa ou enfermeiro para satisfazer as exigncias de autocuidado. O processo de enfermagem proposto por OREM (1980) compreende os seguintes passos, segundo os mesmos autores: Passo 1 - fase de diagnstico e prescrio, que determina as necessidades ou no de cuidados de enfermagem. O enfermeiro realiza a coleta de dados do indivduo. Os dados especficos so reunidos nas reas das necessidades de autocuidado, de desenvolvimento e de desvio de sade do indivduo, bem como, o seu inter-relacionamento. So tambm coletados dados acerca dos conhecimentos, habilidades, motivao e orientao da pessoa. Passo 2 - a fase do planejamento dos sistemas de enfermagem, bem como do planejamento da execuo dos atos de enfermagem. O enfermeiro cria um sistema que seja totalmente compensatrio, parcialmente compensatrio ou de apoio-educao. As duas aes envolvidas no planejamento dos sistemas de enfermagem seriam: a) a realizao de uma boa organizao dos componentes das exigncias teraputicas de autocuidado dos pacientes; b) a seleo da combinao de maneiras de auxlio que sejam, ao mesmo tempo, efetivas e eficientes na tarefa de compensar ou sobrepujar os dficits de autocuidado dos pacientes. Com a utilizao do modelo de Orem, as metas so compatveis com o diagnstico de enfermagem, capacitando o paciente a tornar-se um verdadeiro agente de autocuidados. Passo 3 - inclui a produo e execuo do sistema de enfermagem, onde o enfermeiro pode prestar auxlio ao indivduo (ou famlia) no que se refere ao autocuidado, de modo a alcanar resultados identificados e descritos de sade. O passo 3 inclui a evoluo, onde, juntos, paciente e enfermeiro, realizam a avaliao. A evoluo um processo contnuo, e fundamental que o enfermeiro e o paciente avaliem quaisquer modificaes nos dados que afetariam o dficit de autocuidado, o agente de autocuidado e o sistema de enfermagem.

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3 - PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Este um estudo descritivo com uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, objetivando identificar os diagnstico de enfermagem em uma adolescente grvida, utilizando-se para isto, a Uniformizao da Linguagem dos Diagnsticos de Enfermagem da NANDA: sistematizao das propostas do II SNDE, conforme apresentado e descrito por NBREGA & GARCIA (1994), e o processo de enfermagem baseado na teoria do autocuidado de Dorothea Orem. O mesmo foi realizado no ambulatrio de uma maternidade-escola, na cidade de Natal, RN. A escolha dessa instituio deveu-se ao fato de ser um campo de ensino universitrio especializado no atendimento adolescentes, por ser um hospital de referncia do Estado do Rio Grande do Norte e por apresentar o principal campo de prtica no acompanhamento a alunos de um dos pesquisadores do trabalho na disciplina de enfermagem obsttrica, na graduao. A amostra foi constituda por uma adolescente grvida solteira, inscrita no programa de pr-natal da referida instituio, e selecionada atravs de um processo aleatrio simples. A coleta de dados foi desenvolvida, seguindo-se um roteiro de entrevista (Anexo) fundamentado e adaptado teoria do autocuidado de Orem. A coleta de dados procedeu-se na residncia da cliente por um dos autores do trabalho, aps esclarecimentos mesma quanto a finalidade da pesquisa e obteno de sua anuncia. Foram coletados dados a partir da entrevista, da observao e do exame fsico da adolescente. Para a operacionalizao do processo de enfermagem baseado no autocuidado de Orem, foram realizadas oito visitas domiciliares adolescente durante um ms, sendo duas visitas por semana. Esta operacionalizao seguiu os seguintes passos do processo: 1 passo - realizao do levantamento de dados atravs da entrevista; 2 passo - planejamento das aes de enfermagem atravs do sistema de apoio-educao; 3 passo - execuo e avaliao das aes de enfermagem no sistema escolhido. Aps concluda a fase de coleta de dados, foi iniciado o trabalho de anlise das informaes coletadas. Para se chegar aos diagnsticos, teve-se como base, as caractersticas definidoras e os fatores relacionados determinados pela classificao da NANDA com adaptao ao nosso meio conforme NBREGA & GARCIA (1994), como tambm o conhecimento e a experincia dos autores na sistematizao da assistncia de enfermagem. Previamente coleta, foi solicitado a assinatura

de uma carta de consentimento da me da adolescente autorizando sua participao no estudo, obedecendo, assim, os preceitos ticos e legais para menores de 18 anos. Tornamos evidente participante do estudo, que lhe seria assegurado o anonimato, resguardando-lhe o direito, inclusive, de no concluir a entrevista, se assim o desejasse. 3.1 - Estudo de caso correspondente ao binmio adolescente grvida solteira/famlia A cliente T.S.F. reside com a me, tem 17 anos de idade, com 1,74 m de altura e 65 Kg de peso corporal, grvida de 7 meses de seu primeiro filho, solteira, gravidez no planejada, catlica, cursando o segundo ano do segundo grau. Refere no estar dormindo bem noite, acordando vrias vezes justificando pela mudana nos hbitos de dormir aps a gravidez (antes dormia em decbito ventral, agora dorme em decbito lateral). Est preparando o enxoval do beb, mas no com muita expectativa porque seu companheiro no d nenhuma ajuda financeira. Antes da gravidez estudava em colgio particular, teve que sair porque seu pai deixou de pagar seus estudos quando soube da gravidez, deixando at de falar com a mesma, e que a mudana de colgio no foi boa ... porque onde eu estudava o ensino era bom .... Quando descobriu que estava grvida, diz que, ... chorei muito, mas de raiva ... porm com o evoluir da gravidez foi se adaptando sua nova situao. O companheiro reconheceu sua gravidez aceitando a paternidade, freqentava sua residncia, porm agora no comparece mais, devido a incompatibilidade do mesmo com a me da jovem, a qual relaciona essa situao pelo seu estado de gravidez. Quanto ao ambiente familiar em termos emocionais, refere ... que est insustentvel, minha me no est feliz com esta nova situao ... Quanto s suas expectativas, no sabe responder, e que ... sonhos so s sonhos, e talvez ainda no esteja no tempo de saber. Minha cabea est a mil, em parafuso. Acho que no momento estou mais para o colgio do que para a gravidez. No engravidem crianas, pois amar no vale a pena, nada eterno.

4 RESULTADOS
Os resultados encontrados nos levaram a identificar e nomear os diagnsticos de enfermagem referentes aos padres de resposta humana ESCOLHER (adaptao prejudicada), MOVER (distrbio do padro do sono) e RELACIONAR (processo familiar alterado), descritos a seguir no Quadro 1.

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QUADRO 1 - Plano de enfermagem baseado na teoria do autocuidado de Orem para os Padres de Resposta Humana ESCOLHER, MOVER e RELACIONAR - Natal/RN 1996
Diagnstico de Enfermagem Plano Interveno - Orientar a cliente sobre a aceitao de sua gravidez atravs do dilogo, e dar apoio quanto a mudana no seu padro de vida com uma melhor aceitao para o novo colgio Evoluo - A cliente vem aceitando sua gravidez; j freqenta as aulas no novo colgio, relaciona-se com novos colegas e pensa concluir seu curso secundrio

1- Adaptao prejudicada a) Meta: relacionado ao sistema de - Levar a cliente a adaptar-se suporte inadequado sua nova situao b) Objetivos: - Dar condies a uma melhor adaptao da gravidez da cliente e a sua mudana de colgio c) Sistema de enfermagem: - De apoio-educao d) Mtodo: - Orientao e apoio 2- Distrbio do padro do sono a) Meta: relacionado a alteraes - Promover sono e repouso sensoriais internas adequado s suas necessidades fisiolgicas b) Objetivo: - Tentar adaptar a cliente a novas posies para o sono e repouso c) Sistema de enfermagem: - De apoio-educao d) Mtodo: - Orientao e ensino 3- Processo familiar alterado a) Meta: relacionado situao de - Reduzir o desequilbrio e desajuste familiar transio b) Objetivo: - Melhorar o relacionamento e o convvio familiar c) Sistema de enfermagem: - De apoio-educao d) Mtodo: - Orientao e apoio

- Orientar e demonstrar a - A cliente j consegue dormir cliente novas tcnicas para e repousar com o apoio de mudana postural: travesseiros como foi ensinado . decbito ventral com apoio de travesseiros sob o trax . decbito lateral apoiando o abdomen sobre os travesseiros . colocar travesseiros sob as pernas quando em decbito dorsal e posio de semi-fowler

- Orientar a cliente e seus familiares sobre a situao transitria que esto passando e apoiar os mesmos nas discusses dos problemas, atravs do dilogo

- A cliente refere que os seus pais j esto aceitando a gravidez e a presena do companheiro no convvio familiar (s a me), a qual demonstra interesse em sua gravidez e o companheiro comeou a ajudar na compra do enxoval do beb

5- CONSIDERAES FINAIS
possvel considerar que o uso da teoria do autocuidado de Dorothea Orem um instrumento vlido, o qual nos ajudou a promover uma comunicao mais objetiva entre pesquisador e pesquisada, adequando-se de certa forma ao planejamento da assistncia de enfermagem, problemtica dessa adolescente. Considera-se tambm, que o processo de enfermagem baseado em Orem, nos deu subsdios para a aplicao sistemtica dessa assistncia, fazendo-se mudanas necessrias ao plano de cuidados mesma. Dessa forma, diante dos resultados obtidos no estudo de caso, os diagnsticos de enfermagem encontrados foram: adaptao prejudicada, distrbio do

padro do sono e processo familiar alterado. No padro de resposta humana ESCOLHER, identificou-se o diagnstico adaptao prejudicada, que se traduz pelo descontentamento da jovem em estar grvida e por sair do colgio privado, devido a revolta do pai sobre sua gestao, vindo assim, conturbar suas iluses e fantasias de adolescente. Na cliente deste estudo com o diagnstico em questo, foram identificadas reaes variveis que envolveram a demonstrao da incapacidade para a resoluo de seus problemas atuais, incapacidade de alcanar e desempenhar papis desejveis, mudanas na sua vida social, expressos sob a forma de raiva e hostilidade, isolamento, medo, decepo e negao. No padro de resposta humana MOVER, podese identificar o diagnstico distrbio do padro do sono,

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caracterizado pela mudana dos hbitos de dormir da cliente, durante sua gravidez. No padro de resposta humana RELACIONAR, identificou-se o diagnstico processo familiar alterado, definido pela interao familiar prejudicada, tanto com os pais, quanto com o companheiro. Embora este trabalho represente um estudo preliminar no levantamento de possveis diagnsticos de enfermagem identificados em uma adolescente grvida solteira, o mesmo nos permitiu entender que o diagnstico de enfermagem no pode ser uma fase isolada de todo o processo assistencial, mas, que deve ser utilizado com o

objetivo de direcionar a ao de enfermagem. A incorporao dos diagnsticos de enfermagem propostos pela NANDA, nos permitiu confirmar a concepo que os autores do trabalho j possuam, que a assistncia a uma adolescente grvida no pode ser voltada somente para o aspecto biolgico, mas tambm, para o social e o psicolgico. Cabe ressaltar, ainda, a necessidade de outros estudos nessa rea junto a adolescentes grvidas, em especial solteiras, para a definio de um perfil diagnstico, a fim de subsidiar a assistncia de enfermagem sistematizada e fundamentada cientificamente.

APPLICATION OF THE NURSING PROCESS BASED IN OREMS THEORY: A CASE STUDY WITH A PREGNANT ADOLESCENT
This is a descriptive study with a qualitative approach that aimed at applying the nursing process based in Orem SelfCare Theory, through a case study with a pregnant adolescent in order to identify the nursing diagnosis in the above mentioned clients, based on NANDAS nursing diagnoses. Results obtained identified three nursing diagnoses: prejudiced adaptation, sleep disturb and familiar change process. The application of the nursing process based in Orem and the importance of the diagnosis identified for clients nursing care were evidenced. KEY WORDS: nursings diagnosis, pregnant adolescent, self-care theory

APLICACIN DE LO PROCESO DE ENFERMERA BASADO EN LA TEORA DE OREM: ESTUDIO DE CASO EN UNA ADOLESCENTE EMBARAZADA
Estudio de tipo descriptivo con un enfoque cualitativo, cuyo objetivo fue aplicar el proceso de enfermera utilizando la Teora del Autocuidado de OREM, a travs de un estudio de caso en una adolescente embarazada, buscando identificar los diagnsticos de la cliente, en base a los diagnsticos de la NANDA. De acuerdo con los resultados encontrados, se identificaron tres diagnsticos: adaptacin perjudicada, disturbio del sueo y alteracin del proceso familiar, fue relevante la aplicacin del proceso de enfermera de Orem y la importancia de los diagnsticos de enfermera para dar los cuidados de enfermera a la cliente. TRMINOS CLAVES: diagnstico de enfermera, adolescente embarazada, teora del autocuidado

ANEXO ROTEIRO DE ANAMNESE


1- Fatores pessoais e condicionantes bsicos: 1.1. Identificao: Nome: Idade: Sexo: Filhos: Estado civil: Profisso: Escolaridade: Religio: Altura: N gestaes: Peso: N aborto: 2- Requisitos de desenvolvimento: 2.1. Antecedentes pessoais - Doenas da infncia - Sexualidade - Menarca - Gravidez - Relacionamento familiar 3- Requisitos universais para o autocuidado:

3.1. Exame fsico - Higiene corpo - Trax - Abdome - Sistema urinrio - Sistema intestinal - Membros inferiores - Sistema neurolgico - Nvel de conscincia - Sistema reprodutor: nmero de filhos, uso de contraceptivos - Alimentao: Principais alimentos que ingere, dieta e nmero de refeies dirias - Atividades e repouso - Atividades, lazer, repouso - Hbitos e vcios 4- Desvio de sade: 4.1. Queixas atuais: Percepo sobre a sua gravidez atual Conhecimento sobre a gravidez e suas intercorrncias Orientaes recebidas e exames realizados

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
01. BEZERRA, M.L. et al. Estudo retrospectivo sobre adolescentes grvidas atendidas no Instituto Materno-Intantil de Pernambuco, no binio 1984/ 1985. Rev.Bras.Ginecol.Obstet., Rio de Janeiro, v. 10, n. 10, p. 223-226, 1988. 02. FOSTER, P.C.; JANSSENS, N.P. D.E.O. In: GEORGE, J.B. et al. Teorias de Enfermagem. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1993. Cap. 7, p. 90-107. 03. GARCIA, T.R. Maternidade na adolescncia: escolha ou fatalidade? Rev.Bras.Enfermagem, Braslia, v. 45, n. 1, p. 44-53, jan./mar. 1992. 04. GARCIA, T.R. Cuidando de adolescentes grvidas solteiras. Ribeiro Preto, 1996. 256p. Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo. 05. LUCE, M. et al. O preparo para o autocuidado do cliente diabtico e famlia. Rev. Bras. Enfermagem, Braslia, v. 1, n. 1/2/3/4, p. 36-49, jan./dez. 1990.

06. LUZ, A.M.H. Proposta de programa de assistncia a adolescentes gestantes (com base em estudo de mes adolescentes e adultas). Rev.Gauch.Enfermagem, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. 69-79, jul. 1989. 07. NBREGA, M.M.L.da; GARCIA, T.R. Uniformizao da linguagem dos diagnsticos de enfermagem da NANDA: sistematizao das propostas do II SNDE. Joo Pessoa: A Unio, CNRDE/GIDE, 1994. 138p. 08. OREM, D.E. Nursing: concepts of practice. 2. ed. New York: McGrau-Hill, 1980. Ch.3, p. 35-54: Nursing and self-care. 09. POLIT, D.F.; HUNGLER, B.P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1995. Cap. 8, p. 163-198: Mtodos de coleta de dados. 10. RODRIGUES, A.P. et al. Gravidez na adolescncia. Femina, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 199-223, mar. 1993. 11. SILVA, J.L.P.; SARMENTO, R.C. Gravidez. In: COMISSO DE SADE DO ADOLESCENTE. Adolescncia e sade. So Paulo: Paris, 1988. Cap. 11, p. 131-142.

Recebido em: 21.10.97 Aprovado em: 12.8.98

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