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1. Introduo
H temas que parecem ter os seus momentos de pice, mas em
se tratando de fidelidade as publicaes tm revelado que este,
alm de polmico h sculos, vem sendo tratado com relevncia
em diversas reas, sendo a da traduo o foco de interesse neste
trabalho.
Assim que iniciamos com a pergunta O que ser fiel?,
visando fazer um paralelismo entre a viso logocntrica e a
desconstrutivista, buscando em suas bases tericas possveis res-
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2. Logocentrismo e desconstruo
Comeando pela abordagem estruturalista, temos na viso
logocntrica a marca evidente das dicotomias entre sujeito/objeto,
teoria/prtica e forma/contedo. O papel do tradutor neste caso o
de transpositor de significados, j que a leitura neste contexto
considerada nica. A traduo vista como transporte, sem contaminao na passagem de um texto de uma lngua para outra, pois
caso contrrio haveria perda e traio.
H uma preocupao por parte daqueles que compartilham esta
idia de buscar incessantemente uma sistematizao terica, acreditando ser esta a chave na resoluo dos problemas existentes no
campo da traduo, neste caso, o da fidelidade. Porm, Ottoni
(2005c: 49) enfatiza que a traduo no domesticvel em si, ela
resiste a qualquer tentativa de sistematizao em qualquer postura
terica ou histrica.
Partindo dessa citao de Ottoni, uma analogia neste momento
talvez pudesse propiciar uma reflexo quanto busca de sistematizao terica na traduo. Consideremos a possibilidade de fazer
parte do processo de um tratamento doloroso para uma especfica
enfermidade uma teoria sistematizada cujo resultado, no entanto,
no fosse atingido na prtica, j que cada enfermo poderia responder de maneira diferente ao determinado tratamento. Assim talvez
seja o processo da traduo: a tentativa de sistematiz-la e teorizla para resolver os problemas na prtica pode no atingir as expec-
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tativas dos envolvidos, por exemplo, autor, editor, revisor e tradutor, j que os ltimos respondem de maneiras diferentes s tenses
sofridas durante o processo tradutrio, produzindo diferentes textos como produtores de significados.
Nesse contexto que se insere o pensamento desconstrutivista
visando promover a reflexo e problematizao das abordagens
estruturalistas.
Retomando a questo da fidelidade: segundo Ottoni (2005c: 52)
na dimenso desconstrutivista as questes da fidelidade e da correlao privilegiada entre as lnguas no so mais pertinentes para
tratar do transbordamento e do jogo da multiplicidade de lnguas
envolvidas na traduo, j que:
A traduo um acontecimento que deflagra a lngua e as
vrias lnguas presentes num mesmo sistema lingstico. Esta
postura de Derrida (cf. 1982, p.134)6 frente traduo vai
numa direo diferente da postura estrutural e da psestruturalista ao chamar a ateno para o jogo de significao
entre as lnguas que ocorre em qualquer traduo
desconstruo (ibidem).
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Na tentativa de validar a tese de que os tradutores so produtores de significados, seguem abaixo alguns trechos traduzidos da
obra de Jonathan Swift As Viagens de Gulliver, os quais foram
selecionados e comentados por Gabriel Periss na Revista Lngua
Portuguesa de nov-2006, pp. 58-61.
[] challenging him to wrestle, and such repartees as are usual
in the mouths of court pages (apud Periss, 2006: 60).
Cruz Teixeira
uma vez mais o tradutor preferiu fazer vista grossa e passar por
cima do trecho (Periss, 2006: 60).
Octavio Mendes Cajado
[...] desafiando-o a lutar e dando-lhe as outras respostas que de
ordinrio se encontram na boca dos pajens da corte (apud Periss,
2006: 60).
Therezinha Monteiro Deutsch
[...] e o desafiei para uma luta, num tipo de reao comum entre
os pajens da corte (apud idem).
Ildsio Tavares
[...] desafiando-o a lutar e coisas tais, que so comuns nas bocas
de pajens da corte (apud idem).
(for I verily think he was not full thirty foot high) (apud idem).
Cruz Teixeira
a omisso intencional. Para Cruz Teixeira, permitido ao tradutor ignorar palavras e trechos do original (Periss, 2006: 60).
Octavio Mendes Cajado
[...] pois creio, efetivamente, que no alcanava trinta ps de
altura (apud Periss, 2006: 60).
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prometeu e no cumpriu? Derrida, na traduo de Ottoni Fidelidade a Mais de Um (2005b: 195) esclarece:
Apesar de tudo, parece que a traduo deve se esforar para
ser o mais fiel possvel, no pela preocupao de exatido
calculvel, mas porque ela nos lembra a lei do outro texto, a
sua assinatura, esse outro acontecimento que j teve lugar
antes de ns, e ao qual ns devemos responder como herdeiros.
4. Consideraes Finais
Diante das abordagens e citaes mencionadas neste trabalho,
que pretende contribuir para o contnuo crescimento de produo
de conhecimentos, vimos que a questo da fidelidade um tema
complexo sobre o qual deve-se refletir ao adotar certa posio que
julgamos ser ideal para aplicao nos estudos da traduo ou na
sua prtica profissional. Ottoni (2005c: 48) lembra que:
medida que as novas posturas perante a traduo se
fortalecem, fundamental nos debruarmos sobre os
pressupostos que sustentam essas reflexes. Descartada a
abordagem estrutural e formal de base lingstica, no fcil
traar uma linha divisria e simplesmente passarmos a
considerar tudo o que se faz atualmente a partir das concepes
ps-estruturalistas da linguagem, em oposio ao que se fazia
anteriormente, como possveis solues s questes que a
traduo traz. (...) Se, por um lado, uma lingstica estrutural
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Bibliografia
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