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Cracha 34

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ASSOCIAÇÃO SINDICAL DOS PROFISSIONAIS DA POLÍCIA • ASPP / PSP

MEMBRO PERMANENTE DO CONSELHO EUROPEU DOS SINDICATOS DE POLÍCIA • CESP

ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO DA ASPP/PSP // MAIO 2009


34

A FORÇA
DA RAZÃO
Manifestação a 21 de Maio
maio 2009 // o crachá // 1

índice
02 Editorial

03 O que pretendem da PSP?

04 Critérios claros para uma avaliação justa

05 Em defesa dos Profissionais das Forças e Serviços


de Segurança

06 Discurso de Paulo Rodrigues na Tomada de Posse da Direcção


Nacional da ASPP/PSP para o triénio 2009/2012
O Crachá n.º 34
Maio de 2009
Ano XIV
09 Conselho Europeu dos Sindicatos de Polícia

Órgão de Informação da Associação Sindical 10 Orçamento de Estado para 2009 consagra


dos Profissionais da Polícia – ASPP/PSP
verba insuficiente à PSP
Director
Paulo Rodrigues
12 Por um Estatuto Profissional digno, vamos mostrar a força da
Coordenação
Gabinete de Comunicação ASPP/PSP nossa razão!
gcomunicacao@aspp-psp.pt

Morada
14 Política reivindicativa da ASPP/PSP para 2009

Avenida Santa Joana Princesa, N.º 2


1700-357 Lisboa 16 Exigimos modernidade e funcionalidade!
Tel.: 213 475 394/5
Tlm.: 962 076 140 / 917 767 024
Fax: 213 475 493
17 Seminários: “Polícia: Profissão de Risco”
Website: http://www.aspp-psp.pt
E-mail: aspp-psp@aspp-psp.pt 21 Horas extraordinárias

Design e paginação
Ricardo Eirado - Design de Comunicação
22 Polícia - Profissão de risco e de desgaste rápido?
info@ricardoeirado.eu
24 Polícia Municipal do Porto
Impressão
Greca, artes gráficas
25 Gabinete de Psicologia da PSP
Distribuição gratuita aos associados ASPP/PSP
26 Secretário-Geral dos Serviços Sociais da PSP
Inscrito na DGCI com o n.º 115 869/91
Depósito legal n.º 74 228/94 em entrevista a “O Crachá”
8.000 exemplares

27 Onde está o policiamento de proximidade?

32 Mais um marco histórico na vida da ASPP/PSP

33 Consultas de risco não significam apoio psicológico

34 O Percurso da ASPP/PSP, o Direito de Associação


e a Democracia

36 ”A insegurança da segurança”


2 // o crachá // maio 2009

EDITORIAL

A Força da Razão
O
ano de 2005 foi atroz para os Polícias no período entre 1995 e 2006. Os dados são do
e para a Instituição PSP, no tocante EUROSTAT, entidade responsável pelas estatís-
ao corte de direitos. Mas, como se ticas na UE.
não bastasse, os anos que se seguiram não vie- A criminalidade na UE aumentou 0,6 por cen-
ram alterar a situação, bem pelo contrário… to, nos últimos dez anos. Já em Portugal, os nú-
Política de segurança errada, economicista meros sobem para três por cento, uma das piores
e desajustada ao cenário actual da criminalida- prestações a nível Europeu já que apenas a Po-
de; dificuldades desgastantes na troca de in- lónia (5%) e a Eslovénia (10%) conseguiram uma
formação entre as diversas Forças e Serviços de evolução negativa acima da portuguesa.
Segurança; dificuldades enormes na coordena- No fundo, trata-se de sublinhar que o aumen-
ção dos diversos serviços dentro da própria Ins- to da criminalidade é mais uma consequência
tituição, défice de equipamentos adequados da actuação incompetente da classe política que
para a execução da missão, como o material governa, do que da actuação das Polícias que,
de protecção e o péssimo sistema de comuni- continuam a operar em condições deficitárias em
cações; falta de efectivos nos departamentos todos os aspectos.
da PSP, sacrificando os poucos que aí prestam Apesar de tudo isto, o Governo continua a
serviço; Esquadras completamente degrada- tentar justificar mediaticamente o injustificável.
das, materiais obsoletos, envelhecimento do De facto, os últimos acontecimentos representam
efectivo e falta de candidatos à PSP têm sido bem “a falta de jeito” deste Executivo para lidar
uma realidade constante com este Governo. com as questões de segurança, mais preocupado
Mas a tudo isto temos de acrescentar a des- com a redução da despesa, nem que para isso se
motivação que reina no seio da PSP. Avaliações hipoteque o bem-estar social.
feridas de justiça, falta de respostas aos pro- O projecto de Estatuto profissional da PSP, re-
blemas socioprofissionais dos Polícias, apoio centemente apresentado à ASPP/PSP, não é mais
deficiente ao nível de alguma da Hierarquia que um insulto aos Polícias, revelando-se uma
da PSP e do Governo, salários miserabilistas, tentativa vergonhosa de não resolver os proble-
inexistência de subsídios que recompensem o mas que o actual Estatuto criou e, acima de tudo,
risco e o desgaste rápido ao nível físico e psí- de agravar as injustiças geradas desde a última
quico, apoio na saúde completamente esgota- revisão do Diploma, contrariando aquilo que o
do, inexistência de perspectivas de carreira e MAI tem vindo a admitir, com os altos elogios ao
o aumento do tempo para a pré-aposentação Profissionais da PSP.
têm levado ao desespero a grande maioria dos
Profissionais. O número de saídas da PSP para Chega de demagogia!
outras Instituições, o aumento das baixas por
motivos de saúde, os desequilíbrios familia- Pelos Polícias, pela Instituição e pela qualidade
res motivados pela profissão são alguns dos da Segurança prestada aos cidadãos, no dia 21 de
exemplos que têm fustigado a vida dos profis- Maio os Polícias têm o dever de marcar presença
sionais da PSP. na Manifestação. Esta luta não é de alguns, esta
Não podemos esquecer que Portugal é o luta é de todos por todos. Todos os Polícias uni-
terceiro país da União Europeia (UE) onde os dos saberão travar uma luta decisiva para o futuro
crimes violentos e roubos mais aumentaram desta Instituição. d
maio 2009 // o crachá // 3

ASPP/PSP inicia Petição Pública contra aplicação da Lei 12/A-2008

O que pretendem da PSP?

A
Lei 12/A-2008, que regula o regime de vínculos, car- instituída, essa unidade e equilíbrio institucional, ao impor arbi-
reiras e remunerações da Função Pública, motivou trariedades e permitir desequilíbrios internos. Não considerar a
forte contestação da ASPP/PSP, que enviou queixas- diferença e desigualdade das exigências é esquecer que existem
denúncia para o Presidente da Assembleia da República, Presi- Profissionais em Funções Públicas que prestam serviços envoltos
dente da República, Procurador-Geral da República e Provedor em situações de conflito, tensão e violência permanente, cujo
de Justiça. sucesso depende não só da sua boa forma física e psicológica,
Este diploma, que retira a PSP dos Corpos Especiais do Es- formação contínua e permanente, como do equilíbrio e saúde
tado, equipara os Profissionais da Polícia aos restantes funcio- organizacional e de equipa em que se encontram inseridos.
nários públicos, esquecendo as especificidades da carreira e da A descaracterização da especial vocação do serviço policial,
função policial. numa área de intervenção tão delicada como é a segurança
Assim, e porque a ASPP/PSP considera que a Lei 12/A preju- interna, afastando-a das demais forças de segurança e enqua-
dica gravemente a Polícia de Segurança Pública, como estrutu- drando-as num conceito de funcionalismo público genérico,
ra hierarquizada, bem como a qualidade dos serviços prestados sem distinção do elevado grau de esforço, entrega e exigência
aos cidadãos, decidiu iniciar uma Petição Pública pela cessação profissional que lhes é imposto, como garante que são do cum-
da aplicação da Lei 12/A à PSP e pela aprovação de legislação primento da Lei e Ordem Pública, implica não só para os seus
específica referente ao regime de vinculação, remuneração, profissionais, como para a sociedade em geral e para o cidadão
carreiras, higiene e segurança e horário de trabalho aos Pro- em concreto, o abandono e desrespeito, por parte do Estado,
fissionais da PSP. dessa sua função de garantia, na medida em que compromete
A Lei 12/A não respeita a diferença e especificidade da acti- e desvaloriza a posição dos profissionais de polícia nessa sua
vidade policial, lesando, de forma profunda e objectivamente específica missão de segurança. d
4 // o crachá // maio 2009

Em prol da melhoria do serviço policial

Critérios claros
para uma avaliação justa
O sistema de avaliação Louvores com peso excessivo Valorização da experiência…
dos Profissionais da PSP, Sem quotas!
É entendimento da ASPP/PSP que os
enquanto elementos
louvores assumem um peso desmesura- A ASPP/PSP considera que a validade dos
pertencentes à Administração do nos critérios de avaliação, sendo que conhecimentos adquiridos através da
Pública, também sofreu a atribuição destes é demasiado subjec- experiência é esquecida na actual avalia-
alterações, como tiva para que possam ser considerados ção e tudo fará para que seja um critério
um método eficaz de aferir a actuação preponderante na apreciação das capaci-
consequência da entrada em
de cada Profissional da Polícia. O actual dades e habilitações de cada Profissional.
vigor da Lei 12/A-2008, que modelo apenas potencia a subserviência Por isto, as quotas merecem também
regula os vínculos, carreiras como requisito quase obrigatório para a forte condenação, uma vez que reduzem
e remunerações. A ASPP/PSP progressão horizontal na carreira, o que ainda mais a possibilidade de progressão,
não só terá reflexos negativos no serviço fechando expectativas de carreira, atra-
manifestou desde logo a
policial, como criará um ambiente dentro vés de um modelo que nada acrescenta
sua discordância e exige um da Instituição que em nada beneficiará em relação ao mérito individual, mas
modelo justo, que privilegie a o desempenho da missão. Assim, enten- pretende apenas, mais uma vez, ir de
qualidade do serviço prestado demos que apenas o louvor por “Prémio encontro aos critérios economicistas do
às populações e que não de Segurança Pública” deve ser conside- governo, através do corte na despesa
rado, pela objectividade da actuação do com os Profissionais da PSP.
permita que a subserviência
profissional que não deixa qualquer dúvida
à hierarquia seja um dos no risco e sentido do dever público que
critérios de avaliação. demonstrou com a sua actuação. Patrulha não pode ser esquecida

Do mesmo modo, é necessário o reco-


nhecimento justo dos elementos da PSP
afectos ao serviço de patrulhamento nas
esquadras, enquanto face visível da Insti-
tuição junto dos cidadãos, com um contri-
buto enorme para o prestígio da mesma,
através de uma presença mais bem vista
pela sociedade, dado o sentimento de
proximidade que cria com o ambiente
envolvente. d
maio 2009 // o crachá // 5

Novo Sistema de Segurança Interna reforça necessidade


de interligação entre estruturas sindicais
Comissão Coordenadora Permanente
Em defesa dos
Profissionais das Forças
e Serviços de Segurança
A Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Associações
dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança – CCP – é
composta pelas organizações maiores e mais representativas dos
Profissionais da PSP, GNR, SEF, Guarda Prisional, Polícia Marítima
e ASAE. Para além da ASPP/PSP, estão também representadas a
Associação de Profissionais da Guarda – APG/GNR; o Sindicato da
Carreira de Investigação e Fiscalização – SCIF/SEF; Sindicato Nacional
do Corpo da Guarda Prisional – SNCGP; Associação Sindical dos
Profissionais da Polícia Marítima – ASPPM e Associação Sindical dos
Funcionários da ASAE – ASF/ASAE
Convergência na acção Novo membro reforça CCP

Criada há mais de uma década, a CCP preten- A chegada da Associação Sindical dos Funcio-
deu congregar o maior número de Sindicatos nários da ASAE é mais um passo no reforço da
e Associações da área da segurança interna, orgânica da CCP, bem como no aprofundar do
para assim articular, conhecer e dar a conhecer conhecimento das diversas realidades com que
aos seus Associados realidades de outras Insti- se deparam os Profissionais dos diversos secto-
tuições. Paralelamente, tem o fundamento de res. O carácter plural da CCP fica então mais
criar unidade na acção em matérias transversais enriquecido, constituindo-se como um fórum
a todos os sectores, desde as condições laborais de discussão de ideias e implementação de
até à efectiva aplicação da legislação sindical e estratégias comuns, que têm como objectivo
associativa em cada Força de Segurança. lutar pela dignidade de todos os Profissionais
das Forças e Serviços de Segurança. d
Papel relevante

A CCP terá um papel cada vez mais relevante


no conjunto das Forças e Serviços de Segurança,
tendo em conta as alterações legislativas que
redundaram na criação do Sistema de Segurança
Interna. Com uma dinâmica crescente, pretende
ser uma voz cada vez mais activa, tendo em
conta a articulação que se pretende entre todos
os agentes da área da segurança interna.
6 // o crachá // maio 2009

Acabámos de oficializar a eleição da nova Direcção Nacional da Associação Sindical


dos Profissionais da Polícia – ASPP/PSP e dos Delegados dos diversos Departamentos
Policiais de todo o País. É o culminar de um acto eleitoral que se revelou o mais
participativo dos 20 anos de vida deste Sindicato, apesar da existência de uma lista
única para os Órgãos Nacionais. Já a nível local, foram largas dezenas os Profissionais
da Polícia que se candidataram a Delegados Sindicais, numa prova de reconhecimento
e comprometimento com a forma de fazer sindicalismo que é por nós preconizada.
Foi um processo que envolveu grande empenho da parte de todos nós, e que, pela
forma democrática como decorreu, vem fazer jus à conduta exemplar da ASPP/PSP
ao longo das duas décadas de existência.

Casa do Alentejo, 21 de Janeiro de 2009

Discurso de Paulo Rodrigues


na Tomada de Posse da Direcção
Nacional da ASPP/PSP para
o triénio 2009/2012

A
adesão dos Profissionais da Polícia ao projecto defen- para mais três anos de mandato com a certeza de que não
dido pela Direcção cessante e que agora é reconduzi- podem acusar-nos de termos alguma vez baixados os braços e
da, supera quaisquer dúvidas, não só pelos mais de 97 desistido de lutar pelos Profissionais da Polícia. Hoje, como no
por cento dos votos obtidos nas eleições de 7 de Janeiro, mas passado, permanecemos convictos de que temos do nosso lado
também pela entrada de mais de 2.000 novos sócios ao longo a força da razão, que nos dá os argumentos de que necessitamos
dos últimos três anos. É uma prova de confiança que nos honra, para manter viva a chama do sindicalismo firme e determinado
mas que, simultaneamente, nos acresce o sentido de responsa- mas coerente e responsável na defesa dos nossos iguais.
bilidade, enquanto dirigentes do maior Sindicato da Polícia de Foram três anos de extrema dificuldade para todos nós.
Segurança Pública que tem no seu seio Agentes, Chefes e Oficiais Deparámo-nos, mais uma vez, com uma tremenda ofensiva
de Polícia, com mais de 11.000 associados, representando mais governamental, que, sob a capa dos supostos privilégios dos
de 50 por cento do efectivo. Funcionários Públicos, foram cortando direitos adquiridos à
Temos consciência de que o caminho percorrido até aqui foi custa de muitos sacrifícios de actuais e anteriores dirigentes
extremamente difícil, mas foi o possível. Mantemos a convicção sindicais e que visavam recompensar a exigência da profissão.
de que tudo fizemos, ultrapassando mesmo os nossos próprios Fomos equiparados a outros sectores da Função Pública na perda
limites, na defesa dos direitos dos Profissionais de Polícia e na de direitos, mas esquecidos nas compensações. Mais uma vez, um
melhoria da sua condição de vida sócio-profissional. Seguimos Governo esquece-se de definir, claramente, o que nos diferencia
maio 2009 // o crachá // 7

da Função Pública, mas passa igualmente ao progressões congeladas durante anos, concursos internos de
lado no que diz respeito a estabelecer aquilo promoção insuficientes, inexistência de um horário de trabalho,
que nos diferencia de instituições militares. inexistência do subsídio de risco, reestruturações inacabadas,
Afinal qual é o espaço da PSP como Instituição meios obsoletos e desadequados. São apenas alguns exemplos
do Estado? Com o que podem contar os profis- da realidade com que convivemos e que nos sentimos obrigados
sionais desta Polícia? Como podemos encarar a denunciar, para que a sociedade possa compreender a dificul-
a nossa situação profissional? dade e a frustração dos polícias em responder aos anseios dos
Esquecem-se alguns que ser polícia não é cidadãos em matéria de segurança.
unicamente vestir um uniforme, ser polícia é Estamos, desde 2005, à espera de um Estatuto Profissional
vestir uma enorme responsabilidade no âmbito que vá ao encontro das justas aspirações dos Profissionais da
de uma missão nobre, mas espinhosa. Polícia. E dele não abdicaremos até ao final da actual legislatura.
Ser polícia também é ter como utensílio de Um Estatuto Profissional justo, que dê aos Profissionais da PSP a
trabalho uma arma de fogo; ser polícia é, em dignidade a que têm direito e o reconhecimento que merecem.
condições adversas, ter fracções de segundo Temos sempre pautado a nossa actuação pelo recurso ao diálogo,
para tomar decisões e delas podem depender mas não podemos dialogar continuamente sozinhos. É, por
a vida do próprio Profissional ou de outro isso, de capital importância que o Estatuto Profissional da PSP

cidadão. Ser profissional de Polícia é não ter seja matéria de negociação efectiva com os representantes dos
horários de trabalho, é não ter estabilidade Polícias, sem que a lei sindical seja desvirtuada ou esquecida e
familiar que lhe proporcione também a sua que, mais uma vez, vejamos a negociação tornar-se numa mera
própria estabilidade mental, como qualquer formalidade de audição. Queremos acreditar que o Governo
outro cidadão; é curar os seus próprios males terá a preocupação, a responsabilidade e sensibilidade neces-
com os males da sociedade que tem de servir. sárias na negociação de um diploma que irá definir a vida pro-
Em conclusão, ser polícia é mais do que ter fissional do efectivo da PSP nas próximas décadas. Mas, caso se
uma profissão, é, sobretudo, seguir um estilo venha a confirmar o contrário, os Polícias canalizarão todas as
ou forma de vida onde os seus próprios fami- suas energias em defesa dos direitos de todo o Efectivo, porque
liares são envolvidos. sabemos que, simultaneamente, estaremos a lutar pelos direitos
A tudo isto, contrariamente às nossas ex- de toda a sociedade: O direito à segurança com a qualidade que,
pectativas, o Governo respondeu com políticas nos dias de hoje, é exigida, e por um futuro de uma Instituição
economicistas levando a uma desmotivação cada vez mais necessária num Estado de Direito.
tremenda no seio dos Profissionais da Polícia. A constante evolução da sociedade portuguesa nas últimas
Alterações no Serviço de Assistência na Doença décadas, inserida num contexto europeu de livre-circulação
(SAD/PSP), aumento da idade de reforma, de pessoas e bens, acarretou vantagens e desvantagens. Sem
8 // o crachá // maio 2009

fronteiras, com menor controlo, o crime orga- número, está um ser humano. E são os polícias que, nas diversas
nizado e violento passou a não conhecer países zonas do País, nas suas Esquadras, se vão confrontando com
ou territórios, actuando, em poucas horas, em este tipo de problemas, tentando encontrar soluções para situa-
pontos distantes e distintos, até em países ções para as quais eles próprios não estão vocacionados, mas
diferentes. Para este perigo alertámos também que sabem a importância da sua actuação na possível orientação
os sucessivos Governos. A nossa posição foi daquele que já pouco ou nada tem a perder.
sempre desvalorizada. É também pelo normal funcionamento da sociedade que
A julgar por declarações recentes de entida- lutamos, enquanto elementos integrantes de um pilar funda-
des responsáveis, o ano de 2008 ficará marcado mental do sistema democrático. Mas sabemos que tem de haver
por um aumento da criminalidade organizada vontade política para que possamos desenvolver a nossa acti-
e violenta, para nós não é novidade, sentimo-lo vidade na sua plenitude. E isso só é possível com Profissionais
diariamente no terreno. da Polícia motivados, que se sintam apoiados pelos actos da
Mesmo assim, quando, no Verão passado, Hierarquia e do Governo.
fomos assolados por uma onda de criminalidade, É por tudo isto que lutamos na ASPP/PSP; pelo respeito,
uns desvalorizaram-na e atribuíram à Comuni- pelo reconhecimento, pela dignidade e credibilidade da nossa
cação Social as culpas da excessiva mediatização tarefa.

de crimes normais. Outros descobriram nas É também por isso que peço a todos aqueles que nos acom-
notícias motivações políticas. Para nós, apenas panham nesta árdua tarefa, Dirigentes e Delegados de todas
veio confirmar aquilo que era inevitável e as categorias profissionais, que, depois de eleitos, assumam um
cujas respostas a dar podiam e deviam ter sido compromisso e uma responsabilidade ainda maiores, obrigando
atempadamente colocadas em campo. a que sejam ainda melhores profissionais, a empenharem-se
Mas convém recordar que também a peque- ainda mais na execução da nossa nobre missão como Profissionais
na criminalidade tenderá a aumentar e a isso de Polícia, mas que saibam também dignificar pelos seus actos
certamente que não é alheia a situação econó- o sindicalismo na Polícia de Segurança Pública, sendo por certo
mica do país. O aumento do desemprego, os que tem sido esta postura que nos tem segurado toda a razão
baixos salários e a precariedade no emprego, das nossas reivindicações.
são factores potenciadores de criminalidade. Hoje, faz mais sentido que nunca um Sindicato forte e unido
Mas a isto não é só à PSP que cabe responder. na representação dos Profissionais da Polícia, tendo sempre em
Os sucessivos Governos esqueceram as políticas mente o mote que transportamos na nossa bandeira: “Para
sociais e de emprego, deixando de olhar pelos Nossa Defesa”. d
cidadãos, para se debruçarem sobre números e Paulo Rodrigues
estatísticas, esquecendo que, por trás de cada Presidente da ASPP/PSP
maio 2009 // o crachá // 9

CESP
Conselho Europeu
dos Sindicatos de Polícia

O CESP comemorou em 2008 os 20 anos de existência, com uma Assembleia-Geral que teve lugar na Sérvia.
Esta ONG, com representação no Conselho da Europa, acompanhou desde cedo a luta pelo sindicalismo na
PSP, tendo desde sempre manifestado a sua solidariedade com os Profissionais da Polícia Portugueses em todas
as suas justas reivindicações.
O ano de 1992 ficou marcado pela elaboração da Carta Europeia do Polícia, com a finalidade de ser apre-
sentada no Conselho da Europa e transformada em Directiva Comunitária. O documento foi revisto em 1999
e dele transcrevemos alguns excertos.

CARTA EUROPEIA DO POLÍCIA

Os poderes públicos devem garantir aos Profissionais da Polícia o direito:

• Ter a preparação adequada para o desempenho das sua funções profissionais, particularmente no que
respeita aos direitos humanos e liberdades individuais;

• Receber uma remuneração justa que tenha em conta os factores particulares da actividade policial e que
forneça a segurança económica e de emprego necessária, com o intuito de evitar que sejam objecto de
corrupção, garantindo assim a sua integridade;

• Beneficiarem de um horário, de um regime de trabalho e de condições laborais que lhes permitam manter
a boa condição física e psicológica, necessárias para o desempenho da sua difícil missão;

• Não sofrerem, por força da sua condição de funcionários públicos, qualquer restrição ou limitação dos
direitos e liberdades consagrados na Lei, tanto enquanto indivíduo como enquanto cidadão;

• Beneficiarem de uma defesa jurídica por actos decorrentes do exercício da sua actividade profissional,
mesmo quando provado que agiram com negligência culpável ou infringiram os regulamentos;

• Beneficiarem de uma protecção social adequada para os próprios e para as suas famílias. O Estado deve
garantir-lhes essa protecção, tendo em conta os riscos acrescidos resultantes da actividade policial e do
tempo dispendido para essa actividade;

• As organizações sindicais devem poder encetar todas as acções judiciais em defesa dos Profissionais da
Polícia, de um grupo de Profissionais ou da instituição policial. As organizações sindicais devem, entre
outras matérias, ser consultadas e participar no estabelecimento e na revisão dos salários, dos sistemas de
recrutamento, formação, promoção, progressão, regimes disciplinares, etc.

Excertos da Carta Europeia do Polícia


10 // o crachá // maio 2009

Mais um ano a contar tostões

Orçamento de Estado
para 2009 consagra
verba insuficiente à PSP
Após uma análise cuidada à proposta Apesar de o OE consagrar um aumento de 53 milhões
do Ministério da Administração Interna de euros para a PSP, em relação a 2008 convém escla-
(MAI) para o orçamento da PSP durante recer o seguinte:
• Dos 53 milhões de euros adicionais, 25 milhões
o ano de 2009, pudemos aferir, mais
são destinados aos descontos que anteriormente
uma vez, que a verba destinada à eram feitos pela Caixa Geral de Aposentações
Instituição é insuficiente. Os piores e agora são efectuados pela Instituição, numa
receios da ASPP/PSP após a divulgação verba inscrita pela primeira vez neste Orçamento
do Orçamento de Estado (OE) para devido às alterações legislativas;
2009 estão então confirmados, com o • Cerca de 15 milhões de euros têm como objectivo
financiar a formação de 1000 novos agentes para
aumento de 4,2 por cento
a PSP, medida já assumida pelo MAI;
de financiamento do MAI a não 
reflectir-se substancialmente na Polícia Convém ainda recordar que o ano de 2008 foi de má
de Segurança Pública. memória para a PSP no que respeita à escassez do
orçamento:
• Alguns dos médicos contratados pela PSP estive-
ram mais de seis meses sem receber, houve espe-
cialidades que deixaram de funcionar por falta de
verba para a manutenção dos aparelhos necessá-
rios às consultas, outras ainda funcionam porque
estes profissionais vão assumindo em seu prejuízo
a manutenção dos diversos equipamentos;
• A grande maioria dos elementos da UEP, bem mas também pelo cenário negro que traça em matéria
como de outros serviços, esperam meses para socioprofissional.
receber as ajudas de custo por deslocação em Consideramos ainda que este orçamento confirma
missão no território nacional; a aposta do Governo nas medidas circunstanciais de
• Houve viaturas paradas durante largos perío- combate à criminalidade, muitas delas à custa do
dos, conforme foi do conhecimento público, tempo de descanso dos Profissionais da PSP, e, mais
por não haver verba para a sua manutenção em uma vez, não apresenta medidas de fundo como forma
elementos tão básicos como travões, lâmpadas, de contribuir para o reforço do sentimento de segu-
pneus, etc.; rança dos cidadãos.
• A progressão nos escalões dos Profissionais da As reestruturações anunciadas e a racionaliza-
PSP também não decorreu de forma adequada, ção de meios não acompanharam a necessidade de
tendo sido necessário o pedido de verba ao MAI adequar a estrutura da PSP às novas áreas de inter-
por parte da DN da PSP, após a ASPP/PSP ter venção, que sofreram um aumento drástico, estando
contestado publicamente em Abril de 2008 o agora adstritas a Comandos de Polícia com efectivo
Despacho da DN da PSP que afirmava a inexis- reduzido e meios desadequados.
tência de verba para o efeito. A progressão nos Por isto, exigimos a inversão da política de remendos
escalões foi a conta gotas e ainda não satisfez constantes perante situações avulsas, que em nada
a totalidade dos profissionais que progrediram beneficiam a imagem e credibilidade da Instituição
no escalão no ano de 2008. PSP para os cidadãos, bem como apenas acentuam
Pelo conhecimento profundo que temos da Instituição a desmotivação profunda que grassa no seio dos
e pela experiência dos anos recentes, manifestamo- Profissionais da Polícia, que vêem, mais uma vez,
-nos profundamente preocupados não só pelas dificulda- um Governo insensível às dificuldades inerentes ao
des que este orçamento trará à dinâmica da Instituição, desempenho da missão. d
12 // o crachá // maio 2009

Por um Estatuto Profissional


digno, vamos mostrar
a força da nossa razão!
Manifestação a 21 de Maio

A
ausência de aceitação, por parte do A ASPP/PSP considera que as reuniões de negociação não
Governo, das propostas apresentadas pela podem tornar-se em meras formalidades de audição, subver-
ASPP/PSP para a negociação do Estatuto tendo todos os princípios Democráticos em relação aos legítimos
Profissional da PSP motivaram o agendamento de representantes dos Profissionais da PSP.
uma manifestação para o dia 21 de Maio de 2009, Tendo em conta as propostas apresentadas por este Sindicato
em Lisboa. A decisão saiu de uma Moção aprovada ao MAI e:
pelos Corpos Gerentes da ASPP/PSP, reunidos em • Considerando a não-aceitação da transição do efectivo
Lisboa, na Casa da Imprensa, a 17 de Abril de 2009. policial para a nova tabela salarial tendo em conta o tempo
Os Corpos Gerentes da Associação Sindical dos de serviço na carreira;
Profissionais da Polícia – ASPP/PSP reunidos hoje • Considerando a não-aceitação da tabela remuneratória
na Casa da Imprensa, sita na Rua da Horta Seca, proposta pela ASPP/PSP;
em Lisboa, analisaram a situação actual na Polícia • Considerando que a Polícia de Segurança Pública, sendo
de Segurança Pública, particularmente, no que diz um corpo especial, com restrição de direitos em relação
respeito às questões socioprofissionais, no âmbito aos restantes cidadãos e, nomeadamente, aos restantes
da discussão do novo Estatuto Profissional da PSP. funcionários públicos, deve ser excluída da Lei 12-A (Lei de
O diploma em causa é de enorme importância Vínculos, Carreiras e Remunerações da Função Pública);
para os Profissionais da Polícia, tendo em conta • Considerando a não-aceitação da inclusão dos cônjuges
que define toda a dinâmica interna da Instituição, ou análogos no sistema de saúde SAD/PSP;
sendo a entrada em vigor do novo Estatuto uma • Considerando a não-aceitação da alteração das condições
promessa deste Governo desde 2005. para a pré-aposentação;
Estamos a menos de meio ano do final da legis- • Considerando a não-aceitação da atribuição do subsídio
latura e, ao contrário do que sucedeu na primeira de risco;
reunião, em que foi demonstrada total abertura
por parte do Ministério da Administração Interna Decidem:
para uma efectiva negociação, no passado dia 13 • Entregar a presente Moção no Ministério da Administração
de Abril a Tutela recuou e não aceitou qualquer Interna, para onde se deslocam os Órgãos Sociais da ASPP/
das propostas apresentadas por este Sindicato. PSP hoje reunidos, e dela darem conhecimento ao Presi-
A ASPP/PSP manteve, durante todo o processo, dente da República, ao Primeiro-Ministro, à Assembleia
uma postura responsável e coerente com os seus da República, ao Ministro das Finanças, à Direcção Nacional
princípios, cumprindo o compromisso de ser um da Polícia e aos Órgãos de Comunicação Social.
parceiro negocial na procura das melhores solu- • Marcar uma Manifestação para o próximo dia 21 de Maio,
ções que defendam os direitos dos Profissionais em Lisboa.
da Polícia e os interesses da Instituição. Se alguém • Conceder ao Executivo da Direcção Nacional da ASPP/PSP
falhou neste processo, foi o Ministério da Admi- plenos poderes para decidir outras formas de luta que
nistração Interna, que, através de diversas decla- entender necessárias, na defesa da dignificação da classe
rações públicas dos mais altos responsáveis, foi policial e dos direitos dos Profissionais da Polícia. d
tecendo rasgados elogios aos Profissionais da PSP,
confirmando a necessidade de valorizar os Recursos
Humanos e as suas condições socioprofissionais e
apresenta um Estatuto Profissional que vai em Lisboa, 17 de Abril de 2009
sentido contrário. Os Órgãos Sociais da ASPP/PSP
14 // o crachá // maio 2009

POLÍTICA REIVINDICATIVA

ENQUADRAMENTO GERAL uma redução acentuada no poder de compra dos Profissionais


da Polícia, mesmo abaixo da queda verificada nos Funcionários

A
Associação Sindical dos Profissionais de Polícia – Públicos (Ver Gráfico)
ASPP/PSP, depois da divulgação do Orçamento de Es-
tado para 2009, considera que estamos perante mais 3. Estatuto do Pessoal da PSP
um ano de grandes dificuldades para o nosso país. Conforme
foi referido no Caderno de Política Reivindicativa da ASPP/PSP Negociação e aprovação do novo Estatuto de Pessoal da PSP.
para 2008, “apesar da existência de sinais de recuperação eco-
nómica, corroborados pelo Banco de Portugal mas contesta- a) A ASPP/PSP, aquando da negociação com o MAI relativa-
dos pelo Fundo Monetário Internacional e mesmo pela União mente ao Estatuto Profissional da PSP, fará a entrega de uma
Europeia, estes poderão, no entanto, revelar-se insuficientes”. proposta com o objectivo de melhorar qualitativamente
Infelizmente para o país, a conjuntura internacional agravou a situação sócio-profissional dos Polícias.
ainda mais a situação económica, já de si precária, da esmaga- b) A proposta a apresentar irá no sentido de melhorar consi-
dora maioria dos portugueses. deravelmente o salário dos Profissionais da PSP, procurando
Os aumentos salariais propostos pelo Governo para a Função ajustá-lo à realidade, adequando-o à exigência da profis-
Pública ficam muito aquém do que seria justo e necessário. Um são, exigindo o princípio de que o aumento de deveres
aumento real de 0,4% em relação à inflação prevista para 2009 pressupõe compensação monetária.
tem duas vertentes: em primeiro, não compensa a perda do
poder de compra de 2008, uma vez que o Governo recusou 4. Remunerados
os aumentos intercalares que a ASPP/PSP propôs, em conjunto
com a Comissão Coordenadora Permanente dos Sindicatos e Aumento de 20% no valor do serviço remunerado, com tabela
Associações das Forças e Serviços de Segurança; em segundo, única para todo o tipo de serviço e para cada categoria profis-
tendo em conta a conjuntura internacional, a própria margem sional, e respectivo pagamento atempado.
de 0,4 por cento fica em risco, uma vez que são muito poucas as
garantias de que o valor da inflação será de 2,9%. 5. Horário de Trabalho

1. Actualização Salarial Regulamentação e Implementação de um horário de trabalho


de 35 horas semanais para todos os profissionais da PSP.
A actualização dos vencimentos proposta pela ASPP/PSP para
2008 foi de 7,5%, tendo em consideração não só factores 6. Horas Extraordinárias
básicos, de que são exemplos a inflação e a produtividade, mas
também as perdas salariais acumuladas nos anos anteriores, Pagamento das horas efectuadas para além do horário normal
para além de outras alterações verificadas que tiveram inter- de trabalho.
ferência directa no rendimento geral de cada profissional de
polícia. Assim, a ASPP/PSP, para o ano de 2009, e depois de 8. Instalações
uma análise técnica à situação dos Profissionais de Polícia, não
pode aceitar um aumento inferior a 8%, mantendo-se as con- É necessário um investimento sério em infra-estruturas da PSP,
dições dos anos anteriores e agravadas com a perda do poder criando departamentos com todas as condições necessárias à
de compra durante o ano de 2008. De salientar que a perda de actividade policial e a todos os cidadãos que se desloquem às
poder de compra dos Profissionais da PSP entre 2000 e 2009 foi instalações da Polícia. Como tal, é necessário que não se fique,
de 12,84%, pelo que, apesar de este aumento não repor a justiça somente, pela ideia das esquadras do Séc. XXI, que continuam
salarial devida, consideramos ser uma proposta de aumento sem dar a resposta completa e adequada nesta matéria.
equilibrada tendo em conta a situação financeira do País. Que sejam criados, entre outras condições, locais dignos em
A juntar ao acima descrito, os aumentos dos vencimentos base, matéria de higiene e salubridade, para serem utilizados pelos
nos últimos anos, têm sido abaixo da inflação, o que originou profissionais da PSP quando entram ou saem de serviço, assim
maio 2009 // o crachá // 15

DA ASPP/PSP PARA 2009

como durante o mesmo; salas de instrução e gabinetes adequa- ∙ Criar condições para que a Função Policial seja exercida com
dos onde poderão, também, averiguar e elaborar os registos de imparcialidade, isenção e objectividade, fruto da harmonia,
ocorrências. motivação e estímulo para exercer as missões de Polícia com
A rectificação do Estatuto Remuneratório, bem como as eficiência e prestígio crescente.
alterações de funcionamento que a ASPP/PSP propõe, têm Tudo isto constitui uma vantagem indubitável para a autori-
como finalidade: dade do Estado Português, aumentando a qualidade do fun-
∙ Aumentar o grau de qualidade técnica e jurídica do Serviço cionamento da vida Social e Económica, numa sociedade que
Policial, dentro das diversas condições de perigosidade, dos se quer cada vez mais integrada, de pleno direito, numa União
custos sociais e de vida urbana, da disponibilidade perma- Europeia democrática e coesa, económica e socialmente. d
nente para o serviço, da variabilidade dos turnos e escalas,
dos serviços nocturnos ou em domingos e feriados, das idas 17 de Novembro de 2008
aos tribunais (por vezes em hora de folga ou dia de descanso), A Direcção Nacional da ASPP/PSP
das condições climáticas adversas, das pressões das situações
de conflito e de violência, que levam a um envelhecimento
precoce por via do desgaste que tais situações acarretam, ou Excertos do Caderno Reivindicativo para 2009 entregue ao Primeiro-Ministro e aos ministérios da
mesmo a alterações do comportamento irreparáveis. Administração Interna e das Finanças

Evolução do poder de compra da PSP


5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
Valores em percentagem

1,5
1
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-2
-2,5
-3
-3,5
-4
-4,5
-5
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

  Aumentos (Função Pública)   Aumentos PSP   Inflação   Evolução do poder de compra da PSP
16 // o crachá // maio 2009

Fardamento adequado às necessidades do efectivo

Exigimos modernidade
e funcionalidade!
Um novo tipo de fardamento Fardas de risco Vale a pena reivindicar!
para os Profissionais da PSP é, O desajustamento das fardas para a Finalmente, e ao cabo de muitos anos
desde há muitos anos, uma missão policial é de tal modo evidente de reivindicações da ASPP/PSP a este
que há algumas peças que podem nível, o Ministério da Administração
reivindicação da ASPP/PSP, colocar em risco a integridade do ele- Interna apresentou uma proposta que
sempre integrada nos Cadernos mento policial, para além da fraca – mais uma vez ressalvamos – embora
qualidade dos materiais utilizados. não sendo a ideal, poderá constituir um
Reivindicativos entregues ao Ao mesmo tempo, é urgente que as enorme avanço na questão que envolve
diferentes condições climatéricas de o fardamento dos Profissionais da PSP.
Ministério da Administração
vários pontos do país sejam conside- No entanto, a ASPP/PSP propôs a inclu-
Interna. Também o modo como radas nos planos de fardamento. são de uma alínea onde seja claramente
assegurada a obrigatoriedade de que a
este é adquirido sempre mereceu
Distribuição atempada primeira remessa do fardamento seja
reparos por parte deste Sindicato. fornecida sem qualquer custo para o
A dificuldade na aquisição do farda- Profissional, de cada vez que haja alte-
mento e o tempo na sua distribuição ração ao plano de uniformização ou a
são outras matérias que sempre mere- qualquer peça do uniforme.
ceram a atenção da ASPP/PSP, bem O compromisso assumido pelo MAI:
como a actualização do subsídio. Neste
Durante o ano de 2009  100 euros;
capítulo, importa referir que o au-
Durante o ano de 2010  150 euros;
mento de 100 por cento não é ainda o
Durante o ano de 2011  200 euros;
ideal, mas permite já dar uma melhor
Durante o ano de 2012  250 euros;
resposta às necessidades de cada Pro-
Durante o ano de 2013  300 euros;
fissional.
maio 2009 // o crachá // 17

Durante o ano de 2008,

sem fiscalização
a ASPP/PSP, em pareceria
com a CIFAST e com o apoio
Seminários: “Polícia: Profissão de Risco”

do Ponto Focal Português


da rede da Agência Europeia
para a Segurança e Saúde
no Trabalho, organizou
uma série de três seminários
com vista a alertar os
responsáveis pela PSP
sobre condições laborais.
As três iniciativas
decorreram no Porto,
a 28 de Fevereiro, em Faro,
a 26 de Setembro, e em
Saúde, Segurança
e Higiene no Trabalho na PSP

Coimbra, a 26 de Novembro
de 2008, na derradeira
sessão, onde foram
apresentadas as conclusões
do ciclo de debates.

N
a sessão de Coimbra, moderada pelo
dr. Bernardo Colaço, participaram,
como oradores, o dr. Alberto Lemos,
director do Serviço de Ortopedia 4 do Hos-
pital da Prelada e Presidente da Sociedade
Portuguesa do Joelho; a dra. Madalena Lima,
investigadora na Universidade Autónoma de
Barcelona; o dr. Fernando Passos, Chefe do
Gabinete de Psicologia da PSP, a dra. Fátima
Roma, Socióloga do Trabalho (ver págs. 22 e
23); e a dra. Manuela Calado, Coordenadora
do Ponto Focal Nacional da AESST. No reco-
meço dos trabalhos, depois do almoço, esteve
ainda presente o Ministro da Administração
Interna, dr. Rui Pereira.
Cada um dos oradores produziu interven-
ções de enorme interesse, tendo especial relevo
o facto de, segundo foi avançado pela dra.
Madalena Lima, não existir legislação que re-
gule a fiscalização das condições de higiene
e segurança dentro dos edifícios da PSP, uma
vez que a Lei-Quadro 441/91, que define esta
matéria, não se aplica às Forças e Serviços de
Segurança, como pode ler-se no Decreto-Lei
488/99, que define as formas de aplicação da
referida Lei-Quadro.
18 // o crachá // maio 2009

Para além do risco de vida


óbvio associado à actividade Ponto 2 do Artigo 2.º
do Decreto-Lei 488/99
policial, que os Profissionais “O presente diploma não é aplicável a
assumem desde a entrada na actividades da função pública, quando
o respectivo exercício seja condicionado
Instituição, outros, bem por critérios de segurança ou emergên-
menos previsíveis, surgem cia, nomeadamente as desenvolvidas
pelas Forças Armadas, pelas forças de
no decorrer da carreira. segurança, bem como as actividades
específicas dos serviços de protecção civil,
sem prejuízo da adopção de medidas
que visem garantir a segurança e a saúde
dos respectivos trabalhadores”.

Exemplo espanhol

Também em Espanha existia falha semelhante


nesta área. No entanto, uma queixa apresen-
tada contra aquele país no Tribunal de Justiça
das Comunidades, obrigou à rectificação deste
vazio legal que prejudica gravemente todos os
Profissionais da Polícia. Em menos de um ano,
o estado espanhol viu-se obrigado a produzir
legislação para colmatar o vazio legal ante-
riormente existente.

Precaver os perigos A constante


exposição ao
Mesmo não existindo legislação específica
para a PSP, a dra. Manuela Calado, da ACT, stress, o trabalho
numa alocução riquíssima, foi dando conse- por turnos, que
lhos e exemplos de acções comuns que podem
evitar acidentes relacionados com o trabalho. origina maior
Ao mesmo tempo, explicou o âmbito e a prática propensão para
da ACT, bem como uma série de campanhas
de sensibilização úteis para trabalhadores de doenças do foro
todas as áreas de actividade
cardíaco entre
Riscos físicos outras questões
que levam à
Para além do risco de vida óbvio associado à
actividade policial, que os Profissionais assu- situação-limite
mem desde a entrada na Instituição, outros,
representada no
bem menos previsíveis, surgem no decorrer da
carreira. Dores nas costas e nas articulações, suicídio
por exemplo, atormentam muitos Profissionais
da PSP. A explicação fornecida pelo dr. Alberto
Lemos permitiu aferir como a maioria do efec-
tivo está exposta a este tipo de doenças.

Stress constante

A constante exposição ao stress, o trabalho


por turnos, que origina maior propensão para
maio 2009 // o crachá // 19

doenças do foro cardíaco entre outras questões que levam à si-


tuação-limite representada no suicídio, foram abordadas pelo Dr.
Fernando Passos, responsável pelo Gabinete de Psicologia da PSP.

A numerosa plateia fez denúncias


de norte a sul

A ausência de condições de trabalho nas esquadras do


Comando Metropolitano do Porto é sobejamente conhe-
cida. Desde infiltrações de água até edifícios sem clima-
tização, são muitas as adversidades que os Profissionais
da Polícia encontram no seu quotidiano. Sem entrar no
absurdo dos tectos a ruir, esquadras a funcionar ao lado
de linhas de caminhos-de-ferro ou inauguradas em con-
tentores, o risco da profissão advém também das condi-
ções terceiro-mundistas dos edifícios policiais da Invicta.
Mais a norte, Profissionais da PSP de Braga levantaram
a questão das coberturas com amianto existentes em A função policial concentra
alguns edifícios do Comando. Foi ainda relatado o caso
em si os riscos próprios e
de um Profissional que, a prestar serviço no Aeroporto
de Lisboa, foi obrigado a permanecer durante quatro os demais que caracterizam
horas – o tempo do serviço remunerado – num barraco
sem luz ou qualquer tipo de aquecimento, tendo apenas outras profissões, também
usado um cobertor para aguentar as baixas temperaturas
elas de risco, e constitui uma
que se faziam sentir.
actividade de desgaste rápido.

Conclusões

A Mesa entendeu ser de grande relevância o conteúdo das


intervenções inseridas no âmbito do tema “Polícia – Profissão
de Risco” e mais ainda a unanimidade existente na atribuição
deste risco a factores como:

• O desencanto profissional;


• A falta de reconhecimento do trabalho executado;
• O alheamento da hierarquia na orientação profissional.

Sendo toda esta questão assaz complexa, o stress profissional é


apontado como a causa principal para a maior parte dos riscos
profissionais envolvendo factores psicológicos e funcionais.
Há que não olvidar que o risco a que está sujeito o agente
policial decorre de uma sociedade que é ela própria de risco.
A função policial concentra em si os riscos próprios e os
demais que caracterizam outras profissões, também elas de risco,
e constitui uma actividade de desgaste rápido. É que o agente
policial é confrontado, no seu quotidiano, entre a resposta a
dar ao imprevisto de um perigo iminente e, em simultâneo, ter
que respeitar os direitos liberdades e garantias dos cidadãos na
defesa da própria comunidade.
Daqui, é fácil entender as graves consequências que decorrem
ao agente policial enquanto pessoa, cidadão e pessoa de família.
No quotidiano, essas consequências reflectem-se no alcoo-
lismo, conflitos familiares, quando não numa maior propensão
para o suicídio.
A identificação de todos estes factores e condi-
ções stressantes constitui um imperativo para
as entidades responsáveis, quer do executivo,
quer do comando hierárquico, para a tomada
de medidas visando uma instituição policial
eficaz e produtiva, com agentes saudáveis e
motivados para defesa da comunidade a que
pertencem.
Neste âmbito, é importante que o Gabinete
de Apoio Psicológico estenda a sua actividade
a todos os níveis departamentais da instituição
policial e constitua um veículo para detectar
o problema, antes que o profissional seja por
ele afectado.
Neste campo, impera também a necessidade
crescente de dar um maior ênfase à formação
profissional, que cultive melhores aptidões
profissionais e pessoais, que permitam desen-
volver as específicas competências funcionais
permitindo-lhes fornecer ferramentas úteis
para uma melhor gestão de todos os riscos a
que estão sujeitos, merecendo especial desta-
que, neste campo, a progressão nas carreiras e
uma adequada compensação económica asso-
ciada ao esforço demonstrado.
O próprio Ministro da Administração Interna,
dr. Rui Pereira, admitiu por várias vezes, duran-
te a intervenção que proferiu no Seminário que
agora concluímos, que ser Profissional da Polícia
é ter, efectivamente, uma profissão de risco
nas várias vertentes, reconhecendo também a
especificidade da PSP em relação a outras acti-
vidades de risco. A plateia depreendeu por isso
que o diploma do Estatuto Profissional que
vier a ser aprovado contará não só com um
subsídio de risco para os Profissionais da PSP,
mas também com um reforço de direitos que
diferencie a polícia de outros sectores de acti-
vidade, à semelhança do que acontece noutras
Forças e Serviços de Segurança.

À Direcção da ASPP/PSP caberá a elabo-


ração de um Memorando a apresentar
ao Ministério da tutela dimensionando,
em termos ajustados, o problema dos
riscos profissionais do agente policial
no exercício das suas funções, funda-
mentado quer nos direitos e garantias
consignados na Constituição da Repú-
blica, quer na legislação comunitária,
assim habilitando, caso seja necessário,
as instâncias internacionais para imple-
mentação dessas directrizes no contexto
legislativo nacional. d
maio 2009 // o crachá // 21

Parecer do Ministério das Finanças atende reivindicação histórica da ASPP/PSP

Governo deve pagar


horas extraordinárias
C
omo acontece desde 2005, em Novembro de 2008 a Em resposta, o MAI, baseado num parecer do Mi-
ASPP/PSP entregou um Caderno Reivindicativo ao Mi- nistério das Finanças, com a concordância do próprio
nistério da Administração Interna, Ministério das Finan- Ministro das Finanças, respondeu da seguinte for-
ças e Primeiro-Ministro (conforme foi noticiado pela Imprensa ma ao caderno reivindicativo da ASPP/PSP: “no seu
nessa altura). Nesse Caderno, exigiam-se soluções para diversos ponto – 6 (horas extraordinárias) “…haverá lugar à
pontos de carácter socioprofissional que a ASPP/PSP já reivin- aplicação do regime geral consagrado no Decreto-Lei
dica há décadas, conforme, a título de exemplo, no âmbito do n.º259/98... ao pessoal com funções policiais.”
horário, a que nos referimos nos pontos abaixo: Foi por este motivo que, no dia 14 de Abril, a ASPP/
PSP enviou um ofício ao MAI solicitando o envio de
Ponto - 5 Horário de Trabalho orientações precisas à Direcção Nacional da PSP para
Exigimos a regulamentação e Implementação de um horário que se inicie o processo do pagamento das horas ex-
de trabalho de 35 horas semanais para todos os Profissionais traordinárias ao efectivo da PSP o mais rapidamente
da PSP. possível.
Importa recordar que já no ano de 2007, a falta de
Ponto - 6 Horas Extraordinárias regulamentação de um horário de trabalho e o não pa-
Exigimos o pagamento das horas efectuadas para além do gamento das horas extraordinárias na PSP foi também
horário normal de trabalho, conforme legislação em vigor na alvo de discussão no Conselho da Europa por parte do
função pública. CESP, a pedido da ASPP/PSP. d
22 // o crachá // maio 2009

Polícia
Profissão de risco
e de desgaste rápido?
O trabalho apresentado no seminário de Coimbra baseou-se numa investigação
científica desenvolvida no ano de 2006, subordinada ao tema em destaque.

A
escolha do grupo de estudo recaiu sobre os agen- da forma de operar neles, enquanto a vertente prática
tes e agentes principais, a partir das percepções se revela insuficiente.
e representações dos próprios. Não existe formação contínua e a formação que
O Polícia surge inúmeras vezes como um elemento no existe após a formação inicial não é avaliada.
“fim da linha”, ou seja, ele é, no dizer de alguns profis- Quando existe alguma actualização e reciclagem/
sionais “o pára-choques da sociedades”. refrescamento de conhecimentos, é insuficiente,
Face a novas exigências para a Polícia, torna-se neces- demasiado teórica e descontínua no tempo.
sário dotá-la de instrumentos que lhe permitam desem- A hierarquia não reconhece deficits na formação e
penhar cabalmente as suas funções e a sua missão, em no desenvolvimento de competências e procura justi-
condições de segurança para as populações e para os ficar as disfuncionalidades existentes à luz da escassez
profissionais. de recursos humanos.
Assim, destaca-se desde logo que, só através da garantia A integração dos conhecimentos provenientes da
das condições de segurança dos polícias, é possível asse- prática e da experiência dos profissionais, bem como
gurar a protecção e segurança dos cidadãos. a partilha de experiências e de soluções não parece
Os dados recolhidos ao longo deste trabalho, eviden- existir. Aparentemente não faz parte da cultura da
ciaram carências de recursos técnicos, humanos, mate- instituição.
riais, de formação, da preparação e do apoio psicológico Este quadro configura um desperdício de recur-
e, do desenvolvimento de competências para operar nos sos humanos e financeiros que não se coaduna com
novos contextos de maior violência e criminalidade. a necessidade de uma politica de racionalização de
As deficiências de meios técnicos, humanos e mate- recursos.
riais, são as mais referidas pelos operacionais e emergem O desconhecimento do quadro da criminalidade
de tal modo que, sendo reais, acabam por camuflar necessi- e a falta de desenvolvimento de competências para
dades mais profundas, nomeadamente de formação. operar nos novos contextos, não permitem aos opera-
A verba de sessenta euros/ano, atribuída para farda- cionais actuar em condições de segurança, afectando
mento e algemas revela-se manifestamente insuficiente. a qualidade de vida e do trabalho dos profissionais
No entanto os deficits ao nível material e humano são – aumento de stress e desmotivação, assim como a
mais profundamente sentidos e ligam-se directamente à imagem que os cidadãos têm da sua polícia.
segurança e ao sentimento de segurança dos operacionais A hierarquia faz depender a qualidade do traba-
– as viaturas que são velhas, a arma que encrava, o efec- lho da quantidade de recursos humanos disponíveis.
tivo que é insuficiente para fazer face a uma ocorrência, No entanto os deficits na formação e no desenvolvi-
…é a vida que fica em risco… mento de competências levam a um modelo que se
alimenta do reforço do contingente policial e se repro-
A formação é dos aspectos onde se verificam duz a si mesmo.
maiores lacunas. No ambiente de trabalho foi frequentemente
detectado elevados estados de tensão, provocado por
Na formação inicial a componente teórica encontra-se situações de grande conflituosidade social, violência,
desajustada, incidindo excessivamente no quadro legislativo criminalidade, desintegração étnica e familiar, dese-
em detrimento da aprendizagem dos novos contextos e quilíbrio entre as noções de direitos e deveres, que
maio 2009 // o crachá // 23

As deficiências de meios técnicos,


humanos e materiais, são as mais
referidas pelos operacionais
e emergem de tal modo que,
sendo reais, acabam por camuflar
necessidades mais profundas,
nomeadamente de formação.

aparentemente não têm sido objecto contentamento e afecta a motivação e a qualidade


de preocupação nem considerados do trabalho.
pela hierarquia. Apesar das lacunas ao nível da investigação, da
A relação entre as bases e a hie- caracterização das comunidades, da falta de conhe-
rarquia é determinante na motiva- cimento dos novos fenómenos da violência e crimi-
ção para o trabalho, na autonomia nalidade, a policia não deixa de intervir em contextos
e responsabilização, na iniciativa e difíceis e complexos, o que traz riscos acrescidos para
na abordagem aos cidadãos. os profissionais e induz a estados de elevado stress,
A tipologia de liderança é pre- fortemente desgastantes, inimigos do bom desempenho
dominantemente autoritária, o que e do equilíbrio emocional.
não conjuga com a natureza intrín- A necessidade de operar em ambientes complexos,
seca do trabalho dos profissionais, sendo uma exigência, não se coaduna com lideranças
que exige forte coesão grupal. autoritárias, nem com uma comunicação descendente
A informação circula em senti- sem a correspondente ascendente, nem com deficits
do descendente e as sugestões de de formação e de desenvolvimento de competências,
trabalho não parecem fazer parte nem com a falta de conhecimento do terreno pela
da cultura da Polícia, reflectindo- liderança, nem com meios técnicos e materiais obso-
-se na motivação e na actuação de letos e insuficientes.
trabalho. O modelo actual revela-se ineficiente, ineficaz, consu-
A deficiente ou inexistente in- midor de recursos humanos e financeiros que se repro-
formação no sentido ascendente, duz a si próprio com os mesmos erros e carências.
traduz o aparente desconheci- Na base desta pirâmide, encontram-se os pro-
mento do terreno pela hierarquia, fissionais que estão continuamente expostos a um
levando à instrução de ordens des- ambiente interno e externo e a uma acumulação de
fasadas da realidade e à desvaloriza- erros, deficits e insuficiências que, diariamente, com
ção dos conhecimentos adquiridos dificuldade superam. Face a maiores exigências deve
pela experiência. reformular-se o modelo.
Estes aspectos afectam a segu- Em suma, os pilares fundamentais que necessitam
rança e o sentimento de (in) segu- de reformulação:
rança dos operacionais, a motivação A formação e o desenvolvimento de competências,
para o trabalho, a qualidade do a relação entre policias e hierarquia/liderança e inves-
serviço prestado às populações, o tigação e caracterização de contextos de interacção.
espírito de iniciativa e o clima or- Pelas razões acima expostas, consideramos que, ser
ganizacional. Polícia é, nas circunstâncias analisadas, uma profissão
A instituição policial apresenta de risco e de desgaste rápido. d
uma cultura mais punitiva do que
compensadora. O elevado número Fátima Roma
de sanções disciplinares, gera des- Socióloga
24 // o crachá // maio 2009

Polícia Municipal do Porto

No caminho certo
A
Polícia Municipal do Porto (PM Porto) está finalmente
no caminho certo. Depois de muito trabalho e alguma Instalações
paciência, o resultado é evidente. A melhoria nas ins- A PM Porto possui actualmente dois espa-
talações, a modernização do parque automóvel e a reorganização ços onde os elementos se podem unifor-
dos serviços de apoio vieram mudar o rosto da Polícia Municipal, mizar, bem como descansar no intervalo
fazendo inveja à própria Polícia de Segurança Pública. entre os serviços, o que só beneficia o
A preocupação dos responsáveis da PM Porto foi fulcral, tanto cumprimento cabal da missão.
ao nivel do Comando da PM como da Câmara Municipal do Porto,
mas valeu a pena. A capacidade do Comando desta Polícia em Instrução
equilibrar a exigência no cumprimento do dever com a conces- Todos os Profissionais têm um dia de sema-
são dos direitos aos Profissionais da PM fez crescer a motivação, na dedicado à educação física, seja em
criando só por si um ambiente saudável no seio da PM. piscina ou ginásio, devidamente acompa-
A preocupação do Comando com a formação e instrução nhado por um professor da especialidade
física individual em todas as áreas veio trazer novo ânimo aos para o efeito.
Profissionais que se sentem hoje mais do que nunca reconhecidos
pelo seu esforço. Formação
Em conclusão, o resultado é mais do que visível, com bene- A àrea da formação também não tem sido
fício dos Profissionais, mas, sobretudo, de todos os portuenses. esquecida, seja na pratica do tiro defensivo,
Um exemplo de facto a seguir pela Polícia de Segurança Pública utilização de armas não letais, socorrismo e
ao nível nacional. sobre o papel desempenhado pela Polícia
Mas nem tudo é perfeito, pelo que se torna imperativo, Municipal em situações de catástrofe e
para tornar ainda mais eficaz a actuação da PM Porto, a liga- acidentes graves.
ção informatizada ao Serviço de Estratégia e Informação - SEI e,
por conseguinte, à Rede Nacional de Segurança Interna - RNSI.
A Direcção Nacional da PSP deve ter como prioridade a célere e
eficaz coordenação e partilha de informação dos diversos ser-
viços ao nível nacional, no sentido de facilitar a actuação no
combate ao crime, uma competência e responsabilidade que a
PM-Porto também tem. d
maio 2009 // o crachá // 25

Gabinete
de Psicologia PSICOLOGIA CLÍNICA

da PSP PSICOLOGIA CRIMINAL


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26 // o crachá // maio 2009

SECRETÁRIO-GERAL DOS SERVIÇOS SOCIAIS


DA PSP EM ENTREVISTA A “O CRACHÁ”

Intendente José Torres


Em foco: Serviços Sociais da PSP

Há quanto tempo está à frente dos Serviços Sociais da PSP? rendimentos próximos ou, em muitos casos, superiores aos seus.
Eu assumi as funções de secretário-geral dos Serviços Sociais da Havia forçosamente que fazer algo, até porque os restantes
PSP (SSPSP), que é um género de administrador executivo, em beneficiários, a grande maioria, sabem bem quanto despendem
Novembro de 2006, quando ainda era director nacional o Dr. por mês para manter uma habitação digna para a sua família.
Orlando Romano. Assim, foi pedido um esforço aos actuais inquilinos no senti-
do de suportarem este aumento extraordinário, o qual porven-
Quando chegou aos Serviços Sociais da PSP, quais as matérias tura deveria ter sido feito há mais tempo, acredito, sendo que
que careciam de uma atenção mais urgente? os novos valores tiveram por base o rendimento do agregado
É evidente que cada dirigente detém um estilo próprio e uma familiar dos inquilinos, o que é socialmente mais justo. Neste
visão para o seu organismo. Eu tenho uma visão, que é parti- momento, o valor médio das rendas das casas dos SSPSP situa-se
lhada pelo actual director nacional e director dos SSPSP, que próximo dos 140 euros, valor bastante abaixo do praticado no
aponta para o reforço da natureza assistencialista dos SSPSP, mercado, como se sabe.
isto é, sem prejuízo das prestações e serviços dirigidos a todo o É importante aqui dizer também que, em paralelo com o
universo dos beneficiários, sem distinção de posto, função ou aumento extraordinário das rendas, foi desenvolvido um amplo
situação, há que dar um maior ênfase às necessidades daqueles esforço de verificação das condições objectivas e subjectivas de
que realmente precisam de um apoio personalizado, por se utilização das casas de habitação social, tendo sido desenca-
encontrarem numa situação socioeconómica gravosa e urgente. deados processos de desocupação quando se detectaram casos
E qualquer um de nós pode potencialmente ser um deles! de utilização inadequada ou abusiva. Foi assim que, para já, se
Por outro lado, parece-me claro que a questão da habitação conseguiu a disponibilização de mais de duas dezenas de casas
social e temporária era e é absolutamente crítica. Lembro-me, só em Lisboa, parte das quais foram atribuídas a outros cole-
por exemplo, de ser cadete da Escola Superior de Polícia e de gas mais necessitados, enquanto as de tipologia T3 e T4 serão
ouvir da parte de agentes da PSP a expressão de sentimentos reconvertidas em casas de coabitação social para acolhimento
de profundo descontentamento relativamente à utilização temporário de agentes recém-formados na EPP, em regime de
que uma parte significativa dos inquilinos dava às casas que partilha de espaço a preços módicos.
lhes eram fornecidas pelos SSPSP e pelo Cofre de Previdência
(CPPSP), bem como ao correspondente valor das rendas, consi- No mesmo sentido da questão anterior, também suspendeu
derado unanimemente muito baixo e desajustado. Isto quando a comparticipação do apoio para a compra de livros escolares
existem profundas carências de habitação no seio de jovens para filhos dos Polícias. Não há neste tipo de medidas um desvir-
polícias, especialmente aqueles que são colocados em Lisboa tuar dos fundamentos dos Serviços Sociais da PSP?
recém-formados na EPP. Primeiro que tudo, há que atender que os SSPSP foram confron-
tados, através decreto-lei n.º 7/2007 de 17 de Janeiro, com a
Procedeu à alteração do valor das rendas das casas sociais. obrigatoriedade de pagar todos os encargos com o seu pessoal,
Quais os motivos que o levaram a tomar esta medida? o que implicou, mesmo depois da profunda redução do efectivo
Conforme referi há pouco, os valores anteriormente praticados efectuada no início de 2007, mais de um milhão de euros de
no que concerne às rendas das casas dos SSPSP e do CPPSP eram despesa adicional. Nesse sentido, tivemos que abdicar de algumas
claramente desajustados. Repare que a média cifrava-se nos 60 prestações mais dispendiosas, e foi aí que aconteceu a suspensão
euros mensais, o que implicava que este sector de actividade dos apoios para livros escolares ou de 1ª infância dos filhos dos
dos Serviços fosse inevitavelmente muito deficitário, implicando beneficiários.
gastos astronómicos em manutenção com contrapartidas no De qualquer maneira, se analisarmos friamente, verifica-
lado das receitas bastante abaixo do desejado. Podemos dizer mos que esse tipo de apoios, como estavam desenhados, não
que, em média, cada um dos cerca de 25.000 beneficiários promoviam minimamente a justiça social. Recebiam por igual
titulares dos SSPSP dedicavam algo como 40 euros dos seus des- aqueles que precisavam e os que não precisavam tanto. Estamos
contos para manter as casas de 8 centenas de colegas seus, com em contrapartida a trabalhar em linhas de apoio específicas,
maio 2009 // o crachá // 27

de natureza mais restrita, que acudam efectivamente os mais estamos empenhados, em conjunto com a tutela, no projecto
necessitados – e são muitos, infelizmente –, nomeadamente no de construção de raiz de uma grande unidade residencial na
que concerne às famílias dos beneficiários com rendimentos zona da Paiã, em terrenos da nossa propriedade, que poderá
per capita mais baixos, algumas delas a raiar o limiar da pobreza. acolher mais de duas centenas e meia de elementos policiais
A opção era simplesmente entre continuar a dar muito pouco a que estejam colocados em Lisboa, em condições de total priva-
todos ou passar a dar muito mais a quem mais precisa, indo ao cidade, dignidade e comodidade.
encontro da natureza de um organismo que promove a acção A ideia é recorrer aos fundos que detemos da Direcção-
social complementar, como os SSPSP. -Geral do Tesouro e Finanças, que ascende a quase dez milhões
Temos que nos convencer que a essência desta acção social de euros (englobando o saldo do CPPSP), pelo que, caso seja
complementar reside precisamente no facto de todos termos autorizado, pensamos lançar o procedimento concursal para o
de contribuir para criar um bolo financeiro e patrimonial para projecto de arquitectura ainda durante 2009, ano do cinquen-
que alguns – e pode ser qualquer um de nós – possam dele tenário dos SSPSP.
beneficiar em caso de necessidade. Aliás, assim é também no
que toca à acção social do Estado, em geral: todos fazemos os A imagem dos Serviços Sociais dentro da PSP não é a melhor,
nossos descontos para acorrer às necessidades sociais de alguns havendo quem questione se ainda vale a pena ser sócio. O
cidadãos, numa lógica de solidariedade nacional. que fazer para inverter este sentimento? Ainda há espaço para
essa mudança de opinião nos Polícias?
Como encara a situação dos novos agentes saídos da Escola Inevitavelmente os SSPSP terão que assumir a prazo esse ónus
Prática de Polícia que, chegados a Lisboa, confrontados com de má imagem, um pouco por culpa própria – foram tomadas
uma realidade muita vezes incomparável à dos seus locais de recentemente algumas medidas que tinham tanto de inevitá-
origem, têm de encontrar formas de, com escassos rendimen- veis como de impopulares. Não concordo minimamente é com
tos, se integrarem na zona do local de serviço? Não deveriam a ideia que não vale a pena ser sócio, senão vejamos: os SSPSP
os Serviços Sociais ter um papel mais activo e actuante na sua desenvolvem actualmente várias actividades de grande impor-
integração institucional e social? tância e envergadura em prol dos seus beneficiários, como a
Como disse atrás, essa é quanto a mim uma das questões mais habitação social e temporária (casas de passantes e de coabitação
sensíveis com que a PSP e, em particular, os SSPSP têm que lidar. social), os empréstimos sociais (caixa económica), a intermedia-
Neste momento estamos a trabalhar em duas frentes: por um ção comercial (disponibilização de protocolos com instituições
lado, estamos a reconverter algumas casas vagas em Lisboa do sector privado), o turismo social (estâncias de férias), o apoio
para acolher os recém-formados da EPP num regime de partilha à cultura e desenvolvimento pessoal e profissional (por exemplo,
de espaço, a preços módicos, promovendo não só o bom aco- a construção de ginásios), a gestão de lares de estudantes e a
lhimento como uma melhor integração institucional e social. disponibilização de linhas de apoio diversas (a deficientes e para
No início deste ano vamos inaugurar o conceito com uma casa situações gravosas em termos socioeconómicos, por exemplo),
adaptada na Calçada do Galvão, na capital. Pelo outro lado, entre outras.
28 // o crachá // maio 2009

Quando alguém me diz que nunca be- José Emanuel de Matos Torres, reabilitação do nosso património habitacio-
neficiou de nada disto, eu tendo a respon- Intendente da Polícia de Segu- nal, que se encontra fortemente envelhecido
der que tal aconteceu porque não quis ou rança Pública, 42 anos, casado. e degradado, a inauguração do Centro Inte-
porque não sabia – e esse é um problema Licenciado em Ciências Policiais grado de Acção Social (CIAS) nos Olivais, que
muito sensível –, desperdiçando óptimas pela Escola Superior de Polí- vai funcionar como uma espécie de “clube
oportunidades de usufruir de importantes cia, actual ISCPSI, desde 1990
de beneficiários”, concentrando alguns ser-
serviços a preços módicos, mas uma coisa viços complementares como o posto clínico,
(2º CFOP), e em Organização e
é certa, ninguém poderá dizer que nunca enfermaria, netzone, bar e sala de jogos,
Gestão de Empresas pelo ISCTE
vai precisar! Não podemos ignorar a im- lavandaria, etc, a regulamentação de uma
(1994), detendo também o Cur-
portância de termos um organismo com linha de apoio específico a famílias de agen-
so de Defesa Nacional (IDN) e o
um vasto património que pode acrescentar tes mortos ou feridos gravemente em serviço
Curso de Direcção e Estratégia
muito em termos de bem-estar, de quali- ou que se encontrem em situação socioeco-
dade de vida ou até de auto-estima a um Policial (INA). Foi comandante nómica grave e urgente e o alargamento da
universo de mais de 85.000 beneficiários e da esquadra do Barreiro entre rede de Casas de Passantes, depois de Lisboa
subscritores. Os SSPSP têm que ser acari- 1991 e 1992, analista na 2º Re- e Coimbra (recém inaugurada), para Ponta
nhados por todos! partição do Comando-Geral até Delgada, Horta, Beja, Porto e Algarve.
Penso contudo que os próprios benefi- 2001, altura em que assume a Cabe aqui especial relevo para outros
ciários em geral têm um papel importante chefia da Divisão de Gestão de dois projectos: em primeiro lugar, a adapta-
nisto tudo, devendo assumir uma postura Matérias Classificadas do De- ção de um imóvel nosso localizado em S. Iria
mais interventiva, criticando e sugerindo partamento de Informações da da Azóia para o primeiro serviço de babysit-
pelos meios que acharem mais adequados, Direcção Nacional da PSP. Ain- ting 24 horas por dia, que permitirá acolher
inclusivamente através da nosso site da da em 2001 é nomeado Coman- temporariamente filhos de funcionários
Internet. Por outro lado, também deve- dante Distrital da PSP de Évora,
da PSP que, por qualquer motivo – estou a
riam estar mais motivados para saber o lembrar-me por exemplo dos colegas que
cargo que ocupa até 2002, al-
que é que os SSPSP podem oferecer-lhe, fazem turnos –, necessitem de deixar os filhos
tura em que assume as funções
não esperando que sejam apenas estes a num local seguro e agradável, guarnecido
de director do Departamento
ir ter com eles. Acontece assim com o SAD/ por pessoal qualificado a preços muito abai-
de Informações da Direcção na-
PSP: quando queremos ser submetidos a xo dos praticados no mercado, onde inclusi-
cional da PSP. Em Novembro de
uma intervenção médica, temos o cuidado vamente a oferta de serviços é escassa e em
de nos informarmos sobre qual a compar- 2006 assume as actuais funções alguns casos pouco credível.
ticipação que nos é disponibilizada. Temos de secretário-geral dos Serviços Por último, não menos importante, a
que nos convencer que, por mais que os Sociais da PSP. É também do- criação das chamadas Equipas Multidiscipli-
SSPSP façam para melhorar a comunicação cente em várias pós-graduações nares de Apoio Social (EMAS), em articula-
com os seus beneficiários – e tem feito muito no ISCPSI e no ISCSP, na área de ção com o Gabinete de Psicologia da PSP.
nesse sentido –, nunca chegaremos a todos gestão de riscos. Este projecto é uma espécie de prolonga-
se houver da parte daqueles uma atitude mento do já criado – e bem sucedido – Gabi-
meramente passiva, contemplativa. nete de Acção Social, que funciona na sede
dos SSPSP, e que no fundo visa garantir um
Que balanço faz sobre o trabalho que os serviços sociais desen- diagnóstico e acompanhamento integrado e permanente dos
volveram desde o inicio da sua gestão, até ao momento? casos sinalizados de elevada criticidade e urgência em termos
Estamos a falar de um período de dois anos de gestão, a maior socioeconómicos, proporcionando aos beneficiários em questão
parte do qual a reorganizar e a repensar a casa. A direcção dos uma abordagem profissional nas áreas do serviço social, psico-
SSPSP tem a consciência de que existe muita coisa a fazer, mas logia, psiquiatria e do desenvolvimento pessoal. Estas equipas,
também, sem falsas modéstias, de que algo visível já foi feito. que ficarão sedeadas nos Olivais, terão mobilidade para todo o
Existem projectos, uns em fase de concepção e outros já imple- território nacional e irão concerteza suprir uma lacuna há muito
mentados, que demoram muito tempo a dar frutos, sem que, existente num tipo de organizações como a PSP. Mais uma vez,
mesmo assim, tragam uma especial visibilidade para o grande será um trabalho discreto, silencioso, que não encherá capas de
público. Só quem deles beneficia é que pode agradecer a sua jornais, mas que irá trazer enormes benefícios para os colegas
existência. Trata-se de semear para colher, claramente. que precisem ou venham a precisar de um apoio deste género
por qualquer infortúnio da vida, a que ninguém está imune.
Quais os projectos que pretende desenvolver no futuro próximo?
Já falei da unidade residencial da Paiã e das casas de coabita- Tem alguns condicionalismos que possam fazer com que não
ção social em Lisboa. Para além disso, temos previsto para o ano complete esses projectos que gostaria de desenvolver?
de 2009 – pode ser consultado o nosso plano de actividades em Eu apontaria dois tipos de condicionalismos. O primeiro, sem-
www.sspsp.pt – o lançamento de um vasto plano plurianual de pre presente, é de ordem orçamental. As necessidades dos
maio 2009 // o crachá // 29

beneficiários são imensas, mas o nosso orçamento é extrema- seriam resolvidos velhos problemas que se arrastam há anos,
mente curto (conjuntamente com o CPPSP não ultrapassa os como a maior intervenção dos parceiros sociais, como os sindi-
sete milhões de euros, que tem que dar para tudo), pelo que a catos, na orientação estratégica dos serviços, a inscrição como
gestão tem que ser extremamente criteriosa e ponderada. beneficiários de pessoas que vivam em situação análoga à dos
Em segundo lugar, relevo a questão da capacidade admi- cônjuges, a afectação de casa de família aquando de divórcio
nistrativa dos SSPSP, que é limitada. É preciso não esquecer de beneficiários, etc.
que este organismo serve cerca de 85.000 beneficiários e subs-
critores, contando para tal com apenas 46 efectivos, incluindo Tendo em conta o panorama actual, prevê um futuro susten-
aqui o CPPSP. Se pensarmos na quantidade e dispersão geo- tado para os Serviços Sociais, nomeadamente através das res-
gráfica do património que temos para gerir, entre as cinco postas que vão ao encontro das necessidades dos polícias?
estâncias de férias, lares de estudantes, casa de passantes, Os SSPSP desenvolvem uma acção social complementar de
imóveis habitacionais (cerca de 1.100 fogos) e não habitacional, grande importância, dirigida a um universo de pessoas com
etc., podemos facilmente imaginar a sobrecarga de trabalho uma profissão de elevada nobreza mas plena de adversidades,
que incide sobre os nosso ombros! Felizmente que conto com desde logo o risco acrescido e a penosidade inerentes à função,
funcionários altamente qualificados e motivados, caso contrá- bem como as especiais exigências em termos de mobilidade
rio seria impossível. geográfica e de disponibilidade a que todos estamos sujeitos.
Estou contudo seguro que uma nova lei orgânica para os Isso requer desde logo uma resposta específica e adequada,
SSPSP – a actual existe desde a data da sua criação, portanto que nenhum organismo, com excepção dos SSPSP, tem condições
há quase 50 anos –, atenuaria alguns dos condicionalismos que para dar. Claro que tem de haver uma constante preocupação
referi, na medida em que, ao integrar em definitivo o CPPSP, com a qualidade e a utilidade dos serviços que presta, factor a
para além da absorção do seu saldo existente no Tesouro, per- que continuaremos a dar especial atenção.
mitiria aliviar grande parte do trabalho a que somos obrigados O papel dos nossos parceiros sociais tem aqui um grande
hoje-em-dia em termos administrativos, nomeadamente ao ní- relevo, já que são uma fonte privilegiada de informação no
vel da gestão patrimonial e orçamental, já que não deixa de ser que toca às reais necessidades e expectativas dos beneficiários.
um outro organismo aqui “pendurado”, passe o termo, com Estou certo que, com o contributo de todos, faremos com que
um património próprio, um orçamento privativo, com uma os Serviços Sociais se tornem cada vez mais uma referência em
contabilidade dedicada, enfim, tudo a dobrar! Por outro lado, termos de credibilidade e de qualidade. d
30 // o crachá // maio 2009

Os acontecimentos na Quinta da Fonte (Freguesia de Apelação)


- Loures ocorridos entre 09/11de Julho de 2008 e os sucedidos
no Bairro do Aleixo –Porto de 3 de Setembro
deste mesmo ano determinam um obrigatório
equacionamento e reavaliação quanto à forma
como o projecto de Policiamento
de Proximidade (PIPP)
tem vindo a ser executado.

O
PIPP constitui, antes e acima de tudo, um projecto que As duas formas de policiamento, – a PIPP e a clássica – não
reflecte uma autodefesa numa sociedade democrática. se excluem, antes funcionam em complementaridade através
Do ponto de vista de segurança, o PIPP constitui um de uma coordenação bipartida.
compromisso da estrutura policial para com a comunidade a A esta forma de policiamento – o da proximidade – a ASPP/
que pertence e no seio da qual actua. Este compromisso repre- PSP tem vindo a chamar atenção pelo menos desde 2000,
senta um modelo contemporâneo de policiamento, de natureza aquando do Seminário “A função da PSP no início do Século
pró-activa com vista a satisfazer as necessidades da circunscrição XXI” (Oeiras) tendo-lhe dedicado o Colóquio Nacional “Na
ou local a que diz respeito. Daí que o padrão deste policiamen- mira de fogo” em Março de 2006 – Baleal-Peniche.
to não seja único mas variável de local para local. A pró-acti- É sabido que um modelo de PIPP tem vindo a ser implemen-
vidade assenta na busca de soluções adequadas, algo criativas tado na instituição policial – a PSP – na sequência da Directiva
em estrita função das necessidades locais. Não são pois soluções Estratégia nº 10/2006 de 15 de Maio. O mínimo que se poderia
impostas, mas alcançadas pelo consenso com os núcleos repre- esperar dessa implementação é que os incidentes da Quinta da
sentativos da população. Daí a parceria polícia-população. Fonte e os do Bairro do Aleixo não ocorressem ou não assumissem
O PIPP constitui um modelo inovador da actividade policial a projecção que tiveram.
com vista à segurança das populações. O PIPP não se contrapondo Na verdade, o aparato das intervenções havidas (a que não
ao policiamento tradicional – como o actualmente exercido pela faltou o inédito uso de um helicóptero com holofote) e as afirma-
PSP e a GNR – deste se distingue, pela sua vertente reactiva. Ao ções que foram produzidas, com particular destaque às entida-
invés de estar à espera para agir agressiva e repressivamente des mais directamente responsáveis pela administração e segu-
perante acontecimentos, procura gerar condições para o não- rança, sobre os incidentes, é preocupantemente demonstrativo
-aparecimento de contextos anti-sociais ou de insegurança. que nada ou pouco foi produzido em termos de PIPP.
maio 2009 // o crachá // 31

Onde está o
policiamento
de proximidade?
Com efeito, os problemas relativamente aos bairros em re- das forças especiais que pôs cobro ao momentâneo surto da ins-
ferência, a conflitualidade das comunidades em causa (a afri- tabilidade social ocorrida, mas que ainda hoje permanece latente
cana e a cigana – Bairro da Fonte) e dentro de cada uma das quanto à sua génese, motivação e futuras manifestações.
comunidades em si (no Bairro do Aleixo tudo foi atribuído a ri- Se relativamente a estas ocorrências o Observatório de Se-
validades de duas famílias ciganas), o tráfico de droga, o uso de gurança mais não viu senão a proliferação de armas; se para o
armas e outros atritos são de há anos conhecidos. Esperar-se-ia Sr. Ministro de Tutela tudo se resolve na fórmula vaga de “um
por isso que diagnosticadas que fossem as questões nas suas contrato local de segurança” e, se em termos autárquicos ou
linhas mestras, e operados os adequados e apropriados meca- políticos a solução passa por “mais polícias na rua” deve desde
nismos fossem encontradas as soluções ajustadas aos casos, a já dizer-se que tudo isto é pouco, como pouco é limitar o PIPP a
começar desde logo pela aplicação dos critérios operativos que mini projectos de Apoio à Vítima; Programas de Escola Segura;
inspiram a dinâmica da PIPP e que se confia terão sido ministrados de ajuda aos Idosos e outros do género. São sem dúvida pro-
na preparação dos Agentes de Proximidade. gramas que também fazem parte do PIPP mas estão longe de
Mas nada disso sucedeu. Daí que seja legítima a dúvida so- esgotar este modelo.
bre se os ensinamentos relativamente à PIPP ou então a sua A ser assim, e se o que se pretende gerar reais condições
aplicação na prática, tenha correspondido ao que a realidade para assegurar um clima de segurança sustentável, é caso para
social exige desse modelo policial. se dizer que em matéria de auto-defesa social muito está ainda
De tudo quanto ocorreu em matéria de resposta à insegu- por fazer em termos do PIPP. d
rança ocorrida parece existir uma marcante confusão entre o
policiamento de proximidade e um policiamento de visibilidade. António Bernardo Colaço
O que foi de facto visível foi sem dúvida a pronta operatividade
32 // o crachá // maio 2009

Mais um
marco histórico
na vida da ASPP/PSP

D
urante muitos anos foi aflorada a ideia da problemas e a quase transversalidade dos mesmos em relação a
criação de grupos de trabalho que estu- todas as carreiras, bem como a sua defesa conjunta e solidária,
dassem, defendessem e apresentassem pois só assim podemos esvaziar aquilo que é apontado como a
os problemas específicos de cada classe, de cada razão de ser de sindicatos de classes.
carreira ou de cada categoria. Naturalmente que se compreendem algumas reservas, pois se
Também durante muitos anos este assunto foi este assunto fosse colocado há alguns anos atrás, não faria qual-
evitado e, quando aflorado, foi rejeitado liminar- quer sentido, mas actualmente está na hora para a ASPP dar este
mente pelos Associados. passo que será certamente mais um marco histórico na vida deste
Entretanto, os tempos evoluíram, assim como a sindicato.
ASPP/PSP, para além da necessidade de estabele- É sem dúvida mais um marco histórico. Todos os profissio-
cer estratégias que façam evoluir o sindicalismo nais da PSP têm agora alargado o seu espaço de discussão e as
na PSP e que a ASPP/PSP faça parte dessa estratégia possibilidades de intervenção directa e indirecta dos seus inte-
global e defensora de todos os seus Profissionais. resses profissionais.
A ASPP/PSP está convicta de que poderá me- Estamos convictos de que a ASPP/PSP continuará a
lhorar e aumentar a participação dos associados engrandecer a sua representatividade e a estimular a adesão
através da implementação da criação de grupos de de novos Associados, sem quaisquer espécie de estigmas.
trabalho afectos às carreiras existentes na PSP. Ainda assim, não se pense que os tempos actuais e os que
Reafirma-se que esta possibilidade era impen- se avizinham serão fáceis, aliás, bem pelo contrário, a vida sin-
sável há alguns anos atrás. dical nunca teve nem pode esperar por facilidades, mas sim
Assim, depois de o Executivo da Direcção ter por níveis de exigência cada vez maiores, pois só desta forma
aprovado a criação de grupos representantes de clas- poderemos atingir cabalmente os nossos grandes objectivos,
ses, o assunto foi apresentado para deliberação em pelos quais nos propomos a lutar, sempre com a dignidade dos
reunião da Direcção Nacional, realizada em Lisboa, Profissionais da PSP como pano de fundo.
na sede da ASPP/PSP, a 12 de Fevereiro de 2009. No final a reunião, o Presidente da ASPP/PSP considerou que
Com a criação dos referidos grupos represen- foi dado mais um passo histórico no nosso Sindicato, sendo
tantes de classes, a Direcção não vai descurar aqui- saudado com uma prolongada salva de palmas por parte dos
lo que é essencial, ou seja, a universalidade dos presentes. d
maio 2009 // o crachá // 33

O suicídio não é um fenómeno fácil de abordar, sendo composto por vários aspectos que vão
do biológico ao social. Como psicólogo, são os aspectos mentais e vivenciais que eu realço,
como ponto de confluência de todos os factores na experiência e estrutura da Pessoa.

Consultas de risco
não significam
apoio psicológico
E
ste tem sido um ano particularmente do tipo psicoterapeutico. Po-
grave no que toca ao suicídio nas for- dem ser facilmente confundi-
ças de segurança. Não é no entanto um dos entre si porque o suicídio
fenómeno novo e revela uma série de outros de alguém gera nos outros
problemas mais silenciosos e menos visíveis, sentimentos de crítica pessoal
mas suficientemente graves para que mere- e culpabilidades desconfortá-
çam toda a nossa atenção. O suicídio não é um veis. Controlar o acto suicida
fenómeno fácil de abordar, sendo composto permite evitar ou aliviar estes
por vários aspectos que vão do biológico ao sentimentos, mas não resolve
social. Como psicólogo, são os aspectos mentais a questão de fundo para a
e vivenciais que eu realço, como ponto de con- pessoa que está mal. Os que
fluência de todos os factores na experiência e nunca tentaram o suicídio fi-
estrutura da Pessoa. carão também de fora destas
Em primeiro lugar, consideremos que ninguém se mata por consultas ou irão ser recebidos num contexto que não visa saber
se sentir bem. Vários estudos revelam que se não todos, pelo o que está mal, mas sim avaliar se vai fazer algo de mal. Facil-
menos mais de 90% dos casos de suicídio enquadram situações mente se sentirão controlados, não reconhecidos e criarão anti-
de psicopatologia aquando do acto. É portanto uma situação corpos para o tipo de ajuda que precisam, se mais tarde tiverem
de urgência psiquiátrica no momento de crise. A avaliação e a sorte desta lhes ser oferecida.
contenção do risco de suicídio pode salvar uma vida que encontre Assim, parece-me que devemos distinguir três momentos da
mais tarde razões para viver. ajuda psicológica á pessoa que necessita dela, no evoluir deste
E é não só este depois, mas também o antes que me preocu- mal estar. O primeiro é o apoio psicológico: quando as coisas
pam. Por vezes sentimo-nos mal, mais em baixo ou mais ressen- vão mal, mas ainda há possibilidade da pessoa se ajustar por si.
tidos com a nossa sorte ou as pessoas que temos á volta. Mas O segundo é a psicoterapia: quando já há coisas que a pessoa
estas situações podem instalar-se de forma permanente também precisa mudar dentro de si. O terceiro é a contenção do risco:
em qualquer um de nós. As razões são várias, mas mesmo os mais de suicídio, de agressões a si ou aos outros. Por vezes vai-se tarde
saudáveis de nós podem desabar se não tiverem alguma coisa e a psicoterapia surge depois do risco passar a acto. E claro, se
á volta onde se apoiarem, se sentirem que pouco há de bom o acto não for irreversível.
nas suas vidas e se não existir em si a esperança de que a situa- Para finalizar, deixem-me expressar o desejo de que a tra-
ção se vai alterar em tempo útil. Podemos nunca chegar a uma gédia deste ano permita, pelo menos, ir para além do risco.
situação tal em que mais vale morrer que viver. Mas situações O antídoto do risco é segurança e a segurança é uma palavra
menos intensas são muito mais frequentes e, por si só, são um que vem do latim “securus” e que significa algo como “calmo
problema grave para a pessoa e para os outros. Actos irreflec- e livre de preocupações”. Não é possível, parece-me, ter uma
tidos, violentos ou passivos no momento em que é necessária segurança de pessoas e bens se os seus agentes não se sentem
acção, sentimentos daninhos sobre o mundo e sobre si, adoe- eles mesmo seguros na sua relação pessoal consigo. E, mais impor-
ceres físicos constantes com sintomas que vão variando, com- tante que isto, o sentimento de segurança pessoal é Saúde. E
portamentos escapistas desviantes ou de abuso de substâncias: esse, diz-se, é um direito humano fundamental. d
todos eles são formas que demostraram o mal estar que passa
a fazer parte de quem somos.
Desta forma, consultas de risco são importantíssimas mas não Renato Morais
as devemos confundir com apoio psicológico ou com intervenções Psicólogo
34 // o crachá // maio 2009

O Percurso da ASPP/PSP,
o Direito de Associação
e a Democracia
C
ada organização tem no seu processo de conquistar simpatia e votos; muitas cabeças do poder estavam
de formação e afirmação na sociedade ainda longe de aceitarem a entrada do 25 de Abril no espaço
momentos muito marcantes. O epi- organizativo e na acção da PSP e assustavam-se – ainda hoje há
sódio “secos e molhados” constituiu-se como quem se assuste e também quem não ponha de lado o regresso
decisivo para a definição das características, a uma PSP militarista – com o objectivo de uma PSP voltada
dos objectivos e da influência futura da Asso- para a afirmação da segurança dos cidadãos, da cidadania e da
ciação Sindical dos Profissionais das Polícia – democracia numa sociedade plural; alguns trabalhavam estra-
ASPP/PSP, marcando, concomitantemente, e tegicamente a divisão dos profissionais da PSP, para que não se

A direcção da ASPP e a generalidade dos seus associados presentes no Terreiro do


Paço mostraram uma grande maturidade, construída, por um lado, na dinâmica
constante imprimida ao processo de criação e afirmação da Associação, por outro,
na unidade interna trabalhada com persistência, com ética e enorme seriedade.

de forma muito positiva, quer as condições de afirmasse uma associação sindical de fortíssima representativi-
evolução do associativismo e do sindicalismo dade como é a ASPP/PSP.
na PSP (e até de outras forças de segurança Naquele dia 21 de Abril de 1989 viveram-se horas de delicado
e militares), quer o quadro geral de actuação conflito. Dele emergiram dimensões de expressão e de confir-
profissional da PSP em democracia. mação institucional do direito de associação, das liberdades, do
Havia tensões acumuladas; os governos entendimento da ordem pública e da própria democracia.
e algumas forças políticas, que tanto se re- A direcção da ASPP e a generalidade dos seus associados
clamam de democráticas, vinham somando presentes no Terreiro do Paço mostraram uma grande maturi-
contradições na sua actuação, faltando-lhes a dade, construída, por um lado, na dinâmica constante imprimida
coragem e a vontade política para agirem em ao processo de criação e afirmação da Associação, por outro,
coerência com promessas feitas em momentos na unidade interna trabalhada com persistência, com ética e
maio 2009 // o crachá // 35

enorme seriedade. Viveram-se aí situações de sig- Associação Sindical; expressar a nossa gratidão
nificativo risco, como expressão limite daquela pelo Vosso posicionamento solidário para com
que foi, com certeza, uma das batalhas mais encar- todos os trabalhadores portugueses, as suas
niçadas “pela conquista do direito de reunião e causas e lutas numa atitude que não confunde
do associativismo representativo” em Portugal. independência com indiferença; e, humilde-
A autonomia e a independência assumidas e mente, dizer-Vos prossigam com a mesma
defendidas arduamente desde a primeira hora, determinação e confiança de sempre.
por todos os órgãos de direcção da Associação Os trabalhadores portugueses estão cheios
desde o seu embrião (que a CGTP-IN se orgulha de fazer sacrifícios em nome de razões manipu-
de sempre ter respeitado), constituíram um outro ladas, que permitem a alguns acumular riqueza
elemento importante. Com muito empenho da desmedida aprofundando desigualdades, agora
direcção de então, foi possível ter ali formalmente são chamados a mais sacrifícios em nome do
representado todo o movimento sindical portu- combate à crise para a qual não contribuíram,
guês a acompanhar os profissionais da PSP. Recor- e, amanhã serão chamados a mais e mais sacri-
do-me de, quando descíamos da Voz do Operário, fícios, para tapar os buracos que o “combate à
alguns jornalistas me terem perguntado até onde crise” está a abrir.
é que eu e o Torres Couto íamos juntos, ao que eu A tudo isto, temos de dizer não e agir para
respondi “agora até ao Terreiro do Paço”. Aí esti- a mudança de rumo.
vemos e aí sofremos convosco. Direi hoje que a Com a consciência de que não é fácil, mas
unidade na acção expressa nesse dia foi muito im- com a certeza de que é indispensável, os traba-
portante, mas ela tinha sido essencialmente obra lhadores e os seus sindicatos tem de aumentar a
Vossa e fica registada como exemplo. sua acção, fazendo despertar a “alma colectiva”
Ao assinalar estes vinte anos não posso deixar dos mais diversos sectores profissionais.
de, em nome da CGTP-IN, saudar todos aqueles Parabéns à ASPP-PSP. d
profissionais da PSP que, antes e depois dos “secos
e molhados” dirigiram ou integraram de forma Manuel Carvalho da Silva
discreta a construção desta grande e prestigiada Secretário-Geral da CGTP-IN
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C
om as diversas alterações legislativas Uma referência a todos os profissionais da
que se fizeram sentir na área de segu- Polícia de Segurança Pública, para que façam
rança interna e judicial, quer no âm-
um esforço ainda maior pela dignificação
bito sócio-profissional, quer no âmbito opera-
da sua actividade, no intuito de sustentar
cional, passando pelos obstáculos processuais
e pelo resultado do desinvestimento que se e legitimar as suas justas reivindicações
fez e faz sentir, chegou-se ao momento, um
pouco mediático mas também realista, do clima
de insegurança e agravamento da criminalidade. Os profissionais do sector policial, especificamente da Polícia
Este momento, outrora, alertado por vários de Segurança Pública, tentam diariamente atenuar ou minimi-
sectores da sociedade. zar um problema social, cuja responsabilidade politica pertence
Obviamente que, para uma avaliação séria ao Estado, delegada nas polícias, contudo, torna-se difícil este
e responsável sobre o problema da insegurança compromisso, quando o poder politico aposta em modelos eco-
e suas consequências, não deverá ser secunda- nomicistas, pontuais, sem uma visão continua, eficiente no que
rizada, toda a envolvente social, económica e concerne às politicas de segurança.
politica. O desinvestimento, as promessas e compromissos assumidos
O desemprego, os baixos salários, as condi- e sempre adiados, a constante criação de legislação avulsa, os
ções de vida, a desigualdade social, a existência recuos, a descoordenação policial, a pouca ambição processual
de guetos urbanos, as más politicas urbanísti- penal e o constante ataque inexplicável aos direitos sociais,
cas, a questão da perda de valores, a questão aliado ao desrespeito pela legislação sindical, são factores gera-
da educação, serão, entre outros, factores ex- dores de desmotivação naqueles que, aos olhos do cidadão, se
plicativos do clima e consequente aumento da espera eficácia e perseverança na defesa dos bens patrimoniais
insegurança e seu sentimento. e clima de segurança.
Também uma nova abordagem será ne- Mesmo assim, uma referência a todos os profissionais da
cessária para a compreensão do aumento da Polícia de Segurança Pública, para que façam um esforço ainda
violência imposta na prática do crime, certa- maior pela dignificação da sua actividade, no intuito de sustentar
mente existirá um indício sociológico que su- e legitimar as suas justas reivindicações.
porte este facto nas sociedades desenvolvidas Numa sociedade cada vez mais autista, onde os interesses
e globalizadas. económicos imperam, onde é sintomático o ataque ao sector
A par desta análise, nestes últimos anos, os público, e ainda nesta tentativa de secundarização do papel
profissionais da Polícia de Segurança Pública, dos sindicatos, será necessário um combate corajoso, que passe
bem como as demais forças, enquanto parte por um maior envolvimento de todos os profissionais, em es-
importante na resposta ao crime e na preserva- truturas sindicais representativas, sérias, com essência e génese
ção da segurança interna, têm assistido à des- histórico-sindical.
valorização do seu estatuto profissional, quer Só assim, será possível atenuar os efeitos prejudiciais de
devido ao constante “ataque” nos seus direitos, más políticas, na prossecução de elevar o estatuto profissional
passando pelas limitações ou inércias processuais, e condições de trabalho, com o objectivo de dar uma resposta
falta de condições materiais, de efectivo ou da à altura do expectável pelas populações. d
gestão ineficaz do mesmo, com evidentes reflexos
operacionais, profissionais e pessoais. Isolados não conseguirão.

Paulo Jorge Santos


Secretário DN (ASPP/PSP)

”A insegurança
da segurança”

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