Análise Institucional e Seso PDF
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CENTRO SCIO-ECONMICO
DEPARTAMENTO DE SERVIO SOCIAL
ROBSON DE OLIVEIRA
FLORIANPOLIS
2010.1
ROBSON DE OLIVEIRA
FLORIANPOLIS
2010.1
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo realizar uma reviso bibliogrfica, no mbito da produo
terica do Servio Social, para discutir a anlise institucional. Na Seo 1 apresentada uma
breve contextualizao acerca do sistema de produo capitalista e a formao do Estado
brasileiro para compreender a insero do debate acerca das instituies na prtica
profissional no Servio Social e, colateralmente, da anlise institucional a partir do
movimento de reconceituao do Servio Social. Nesta seo apresentam-se trs livros de
meados da dcada de mil novecentos e oitenta que possuem como principal objeto de
pesquisa a relao entre profissionais de Servio Social e as instituies, so estes: A prtica
institucionalizada do Servio Social de Rose Mary Sousa Serra, Servio Social e
Instituio A questo da participao de Maria Luiza de Souza e Saber profissional e
poder institucional de Vicente de Paula Faleiros. Posteriormente apresentada a sntese
analtica dos livros e outros autores que contribuem com as idias apresentadas. Aps
apresentado os aspectos normatizadores na relao instituio profissionais atravs de
alguns aspectos legalistas da profisso, como o Cdigo de tica de 1993 e a Resoluo
CFESS n 493/2006 de 21 de agosto de 2006 que dispe sobre as condies ticas e tcnicas
do exerccio profissional do assistente social. A seo 2 discuti a anlise institucional
enquanto problema terico e essencial a prtica profissional utilizando autores das cincias
sociais que debatem este tema. Esse trabalho ainda composto pelas consideraes finais e
referncias bibliogrficas.
SUMRIO
INTRODUO........................................................................................................... 8
SEO I
CONTEXTUALIZAO E A ANLISE INSTITUCIONAL NO SERVIO
SOCIAL...................................................................................................................... 11
1.1 O modo de produo capitalista e o Estado brasileiro............................ 11
1.2 A produo bibliogrfica acerca de Instituies no Servio Social........ 15
1.2.1 A Prtica Institucionalizada do Servio Social (Rose Mary Sousa
Serra).................................................................................................... 18 1.2.2
Servio Social e Instituio A Questo da Participao (Maria Luiza de
Souza).................................................................................... 25
1.2.3 Saber Profissional e Poder Institucional (Vicente de Paula
Faleiros).................................................................................................33
1.3 Possveis Chaves Analticas e Aspectos Normatizadores....................... 43
1.3.1 Possveis Chaves Analticas..................................................... 43
1.3.2 Aspectos Normatizadores........................................................ 48
SEO II
A ANLISE INSTITUCIONAL COMO PROBLEMA ANALTICO.................... 53
CONSIDERAES FINAIS....................................................................................... 59
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 63
INTRODUO
consistncia
apropriada
entre
comportamentos
individuais
esquema
de
reproduo(LIPIETZ 1986 apud. HARVEY, 1989, p.117). Esse tipo de entendimento refora
a anlise que nos ensina que os novos mtodos de trabalho so inseparveis de um modo
especfico de viver e de pensar e sentir a vida (GRAMSCI 1989 apud. HARVEY 1989, p.
117)
Harvey (1989, p. 121) ao iniciar sua anlise do Fordismo aponta como data inicial
simblica [...] 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia de oito horas e cinco dlares
como recompensa para os trabalhadores da linha automtica de montagem de carros. Esse
processo acabava por estruturar no apenas um novo trabalhador, mas tambm um novo tipo
de homem, como aponta Gramsci (1989).
Aps a crise da dcada de 1930 foi necessria a redefinio do papel que o Estado
deveria exercer junto ao sistema de produo. Keynes propunha um conjunto de estratgias
administrativas cientficas e poderes estatais que estabilizassem o capitalismo (HARVEY,
1989, p. 124). Isso resultou em diferentes opes por parte das naes Estado para
alcanarem arranjos polticos, institucionais e sociais que pudessem acomodar a crnica
incapacidade do capitalismo de regulamentar as condies essenciais de sua prpria
reproduo (HARVEY, 1989 p. 124).
Nesse perodo no Brasil, Getlio Vargas alado a presidncia pela aliana entre as
oligarquias dissidentes (mineiros, paraibanos e gachos) e os tenentes` revoltosos (jovens
oficiais do Exrcito e da Marinha) (SILVIA, 1992, p. 35). Um dos efeitos da crise sentidos
no pas advm da exportao de produtos agrcolas, como o caf, perdendo-se mercados em
decorrncia das restries do consumo alimentar ou das outras prioridades da indstria
mundial j bastante debilitada. (VIEIRA 1992, p. 85).
No perodo de crise entre guerras, um dos fatores que impediu a disseminao do
fordismo foi o estado das relaes de classe no mundo capitalista, pois este ainda no era
propicio fcil aceitao de um sistema de produo que dependia tanto da familiarizao do
trabalhador com as longas horas de trabalho extremamente rotinizadas [...] concedendo um
controle quase inexistente do trabalhador sobre o projeto, o ritmo e a organizao do
processo produtivo (HARVEY, 1989, p. 123). Outro fator estava na delimitao do modo de
interveno estatal a ser materializado para responder a crise, definindo novos poderes e uso
do Estado. Foi possvel vislumbrar uma reestruturao em meados da dcada 1940.
Entretanto a constatao de que o fordismo havia alcanado uma suposta
maturidade no implicava em equilbrio constante entre a interveno econmica por parte
do mercado e do Estado. O perodo de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a
incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradies inerentes do
capitalismo (HARVEY, 1989, p. 135). Como contraponto a rigidez dos investimentos, do
mercado e dos compromissos do Estado uma srie de novas experincias nos domnios da
organizao industrial e da vida social e poltica comea a tomar forma (HARVEY, 1989, p.
140).
Paralelo a esse processo que se deu em graus e modalidades variveis de pas para
pas, aponta-se como fenmeno central o que no Brasil
[...] diz respeito s burguesias e [...] seu processo de intensa subjetivao da
acumulao de capital, da concentrao e da centralizao, cujo emblema e
paradigma a globalizao, que expressa a privatizao do pblico, ou,
ideologicamente, uma experincia subjetiva de desnecessidade, aparente, do
pblico. (OLIVEIRA, 2000, p. 57)
Segundo Netto: Entendemos por renovao o conjunto de caractersticas novas que, no marco das
constries da autocracia burguesa, o Servio Social articulou, base do rearranjo de suas tradies e
da assuno do contributo de tendncia do pensamento social contemporneo, procurando investir-se
como instituio de natureza profissional dotada de legislao prtica, atravs de respostas a
demandas sociais e da sua sistematizao, e de validao terica, mediante a remisso s teorias e
disciplinas sociais (1998, p.131).
era preponderante.
A busca pela compreenso crtica do exerccio profissional, enquanto agente
institucionalizado e as implicaes no espao organizacional onde se insere, pode ser
apontado como fruto dessa acentuada efervescncia experimentada pela profisso neste
perodo no que concerne a relao entre Instituio Profissional.
Dessa forma, com o objetivo de apresentar os aspectos que prevaleciam na
bibliografia profissional destinada as instituies prope-se a exposio de trs livros que
refletem a inquietao em torno desta relao e apresentam chaves analticas significativas
compreenso da anlise institucional. Todas as obras escolhidas so de meados da dcada de
1980 e trazem discusses, principalmente acerca da prtica profissional institucionalizada e
da insero dos assistentes sociais nos espaos institucionais. Nas obras comparecem tambm
aspectos sobre a clientela do Assistente Social, o movimento de reconceituao enquanto
definidor de novas possibilidades terico-prticas, interpretaes conceituais variadas sobre o
Estado e o papel das instituies enquanto funcionais manuteno da ordem hegemnica.
O primeiro a ser apresentado tem como ttulo A Prtica Institucionalizada do Servio
Social, de autoria de Rose Mary Sousa Serra, publicado em 1983. Em sua pesquisa a autora
utilizou um frum de debate entre profissionais de Servio Social e, a partir do registro de
suas falas, analisou trs categorias principais: Estado, Instituio e Prtica Profissional
Institucionalizada.
O segundo Servio Social e Instituio A Questo da Participao de Maria
Luiza de Souza, publicado em 1982. Nesse livro tem-se a anlise do Servio Social enquanto
instituio e a prtica dos profissionais nos diferentes espaos em que se inserem, e quem a
clientela da profisso.
No terceiro livro Saber Profissional e Poder Institucional, escrito por Vicente de
Paula Faleiros, publicado em 1985, encontram-se textos elaborados no perodo de 1979
1984, sendo os seguintes temas tratados: poltica social, saber profissional, espao
institucional, servio social nas instituies, entre outros.
A seguir ser, simplesmente, apresentada as idias trazidas por esses autores,
organizadas nos livros acima, para posterior anlise dos elementos preponderantes na
compreenso de como as instituies aparecem na bibliografia profissional no perodo
escolhido.
A partir desse entendimento, Serra (1983) se prope a analisar trs eixos principais:
Estado, Instituio e Prtica Profissional Institucionalizada para, atravs destes, relacionar o
exerccio profissional nos espaos institucionais, ressaltando a caracterizao do Estado
como essencial para que se situe as instituies no quadro da superestrutura. No que
concerne ao desenvolvimento da pesquisa, realizou-se um frum de debate5, utilizou-se a
fala das participantes e, posteriormente, a anlise de seus discursos.
A problematizao do Estado, realizada pela autora, apresenta trs referencias
principais: o Estado de Bem-Estar, a concepo de Estado no marxismo clssico, e por fim, a
5
Realizado de 27 de outubro a 4 de novembro de 1981 no Rio de Janeiro por uma das comisses de
trabalho do CRAS 7 Regio. Contou com a participao da coordenao da ABESS Regional
Leste. Com o objetivo de oportunizar a discusso em torno da prtica profissional e a articulao que
est realiza com profisses atravs de exposio de conferencistas e debate aberto ao plenrio.
Participaram 80 Assistentes Sociais, 91 alunos de Servio Social e profissionais de outras reas.
Por outros meios, mas a exemplo do perfil anterior, esse profissional assume uma
postura fatalista, nega os espaos institucionais como legtimos viabilizadores de
possibilidades, no exerccio profissional, visando transformao social. Por fim, o terceiro
perfil em torno da prtica profissional oriunda da concepo de Estado Ampliado e de
Instituio como Aparelho Contraditrio
Os profissionais adeptos dessa concepo consideram a prtica institucional dentro
de uma viso ampla e dinmica da realidade. Admitem as instituies como
aparelhos de Estado, cuja funo precpua a execuo de polticas sociais com o
objetivo principal de manter os interesses da classe dominante. Consideram,
contudo, que as instituies incorporam, necessariamente, as demandas dos grupos
dominados como resposta correlao de foras de grupos sociais. Nessa direo,
esses profissionais identificam que as instituies, ao incorporarem os interesses das
classes subalternas, do margem, neste confronto, viabilizao da transformao
de suas estruturas de poder atravs da luta conjunta da clientela instituda, dos
profissionais de Servio Social e de outros grupos institucionais, tendo como
suporte a conjuntura social, expressa nas lutas mais amplas da sociedade (SERRA
1983, p. 38).
Sendo a prtica institucional resultante das prticas conflitantes dos diversos sujeitos
envolvidos, precisa-se analisar a prtica do agente profissional por, ser este, o mediador da
prtica institucional quando a instituio convidada a intervir junto a realidade dos seus
usurios, sendo o profissional aquele que efetiva e concretiza os benefcios e os servios das
instituies (1983, p. 40). Segundo Serra (1983), evidencia-se a posio do intelectual
orgnico, no que se refere ao desempenho de seu papel ligado a classe dominante, ele se
torna o representante institucional e, em relao funo do intelectual orgnico, vinculado
s classes subalternas, ele assume a defesa dos interesses dessas classes (SERRA 1983, p.
40). E configura-se uma relao institucional na qual se identifica como fator relevante a
alterao dessas mesmas relaes, de modo que os sujeitos institudos deixem de ser os
executantes da lgica burocrtica-funcional da instituio. Os grupos instituintes podem
tambm colocar-se ao lado dos grupos institudos, assumindo propostas de mudanas no
interior das instituies em que atuam.
O profissional cotidianamente acaba por se colocar entre as demandas de seus
usurios e as determinaes das instituies, sendo que estas muitas vezes definem os meios
de interveno, bem como as modalidades de prtica profissional. Essa condio do trabalho
profissional nem sempre percebida pelo usurio como limites interveno profissional e,
tambm, como obstculo ao atendimento de sua demanda. A necessidade de o profissional
compreender essa dicotomia entre a prtica profissional proposta por parte da instituio, e as
carncias apresentadas pelos usurios, pode levar o assistente social a construir saberes
norteadores de prticas que resguardem sua relativa autonomia.
Quanto a prtica profissional, outro fator analisado o saber institucional assumido
na retrica profissional, ou seja, o profissional utiliza o saber como algo apropriado da
instituio e que por isso mesmo legitimo e, portanto, irrefutvel, porque produto de uma
instncia competente, no caso a instituio proprietria do mesmo. (SERRA, 1983, p. 42).
Assim, o compromisso do profissional junto ao usurio e a sociedade atrelam-se aos
objetivos institucionais. Por apresentar-se como exmio executor do saber institucional, o
Servio Social assumiu historicamente uma no propriedade terica, tendo o seu saber,
enquanto profisso, determinado pelo Estado e voltada para a execuo das polticas sociais
nas instituies (SERRA 1983).
Para Serra (1983) necessrio identificar no interior da profisso, em sua relao
com as classes dominadas, um possvel potencial de reao institucional, na medida em que,
em funo de sua ideologia e por presses da clientela, possa imprimir novas
intencionalidades sua prtica, colocando-se ao lado das classes dominadas, tendo em vista a
alterao das relaes de poder (1983, p. 44).
O Frum de Debate, utilizado como etapa da pesquisa, teve dois eixos principais:
- nas relaes entre a prtica profissional com o aparelho institucional e o contexto
social, passando pela caracterizao da natureza e funes desses trs componentes
- na prtica profissional institucionalizada e sua articulao com os movimentos
populares, passando pela relao com a organizao da categoria. (1983, p.51).
A partir das referncias e das citaes diretas, apresentadas nas falas dos participantes,
levantou-se a compreenso e os posicionamentos dos profissionais sobre o Estado, a
Ao problematizar o profissional enquanto proletrio com valores burgueses percebese uma referncia, mesmo que incipiente, ao Intelectual em Gramsci. Identifica-se a
vinculao do assistente social com as classes populares e a tendncia de se polarizar a
prtica na defesa de uma classe social antagonicamente a outra. No digerir o aspecto
contraditrio da insero profissional resulta em uma aparente crise de identidade sem saber,
por fim, como fica a situao do assistente social no contexto institucional.
O saber profissional debatido quando questionado a ideologia adotada pelos
profissionais no processo de formao por um comprometimento com a ideologia burguesa.
identificada, tambm, a importncia das categorias de anlise para orientar a prtica do
Servio Social e os interesses e necessidades das classes populares. A organizao poltica
por parte da categoria profissional, aliada aos movimentos sociais tambm essencial ao
processo de legitimidade e reconhecimento dos interesses da classe dominada.
(1982, p. 18). Ainda tratando disso, as prticas que se mediatizam atravs de recursos
assistenciais necessariamente no so apontadas como prticas profissionais, pois se
compreende que estas se materializam atravs da palavra aliada a tcnicas diversificadas.
Quer dizer, segundo Souza (1982, p. 18)
Ainda com essa caracterstica comum de ajustamento, as prticas de Servio Social
que se mediatizam atravs dos recursos assistenciais so comumente caracterizadas
como prticas assistenciais; e as que se mediatizam dominantemente sobretudo
atravs do recurso da palavra aliada a tcnicas diversificadas so comumente
caracterizadas como prticas de Servio Social propriamente ditas.
Dessa forma o Servio Social se torna profisso institucionalizada no apenas por ser
operada em uma organizao, mas por ter suas funes definidas para a relao de
intermediao entre ela e a populao e visto ainda neste contexto enquanto profissional
privilegiado no que trata da relao com os clientes.
Quanto a formao das instituies, a autora as coloca como resultado da necessidade
de controle e ao sobre um problema social e da constituio de uma sociedade calcada
em diferenas de classes e na diviso social do trabalho onde, gradativamente, precisa-se
criar formas de reger essa diferenciao principalmente a partir das sociedades capitalistas
que alguns grupos, apropriando-se dos bens sociais e instrumentos de trabalho passam a
reivindicar-lhe o domnio. Ora, reivindicar criar normas, leis, padres, valores que
legitimem essa apropriao (1982, p. 40). Segundo Souza (1982, p. 40), [...] a ascenso da
burguesia traz consigo o desenvolvimento e ampliao das instituies sociais, porque os
caminhos institucionais so instrumentos bsicos para a reproduo de sua estrutura de
relaes..
As instituies enquanto conjunto de saberes (normas, valores, ideologias) so
elementos fundamentais dos estudos de Durkheim, que compreendia a diviso social do
trabalho como fenmeno em si carente de significao.
Necessrio apontar ainda no que trata a reproduo da vida social atravs das idias,
normas padres e valores disseminados pelas instituies o seu nvel de operacionalizao,
seus meios de penetrao, observncia e realizao por via das organizaes. Estas so:
Como engrenagens criadas pela sociedade como meio de operacionalizao dos
elementos institucionalizados. Como tal, o conceito de organizao tem a ver com o
conceito de instituio. Se as instituies se elaboram na dinmica social, as
organizaes so como que uma aparelhagem para efetivao das funes
institucionais. Instituio e organizao so instncias diferentes de uma mesma
realidade. Na instncia organizacional, identifica-se um conjunto de meios para a
realizao dos valores e objetivos que identificam a instncia da instituio. Tais
instncias colocam-se como realidades concretas a partir das determinaes sociais
que as constituem (SOUZA 1982, p. 43).
Souza (1982) referencia Guilhon (1978) ao afirmar que [...] uma instituio s existe
na prtica de seus atores institucionais, a qual consiste em intervir nas relaes sociais
submetidas soberania da instituio GUILHON 1978 (apud. SOUZA 1982, p. 44). O
assistente social, como ator institucional, tambm artfice institucional atravs de sua
prtica. Ao entender o papel do Assistente Social enquanto interventor nas relaes sociais
que refletem o status quo da sociedade h de se evitar dois obstculos na efetivao da
prtica profissional que so:
Nessa busca por aes profissionais mais eficazes, objetivas e calculadas os atores
institucionais tornam-se objetos. Algo semelhante ocorre com as regras e princpios formais
que ao constiturem e viabilizarem a burocracia so tratadas como coisas, como formas. Por
conseguinte, no h considerao nas aes polticas executadas neste espao pois seus
princpios, enquanto instituio, estaro arraigados a esta lgica. Da o confronto entre
aes que privilegiam as decises polticas e aquelas que tm as leis, as normas e os
regulamentos como a verdade social entrarem continuamente em conflito (1982, p. 51).
Entretanto estes conflitos no so apenas enfraquecidos pelas normas gestadas em funo das
decises administrativas, mas tambm busca-se em bases da teoria das relaes humanas e na
constituio sistmica das relaes organizao/sistema social respostas para esses conflitos
(SOUZA, 1982).
A teoria dos papis de Parsons e a comportamentalista de Skinner que tm nos
indivduos a causa dos problemas do funcionamento social e organizacional so,
neste sentido, continuamente procuradas para embasar as aes arrefecedoras dos
conflitos da organizao e das relaes organizao/sistema social, atravs dos
agentes sociais envolvidos. Os conflitos originrios da situao desigual ocupada
pelos agentes sociais na instncia da produo dos bens materiais da sociedade no
so considerados como tais; as instituies e organizaes tambm no so
consideradas como solues resultantes de tais conflitos. Este desconhecimento
conduz ao realce da neutralidade social das organizaes e da burocracia como
forma superior de ao que, por sua vez, acobertada pela aparncia da neutralidade,
constitui caminho fcil para que as normas e diretrizes polticas que respondem s
demandas dos grupos privilegiados sejam assumidas pelo Estado e pelas
organizaes como oriundas da coletividade social. neste sentido que a
burocracia de instrumental racional de gesto passa a ser um eficaz instrumento de
dominao e explorao. (SOUZA 1982, p. 51).
moradias.
Esta diversidade de problemas a partir da tica institucional levou a uma busca de
unificao metodolgica da atuao profissional.[...] No entanto, a busca de um
mtodo comum a tantos problemas eliminou a questo central da discusso, isto , o
contexto institucional e de poder da atuao profissional (FALEIROS, 1991, p. 17).
Para Faleiros (1985), essa eliminao ocorreu de duas formas: pela reduo da
metodologia a um apanhado de etapas de conhecimento e pela opo de uma ao antiinstitucional a partir de movimentos sociais que combatessem essas instituies. Os
profissionais [...] que viam na metodologia apenas um meio de melhorar sua eficcia e sua
eficincia no trabalho institucional no souberam distinguir os objetivos profissionais dos
objetivos institucionais (1991, p.18).
Ao repensar a sua prtica profissional, o assistente social se voltou analise das
condies concretas. Sendo um profissional assalariado passou a questionar a venda da sua
fora de trabalho, de sua insero enquanto profisso til ao acmulo do capital, da dualidade
entre trabalho com produtividade e sem produtividade. (FALEIROS 1991).
O trabalho concreto do assistente social encobria seu carter abstrato. Este trabalho
concreto parecia til em si mesmo aos indivduos, oferecendo-lhes pequenas
compensaes na realidade de explorao, mas abstratamente o assistente social
vende sua fora de trabalho e, portanto, se encontra nas mesmas condies de
explorao (FALEIROS 1991, p. 19).
aparente preocupao um dos fatores que viabiliza seu aceite por parte da classe dominada,
essa face oculta a utilizao da violncia em busca do consentimento, da aceitao, numa
srie de medies organizadas para convencer, moldar, educar a compreenso e a vontade das
classes dominadas. (1991, p. 32).
O contrato a qual o cliente se submete a uma instituio se constitui, desde o princpio
como desigual, pois o cliente colocado em uma posio passiva. Se no aceita as normas
excludo dos benefcios possveis. Se se integra s normas da instituio socialmente
excludo, institucionalizado cliente, marcado pelas etiquetas profissionais, e s vezes
confinado pela mesma instituio VIRILO; BROBOFF; LUCCIONI 1972 (apud.
FALEIROS 1991, p. 33). Policia-se a vida do usurio atravs de fichas, entrevistas, visitas
tornando a instituio uma patrulha ideolgica da vida social do cliente.
Ao mesmo tempo exerce-se a mercantilizao para aqueles que no possuem meios
para consumir, ou seja mecanismos especiais de integrao ao sistema de produoconsumo existente, por intermdio da institucionalizao de certos servios (FALEIROS
1991, p. 33) so as casas populares, os bnus de alimentao. As instituies so veculos
dessa mercantilizao de bens e servios, transformando as relaes sociais em relaes de
compra e venda nos domnios da educao, da sade, do albergue.(FALEIROS 1991, p. 33).
As instituies como instrumento de polticas sociais, estruturam-se em funo de
categorias especiais de clientela, que variam segundo o contexto econmico, social
e poltico. Essas clientelas se formam segundo o problema que apresentem para as
classes dominantes num momento determinado: ora os mendigos (perigo social,
desestmulo ao trabalho), ora os menores (indisciplina social), ora os doentes
(enfraquecimento da mo-de-obra), e assim por diante. Ao separar em categorias
esses conjuntos ou camadas da populao, esconde-se sua realidade profunda, isto
, sua pertinncia s classes dominadas: operrios, camponeses, marginais e vastos
setores dos trabalhadores autnomos (FALEIROS 1991, p. 33).
Essas instituies pr-capitalistas tm origem no sistema feudal de favores pessoais envoltas pela
ideologia da caridade, do voluntariado, da boa vontade, veiculada pela igreja catlica. (FALEIROS
1985, p. 38)
O clientelismo se caracteriza por uma forma de espoliao do prprio direito do trabalhador de ter
um acesso igual aos benefcios sociais, pela intermediao de um distribuidor que se apossa dos
recursos ou dos processos de consegui-los, trocando-os por formas de obrigao que se tornam dbitos
da populao. Elas so cobradas, por exemplo, em conjunturas eleitorais ou mesmo para servios
pessoais aos intermedirios. Eliminando-se a igualdade de acesso, caracterstica do prprio direito
burgus, o clientelismo gera a discriminao, a incompetncia, o afilhadismo. (FALEIROS 1985, p.
51).
O autoritarismo implica o fechamento de todo o processo de elaborao das polticas pblicas
negociao, vindo impostas de cima para baixo e unilateralmente. O unilateralismo vem a ser a
predominncia ou a exclusividade dos interesses das classes dominantes, que no admitem qualquer
perda de seu domnio, tornando rgidas as relaes com as classes dominadas. O autoritarismo no
aceita a contestao, o questionamento, a divergncia, utilizando a represso como o meio
privilegiado de manter a ordem social. (FALEIROS 1985, p. 51).
O autor defende a necessidade de uma anlise das instituies mais profunda que
desvele no apenas as relaes entre seus atores, mas a relao que a instituio possui com o
contexto global de acumulao do capital e das lutas de classe. E paralelo a essa totalidade
concreta compreender o local em que o profissional est inserido. (FALEIROS 1991).
Sabemos que o processo de profissionalizao um processo histrico. Se cada
profisso tem a sua especificidade, necessrio analis-la no de forma isolada,
mas em termos globais. Poderemos identificar trs modelos de profissionalizao
dependendo das relaes de incerteza e autonomia de uma ocupao, na relao
produtor/consumidor. No primeiro modelo, segundo Terence Y. Johnson (1977), o
disso em seu exerccio profissional, ou seja, uma apreenso que inclua tambm o movimento
da sociedade e as diferentes determinaes na contemporaneidade. Os autores apresentados
trazem compreenses diversas acerca do Estado o que confirma a relevncia disto para a
anlise da instituio. Compreender o Estado em que as instituies se inserem condio
sine qua non no apenas a anlise institucional, mas ao exerccio profissional.
No que trata a insuficincia em produes de categorias de anlise na formao
profissional, e consequentemente, no exerccio profissional Weisshaupt (1988) aponta
necessidade destas serem utilizadas como instrumentais de anlise e no apenas como
supostos instrumentos de afirmao Sem essas categorias, a prescrio no se apia na
descrio, a orientao no conhecimento e o 'dever ser' ocupa todo o lugar do 'ser puro e
simples. (1988, p. 47). Ou seja, alm de construir categorias de anlise necessrio
relacion-las na formao para, enquanto profissionais em espaos scio-ocupacionais,
subsidiarem a prtica profissional no como um mero exerccio conceitual, mas com
correspondncia no cotidiano.
A delimitao no espao institucional entre agentes institucionalizados e clientela
pode permitir uma leitura da instituio que ultrapasse a diviso entre profissionais e
usurios. Discute-se a participao em espaos institucionais como definidores da
interveno que a instituio tem por misso exercer em sociedade. Pode-se ento discutir
a noo de que nos espaos institucionais os sujeitos (funcionrios, profissionais, estafes)
esto muitas vezes divididos entre os que possuem algum mando e os que esto
aprisionados a subordinao. Entretanto, preciso mais do que compreender a disposio
do discurso competente9 nestes espaos. Abstrair, do prisma destes agentes, as correlaes de
foras gestadas no interior das instituies cair no equvoco de restringir a compreenso dos
estafes ao nvel normativo no interior dos cargos. No se trata de desvendar quem o
chefe, mas reconhecer como se do as relaes de poder e de quais formas pode se
fomentar movimentos de alterao nas instituies. Como se pode notar essa
intencionalidade mvel, no apenas no que abrange aos objetivos pelo qual so exercidos,
Segundo Marilena Chaui O discurso competente aquele que pode ser proferido, ouvido e aceito
como verdadeiro ou autorizado (esses termos agora se equivalem) porque perdeu os laos com o lugar
e o tempo de sua origem. [...] O discurso competente o discurso institudo. aquele no qual a
linguagem sofre uma restrio que poderia assim ser resumida: no qualquer um que pode dizer a
qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer circunstncia. O discurso competente
confunde-se, pois, com a linguagem institucionalmente permitida ou autorizada, isto , com um
discurso no qual os interlocutores j foram previamente reconhecidos como tendo o direito de falar e
ouvir, no qual os lugares e as circunstncias j foram predeterminadas para que seja permitido falar e
ouvir e, enfim no qual o contedo e a forma j foram autorizados segundo os cnones da esfera de sua
prpria competncia. (2003, p.7)
mas pelo prprio movimento do real nestes espaos. As relaes de poder so mutveis, bem
como a prpria instituio ao ser compreendida enquanto.
[...] relaes de foras e, consequentemente, regimes de imposio. Nelas se
determina um status quo, que apresentado como o melhor possvel para todos.
Visando o corpo social plenamente, a instituio no deixa de ser instrumento de
dominao, mas apresenta a dominao como legtima. Nessa perspectiva, isto ,
quando deixa de ser vista como mera organizao e passa a ser encarada como uma
relao de foras, a instituio explicitamente o lado quotidiano, obscuro talvez,
daquilo que recebeu a luminosa definio de `lutas de classes. (WEISSHAUPT
1988, p. 27).
preciso discutir ainda o papel dos usurios nesta leitura da instituio enquanto
relaes de foras. Atravs da permeabilidade que as instituies apresentam junto as
demandas de seus usurios pode-se avaliar o quo aberta ela est a participao deste plo
em seu interior. No se trata apenas da discusso acerca da institucionalizao de uma ou
mais demandas, mas da prpria redefinio de modos de constituir-se enquanto organizao
para responder a realidade de seus usurios, e indo alm, possibilitando a participao destes
no seu interior. Dessa forma a participao dos usurios ultrapassa a compreenso
burocrtica legalista que se legitima atravs de contribuio por parte dos usurios, das
condicionalidades cumpridas, da integrao ao espao institucional voluntariamente ou no
e se constitui enquanto definidora de sua prpria organizao. Exercer essa leitura, da
permeabilidade da instituio no plo dos clientes permite o tencionamento em diferentes
direes e objetivos visando a superao da prpria relao binominal entre
Estafe/Pensionista.
Ainda no que trata da participao dos usurios pode-se resgatar aquilo que Faleiros
(1991) apontou como a 4 opo de estratgia do profissional que apreende a correlao de
foras institucionais visando a formao de uma aliana, um compromisso entre tcnicos e
profissionais, e as categorias e grupos de classe dominadas visadas pelo organismo, descrita
por fim, como uma ruptura com a lealdade irrestrita da violncia institucional. Palma (1993)
corrobora com essa opo e defende uma ampla aliana que inclua funcionrios e outros
profissionais visando o apoio a presso da organizao popular.
A aliana mais fundamental que deve ser procurada pelo Servio Social com a
organizao popular, com os usurios organizados. [...] a mobilizao popular em
defesa das mesmas demandas que, na outra ponta do circuito, envolvem o
assistente social, esta mobilizao popular a nica garantia de que os interesses
populares estaro includos nas polticas sociais. (PALMA, 1993, p. 136).
11
O conceito de intelectual orgnico implica as relaes dos grupos intelectuais com as classes
fundamentais e a explicitao de suas funes tcnicas. A concepo de organicidade inerente
formao mesma as suas competncias e das funes que desenvolvem no interior do modo de
produo capitalista, inclusive o encaminhamento das lutas junto classe a que est vinculado.
(SIMIONATTO 1999, p. 58)
Um das caractersticas no s do clero, mas de todos os intelectuais tradicionais, a de se conceberem
como categoria autnoma. A esse respeito, Gramsci (1977, p. 1515) escreve: 'Dado que estas vrias
categorias de intelectuais sentem com 'esprito de grupo' sua ininterrupta continuidade histrica e sua
'qualificao', eles consideram si mesmos como sendo autnomos e independentes do grupo social
dominante [...] revestidos de caractersticas prprias. (SIMIONATTO 1999, p. 58)
risco de se restringir aos aspectos definidos em razo do modo de produo atual, quando em
suma a universidade tambm uma instituio medieval que ainda hoje preserva
caractersticas deste solo histrico. Outro exemplo o hospital, ao analis-lo enquanto
instituio contempornea, suspenso de sua historicidade, o identificamos como espao onde
a funo social predominante a cura de enfermidades atravs do saber mdico, entretanto
em uma anlise vinculada a sua gnese histrica o hospital assume uma outra constituio.
Antes do sculo XVIII, o hospital era essencialmente uma instituio de assistncia
aos pobres. Instituio de assistncia, como tambm de separao e excluso. O
pobre tem necessidade de assistncia e, como doente, portador de doena e de
possvel contgio, perigoso. Por estas razes, o hospital deve estar presente tanto
para recolh-lo, quanto para proteger os outros do perigo que ele encarna. [...]
Dizia-se corretamente, nesta poca, que o hospital era um morredouro, um lugar
onde morrer. E o pessoal hospitalar no era fundamentalmente destinado a realizar a
cura do doente, mas a conseguir sua prpria salvao12. (FOUCAULT 1998, p. 58).
12
social; assim como da sade, previdncia social e demais atividades sociais.(SIMES 2007,
p. 437). Antes, a profisso foi originalmente reconhecida pela Lei n. 3.252, de 27/08/1957 e
regulamentada pelo decreto n. 994, de 15/05/1962, classificada como de natureza tcnicocientfica, cujo exerccio determina a aplicao e processos especficos de servio social.
O Cdigo de tica enquanto regulao no mbito das profisses foi instituda
[...] historicamente, medida que certas profisses, at ento exercidas por
iniciativa individual e privadamente (de que so os exemplos histricos os mdicos
e os advogados, da o conceito de liberais), foram se tornando categorias
profissionais, a partir dos fins do sculo XIX. Enquanto as categorias operrias se
organizam por ramo industrial (pelo critrio da similaridade, como os metalrgicos,
por exemplo) ou por conexo (como os trabalhadores na construo civil), os
liberais organizam-se por identidade profissional. (SIMES 2007, p. 468).
seus legtimos objetivos. (CFAS 1965) O art. 28 ainda afirma a obedincia rigorosa aos
preceitos ticos e as legtimas exigncias da entidade.
O Cdigo de tica de 1975, no Ttulo II Direitos e Deveres do Assistente Social,
Captulo II Dos Deveres nas Relaes com Instituies afirma o respeito poltica
administrativa da instituio empregadora (CFAS 1975) como uma prerrogativa para a
prtica profissional.
O Cdigo de tica de 1986 no Captulo II Das Relaes com as Instituies legitima
como direitos do Assistente Social administrar, executar e repassar os servios sociais
visando tambm fortalecer as novas demandas de seus usurios e a alterao da correlao
das foras do interior da instituio para reformulao de sua natureza, estrutura e programas
visando assim privilegiar os interesses da classe trabalhadora. O Art. 9 garante independente
da natureza da instituio, se pblica ou privada, a garantia de condies adequadas de
trabalho, bem como o respeito sua autonomia e princpios ticos. (CFAS 1986). Quanto aos
deveres do Assistente Social na relao com a instituio cabe aqui reproduzir os seguintes:
b) Denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituio em que
trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princpios e diretrizes contidos
neste Cdigo, as necessidades, os direitos e os interesses da classe trabalhadora; c)
Dirigir-se, obrigatoriamente, ao Conselho Regional de Assistentes Sociais, s
demais entidades da categoria e a outras que a matria disser respeito, quando no
encontrar ressonncia na instituio em termos de modificao das falhas
apontadas. (CFAS 1986).
O aparato legal disposto profisso, tanto pelo Cdigo de tica quanto pela resoluo
n 493/2006, contribuem para a normatizao da relao entre instituio profissional com
aspectos da discusso acerca das condies de trabalho do Assistente Social e a sua insero
no mbito institucional.
Quanto s condies de trabalho, ao discutir a condio do Assistente Social enquanto
profissional liberal e de relativa autonomia na conduo do exerccio profissional indicativo
o fato de que Os empregadores determinam as necessidades sociais que o trabalho do
assistente social deve responder; delimitam a matria sobre a qual incide esse trabalho;
interferem nas condies em que se operam os atendimentos assim como os seus efeitos na
reproduo das relaes sociais. (IAMAMOTO 2008, p. 215). O movimento histrico da
profisso, em sua relao com as instituies empregadoras, perpassada pela luta por
condies de trabalho como determinante para o exerccio profissional, pois
[...] ainda que os profissionais disponham, no mercado de trabalho, de uma relativa
autonomia na conduo de suas atividades, os empregadores articulam um conjunto
de condies que informam o processamento da ao e condicionam a possibilidade
de realizao dos resultados projetados, estabelecendo as condies sociais em que
ocorre a materializao do projeto profissional em espaos ocupacionais
especficos. (IAMAMOTO, 2008, p. 215).
Ao citar o texto de L. Althusser Ideologia e Aparelhos Ideolgicos do Estado Albuquerque alega que
Nesse texto, o autor lembra que a reproduo econmica tem relao com a produo social e que a
reproduo ideolgica por sua vez, tem relao com a reproduo econmica. O problema das
relaes entre o ideolgico, o econmico e a poltica fica, portanto, colocado, e Althusser prope uma
soluo de conjunto (ALBUQUERQUE 1986, p.5)
autora alerta que insuficiente uma anlise institucional que se aproprie do arsenal
psicanaltico que trata do inconsciente, mesmo porque o no-dito no interior das
instituies refere-se muito mais s estruturas de autoridade.
Luz (1979) defende a importncia de uma anlise que ultrapasse os modelos
tradicionais, ou seja, o modelo descritivo, no qual frequentemente permanecem as anlises.
Em uma anlise institucional tradicional ocorre sua descrio como subsistemas ou meios
face a um Sistema ou conjunto de Fins dados (que) tm o efeito ideolgico-poltico
especfico de apresent-los (as instituies) como encarnao da Ordem, entendida como
sistema coerente, harmnico, natural, isto : sem contradies, sem lutas, sem histria
(1979, p.24). Em oposio opta-se por uma abordagem analtica que pretenda
Ir alm de descrever sistemas de informaes e decises institucionais ou de traar
uma historiografia do funcionamento das instituies [...] trata-se de uma
abordagem analtica especificamente poltica porque pretende descobrir nas
instituies sua densidade especfica como modo de produo social, evitando
reduzi-las a reflexo da evoluo das foras produtivas ou funo de reprodutoras
das relaes sociais de produo. (1979, p. 23 e 24).
Em seu stio, no cone Quem Somos a descrio alega o seguinte: A Petrobras movida pelo
desafio de prover a energia capaz de impulsionar o desenvolvimento e garantir o futuro da sociedade
com competncia, tica, cordialidade e respeito diversidade. Somos uma sociedade annima de
capital aberto, cujo acionista majoritrio o Governo do Brasil, e atuamos como uma empresa de
energia nos seguintes setores: explorao e produo, refino,comercializao e transporte de leo e
gs natural, petroqumica, distribuio de derivados, energia eltrica, biocombustveis e outras fontes
renovveis de energia. Lder do setor petrolfero brasileiro, expandimos nossas operaes para estar
seu stio anuncia de forma a se caracterizar como relevante para a existncia da vida social,
medida que se prope a garantir o futuro, desenvolvimento da nao apelando valores
como diversidade, respeito, tica e cordialidade.
Dessa forma, qualquer anlise institucional que priorizasse apenas o dito teria como
resultado uma imagem ingnua e, at mesmo falsa de sua dinmica e organizao. A ateno
em torno do no dito, do oculto pelo discurso essencial medida que as normas
institucionais encobrem profundas contradies sobre as quais elas esto assentadas e se
reproduzem.
Ainda utilizando o exemplo acima, percebe-se qualidades admirveis na retrica
institucional. Ao alegar que seu objetivo principal o desenvolvimento e a garantia do futuro
da sociedade, no apenas se assume uma responsabilidade legtima perante a sociedade, mas
se insere a idia de que se essa empresa contribui para essa perspectiva ideal de
desenvolvimento, sem a mesma talvez no se consiga tamanho xito. No satisfeita ainda, a
empresa em questo assume uma fala na 1 pessoa do plural, ps ao dizer somos a empresa
no est apenas se antropomorfizando, mas nos incluindo em sua justificativa ou misso de
desenvolvimento e prosperidade15.
Dessa maneira uma empresa/corporao, ou uma instituio, nunca alegar em seu
discurso que seu objetivo explorar os recursos naturais, poluir o meio-ambiente ou
reproduzir e manter a ordem hegemnica atual. A justificativa sempre ficar no nvel
normativo, do aceitvel, explicando que suas aes advm da necessidade de seu
desenvolvimento e crescimento e estes como elementos indissociveis ao crescimento,
desenvolvimento e prosperidade da sociedade.
As instituies mantm uma relao recproca com a sociedade em que se insere.
Pois,
No h explorao econmica sem que se institucionalizem simultaneamente
relaes de poder autoritrias, mas tambm no possvel manter esse autoritarismo
(dominao) sem apresent-lo ideologicamente como necessrio, natural e
15
entre as cinco maiores empresas integradas de energia no mundo at 2020 e estamos presentes em 28
pases. O Plano de Negcios 2009-2013 prev investimentos de US$174,4 bilhes. (sitio Petrobras
2010)
Ainda tenta romper com a percepo inicial das pessoas, que associam a Petrobras a empresa
extratora de petrleo ao no citar esta palavra em sua descrio enquanto empresa, em seu lugar versa
sobre pesquisas com biocombustveis e outras fontes renovveis de energia citando a
responsabilidade social uma ao em voga entre as empresas e corporaes. Obviamente no se fala
nesta descrio sobre os efeitos nocivos do petrleo, os histricos acidentes envolvendo
derramamento da substncia e o fato de que enquanto alega-se pesquisas em fontes de energia
renovveis (como a elica) os investimentos massivos para a perfurao do Pr-sal so a prioridade da
empresa.
Assim, o conceito de poder como sinnimo de dominao tem sido aplicado macro-anlise poltica
quase em carter exclusivo. Sua aplicao s instituies vistas como micro poderes somente a
partir do final da dcada de sessenta vem sendo feita pela anlise institucional. (LUZ 1979, p. 27)
Torna-se necessrio indagar o que cabe a cada instituio existente sobre tal estrato,
isto , que relaes de poder ela integra, que relaes ela mantm com outras instituies, e
como essas reparties mudam, de um estrato para outro (NEVES 2005, p. 69) para que
possamos compreender a lgica de funcionamento no interior da disposio dos
equipamentos organizacionais inseridos nas instituies.
CONSIDERAES FINAIS
As consideraes finais, para mim, podem ser um meio de harmonizar as idias
apresentadas ao longo de um trabalho demonstrando que algo pode ser concludo a partir de
uma pesquisa e resultando tambm em um aprendizado cristalizado. Ou pode ao longo de
uma reviso sobre a produo apresentada suscitar mais duvidas e inquietaes acerca do
tema. Dado a complexidade do tema e os desafios que se colocam para a compreenso deste
apresentarei alguns elementos que possam contribuir na compreenso da anlise institucional
e concluses acerca desta.
O documento da Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social ABEPSS: Diretrizes Gerais para o Curso de Servio Social apresentou uma nova lgica
curricular formao profissional. Para a ABEPSS a formao deve expressar uma dinmica
de ensino embasada na dinmica da vida social que possibilite a insero profissional nos
espaos scio-institucionais. Assim ao propor um currculo divido em trs ncleos de
fundamentao17 interdependentes permite a identificao de momentos na formao que
podem viabilizar a anlise institucional enquanto agregada prtica profissional.
No Ncleo de Fundamentos da Formao Scio-Histrica da Sociedade Brasileira
aponta-se a importncia de diferentes objetos de anlise, tais como o Estado brasileiro para
apreender as relaes entre Estado e Sociedade, desvelando os mecanismos econmicos,
polticos e institucionais criados, em especial as polticas sociais, tanto no nvel de seus
objetivos e metas gerais, quanto no nvel das problemticas setoriais a que se referem.
(ABEPSS 1996, p.11). Nesse mesmo documento l-se o significado do Servio Social no
seu carter contraditrio, expresso no confronto de classes vigentes na sociedade e presentes
nas instituies, o que remete tambm a compreenso das dinmicas organizacionais e
institucionais nas esferas estatais e privadas. (ABEPSS 1996, p.11, 12).
O Ncleo de Fundamentos do Trabalho Profissional compreende a profissionalizao
do Servio Social como uma especializao do trabalho e sua prtica enquanto concretizao
de um processo de trabalho, tendo como objeto as expresses da questo social. Em seguida
justifica que para se compreender as particularidades do Servio Social, nesta perspectiva,
necessrio apreender o conjunto de caractersticas relevantes a institucionalizao da
profisso. Dessa forma:
17
igualmente importantes. Identificam-se as salas do Servio Social pelas placas nas portas,
no pela compreenso dele enquanto constitudo de processos particulares e contraditrios
naquele mesmo espao. Ser isso resultado da posio galgada e legitimada pelo Servio
Social nas instituies ao inserir-se e conquistar um espao, mas que de certa forma teria
resultado na aparente estagnao do debate em torno dos espaos scio-ocupacionais?
A anlise institucional ainda reveladora de tipos de entendimento e definidora de
prticas, pois ao mesmo tempo em que exige o deslocamento analtico profissional de um
espao j estabelecido, demonstra ainda a leitura que este desenvolve acerca do espao scioocupacional possibilitando a redefinio da prtica profissional atrelada a este mesmo local
com uma leitura de totalidade viabilizada pela anlise.
Faleiros (1991) ao dizer que a correlao de foras define os problemas e que por elas
se pode elaborar as solues, acaba por defender a necessidade da construo de categorias
que permitam a apreenso da realidade, compreenso esta tambm defendida por Weisshaupt
(1998). a partir da anlise que se pode estabelecer as estratgias, como apregoadas pelo
Cdigo de tica de 1993, privilegiando os interesses da populao usuria atravs do
exerccio profissional.
Perceber a instituio, apenas enquanto engrenagem de reproduo do Estado,
vinculada necessariamente aos interesses de uma classe pode resultar em uma anlise
empobrecida, compreend-la enquanto constituda pela existncia de relaes entre seus
atores pode enriquecer o entendimento profissional, pois a instituio no um fim em si
mesma, autnoma e independente. Sem os sujeitos que nela habitam, ela deixaria de existir.
Isso ultrapassa a viso estrutural das organizaes. Significativo tambm perceber os
mltiplos habitantes institucionais identificveis nestes espaos ultrapassando a polarizao
existente entre profissionais e usurios, incluindo diversas possibilidades entre estes eixos. O
Assistente Social ao mesmo tempo compreendido, neste meio, como informante dos
servios da organizao em uma relao de intermediao da instituio com a populao e
como agente privilegiado no que concerne o contato com os usurios.
significativa nas obras analisadas uma ausncia conceitual do Estado que dialogue
com sua histria sem necessariamente incorrer na fragmentao deste para justificar
momentos histricos do prprio Estado. Dessa forma restritiva a anlise que anseia
apresentar sobre o Estado etapas distintas atreladas as transformaes econmicas do sculo
passado, por exemplo, e que como resultado conclua que na contemporaneidade este pura
determinao da regulao econmica.
Ainda a partir do entendimento da profisso enquanto inserida na diviso scio
tcnica do trabalho pode-se perceber uma prevalncia de abordagens acerca das instituies
que utilizam como eixo de discusso as condies de trabalho, o tipo de poltica social a qual
as instituies se vinculam, a democratizao da sociedade brasileira com os limites
neoliberais na execuo das polticas sociais aliada a um excesso de normatizao na
efetivao dessas polticas.
De
toda forma no h como encerrar este trabalho sem recorrer ao livro que permitiu seu incio.
Longe de ser uma leitura romanceada de uma instituio Todos os Nomes desencadeia no
leitor o prazer pela narrativa justamente por nos fazer perceber o quo atrelado a estes
espaos esto as nossas decises e opes, e ao mesmo tempo, o quanto nossas vidas se
gestam em espaos organizacionais opressores. Dessa forma a subverso da lgica
institucionalizada tambm uma forma de nos modificarmos enquanto sujeitos. Assim como
o Sr. Jos, que optou pelo fio de Ariadne para adentrar o cemitrio de papis e modificar de
forma irreversvel a instituio onde trabalhava, permitindo que os vivos e os mortos
habitassem o mesmo espao, h tambm opes que devem ser construdas, descobertas e
refutadas pelos profissionais.
A Conservatria Geral ns conhecemos, permitir perder-se ou encontrar-se l nossa
deciso.
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