O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo
O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo
O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo
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INTRODUO1
A Personalidade Mltipla um transtorno
mental de difcil diagnstico devido
sintomatologia diversificada e sua forte
comorbidade , atualmente catalogada como
Transtorno Dissociativo de Identidade, s se tornou
um diagnstico oficial da Associao Americana de
Psiquiatria em 1980. Para este distrbio dissociativo
existem critrios especficos definidos no Manual
Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
(DSM-IV-TR, 2003), e registro na Classificao
Estatstica Internacional de Doenas (CID-10,
1993).
No mago das caractersticas da sndrome,
que no um artefato iatrognico e cuja
caracterstica essencial a existncia dentro do
indivduo de duas ou mais personalidades distintas,
cada qual dominante num momento especfico,
1
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encontram-se
as
chamadas
personalidades
alternativas, mltiplas ou alters (Hacking, 1995).
Explicaes etiolgicas focalizam questes
traumticas como sendo o principal fator
desencadeador da dissociao anormal da
conscincia, um mecanismo de defesa resultante de
agresses e abusos fsicos, sexuais ou psquicos,
responsvel pelo encadeamento das emersesimerses das mltiplas personalidades (Putnam,
1989; Steinberg, 1994).
Para Freud (1923/1996), (...) talvez o
segredo dos casos daquilo que descrito como
personalidade mltipla seja que as diferentes
identificaes apoderam-se sucessivamente da
conscincia. (pp. 43). Ele tambm, juntamente
com Joseph Breuer, apresentou informaes que
esto em consonncia com os critrios diagnsticos
atuais da Personalidade Mltipla:
(...) Num mesmo indivduo so possveis
vrios agrupamentos mentais que podem
ficar mais ou menos independentes entre si,
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Marcello de A. Faria
1893
Azam
estudou
e
acompanhou
intermitentemente Flida. Ele declarou que em sua
condio normal ela era de inteligncia comum,
mas que se tornava brilhante na condio
secundria. Nesta ltima, era bem consciente no
somente da condio secundria prvia, mas
tambm sobre toda a sua vida. Em seu estado
normal nada conhecia de sua condio secundria
exceto o que os outros lhe contavam.
O caso Hlne Smith, cujo verdadeiro nome
era lise-Catherine Mller, foi publicado pela
primeira vez em 1899. Encontra-se registrado no
livro intitulado From India to the Planet Mars: A
Study of a Case of Somnambulism with Glossolalia,
escrito por Thodore Flournoy, prefaciado por C. G.
Jung. Um conceito pioneiro que Flournoy fez uso
em seu estudo, diretamente ligado problemtica
da Personalidade Mltipla, foi o de criptomnsia ou
memria escondida (Flournoy, 1899/1994).
Christine L. Beauchamp representa mais
um clssico de expressivo valor para a compreenso
da Personalidade Mltipla. Conforme Prince
(1905/1957), cada uma de suas personalidades
secundrias era somente uma parte do ego normal e
inteiro. A paciente mudava de personalidade de vez
em quando, freqentemente de hora em hora, e em
cada mudana seu carter era transformado e suas
recordaes alteradas. Alm da realidade original,
Christine podia ser qualquer uma dentre trs
pessoas diferentes. Embora fazendo uso de um
mesmo corpo, cada personalidade possua
caractersticas distintas. Uma diferena manifestada
por diferentes traos de pensamento, por diferentes
pontos de vista, diferentes convices, ideais e
temperamentos, e por diferentes aquisies, gostos,
hbitos, experincias e recordaes.
Certamente,
muitos
outros
casos
envolvendo a Personalidade Mltipla poderiam ser
descritos detalhadamente, tais como: Lonie,
paciente cujo caso est documentado em Janet
(1889); Eva, histria registrada em Sizemore
(1978), que se transformou num clssico do cinema
tendo Joanne Woodward desempenhado o papel
principal e ganhado o Oscar de melhor atriz de
Hollywood, em 1957; Sybil, paciente da
psicanalista Cornelia B. Wilbur, descrita em
Schreiber (1973), cujo quadro clnico apresentou
uma hierarquia contendo dezesseis personalidades;
Henry
Hawksworth,
paciente
mltiplo
documentado por Schwarz (1977); e Billy Milligan,
serial killer que apresentou vinte e quatro
personalidades distintas identificadas em seu
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Figura 1. Pirmides seqenciais elaboradas por Caroline.
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Figura 2. Pirmides seqenciais elaboradas por Dalva.
A pirmide que Dalva disse ter mais
gostado de fazer foi a primeira. A que gostou menos
foi a terceira. As cores que disse mais e menos
gostar no dia-a-dia so azul e marrom
respectivamente. Em relao ao material do teste, as
cores que mais e menos gostou foram Vi1 ela
disse ser esta a cor da espiritualidade e Vd1.
A justificativa de Dalva para escolher a
primeira pirmide como a mais bonita, atentando
para os aspectos cor e forma, foi: Porque as cores
se combinaram e a formao ficou muito boa. J
para a terceira pirmide, escolhida como a menos
bonita, realando necessidades de liberdade e
proteo familiar, ela verbalizou: Por causa da
formao. D impresso de falta de liberdade.
Tanto o azul quanto o rosa parecem estar presos e
pressionados. Nas outras as cores esto juntas pela
liberdade. Por outro lado, apesar da impresso de
falta de liberdade, eu quis representar trs
personalidades inteno explcita e especfica. De
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Figura 3. Reproduo das pirmides elaboradas por Caroline (re-teste).
A pirmide que Caroline disse ter mais
gostado de fazer foi a terceira e a que gostou menos
foi a segunda. As cores que disse mais e menos
gostar no dia-a-dia so azul e preta respectivamente.
Em relao ao material do teste, as cores que mais e
menos gostou foram Az3 e Ma1.
A justificativa dela para escolher a terceira
pirmide como a mais bonita, salientando
necessidade integrativa, foi: Porque no sinto
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Trauma
Real
Dissociao
Alters
Personalidade
Mltipla
Integrao
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SOBRE O AUTOR:
Marcello de A. Faria: Marcello de Abreu Faria: Psiclogo, Mestre em Psicologia Clnica e Tecnlogo em
Informtica. Adicionalmente, Membro Regular da International Society for the Study of Trauma and
Dissociation (ISST-D), Scio Efetivo da Associao Brasileira de Rorschach e Mtodos Projetivos (ASBRo) e
Membro Titular do Instituto Brasileiro de Avaliao Psicolgica (IBAP).
Avaliao Psicolgica, 2008, 7(3), pp. 359-370