Hanseniase
Hanseniase
Hanseniase
RIBEIRO PRETO
2004
RIBEIRO PRETO
2004
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial desta tese, por qualquer meio
convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRFICA
FOLHA DE AVALIAO
Pesquisador: Jos Martins Pinto Neto
Ttulo: A percepo dos comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase sobre a
doena, o convvio com o doente e o controle realizado pelo servio de sade
Tese apresentada ao Programa Interunidades de
Doutoramento em Enfermagem da Escola de
Enfermagem de Ribeiro Preto e Escola de
Enfermagem da Universidade de So Paulo, inserida
na Linha de Pesquisa Sociedade, Sade e
Enfermagem, para a obteno do Ttulo de Doutor
em Enfermagem.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr Tereza Cristina Scatena Villa
Instituio: Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP
Assinatura: _________________________
Prof Dr Maria Helena Pessini de Oliveira
Instituio: Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP
Assinatura: _________________________
Prof. Dr Denise Aparecida Mencaroni
Instituio: Centro Universitrio de Votuporanga/SP
Assinatura: _________________________
Prof. Dr Norma Tiraboschi Foss
Instituio: Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto/USP
Assinatura: _________________________
Prof. Dr. Marcos da Cunha Lopes Virmond
Instituio: Instituto Lauro de Souza Lima Bauru/SP
Assinatura: _________________________
Resultado da Avaliao pela Banca Examinadora:________________
Data da Defesa: 6/12/2004
DEDICATRIA
HOMENAGEM ESPECIAL
Prof TITE, orientadora desta tese, que me acompanhou desde os meus primeiros passos na
ps-graduao stricto sensu na EERP/USP, em 1997, e me proporcionou oportunidades de
crescimento intelectual, mostrando-me caminhos no mundo da pesquisa, e incentivou-me
produo cientfica e socializao dos conhecimentos, valorizando e lapidando meus
primeiros artigos e compartilhando alegrias quando da publicao dos mesmos. Voc um
exemplo de profissional que conseguiu ocupar um espao consolidado na docncia e na
pesquisa da enfermagem brasileira, assumindo a coordenao da pesquisa operacional em
tuberculose na REDE TB e na International UNION against Tuberculosis em Paris,
envolvendo todos os seus orientandos de iniciao cientfica, mestrado e doutorado em seus
projetos, oferecendo-lhes oportunidades de desenvolver suas pesquisas numa perspectiva de
grupo, exigindo determinao, compromisso e responsabilidade na construo do
conhecimento cientfico. Tambm agradeo a sua hospitalidade e a de seus familiares nas
reunies de orientao em sua residncia e na fazenda, assim como por responder com
agilidade meus e-mails e manter-me inteirado das pesquisas do grupo que coordena. Obrigado
de mente e corao.
curso que construmos juntos. A vocs, amigos desde a poca da graduao: Ani Fabiana
Berton, Maria Vigoneti de Arajo Lima Armelin, Roselma Luchese e Sandra Regina de
Godoy; aos meus ex-alunos: Adriana Sartoreto Mafra, Arlia Dias Gomes, Cludia Jaqueline
Martinez Munhoz, Cludia Maria Nogueira Frana, Luciana Aparecida Ribeiro Ramos,
Luciana Benez de Souza, Niczia Vilela Junqueira Franqueiro, Patrcia Moita Garcia
Kawakame, Srgio Flix do Nascimento; Dr Jomara Brandini Gomes e Slvia Bortolozo
Garcia de Oliveira, as primeiras referncias em enfermagem na minha carreira profissional.
Enf Sandra Roberta Alves da Cruz, diretora do Grupo de Vigilncia Epidemiolgica do
Ncleo Regional de Sade de Jales, pela compreenso e apoio em todo este processo de psgraduao, facilitando o meu trabalho na equipe, proporcionando-me a oportunidade de
direcionar minhas atividades profissionais para a rea da hansenase. Aos amigos do GVE
onde atuo: Cristiane Andrade Zanin, Enf Eunice da Silva, Eunice Helena Barbosa da Silva,
Enf Margaret da Glria Cortez, Marisa Aparecida Curioni e Pedro Jos dos Reis: obrigado.
Margaret, como lhe agradecer por todos estes anos de convivncia e amizade entre ns e
nossas famlias, pela ajuda das mais diversas formas nesta tese, seja assumindo meus
compromissos na VE, na transcrio e conferncia das entrevistas e em tantas outras
atividades? E a voc, Pedro, pela nossa amizade construda ao longo destes anos na VE, pela
sua disponibilidade para a digitao, correo e formatao desta pesquisa? Sou muitssimo
grato a vocs.
Prof Cludia Eli Gazeta, do Curso de Enfermagem da FAMERP, que compartilhou comigo
o processo de ps-graduao desde 1997, nas viagens para a realizao das disciplinas em
Ribeiro Preto e So Paulo, na co-autoria de trabalhos apresentados em eventos e artigos
publicados, nos estudos e seminrios. Obrigado pelos laos de amizade entre nossas famlias.
Prof Gledes Paula de Freitas Rondina, que compartilha comigo as disciplinas tericas e a
superviso de aulas prticas e estgios na rea da Sade Coletiva e, sobretudo, pela amizade
existente entre nossas famlias.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), pelo
financiamento desta pesquisa por meio de bolsa de estudo.
Ao mdico Mrcio Csar Reino Gaggini, pelo apoio e respeito a minha atuao como
professor/enfermeiro, no interesse em colaborar no processo de ensino-aprendizagem, e pela
motivao que tem para a pesquisa.
Prof Andria Dias, que compartilha comigo o cenrio do CADIP para o ensino da
hansenase aos alunos de fisioterapia, pela amizade, estmulo e co-autoria em trabalhos.
Prof Dr Jomara Brandini Gomes, pelo atendimento das minhas solicitaes na fase da
anlise dos dados, por meio das orientaes fornecidas, as quais foram importantes para a
compreenso deste processo.
Prof Leise Carrijo Machado e a Prof Dr Luciana de Lione Melo do Curso de Enfermagem
da Fundao Educacional de Votuporanga, pela colaborao, no incio da anlise dos dados,
quando as entrevistas ainda consistiam para mim um mundo a ser decodificado. E Prof
Snia Maria C. de Moraes Franco, pelo apoio no fornecimento de bibliografias sobre famlia.
Dr Samira Bhrer-Skula, do KIT (Royal Tropical Institute) da Holanda, e Prof Letcia
Maria Eidt, do Rio Grande do Sul, pela colaborao no envio de bibliografias que muito me
auxiliaram, principalmente na anlise dos dados.
s funcionrias da EERP/USP: Maria Bernadete Malerbo, Deolinda Fabri, Maria de Lourdes
Batista de Abreu, Aparecida Maria dos Santos Doretto, Adriana Amaro dos Santos Souza,
Ketheleen Caroline Ferraz Sampaio chefe da seo de ps-graduao e sua equipe; cada
uma na sua rea, pela ateno, cordialidade e informaes recebidas.
s funcionrias da FEF: Maria Clotilde Mioto, Sueli Aparecida Teixeira e Elissandra Pereira
Hurtado, pela amizade, apoio e incentivo.
Ao Jos Verglio da Silva, por dispor de seu tempo para meu translado para Ribeiro Preto em
muitas ocasies desde o incio do mestrado, e ao Paulo Jferson Demnico e Izete de Lourdes
Simensato. Sem a ajuda de vocs no teria chegado at aqui em minha carreira profissional.
Aos colaboradores e ps-graduandos da EERP/USP, sob orientao da Prof Tite, pela
amizade e rede de comunicao existente entre ns e aos amigos da ps-graduao das
diferentes regies do Brasil que compartilharam comigo desta trajetria.
Marlene de Lourdes Costanari, que compartilha a convivncia cotidiana de minha famlia,
nos afazeres da casa, propiciando-nos ateno, ajuda e conforto.
Ao Prof. Amadeu Jesus Pessotta, pela correo do portugus nesta tese. Obrigado pela
disponibilidade e ateno dispensada. Por outro lado, devo assumir qualquer inconvenincia
lingstica que, porventura, possa aparecer nesta pesquisa.
Prof Sandra Cristina Shiguemi Miyasaki, pela amizade e companhia nas viagens para
Ribeiro Preto e So Paulo no perodo do cumprimento dos crditos das disciplinas da psgraduao.
Aos alunos dos terceiros e quartos anos de graduao em enfermagem da FEF no perodo de
2001 a 2004, pela amizade, estmulo e compreenso durante todo este perodo de psgraduao.
SUMRIO
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RESUMO
RESUMEN
ABSTRACT
1 APRESENTAO ................................................................................................................ 1
1.1 A ESCOLHA E DELIMITAO DO TEMA ................................................................ 2
2 OS PRESSUPOSTOS E O OBJETIVO DA PESQUISA .................................................. 7
2.1 PRESSUPOSTOS............................................................................................................. 8
2.2 OBJETIVO ....................................................................................................................... 8
3 QUADRO TERICO ........................................................................................................... 9
3.1 CONSIDERAES HISTRICAS SOBRE A HANSENASE................................... 10
3.2 PANORAMA DA ENDEMIA HANSNICA NA ATUALIDADE ............................. 15
3.3 CONSIDERAES SOBRE A IMPORTNCIA EPIDEMIOLGICA DOS
COMUNICANTES DE DOENTES DE HANSENASE .............................................. 21
3.4 A EVOLUO DAS MEDIDAS DE CONTROLE DOS COMUNICANTES DE
DOENTES DE HANSENASE NO BRASIL: 1889 2004 ......................................... 30
3.4.1 O CONTROLE DOS COMUNICANTES DE DOENTES DE HANSENASE NO
BRASIL: as primeiras informaes........................................................................ 30
3.4.2 O CONTROLE DOS COMUNICANTES DE DOENTES DE HANSENASE:
DA PROCLAMAO DA REPBLICA AO APARECIMENTO DA SULFONA
(1889 1944) ......................................................................................................... 31
3.4.3 O CONTROLE DOS COMUNICANTES DE DOENTE DE HANSENASE: DA
SULFONA POLIQUIMIOTERAPIA (1944 1991) ........................................ 41
3.4.4 O CONTROLE DOS COMUNICANTES DE DOENTE DE HANSENASE: DA
POLIQUIMIOTERAPIA ATUALIDADE (1991 2004) ................................. 56
4 TRAJETRIA METODOLGICA ................................................................................ 73
4.1 REFERENCIAL TERICO METODOLGICO.......................................................... 74
4.2 O CAMPO DE PESQUISA............................................................................................ 76
4.2.1 INFORMAES GERAIS DO MUNICPIO ...................................................... 77
4.2.2 A REDE DE SADE DO MUNICPIO ............................................................... 78
ASPECTOS
CLNICOS,
EPIDEMIOLGICOS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Coeficientes de prevalncia e deteco da hansenase no municpio de
Fernandpolis, no perodo de 1991 2003.
Quadro 2 Levantamento da produo dos procedimentos realizados no Centro de
Atendimento a Doenas Infecto-Contagiosas e Parasitrias CADIP, municpio de
Fernandpolis/SP, no perodo de 2002 2003.
APS
BAAR
BCG
BCG-id
CADIP
CAPS
CEP
CNDS
CVE
DIR
DOTS
DST
EERP
ERSA
GEPRO
HAB.
Habitantes
IBGE
IDH-M
LEM
MH
Mal de Hansen
Ministrio da Sade
NOAS
OMS
ONG
Organizao No Governamental
OPAS
PACS
PEN
PGL
Glicolipdeo Fenlico
PQT
Poliquimioterapia
PSF
ROM
SABESP
SES
SINAN
SPCH
SUDS
SUS
TB
Tuberculose
UBS
USP
Universidade de So Paulo
VD
Visita Domiciliria
VE
Vigilncia Epidemiolgica
WHO
RESUMO
PINTO NETO, J. M. A percepo dos comunicantes intradomiciliares de doentes de
hansenase sobre a doena, o convvio com o doente e o controle realizado pelo servio de
sade. 2004. 229f. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto,
Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2004.
O objetivo desta investigao foi identificar, descrever e analisar a percepo dos
comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase sobre a doena, o convvio com o
doente e o controle realizado pelo servio de sade. Optou-se pela abordagem de natureza
qualitativa. A populao do estudo constitui-se de 19 comunicantes intradomiciliares
cadastrados na unidade de sade onde so desenvolvidas aes do Programa de Eliminao da
Hansenase no municpio de Fernandpolis/SP. Os instrumentos utilizados para coleta de
dados foram: o pronturio do doente, o formulrio e a entrevista semi-estruturada, com trs
questes norteadoras. Para a anlise dos dados qualitativos utilizou-se a tcnica de Anlise de
Contedo, modalidade Temtica. Trs unidades temticas foram conformadas a partir dos
ncleos de sentido: 1) A doena hansenase a percepo dos comunicantes
intradomiciliares (a relao da hansenase com a lepra e hansenase: de doena desconhecida
ao conhecimento da classificao, aspectos clnicos, epidemiolgicos e teraputicos sobre a
doena); 2) O convvio com o doente a percepo dos comunicantes intradomiciliares
(a convivncia com o doente: normalidade, dificuldades e contradies; as atitudes dos
comunicantes no convvio com o doente; a percepo dos sofrimentos durante o convvio e o
estigma e o preconceito); e 3) O controle realizado pelo servio de sade a percepo
dos comunicantes intradomiciliares (as aes do programa de controle de eliminao da
hansenase desenvolvidas pela unidade de sade e a ateno recebida pelo servio de sade).
Os resultados apontam que os comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase
participam do processo de adoecimento, incorporando conhecimentos sobre a doena,
atribuindo-lhe significados de acordo com seus valores, atitudes e crenas; compartilham dos
problemas dos doentes e procuram ajud-los em suas necessidades e, ainda, percebem o
controle que o servio de sade realiza sobre eles e os doentes dentro de um quadro de
referncia pautado pela satisfao no atendimento. Constatou-se tambm a necessidade da
valorizao da vigilncia dos contatos em outras perspectivas, alm da epidemiolgica, de
forma a contemplar outras dimenses da vida desses sujeitos.
Palavras-chave: Hansenase, Comunicante, Percepo, Controle.
RESUMEN
PINTO NETO, J. M. La percepcin de los contactos dentro de los domiclios de los
enfermos del mal de Hansen sobre la enfermedad, la convivencia com el enfermo y el
control realizado por el servicio de salud. 2004. 229f. Tese (Doutorado) Escola de
Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2004.
El objetivo de esta investigacin fu identificar, describir y analizar la percepcin de los
contactos dentro de los domicilios de los enfermos del mal de Hansen sobre la enfermedad, la
convivencia y el control realizado por el servicio de salud. Se opt por abordar la naturaleza
cualitativa. El grupo de estudio fue constitudo por 19 contactos registrados en la unidad de
salud donde son desarrolladas las acciones del Programa de Eliminacin del mal de Hansen
en el municipio de Fernandpolis/SP. Los instrumentos utilizados para la reunin de datos
fueron: ficha clnica del enfermo, formulario y la entrevista semi-esturcturada con tres
preguntas dirigidas. Para el anlisis de datos cualitativos se utiliz la tcnica de anlisis de
contenido, modalidad temtica. Tres unidades temticas fueron formadas a partir de los
ncleos de sentido: 1) La enfermedad del mal de Hansen la percepcin de los contactos
dentro de los domicilios (la relacin del mal de Hansen con la Lepra y mal de Hansen: de
enfermedad desconocida al conocimiento de clasificacin, aspectos clnicos, epidemiolgicos
y teraputicos sobre la enfermedad); 2) La convivencia con el enfermo La percepcin de
los contactos dentro de los domicilios (el convive con el enfermo: normalidad, dificultades y
contradicciones; las actitudes de los contactos con el enfermo; la percepcin de los
sufrimientos durante el convive y el estigma y preconcepto; y 3) El control realizado por el
servicio de salud la percepcin de los contactos dentro de los domicilios (las acciones
desarrolladas por la unidad de salud y la atencin recibida por el servicio de salud). Los
resultados apuntan que los contactos dentro de los domicilios de los enfermos del mal de
Hansen participan del proceso de la enfermedad, incorporando conocimientos sobre la misma,
atribuyndole significados de acuerdo con sus valores, actitudes y creencias; comparten los
problemas de los enfermos y procuran ayudarlos en sus necesidades y adems perciben el
control que el servicio de salud realiza sobre ellos y los enfermos dentro de un cuadro de
referencia definido por la satisfaccin en el atendimiento. Se constat tambin la necesidad de
valorar la vigilancia de los contactos en otras perspectivas, adems de la epidemiolgica, de
forma que se contemplen otros planos de vida de estas personas.
Palabras-clave: Mal de Hansen, Contacto, Percepcin, Control.
ABSTRACT
PINTO NETO, J. M. The perception of the household contacts of the hansen disease
patients on the disease, the living together with the patient and the control made by the
health care service. 2004. 229f. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeiro
Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2004.
The aim of this investigation was to identify, describe and analyze the perception of the
household contacts of the Hansen Disease patients about the disease itself, the living together
with the patient and the control made by the health care service. The qualitative research was
chosen and the study population was constituted by nineteen household contacts registered in
the health care unit where the Program of Hansen Disease Elimination Actions are developed
in the Fernandpolis municipality in the State of So Paulo. The utilized tools to get the
database were the patient's file, paper form and semi-structured interview with three oriented
questions. For the qualitative data treatment The Content Analysis Technique was used, the
Theme mode. By means of sense nuclei three theme units have emerged: 1) The Hansen
disease, the perception of the household contacts was conformed from two sense nuclei: the
relationship with the Hansen Disease with Leprosy and the Hansen Disease from an unknown
disease to the classification knowledge, clinical, epidemiological and therapeutic aspects
about the disease; 2) The living with the patient, the perception of the household contacts, (the
living with the patient: normality, difficulties and contradictions; the contact's attitudes in the
living together with the patient; the perception of the suffering during the living together, the
stigma and the prejudice); 3) The control made by the health care service - the household
contact's perception (the actions of the elimination control program of Hansen disease made
by the health care unit and the attention gotten through it). The results show that the
household contacts of Hansen disease patients take part in the sickening process incorporating
knowledge about the disease giving to it significance according to its values, attitudes and
creeds. They share the patients' problems and seek to help them in their needs and still note
the control that the health care performs about them and the patients within a reference
framework based upon the satisfaction onto the waiting on procedure. The results also
demonstrate the necessity for an enhancement to watching over the contacts in order to
contemplate other dimensions in those contacts' lives.
Key-words: The Hansen Disease, Contacts, Perception, Control.
1 APRESENTAO
Apresentao
Apresentao
Apresentao
4
relao com termos existentes na terminologia popular, adequando-a clientela
(BRASIL, MS, 2001a, p. 37).
Tambm devido ao uso freqente dos termos controle e eliminao, nesta tese,
considerei oportuno buscar na literatura algumas definies.
Waldman (1991), em sua tese de doutorado, entre os conceitos de controle destaca
o conceito de Last: controle uma srie de atividades destinadas a reduzir a prevalncia de
um agravo at alcanar um nvel tal que no mais constitua problema de sade pblica
(p.87).
Definio similar foi dada por Pereira (1995), para o qual controle de uma doena
pode ser definido como um conjunto de aes e intervenes direcionadas a reduzir a
incidncia ou a prevalncia, ou manter a doena em nveis de incidncia reduzidos, de forma
que esta deixe de se constituir em problema de sade pblica.
J para Lpez Acua e Romero (1984), controle a srie de esforos e
intervenes integradas, dirigidas populao ou a sub-grupos de alto risco dentro dela
existentes, visando prevenir, diagnosticar precocemente ou tratar um agravo sade, assim
como limitar os danos por ele gerados.
Dharmendra (1986), em editorial, coloca que necessrio diferenciar controle e
erradicao de uma doena, pois ambos os termos tm significados bastante diferentes. Para
ele, obter o controle da hansenase indica eliminar as condies que favorecem a transmisso
da doena, sendo que, aps esta fase, novos casos de hansenase podero ocorrer em pessoas
que foram infectadas antes da adoo das medidas de controle; a erradicao significa que
nenhum caso da doena exista no pas e que casos recentes no apaream num perodo
suficientemente longo, de pelo menos 10 anos.
De acordo com a Portaria Ministerial n 1.073, as aes de controle de hansenase
podem ser definidas como sendo
as atividades relacionadas deteco de casos de hansenase, tratamento integral,
preveno e tratamento das incapacidades fsicas e vigilncia dos contatos
intradomiciliares (exame dermatoneurolgico e vacinao BCG) e educao em
sade (BRASIL, MS, 2001a).
Apresentao
Apresentao
que
venham
possibilitar
uma
melhoria
da
assistncia
pelos
2.1 PRESSUPOSTOS
Os pressupostos desta pesquisa qualitativa so que:
9 Os comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase participam do
processo de adoecimento, incorporando conhecimentos sobre a doena,
atribuindo a ela significados de acordo com os seus valores, atitudes e crenas.
9 Os comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase compartilham dos
problemas dos doentes e procuram ajud-los em suas necessidades.
9 Os comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase percebem o
controle que o servio de sade realiza sobre eles e o doente dentro de um
quadro de referncia particular pautado pela satisfao ou no do atendimento.
2.2 OBJETIVO
Dessa forma, o objetivo desta pesquisa :
9 Identificar,
descrever
analisar
percepo
dos
comunicantes
3 QUADRO TERICO
QuadroTerico
10
QuadroTerico
11
QuadroTerico
12
QuadroTerico
13
Rei de Portugal, D. Pedro II, a solicitao de haver lugar particular e separado para a cura
dos muitos Lzaros, propondo que fosse na Igreja de Nossa Senhora da Conceio.
Esse mesmo autor coloca que, estando o assunto esquecido por mais de quarenta
anos, ele retomado no ano de 1740, que marca o incio de uma nova era para a profilaxia da
lepra no Rio de Janeiro, pois neste ano o Senado da Cmara refora o pedido ao Rei de
Portugal da fundao de um leprocmico. Neste mesmo ano, realizou-se no Rio de Janeiro a
1 Conferncia Mdica para tratar da profilaxia da lepra da qual resultaram to sombrios
prognsticos para esta cidade.
Em 1741, D. Joo V, atendendo ao pedido do Senado da Cmara, ordenou ao
Governador Geral da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade Conde de
Bobadella, a fundao do primeiro hospital de Lzaros do Brasil.
Um outro fato histrico no ano de 1741 foi a elaborao de um regulamento de
profilaxia da lepra realizado por uma comisso de mdicos em Lisboa por ordem do Rei D.
Joo V para ser aplicada no Rio de Janeiro.
Essa comisso considerou que a lepra era contagiosa e recomendou como medida
preventiva principal o isolamento dos casos confirmados, em Lazaretos, separados por sexo
e para as vrias categorias sociais; tambm estabeleceu a notificao dos casos, confidencial
para os ricos, determinou providncias contra o charlatanismo e que fosse dado ao mdico
plena autoridade sobre o leproso, entre outras recomendaes (SOUZA-ARAJO, 1946).
Vrios autores como Maurano (1939), Souza-Arajo (1946), Belda (1976), Belda
(1981), Lessa (1986) e Monteiro (1987), relatam que no se tem conhecimento da existncia
da hansenase no estado de So Paulo antes do sculo XVIII.
Monteiro (1987) conclui que So Paulo no oferecia as condies propcias para a
propagao da hansenase at meados do sculo XVIII, quando a situao se modifica devido
ao ciclo do ouro e ao aumento do fluxo de pessoas de diversos lugares do pas e altera as
condies sanitrias existentes na poca.
O primeiro documento data de 1765, quando o ento Governador da Capitania,
Morgado de Matheus, se refere a uma endemia j constituda, e o segundo documento de 22
de outubro de 1768 se refere ata da Cmara Municipal, relatando a notificao do despejo de
uma cigana com mal de Lzaro, que se banhava em um riacho do centro da cidade de So
Paulo (BELDA, 1981).
Monteiro (1987) refere que, durante o sculo XIX, vrias medidas especficas em
relao hansenase foram adotadas em So Paulo como resultado da preocupao que
QuadroTerico
14
Essa mesma autora ainda coloca que, no transcorrer do sculo XIX, no interior da
provncia de So Paulo, foram construdos asilos e pequenos hospitais para os hansenianos,
como, por exemplo, em 1863, um asilo na cidade de Campinas e, depois, outro em Piracicaba.
Nemes (1989) cita que, alm dos asilos, existiam as chamadas comisses que
consistiam em um certo nmero de casa fora do permetro urbano para residncia dos
morfticos, onde eram alimentados por conta do governo ou da cmara municipal.
Reportando-me a alguns outros aspectos histricos da hansenase no estado de So
Paulo, encontram-se em Maurano (1939) referncias sobre o curandeirismo e o charlatanismo
no tratamento da hansenase; cujas prticas eram muito comuns, e encontravam na lepra um
terreno frtil para o desenvolvimento de suas artes.
Carrasco (1997) expressa que a descoberta do bacilo em 1873 vem reforar o papel
do homem na transmisso da doena e as medidas de controle na conteno da epidemia.
Para Monteiro (1987), durante o sculo XIX, apesar do aumento da endemia no
estado de So Paulo, podemos verificar que no existia uma atuao definida do Estado frente
aos doentes que, quando tratados, o eram por iniciativa de entidades filantrpicas ou de
particulares, no recebendo do poder constitudo uma assistncia regular.
Nemes (1989) coloca que o conjunto de prticas sanitrias nesse perodo prrepublicano teve como instrumentos de trabalho a higiene pblica e o controle da doena
enquanto mal sob a forma de epidemia, e que o modo de conter as doenas era o controle do
meio fsico, sendo a assistncia mdica individual restrita a um nmero muito pequeno de
profissionais.
Esta mesma autora cita que o instrumento de isolamento dos doentes em asilos e
comisses nesta poca no tinha o objetivo de evitar o contgio, mas, de afastar os doentes da
sociedade; e considera ainda que, tais prticas, por no serem realizadas mediante uma forma
organizada de trabalho, no podem ser tomadas como prticas de sade.
Nesse contexto histrico no incio do sculo XX, a hansenase chega regio do
extremo Noroeste do estado de So Paulo, no serto da Alta Araraquarense ou no serto de
QuadroTerico
15
Rio Preto onde, em 1938, vai ser fundado o patrimnio da Vila Brasilndia e, em 1939, o
patrimnio da Vila Pereira, os quais, aps muitas turbulncias polticas, foram unidos sob o
nome de Fernandpolis (em homenagem a Fernando Costa, Interventor do estado de So
Paulo), cujo distrito e municpio foi instalado em 1 de janeiro de 1945 (PESSOTTA et al.,
1996).
A hansenase j preocupava as autoridades municipais da poca, pois Pinto Neto
(1996) aborda que, em 1947, a prefeitura j concedia auxlio financeiro ao Leprosrio
Aimors de Bauru, hoje Instituto Lauro de Souza Lima, para onde os doentes eram enviados.
Esse agravo sade persiste de forma endmica, sendo um dos principais
problemas de sade do municpio na atualidade, constituindo-se cenrio e objeto de alguns
estudos, entre os quais se destacam as dissertaes de Mencaroni (1997) e de Pinto Neto
(1999) e a tese de doutorado de Mencaroni (2003) e desta tese.
A seguir, apresento a situao atual da endemia hansnica, em que me proponho a
apresentar um panorama da mesma no mundo, no continente americano, no Brasil, estado de
So Paulo, na regio da Direo Regional de Sade de So Jos do Rio Preto (DIR-SUS
XXII) e no campo emprico em que se desenvolver esta pesquisa - o municpio de
Fernandpolis/SP.
A hansenase tem sido descrita como sendo uma endemia que praticamente s
existe nos pases tropicais, coincidindo com o subdesenvolvimento, cuja pobreza se configura
como fator de risco (FOSS, 1999).
Corroborando com essa autora, Helene e Salum (2002) trazem, em seu artigo A
reproduo social da hansenase: um estudo do perfil de doentes com hansenase no municpio
de So Paulo, diversos autores que abordam a questo do social e a hansenase e reproduzem
uma citao da Organizao Mundial da Sade de 1998 ainda bastante pertinente:
A distribuio da hansenase no mundo, por sua vez, um testemunho da
centralidade do social: quem negaria a situao de extrema excluso em que ainda
QuadroTerico
16
sobrevive a maioria das populaes dos continentes asitico, africano e latinoamericano...? (p. 4).
Concordo com Miranda (1999, p.16) quando cita que o processo histrico da
hansenase no mundo reflexo de situaes scio-polticas e scio-econmicas. A seguir,
apresentarei um panorama da hansenase.
De acordo com WHO (2002), at o final do ano 2000, a prevalncia global da
hansenase estava abaixo de 1 caso por 10.000 habitantes. H trinta e cinco anos a prevalncia
aumentou de 8,4 casos por 10.000 habitantes em 1966 para 12 casos por 10.000 habitantes em
1985. Desde ento, tem ocorrido uma diminuio da prevalncia e, no final do ano 2000,
existiam 597.232 casos registrados e 719.330 casos novos detectados durante o ano 2000.
Entre 122 pases considerados endmicos em 1985, 107 pases conseguiram atingir a meta de
eliminao em mbito nacional at o final do ano 2000, continuando endmica em 15 pases
da sia, frica e Amrica Latina (WHO, 2002).
Atualmente, apenas 10 pases no atingiram a meta de eliminao: Angola, Brasil,
Congo, ndia, Libria, Madagascar, Moambique, Nepal, Repblica Centro Africana e
Tanznia. Estes pases contribruram com 86% da prevalncia global no comeo de 2003 e
com 88,5% dos casos novos detectados em 2002 (WHO, 2004a).
A implantao da Poliquimioterapia (PQT), recomendada pela Organizao
Mundial de Sade desde 1981, apontada como um dos principais determinantes na reduo
da prevalncia da hansenase no mundo que, associada aprovao, em 1991, na 44
Assemblia Mundial de Sade, da Resoluo para eliminao da hansenase como problema
de Sade Pblica no ano 2000, estimulou governos e profissionais de sade a reforarem a
luta contra este agravo.
Estima-se que mais de 14 milhes de casos de hansenase foram tratados com PQT
em todo o mundo nestes ltimos 25 anos, sendo evitados cerca de 2 milhes de casos de
incapacidades (OPAS/OMS, 2003; SANSARRICQ, 2004).
No continente americano a hansenase no endmica no Canad, Estados Unidos
e no Chile (LOMBARDI et al., 1998).
A implementao da Poliquimioterapia tambm foi a responsvel pelo decrscimo
marcante dos coeficientes de prevalncia nos pases endmicos da Amrica Latina, o que
viabilizou vrios pases a atingirem a meta de eliminao na dcada de 90 do sculo XX,
como Equador, Cuba, Mxico, Argentina, Colmbia e Venezuela.
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Esse indicador que era de 16,4 em 1985, foi reduzido para 5,4 em 1997, e tinha-se a
expectativa de atingir a meta de eliminao no final do ano 2000, o que acabou no
ocorrendo, pois de acordo com WHO (2002) este indicador foi de 4,6/10.000 habitantes.
At 1999, apenas os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul tinham
atingido a meta de eliminao da hansenase. Essa conquista pode ser creditada mais
presena de um programa de controle contnuo e estruturado nas ltimas trs dcadas do que
poliquimioterapia isoladamente (ANDRADE et al., 1999).
Esses mesmos autores colocam que, nas ltimas dcadas, as dificuldades
identificadas no processo de eliminao da hansenase no Brasil poderiam ser atribudas a
alguns fatores tais como: a complexidade do diagnstico que levou os agentes de sade a
verem a doena como muito complexa e difcil e a acharem que apenas especialistas poderiam
lidar com a mesma; o grau de centralizao e verticalidade do processo de controle; a falta de
participao dos gestores, em nvel local, nas aes de controle; a falta de um sistema de
informaes totalmente confivel; e a percepo negativa sobre a hansenase ainda existente
por parte da populao e profissionais de sade.
Lana (1997) considera que, aps a implementao da poliquimioterapia (PQT), em
1991, os servios de sade tm realizado um esforo concentrado para diminuir a prevalncia
da hansenase, mas cita alguns problemas de ordem tcnico-operacional que ainda se
interpem para o alcance da meta de eliminao, destacando-se as baixas taxas de controle
dos comunicantes.
No estado de So Paulo, a implantao da Poliquimioterapia a partir de 1991
proporcionou uma diminuio acentuada da prevalncia que era de 11,6/10.000 habitantes em
1991 para 1,6/10.000 habitantes em 2000 (NOGUEIRA; MARZLIAK; METELLO, 2002).
Em 2003, o coeficiente de deteco foi de 0,73/10.000 habitantes e o de prevalncia foi de
1,31/10.000 habitantes (SO PAULO, SES, 2004).
A distribuio da hansenase no estado de So Paulo tambm varia entre os 645
municpios existentes. Observam-se municpios com coeficientes de prevalncia zerados
(silncio epidemiolgico?), baixo aqueles com menos de 1 caso/10.000 habitantes e
municpios com coeficientes classificados como mdios
habitantes),
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COEFICIENTE DE
PREVALNCIA
37,68
COEFICIENTE DE
DETECO
9,46
1992
32,38
5,98
1993
19,03
6,63
1994
15,73
6,05
1995
10,61
4,10
1996
8,46
5,25
1997
8,23
4,74
1998
8,71
3,83
1999
8,52
3,50
2000
7,73
4,87
2001
10,25
4,70
2002
11,78
8,12
2003
15,78
10,73
Fontes: Livro de Registro de Notificao de Doenas Transmissveis/ Planilhas de Acompanhamento Anual dos
Pacientes de Hansenase/SINAN
Diretoria Municipal de Sade de Fernandpolis
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1997; FOSS, 1999; MOREIRA; COSTA NETO, 2001; BRASIL, MS, 2002a; BRASIL, MS,
2002b; GOULART; PENNA; CUNHA, 2002; ARAJO, 2003).
A hansenase caracterizada por apresentar-se com amplo espectro de
manifestaes clnicas, contendo em seus extremos plos estveis e opostos, intercalados por
formas instveis que podem adquirir aspectos clnicos e imunolgicos de cada um dos plos,
dependendo da potencialidade de resposta imune do hospedeiro (FOSS, 1999).
Nos indivduos que adoecem a infeco evolui de maneiras diferentes, sendo que,
com uma resposta imunolgica competente, o indivduo evolui para a forma clnica localizada
e no contagiosa da doena; se esta competncia no for efetiva, desenvolve-se uma forma
difusa e contagiosa (SOUZA, 1997). Geralmente, a hansenase inicia-se pela forma
Indeterminada, caracterizada por mculas hipocrmicas com hipo ou anestesia local (trmica,
dolorosa e ttil); tais leses podero curar-se espontaneamente ou evoluir para uma das
formas polares ou intermedirias da hansenase de acordo com a capacidade de resposta
imune contra o M. leprae (FOSS, 1999).
Dessa forma, diante do conceito espectral da hansenase, as formas clnicas
Indeterminada e Tuberculide so "formas fechadas" e no contagiantes da doena; so
classificadas como paucibacilares, no sendo consideradas, portanto, importantes fontes de
infeco devido baixa carga bacilar. J as formas clnicas Dimorfa e Virchowiana so
"formas abertas" e contagiantes quando no diagnosticadas e/ou no tratadas; so
classificadas como multibacilares, sendo consideradas como fontes importantes de infeco e,
assim, se mantm enquanto no se iniciar o tratamento especfico, pois estima-se que os
doentes Virchowianos eliminam em torno de 2,4 x 108 bacilos pelo sistema respiratrio
diariamente (CRISTOFOLINI; OGUSKU, 1988; SO PAULO, SES, 1992; SOUZA, 1997;
BRASIL, MS, 2002a; BRASIL, MS, 2002b).
Para que ocorra a transmisso, parece necessrio um contato direto entre os
doentes fontes de infeco e as pessoas sadias suscetveis, lembrando que em torno de 90% da
populao tem resistncia natural contra a hansenase.
A definio do tipo de contato geralmente pouco clara, buscando-se muitas vezes
qualificaes como contato ntimo e prolongado; mas o tempo de durao e o grau de
intimidade do contato capazes de propiciar a transmisso da infeco e a ocorrncia da doena
ainda dependero da susceptibilidade do contactante (BRASIL, MS, 1994a).
De acordo com Lombardi e Gil Surez (1997), uma pessoa muito suscetvel, com
um contato casual, pode produzir a infeco e desenvolver a doena, mas, por outro lado, j
foram descritos casos de pessoas com exposio intensa e prolongada que no adoeceram.
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servios de sade que serviram de cenrios para esses estudos, assim como as diferentes
abordagens metodolgicas utilizadas.
Tambm devemos levar em considerao que o comportamento das doenas
endmicas como a hansenase e a tuberculose muito influenciado, de um lado pelo nvel de
desenvolvimento scio-econmico e condies de vida da populao e, de outro lado, pela
qualidade dos servios de sade na implementao de programas especficos de controle
(WALDMAN; SILVA; MONTEIRO, 2000).
Em relao aos aspectos epidemiolgicos sobre o controle dos comunicantes de
doentes de hansenase, ainda importante mencionar testes sorolgicos que vm sendo
realizados por pesquisadores brasileiros e estrangeiros entre os contatos intradomiciliares de
hansenase, com o uso do antgeno glicolipdeo fenlico-1 (PGL-1), que se constitui no
principal antgeno especfico do Mycobacterium leprae. Apesar de os estudos terem
apresentados resultados contraditrios, poder, quando for aprimorada sua sensibilidade e
especificidade, ser utilizado para a deteco de casos com infeco subclnica, principalmente
entre os comunicantes, alm dos testes ML-Flow que esto sendo desenvolvidos por alguns
pesquisadores nacionais e estrangeiros.
Dessa forma, acredito que o controle dos comunicantes de doentes de hansenase
deve constituir-se em um dos pilares das aes para eliminar este agravo como sendo um
problema de sade pblica at 2005, como se propem a Organizao Mundial de Sade
(OMS) e o Ministrio da Sade do Brasil.
No prximo tpico, procurei recuperar, por meio do levantamento bibliogrfico, a
cronologia dos fatos que envolvem as medidas de controle dos comunicantes de doentes de
hansenase no Brasil, de acordo com o estabelecimento de trs periodizaes, da Proclamao
da Repblica atualidade (1889-2004).
Corroboro com Turato (2003, p. 182-183) quando coloca que s reas do
conhecimento sem uma historicizao incorrem no risco de serem de aplicao questionvel,
e os professores e pesquisadores que nelas atuam tendem a exercer papel ingnuo na
comunidade cientfica e na sociedade em geral.
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um doente de hansenase e uma pessoa s, e entre os enfermos. O divrcio era cabvel entre os
cnjuges, desde que um deles fosse doente de hansenase, apesar de no haver legislao
alguma no Brasil que regulamentasse tais recomendaes (MAURANO, 1939; SOUZAARAJO, 1956).
J na era cientfica da hansenase, aps a descoberta do bacilo em 1873, por
Gerhard Henrik Armauer Hansen, que demonstrou que a doena era contagiosa e no
hereditria, aconteceram eventos internacionais e nacionais que causaram impactos nos rumos
da profilaxia da hansenase, principalmente, quanto aos doentes, trazendo tambm, como
veremos, algumas recomendaes em relao aos comunicantes.
Carrasco (1997) refere que, em fins do sculo XIX e incio do sculo XX, a
hansenase ainda no se constitua em preocupao para as oligarquias, devido a esta doena
ser considerada incurvel e no se saber ao certo como se dava sua transmisso; a orientao
geral era confinar o doente em lazaretos, pois, devido ao fato de a doena ser tida como
incurvel e apresentar deformidades irreversveis, no havia expectativa de o doente ser
incorporado ao processo produtivo e reintroduzido na sociedade.
Em 1897, em Berlim, realizou-se a 1 Conferncia Internacional de Lepra, em que
se preconizou oficialmente a notificao obrigatria e o isolamento dos doentes como o
melhor meio de impedir a propagao da doena, mas nada foi recomendado em relao ao
controle dos comunicantes (AGRICOLA, 1954).
De acordo com Souza-Arajo (1956), no Brasil, nenhuma providncia oficial
contra a endemia leprosa foi adotada pela Legislao Sanitria Federal nos dez primeiros
anos aps a Proclamao da Repblica, evidenciando, assim, a omisso governamental em
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relao ao controle da hansenase nesse perodo, quer seja em relao aos doentes, quer aos
comunicantes.
Para Lessa (1986), a atuao estatal nesse perodo foi direcionada aos problemas
de sade que ameaavam a expanso da capacidade produtiva. No caso da hansenase, as
medidas impositivas, como o isolamento, no ultrapassavam os limites das solues
imediatistas a problemas agudos que poderiam, de uma forma ou de outra, comprometer o
desenvolvimento econmico-agrcola.
Segundo Souza-Arajo (1956), na Reforma da Sade Pblica de Oswaldo Cruz no
Governo de Rodrigues Alves, foi baixado o Decreto n 5.156 de 8 de maro de 1904, que
aprovou o novo Regulamento Sanitrio da Unio, o qual trouxe importantes medidas no que
se refere profilaxia da hansenase, como por exemplo consider-la como doena de
notificao compulsria, determinar o isolamento domiciliar do doente, proibir que o doente
residisse em casas de habitaes coletivas, fazer a desinfeco do domiclio, principalmente
nos aposentos do doente, nos objetos e nas roupas que tiverem tido contato direto ou indireto
com o mesmo.
Neste decreto foi introduzido um conceito geral de comunicante que se referia
pessoa que residia no foco ou estivera em contato com indivduos afetados por molstias, ou
provenientes de lugares onde estas molstias se pronunciavam. Uma vez identificados, os
contatos eram submetidos s devidas medidas de controle (EDUARDO, 1984).
Gomide (1993) coloca que, a partir desse Regulamento, os doentes de hansenase
foram colocados sob o domnio do poder pblico, que acionou seus mecanismos de controle e
utilizou-se de todas as formas possveis para identific-los na comunidade, a fim de isol-los,
controlando-os e estigmatizando-os. Isto, naturalmente, tambm repercutiu intensamente no
seio familiar.
Em 1906, no 6 Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, foram propostas as
seguintes medidas profilticas para o controle da hansenase: Isolamento dos leprosos em
colonias Agricolas, aproveitando as ilhas do nosso litoral deshabitadas, mas ferteis,
notificao compulsria, creao e educao dos recem-nascidos, filhos de leproso, nos
orphanatos do Estado (SOUZA-ARAJO, 1956, p. 160).
A proposta de separao dos filhos de doentes de hansenase, de acordo com
Agricola (1954), foi oficializada pela primeira vez na 2 Conferncia Internacional de Lepra,
em Bergen (Noruega), no ano de 1909, quando tambm encontrei entre as suas concluses a
seguinte recomendao referente ao exame e observao dos comunicantes: Aqueles que
conviverem no mesmo domiclio com pessoas leprosas devem ser encaminhadas de tempo a
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tempo por um mdico que tenha conhecimentos especiais da lepra (AGRICOLA, 1954, p.
16).
O perodo entre 1912 a 1920 se constitui numa fase intermediria da histria da
hansenase no Brasil, com o reconhecimento do problema pelas autoridades sanitrias. Emlio
Ribas, Oswaldo Cruz e Alfredo da Matta comearam a denunciar o descaso do combate
endemia e a tomar medidas isoladas em suas reas de atuao, destacando-se a iniciativa de
Emlio Ribas em So Paulo (BRASIL, MS, 1989).
Para Monteiro (1987), o crescimento da endemia e a circulao dos doentes passou
a ser vista como uma ameaa sade da populao, tornando-se foco de ateno e
preocupao das autoridades, que se viram obrigadas a adotar medidas regulares e efetivas na
tentativa de impedir o avano da doena, cujo objetivo primordial se centrava na proteo
populao sadia, uma vez que se julgava que esta seria beneficiada com qualquer tipo de
excluso do doente.
Essa fase da Sade Pblica Paulista (1897-1917) chamada de fase Emlio
Ribas, por ter sido este sanitarista o principal responsvel pela introduo dos fundamentos
bacteriolgicos que, na poca, instrumentalizaram as aes sanitrias que assumiram as
formas de campanhas, polcia sanitria e saneamento ambiental (NEMES, 1989; VILLA,
1992; CARRASCO, 1997; VILLA, 1999).
Em 1916, no perodo de 3 a 10 de dezembro realizou-se em So Paulo um
importante evento O 1 Congresso Mdico Paulista , considerado um marco incontestvel
na histria da profilaxia da hansenase no Brasil (SOUZA-ARAJO, 1956).
No evento, Emlio Ribas proferiu uma memorvel conferncia sobre A lepra - sua
freqncia no estado de So Paulo - meios profilticos aconselhveis. Resumindo sua
exposio, concluiu pela necessidade da adoo de 11 medidas profilticas, das quais duas se
referiam mais diretamente aos comunicantes, mantendo a proposta da Conferncia de Bergen
no que se refere ao isolamento imediato dos recm-nascidos, filhos dos doentes de hansenase,
para serem criados em lugares livres das fontes de contgio, e a proibio do doente de
exercer profisso que o colocasse em contato imediato com outras pessoas ou com objetos a
elas destinados, entre outras restries.
Carrasco (1997) refere que, neste 1 Congresso Mdico Paulista, Emlio Ribas
tambm reconhece que h uma grande polmica entre os mdicos a respeito dos meios de
transmisso da doena, dividindo as opinies em duas grandes correntes: os contagiosistas e
os no-contagiosistas.
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Corroborando com esta autora, Carrasco (1997) expressa que o medo e mesmo o
pnico estimulavam os doentes a fugirem antes ou depois de serem denunciados polcia, e a
busca ativa de casos no trouxe resultados positivos, revelando-se uma poltica de sade
ineficaz.
O internamento dos filhos sadios de doentes de hansenase em preventrios,
inaugurados a partir de 1927, tambm concorreu para a quebra da unidade familiar e
estigmatizao das crianas l internadas.
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Este mesmo estudo tambm traz a explicao de que, aps um doente ser fichado
no dispensrio, era-lhe solicitado o comparecimento de todas as pessoas de suas relaes
ntimas para o exame mdico na Seo de Comunicantes, onde era preenchida uma ficha para
cada contato, inclusive com a fotografia do examinado.
Nesta Seo, aps a matrcula, o comunicante era examinado minuciosamente. Se
fosse considerado suspeito ou doente, era encaminhado Seo de Elucidao de Diagnstico
ou Seo de Fichamento e Vigilncia Mdica respectivamente. Se fosse considerado caso
negativo, ele ficaria fichado nessa prpria Seo, onde seriam realizados exames
especializados semestralmente, entre eles o exame de laboratrio do muco nasal (PATEO;
PEREIRA, 1936).
No decorrer desse perodo outros importantes trabalhos foram publicados, o que
por um lado evidenciava a busca de conhecimentos sobre a epidemiologia da hansenase, por
outro demonstrava o quanto ainda eram imprecisos os conhecimentos sobre os mecanismos de
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primeira pesquisa foi realizada na Argentina, em 1939, por Fernandez, que injetou BCG em
crianas de descendncia no hansnica, negativas ao teste de Mitsuda. Essas crianas, uma
vez vacinadas com o BCG, apresentaram mitsuda-positivao em 92% delas, o que fez
deduzir-se a eficcia potencial do BCG para dar proteo contra a hansenase (SOUZA
CAMPOS, 1953).
Todos estes estudos descritos foram relevantes e evidenciaram o comunicante de
hansenase como um elemento importante na epidemiologia da doena, pois foi atravs deles
que muitos outros estudos foram realizados, desvendando aspectos inteiramente novos que
vieram preencher a enorme lacuna existente na epidemiologia, na imunologia e na clnica da
hansenase.
No entanto, podemos concluir que os comunicantes de hansenase no eram
adequadamente controlados pelos servios de sade presentes neste perodo de estudo, o que
sem dvida tambm concorreu para a expanso da endemia hansnica.
No final deste perodo de estudo, importante mencionar que, em 1938, no 4
Congresso Internacional de Lepra, ocorrido no Cairo, foi recomendado que o isolamento dos
doentes fosse realizado apenas nos casos de formas clnicas abertas da hansenase e ainda se
preconizou o exame e a observao continuada dos comunicantes (AGRICOLA, 1954).
Um outro importante acontecimento foi a criao, em 1941, do Servio Nacional
de Lepra (SNL), subordinado ao Departamento Nacional de Sade do Ministrio da Educao
e Sade, cujas principais funes eram: orientar e fiscalizar todas as atividades pblicas e
particulares referentes campanha contra a hansenase em todo o pas, realizar investigaes
epidemiolgicas, padronizar fichas epidemiolgicas, promover a construo e instalao de
leprosrios e ampliao dos j existentes, promover auxlio para a instalao de novos
dispensrios e de preventrios para filhos sadios dos doentes de hansenase (SOUZA
CAMPOS; BECHELLI; ROTBERG, 1944).
A criao deste rgo fortaleceu e expandiu as estruturas de sade j existentes.
No ano de 1941, nos Estados Unidos, Faget e colaboradores, do Leprosrio
Nacional de Carville, iniciam o tratamento da hansenase pelas sulfonas, comeando com o
uso do Promin (Glicosulfona Sdica). Em fins de 1943, fazem uma comunicao preliminar
sobre os resultados encontrados com o medicamento e, neste mesmo ano, iniciam o
tratamento da hansenase com o uso do diazone (ROSSAS, 1951).
Ainda de acordo com este autor, em 1944, as sulfonas so introduzidas no Brasil
por Lauro de Souza Lima, no Sanatrio Padre Bento de So Paulo. Inicia-se a era sulfnica no
pas.
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ltimo contato conhecido com o caso contagiante. Os segundos poderiam ser reexaminados
com intervalos maiores e o perodo de observao poderia ser diminuido a critrio das
autoridades sanitrias (BECHELLI; ROTBERG, 1951; DINIZ, 1960).
Neste congresso consagrou-se a tripea profiltica j existente no Brasil e
preconizou-se que o termo leproso fosse abandonado devido ao estigma e s indesejveis
conseqncias para o doente e sua famlia.
Muitas das recomendaes desse Congresso, de acordo com Bechelli e Rotberg
(1951), foram adotadas na legislao brasileira atravs da Lei n 610, de 13 de janeiro de
1949, que fixou normas para a profilaxia da hansenase, trazendo no seu texto vrios artigos
sobre o controle dos comunicantes, como exemplo,
Artigo 3 Todo contato ou comunicante obrigado duas vezes, pelo menos,
em cada ano, a submeter-se a exame dos tcnicos nos servios oficiais de lepra;
1 - Os reexames semestrais dos comunicantes de casos contagiantes sero feitos
nos dispensrios ou nos domiclios, durante perodo no inferior a 6 anos, contados
da data em que os mesmos se tiverem afastado da fonte de infeco;
2 - Poder ser menor, a juzo da autoridade sanitria, o perodo por que se
devero estender os reexames semestrais dos comunicantes de casos no
contagiantes;
3 - O intervalo entre os reexames dos comunicantes lepromino-positivos poder
ser maior, desde que nisto no haja incoveniente, a juzo da autoridade sanitria;
Artigo 15 Todo recm-nascido, filho de doente de lepra, ser compulsria e
imediatamente afastado da convivncia dos pais;
Artigo 16 Os filhos de pais leprosos e todos os menores que convivem com
leprosos sero assistidos em meio familiar adequado ou em preventrios especiais;
Artigo 26 s crianas comunicantes de doentes de lepra, internadas em
preventrios ou recebida em lares, ser proporcionada assistncia social,
principalmente sob a forma de instruo primria e profissional, de educao moral
e cvica, e de prtica de recreao apropriadas.
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Esses autores ainda colocam que, muitas vezes, a condio de contato, passa
despercebida pelas pessoas que tm ou tiveram convivncia com doentes de hansenase e,
quando se tornam doentes, negam sistematicamente essa circunstncia; alertam que somente
uma investigao detalhada e bem conduzida poderia esclarecer a informao do contgio
desconhecido e completar o elo epidemiolgico da cadeia de transmisso.
No Brasil, em 1960, tnhamos registrado cerca de 81.000 doentes de hansenase, os
seus comunicantes deveriam atingir, na proporo de 4 comunicantes por doente, a cifra de
324.000 contatos. No entanto, os servios oficiais tinham examinado somente 25.200
contatos, embora todos reconhecessem a importncia epidemiolgica dos comunicantes, por
se constiturem fontes perenes de novos doentes (DINIZ, 1960).
Tinoco (1960, p. 163), em um trabalho sobre profilaxia, conceituou comunicante
de hansenase como sendo o indivduo que coabita ou tem contato freqente com o doente de
lepra, bem como aquele que coabitou ou teve contato freqente com caso de lepra nos 5 anos
que antecederam o descobrimento de mesmo.
Este autor j recomendava que, em regies de elevado coeficiente de prevalncia,
deveria ser realizada a procura de casos a outros grupos populacionais, mesmo os no
qualificados como comunicantes, por ser possvel surgir a doena em pessoas que no tinham
ou no tiveram contato freqente com doentes.
Quanto aos comunicantes, recomendava-lhes o exame peridico com intervalo de
seis meses a um ano, dependendo da periculosidade da fonte de infeco, idade, natureza da
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convivncia e resposta ao teste mitsuda dos respectivos contatos; ainda preconizava que os
comunicantes deveriam ser alertados sobre os sinais e sintomas da doena e sobre a
importncia dos exames diagnsticos das formas incipientes, atravs do exame dermatolgico
e da pesquisa da sensibilidade superficial e de amiotrofias (TINOCO, 1960).
Em 1960, o Brasil possua 36 leprocmios, onde se encontravam internados
19.014 doentes de hansenase, 107 dispensrios e 31 preventrios, com 4.516 crianas
internadas; s no estado de So Paulo existiam 5 asilos-colnias, totalizando 5.145 doentes,
47 dispensrios e 3 preventrios onde se encontravam 1.011 crianas internadas (DINIZ,
1960).
Paim (1961), em relao ao controle dos comunicantes, cita que, nesta ocasio,
como medida de profilaxia de exposio ao contgio, estava sendo feita a aplicao de
sulfonas nos comunicantes susceptveis e a pesquisa de reao de Mitsuda.
Uma nova Poltica de Controle da Hansenase estava sendo implementada no
Brasil no incio da dcada de 60, propondo que o combate hansenase fosse desenvolvido
como atividade de qualquer unidade sanitria e operacionalizado pelo prprio pessoal da
unidade. Em linhas gerais, a orientao profiltica consistia na descoberta precoce dos casos,
vigilncia dos contatos, seguimento dos casos em ambulatrio, profilaxia da exposio ao
contgio, premunio pelo BCG, tratamento, assistncia social e educao sanitria (PAIM,
1961).
Neste elenco de profilaxia observa-se que o controle dos comunicantes est
explicitado na maior parte das aes preconizadas.
Ainda encontrei, no incio desta dcada de 60, a publicao de vrios trabalhos
cientficos voltados ao estudo dos comunicantes, como, por exemplo, um ensaio apresentado
em um Simpsio de Profilaxia da Lepra em 1962, intitulado Ensaio sobre Previso de Novos
Casos de Lepra num Coletivo de Comunicantes, com o objetivo de, atravs de um mtodo
estatstico, calcular um ndice que traduzisse a potencialidade focal, ou seja, a capacidade de
um foco de gerar novos casos (CASTRO, 1963, p. 11).
Em 1962, a nova legislao brasileira para o controle da hansenase, baixada
atravs do Decreto n 968, revogou o isolamento compulsrio, conjugou medidas de controle
e interveno social com as de assistncia, fixou regras para a vigilncia dos enfermos no
internados, dos casos suspeitos e dos contatos, para verificao de notificaes e denncias, a
realizao de exames em grupos populacionais de interesse epidemiolgico e para
investigao de focos (ANTUNES; COSTA; AUGUSTO, 1988).
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unidade familiar, abolindo a prtica do afastamento dos filhos dos doentes de hansenase,
salvo algumas excees (BRASIL, MS, 1976).
Segundo Antunes; Costa e Augusto (1988), tal Poltica de Controle da Hansenase
evidenciava a necessidade da elaborao de programas que, no Sistema Nacional de Sade,
conjugassem profilaxia e assistncia, o que, se vai concretizar atravs da Portaria
Interministerial n 3, emitida em 27 de outubro de 1978, pelos Ministrios de Estado da Sade
e da Previdncia e Assistncia Social: criava-se o Programa Integrado de Controle da
Hansenase, que se baseava em medidas de preveno primria, secundria e terciria e, em
relao ao controle dos comunicantes, propunha como preveno primria a educao em
sade e a utilizao da vacina BCG-id e, como preveno secundria, que a vigilncia dos
contatos fosse realizada por meio de exame dermatoneurolgico, pelo menos uma vez ao ano.
Nesse perodo, no estado de So Paulo, implantava-se a Programao e, como
componente desse novo modelo tecnolgico, foi elaborado o Sub-Programa de Controle da
Hansenase (SPCH), que fazia parte dos Programas de Sade do Adulto, da Criana e da
Gestante. Em relao ao controle dos comunicantes, Nemes (1989), em sua dissertao de
Mestrado, refere que o sub-programa recomendava o seguimento de todos os comunicantes,
mas vrios tcnicos da Secretaria da Sade recomendavam apenas o seguimento dos
comunicantes das formas clnicas Virchoviana e Dimorfa que, embora no fosse conduta
oficial, era seguido por vrias unidades, j que em mbito central no possua banco de dados
especficos para comunicantes, apesar de as fichas epidemiolgicas conterem campos para o
preenchimento do nmero de familiares.
O controle dos comunicantes novos e antigos que, segundo o sub-programa,
deveriam ser acompanhados por cinco anos tambm era ineficaz, os comunicantes inscritos
freqentemente no eram submetidos a exames previstos e as unidades contavam como
existentes comunicantes em abandono, as consultas mdicas s atingiam pouco mais da
metade dos comunicantes e o atendimento de enfermagem jamais se concretizou como
previsto no SPCH; na maioria das unidades esta atividade resumia-se a perguntas sobre
possveis queixas e muitas unidades de sade abandonaram a atividade, mantendo apenas o
agendamento para a consulta mdica (NEMES, 1989).
As atividades de visita domiciliria e trabalho de grupo previstas para doentes e
comunicantes foram pouco utilizadas, traduzindo a precariedade do controle dos
comunicantes, caracterizando mais uma vez a pouca ateno que esses contatos recebiam dos
rgos oficiais de controle da hansenase.
QuadroTerico
54
Essa mesma autora ressalta ainda que os recursos materiais e humanos encontrados
so escassos, prejudicando o desenvolvimento contnuo e eficaz das poucas atividades
desenvolvidas na rea.
Em relao importncia do controle dos comunicantes, neste perodo, encontrei
um artigo onde consta que, como a hansenase se propaga especialmente no meio familiar,
lgico concentrar-se a ateno nos conviventes do doente bacilfero: a vigilncia de
contatos ou conviventes, para trat-los primeira manifestao da molstia em fase inicial,
mais beneficivel pelo tratamento (ROTBERG et al., 1983, p. 65).
Em 1987, realizada uma reviso da Portaria Ministerial n 165, de 1976, que
ainda vigorava, da qual resultou a Portaria n 001/DNDS, de 9/10/87, que trouxe um elenco
de normatizao em relao aos comunicantes (BRASIL, MS, 1987).
Nessa portaria encontrei definies quanto classificao dos contatos segundo o
tipo de convivncia: intradomiciliar (considerado como toda e qualquer pessoa que resida
com o doente) e extradomiciliar, e segundo a classificao do caso ndice: paucibacilar e
multibacilar. No entanto, casos da forma clnica indeterminada, com mitsuda negativo,
embora paucibacilar, estava includo entre os multibacilares por ser potencialmente
multibacilar.
QuadroTerico
55
QuadroTerico
56
os
contatos
intradomiciliares
de
pacientes
Virchowianos
Dimorfos,
independentemente da presena de cicatriz vacinal e da idade, com intervalo de um anocalendrio, visando aumentar a proteo desse grupo de risco (BRASIL, MS, 1990a; SO
PAULO, SES, 1992).
A partir do incio da dcada de 90, verificam-se freqentes modificaes nas
normas e diretrizes do Programa de Controle da Hansenase, atravs das vrias portarias do
Ministrio da Sade e portarias interministeriais, que vo sendo sucessivamente expedidas e
revogadas, tornando o problema mais abrangente, no se limitando s questes clnicas e
epidemiolgicas, mas ampliando a abordagem para questes sociais, moldando as diretrizes
polticas do Programa de acordo com as necessidades do mesmo, em consonncia com a nova
poltica de sade o Sistema nico de Sade, criado na Constituio Federal de 1988 e
regulamentado pela Lei n. 8.080/1990.
QuadroTerico
57
No ano de 1990, a Diviso Nacional de Dermatologia Sanitria passou a ser denominada Coordenao
Nacional de Dermatologia Sanitria (CNDS).
QuadroTerico
58
vacinao parece proteger contra o aparecimento das formas multibacilares a partir da 2 dose
(SO PAULO, SES, 1992).
As instrues normativas do Ministrio da Sade recomendavam que os contatos
de doentes paucibacilares, que no apresentassem nenhuma suspeita, fossem liberados aps o
primeiro exame dermatoneurolgico e no recebessem a vacina BCG-id. No entanto, o estado
de So Paulo a adotou para todos os contatos intradomiciliares, inclusive os contatos de
paucibacilares tambm deveriam ser submetidos vigilncia correspondente ao perodo das
duas aplicaes e, caso no apresentassem sinais suspeitos de hansenase, poderiam ser
dispensados aps a segunda dose do BCG-id (SO PAULO, SES, 1992).
Ainda em 1992, o Centro de Vigilncia Epidemiolgica (CVE) da Secretaria de
Estado da Sade de So Paulo, publica um Manual de Vigilncia Epidemiolgica sobre
Hansenase: normas e instrues, que vem nortear as condutas e aes das unidades de
sade em relao a hansenase, principalmente na rea da vigilncia epidemiolgica e
medidas de controle, entre elas, a vigilncia dos contatos.
Neste manual, encontra-se entre os indicadores operacionais um outro indicador
para medir a eficincia das medidas de vigilncia, elaborado para verificar a proporo de
vacinados com BCG-id entre os contatos intradomiciliares de doentes Virchowianos e
Dimorfos antigos. Neste indicador constam no numerador os contatos em registro ativo de
doentes Virchowianos e Dimorfos antigos que receberam a 2 dose de BCG-id no ano e no
denominador o total de contatos em registro ativo de doentes Virchowianos e Dimorfos
antigos; considera-se bom o resultado maior ou igual a 80%, regular de 50 a 79% e precrio o
resultado menor de 50% (SO PAULO, SES, 1992).
No ano de 1993, expedida a Portaria Ministerial n 814, que tambm traz novas
instrues normativas em relao ao controle dos comunicantes, ao simplificar os critrios
de vigilncia, determinando que, aps o exame dermatoneurolgico de todos os contatos
intradomiciliares dos casos novos, de todas as formas clnicas, o contato indene deve ser
liberado com orientao quanto ao perodo de incubao, transmisso, sinais e sintomas da
hansenase e, se necessrio, retornar ao servio (BRASIL, MS, 1993).
Esta portaria, a exemplo do que j estava preconizado no estado de So Paulo,
passa a recomendar a aplicao de duas doses da vacina BCG-id a todos os contatos
intradomiciliares de casos novos de hansenase, independentemente da forma clnica.
Ainda em 1993, no estado de So Paulo, atravs da Resoluo SS-220 de
13/07/93, aprovada a Norma Tcnica que estabelece diretrizes e estratgias para as aes de
controle de hansenase. No entanto, este documento no faz qualquer meno entre suas
QuadroTerico
59
diretrizes bsicas quanto ao controle dos comunicantes, exceto quando coloca que a deteco
de casos visando ao diagnstico precoce da doena ser feita atravs do atendimento da
demanda espontnea, verificao de notificaes e busca ativa pelo exame de contatos
domiciliares, sem, no entanto, especificar tal conduta (SO PAULO, SES, 1993).
A pouca importncia dada ao controle dos comunicantes tambm evidenciada no
Relatrio da Situao da Endemia Hansnica do Estado de So Paulo de 1993, elaborado
pela Diviso Tcnica de Vigilncia Epidemiolgica de DST/AIDS/Hansenase do CVE/SES
de So Paulo, onde no se encontram referncias quanto vigilncia dos contatos, nem
mesmo anlises dos indicadores operacionais normatizados que aferem a eficincia das
medidas de vigilncia desse elo da cadeia epidemiolgica da hansenase (SO PAULO, SES,
1994a).
A mesma falta de ateno em relao vigilncia dos contatos se reproduz em
outros relatrios, como no Relatrio da Vigilncia Epidemiolgica sobre a Situao da
Endemia Hansnica no Estado de So Paulo de 1994, bastante detalhado, abordando sobre
recidivas, efeitos adversos aos medicamentos do PQT, Plano de Eliminao da Hansenase,
cadastro geral dos doentes, cobertura do Programa de Controle, situao dos casos novos,
tendncia da endemia, situao das incapacidades fsicas, incluso em PQT/OMS dos casos
novos, prevalncia, situao dos abandonos, mas sem referncias vigilncia dos contatos
(SO PAULO, SES, 1995).
Em um outro documento de maio de 1994, da Secretaria de Estado da Sade,
intitulado Diretrizes para o Plano de Eliminao da Hansenase no Estado de So Paulo at o
ano 2000, h uma breve avaliao do controle dos comunicantes, onde se coloca que, em
relao ao exame, a cobertura permaneceu em valores muito abaixo dos desejados e nem
mesmo a implantao da vacinao BCG-id contribuiu para melhorar o desempenho da rede
de servios junto aos contatos domiciliares, uma vez que a cobertura dessa vacina permaneceu
em nveis muito insatisfatrios (SO PAULO, SES, 1994b).
Ainda neste ano, publicado pelo Ministrio da Sade/Fundao Nacional da
Sade um Guia de Controle da Hansenase, que, entre outros aspectos, aborda as medidas
gerais de controle, e onde consta que a investigao epidemiolgica a partir do caso ndice e o
exame clnico peridico dos contatos intradomiciliares se constituem uma das principais
atividades na busca do diagnstico clnico precoce da hansenase. No entanto, h contradio
no prprio Guia em relao periodicidade do exame clnico dos contatos, pois a norma
nacional vigente poca (Portaria n 814, de 22/7/93) recomendava um nico exame
dermatoneurolgico, liberando-os a seguir, caso estivessem sadios (BRASIL, MS, 1994a).
QuadroTerico
60
QuadroTerico
61
O esquema PQT/ROM consiste na administrao em dose nica de uma combinao de trs antibiticos: 600
mg de Rifampicina, mais 400 mg de Ofloxacina e 100 mg de Minociclina, a ser utilizado no tratamento da
hansenase paucibacilar com uma nica leso de pele. BRASIL. Ministrio da Sade/Fundao Nacional da
Sade. Alteraes nas instrues normativas do Plano Nacional de Eliminao da Hansenase (BRASIL, MS,
1998a).
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ano
de
1999,
Ministrio
da
Sade
lanou
Guia
Para
de
propor
uma
avaliao sobre
participao dos
comunicantes
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63
Vigilncia dos Contatos, que para fins operacionais continua recomendando considerar como
contato intradomiciliar toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido nos ltimos cinco
anos com o doente; igualmente mantm a recomendao de dispensar o contato sadio aps
o exame dermatoneurolgico, com orientaes necessrias quanto aplicao das duas doses
da vacina BCG-id em todos os contatos intradomiciliares de todos os casos novos de
hansenase, independentemente da forma clnica, conforme j normatizadas desde 1993
(BRASIL, MS, 2001a).
A Portaria Ministerial tambm apresenta, entre os indicadores operacionais, um
indicador para avaliar a execuo da atividade de vigilncia de contatos: a porcentagem de
examinados entre os contatos intradomiciliares de casos novos diagnosticados no ano, em
cujo numerador se colocam os contatos intradomiciliares de casos novos diagnosticados no
ano, que foram examinados; no denominador, o total de contatos intradomiciliares de casos
novos diagnosticados no ano, sendo considerado bom o resultado maior ou igual a 75%,
regular de 50 a 70% e precrio o resultado menor que 50% (BRASIL, MS, 2001a).
Em maro de 2001, o Ministrio da Sade lana o Controle da Hansenase na
Ateno Bsica: guia prtico para profissionais da equipe de sade da famlia, que traz
informaes sobre vrios aspectos, entre eles, as aes de Vigilncia Epidemiolgica da
Hansenase, enfatizando os mtodos de descoberta de casos, visando ao diagnstico precoce
inclusive por meio do exame de todos os contatos do caso diagnosticado, alm da
investigao epidemiolgica, que aborda sobre a vigilncia dos contatos, mantendo as
recomendaes da Portaria Ministerial anteriormente citada (MOREIRA; COSTA NETO,
2001).
Tambm em 2001, o Ministrio da Sade publica outro material denominado
Hansenase: atividades de controle e manual de procedimentos, que no modifica as
informaes dos manuais anteriores sobre a vigilncia dos contatos intradomiciliares
(BRASIL, MS, 2001c).
Ainda em outubro deste ano, no estado de So Paulo, publicada a Resoluo SS130, que aprova a norma tcnica para as diretrizes e estratgias de aes de controle da
hansenase e preconiza os esquemas de tratamento; em relao vigilncia de contatos,
mantm as recomendaes da Resoluo SS-31 de 19/2/1999, agora revogada (SO PAULO,
SES, 2001).
Em novembro de 2001, o Ministrio da Sade lana o Plano Nacional de
Mobilizao e Intensificao das aes para a Eliminao da Hansenase e Controle da
Tuberculose. O plano uma parceria do Ministrio com as Secretarias Estaduais e Municipais
QuadroTerico
64
de Sade e ONGs e est inserido na proposta da Ateno Bsica Sade, cuja normatizao
sobre a vigilncia dos contatos j estava preconizada no guia citado acima.
Em 2002, o Ministrio da Sade publica o Guia para o controle da hansenase"
(BRASIL, MS, 2002a) e lana a quinta edio do Guia de Vigilncia Epidemiolgica, que
se constitui um importante instrumento de pesquisa para os profissionais de sade e cujo
captulo destinado a hansenase bastante detalhado, contemplando o contedo do Guia j
citado; d-se destaque importncia da investigao epidemiolgica da vigilncia dos
contatos intradomiciliares e da vacinao BCG e traz a construo de um indicador
operacional de porcentagem de examinados entre os contatos intradomiciliares de casos novos
diagnosticados no ano (BRASIL, MS, 2002b). Ou seja, esses guias no trazem alteraes
significativas na descrio das medidas de controle dos comunicantes intradomiciliares de
hansenase em relao aos guias e manuais anteriormente citados.
Em outubro de 2002, o Ministrio da Sade publica a Portaria n 1.838, que define
as diretrizes e estratgias para estimular e consolidar as aes voltadas eliminao da
hansenase. Entre outras medidas, cria um bnus incentivo para a ampliao da deteco da
prevalncia oculta da hansenase no mbito da ateno bsica de sade de municpios
considerados prioritrios (BRASIL, MS, 2002c).
Com essa medida esperava-se ampliar em 30% a deteco de casos novos de
hansenase no pas, principalmente nos 607 municpios considerados prioritrios para a
eliminao da doena. Acredito que isto constitui mais uma oportunidade para os servios de
sade dos municpios endmicos brasileiros iniciarem ou implementarem a busca ativa de
casos por meio do controle efetivo dos comunicantes e avaliarem epidemiologicamente a
participao real desses sujeitos na endemia hansnica.
Enfim, todas as normatizaes aqui citadas com relao vigilncia dos contatos
que foram expedidas e revogadas a partir de 1987, possivelmente no causaram impacto
significativo no controle dos comunicantes, pois no podemos garantir que todos os gestores e
gerentes de servios de sade e os responsveis pela operacionalizao das aes do Programa
de Eliminao da Hansenase tenham tido conhecimento sobre as mesmas.
Atribuo que isto se deva a vrios fatores que envolvem desde dificuldade de acesso
ao Dirio Oficial da Unio e do Estado, problemas de gerenciamento e organizao dos
servios de sade, qualificao dos recursos humanos, alm do processo nem sempre bem
conduzido da municipalizao da sade, inoperncia de muitos Conselhos Municipais de
Sade, entre outros fatores no menos importantes.
QuadroTerico
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QuadroTerico
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Isoladamente, a prevalncia tem valor muito limitado como um indicador para o
controle da hansenase. A taxa de deteco de casos novos pode ser um indicador
melhor. Esta taxa deve ser analisada em conjunto com outros indicadores (...).
QuadroTerico
67
produz e as suas conseqncias para o doente e seus familiares nos aspectos psicolgicos e
sociais.
Outra questo a descentralizao das aes de controle para todos os servios
de sade, integrando-as nos servios bsicos de sade, ou seja, modificando o modelo
tradicional verticalizado do programa, horizontalizando-o. De acordo com Soutar (2002), o
processo de integrao dos programas de controle da hansenase nos servios gerais de sade
j vem ocorrendo em alguns pases, ou encontra-se em fase de planejamento em muitos
outros. Este mesmo autor coloca que o processo tem sido apresentado como pr-requisito para
a eliminao da hansenase como um problema de sade pblica, mas adverte que a mudana
de um programa vertical para um programa integrado no fcil e o processo deve ser
planejado com muito cuidado, adequando-o realidade local, pois no existe uma frmula
nica para uma integrao bem sucedida.
Feenstra e Visschedijk (2002, p. 48), ao analisarem editorial anterior de Feenstra
sobre Integrao, citam que
Integrao significa que as actividades de controle da hansenase passam a ser da
responsabilidade dos servios gerais de sade, ou seja, um servio de sade
polivalente, permanente e descentralizado, que est o mais prximo possvel da
comunidade. Integrao no significa que os elementos especializados sejam
eliminados do servio de sade. Pelo contrrio, um componente especializado deve
estar disponvel no servio de sade geral a nvel central e a nveis intermedirios
para planejamento e avaliao, aces de formao, superviso tcnica, servios de
referncia e investigao.
QuadroTerico
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anterior,
do
diagnstico
da
hansenase,
pois
defender
QuadroTerico
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QuadroTerico
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apresenta vrios indicadores, entre eles para hansenase; ali encontrei um novo indicador
relacionado aos comunicantes, que se refere proporo de comunicantes de hansenase que
receberam BCG: no numerador coloca-se o nmero de comunicantes de hansenase que
receberam a 2 dose de BCG, em determinado local e perodo, no denominador coloca-se o
nmero total de comunicantes de hansenase, no mesmo local e perodo, multiplicado por 100.
O novo indicador tem como objetivo identificar situaes que demandem cuidado especial e
orientar sobre a imunizao com BCG, alm de avaliar as aes da vigilncia epidemiolgica
(BRASIL, MS, 2004c).
No ms de abril de 2004, o Ministrio da Sade publica a Portaria n 586/GM e a
Portaria n 587/GM. A primeira, institui, no mbito do SUS, um conjunto de aes e medidas
coordenadas para a eliminao da hansenase a serem compartilhadas pelas trs esferas de
governo com a finalidade de fortalecer o desenvolvimento das aes de preveno,
diagnstico, tratamento, reabilitao e controle dessa doena, destacando-se entre seus
objetivos a integrao das aes de eliminao da hansenase (diagnstico e tratamento), na
Ateno Bsica, com o propsito de promover, principalmente nos municpios endmicos, o
maior acesso das pessoas atingidas pela doena. A segunda portaria estabelece os mecanismos
para a reorganizao e a implantao de Redes Estaduais e Municipais de Ateno
Hansenase, que sero integradas por Servios de Ateno Hansenase em trs nveis de
ateno: aes de sade na ateno bsica, servios de ateno hansenase na mdia
complexidade e servios de ateno hansenase na alta complexidade. Infelizmente, tais
portarias nada trazem sobre a vigilncia dos contatos (BRASIL, MS, 2004d; BRASIL, MS,
2004e).
Em julho de 2004, realiza-se, em Ribeiro Preto, o 2 Simpsio Brasileiro de
Hansenologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Hansenologia. Apesar de a
programao oficial no trazer discusses especficas sobre o controle dos comunicantes, tal
assunto foi abordado desde a sesso de abertura, permeando as apresentaes de algumas
conferncias, mesas redondas e temas livres, sendo considerado fundamental ou importante
por diversos palestrantes.
No ms de outubro de 2004, o ministrio da sade inicia o lanamento da primeira
Carta de Eliminao da Hansenase. Esta Carta apresenta a situao epidemiolgica da
hansenase nos estados e que tem como objetivo evidenciar o problema e cobrar empenho dos
gestores para que o pas alcance a meta de eliminao (BRASIL, MS, 2004a).
A seguir, apresento a trajetria metodolgica desta pesquisa, reconhecendo que a
historicidade acima apresentada sobre as medidas de controle dos comunicantes de doentes de
QuadroTerico
72
hansenase no Brasil de 1889 a 2004 no pode ser entendida como definitiva, podendo ser
reconstruda e oportunamente complementada de acordo com a evoluo das normas que
vierem a ser expedidas pelos rgos oficiais de sade do pas ou do estado de So Paulo, com
o objetivo de contribuir para a documentao histrica da hansenase na dimenso do controle
dos comunicantes. Nesta tese, ela serve como parte do quadro terico que balizar a anlise
dos dados.
4 TRAJETRIA METODOLGICA
Trajetria Metodolgica
74
A minha opo por este referencial metodolgico deve-se ao fato de entender que
para compreender a percepo dos comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase
sobre a doena, o convvio com o doente e o controle realizado pelo servio de sade, essa
metodologia, segundo Minayo (2004, p. 10), capaz de incorporar a questo do
SIGNIFICADO e da INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, s relaes e s
estruturas sociais (...).
Os comunicantes intradomiciliares de hansenase, o doente e seus familiares so
atores sociais que participam do processo sade-doena com diferentes experincias de vida,
situao scioeconmica e cultural, religiosidade, preocupaes, medos e vises do mundo, e
acredito que para compreender esses fenmenos e lanar luz sobre determinados aspectos da
realidade desses atores sociais, a pesquisa qualitativa a que permite uma aproximao dessa
realidade vivida pelos sujeitos; ainda: sabemos que este estudo tem um carter aproximado,
provisrio e inacessvel em relao totalidade do objeto, pois, de acordo com Deslandes
(2001, p. 33), as idias ou explicaes que fazemos da realidade estudada so sempre mais
imprecisas do que a prpria realidade. Da mesma forma, Minayo (2004) coloca que os
conhecimentos produzidos na pesquisa qualitativa so recortes dinmicos da realidade, uma
vez que esta maior que nossos esquemas de captura.
Trajetria Metodolgica
75
Minayo (2004, p. 22) coloca que o objeto das cincias sociais complexo,
contraditrio, inacabado, em permanente transformao, sendo tambm sujeito que sempre
interage com o pesquisador. Este sujeito de estudo gente, em determinada condio social,
pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenas, valores e significados.
Essa gente, nesta pesquisa, so os comunicantes intradomiciliares de doentes de
hansenase, que de uma forma ou de outra participam do processo de adoecimento causado
pela hansenase, o que a torna uma doena cuja repercusso vai alm da dimenso biolgica e
individual e atinge dimenses sociais e psicolgicas tambm no plano coletivo, como os seus
familiares, principalmente os comunicantes intradomiciliares.
Tambm sobre esta gente, Carrasco e Pedrazzani (1993, p. 215) assim abordam:
Na convivncia intradomiciliar o comunicante desempenha um papel de suma
importncia porque est ligado ao doente afetiva, social e economicamente, assim
como um grau de parentesco muito prximo, alm de compartilhar de seus
problemas e necessidades. Acreditamos que com esta proximidade fsica, o
comunicante tenha um maior acesso ao doente e conseqentemente mais
participao no tratamento e controle desta doena que causa tanto sofrimento s
pessoas.
Trajetria Metodolgica
76
doentes de hansenase sobre a doena, o convvio com o doente e o controle realizado pelo
servio de sade.
De acordo com Husserl (1985) apud Turato (2003, p. 205), (...) a percepo um
ato que determina a significao (...).
Para Chau (2002, p.122), a percepo sempre uma experincia dotada de
significao, isto , o percebido dotado de sentido e tem sentido em nossa histria de vida,
fazendo parte de nosso mundo e de nossas vivncias.
De acordo com Rudio (1990, p. 36), quando falamos em percepo estamos nos
referindo a esse significado prprio, pessoal, que cada indivduo d s coisas, pessoas e
acontecimentos. (...) Cada percepo uma espcie de traduo subjetiva que o indivduo faz
de elementos da realidade, dando-lhes significados pessoais.
Piovesan (1970) j falava que a maior parte das nossas aes so constitudas pelas
percepes e estas podem desempenhar papel importante no modo pelo qual os indivduos
procuram resolver os seus problemas de sade.
Ainda sobre a pesquisa qualitativa, encontram-se, em Trivios (1995) e Bogdan e
Biklen (1999), as cinco caractersticas bsicas que a configuram:
1) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento;
2) A pesquisa qualitativa descritiva;
3) A preocupao com o processo muito maior do que com o produto;
4) O significado a preocupao essencial;
5) A anlise dos dados tende a seguir um processo indutivo.
Essas caractersticas permearam este estudo, e assim contextualizarei o Campo
desta Pesquisa.
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casos. Durante o perodo de aulas prticas das disciplinas de Enfermagem em Sade Pblica e
Enfermagem em Doenas Transmissveis, todas estas atividades citadas acima tambm so
realizadas por este pesquisador e os graduandos em enfermagem, alm da realizao do
Exame de Coletividade em bairros perifricos.
Quadro 2 Levantamento da produo dos procedimentos realizados no Centro de
Atendimento a Doenas Infecto-Contagiosas e Parasitrias CADIP, municpio de
Fernandpolis/SP, no perodo de 2002 2003.
ANO
Procedimentos
desenvolvidos no CADIP
Consultas de Enfermagem
2002
2003
68
185
Consultas de Fisioterapia
510
653
2.851
3.898
91
109
104
125
12
15
12
55
227
90
136
125
262
18
35
Consultas Mdicas
Bipsia de pele
Visitas Domicilirias
Palestras na Comunidade
Assim, neste cenrio familiar que tive, na maioria das vezes, os primeiros
contatos com os sujeitos desta pesquisa, por meio das consultas ou atendimento de
enfermagem. O CADIP onde me sinto em casa, l vivencio o processo contnuo de
ensino-aprendizagem e do cuidar da enfermagem, especialmente com os doentes e
comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase, pois, como cita Cruz Neto (2001, p.
52), o trabalho de campo deve estar ligado a uma vontade e a uma identificao com o tema
a ser estudado, permitindo uma melhor realizao da pesquisa proposta.
De acordo com Denzin e Lincoln (1994) apud Marcus e Liehr (2001, p. 123),
pesquisadores qualitativos estudam coisas em seus cenrios naturais, tentando compreender
ou interpretar fenmenos em termos de significados que as pessoas trazem para eles.
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83
Turato (2003) utiliza o termo setting para esses cenrios naturais, podendo ser ele
uma instituio de sade ou uma residncia. Nesta pesquisa tive como setting o CADIP, pois
o considerei como o cenrio mais apropriado para os sujeitos desta pesquisa expressarem
verbalmente, com mais tranqilidade e segurana, as suas percepes sobre a doena, o
convvio com o doente e o controle realizado pelo servio de sade.
Deslandes e Gomes (2004) abordam que os servios de sade podem servir de
cenrios de pesquisas e as interaes entre profissionais de sade, usurios e servios
podem ser um locus privilegiado de anlise para se compreender o que representa a doena ou
o tratamento (p. 101).
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E, segundo Minayo (2004), o que faz com que a entrevista seja considerada um
instrumento fundamental para as cincias sociais a possibilidade de
a fala ser reveladora de condies estruturais, de sistemas de valores, normas e
smbolos (sendo ela mesma um deles), e, ao mesmo tempo, possui a magia de
transmitir, atravs de um porta-voz (o entrevistado), representaes de grupos
determinados em condies histricas, scio-econmicas e culturais especficas (p.
109-110).
Bakhtin (1986) apud Minayo (2004) coloca que a palavra o material privilegiado
de comunicao na vida cotidiana, sendo esta a arena onde os valores sociais contraditrios se
confrontam.
Dentre as modalidades de entrevista optei pela entrevista semi-estruturada que,
para Minayo (2004, p.108), combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou condies
prefixadas pelo pesquisador.
A opo por esta modalidade de entrevista tambm decorre da colocao de
Trivios (1995) quando aborda que ela, simultaneamente, valoriza a presena do pesquisador
e oferece perspectivas para que o entrevistado alcance a liberdade e a espontaneidade
necessrias, enriquecendo a pesquisa.
Nessa pesquisa realizei a entrevista utilizando-me de um gravador digital e um
porttil com fitas cassete, aps a aquiescncia pelos sujeitos efetuadas por meio da assinatura
do Termo de Consentimento, conforme j foi mencionado no decorrer deste trabalho.
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uma visita domiciliria para cada um destes endereos, para escolher os sujeitos para
participarem das entrevistas com a finalidade de verificar a objetividade, clareza e
compreenso das questes norteadoras j citadas. Nessas visitas domicilirias segui um
roteiro que havia elaborado contendo os seguintes momentos: auto-apresentao do
pesquisador, inclusive portando a carteira de estudante de Ps-Graduao da EERP/USP,
explicitao dos motivos da visita e sobre o que um curso de doutorado em enfermagem e a
escolha de um comunicante intradomiciliar. Para a escolha foi levada em considerao a
sugesto dos familiares presentes, desde que tambm obedecesse aos critrios de incluso j
mencionados. Para cada sujeito escolhido realizei uma breve apresentao dos objetivos do
trabalho, com explicao, em linguagem acessvel, sobre a necessidade de assinar um Termo
de Consentimento antes da entrevista. Uma vez confirmado o desejo de participar da
entrevista ele escolhia o dia e horrio mais conveniente para a realizao da mesma no
CADIP e tambm solicitava ao comunicante a informao se ele precisaria ou no de passes
de circular, pagamento de despesas com combustvel ou preferiria que este pesquisador
realizasse o transporte da residncia para o CADIP e vice-versa.
4. Nos dias e horrios agendados para a realizao das entrevistas destes dois
comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase segui o seguinte roteiro:
9 preparao do setting da pesquisa: ateno para aspectos como a disposio
dos mveis de forma a no criar barreiras fsicas entre o pesquisador e o
sujeito, iluminao e ventilao agradveis e informao a todos os membros
da equipe sobre a colaborao necessria para evitar interrupes, barulhos e
outras interferncias externas que pudessem provocar mudanas no setting de
pesquisa quando a entrevista foi realizada no horrio de expediente da unidade
de sade CADIP. Tambm tive ateno para com os impressos necessrios:
Termos de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, formulrio e
roteiro das questes norteadoras, gravadores testados, folhas de papel e
canetas;
9 localizao do pronturio do doente no arquivo;
9 recepo do comunicante na unidade;
9 convite para se dirigir sala da entrevista;
9 explanao breve da vida profissional e acadmica do pesquisador, da
dissertao de mestrado e dos objetivos e importncia desta atual pesquisa com
os comunicantes intradomiciliares de doente de hansenase;
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compareceram para a entrevista, sendo que um deles desmarcou por telefone, no sendo
possvel reagend-los, e, portanto, no fizeram parte desta pesquisa.
Este pesquisador usou o prprio veculo para transportar cinco sujeitos da pesquisa
que solicitaram este meio de transporte oferecido por ocasio da visita domiciliria. Os
demais utilizaram outros meios de transporte como carro prprio, motocicleta, bicicleta ou
vieram a p por residirem prximos unidade de sade. Nenhum dos que compareceram de
carro ou moto aceitou pagamento para o combustvel.
Assim todos os dados foram coletados por este pesquisador. As gravaes das
entrevistas foram realizadas com a utilizao de dois gravadores, sendo um digital com
capacidade para quatro horas de gravao contnua e um gravador porttil com o uso de fitas
cassetes, como medida de segurana, sendo que esta estratgia foi til para este pesquisador,
pois ocorreram incidentes durante a gravao da entrevista e, depois, a transcrio das fitas, os
quais prejudicariam o processo de coleta de dados (como a desgravao acidental de parte de
uma entrevista no gravador com fita microcassete por uma das filhas do pesquisador e a
gravao apenas parcial de uma entrevista no gravador digital por falha tcnica).
A maioria dos depoimentos foi transcrita inicialmente por duas colaboradoras,
sendo uma enfermeira e uma auxiliar de enfermagem em funo de problema auditivo deste
pesquisador. Os depoimentos foram digitados por um profissional da informtica, em editor
de texto Word em duas colunas, sendo uma para a descrio da falas dos sujeitos
entrevistados e a outra para uma primeira codificao aps as leituras. Aps, este pesquisador
conferiu junto com uma colaboradora a gravao com o texto digitado, realizando as
correes que se fizeram necessrias. A transcrio e a digitao dos depoimentos foi literal e
procuramos preservar as expresses de linguagem e gramaticais dos sujeitos.
As entrevistas, em mdia, duraram trinta minutos. A de maior durao teve
quarenta minutos e a de menor durao foi de 20 minutos. Trivios (1995, p. 146) coloca que,
em geral, a durao da entrevista flexvel e depende das circunstncias que rodeiam
principalmente o informante e o teor do assunto em estudo. Aps a entrevista, quinze dos
sujeitos quiseram ouvir a gravao do contedo; observei que demonstravam curiosidade para
ouvir sua voz gravada, os demais sujeitos no quiseram ouvi-la por motivos diversos.
Minayo (2004) coloca que a relao entrevistado/entrevistador, na pesquisa
qualitativa, essencial e esta deve ser a mais prxima possvel, almejando uma verdadeira
interao, o alcance da intersubjetividade. Assim, segui o roteiro acima descrito para a
entrevista na busca dessa interao e dessa intersubjetividade, com o propsito de oferecer
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Em relao anlise dos dados qualitativos obtidos por meio das entrevistas, optei
pela utilizao da Tcnica de Anlise de Contedo, modalidade Temtica, com base em Bardin
(1979), autora que tem servido de referencial terico metodolgico para estudos sobre o mtodo
de anlise de contedo para outros autores como Trivios (1995), Rodrigues e Leopardi (1999),
Gomes (2001), Turato (2003) e Minayo (2004), que, por sua vez, servem de referncia para os
pesquisadores que se utilizam da abordagem qualitativa, como o deste estudo.
De acordo com Bardin (1979, p. 42), anlise de contedo
um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por
procedimentos sistemticos e objectivos de descrio do contedo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou no) que permitam a inferncia de
conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis
inferidas) destas mensagens.
Para Minayo (2004, p. 203), a anlise de contedo articula a superfcie dos textos
descrita e analisada com os fatores que determinam suas caractersticas: variveis psicossociais,
contexto cultural, contexto e processo de produo da mensagem.
Rodrigues e Leopardi (1999) colocam que a anlise de contedo vem sendo
privilegiada dentre as formas atuais de investigao na sade, para explicitar elementos
invisveis do processo de viver e adoecer por meio das metodologias tradicionais, pois ela visa
tornar evidentes e significativamente plausveis corroborao lgica os elementos ocultos da
linguagem humana, alm de organizar e descobrir o significado original dos seus elementos
manifestos (p. 19).
Neste sentido, Gomes (2001) coloca que atualmente se podem destacar duas funes
na aplicao dessa tcnica: verificar hipteses e/ou encontrar respostas para as questes
formuladas e ir em direo da descoberta do que est por trs dos contedos manifestos, indo
alm das aparncias do que est sendo comunicado (p. 74).
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5 RESULTADOS E DISCUSSO
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precrias pelas condies da sua estrutura fsica. Todas as residncias foram visitadas por este
pesquisador por ocasio da visita domiciliria para escolher os sujeitos desta pesquisa.
Em relao aos doentes, em tratamento, que caracterizam os sujeitos desta
pesquisa (comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase), dez so do sexo
feminino e nove, do sexo masculino. No que se refere forma clnica, seis se classificam
como paucibacilares, todos na forma indeterminada e treze, classificados como multibacilares
(doze na forma dimorfa e um caso virchowiano). Os seis casos paucibacilares estavam em
tratamento pelo esquema poliquimioterpico correspondente de seis blisters. J dos
multibacilares, oito estavam sendo tratados com esquema poliquimioterpico de vinte e quatro
blisters e cinco com o esquema de doze blisters.
Nesta unidade temtica procederei anlise dos depoimentos sobre a forma como
os comunicantes intradomiciliares compreendem a hansenase de acordo com os ncleos de
sentido evidenciados.
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Resultados e Discusso
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em 1847 (Danielssen e Boeck) se diferenciou a lepra como uma entidade clnica distinta de
muitas outras doenas at ento freqentemente confundidas com ela.
Este autor ainda refere que, somente em 1874, Hansen publicou os resultados
iniciais de suas pesquisas, identificando o M. leprae como um organismo sistematicamente
presente, embora em concentraes muito variveis, em todos os tipos de leses que, por
definio clnica, eram hansenase, acrescentando que, de maneira genrica, a lepra na Bblia
uma condio patolgica, em geral um conjunto de doenas em um contexto de enfermidade
e aflio fsica.
Browne tambm menciona que no Antigo Testamento a palavra lepra, juntamente
com o seu derivado leproso, uma traduo do hebraico tsaraat, e que vinte e nove das trinta
e cinco ocorrncias esto em dois captulos do livro de Levtico (13 e 14); sabe-se que
nenhuma outra doena recebeu o mesmo destaque na Bblia e que tsaraat tem sido objeto de
debates h muito tempo entre os estudiosos quanto sua derivao e significado original:
seja qual for a derivao do termo, em Levtico 13 e 14 esta palavra sugere a
aparncia desfigurada e aterrorizante de uma superfcie a pele humana, uma
vestimenta, couro, ou das paredes da uma casa que deixa a pessoa ou o objeto
cerimonialmente impuros (p. 22).
Este autor ainda cita que o indivduo sob suspeita de estar com tsaraat era levado
ao sacerdote, que examinaria os sintomas especficos da doena considerada impura e
aviltante; as principais caractersticas clnicas que permitiam ao sacerdote fazer um
diagnstico positivo de tsaraat eram a leucotricia (a brancura do cabelo no ocorre na
hansenase) e algum tipo de depresso da pele.
J para Ujvari (2003); as pessoas com suspeita de ter a lepra eram submetidas a
exame de confirmao por um jri nada eficaz, composto por pessoas comuns ou do clero, em
que muitos erros eram cometidos, provocando a expulso de milhares de indivduos das
cidades, condenando-os ao anonimato e segregao da sociedade. Antes, porm, da excluso
do leproso era realizada uma cerimnia religiosa, a missa dos leprosos, quando, diante de
um altar com um capuz negro cobrindo-lhe a cabea; recebia sua sentena e, aps ouvir as
proibies, recebia um par de luvas, po e uma matraca de madeira e ferro para anunciar sua
chegada a lugares pblicos: aps a cerimnia, era levado ao porto da cidade, onde jogavam
punhados de terra em seu corpo. Isso representava a ato final de banimento do leproso na
sociedade medieval (p. 52).
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Pedrosa (1991) tambm mostra em seu estudo que o vocbulo hansenase foi
freqentemente substitudo por pronomes como aquela ou essa doena, e interpretou isto
como sendo receio ou desejo do doente em omitir algo.
Como posicionamento particular deste pesquisador, defendo e utilizo o termo
hansenase, por acreditar que no h mais espao no processo histrico da doena no Brasil
para defendermos o retorno nem a utilizao rotineira do termo lepra, at porque a Portaria n
1.073/GM de 26/9/2000, como j citei, permite, quando se fizer necessrio, utilizar o termo
existente na terminologia popular, ou seja, a lepra. Normalmente, no desenvolvimento de
minhas atividades profissionais, ao entrevistar doentes e comunicantes, pergunto-lhes se a
hansenase os faz lembrar de alguma outra doena e, se necessrio, me reporto lepra,
apontando as diferenas da hansenase com esta doena bblica. Portanto, no vejo que a
substituio de nomenclatura tenha sido apenas uma mudana de rotulagem sem mudar o
contedo.
Uma publicao recente de Oliveira et al. (2003), intitulada A representao
social da hansenase, trinta anos aps a substituio da terminologia lepra no Brasil,
conclui que a hansenase parte da modernizao do senso comum, mas ainda ancorada na
representao tradicional da lepra (p. 41).
Tambm acho oportuno pontuar que, no Brasil, a hansenase j recebeu muitas
outras denominaes alm da lepra, como, principalmente, morfia e doena de Lzaro.
Gomide (1993) cita que Oswaldo Cruz, uns dos patrocinadores do isolamento do doente de
hansenase no incio do sculo passado, a denominava freqentemente de lepra, filha mais
velha da morte, gafarias e horrvel molstia. Por meio dessas metforas ameaadoras
objetivava conseguir a adeso e a mobilizao da sociedade em torno das medidas sanitrias
relativas doena, utilizando-se do medo que sempre acometia a populao quando se tratava
de lepra (p. 43). Na rea da sade, atualmente, relativamente usual denomin-la de Mal de
Hansen, sendo tambm possvel encontrar unidades onde as capas de pronturios dos doentes
de hansenase tm a inscrio da sigla MH para identificao. Em outras unidades de sade,
os profissionais se utilizam apenas do vocbulo oficial Hansenase.
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ASPECTOS
CLNICOS,
EPIDEMIOLGICOS
Resultados e Discusso
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e Puntel (1997) abordaram que 25% dos comunicantes e doentes entrevistados em sua
pesquisa em Campinas/SP tinham uma viso distorcida ou no sabiam praticamente nada
sobre a hansenase, enquanto os demais apresentavam conhecimentos rudimentares,
equivalentes as mensagens dos cartazes informativos do Centro de Sade. Em estudo mais
recente, Maia et al. (2000) apresentam que dos 132 participantes do estudo (78 membros da
equipe de enfermagem e 54 trabalhadores braais), 100% dos entrevistados na equipe de
enfermagem afirmaram ter ouvido falar na hansenase; j na categoria dos trabalhadores
braais apenas 18,5% afirmaram conhec-la, demonstrando, assim, a pertinncia de
campanhas de orientao populao, alm das aes educativas permanentes nas unidades
de sade, independentemente do nvel ou ponto de ateno em que se encontram.
Em relao aos conhecimentos sobre a hansenase, trago agora alguns depoimentos
de como os comunicantes intradomiciliares se expressaram quanto sua classificao:
Pouco que eu sei, que parece que ela tem 3 tipos de hansenase,
uma mancha branca, a outra avermelhada e outra escura, que ela tem
umas etapas... (entr. n 3)
... ela tem dois tipos, essa doena hansenase, n? (entr. n 6)
... existe vrios tipos mesmos da hansenase... (entr. n 13)
... que existe vrios casos, o que contagioso e o que no ... (entr. n
19)
A hansenase, como outras doenas, vem sendo estudada de acordo com uma
classificao que vem sofrendo modificaes medida que novos conhecimentos lhe so
incorporados.
Em Talhari, Neves e Fernandes (1984), encontra-se uma retrospectiva histrica da
classificao da hansenase at o referido ano; assim consta:
No perodo do empirismo, os rabes estudavam o MH dentro de 2 grupos ou
formas: baras e juzam. Os gregos tambm classificavam a hansenase em 2
grupos: elephantiasis e leuces. (...) DANIELSSEN e BOECK, em 1847,
dividiam o MH em lepra nodular e lepra anestsica. HANSEN e LOOFT, em
1895, usaram classificao semelhante: lepra nodular e lepra maculo-anestsica
(p. 2).
Esses autores ainda citam que, no Congresso de Manila, em 1931, foi proposta a
classificao da hansenase de acordo com critrios topogrfico-evolutivos, como lepra
cutnea e a lepra nervosa, de acordo com a topografia onde predominassem os sintomas,
alm de adotar as gradaes de acometimento I (discreto), II (intermedirio) e III (grave). J
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... uma questo das manchas, dos inchaos, das manchas que
incomoda muito... (entr. n 3)
... s sabia que era as manchas brancas n, na pele e tal... (entr. n
10)
... aparece manchas na pele, n, do doente, essas manchas perde a
sensibilidade. (entr. n 13)
uma doena de pele... aquelas manchas da pele; ela, se no tiver
tratamento, forma ferida... (entr. n 17)
Sei que uma doena que d mancha na pele e fica adormecida...
(entr. n 19).
importante considerar que, apesar da percepo e representaes sobre a doena
hansenase se referenciarem, geralmente, pela presena de manchas, sejam elas hipocrmicas
ou hipercrmicas, ela pode se manifestar em reas de pele sem alteraes de cor ou relevo,
tendo apenas a alterao de sensibilidade (hipoestesia ou anestesia e at mesmo hiperestesia
em alguns casos), caracterstica que imprime uma importante diferena das leses da
hansenase em relao s leses provocadas por outras doenas dermatolgicas (BRASIL,
MS, 2001c; BRASIL, MS, 2002b).
Nessa doena, cheia de peculiaridades, como bem sintetizou Sarno (2003, p.
285), as leses de nervos podem preceder as leses de pele, podendo ser a nica manifestao
da hansenase, caracterizando a forma neural pura (BRASIL, MS, 2001c), ou como afirma
Sarno (2003, p. 279), a gente chama de doena de pele, mas, na verdade, ela primariamente
uma doena de nervo; sendo assim, ela uma doena neurodermatolgica.
Acredito que a relao que as pessoas fazem entre hansenase e manchas na pele
tem, naturalmente, alm das explicaes histricas, clnicas e epidemiolgicas, a influncia
das propagandas oficiais por meio dos meios de comunicao de massa e no material
educativo distribudo para as unidades da rede de sade com mensagens em cartazes tais
como: Hansenase Vamos acabar com esta mancha do Brasil ou Hansenase Tem Cura
Resultados e Discusso
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procure um servio de sade se tiver manchas pelo corpo com diminuio da sensibilidade ao
tato, dor ou calor ou Mancha na pele pode ser hansenase. Procure um posto de sade, ou
em folhetos como Mancha na pele pode ser doena sria. Procure um posto de sade. Isto
foi abordado nos seguintes depoimentos:
aparecem em primeiro lugar no quadro de crenas expressas pelo doente de hansenase por
meio da identificao dos sinais e sintomas percebidos por ele, seguidos de dormncias,
edemas, dor, anidrose, irritabilidade, nervosismo, nervos espessados, diminuio da
sensibilidade ou insensibilidade, diminuio da fora muscular, fraqueza, indisposio,
coceira, deformidades, ferimentos e feridas que no cicatrizam. Oliveira, Neusa (1987)
tambm encontrou em sua pesquisa as manchas como sendo as referncias iniciais da
hansenase.
Na presente pesquisa os outros sinais e sintomas da hansenase percebidos pelos
comunicantes, alm das manchas, so relatados abaixo:
Resultados e Discusso
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... sei que esta doena, ela ataca as juntas, que ele tava sentido nas
mos, nas juntas dos ps tava inchando, a junta assim vai
engrossando, n?... (entr.17)
Esta sintomatologia referida pelos comunicantes vai de encontro doena
polimrfica/espectral resultante do cortejo fisiopatolgico da infeco pelo M. leprae, que a
hansenase, pois sabemos que ela se caracteriza por manifestaes dermatoneurolgicas ou,
como j referi, neurodermatolgicas: leses de pele e leses de nervos perifricos,
principalmente nos olhos, mos e ps. Essas leses tm grande potencial para provocar
incapacidades fsicas e evoluir para deformidades/seqelas srias que podem acarretar
problemas para o doente, como a diminuio da capacidade de trabalho, limitao da vida
social e problemas psicolgicos, alm do estigma e preconceito, que tambm traz
conseqncias para os familiares, principalmente os comunicantes intradomiciliares. Alm
disso, a doena pode provocar manifestaes oftalmolgicas, otorrinolaringolgicas,
osteomusculares, vasculares e sistmicas (BRASIL, MS, 2001c).
Pedrosa (1991) e Claro (1995) observam que, para os doentes que participaram de
seus estudos, o comportamento dos mesmos diante das manchas e dos outros sinais e
sintomas difere de acordo com a importncia que eles do ao corpo e s transformaes que
possam ocorrer nele. Mesmo sendo os sujeitos desta pesquisa comunicantes, no doentes de
hansenase, a preocupao com o aparecimento de manchas evidente, como se verifica nos
dois depoimentos abaixo:
Resultados e Discusso
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Resultados e Discusso
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portugus como proposto por Almeida Filho (2001) patologia, enfermidade e doena,
seria necessria para uma anlise mais elaborada. Tais assuntos esto bastante discutidos na
literatura como nos estudos de Laplantine (1991), Hegenberg (1998), Freitas (1999), Ogata
(2000) e Lira, Nations e Catrib (2004).
Mas considero oportuno citar Nunes (2000, p. 226) quando aborda que
as mais recentes discusses sobre a construo social da doena enfatizam que a
experincia com a doena (illness) fundamental para se compreender a causao
social da sade. A distino entre disease e illness bsica para se entender que a
primeira expresso circunscreve-se mais ao fenmeno biolgico, e a segunda, ao
fenmeno subjetivo. Nesse sentido, h o fortalecimento de que o conhecimento
leigo central para a descoberta da doena e de suas condies.
Resultados e Discusso
113
Essas colocaes nos remetem a reflexes sobre a hansenase como sendo uma
condio crnica (FERNANDEZ, 2001 apud MENDES, 2001; OMS, 2003), que requer alm
da reviso de conceitos, de novas formas de organizao dos servios de sade,
gerenciamento, vigilncia, monitoramento e avaliao, a compreenso da enfermidade
(illness) pelos profissionais/servios de sade e a valorizao da famlia, neste caso
particular da hansenase, a valorizao dos comunicantes intradomiciliares, os quais sero,
muitas vezes, os cuidadores; estes aspectos sero abordados posteriormente.
Um outro aspecto evidenciado neste ncleo de sentido refere-se s causas da
hansenase como constam nos depoimentos abaixo:
No pretendo aqui reconstruir a histria do conceito de causa e do processo sadedoena, da concepo ontolgica determinao social, pois estudos como os de Almeida
Filho (1989), Barata (1990), Sevalho (1993), Rosen (1994), Fonseca (1994), Fonseca et al.
(1997), Oliveira e Egry (2000), Gutierrez e Oberdiek (2001) entre outros, nos do a base
histrica conceitual necessria para fundamentao terica.
Nesta pesquisa, os sujeitos ou desconheciam a etiologia ou atriburam a causa da
doena a um agente etiolgico (vrus ou bactria), demonstrando ainda a forte influncia da
teoria da unicausalidade bacteriolgica ou da teoria dos germes ou microbiana. Madeira e
Alves (1996, p. 164) colocam que na nossa sociedade a concepo do processo sade-doena
Resultados e Discusso
114
sempre esteve e ainda est voltada para os aspectos biolgicos, individuais. Esta viso
reducionista e biologicista do processo sade-doena expresso pelos sujeitos pode ser
entendida como uma reproduo das concepes que ainda permeiam o modus operandi dos
servios e profissionais de sade em suas prticas cotidianas e em suas aes educativas e a
formao de recursos humanos em sade - ainda bastante centrada no modelo Flexneriano ou
Biomdico, segundo o qual o Mycobacterium leprae, com todas as suas caractersticas e
peculiaridades parasitrias, o nico determinante da doena hansenase.
Bertolozzi (1998, p. 75) coloca que tal concepo estritamente biolgica do
processo sade-doena deixa de lado aspectos importantes como aqueles relacionados
questo social, ou seja, que se referem doena como um produto de um certo modo de
trabalhar e de viver.
Os achados da atual pesquisa diferem dos resultados das pesquisas de Claro (1995)
e Queiroz e Puntel (1997). Nestes dois estudos, o primeiro somente com doentes de
hansenase e o segundo com doentes e comunicantes, as causas da doena foram percebidas
como um fenmeno multicausal. Nos contedos manifestos do conjunto das 19 entrevistas
desta pesquisa no foram identificadas menes diretas a fatores ontolgicos ou sociais como
determinantes da doena hansenase; no entanto, nos contedos latentes podemos pensar,
como cita Sevalho (1993), que o micrbio, sendo um ser que penetra no corpo e provoca
doena, tem algo ontolgico, pois, como diz Canguilhem (2002, p. 20),
Sem querer atentar contra a majestade dos dogmas de Pasteur, pode-se at dizer que
a teoria microbiana das doenas contagiosas deve, certamente, uma parte
considervel de seu sucesso ao fato de conter uma representao ontolgica do mal.
Resultados e Discusso
115
Resultados e Discusso
116
desses bacilos por meio dela, quando esta apresentar soluo de continuidade. Os doentes
multibacilares (formas virchowiana e dimorfa no tratadas) so considerados como principal
fonte de transmisso da doena, devido alta carga bacilar e, portanto, responsveis pela
manuteno da cadeia epidemiolgica da doena. J os doentes paucibacilares (formas
indeterminada e tuberculide) no so considerados importantes fontes de transmisso da
doena devido sua baixa carga bacilar. Alguns deles podem mesmo apresentar cura
espontnea. Todos os doentes em tratamento com poliquimioterapia deixam de transmitir a
doena aps os quinze primeiros dias, pois os medicamentos tornam os bacilos inviveis,
incapazes de infectar outras pessoas. O M. leprae apresenta alta infectividade, mas baixa
patogenicidade, mesmo em populaes residentes em reas de alta endemicidade: apenas
cerca de 5 a 10% das pessoas adoecem. Mas ainda persistem dvidas quanto transmisso,
susceptibilidade e lacunas como, por exemplo, na imunologia (BRASIL, MS, 2001c;
BRASIL, MS, 2002a; BRASIL, MS, 2002b; ARAJO, 2003).
No pretendo aqui reconstruir a historicidade do conceito de contgio e
transmisso, pois Czeresnia (1997), em seu livro Do contgio transmisso: cincia e cultura
na gnese do conhecimento epidemiolgico, nos fornece uma base terica para a
fundamentao da evoluo conceitual, principalmente quando nos traz que
Os termos contato e contgio estiveram unidos em suas acepes at o sculo XV
(Cunha, 1982); contato derivado do latim tangere, que tem como significados,
entre outros, os de tocar e saborear (Leito & Jordo, 1956). Somente a partir do
sculo XVI que a forma verbal contaminar do latim tardio contaminare passou
a ser empregada predominantemente na acepo de contagiar, enquanto o termo
contato mantm a mesma acepo anterior (Cunha, 1842). A partir do sculo XIX
que contgio passou a ser definido como transmisso de doena de um indivduo a
outro. Desde ento, o termo transmitir com significao de expelir; enviar; deixar
passar alm; noticiar passou a ser empregado tambm na acepo de
transmissvel (1844), tornando-se sinnimo de contgio (Cunha, 1982, p. 94).
Resultados e Discusso
117
muitas epidemias, como a da peste negra em 1330, que esta noo se consolidou, ou seja, a
noo de que o homem doente era capaz de provocar doenas nos demais j era patente
(BARATA, 1990; SEVALHO, 1993).
Barata (1990) tambm coloca que s no Renascimento a existncia de partculas
invisveis foi concebida como as responsveis pela produo das doenas ao atingirem o
homem de diversas maneiras, seja por meio de contgio direto, de fmites ou de outros
veculos. Czeresnia (1997) expe que a teoria do contgio foi elaborada por Fracastoro, em
1546, com a publicao de seu trabalho Contagion, e Barata (1990, p. 17) cita que, de acordo
com esta teoria, os seminaria (princpio do contgio) se disseminam escolhendo os humores
pelos quais tm afinidade, sendo lanados nos vasos por atrao. Podem ser absorvidos pela
respirao e aderir aos humores que os levam ao corao.
Essa autora ainda aborda que, a partir destas incipientes elaboraes tericas sobre
o contgio surge a teoria miasmtica (na literatura no h consenso quanto a esta questo
acrscimo nosso), que permanecer hegemnica at a segunda metade do sculo XIX quando
se inicia a era da bacteriologia. Assim, Sevalho (1993) observa que neste perodo os miasmas
estavam geralmente associados ao contgio.
Rosen (1994) coloca que, em 1840, surge uma teoria, formulada por Jacob Henle,
segundo a qual se relacionava a causa das doenas transmissveis aos organismos vivos. Essa
teoria, no entanto, s foi retomada duas dcadas depois com a demonstrao experimental dos
agentes infecciosos feitas por Pasteur e Koch. Assim, o que se verificou at o final do sculo
XIX foi a contraposio entre a exclusividade do contagium vivum e a perspectiva dos
miasmas (SEVALHO, 1993, p. 359).
Maia (2001) coloca que, atualmente, a epidemiologia reconhece que as doenas
transmissveis so desencadeadas por mltiplos fatores e no por uma nica causa; o agente
infeccioso apenas um desses fatores e em condies favorveis e penetrado em um
hospedeiro que tenha predisposio, poder manifestar um processo patolgico, tambm
reconhecendo que as condies scioeconmicas e culturais determinam a instalao de uma
doena.
Retomando a questo do contgio, Czeresnia (1997) cita a lepra como um
exemplo caracterstico de doena que esteve associada idia do contato/contgio; lembra
que, na Idade Mdia, quando algum era identificado como leproso, a Igreja lhe pronunciava
uma sentena de isolamento e o obrigava a seguir rituais religiosos, alm de uma srie de
advertncias para coibir o contgio, tais como:
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118
eu te probo de entrar em igrejas, abadias, feiras, engenhos ou mercados ou entre a
companhia de outros.
eu te probo de andar sem o teu hbito.
eu te probo de lavar as mos ou qualquer coisa tua nos crregos e nas fontes, ou
beber l; e se necessitar de gua, pegue-a de teu barril em teu copo.
eu te probo de tocar em qualquer coisa que negocie, ou compre, at que seja teu.
eu te probo de ir a qualquer taverna; se quiser vinho, se compr-lo ou algum te der,
coloque-o em teu barril.
se estiver na estrada e encontrar outra pessoa que fale contigo, eu te probo de
responder at que tenha se colocado contra o vento.
eu te probo de tocar em crianas ou de dar-lhes qualquer coisa.
eu te probo de comer ou beber de qualquer recipiente exceto os teus.
eu te probo de beber e comer em companhia, exceto a de leprosos (p. 44).
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119
residncias de uma cidade, solicitando contribuio financeira para o cuidado com os pobres
leprosos.
Ainda abordando o contgio/transmisso da hansenase, os comunicantes
expressaram em depoimentos o desconhecimento da fonte de contgio de seus familiares
que adoeceram:
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passado no cotidiano das pessoas e as representaes sobre este medo tm carter histrico,
pois o imaginrio construdo historicamente e socialmente, complementando que a
concepo que se tem do contgio define condutas em relao s doenas transmissveis, o
que corrobora o depoimento de uma comunicante que ainda coloca em dvida a necessidade
de separar ou no os objetos do marido:
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... a gente leva uma vida normal, eu convivo com um paciente que
sofre da hansenase e a vida da gente normal, a gente no tem medo
de conviver com ele... (entr. n 14)
Assim, a histria riqussima em ilustraes da coexistncia desses tipos de
atitudes das pessoas frente s doenas/epidemias e, na questo da lepra/hansenase, elas se
exemplificam em grau superlativo: de um lado, o leproso como smbolo de pecado e
impureza, merecedor de excluso social, condenado a morrer assassinado pelas mais diversas
e injustas incriminaes como pelas ms colheitas, contaminao da gua e aparecimento de
outras doenas, tendo obrigatoriedade de fazer uso de vestimentas especiais, matracas e
sinetas para anunciar a sua presena em locais pblicos, enfim de morrer em vida; por outro
lado, coexistiam atitudes de benemerncia, caridade, cuidado e generosidade para com os
mesmos, como podemos verificar na literatura e em produes cinematogrficas como, por
exemplo, no filme Francesco, que conta a histria de Francisco de Assis, que se tornou
santo da Igreja Catlica, mostrando a sua compaixo aos leprosos (FRANCESCO, 1988). No
livro de Ujvari (2003) encontra-se uma referncia histria deste santo, nascido em 1182, que
abdicou de sua vida familiar em favor da pobreza e fundou a Ordem dos Irmos Menores para
prestar auxlio aos pobres, mendigos, leprosos e necessitados, em uma vasta regio da Europa
e at no norte da frica.
Ainda em relao transmisso, alguns comunicantes intradomiciliares
expressaram a sua percepo de que o doente tem medo de transmitir a doena para os seus
familiares, como nos depoimentos abaixo:
... at no comeo ela no queria que a gente usava a toalha dela, que
a gente no usasse o mesmo banheiro que ela... e procurou no usar
os mesmos copos que a gente... (entr. n 11)
... ela tinha medo que de algum dentro de casa desenvolvesse a
doena tambm... (entr. n 13)
Claro (1995) coloca que a grande maioria dos doentes entrevistados para sua
pesquisa tambm manifestou preocupaes de transmitir a doena para as pessoas mais
prximas e esta preocupao era geralmente bem mais acentuada naqueles que conheciam a
doena como lepra. Esta autora, citando Gussow e Tracy (1968), coloca que a imagem da
lepra leva, freqentemente, os pacientes recm-diagnosticados a tomarem precaues
excessivas para no contagiarem outras pessoas e, abordando a impureza simblica da lepra,
Resultados e Discusso
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complementa que o prprio doente, devido ao auto-estigma, pode evitar esse contgio
simblico para outras pessoas (p. 63).
O medo que o doente de hansenase tem de transmitir a doena aos seus familiares
pode ser interpretado como sendo um mecanismo de proteo; e, alm de ele vivenciar sua
doena/enfermidade, muitas vezes atribui a si a responsabilidade de evitar a transmisso,
apresentando sentimentos de culpa por ter adquirido a doena e da possibilidade de t-la
transmitido antes do incio do tratamento.
Aps essa discusso do contgio/transmisso, abordarei um outro aspecto
evidenciado neste ncleo de sentido, o qual se refere questo do risco de adquirir a
hansenase na percepo do comunicante intradomiciliar, como expresso nos depoimentos
abaixo:
depoimentos
exemplificam
desconhecimento
dos
comunicantes
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... ela no uma doena que mata, n? ela tem cura... (entr.n 1)
uma doena muito triste, n? que a pessoa quando descobre s falta
entrar em depresso porque pensa que no vai ter cura. (entr. n 2)
... , comeou a surgir uma coisinha que a gente achava que era
apenas aquela mancha, aquela dormncia, isto transformou-se num
monte de coisas... comeou a surgir muitas coisas... no uma coisa
simples, no uma doena simples como a gente v comentrios.
(entr. n 4)
Eu acho que hansenase uma doena muito assim perigosa... (entr.
n 5)
... uma doena muito difcil, porque o doente sofre muito. (entr. n 6)
... eu sabia que era uma doena grave...minha me cheg mesmo a
fal assim que ia morr, outra hora falava que queria se mat, que
seria melhor do que uma doena que ia acabando aos poucos com
ela... (entr. n 11)
... acho que psicologicamente abala mais que organicamente a
pessoa... (entr. n 13)
... agora, no momento, significa uma doena comum pra mim... (entr.
n 16)
... ela, se no tiver tratamento, forma ferida e muito grave... No
uma coisa simples... (entr. n 17)
A percepo dos comunicantes intradomiciliares em relao gravidade da
hansenase nos mostra que ela varivel, de acordo com a sua vivncia junto ao doente, ou
seja, a maneira pela qual este vivencia sua doena/enfermidade. Neste sentido, apesar de no
ser possvel fazer uma gradao da gravidade, as expresses denotam que ela est associada
ao grau de sofrimento que ela traz para o doente. Assim, os depoimentos demonstram que ela
foi entendida como sendo desde uma doena comum a uma doena que pode levar a pessoa
ao suicdio, ainda despertando sentimentos de que ela triste, perigosa, difcil,
complicada, que provoca dor, que pode desencadear depresso, que abala o
psicolgico da pessoa e que pode se transformar num monte de coisas.
A imagem da hansenase como doena comum, com status de ser uma doena
igual s outras, faz parte, deliberadamente, do discurso oficial e at de vrios pesquisadores
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com a inteno de criar uma imagem positiva deste agravo na sociedade e, assim, contribuir
para a diminuio ou minimizao do estigma, estimular a demanda espontnea dos cidados
s unidades de sade e incentivar o diagnstico e tratamento precoce da doena.
Essa questo foi singularmente discutida por Lana (1997) em sua tese de
doutorado, onde apresenta, referenciando-se a vrios autores, a construo deste discurso a
partir da instalao do regime militar no pas at a promulgao da Constituio Federal de
1988. A mudana da nomenclatura de lepra para hansenase tambm serviu para ancorar esse
discurso de doena igual s outras. Tambm encontrei referncia sobre isto em Queiroz e
Puntel (1997, p. 93) quando colocam que o fato que esta mudana de nome concorre
positivamente para se considerar a hansenase como uma doena como outra qualquer....
Este pesquisador, certa vez, em reunio com uma doente de hansenase e alunos do
terceiro ano do curso de graduao em enfermagem, foi abordado, pela mesma, para justificar
o porqu apresentvamos, em entrevistas em emissoras de rdio, a hansenase com frases
parecidas com o discurso de que ela uma doena igual s outras; aps minhas
justificativas, ela nos disse: Professor, a hansenase uma doenona e no uma doena
simples, s quem tem ela para saber como .
Mais recentemente, mas ainda no bojo dessa questo de a hansenase ser uma
doena igual s outras, surgiu a necessidade de se criar uma imagem positiva desse agravo
na sociedade. Andrade et al. (1999) recomendaram que os rgos oficiais de sade das trs
esferas de governo passassem a produzir material educativo seguindo as orientaes de evitar
as mensagens depreciativas, mrbidas e negativas, como fotos mostrando casos virchowianos,
mesmo em situaes do tipo antes e depois do tratamento poliquimioterpico, evitando-se
tambm mensagens infantis caricaturais e metafricas em relao ao diagnstico e tratamento.
Andrade et al. (2000), neste mesmo contexto, colocam que, dentre as principais aes do
Grupo Tcnico/Hansenase/Conasens, decidiu-se utilizar uma imagem positiva, mostrando
pessoas normais indicando a possibilidade do progresso social aps a doena, ou seja: mostrar
que h futuro para o portador de hansenase (p. 55).
Esta questo ainda nos remete a refletir sobre as questes do diagnstico da doena
e da descentralizao das aes do Programa de Eliminao da Hansenase para todas as
unidades de sade que compem a rede de ateno bsica do Sistema nico de Sade,
aspectos estes que j abordei no quadro terico, pois pressupe-se que, sendo ela uma
doena igual s outras, no h motivos para que o seu Programa no esteja integrado s
demais atividades desenvolvidas por essas unidades de sade. No entanto, Queiroz e Puntel
(1997) advertem que existem vrias evidncias indicadoras de que a hansenase no uma
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doena igual s outras, como quer a poltica do SUS, pois, mesmo admitindo que no se
justifica a manuteno de especialistas exclusivos, no h condies de descentralizar
totalmente o seu atendimento devido, principalmente, ao despreparo dos mdicos (p. 55).
Retomando as percepes dos comunicantes intradomiciliares sobre a gravidade
da hansenase, vimos que a maioria deles ainda evidencia uma imagem negativa como
expresso nas falas em virtude do sofrimento fsico e psicolgico que ainda causa aos doentes e
que repercute no seio familiar.
Na dissertao de Pedrosa (1991), a percepo da gravidade da hansenase para os
doentes entrevistados foi varivel, pois alguns entrevistados a consideraram grave como, por
exemplo, citando que ela no tem cura, o tempo de tratamento prolongado, porque lepra,
por levar a deformidades se no tratada. Outros a consideraram no grave devido estar em
alta, ter cura, existir tratamento e remdios, existirem doenas piores, no possuir
deformidades e porque melhoraram os sintomas. J outros entrevistados tiveram dvidas
quanto gravidade devido a equipe de sade ter falado que no , no acreditar muito nas
informaes ou no se interessarem em saber.
No estudo de Claro (1995), entre as vrias justificativas dadas pelos doentes de
hansenase para se considerar a doena como grave, encontra-se a necessidade de um
tratamento prolongado, o fato de os medicamentos serem em forma de comprimidos, ao
esquema poliquimioterpico que requer a ingesto de doses supervisionadas em datas
aprazadas, s incapacidades fsicas provocadas pela doena, ocorrncia de episdios
reacionais, ao estigma, o estado de sade anterior; j os doentes que consideraram a
hansenase como no sendo grave, as justificativas foram o fato de no terem apresentado
sintomas que lhes trouxessem incmodo ou desconforto, que podiam continuar realizando
suas atividades habituais, a disposio para o trabalho, o tempo curto de tratamento nos casos
das formas paucibacilares e a melhora rpida, com o desaparecimento dos sinais aps pouco
tempo de uso da PQT; ainda o fato de considerarem o cncer e a aids mais graves que a
hansenase mostra que a idia de gravidade est ligada de curabilidade.
Outros aspectos evidenciados pelos comunicantes intradomiciliares neste ncleo
de sentido foram questes relativas ao tratamento e curabilidade da hansenase, como
expressas nos depoimentos abaixo:
... ainda bem que agora tem cura, antigamente no tinha cura (entr.
n 2)
... no acredito que tenha cura no, eu acredito que possa ter um
controle, mas no a cura dela. (entr. n 3)
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... antes no tinha cura, que com o avano agora ela tem cura...
a gente tem f que vai assim, os estudos vo melhorar, porque vai
surgir uma medicao mais rpida... que deixa atacar menos. (entr.
n 4)
... que graas a Deus tem tratamento, a pessoa toma o remdio
direitinho e eu acredito que quando terminar esse tratamento volta
tudo ao normal. (entr. n 5)
... a gente tinha que v que s um controle, parece que no tem cura
mesmo. (entr. n 11)
Esses depoimentos nos mostram que as percepes sobre a curabilidade so
variveis: h desde aqueles que ainda no acreditam na cura, mas somente num controle da
doena, at aqueles que acreditam na cura e demonstram esperana no avano da teraputica
contra a hansenase.
A questo da teraputica da hansenase tambm acompanha a historicidade desse
agravo, da antigidade atualidade. No Brasil, encontram-se em Maurano (1939), SouzaArajo (1946, 1956), Lessa (1986) que so algumas das principais referncias sobre a
histria da hansenase no pas muitos relatos de como era a teraputica da hansenase no
Brasil Colonial e Imperial at o advento e uso das sulfonas: havia desde a recomendao de
picadas de cobras ao uso dos mais diversos produtos extrados da rica flora brasileira e at
estrangeira; tais teraputicas tambm deram espaos s prticas de charlatanismo e
curandeirismo, cujas aes eram muito comuns e encontravam nesta doena um terreno frtil
para o desenvolvimento de suas artes.
No Brasil, como j citei, das primeiras dcadas do sculo XX at o incio da
dcada de 40, o principal tratamento da hansenase era realizado com o uso do leo de
chaulmoogra (Hydnocarpus wightiana); depois, o uso das sulfonas, no qual surge a
perspectiva da cura definitiva da doena e, a partir da dcada de 90, com o uso da
Poliquimioterapia. O advento dessas teraputicas medicamentosas foi muito importante, pois,
nesta tese, elas tambm foram utilizadas como marcos da periodizao para descrever a
evoluo das medidas de controle dos comunicantes de doentes de hansenase no Brasil.
Nemes (1989), referindo-se introduo da sulfona no tratamento da hansenase,
expressa que a mesma modificou muito o curso clnico da doena e a contagiosidade dos
casos abertos, e a concepo desta doena como curvel s foi completada pelo saber mdico
a partir da sulfona, a qual passou a ser encarada como o substituto mais eficaz do que o
isolamento fsico, devido sua capacidade de impedir a evoluo dos casos iniciais e anular a
contagiosidade dos casos tardios.
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Neste contexto, Lana (1997) ressalta que o surgimento da dapsona pode ser
considerado fundamental para as transformaes observadas nas Polticas de Controle da
Hansenase, pois a sulfa trouxe a possibilidade de alta e conseqentemente o retorno ao
exerccio da cidadania para os doentes que estavam internados nos asilos-colnias poca do
isolamento compulsrio.
Nas dcadas seguintes ao advento da dapsona, outros medicamentos foram
introduzidos na teraputica da hansenase, principalmente em funo do aparecimento de
casos de doentes com resistncia sulfona. Na dcada de 60, surge a clofazimina e, na dcada
de 70, a rifampicina. No incio da dcada de 80, estudos da OMS mostraram que o uso
concomitante dos medicamentos acima curavam os doentes mais rapidamente e este esquema
teraputico foi denominado de poliquimioterapia (NOGUEIRA, 2003). Esse novo esquema
comeou a ser utilizado pelo Ministrio da Sade do Brasil, em 1986, em projetos pilotos,
sendo implantado oficialmente em todo o pas somente em 1991, pela Portaria n 1.401,
conforme j mencionei nesta tese.
Lana e Rocha (1997) afirmam que a poliquimioterapia inaugura uma nova fase do
controle da hansenase, constituindo-se em nova tecnologia, nova caracterizao do trabalho
em hansenase, um novo saber, com a incorporao de outros profissionais de sade no
processo de trabalho com conseqentes alteraes nas relaes sociais entre esses agentes.
A PQT um tratamento ambulatorial que, em funo da associao de
medicamentos, evita o desenvolvimento de bacilos resistentes s drogas utilizadas; o doente
de hansenase deve comparecer, mensalmente, unidade de sade para uma consulta e para
receber a dose supervisionada da medicao, receber o blister com os medicamentos que
sero auto-administrados em seu domiclio, conforme a classificao operacional que
determina o seu esquema teraputico em multibacilar ou paucibacilar; a alta por cura vai ser
dada aps a administrao do nmero de doses preconizadas pelo esquema adotado (nos casos
de doentes paucibacilares a teraputica medicamentosa consiste em seis blisters a serem
administrados no perodo de seis a nove meses; j nos casos de doentes multibacilares, ela
consiste em 12 blisters a serem administrados no perodo de 12 a 18 meses e, em alguns
casos, consiste em 24 blisters a serem administrados no perodo de 24 a 36 meses). Alm
disso, o doente pode receber orientaes ou esclarecer dvidas surgidas no decorrer do
tratamento.
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efeitos colaterais importantes como, por exemplo, o corticoesteride prednisona, utilizado nos
dois tipos de reaes, que pode provocar hipertenso arterial, disseminao de infestao por
Strongyloides stercoralis e tuberculose pulmonar, alm de distrbios metablicos,
gastrointestinais e at psicoses; j a talidomida, utilizada na Reao do Tipo 2, tem como
gravssimo efeito colateral a teratogenicidade, alm de sonolncia, edema, constipao
intestinal, secura de mucosas e at neuropatia perifrica em alguns casos (OMS,1995;
BRASIL, MS, 2002b).
Claro (1995) coloca no seu estudo que os efeitos indesejveis dos medicamentos
foram muito mencionados pelos doentes e, para alguns, a ocorrncia de episdios reacionais
foi interpretada como alergia ou reao aos remdios, ou efeito dos mesmos colocando a
doena pr fora (p. 74). Alm disso, os efeitos colaterais e os episdios reacionais tornaram,
em alguns momentos, o seguimento do tratamento difcil, sendo apontados por alguns doentes
como motivo de interrupes. Queiroz e Puntel (1997) destacam que a PQT no era bem
tolerada por alguns doentes que participaram do estudo, por apresentarem efeitos colaterais
fortes, e como muito desagradvel o escurecimento da pele, alm das indisposies
estomacais, problemas renais e indisposio para atividades fsicas e mentais. Eidt (2000)
tambm aborda os parefeitos secundrios da PQT, trazendo as falas dos sujeitos sobre tais
efeitos e os episdios reacionais Esta autora destaca, na sua dissertao, os depoimentos que
abordam a questo da pigmentao da pele pela clofazimina. Oliveira e Romanelli (1998, p.
56) citam que
A pigmentao na pele em decorrncia das aes medicamentosas representada
como transtornos, uma vez que exige explicaes e falar da sua doena implica o
risco de revelar a hansenase. (...) importante que os servios estejam atentos a este
fator, orientando, esclarecendo os pacientes que estas reaes indesejveis
provocadas pelos remdios fazem parte do processo do tratamento e que, com o
decorrer deste, tendem a diminuir e at desaparecer.
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tem hora que ele no d papo pra nada no, muito nervoso, no
obedece a gente, porque no qu ouvi, acha que ele t certo; ento
fico queto de um lado e no falo mais nada, porque no adianta
mesmo pra ele, no; mas que duro , a gente peleja, faz de tudo,
agradando ele pra v se caminha tudo certinho, mas no adianta, ,
ele dana a beb, sabe ?, fica nervoso, agitado, ento, no tem como
voc cheg e explic, a gente vai explic as coisas pra ele, ele fica
nervoso, j comea xing, a gente perde a conta da miada; que duro
, s quem vive com ele sabe. (entr. n 12)
Ou os depoimentos contraditrios como o desta comunicante intradomiciliar
quando, ao ser questionada sobre a convivncia com o doente, assim respondeu, inicialmente:
... voc acha que com voc nunca vai acontecer essas coisas; que
sempre acontece nas famlias dos outros, no seu vizinho, mas na sua
famlia isto no acontece.(...) Mas a, com a convivncia, a gente foi
pegando mais informaes, vim aqui, at cheguei meio abalada no
dia que eu vim aqui, pedi informaes a voc, voc me transmitiu
informaes e eu j sa daqui mais aliviada, ergui a cabea e
seguimos em frente. (...) O convvio com a minha me no mudou em
nada, a gente continuou convivendo da mesma maneira que convivia
antes, por ela ter a doena ou no, foi do mesmo jeito, a gente no
deixou de abraar, beijar, dormir na mesma cama, sair junto, comer
no mesmo prato, isso no mudou em nada, conviver com ela,
continuou sendo a mesma coisa, no mudou em nada. (entr. n 16)
Este aspecto da surpresa do diagnstico da hansenase na famlia e as condutas
iniciais desta comunicante intradomiciliar correspondem aos achados de Canhestro (1996)
quando encontrou que, para os familiares, o incio de uma doena marcado por maiores
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dificuldades e, portanto, o perodo mais difcil de ser enfrentado, sendo o passar do tempo
o responsvel por maior adaptao na convivncia com o doente, pois o tempo age de forma a
propiciar uma maior aceitao da doena por parte do doente, tornando a convivncia com a
mesma algo menos difcil; entre os familiares, o passar do tempo tambm responsvel por
uma adaptao maior na convivncia com o doente.
Neste contexto, corroboro com a colocao de Eidt (2000) quando diz que, desde o
incio do diagnstico da hansenase, a famlia deveria atuar como ponto de apoio ao doente.
Dessa forma, acredito que a famlia no pode ficar margem dos acontecimentos quando um
familiar est com hansenase. Assim como ela no pode ser entendida apenas como sendo um
receptculo e fonte provedora de informaes, principalmente para os profissionais/servios
de sade, devendo ser tambm considerada no contexto como fonte provedora de cuidado.
De acordo com Angelo e Bousso (2001), fundamental compreender a famlia
como a mais constante unidade de sade para seus membros, pois em funo das
caractersticas prprias de proximidade e convivncia ela tem melhores condies para
acompanhar os processos de sade e de doena de seus elementos. Essas autoras acrescentam
que a famlia no pode ser compreendida apenas como aquela que cumpre as aes prescritas
pelos profissionais de sade, e estes devem considerar as dvidas, opinies e a atuao da
famlia, ou seja, conhecer como cada famlia cuida e identifica suas foras, suas dificuldades
e seus esforos para partilhar responsabilidades (p. 15).
Feliciano e Kovacs (1997, p. 113) colocam que
A forma como a hansenase incorporada na construo da realidade familiar e as
mudanas que traz para a vida do paciente e dos membros da sua famlia esto
relacionadas com o funcionamento do ciclo vital familiar e com o significado
atribudo s expectativas prvias com problemas de sade em geral e com a
hansenase em particular.
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mbito da famlia, j que esta exerce um papel fundamental no cuidado e na qualidade de vida
dos doentes.
Canhestro (1996) reconhece que os familiares, alm dos profissionais de sade,
so considerados como grupo prioritrio na assistncia ao doente crnico e diz que
inegvel a grande influncia que um evento marcante como a doena crnica tem sobre a vida
da famlia e que tal idia vem sendo objeto de preocupao de vrios autores (p. 34). De fato,
neste estudo e em outros como o de Silva (1990) e Damio (1997) pode-se verificar um
grande nmero de autores que estudaram, com metodologias diversas, o impacto da condio
crnica na vida dos doentes e das suas famlias. No entanto, nestes estudos, no encontrei
menes especficas em relao hansenase.
Nesse contexto, acho oportuno citar Silva (1963) quando coloca que Hansen, em
monografia publicada no Norsk Magazin for Laegevidenskafen, em 1872, j apresentava a
hansenase como sendo infecciosa, crnica (destaque meu) e contagiosa. O conceito de
doena crnica passou por um processo de evoluo desde sua conceituao pela National
Comission on Chronic Illness, nos Estados Unidos, em 1956, at atualmente receber a
denominao de condio crnica de sade.
Fernndez (2001) apud Mendes (2001) coloca que o conceito de condio crnica
no corresponde definio clssica das doenas no transmissveis, normalmente
denominadas de doenas crnicas ou degenerativas, pois refere-se a qualquer condio ou
doena, transmissvel ou no transmissvel, cujo ciclo de vida ultrapasse a trs semanas.
Assim, doenas como a hansenase, a tuberculose e a aids devem ser consideradas, para
efeitos de organizao dos servios de sade, como condies crnicas.
Mais recentemente, a OMS (2003), ao publicar o relatrio Cuidados Inovadores
para Condies Crnicas: componentes estruturais de ao, esclarece que o termo
condies crnicas abarca tanto as doenas no transmissveis quanto inmeras doenas
transmissveis. Ainda cita que, quando estas ltimas se tornam crnicas, essa delimitao
entre transmissvel e no transmissvel se torna artificial e desnecessria, sendo mais til usar
os termos agudo e crnico para descrever o espectro dos problemas de sade, e que a incluso
dos problemas mentais e deficincias fsicas ou problemas estruturais alarga os conceitos
tradicionais de condies crnicas.
Nesse relatrio, consta que as condies crnicas esto aumentando em ritmo
acelerado no mundo, sem distino de regio ou classe social e sero o grande desafio da
sade no sculo XXI, j que pem em risco a prosperidade econmica de todas as naes,
favorecendo o crculo vicioso da pobreza, sendo necessrio o envolvimento de todos
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at a formao da cicatriz vacinal, ou tambm descobrir, pela consulta, que um outro doente
de hansenase. Alm destes estressores, outros podem surgir na convivncia com o doente
durante ou mesmo aps o tratamento deste.
Nesse sentido, acredito ser pertinente retomar a anlise de Canhestro (1996)
quando afirma que o aparecimento de doena crnica na famlia um fato gerador de grandes
mudanas na vida do doente e na vida da famlia como um todo, pois a instalao dela pode
determinar transformaes no ritmo de trabalho do doente, ou at mesmo o fim das atividades
de trabalho, aqui includas as atividades domsticas; provocar mudanas nos contatos sociais,
nas atividades de lazer da famlia e no estado emocional dos doentes por se sentirem vigiados
pelos familiares; desenvolverem sentimentos variados como o de inutilidade e de tristeza;
terem alteraes do humor e at na vida sexual do casal fatos que podem tornar mais difcil
a convivncia com os familiares, alm de sobrecarreg-los fsica e psicologicamente, entre
outros aspectos.
Essa autora ainda coloca que as estratgias de enfrentamento por parte dos doentes
e dos familiares so muito variadas, tais como a busca de um apoio na religio, a crena em
Deus; o envolvimento do doente em outras atividades; o modo de agir na tentativa de
desfocalizao da doena; a atitude de manter a esperana como uma possibilidade de viver
bem, apesar da doena; conhecer as possveis repercusses da doena no organismo, pois isto
considerado um fator capaz de ajud-los a enfrent-la; a busca de recursos teraputicos,
alm do apoio de outros membros da famlia, dos colegas de trabalho e vizinhos.
Encontrei, na reviso de literatura de Silva (1990), um rico material bibliogrfico
sobre os desafios e enfrentamentos para indivduos em condio crnica de sade, onde so
apresentados os resultados de vrios estudos e reflexes tericas acerca desta temtica. A
autora construiu, como resultado do seu estudo, um modelo preliminar de desafios e
enfrentamentos para esses indivduos. O modelo compreende um conjunto de conceitos interrelacionados representados diagramaticamente, com trs grupos de desafios para os doentes:
novas incumbncias (fazer regime de tratamento, lidar com os desconfortos fsicos, procurar
conhecer sua doena); perdas (perder a capacidade fsica, ter perdas nos relacionamentos
sociais, perdas financeiras, parar de fumar, parar de beber, perdas no prazer de comer o que
gosta, perdas nos relacionamentos sexuais e as atividades de lazer), ameaas (ter receio sobre
sua vida, preocupar-se com a aparncia individual) e um grupo de maneiras de
enfrentamentos a esses desafios (participar ativamente do tratamento, resistir participar do
tratamento, obter ajuda, controlar os desconfortos fsicos, buscar informaes, no buscar
informaes, receber explicaes, parar com as atividades fsicas, procurar se adaptar s
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perdas, deixar de participar de atividades de lazer, isolar-se das atividades sociais, procurar
manter o controle da situao, procurar parar de fumar e beber, continuar a fumar e beber,
resignar-se situao, esperar o pior, desejar viver, pensar positivamente). Acredito, apesar de
a autora mencionar que novas pesquisas devero ser realizadas para verificar as associaes
existentes entre os grupos de desafios (novas incumbncias, perdas e ameaas, as associaes
entre as categorias destes desafios e entre estes e as maneiras de enfrentamento), que este
modelo possa ser aplicado em outros contextos como nas doenas infecciosas, e, entre elas, a
hansenase, j que tais desafios e enfrentamentos podem tambm ser vivenciados por esses
doentes ou pelos seus familiares.
Nesta pesquisa, algumas estratgias de enfrentamentos foram assim expressas
pelos comunicantes intradomiciliares:
... eu falo pra ela, a senhora tem que se apeg muito a Deus e no
perd a f, que a senhora vai conseguir... (entr. n 4)
... eu ligo para as minhas amigas que tm as mes, falo pra elas vo
fazer uma visita pra minha me, a ento ela comea a convers,
ento ela t melhorando, o que t ajudando. (entr. n 4)
... teve o apoio de muitos da famlia... (entr. n 11)
... eu deixei ele se sentir como se ele no estivesse doente... o pessoal
mais ntimo da gente, mais amigo sabe e a trata ele assim normal,
como sempre tratou... (entr. n 18)
Retomando a questo do apoio, Feliciano e Kovacs (1997), citando outros autores,
colocam que a rede social de apoio (familiares, amigos e vizinhos), por representar uma
importante referncia para o doente de hansenase e por guardar uma relao muito prxima
com os seus valores e normas, fornece ajuda para o indivduo enfrentar as situaes do
cotidiano. Essas autoras ainda colocam que
a estrutura desta rede resulta, por exemplo, dos compromissos familiares, da
disponibilidade para ajuda, da confiana e conhecimento do outro (p. 112).
A rede social mobiliza recursos financeiros, materiais e emocionais, compartilha
tarefas e informaes e funciona como um sistema de apoio, importante na
definio de problemas, mediando as normas culturais e atribuindo significado aos
acontecimentos, influenciando a opo por alternativas de ao e avaliando suas
convenincias prticas (p. 113).
Resultados e Discusso
145
recursos mencionados acima e na ajuda direta ao doente por eles compartilharem de como
este vivencia a sua enfermidade (illness).
Um outro conceito, na perspectiva da rede de apoio, apresentado por Beer (1997)
apud Silveira (2004) quando coloca que, no comeo da vida adulta, desenvolvemos um
comboio de relaes, constitudo pelo cnjuge, familiares e amigos, importantes por
oferecer apoio nos desafios que surgem no decorrer da vida de uma pessoa. Contextualizando
numa situao de hansenase, considero pertinente colocar que o doente pode recorrer ao seu
comboio, do qual fazem parte os comunicantes intradomiciliares.
Ainda no contexto das atitudes dos comunicantes intradomiciliares no convvio
com o doente, considero importante citar que tambm emergiram, na questo do cuidado, as
diferenas de gnero, como mostra o depoimento de uma comunicante:
... Ento eu acho que o que mais t ajudando ela na minha casa sou
eu, minha me, eu sou filha mulher, tenho um irmo que filho
homem. muito difcil ele cheg pra ela e pergunt pra ela; toda a
assistncia que eu t dando pra minha me, eu que t dando. Eles
do assim esse de carinho de amor que tm de filho, mas na famlia
tem pessoa que mais retrada, e eu sei que ela a coisa mais
preciosa que tenho na minha vida, eu deixo tem dia de sair de casa
pra ficar com a minha me, quando eu vejo que ela t deprimida.
(entr. n 4)
As colocaes desta comunicante so bastante ilustrativas ao demonstrar a mulher
como cuidadora. Na literatura encontram-se muitas pesquisas, principalmente na enfermagem,
que ressaltam a importncia das mesmas em relao ao cuidado humano em todos os perodos
da histria, sejam como bbadas, prostitutas, bruxas, feiticeiras, sacerdotisas,
me, esposa, enfermeira etc. Angelo et al. (1995) lembram que na histria da
humanidade as famlias proviam cuidados nos lares: nestas ocasies era comum a participao
das mulheres na proviso dos mesmos, nos eventos mais importantes do ciclo vital e a
origem da enfermagem deu-se nos lares, no contexto da famlia (ANGELO, 1997, p. 10).
No depoimento acima, a comunicante relata uma atitude de abnegao de sua vida social para
oferecer o cuidado sua me. Nos estudos de Canhestro (1996) com familiares de doentes
com condio crnica de sade, nos de Claro (1995) e Eidt (2000) com doentes de hansenase,
possvel verificar o importante papel das mulheres no cuidado do familiar doente. Oliveira e
Gomes (2000) afirmam que a hansenase atinge de maneiras diferentes os homens e as
mulheres e, neste contexto, verifica-se por este depoimento que no s a doena que se
Resultados e Discusso
146
comporta desta forma, mas tambm o cuidado com o doente que pode ser estudado e
compreendido na perspectiva de gnero.
Benjumea (2004), no seu artigo Cuidado familiar en condiciones crnicas: una
aproximacin a la literatura, baseando-se em vrios outros autores, coloca que o cuidar
contnua um trabalho realizado fundamentalmente por mulheres, ainda que cada vez mais os
homens participam do cuidado familiar. Ela chama a ateno para o impacto do cuidado
familiar no sistema de cuidado sade: aborda que, hoje em dia, a famlia considerada
como o maior recurso de ateno sade, mas o trabalho dos cuidadores passa habitualmente
despercebido e no so socialmente reconhecidos; esta invisibilidade pode ser atribuda ao
carter feminino e domstico do cuidado: um trabalho de mulheres, natural e socialmente
esperado (p. 139).
Essa autora ainda cita que manejar uma enfermidade crnica uma atividade
muito complexa e o cuidado em casa requer que os cuidadores tenham destrezas e
conhecimentos cada vez mais complexos, j que a carga do cuidado implica desgaste fsico,
financeiro, social e emocional dos cuidadores.
No presente estudo, considero os comunicantes intradomiciliares de doentes de
hansenase como cuidadores, principalmente as mulheres, que se constituram na maioria dos
sujeitos entrevistados, pois em quase todas as entrevistas possvel identificar elementos do
cuidar, como j pontuamos em outros momentos nesta anlise e nos depoimentos abaixo:
Resultados e Discusso
147
Resultados e Discusso
148
cada famlia, refletida em seu funcionamento e sade familiar (p. 16). No Brasil, o Programa
de Agentes Comunitrios de Sade (PACS) e o Programa de Sade da Famlia (PSF)
constituem-se em estratgias que podem possibilitar esse conhecimento da estrutura e do
funcionamento familiar, mas isto ainda no se faz presente nos diversos cenrios de sade do
pas em funo de vrios aspectos que englobam o modelo de assistncia sade, a formao
de recursos humanos em sade e a aplicabilidade das diretrizes dos programas de sade.
Alm disto, Vasconcelos (1999, p. 8) coloca que a unidade famlia tem
encontrado muitas resistncias para ser aceita como instncia importante de abordagem dentro
das polticas sociais e eu acredito que na sade uma delas.
Ainda no contexto do convvio abordarei, no prximo ncleo de sentido, a
percepo dos comunicantes intradomiciliares quanto aos sofrimentos provocados pela
hansenase em relao a eles e aos doentes.
... quando a minha me, assim, sente alguma coisa, assim... a gente
fica meio, n... meio descontrolado... (entr. n 1)
... no fcil pelo que eu t passando com a minha me, nunca
imaginei que fosse assim. (entr. n 4)
... a nis fiquemos tudo assustado..., que nis assustamo, assustamo,
fiquemo tudo assustado na minha casa... (entr. n 8)
... para mim foi assim, uma novidade que no impacto quando a gente
ficou sabendo, a gente, at assim, se assustou com isso, a gente nunca
nem imaginava, tipo assim, tem coisa que a gente acha que acontece
s na famlia de outras pessoas, que nunca vai acontecer com a gente
em casa n, e quando a gente se v, a gente t passando por aquilo
dentro de casa. (entr. n 18)
E em relao aos sofrimentos dos doentes de hansenase, eles assim se
expressaram:
... ele ficava muito nervoso, que ele queria trabalhar e no tinha
como trabalhar, n, ento isso ajudava muito ele a ficar nervoso, que
ele queria trabalhar e no tinha como trabalh. (entr. n 2)
... o doente que tem a hansenase passa por dificuldades... eu acho
que o doente de hansenase assim, a pessoa, um sofrimento, n,
Resultados e Discusso
149
dos
doentes
familiares
resultantes,
dentre
outros
fatores,
do
Resultados e Discusso
150
Lana (1997) apresenta, por meio das falas de doentes de hansenase, sujeitos de
sua pesquisa, o sofrimento dos internos da Colnia Santa Izabel, em Betim, estado de Minas
Gerais, mostrando como esta Colnia constituiu-se numa micro-sociedade regulada por leis
prprias, com um verdadeiro poder paralelo levando a um cerceamento da liberdade,
tutelamento e uma nova identidade social daqueles que ali se internavam (p. 245).
Em outros estudos como o de Pedrosa (1991), Claro (1995), Miranda (1999) e Eidt
(2000), que entrevistaram doentes de hansenase, o sofrimento uma condio muito
freqente nas falas dos sujeitos e se apresenta nas mais diversas formas e intensidade,
principalmente na dimenso fsica e psicolgica. Pedrosa (1991) apresenta um quadro sobre
os sentimentos e emoes relatados pelos doentes que os levavam a sofrer como os medos de
discriminao, rejeio, isolamento, segregao, contaminar pessoas, perder o emprego,
deformidades, morte, ficar abalado emocionalmente, suicdio, alm de outros sentimentos
como tristeza, desgosto, mgoa, revolta, culpa, inconformismo, vergonha, preocupao,
hostilidade, solido, desnimo, inferioridade, insegurana, sofrimento, ansiedade, angstia,
indiferena, no aceitao de si e auto-rejeio.
Eidt (2000), ao discutir os sentimentos vivenciados pelos doentes de hansenase,
tambm abordou os diversos medos sentidos por eles, os quais, segundo ela, esto
relacionados com a evoluo da doena, com o ser hanseniano, com os familiares e com a
comunidade em que vivem (p. 106). Essa autora ainda coloca que tais medos provocam
sofrimentos aos doentes, sendo necessrio oportunizar que os sentimentos destes sejam
exteriorizados. Dessa forma, acredito tambm que se devem valorizar os sentimentos dos
familiares que convivem com estes doentes, pois o sofrimento acomete a ambos como se pode
verificar nos depoimentos anteriormente citados.
Segundo Novaes (1975) apud Pedrosa (1991, p. 86), a situao de doena
favorece o aparecimento de estados freqentes de depresso, insatisfao e insegurana.
Neste sentido, Eidt (2000) traz vrios autores, que tambm colocam que a tenso emocional, a
ansiedade e a depresso so os sintomas emocionais mais comuns entre os doentes de
hansenase. Neste estudo, isto ficou evidenciado em vrios fragmentos de depoimentos dos
comunicantes intradomiciliares, citados no decorrer desta anlise, como o da entrevista n 4,
cujos fragmentos se refere ao estado emocional/depresso de uma doente.
Nesse contexto, Oliveira e Romanelli (1998) destacam que a hansenase provoca
alteraes e transtornos tanto na vida pblica como na vida privada, traz vrias conseqncias
negativas na vida afetiva e sexual, e a instabilidade emocional dos doentes pode desencadear
vrias situaes indesejveis como um estado de crise, tenses, modificaes fsicas,
Resultados e Discusso
151
... em casa nis come tudo junto... ele meu marido, nis dorme
junto, n. (entr. n 8)
... dormi, nis nunca separou, no. Nis sempre durmiu junto. (entr.
n 17).
Ou o depoimento de uma comunicante que d a entender que sua me se preocupa
com a relao afetiva e sexual com o marido, quando diz:
Resultados e Discusso
152
... ela tava se sentido inferior, dizendo assim que meu pai no ia
gostar mais dela, porque ela estava cheia de manchas, que ela no
era mais a mesma... (entr. n 4)
No entanto, Oliveira e Romanelli (1998) alertam que a sexualidade dos doentes de
hansenase pouco valorizada pelos profissionais de sade responsvel pelo desenvolvimento
das aes do programa, e identificar e analisar as representaes na perspectiva de gnero
pode contribuir para maior adequao da assistncia ao doente e aos seus familiares. Dessa
forma, concordo que muito importante pensar em tais questes, pois um servio de sade
somente poder oferecer, de fato, uma assistncia integral ao doente de hansenase e a seus
familiares quando todos os aspectos que envolvem o ser humano estiverem sendo abordados,
e a sexualidade, mesmo com toda sua complexidade, deve fazer pauta das orientaes
fornecidas pelos profissionais de sade. Na minha vivncia profissional observo que este
talvez seja um dos aspectos mais negligenciados no rol das orientaes por sentimentos
variados, como medo, vergonha, tabus e at mesmo desconhecimento dos profissionais de
sade, uma vez que os prprios manuais sobre esta doena elaborados pelos rgos oficiais de
sade pouco ou nada trazem sobre esta questo. Retomando a questo da ajuda dos
profissionais de sade na formulao de estratgias de enfrentamento da doena pelo doente e
familiares, acredito que a abordagem sobre a sexualidade deve compor o cenrio destas
estratgias.
Neste ncleo de sentido tambm oportuno retomar a questo da hansenase como
condio crnica, pois, pelo seu carter prolongado, quer seja pelo perodo de incubao,
durao das manifestaes dermatoneurolgicas ou de seu longo tempo de tratamento, os
doentes e familiares podem passar por um perodo de sofrimento maior do que se fosse uma
condio aguda; desta forma, necessitam de mais ateno dos servios de sade para
gerenciarem com segurana os seus problemas de sade, ou seja, para enfrentar a
doena/enfermidade. Tambm considero importante lembrar que, nesta condio crnica,
podem ocorrer, concomitantemente, eventos agudos como, por exemplo, as reaes
hansnicas, j mencionadas na unidade temtica anterior, que podem aumentar o sofrimento
do doente e de seus familiares pela exacerbao ou surgimento de novos sintomas, podendo
estes exigir novas estratgias de enfrentamento e ateno gil e eficiente dos servios de
sade. Outra situao que concorre para aumentar o sofrimento de doentes de hansenase e de
seus familiares a possibilidade de ocorrncia de incapacidades fsicas nos olhos, mos ou
ps dos doentes, j que as mesmas podem trazer prejuzos considerveis nos aspectos fsicos,
psicolgicos, sociais, econmicos e morais (HASSELBLAD, 1979). Dessa forma, Oliveira
Resultados e Discusso
153
(1990, p. 22) recomenda que o trabalho de preveno na hansenase, seja ele fsico ou
mental, deve ser iniciado no momento da confirmao do diagnstico clnico.
Ainda nesse contexto, no podemos esquecer que as incapacidades fsicas
constituem, na realidade, a grande causa do isolamento e do estigma do doente de hansenase
na sociedade e, dessa forma, ressalta-se a importncia das tcnicas de preveno, controle e
tratamento das mesmas, j que se constituem aes fundamentais a serem realizadas pelas
unidades de sade, consideradas como as mais importantes armas de combate da principal
causa do estigma social da hansenase. As atividades de preveno de incapacidades devem
ocorrer em linguagem apropriada ao nvel cognitivo do doente, estimulando a realizao das
mesmas no domiclio ou em grupos na comunidade, valorizando o auto-cuidado (BRASIL,
MS, 1997). Em tais atividades, entendo que a participao dos comunicantes intradomiciliares
fundamental, j que, pela convivncia, podem disponibilizar tempo, estmulos e em alguns
casos recursos financeiros para a realizao das mesmas, facilitando e/ou melhorando tambm
a adeso a esta modalidade do tratamento, alm do poliquimioterpico. Sempre devemos
lembrar que, aps a alta medicamentosa, o doente de hansenase ainda poder necessitar de
outras modalidades de acompanhamento pelos servios de sade e os comunicantes
intradomiciliares devero retornar segundo normas do estado de So Paulo, para a realizao
do exame dos contatos de acordo com a periodicidade estabelecida na Resoluo SS 130 de
8/10/2001 (SO PAULO, SES, 2001).
Nesse sentido, Pinto Neto (1999) coloca que o controle dos comunicantes
intradomiciliares dos doentes de hansenase, quando desenvolvido de maneira satisfatria
pelas unidades de sade, se torna um instrumento importante para a deteco precoce dos
casos e a preveno das incapacidades, diminuindo o sofrimento fsico e psicolgico, o
estigma e o preconceito, enfim, reduzindo os custos sociais e econmicos provocados pela
doena.
No prximo ncleo de sentido abordarei sobre a questo do estigma e do
preconceito na percepo dos comunicantes intradomiciliares, vivenciados no convvio com o
doente de hansenase.
Resultados e Discusso
154
Resultados e Discusso
155
Esse autor ainda aponta que a sociedade que define o total de atributos
considerados comuns e naturais para cada membro de uma determinada categoria, assim
como estabelece os meios de categorizar as pessoas. Tambm cita que os ambientes sociais
estabelecem as categorias de pessoas que possuem maior probabilidade de ser neles
encontradas, o que nos permite estabelecer um relacionamento com outras pessoas, sem que
faamos uma reflexo particular. Assim, ao sermos apresentados a uma pessoa estranha,
voltaremos a ateno para os aspectos que nos permitem prever sua categoria e os seus
atributos, ou seja, a sua identidade social. Goffman (1988) tambm esclarece que, baseandonos nessas pr-concepes, ns as transformamos em expectativas normativas, com
exigncias rigorosas; no entanto, se na pessoa estranha for observado um atributo que a torne
diferente de outro, ou seja, que no se enquadre na normatividade, ela ter mais chance de ser
estigmatizada. Assim, o estigma usado em referncia a um atributo profundamente
depreciativo que, segundo Claro (1995, p. 34), inabilita o indivduo para a aceitao social
plena, ou, como coloca Silveira (2004, p. 23), representa uma marca que aponta para um
grupo que determinada pessoa no deve ser plenamente aceita, por possuir atributo diferente.
Goffman (1988) tambm explica que o estigma tem um efeito de descrdito muito
grande e constitui uma discrepncia entre a identidade social virtual que representa as
expectativas alheias em relao a um indivduo e a identidade social real que so os atributos
que o indivduo realmente possui. Segundo esse autor, o termo estigma oculta uma dupla
perspectiva: a do desacreditado e a do desacreditvel. O indivduo desacreditado possui um
estigma conhecido por outras pessoas, tendo que lidar com situaes de tenso resultantes de
seu contato com as mesmas no seu cotidiano. J o desacreditvel aquele que tem um estigma
o qual no reconhecido nem percebido pelas pessoas e dever criar maneiras para controlar
as informaes sobre sua condio. O autor tambm aborda a auto-estigmatizao, que
expressa um terceiro tipo de identidade, a identidade do eu, a qual experimentada pelo
prprio indivduo de forma subjetiva, e, por viver na mesma sociedade que os demais, se
auto-deprecia ao incorporar seus padres, normas e modelos de identidade. Um exemplo de
desacreditado o doente de hansenase que possui incapacidades fsicas/seqelas e um
exemplo de desacreditvel doente de hansenase que no as possui e oculta sua verdadeira
realidade ou sua diferena (POLASTRO, 1999).
Ainda citando Goffman (1988), ele menciona trs tipos de estigma diferentes: as
abominaes do corpo (as vrias deformidades fsicas), as culpas de carter individual
(vontade fraca, paixes tirnicas ou no naturais, crenas falsas e rgidas, desonestidade) e os
estigmas tribais de raa, nao e religio. Claro (1995) afirma que o estigma vinculado
Resultados e Discusso
156
hansenase, por suas caractersticas em diferentes sociedades e pocas, parece poder encaixarse em qualquer dos trs tipos (p. 34). Goffman (1988) tambm reala que no nosso discurso
dirio utilizamos termos especficos de estigma como aleijado, bastardo, retardado, como
fonte de metfora e representao.
No Brasil, uma das referncias obrigatrias sobre o estudo do estigma na
hansenase a de Gandra Jnior (1970) que, por meio de sua tese A lepra: uma introduo ao
estudo do fenmeno social da estigmatizao, nos fornece uma importante base conceitual
sobre o estigma. Nela ele prope um conceito para o fenmeno:
O estigma a propriedade que possuem certas categorias, culturais ou sociais, de
funcionarem como sinal desencadeador de uma emoo que se manifesta numa
conduta de afastamento imediato. As categorias, sociais ou culturais, adquirem tal
propriedade quando representam uma negao de um ou mais valores bsicos
preponderantes.
Este autor explica-nos que a hansenase (por ele citada como lepra ou morfia)
como categoria cultural definida pelas imagens culturais que constituem um conjunto de
elementos considerados pelos indivduos como hansenase. Essa categoria cultural vai
apresentar coincidncias e discrepncias com a categoria hansenase cientificamente definida.
Ou seja, a hansenase uma categoria cultural. J por categoria social, temos o doente de
hansenase (por ele chamado de leproso ou morftico), constituda daqueles indivduos com
certas caractersticas que permitem sociedade identific-los como portadores de uma doena
classificada na categoria cultural como hansenase. Ou seja, o estigma est associado
hansenase como categoria cultural e ao doente de hansenase como categoria social; ambas as
categorias tm a propriedade de funcionar como um sinal desencadeador do processo
emocional e podem se manifestar em condutas de afastamento, cujas modalidades sero
abordadas posteriormente.
No Brasil, como j referido, a questo do estigma foi importante para a luta da
mudana da nomenclatura da doena de lepra para hansenase. Nessa luta, Rotberg (1977b, p.
16) assim colocou: a hansenase no hereditria, mas o estigma da lepra , e pode atingir
at a segunda gerao de um leproso. O autor tambm assim se expressou: a lepra to
inseparvel do estigma quanto o estigma da lepra (p. 16), mencionando tambm que a
hansenase a mais polimorfa das doenas, e um sintoma sempre esteve presente em todos os
casos: o estigma.
Lana (1997), em sua tese, discute o estigma como categoria mediadora entre
hansenase e cidadania; coloca que ele atravessou a histria da hansenase e marcou o
Resultados e Discusso
157
Resultados e Discusso
158
depoimentos
merecem algumas
reflexes,
pois
os
comunicantes
ao
doente.
fato
de
os
familiares
no
demonstrarem
atitudes
de
Resultados e Discusso
159
XX
possam
tambm
estar
contribuindo
para
uma
amenizao
do
Resultados e Discusso
160
ainda, mas acho que diminuiu um pouco, mas mesmo assim, quando
fala em hansenase, muita gente tem medo... (entr. n 13)
No entanto, em outro depoimento, uma comunicante intradomiciliar assume o seu
prprio preconceito antes e logo aps o diagnstico da doena e aborda o medo do
preconceito dos outros:
... no servio, algumas pessoas ficou com medo de peg, mas a ele
conversou, falou, no porque eu t tomando o remdio, com o
tratamento no pega, n, a as pessoas ficou mais aliviado no
servio. (entr. n 2)
... alguns dos parentes, amigos dela, ficou um pouco meio afastado,
n, conforme a gente foi falando que no tinha perigo por causa do
tratamento foi chegando ao normal, mas no comeo com aquele
impacto a turma recuou um pouco. (entr. n 5)
... teve preconceitos de vizinho, ento, tipo assim, que meu filho no
pode entrar na sua casa porque vai s contaminado... (entr. n 11)
O neto, que sempre andava, ficava junto, ficava abraando ele, o
menino at se afastou um pouco, n. Ele parece que ele ficou meio
sentido s pro causa da brincadeira que ele tinha com o neto, que ele
gosta muito dos netos, e eu acho que ele ficou meio sentido por causa
disso. (entr. n 17)
... eu acho que as pessoas de fora tm preconceito, e muito, que eles
no conhecem a doena tambm, que eles falam sem saber, acham
Resultados e Discusso
161
Resultados e Discusso
162
Este singular fragmento mostra-nos uma espcie de segredo da famlia para com a
maioria de seus vizinhos e, de acordo com Maffesoli (1987) apud Silveira (2004), serve de
proteo contra o exterior, confirmando a funo protetora da famlia: ele refora e confirma a
solidariedade fundamental, e a confiana entre os membros fortalece o grupo famlia contra o
grupo sociedade. Desta forma, guardam-se segredos dos assuntos da famlia, no se falando
sobre eles no exterior. Acredito que tal segredo possa funcionar, para essas famlias, como
uma das estratgias de enfrentamento familiar para a sua proteo contra atitudes de
estigmatizao social.
Em outros estudos tambm encontra-se discusso sobre o encobrimento e
ocultamento da doena pelo doente e/ou familiares, como nos mostra o estudo de Queiroz e
Puntel (1997): sugerem existir no Brasil uma forte tendncia do doente para o encobrimento
da doena com o apoio da famlia e at dos servios de sade, enquanto na ndia o doente
tende a conformar-se com o papel social a ele atribudo. Na Venezuela, Romero-Salazar et al.
(1995) encontraram altos ndices de ocultamento em seu estudo e criaram um interessante
coeficiente de estigmatizao por meio do clculo de vrios ndices.
Outra percepo dos comunicantes intradomiciliares refere-se ao preconceito do
prprio doente, como expresso no depoimento abaixo:
... no comeo ela no queria que a gente usava a toalha dela, que a
gente no usasse o mesmo banheiro que ela, e deu pra perceber que
ela teve preconceito dela mesmo; ento aquilo, afetou muito o
psicolgico dela..., ela procurou no usar os mesmos copos que a
gente... porque pra partir deles menos eles tm o preconceito deles.
(entr. n 11)
Este depoimento aponta para a auto-estigmatizao que, segundo Claro (1995, p.
86), uma reao psicolgica de intensa autodepreciao que at certo ponto independe das
atitudes das outras pessoas, porque se fundamenta no modo como o prprio indivduo se v,
ou seja, na sua auto-imagem. Esta autora ainda afirma que a auto-estigmatizao pode ser a
causa de interrupes do tratamento e mesmo do seu abandono, principalmente quando da
ocorrncia dos episdios reacionais. No seu estudo, ela tambm coloca que, em boa parte dos
entrevistados, foi observada a auto-estigmatizao ou autodepreciao.
Yamanouchi et al. (1993) observam um triste fato: antes de a sociedade rejeitar o
indivduo, muitas vezes, este rejeita a si prprio e o doente de hansenase apresenta um misto
de vergonha, medo e ignorncia em relao sua doena, o que muitas vezes determina um
complexo de auto-rejeio, que contribui para torn-lo uma pessoa rejeitada e marginalizada.
Resultados e Discusso
163
Bertolozzi (1998) relata que o preconceito que emerge do doente tem raiz diferente daquele
que se configura por parte da coletividade, pois, em decorrncia da enfermidade, o doente
passa a assumir atitudes de afastamento, possivelmente para evitar entrar em confronto com
uma questo que para ele mesmo difcil de ser equacionada e incorporada no cotidiano (p.
84).
Dessa forma, cabe aos profissionais de sade buscar estratgias de enfrentamento
junto com os doentes e familiares para atenuar/evitar as possibilidades de estigmatizao
social e/ou auto-estigmatizao, como, por exemplo, evitar o aparecimento das incapacidades
fsicas por meio da execuo das diversas tcnicas e promover orientaes quanto aos vrios
aspectos da doena e do seu tratamento, a fim de que a pessoa doente possa viver sua
enfermidade (illness) com mais equilbrio. Neste contexto, tambm reitero ser fundamental o
entendimento da hansenase como condio crnica de sade e a necessidade de os servios
de sade compreend-la como tal e se reorganizarem, como alerta a OMS (2003) para atender
os doentes e seus familiares em uma perspectiva mais humanizada e holstica, com os
atributos da qualidade e resolutividade no acolhimento das necessidades de ambos para alm
dos eventos agudos, incluindo tambm a abordagem sobre o estigma e o preconceito de forma
clara e objetiva.
Uma outra questo que interfere no nvel do estigma/preconceito da hansenase em
uma comunidade refere-se ao modelo da organizao dos servios de sade: estudos apontam
que a auto-estigmatizao e a estigmatizao social so maiores nos locais onde o programa
de controle da hansenase verticalizado, uma vez que o estigma social virtualmente
inexistente nas comunidades onde o programa integrado (AROLE et. al., 2002; SOUTAR,
2002; FEENSTRA; VISSCHEDIJK, 2002; UPDATE, 2002).
Assim, concluo a anlise desta segunda Unidade Temtica onde, por meio de
quatro ncleos de sentido, apresentei o convvio com o doente na percepo dos comunicantes
intradomiciliares, procurando identificar os contedos latentes dos depoimentos e articul-los
com o quadro terico e com a literatura pertinente. No primeiro ncleo de sentido abordei a
convivncia com o doente: normalidade, dificuldades e contradies; no segundo, as atitudes
dos comunicantes no convvio com o doente; no terceiro, a percepo dos sofrimentos e, no
quarto, o estigma e o preconceito na percepo dos comunicantes intradomiciliares
entrevistados.
Na prxima unidade temtica trabalharei a percepo dos comunicantes
intradomiciliares de doente de hansenase em relao ao controle realizado pelo servio de
sade.
Resultados e Discusso
164
Resultados e Discusso
165
... eu fiz exame e no deu nada, deu negativo... os meninos veio tom
vacina, eu tomei... fez um exame no deu nada, n. (entr. n 8)
... Bom eles comunicaram que eu tinha que vim aqui realizar uns
inxames, a eu vim, fiz os inxames..., eles me tiraram sangue n, ,
tiraram um linfa da orelha, n, e fez os exames tudo certinho, no deu
nada, n... (entr. n 9)
A vacina, nis viemos aqui e tomamos a vacina, eles explicaram para
gente, fizemos o exame de pele... (entr. n 10)
... eu passei, a minha filha passou, o meu padastro passou, tanto que
foi identificado as manchas no corpo dele e que foi feito os exames
que constatou a hansenase... eu sei que me indicaram a vacina... sei
que essa vacina que a gente toma a BCG. (entr. n 11)
...a primeira veiz que eu vim aqui, j me fizeram um exame geral, me
examinaram todo o corpo, j me aplicaram a vacina, tomei aquela
vacina, s t o sinal dela aqui... (entr. n 12)
...fui examinada..., tomei a vacina, todas as pessoas da minha famlia
vieram... (entr. n 13)
...toda a famlia que t vivendo ao lado dele, j passou pelo mdico...
(entr. n 14)
...a gente veio, fez a avaliao, tomou a vacina BCG... (entr. n 19)
O programa de eliminao da hansenase um dos sete programas da Norma
Operacional de Assistncia Sade em vigor (NOAS/SUS, 2002); nele consta um elenco de
responsabilidades e das atividades que devem ser desenvolvidas pelas unidades de sade.
Dentre elas est normatizado o diagnstico clnico dos casos por meio do exame de
sintomticos dermatolgicos e comunicantes dos casos e, como parte do elenco das medidas
preventivas, encontra-se a pesquisa de comunicantes. Tambm j foi apresentada toda a
legislao federal e estadual em relao ao controle dos comunicantes ou vigilncia dos
contatos de doentes de hansenase, assim como a historicidade das medidas de controle em
relao aos mesmos de acordo com a periodicidade estabelecida por este pesquisador entre o
perodo de 1889 a 2004; alguns aspectos histricos sero reapresentados com o objetivo de
contextualiz-los nesta unidade temtica.
A legislao em vigor sobre a hansenase como a Portaria Ministerial n 1.073 de
26/9/2000 (BRASIL, MS, 2001a) e a Resoluo SS-130 de 8/10/2001 do estado de So Paulo
(SO PAULO, SES, 2001) tambm abordam sobre a vigilncia dos contatos; assim como os
manuais e guias produzidos pelo Ministrio da Sade ou pela Secretaria de Estado da Sade
de So Paulo: no captulo destinado vigilncia epidemiolgica desse agravo, normatizam a
vigilncia dos contatos. Em um dos manuais consta que esta vigilncia compreende a busca
sistemtica de novos casos de hansenase entre as pessoas que convivem com o doente, a fim
de que sejam adotadas medidas de preveno em relao s mesmas: o diagnstico e o
Resultados e Discusso
166
comunicantes
bastante
simplificado,
constituindo-se
de
uma
avaliao
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167
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(CONVIT et al., 2003). Martelli et. al. (2002) tambm trazem colocaes de que apesar do
enorme sucesso na reduo da prevalncia, a PQT no produziu evidncias de reduo da
transmisso mensurada pelo aparecimento de novos casos (p. 279). Esses autores tambm
levantam questes importantes a serem elucidadas tais como: Qual a durao da proteo
conferida pelo BCG? Qual o tipo de proteo? Se contra a infeco e/ou a doena? Qual o
papel das micobactrias ambientais na variabilidade da proteo? Consideram igualmente
que, apesar dos avanos cientficos na hansenase, muitas lacunas ainda persistem em vrios
aspectos como o da imunologia e da biologia molecular; mesmo aspectos fundamentais da
epidemiologia ainda no foram esclarecidos tais como o papel das formas paucibacilares, da
infeco subclnica e dos reservatrios extra-humanos na cadeia de transmisso do M. leprae,
alm da variabilidade da efetividade da vacina BCG em diferentes populaes. Dessa forma, a
hansenase ainda possui um campo vasto para pesquisas, e compactuo com os autores que
afirmam ter medo de que, com o alcance da meta de eliminao como problema de sade
pblica, corre-se o risco de se diminuirem ainda mais os investimentos financeiros e as
pesquisas na hansenase, agravo que ainda acarreta sofrimento de diversas maneiras a
milhares de doentes e familiares, principalmente no cinturo de pobreza do globo terrestre.
Assim, julgo serem necessrios existir nas universidades pblicas e privadas e em outras
instituies de ensino superior do pas grupos de pesquisas sobre esta importante endemia
nacional, a exemplo do que ocorre hoje com o Grupo de Estudos Operacionais em
Tuberculose, em ps-graduao, existente na Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/USP e
da Rede Brasileira de Pesquisa e Ps-Graduao em Tuberculose (Rede TB
www.redetb.usp.br).
Ainda analisando a percepo dos comunicantes intradomiciliares quanto s
medidas de controle realizado pela unidade de sade, verifica-se que nos fragmentos de
alguns depoimentos como A famlia foi chamada pra vir aqui... (entr. n 4) e ... Bom, eles
comunicaram que eu tinha que vim aqui realizar uns inxames... (entr. n 9), a unidade de
sade utiliza-se de estratgias para o chamamento da famlia do doente para ser submetida
vigilncia de contatos tais como por meio do prprio doente. Vejamos:
... a minha me vem sempre aqui, n, ento eles pede pra gente vim
sempre, tomar a vacina direitinho e se tiv alguma mancha procurar
o posto de sade. , qualquer assim, sintoma que tiver procurar o
posto... (entr. n 1)
... a pessoa com quem ela passou pediu que a gente da famlia
passasse pra v se ela identificasse mancha, alguma coisa assim no
organismo da gente... (entr. n 11)
Resultados e Discusso
170
... foi comunicao pra minha famlia, ns viemos aqui, fez teste em
todo mundo, pra ver se tava com a doena... (entr. n 3)
... o pessoal daqui, as meninas, ligava l pra G. pedindo para gente
vim tom a vacina, eu fui o ltimo pra vim tomar, falava t faltando o
seu esposo, tm que vim v o corpo e tom a vacina... (entr. n 7)
... o CADIP vai tanto nas casas das pessoas... (entr. n 11)
... na visita o Dr. A. explic pra mim, as meninas sempre explica, elas
foi l em casa, me explic muito bem pra mim vim aqui... (entr. n 12).
... eles vai sempre na minha casa, como to indo direto,n?... (entr. n
15)
Considero tais estratgias como muito importantes para a vigilncia dos contatos.
O doente de hansenase pode servir de elo entre a unidade de sade e a famlia, mas no se
pode atribuir a ele a responsabilidade do comparecimento dos familiares intradomiciliares
para a vigilncia dos contatos. Na literatura encontram-se muitos estudos que mencionam ou
abordam principalmente a estratgia da visita domiciliria (VD) na sade coletiva, como os
estudos de Padilha et al. (1994), Mazza (1994), Mattos (1995), Palma, Barros e Macieira
(2000).
Benedini (1993), em um captulo de sua tese, abordou a visita domiciliria,
trazendo toda uma historicidade a respeito da VD, e a aponta como uma estratgia alm do
uso na sade coletiva, e tambm como um recurso de ligao e continuidade da assistncia
entre instituio hospitalar e a comunidade. Ao abordar sobre VD, apropriado mencionar
Egry e Fonseca (2000), que trouxeram importante contribuio para a enfermagem brasileira
com seu artigo A famlia, a visita domiciliria e a enfermagem: revisitando o processo de
trabalho da enfermagem em sade coletiva, alm de ser muito oportuno, principalmente
diante da expanso da estratgia dos Programas de Sade da Famlia. Alm de abordarem
algumas idias equivocadas sobre a VD, afirmam que
As vantagens da Visita Domiciliria como modalidade assistencial so inmeras,
especialmente nos casos em que necessria uma maior aproximao do tcnico,
representando o sistema de sade, com a realidade de vida e sade da famlia. Isso
faz com que ela seja insubstituvel pelos procedimentos executados no interior da
unidade de sade, contexto em que as desigualdades sociais que constituem o
grande determinante das condies de sade-doena muitas vezes so de pouca
visibilidade, impossibilitando sua apreenso pelos tcnicos responsveis pela
ateno sade das famlias.
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171
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172
fazer parte na produo dos servios de sade. van Dijk, Visschedijk e van der Kwaak (2003),
ao realizarem um estudo piloto no estado de Minas Gerais sobre satisfao do doente de
hansenase, encontrou que o uso de cartas, telefone e visitas domicilirias pelo servio de
sade so bem aceitos pelos doentes de hansenase. No quadro terico da atual pesquisa
apresentei que o uso de cartas e visitas domicilirias estiveram presentes em alguns momentos
na historicidade das medidas de controle em relao aos doentes de hansenase e seus
comunicantes intradomiciliares.
Neste contexto acredito ser oportuno colocar que o servio de sade deve e pode
utilizar-se de vrias estratgias para garantir a realizao da vigilncia dos contatos, a qual
considero uma atividade fundamental para a rede de servios de sade que desenvolvem as
aes deste programa de sade e integram o Sistema nico de Sade. Dessa forma, tais
atividades devem, no mnimo, atender ao que j est normatizado pela legislao federal e, no
caso do estado de So Paulo, ao que consta na Resoluo SS-130, alm da necessidade de que
elas sejam operacionalizadas de forma sistematizada por meio de protocolos, para que deixem
de ser uma atividade apenas perifrica, marginal ou secundria no conjunto das prticas de
sade desenvolvidas pelas unidades de sade conforme, empiricamente, parece estar
ocorrendo no pas, pois a ateno quase que exclusivamente voltada doena/doente e aos
eventos agudos vivenciados por este. Mesmo que o Brasil venha alcanar a meta de
eliminao no final de 2005, conforme o compromisso firmado com a OMS em 1999, nos
prximos anos e/ou dcadas ainda existiro doentes e comunicantes que, mesmo em um
cenrio de baixa prevalncia, precisaro de ateno e cuidado por parte dos
profissionais/servios de sade. Alm disso, considero que, mesmo que o pas alcance esta
meta, teremos regies, estados e municpios que no a alcanaro, e ns, profissionais de
sade, deveremos aprender a trabalhar na perspectiva de mltiplos cenrios epidemiolgicos
sobrepostos como, por exemplo, atuar em um municpio hiperendmico, num estado com
mdia endemicidade e no pas com o status de hansenase eliminada como problema de sade
pblica.
Uma outra ao a que os comunicantes intradomiciliares se referiram foram sobre
as orientaes recebidas pelo servio de sade:
... eles falou que ele ia fic escuro, bem escuro, que podia d falta de
ar nele... (entr. n 2)
... fomos orientados tambm, como que era a doena, que a doena
e que altura que j tava a doena, n, a etapa da doena... (entr. n 3)
Resultados e Discusso
173
... a moa daqui disse que no precisava separ nada, que depois que
toma o remdio, que toma a dose do remdio, no precisa porque no
tem mais perigo de peg a doena... (entr. n 8)
... nis ficamos sabendo que no pega com contato de material que
ela usa, n. (entr. n 9)
... cheguei aqui, eu tive explicaes excelentes, fui muito bem
informada..., esclareceu todas as nossas dvidas... (entr. n 16)
... aqui eles passaram para mim que no h perigo nenhum de pegar
a doena agora... (entr. n 18)
Apesar de j terem sido citados, na primeira unidade temtica, depoimentos de
comunicantes intradomiciliares que informaram nada conhecer sobre a hansenase, os
fragmentos acima apontam que, por ocasio da vigilncia de contatos na unidade de sade, os
sujeitos receberam orientaes, principalmente, no que se refere doena e ao seu tratamento,
enfoques que ilustram como ainda persiste o paradigma biomdico ou Flexneriano nas aes
educativas em sade, ou seja, tal paradigma se reproduz no cotidiano dos servios de sade
por meio das orientaes fornecidas pelos profissionais de sade; bvio que tais aspectos
so importantes, mas outros, como por exemplo, os relacionados aos desafios e o
enfrentamento da condio crnica de sade, questes psicossociais e de sexualidade parecem
no ter sido incorporados rotineiramente no rol das orientaes. Alm do fornecimento de
informaes/orientaes pontuais pela unidade de sade, faz-se necessrio mencionar
questes mais amplas, como a educao em sade ou educao sanitria, para reforar
aspectos j abordados nesta tese sobre este assunto. Ferro e Fonsca (1987) colocam que a
educao sanitria deve ser direcionada aos doentes e seus comunicantes, profissionais de
sade, lderes da comunidade e a populao em geral; ela possui papel relevante junto s
demais atividades de controle da hansenase, pois atravs dela as pessoas aceitam ou no
informaes e valores sobre a doena, mudam ou adquirem atitudes e prticas frente ao
problema da doena (p. 344). Temos que valorizar os clientes no como casos mas como
pessoas. Estes autores tambm citam que as atividades educativas podem ser realizadas em
vrios momentos, principalmente quando os pacientes e familiares so atendidos pelos
profissionais de sade. As atividades educativas devem integrar todas as atividades de
controle da hansenase e, assim, a equipe de sade deve ser capacitada para o
desenvolvimento das mesmas, interagir com o doente e seus familiares e com a populao em
geral de forma respeitosa, com o objetivo de buscar a participao ativa destes nas atividades
de controle da hansenase, possibilitando uma aprendizagem mtua que proporcione a
efetividade das aes de sade, buscando a melhoria da qualidade de vida da populao
(BRASIL, MS, 2001c).
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174
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175
Resultados e Discusso
176
... quanto ao controle, pelo menos em casa, minha me, ela teve toda
a assistncia, n, o pessoal deu toda a assistncia possvel, inclusive
ns fomos at para Bauru em outro hospital para maior controle, ,
sempre deram a maior assistncia, remdio que tem que tomar, no
tivemos nenhuma despesa financeira em relao a esses
medicamentos... ela tem que fazer fisioterapia, feito; tem que levar
para outro hospital para outro exame, levado; no gastamos um
centavo, nem com despesa de transporte, nem com nenhuma outra
despesa. (entr. n 3)
... minha me t tendo toda a ateno aqui... toda a orientao...
(entr. n 4)
... ela vem aqui, bem tratada, eles acompanha tudo certinho, n... e
os remdios so totalmente de graa, o tratamento tambm. (entr. n
9)
... ele t fazendo fisioterapia, ele toma os remdios... (entr. n 17)
... ela vem no mdico, na fisioterapia... (entr. n 19)
Nesses depoimentos os comunicantes apontam algumas aes que a unidade de
sade desenvolve em relao ao doente de hansenase como a consulta mdica, a
consulta/atendimento fisioterpico, o tratamento medicamentoso que nesta unidade
supervisionado e orientado pela enfermagem, as orientaes recebidas pela equipe de sade e
os encaminhamentos realizados para outras instituies em outro nvel de ateno de acordo
com a atual organizao do servio de sade, como o encaminhamento do doente para o
Instituto Lauro de Souza Lima em situaes dspares, ou para a confeco de sapatos
adequados ou para ser submetido a consultas mdicas especializadas principalmente em casos
de neurites e cirurgias reparadoras. Alm dessas atividades, a unidade de sade desenvolve
outras como a investigao epidemiolgica e a notificao do caso no SINAN, o que o
caracterizar como um caso de hansenase. Um aspecto que chamou a ateno deste
pesquisador a percepo pelo comunicante intradomiciliar da gratuidade do servio de
sade, difundida at mesmo entre os profissionais de sade que visualizam o SUS como um
sistema gratuito, revelando desconhecimento sobre o seu financiamento. Talvez isto ocorra
em funo de no haver desembolso direto no ato do atendimento ou da difusa percepo
Resultados e Discusso
177
existente na sociedade de que o que pblico gratuito. Essa percepo pode levar, muitas
vezes, exteriorizao de mensagens de gratido do doente e de seus familiares em relao ao
servio/equipe de sade, o que pode evidenciar, de certa forma, o encobrimento dos direitos
de cidado de acordo com o estabelecido pela Constituio Federal e Estadual em vigor e as
leis infraconstitucionais relacionadas sade. Os depoimentos abaixo exemplificam esta
gratido:
... eu acho que o servio procura a gente pra fazer tratamento, tomar
a vacina certinha para no correr risco de pegar tambm, de se
contaminar, eu acho isso muito importante. Legal as pessoas se
preocuparem com outras, n?... eu acho que t certo o trabalho deles
e incentivar as pessoas a vim fazer o tratamento. (entr. n 1)
... eu acho que o pessoal do CADIP, a unidade de sade daqui de
Fernandpolis, pelo menos t fazendo, lgico, to dando a maior
assistncia, tentando controlar o melhor possvel, no s comigo, mas
com toda a famlia. (entr. n 3)
Sobre o controle do servio de sade, aqui eu acho que t timo, ela
foi bem atendida... o tratamento foi bom, foi excelente... a
preocupao do pessoal aqui do CADIP foi muito bom, a sua tambm
foi atrais, soube entender o lado da pessoa, ela nunca reclamou
daqui, o tratamento dela aqui sempre foi muito bom. (entr. n 5)
... eu sabia que o trabalho relevante que esse pessoal presta, no t
falando s da hansenase, no caso, t falando de todas as doenas, o
acompanhamento muito srio... a gente trabalha, anda pra l, anda
pra c, e voc nunca v o trabalho que tem aqui dentro, que vocs
profissionais presta pra comunidade em geral. Quando tem uma
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180
... tiveram tanta pacincia com a gente, que parente e tudo, nossa!
super bom! E sempre quando a gente vem aqui no CADIP, a gente
super bem atendida, nossa!, demais, super bem atendido. (entr. n 2)
Aqui, ah, eu achei muito bom, fui muito bem atendida, como sempre
bem atendido aqui, eles cuida muito bem dele, toda vez que vem aqui,
o remdio t certinho pra ele peg, ele toma aqui, leva o que tem que
tom em casa, eu gostei demais da turminha daqui, que cuida muito
bem. (entr. n 6)
... quando eu vim aqui fui muito bem tratada... (entr. n 13)
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181
Ainda nesse contexto da ateno recebida pelo servio de sade na percepo dos
comunicantes intradomiciliares, cito um depoimento singular que exige algumas reflexes:
... eu acho que excelente o modo deles control, n?, que inclusive,
no incio, que eles pediram para mim e pra menina, a gente vim para
fazer teste, pra ver, faz, n, a gente inclusive demorou, a as meninas
falou pro J.: oh, se no vim, se vai cortar os remdios, voc no vai
tomar o remdio, ento ele pegou muito no p, n?, inclusive ele que
ajudou muito nisso da me vocs tm que ir, se no eu vou ficar
sem estes remdios e no compra em farmcia, s cedido aqui pelo
CADIP, n?, a, como se diz, a gente se conscientizou... ento, a gente
veio e fez tudo certinho... (entr. n 18)
Nesse depoimento a comunicante demonstra sua satisfao pelo modo como o
servio de sade utilizou para desenvolver as aes de vigilncia de contatos, talvez sem se
dar conta do autoritarismo que permeou, neste caso, a relao entre o servio de sade e o
Resultados e Discusso
182
doente na busca de tal controle. Como j mencionei nesta unidade temtica, o servio de
sade pode utilizar-se de vrias estratgias para a realizao das aes de vigilncia de
contatos, inclusive por meio do prprio doente como elo fundamental entre este servio e os
comunicantes intradomiciliares, mas o mesmo no pode ser responsabilizado para garantir a
realizao dessas aes de vigilncia, como foi demonstrado neste relato. Vasconcelos (1999)
coloca que os servios pblicos precisam repensar sua tradio autoritria e normatizadora na
sua relao com as famlias. Dessa forma, acredito que se faz necessrio valorizar a
abordagem da famlia nos servios de sade e, para tal, devem-se preparar os profissionais da
rea em todos os diferentes nveis de formao educacional para trabalharem com a famlia,
para que se possam criar relaes mais democrticas com os seus membros no interior desses
servios.
Em outro depoimento, uma comunicante intradomiciliar tambm refere sua
satisfao pela ateno recebida pelo servio de sade quando diz:
Em relao famlia, a gente no foi chamado pra vir aqui para mais
nada, s quando a gente veio, tomou a vacina... eu diria que talvez
faltaria este apoio pro familiar, no CADIP... eu acho que faltaria
mais instruo para a famlia em auxiliar o doente, para dar mais
uma fora pelo doente, pra ele continu e at se cur e lut junto... o
que falta mais na parte psicolgica do paciente, na minha opinio.
(entr. n 4)
Esse depoimento singular aponta a necessidade de os servios de sade
desenvolverem as aes de vigilncia dos contatos em outras perspectivas, alm do
cumprimento da normatizao em vigor, pois, como j abordei no decorrer das unidades
temticas, os profissionais/servios de sade devem compreender a hansenase considerando
sua historicidade, suas peculiaridades, como uma condio crnica de sade, ainda que
eventualmente permeada por eventos agudos e que exige dos mesmos a capacidade de
oferecer, nesse contexto, uma assistncia integral de forma a atender a mltiplas demandas
oriundas do processo de adoecimento determinado por esse agravo tanto em relao ao doente
como em relao aos comunicantes intradomiciliares. Botazzo (1999, p. 24) coloca que o
Resultados e Discusso
183
6 CONCLUSES
Concluses
185
Concluses
186
servio de sade em relao a eles e aos doentes e a satisfao pela ateno recebida, como
pode ser verificado nos dois ncleos de sentidos que conformaram a terceira unidade
temtica.
Assim, baseando-me nestas concluses, no conhecimento e experincia
profissional adquiridos e nas reflexes que permearam todo este processo, acredito ser
apropriado tecer as minhas sugestes nas consideraes finais.
7 CONSIDERAES FINAIS
Consideraes Finais
188
arquitetnica,
biologicista,
ancorada
no
paradigma
Flexneriano, ainda hegemnico, mas como pessoas que merecem mais ateno
pelas repercusses psicossociais e econmicas que esse agravo sade traz
para ele na convivncia com o doente;
9 ampliar a definio de comunicante ou contato, conforme estabelece o modelo
stone-in-the-pond, como base para a interveno;
9 estimular o desenvolvimento de pesquisas operacionais, com a parceria do
Ministrio da Educao e dos rgos financiadores de pesquisa, junto s
instituies de ensino superior da rea da sade, pblicas e privadas, nos
diferentes nveis de ps-graduao, a fim de verificar qual a participao dos
comunicantes intradomiciliares de doentes de hansenase na endemia nacional.
Consideraes Finais
189
Consideraes Finais
190
reacionais,
vacina
BCG,
pilocarpina,
histamina,
mitsuda,
Consideraes Finais
191
mediante
anlise
dos
indicadores
epidemiolgicos
Consideraes Finais
192
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Referncias Bibliogrficas
194
Referncias Bibliogrficas
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ZUIGA, M. Vacinao com BCG em lepra. 1992. p.180-191. /mimeografado/
APNDICES
Apndice
220
APNDICE A
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO
ESCOLA DE ENFERMAGEM
SOLICITAO DE AUTORIZAO PARA REALIZAO DE COLETA
DE DADOS EM UNIDADE DE SADE DO MUNICPIO DE
FERNANDPOLIS
Prezado Senhor,
Eu, Jos Martins Pinto Neto, portador do RG. n 15.206.371, enfermeiro, docente
do Curso de Enfermagem e Obstetrcia dos Estabelecimentos de Ensino Superior Integrados
de Fernandpolis da Fundao Educacional de Fernandpolis-SP, inscrito no COREN-SP
com o n 42.503, e aluno regularmente matriculado no Programa Interunidades de
Doutoramento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto/Escola de
Enfermagem da Universidade de So Paulo com o nmero USP 2150137, sob orientao da
Professora Dr. Tereza Cristina Scatena Villa, venho por meio deste solicitar a Vossa Senhoria
a autorizao para a Coleta de Dados sobre os comunicantes intradomiciliares de hansenase
no Centro de Atendimento a Doenas Infecto-Contagiosas e Parasitrias (CADIP), que
subsidiar a elaborao da tese de doutorado, intitulada: A percepo dos comunicantes
intradomiciliares de doentes de hansenase sobre a doena, o doente e o controle
realizado pelo servio de sade.
Cabe esclarecer que a participao dos comunicantes intradomiciliares ser
voluntria e a mesma ocorrer, aps a assinatura de um termo de consentimento livre e
esclarecido que ser apresentado e explicado por este pesquisador. Em anexo, segue uma
cpia resumida do Projeto de Pesquisa.
Coloco-me sua disposio para outros esclarecimentos que se fizerem
necessrios.
Agradeo antecipadamente.
Fernandpolis, 7 de fevereiro de 2003.
___________________________
Jos Martins Pinto Neto
Doutorando
Ilmo. Senhor
Jos Martins Filho
Diretor Municipal de Sade de Fernandpolis.
Apndice
221
APNDICE B
_______________________________
Jos Martins Pinto Neto
Doutorando
_____________________________________________
Prof Dr Tereza Cristina Scatena Villa
Orientadora
Apndice
222
APNDICE C
Prezado(a) Senhor(a):
Apndice
223
Tambm necessito de que o (a) senhor (a) leia o Termo de Consentimento que lhe
ser apresentado para apreciao. Havendo concordncia, favor assin-lo em duas vias.
Coloco-me sua disposio para qualquer outro esclarecimento que se fizer necessrio.
Agradeo antecipadamente a sua ateno.
Coloco-me a sua disposio para perguntas ou qualquer outro esclarecimento que possa
necessitar pelos endereos e telefones abaixo:
Pesquisador: Jos Martins Pinto Neto
RG: 15.206.371 SSP/SP
Endereo Residencial: Rua Minas Gerais, n. 1339 Centro Fernandpolis SP
Telefones: (17) 3442-2299
Endereo do CADIP: Av. Braslia, n. 753 Vila Regina Fernandpolis SP
Telefone: (17) 3442 -7733
Apndice
224
APNDICE D
Apndice
225
Levando em considerao as informaes e todas as garantias acima
mencionadas,
eu
_________________________________________________
( )
No autorizo ( )
___________________________________
Assinatura do participante
Apndice
226
APNDICE E
FORMULRIO E ROTEIRO DE ENTREVISTA COM
INTRADOMICILIARES DE DOENTES DE HANSENASE
OS
COMUNICANTES
Apndice
227
ANEXO
Anexo
ANEXO A
229