Filosofar Ensinar Filosofar
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Filosofar Ensinar Filosofar
Diretoria 2017-2018
Adriano Correia Silva (UFG)
Antônio Edmilson Paschoal (UFPR)
Suzana de Castro (UFRJ)
Agnaldo Portugal (UNB)
Noéli Ramme (UERJ)
Luiz Felipe Sahd (UFC)
Cintia Vieira da Silva (UFOP)
Monica Layola Stival (UFSCAR)
Jorge Viesenteiner (UFES)
Eder Soares Santos (UEL)
Diretoria 2015-2016
Marcelo Carvalho (UNIFESP)
Adriano N. Brito (UNISINOS)
Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros (USP)
Antônio Carlos dos Santos (UFS)
André da Silva Porto (UFG)
Ernani Pinheiro Chaves (UFPA)
Maria Isabel de Magalhães Papaterra Limongi (UPFR)
Marcelo Pimenta Marques (UFMG)
Edgar da Rocha Marques (UERJ)
Lia Levy (UFRGS)
Produção
Samarone Oliveira
Editor da coleção ANPOF XVII Encontro
Adriano Correia
Diagramação e produção gráfica
Maria Zélia Firmino de Sá
Capa
Philippe Albuquerque
COLEÇÃO ANPOF XVII ENCONTRO
Bibliografia
ISBN : 978-85-88072-46-6
Diretoria da ANPOF
Títulos da Coleção ANPOF XVII Encontro
Ceticismo, Dialética e Filosofia Contemporânea
Deleuze, Desconstrução e Alteridade
Estética
Ética, Política, Religião
Fenomenologia e Hermenêutica
Filosofar e Ensinar a Filosofar
Filosofia Antiga
Filosofia da Linguagem e da Lógica
Filosofia da Natureza, da Ciência, da Tecnologia e da Técnica
Filosofia do Século XVII
Filosofia do Século XVIII
Filosofia Francesa Contemporânea
Filosofia Medieval
Filosofia Política Contemporânea
Hegel e Schopenhauer
Heidegger, Jonas, Levinas
Justiça e Direito
Kant
Marxismo e Teoria Crítica
Nietzsche
Pragmatismo, Filosofia da Mente e Filosofia da Neurociência
Psicanálise e Gênero
Sumário
Apresentação 10
I - Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 12-28, 2017
Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
II - Desenvolvimento
13
Leoni Maria Padilha Henning
1
Washington Vita se refere ao “saber da salvação” como característica primaz desse período e
ponto de partida para a meditação filosófica no Brasil, explicação amplamente divulgada. Ver:
LARA, T. A. Caminhos da Razão no Ocidente, Petrópolis, RJ: Vozes, 1988, p. 145. Também, PAIM,
A. Washington Vita – o Homem e sua Obra. Disponível: http://www.ensayistas.org/filosofos/bra-
sil/vita/introd.htm. Acesso: 14/10/2016.
14
Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
2
Os jesuítas trouxeram da Metrópole meninos órfãos para com eles atrair as crianças indígenas e
seus pais aos grupos de evangelização (SAVIANI, 2008, p. 87).
3
Onde se encontra esse modelo, hoje? Teríamos construído em nossa própria cultura, essa refe-
rência?
4
Exemplificando com Margutti (2013, p. 362-363), temos a justificação sobre a imposição da fé
cristã aos indígenas pelos jesuítas, cujos argumentos se sustentavam na tese de que, para eles,
era preferível a aceitação voluntária da obediência ou ter liberdade ao aceitar a opção da perda
de sua liberdade, em razão da demonstração aos jesuítas de sua confiança reconhecendo a sua
proteção. Essa não era, definitivamente, a “liberdade” do humanitas. Em relação ao africano, a
liberdade se daria pela conversão, uma vez que, mesmo com o sofrimento vivido na terra havia
a certeza da recompensa ‘numa outra vida’. Essa liberdade também era própria ao anthropos e
não ao humanitas.
15
Leoni Maria Padilha Henning
5
Trata-se de problemas que nos mostram a contribuição da disciplina de Sociologia na Educação
Básica.
6
Segundo Margutti (2013, p. 362), os pensadores coloniais se preocuparam com a conversão dos
índios e a “justificação” da escravatura, principalmente – “problemas vividos na época”.
7
oliticas repressivas da Metrópole.
8 Criada por Marques de Pombal pelo Alvará de 5 Abril de 1768, tinha por objetivo transferir plena-
mente ao Estado a fiscalização das obras produzidas por intelectuais inovadores e revolucionários.
Tendo como primeiro presidente do Tribunal, o Cardeal da Cunha, arcebispo de Évora, nomeado
em 1768 e inquisidor-geral em 1770, tinha como responsabilidades: exame, aprovação ou re-
provação de livros e papéis em circulação; concessão de licenças de comercialização, impressão,
reimpressão e encadernação de livros e outros; autorizações para posse e leitura de livros tidos
como proibidos; reforma e manutenção atualizada do Índice Expurgatório dos livros. Segundo as
atividades realizadas, das obras levantadas em 1770 foram proibidas parte considerável de tudo
o que a Europa Ocidental tinha produzido no século, radicalizando as ações condenatórias para a
queima das obras em fogueiras públicas. Por impiedade e depravação foram destruídos ao fogo em
1770, na Praça do Comércio, por exemplo, as obras: Analyse (de P. Bayle); Dictionaire Philosophi-
que (Voltaire); Oeuvres Philosophiques (La Mettrie), dentre outros. Além desses, livros de Hobbes,
Espinosa e Rousseau também serviram a Pombal para esse fim.
16
Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
9
Elitismo e o analfabetismo impregnado (ou quase naturalizado) na cultura educacional da épo-
ca; a falta de um efetivo sistema educacional; a frágil e insipiente escola pública, etc.
10
Margutti (2013, p. 359) oferece como referências de uma avaliação negativa da filosofia brasilei-
ra: Silvio Romero, Cruz Costa, Leonel Franca e Wilson Martins.
17
Leoni Maria Padilha Henning
11
Trata-se do conjunto de regras, leis e normas que as metrópoles impunham às suas colônias
fazendo com que estas só comprassem e vendessem produtos exclusivamente de sua metrópole.
Tal estratégia altamente lucrativa desse tipo de comércio era sustentada pelas matérias-primas
“baratas” provenientes das colônias e pelas vendas dos produtos manufaturados do Reino a pre-
ços elevados aos territórios subordinados. Esse tipo de regulamentação foi comum entre os sé-
culos XVI a XVIII, estando o Brasil e as colônias americanas submetidas a esse modelo, o que gerou
muitas revoltas que marcaram a história desses países. As metrópoles proibiam o comércio de
suas colônias com outros países, criavam impostos altos para inviabilizar qualquer negociação
fora do eixo estabelecido. No caso Portugal-Brasil foi proibido manufaturas em solo brasileiro,
por longa data, ficando o Brasil totalmente dependente dos produtos portugueses. Com a vin-
da da família real portuguesa ao Brasil em 1808, D. João VI promoveu a abertura dos portos
às nações amigas (Reino Unido), possibilitando, consequentemente, interações dos brasileiros
com outros povos, o que imprimiu ao período um maior grau de desenvolvimento econômico e
cultural.
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Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
Fica para trás a escola imperial das primeiras letras, sendo neces-
sária a promoção de um projeto político republicano de reforma social de
cujo bojo salta a escola moderna dos próximos anos, redentora da socie-
dade, pautada no desenvolvimento das ciências e no modelo das nações
progressistas. É preciso uma Educação combatente da ignorância pela
12
Críticas à Filosofia gestada e desenvolvida no Brasil, particularmente quanto à sua originalida-
de, eram assuntos frequentes entre os intelectuais. Em 1930, Alcides Bezerra afirma que “Os
nossos filósofos da época colonial [...] nada trouxeram de novo [limitando-se] a repetir especu-
lações do seu tempo [...] (apud LARA, 1988, p. 146, acréscimos nossos). A visão de Cruz Costa
em relação a Tobias Barreto, por exemplo, embora destacando as suas apreciadas qualidades,
apontava-o como um filosofante admirado com a Europa, especialmente, a Alemanha – e por
aí vai. Temos que considerar que a nossa filosofia primeiramente esteve estreitamente ligada
à produção intelectual dos seminários eclesiásticos, migrando para as faculdades de direito e
medicina, principalmente, a partir da Independência, e só mais tarde, já no século XX, é que
surgiram as faculdades de Filosofia para depois encontrarmos os cursos de Filosofia no interior
das Universidades. Vale destacar que, apesar das informações desencontradas sobre o assunto,
aponta-se como sendo, de fato, a primeira Universidade fundada no Brasil, a Universidade do
Rio de Janeiro, em 1920, posteriormente, transformada em Universidade do Brasil e, a partir de
1965 em Universidade Federal do Rio de Janeiro – em acordo com as novas politicas educacio-
nais que se sucederam.
13
Representantes da oligarquia “modernizadora” e principais instaladores da República.
19
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Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
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Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
14
Aculturação pela teologia cristã versus resistência fraca do dominado; ensino humanista cristã
versus ensino humanista leigo; ensino erudito, clássico e elitista versus ensino científico; educa-
ção clássica preparatória para o ensino superior versus ensino técnico popular; ensino público
versus ensino privado (com o tema correlato: liberdade de ensino!); centralização versus des-
centralização; Conselho Federal de Educação versus Conselhos Estaduais de Educação; poder
do Estado versus poder das famílias; Estado liberal versus Estado católico; tendências conser-
vadoras versus tendências progressistas; disciplinas obrigatórias versus disciplinas optativas e
complementares, dentre outros.
23
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Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
25
Leoni Maria Padilha Henning
26
Relações conflituosas entre a Filosofia e Educação no Brasil:
implicações ao “Ensino de Filosofia”
27
Leoni Maria Padilha Henning
Referências
28
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 29
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 29-48, 2017
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
3
GHEDIN, “A problemática da filosofia no Ensino Médio”, 2002; SOUZA; CIRINO, “Formação do-
cente e pesquisa: uma relação necessária?”, 2012.
4
CARVALHO; SANTOS, “O ensino de filosofia no Brasil”, p. 14.
5
ALVES, “A Filosofia como matéria de ensino: história e questões metodológicas, p. 183
30
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
6
BRASIL, Lei n. 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB, 1996.
7
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio, 1999.
8
SALLES; BIRCHAL; PASCHOAL, “Filosofia”, p. 377.
9
RODRIGO, “Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio”, p. XI
31
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
10
BRASIL, Lei n. 11.684, 2008.
11
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais + para o Ensino Médio – PCN+EM, 2006.
12
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio, 1999.
13
BRASIL. Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – OCNEM, 2006.
14
BRASIL, Lei n. 11.684, 2008.
15
BRASIL, Parecer CNE/CP 9/2001, p. 1.
32
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
16
BRAIL, Resolução CNE/CP 1, 2002; Resolução CNE/CP 2, 2002.
17
BRAIL, Resolução CNE/CP 1, p. 5-6.
18
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em
Nível Superior – DCNEB, 2002.
33
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
19
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em
Nível Superior – DCNEB, 2002.
20
ARROYO, “Ciclos de desenvolvimento humano e formação de educadores”, p. 151.
21
ARROYO, “Ciclos de desenvolvimento humano e formação de educadores”, p. 151.
34
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
22
BRASIL, Resolução n. 2, de 1º de Julho de 2015.
23
BRASIL, Parecer CNE/CP n. 2/2015.
24
BRASIL, Parecer CNE/CP n. 28/2001.
25
BRASIL, Parecer CNE/CES n. 15/2005.
35
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
26
BRASIL, Resolução Nº 2, de 1º de Julho de 2015.
27
GONTIJO, “Formação inicial de professores de filosofia: mapeando um campo de investigação”,
2015.
36
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
28
BRASIL, Parecer CNE/CP n. 9/2001.
29
BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais, 2002.
30
BRASIL, Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002.
31
BRASIL, Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002.
37
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
32
RIBEIRO, “Diferentes espaços/tempos da organização curricular”, 2004.
33
FAZENDA, Didática e interdisciplinaridade, 1998.
38
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
derá aprender e ser ampliada nessa relação com outras áreas. Nessa ótica,
percebemos nas elaborações para a Prática como Componente Curricu-
lar que fomos construindo, alguns avanços e recuos, que se evidenciam
nas atitudes coletivas do grupo, tais como: manifestações de um desejo e
esforço real na busca pela construção de um perfil interdisciplinar, bem
como resistências no sentido de assumir o espaço da Prática como Com-
ponente Curricular que atravessa todo o curso.
Esses aspectos de avanços e recuos podem ser verificados em regis-
tros de avaliações realizadas com os/as discentes e elaboração de relató-
rios a cada final de semestre; diversos ensaios, em vista de, ao mesmo tem-
po, atender à legislação e vivenciar experiências com os/os estudantes que
fossem significativas para a atuação docente em filosofia; realização de dois
Ciclos de Estudos Curriculares, envolvendo docentes de várias Instituições
de Ensino Superior – IES, do Nordeste, em 2011 e 2013, respectivamente.
A necessidade de dialogar com outras realidades, concretizada
parcialmente nos Ciclos de Estudos, nos fizeram abordar, no II Ciclo, em
2013, especificamente, o tema da Prática como Componente Curricular.
Tais encontros ampliaram nossa percepção da diversidade de propostas
da Prática como Componente Curricular existentes nos cursos de filosofia
da região34, bem como nos fortaleceram no sentido de que a nossa pro-
posta também era pertinente e possível de ser aperfeiçoada. Igualmente,
enfrentamos resistências quanto à ausência e/ou dificuldades de arti-
culação entre os/as docentes; atividades mais voltadas para um viés da
formação do/a bacharel, em detrimento de práticas que, como preceitu-
am as DCN35, encontrem sentido e possam ser desenvolvidas em sintonia
com a escola de Educação Básica, no nosso caso, a disciplina de filosofia
no ensino médio, ou seja, raras de nossas atividades levavam o/a discente
a uma relação direta com a realidade da escola de ensino médio.
34
Especificamente para esse II Ciclo de Estudos Curriculares contamos com a presença da Profes-
sora Aryana Lima Costa, Professora do Departamento de História da UERN, autora do trabalho
Formação de profissionais de história e a prática como componente curricular (Anais Eletrônicos
do IX Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História 18, 19 e 20 de abril de 2011–
Florianópolis/SC); os professores Prof. Dr. Flávio José de Carvalho (UFGC/Campina Grande) e
Prof. Dr. Valmir Pereira (UEPB/Campina Grande) e professores e alunos egressos do Curso de
Filosofia/UERN/Caicó.
35
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em
Nível Superior – DCNEB, 2002.
39
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
36
BRASIL, Parecer CNE/CEB n. 7/2010.
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Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
37
KOHAN, Infância, estrangeiridade e ignorância, p. 21.
41
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
no sentido abordado por Jay38 quando busca encontrar nas várias línguas
a etimologia da palavra experiência e a vincula, especialmente, ao sentido
de perigo, de passagem, de travessia, como algo não previsto e inacabado,
mas que acontece ao sujeito, ou ainda como abordada por Larrosa39 quan-
do diz que a experiência é algo da ordem do acontecimento, é quando algo
que toca a cada um/a e que requer e implica uma interrupção, no sentido
de parar para sentir e pensar a experiência acontecida.
Mediante o estudo e compreensão desses conceitos, aqui breve-
mente mencionados, a Oficina de Atividades Filosóficas VI, teve por eixo
norteador, as competências e habilidades e no alinhamento dos objetivos
pré-estabelecidos de que nessa etapa o espaço da prática traria articula-
ções e contribuições para o ensino, foram vivenciadas, inicialmente pela
proposição desse componente curricular, cinco oficinas abordando os se-
guintes temas: “Zarastruza e a vontade de viver”, com inspiração no texto,
O canto do baile, de Nietzsche40; “Exercícios para tornar o mundo estra-
nho”, com base no texto com mesmo nome de Wozniak41; “Pensar com
Sócrates” e “Pensar com Heráclito”, ambas com inspiração nas obras de
Kohan42; ainda, a oficina “Ouvir e escutar”, tendo como fundamento o li-
vro ilustrado de Brenman; Moriconi43. Cada tema trazia estratégias meto-
dológicas diversas e visavam contribuir para que os/as discentes encon-
trassem inspiração para elaborar suas próprias oficinas para atuação no
ensino médio, vindo a acontecer em seguida oficinas planejadas pelos/as
alunos/as, abordando temas variados, tais como: “Ideologia, alienação e
consumo”; “Os contrários”; “Vida”; “Liberdade”.
Nessa experiência foi possível perceber, a partir da avaliação final
dos/as alunos/as, que a Prática como Componente Curricular proporcio-
nou intensas atividades de interação, de produção e descobertas de pos-
sibilidades de uso real de materiais possíveis de serem adaptados para o
espaço da filosofia no nível médio, tais como: músicas, poesias, vídeos,
material produzido por propagandas comerciais, etc. Contudo, ficou evi-
dente o desejo de que essas experiências não se limitassem às vivências
38
JAY, Cantos de experiência, p. 25- 59.
39
LARROSA, Tremores: escritos sobre experiência, 2014.
40
apud SUMIACHER D’ ANGELO; ENRÍQUEZ OLVERA, “Juego filosófico”, 2014.
41
WOZNIAK, “Exercícios para tornar o mundo estranho”, 2012.
42
KOHAN; VIGNA, Pensar com Sócrates, 2012; KOHAN, Pensar com Heráclito, 2013.
43
BRENMAN; MORICONI, Teléfono descompuesto, 2013.
42
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
3 Considerações finais
44
SILVA; TOMAZETTI, “A emergência da obrigatoriedade do ensino de filosofia nos jogos casuais
de dominação”, 2011.
45
BRASIL, Resolução n. 2, de 1º de julho de 2015.
43
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
Referências
ALVES, Dalton José. A Filosofia como matéria de ensino: história e questões me-
todológicas. Publ. UEPG Humanit. Sci., Appl. Soc. Sci., Linguist., Lett. Arts, Ponta
Grossa, 17 (2): 177-187, dez. 2009. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.
br/index.php/sociais/article/viewFile/2884/2169>. Visitado em 12/09/2016.
46
FREIRE, Pedagogia do oprimido, p. 108 (grifo do autor).
47
ENRICIONE, Ser professor, 2002.
44
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
45
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
CARVALHO, Marcelo; SANTOS, Marli dos. O ensino de filosofia no Brasil. In: COR-
NELLI, Gabriele; CARVALHO, Marcelo; DANELON, Márcio. (Coord.). Filosofia:
ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação básica,
2010. p. 13-44. (Coleção Explorando o Ensino; v. 14).
ENRICIONE, Delcia. (org.). Ser professor. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
46
Prática como componente curricular:
trilhando perspectivas e desafios formativos
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 54. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro. Paz e
Terra. 2013.
KOHAN, Walter Omar; VIGNA, Elvira. Pensar com Sócrates. Rio de Janeiro. Lam-
parina: 2012.
KOHAN, Walter Omar. Pensar com Heráclito. Rio de Janeiro. Lamparina: 2013.
RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino
médio. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. (Coleção Formação de Profes-
sores).
47
Maria Reilta Dantas Cirino; José Teixeira Neto
SOUZA, José Francisco das Chagas; CIRINO, Maria Reilta Dantas. Formação do-
cente e pesquisa: uma relação necessária? In: MORAES, Dax, et al. Filosofia, Edu-
cação e Saúde: interfaces. Edições UERN: Mossoró, 2012. p. 282 – 309.
WOZNIAK, Jason. Exercícios para tornar o mundo estranho. In: KOHAN, Walter
Omar; OLARIETA, Beatriz Fabiana. (Orgs.). A escola pública aposta no pensamen-
to. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p.119 – 140.
48
Educação filosófica como resistência:
considerações iniciais sobre a pedagogia
da imaginação como contraconduta
Flávio Carvalho
(UFCG)
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 49
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 49-62, 2017
Flávio Carvalho
50
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
51
Flávio Carvalho
1
BACHELARD, A poética do espaço, p. 18.
52
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
dos de ser para o pensar, o falar e o agir dos seres humanos. Eis o caráter
transgressor da imaginação.
Entretanto, antes de abordarmos o elemento de transgressão ine-
rente à atividade imaginativa, com o qual construiremos o elo com a con-
traconduta, convém retornar ao discurso bachelardiano para ir ao encon-
tro de outro conceito extremamente importante para a compreensão da
imaginação e seus desdobramentos na realidade e na vida, ir ao encon-
tro dos conceitos de surrealidade e de surracionalidade. Como tivemos a
oportunidade de discutir e esclarecer em outro texto nosso2,
2
CARVALHO, Cinema e filosofia: por um pensar cinematográfico, p. 209.
53
Flávio Carvalho
3
Em Diferença e Repetição, Deleuze reconhece a transgressão no movimento de repetição, que
se trata mutatis mutandis do movimento de criação. A nosso ver, construir esta relação não se
trata de abuso interpretativo, se podemos ler em alguns momentos desta obra trechos como o
que se segue: “Se a repetição existe, ela exprime, ao mesmo tempo, uma singularidade contra o
geral, uma universalidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência. Sob todos
os aspectos, a repetição é a transgressão. Ela põe a lei em questão, denuncia seu caráter nominal
ou geral em benefício de uma realidade mais profunda e mais artística”. (DELEUZE, Diferença e
Repetição, p. 44.).
4
FOUCAULT, Segurança, Território, População, p. 264-266.
54
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
55
Flávio Carvalho
56
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
57
Flávio Carvalho
58
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
59
Flávio Carvalho
60
Educação filosófica como resistência: considerações
iniciais sobre a pedagogia da imaginação como contraconduta
5
Esta numeração se fez a partir da situação do curso de Filosofia da Universidade Federal de
Campina Grande, que se desenvolve em nove períodos letivos. Este componente curricular ocu-
pa todos os semestres letivos devido o fato que desde as primeiras relações com o saber filosó-
fico o licenciado deve construir a compreensão que somente se ensina filosofia filosofando em
sala de aula.
6
“Por síndrome da paternidade filosófica entendemos certa compreensão sobre o processo de
construção do saber filosófico que vincula a formulação de qualquer ideia, discurso ou ação a
um filósofo ou corrente filosófica. Como síndrome, a qual comporta uma diversidade de sinais,
ela manifesta determinados traços e exige certos modos de se conduzir e agir, a saber; exige-se
que o estudioso da Filosofia esteja amparado por numeroso cômputo de referências, orienta-se
que sua produção discursiva se construa com o explícito amparo de citações de autores consa-
grados (que funcionam como argumentos de autoridade); a síndrome da paternidade filosófica
condiciona o indivíduo a reconhecer-se incapaz de pensar para além do legado da tradição filo-
sófica, assumindo-se indigno de se autodenominar de filósofo, ainda que tenha o título acadêmi-
co de licenciado ou bacharel em Filosofia.” (CARVALHO, 2015, p. 49)
7
DELEUZE, GUATTARI, 2010, p. 101.
61
Flávio Carvalho
Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O que é a filosofia?, trad. Bento Prado Júnior e
Alberto Alonso Muñoz, São Paulo: Editora 34, 3. ed., 2010.
62
O vivido e o narrado na experiência
do filosofar
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 63
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 63-79, 2017
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
64
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
seletivos para o ensino superior, haja vista esta política da educação im-
plicar o alheamento e o afastamento da reflexão, negando, portanto, a ne-
cessidade de debruçarmo-nos sobre o real perguntando-lhe sobre seu(s)
significado(s), seus sentidos.
A Filosofia e seu ensino – bem como as perguntas que daí emergem
interrogando os sentidos da realidade social – incomodam dado poderem
alertar-nos para a caducidade dos provérbios “Pobreza não é desonra”
ou “Quem não trabalha não come” (BENJAMIN, 1987, p. 22). Mais do que
alertar-nos sobre a extemporaneidade de tais justificativas, é da com-
petência de uma filosofia social – quando esta se exerce como crítica da
sociedade – formar os indivíduos, tornando-os “[...] vigilantes para cada
humilhação que lhes é infligida e mantê-los disciplinados até que seu so-
frimento tenha trilhado não mais a ladeirenta rua da amargura, mas o
caminho ascensional da revolta”. (BENJAMIN, 1987, p. 22).
Nesse cenário (re) encontramos, em meio ao caminho do narrar
nossa(s) experiência(s), as considerações contemporâneas de Nietzsche,
um dos autores que orienta nosso pensar, nossas vivências no ensino da
Filosofia.
A única crítica de uma filosofia que é possível e que, além disso, de-
monstra algo, ou seja, ensaiar se se pode viver segundo ela, nunca
foi ensinada em universidades: mas sempre a crítica de palavras
com palavras. E agora pense-se em uma cabeça juvenil, sem muita
experiência da vida, em que cinquenta sistemas em palavras e cin-
quenta críticas desses sistemas são guardados juntos e misturados
– que aridez, que selvageria, que escárnio, quando se trata de uma
educação para a filosofia! Mas, de fato, todos reconhecem que não
se educa para ela, mas para uma prova de filosofia: cujo resulta-
do, sabidamente e de hábito, é que quem sai dessa prova - ai, dessa
provação! - confessa a si mesmo com um profundo suspiro: ‘Graças
a Deus que não sou filósofo, mas cristão e cidadão do meu Estado!’
E se esse suspiro profundo fosse justamente o propósito do Es-
tado, e a ‘educação para a filosofia’, em vez de conduzir a ela,
servisse somente para afastar da filosofia? (NIETZSCHE, 1999,
p. 300. Grifo nosso).
65
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
[...] estou convidando você a pôr em jogo o seu próprio ouvido lin-
guístico, sua própria sensibilidade ao modo como algumas formas
de escrever e de ler, de falar e de escutar, ampliam a submissão, o
conformismo, a estupidez, a arrogância e a brutalidade.
66
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
1
É bem verdade que nossa questão não se reduz à condição de possibilidade do ensino de Fi-
losofia, em particular, mas, à própria condição de possibilidade da Educação. Consideramos,
entretanto, que as contribuições da Filosofia são, particularmente, significativas no sentido de
propiciarem experiências do pensamento.
2
Foi este o motivo teórico-prático que ensejou o diálogo que buscamos por meio desta escrita a
quatro mãos e que aqui narramos.
67
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
68
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
3
Referimo-nos ao momento histórico em que têm lugar as mutações ocorridas no mundo do trab-
alho, as quais deram origem à nova ordem mundial que, internacionalizando a economia, gestou
a política neoliberal cuja característica básica é intervir maximamente, por meio do aparelho de
um Estado mínimo, na política socioeconômica; assim, o Estado deixa de produzir as condições
de infraestrutura da produção, para as quais se associa com a iniciativa privada ou entrega di-
retamente ao setor privado a sua realização e, de outro lado, amplia os controles de vigilância
e punição ao que pode obstar o bom andamento do sistema. Tal é, por excelência, a função do
Estado na condição de encarregado da garantia dos interesses da classe social interessada nesse
conjunto de modificações.
69
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
4
“Em filosofia, por outro lado, a refutação de uma escola por outra implica, geralmente, sua re-
cusa total, o negar como radicalmente falsas suas teorias fundamentais. Esta atitude, claro está,
não é contrapartida por todas as escolas. Uma filosofia dialética, por exemplo, que seja fiel a seus
princípios, tenderá a conservar a verdade relativa dos diferentes pontos de vista e a integrá-los à
sua própria teoria, mais abrangente. Outras correntes, como o positivismo moderno, são menos
elásticas e, simplesmente, excluem do campo do conhecimento grande parte da literatura filo-
sófica e, em especial, os grandes temas do passado. Em síntese, podemos considerar como fato
demonstrado que quem utiliza a expressão ‘filosofia’ compartilha com seu público muito pouco
mais do que uma ideia vaga”. (HORKHEIMER, 2016. Tradução livre).
70
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
71
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
5
Referência à epígrafe do capítulo: “Isso é só o que hoje podemos te dizer: o que não somos, o que
não queremos”. Eugenio Montale. (LARROSA, 2014c, p. 73).
72
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
73
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
74
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
75
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
Fala: “Bom, o meu acho que vai ao encontro do que as pessoas já fa-
laram. É um homem e dentro da cabeça dele tem um universo. Então
ao mesmo tempo em que ele se situa no universo a cabeça dele é
um universo. Da mesma forma que a gente não conhece o universo
a gente não conhece o nosso universo. E o olhar dele, ele sempre vai
de acordo com um..., aqui no caso foi um planeta que influenciou um
olhar dele. Então a cada momento a gente tem um ângulo de visão
para alguma coisa e também não só nós mesmos a cada dia, mas exis-
tem também as especialidades, os filósofos, cientistas, as diferentes
lentes, como se fossem diferentes lentes para você enxergar o univer-
so. Então são várias lentes. E aqui na verdade era um poeminha, um
versinho, que eu já havia feito há algum tempo atrás e eu me lembrei
dele. Eu vou ler. ‘Tanto se fala de muito/ Pouco se fixa de tudo/ A
maior parte de tudo/ parece se esvair/ na atmosfera do outro’”.
Pois bem. Aqui de fato escutamos as vozes dos que falam e não ne-
cessariamente as que queremos ou as que não queremos ouvir... Podemos
saber onde é o centro do texto, mas também queremos saber onde é o
centro (e o sempre, aquelas questões que nos tocam insistentemente algo
de dentro) do texto para cada um... E há um momento em que todos falam
do seu centro e alguma coisa acontece entre nós.
Desaceleramos o compasso. Buscamos palavras que repousem em
imagens que signifiquem. Por isso, criamos imagens a partir de palavras
e, somente depois das imagens, criamos palavras. Mudamos a relação
com a forma expressiva, acrescentando mais uma (o desenho, a imagem
como escrita do pensamento) para mudar nossa relação com a leitura
e, por conseguinte, com a leitura de um texto filosófico. Transformamos
palavra em imagem para fazer das palavras uma experiência. Transfor-
mamos palavras em imagens para criarmos imagens das palavras que só
poderiam ser criação porque se tornaram antes, dentro de nós, experiên-
cia que escuta a palavra do outro e fala sua própria palavra, tornando-se
narrativa de nossa própria vida e dando vida à nossa narração. Fizemos
com que uma leitura do outro fosse também, e a um só tempo, leitura e
escrita de nós mesmos.
Nessa experiência, palavras e imagens, separadas ou combinadas,
narravam-se para nós e fizeram de nós suas próprias narrativas. Rompe-
mos com uma forma e com um conteúdo, com um jeito de entrar no texto
e com um jeito de o texto entrar em nós, criamos uma língua com sujeito
e um sujeito com língua.
76
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
5. Aproximações
77
Paula Ramos de Oliveira; Rosi Giordano
Referências
ADORNO, Th. W. O ensaio como forma. Tradução de Jorge de Almeida. In: ___. No-
tas de Literatura I. São Paulo: Duas Cidades, 2003, pp. 15-45.
BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Fi-
lho e José Carlos Martins Barbosa. In: BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. 2ª
ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. (Obras escolhidas, v. 2), pp. 9-69.
78
O vivido e o narrado na experiência do filosofar
7UMNKs5haxprGi%2BtYXWLEeD5bpoSewgmlGoaEXw1dTDDs8eYorZDQ3KF1
L7nHzUvQ%3D%3D>. Acesso em: 12 Out 2016.
LARROSA, J. Uma língua para a conversação. Tradução Cristina Antunes. In: ___.
Tremores: escritos sobre experiência. Tradução C. Antunes e J. W. Geraldi. Belo
Horizonte: Autêntica, 2014b, pp. 57-72.
LARROSA, Jorge. Estudar. Tradução Tomas Tadeu e Sandra Corazza. Belo Hori-
zonte: Autêntica, 2003. Edição Bilíngue.
79
A filosofia no chão da escola
Introdução
1
Para a análise documental não foram utilizados os marcos legais que regulam o ensino de Filoso-
fia no Brasil, isto é, leis, normas, resoluções etc., mas, tão somente os textos oficiais do MEC que
visam nortear e subsidiar a prática docente, a saber, os parâmetros e orientações curriculares. O
segundo grupo de documentos é composto por artigos, teses e dissertações apresentadas entre
os anos de 1997 (ano seguinte à promulgação da LDB 1996) e 2013, ano em que a pesquisa
documental se encerrara.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 80-90, 2017
A filosofia no chão da escola
81
Valter Ferreira Rodrigues; Marcela Ferreira Lopes
82
A filosofia no chão da escola
dagógicas que, como toda opção desse tipo, precisa estar fundamentada
sobre bases teóricas bem definidas e consistentes, capazes de fornecer o
arcabouço teórico-sistemático necessário para o desenvolvimento e apli-
cação de estratégias didático-metodológicas adequadas para os proces-
sos de ensino e aprendizagem em Filosofia. Por entendermos que um en-
sino filosófico ou filosofante da Filosofia depende de ações pedagógicas
e de processos de ensino e aprendizagem com alto potencial filosófico,
parece razoável supor que a escolha de determinadas Filosofias e teorias
pedagógicas “dialogantes2” é fundamental para o sucesso dos processos
de ensino e aprendizagem envolvidos, com vistas à experiência do filoso-
far por parte dos nossos estudantes. A escola pode e, segundo pensamos,
deveria ser um lugar privilegiado para o despertar filosófico. Porém, é
preciso reconhecer que esse despertar não resulta de uma prática edu-
cativa espontânea, inconsciente ou inconsistente, mas antes exige ações
pedagógicas adequadas e eficientes. Há sempre o risco de um “amadoris-
mo pedagógico” ou de uma reprodução travestida do ensino da Filosofia
ofertado no ensino superior para o nível médio.
2
Chamamos provisoriamente de “dialogantes” as teorias pedagógicas que se aproximam de de-
terminada filosofia ou escola filosófica, seja derivando desta, numa espécie de “versão” pedagó-
gica, seja como uma teoria pedagógica que se aproximam em suas bases teóricas ou repercussão
no campo das ações práticas que propõem (práxis).
83
Valter Ferreira Rodrigues; Marcela Ferreira Lopes
3
O potencial filosófico de uma ação pedagógica consiste na capacidade de determinada prática
escolar levar os sujeitos nela envolvidos a fazerem uma autêntica experiência do filosofar (RO-
DRIGUES, 2012).
84
A filosofia no chão da escola
85
Valter Ferreira Rodrigues; Marcela Ferreira Lopes
‘grande educação’, para uma ‘educação maior’”. Uma educação que mui-
tas vezes destoa da verdadeira realidade que as escolas estão inseridas.
A Filosofia assim surge como algo imposto, vindo de fora, cabendo tão
somente o cumprimento de normas, leis oficiais. Nesse sentido, parece
ser que a Filosofia não surge e nem atende aos anseios e necessidades
da comunidade escolar. A fim de cumprir o seu papel, a escola oferece
ao professor de Filosofia todo recurso disponível para o cumprimento do
currículo oficial e este, por sua vez, se adequa à legislação submetendo
sua prática e ensino às regras e interditos como qualquer profissional da
educação deveria fazê-lo.
Acerca da opinião dos alunos sobre o ensino de Filosofia, para gran-
de parte a Filosofia auxilia na capacidade de reflexão e de fazer questio-
namentos. A maioria também indicou entre as maiores dificuldades a in-
terpretação dos textos filosóficos apresentados pelos professores. Para
o alunado em geral, as aulas de Filosofia deveriam ser mais dinâmicas,
embora nem todas as escolas dispõem de outros recursos didáticos, além
do quadro e das raras fotocópias disponibilizadas pelos professores.
Entre os docentes notam-se recorrentes desafios como o desinte-
resse dos estudantes, mas, sobretudo, a exígua carga horária estabelecida
para a disciplina. Uma única aula semanal de Filosofia não proporciona
uma sequência satisfatória de ideias e muito menos oportunidade de
explorar e fixar os conteúdos através de leituras em sala. É importante
reconhecer que ainda não foi superado o problema do tempo da aula de
Filosofia.
No que se refere aos recursos didáticos-pedagógicos as escolas Es-
taduais são as que menos dispõem de recursos. Porém, se observa que
mesmo com poucos recursos, professores propõem através de determina-
dos temas o exercício do filosofar. Nas escolas privadas e na escola federal
percebe-se a utilização de recursos didático-pedagógicos diversificados,
que durante a observação auxiliaram os discentes nos questionamentos e
na participação das aulas fazendo com que ocorresse a partilha de ideias
entre professor e alunos. Nas poucas experiências de sucesso observadas
e registradas o desempenho do professor foi fundamental, atrelado ao
uso diversificado e bem planejado dos recursos disponíveis, bem como a
construção de temas inseridos na realidade dos discentes.
86
A filosofia no chão da escola
87
Valter Ferreira Rodrigues; Marcela Ferreira Lopes
88
A filosofia no chão da escola
Referências
GALLO, Sílvio. Metodologia do ensino de Filosofia: uma didática para o ensino mé-
dio. Campinas, SP: Papirus, 2012.
89
Valter Ferreira Rodrigues; Marcela Ferreira Lopes
90
A tradução do conceito: a política do ensino
de Filosofia Africana
Introdução
1
AGAMBEN, “Do amigo”, p. 90.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 91
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 91-105, 2017
Luís Thiago Freire Dantas
2
RAMOSE, “Globalização e Ubuntu”, p. 10.
3
ARANTES, “Um departamento francês ultramar”, p. 72.
92
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
A tradução do conceito
4
DELEUZE; GUATTARI, O que é a filosofia?, p. 11.
5
DELEUZE; GUATTARI, O que é a filosofia?, p. 11.
93
Luís Thiago Freire Dantas
6
VIVEIROS DE CASTRO, “Nativo relativo”, p. 129.
7
VIVEIROS DE CASTRO, Metafísica Canibais, p. 65, grifos do autor.
8
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 65.
9
Essa anedota particularmente importante nos estudos antropológicos, para Lévi-Strauss, ilus-
tra bem o que seria “o paradoxo do relativismo cultural”: “quanto mais se busca estabelecer
discriminações entre as culturas, maior a proximidade em relação àquelas que se pretende re-
cusar. Negar humanidade aos seus representantes aparentemente mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’
significa adotar uma das suas atitudes mais típicas. Bárbaro é, antes de tudo, o homem que crê
na barbárie” (LEVI-STRAUSS, 2013, p. 364).
94
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
10
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 66.
11
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 67.
12
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 69, grifo do autor.
13
Deleuze e Guattari utilizam tal conceito do estudo de Émile Bréhier sobre os estóicos no livro A
teoria dos incorporais no estoicismo antigo.
14
DELEUZE; GUATTARI, 2013, p. 29.
15
DELEUZE; GUATTARI, 2013, p. 28.
16
DELEUZE; GUATTARI, 2013, p. 30.
95
Luís Thiago Freire Dantas
17
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 68.
18
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 67.
19
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 67.
20
VIVEIROS DE CASTRO, 2015, p. 67.
21
DELEUZE; GUATTARI, 2013, p. 24.
96
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
22
DELEUZE; GUATTARI, 2013, p. 25.
23
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 509.
24
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 508.
97
Luís Thiago Freire Dantas
cional. Por outro lado, o “indígena” quando é-lhe imposto outro modelo
de raciocínio não ocorre uma exclusão, mas uma inclusão de maneira que
atua de forma “polirracional”:
25
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 510.
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 513.
26
27 Em Sur la philosophie africaine, Houtondji assim define: “Etnofilosofia é uma filosofia que leva
erroneamente para uma metafilosofia, uma filosofia que em vez de fornecer suas próprias justi-
ficativas racionais leva preguiçosamente refúgio atrás da tradição da oralidade e projetos nesta
tradição suas próprias teses, suas próprias crenças “(HOUTONDJI, 2013, p. 65-66).
98
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
De fato, um olhar para trás agora pode sugerir que, pelo menos
parte da controvérsia sobre etno-filosofia, era acerca de como o
indígena deveria ser representado. De um lado, estava a escola
que parecia equacionar o reaparecimento pós-colonial do indíge-
na isolado da influência estrangeira, especialmente da ocidental;
do outro lado, onde se enquadra uma série de representantes da
atitude anti-etno-filosofia, estava a posição que via o indígena sob
uma luz histórica, desejando que mantivesse o que nele era ins-
trutivo para os tempos modernos, mas dispensando tudo aquilo
que já não constituía ‘o indígena’ para as gerações mais novas em
desenvolvimento30.
28
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 514.
29
MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 514.
30 MASOLO, “Filosofia e conhecimento indígena: uma perspectiva africana”, p. 521.
99
Luís Thiago Freire Dantas
31
NASCIMENTO, Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora, p. 190.
32
LOPES, “Reflexões sobre currículo: as relações entre senso comum, saber popular e saber esco-
lar”, p. 19.
33
ASANTE, “Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar”, p. 103.
100
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
34
VIVEIROS DE CASTRO, Metafísica Canibais, p. 67.
35
ASANTE, “Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar”, p. 103.
101
Luís Thiago Freire Dantas
filosofar [no Egito antigo] não era apenas a especular sobre a vida
e refletir sobre a natureza, mas também de estar envolvido com
amor, desejo intenso e forte entusiasmo na investigação das causas
36
RAMOSE, “Globalização e Ubuntu”, p. 138.
37
RAMOSE, “Globalização e Ubuntu”, p. 139, grifos do autor.
38
OBENGA, “Ancient History of Ancient Philosophy”, p. 33.
102
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
39
OBENGA, “Ancient History of Ancient Philosophy”, p. 34.
40
OBENGA, “Ancient History of Ancient Philosophy”, p. 35.
41
OBENGA, “Ancient History of Ancient Philosophy”, p. 35.
42
PTAH-HOTEP, “Os Ensinamentos de Ptah-Hotep”, p. 247.
103
Luís Thiago Freire Dantas
por condicionar à/ao docente uma posição disciplinar que se justifica por
meio de uma descolonização da transmissão didática convertido ao que
aqui foi destacado como a política da tradução do conceito.
Referências
ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: notas sobre uma posição disciplinar. In:
NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemo-
lógica inovadora. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: Selo Negro,
2009.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é filosofia? Tradução de Bento Prado Jr.
e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Ed. 34, 2013.
LOPES, Alice R. Casimiro. Reflexões sobre currículo: as relações entre senso co-
mum, saber popular e saber escolar. Em Aberto. Brasília, ano 12, n.58. abr./jun.
1993
104
A tradução do conceito: a política do ensino de Filosofia Africana
105
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas
filosofia de Kant e Ramose
Renato Noguera
(UFRRJ)
Dedicado ao filósofo,
mestre querido e orientador,
Bento Prado Jr. (em memória)
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 106-124, 2017
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
107
Renato Noguera
108
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
Figura 1 - Pinóquio3
3
http://reinodafantasia.weebly.com/pinoacutequio.html acessado em 24/09/2016
109
Renato Noguera
Figura 2 – Kiriku
110
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
4
O filósofo Kant foi autor de três críticas. Crítica da razão pura teórica, da razão prática e da
faculdade de julgar expressas respectivamente em três obras.
5
Uma terra em que a semana é composta por seis sextas-feiras e um domingo e no qual os meni-
nos que lá vivem se transformam em burros.
6
A dona raposa e o gato cego são personagens que incentivam Pinóquio a se afastar do caminho
da escola.
111
Renato Noguera
como uma questão central que vai do início ao fim da trama. A história
pode ser descrita mais ou menos assim: era uma vez um casal que sonha-
va em ter um filho. Um carpinteiro e uma Fada. Gepeto (o carpinteiro) faz
o boneco de madeira e a Fada Azul lhe dá a vida. Uma metáfora até sin-
gela do encontro amoroso do casal. Ora, os investimentos da mãe e do pai
no filho Pinóquio são sustentados pela confiança na educação (escolar)
e, neste caso, na verdade. A educação estaria relacionada diretamente à
realização da verdade – enquanto representação da realidade.
A família de Pinóquio credita à educação as condições de possibilida-
de de realização da humanidade. Durante, toda a trama a escola é entendi-
da como a instância privilegiada para realização dessa tarefa da educação.
A esperança na escola pode ser vista num gesto paterno. Gepeto troca o seu
próprio casaco por uma cartilha para o filho, enquanto a mãe insiste em
pedir que o menino não se descuide da verdade. Ela ensina que as mentiras
podem ter pernas curtas; mas, quando se alongam deixam o “nariz cum-
prido”, isto é, são impossíveis de sustentar e acabam por denunciar quem
mente. O nariz cumprido é uma metáfora que informa: a mentira não pode
ficar escondida por muito tempo. O mentiroso se denuncia sempre. Ora,
Kant (2013) insiste que nunca se deve mentir em qualquer circunstância.
Em resposta à Benjamin Constant7, o filósofo alemão diz que mesmo sob o
pretexto de salvar uma vida, não se deve mentir. Afinal, “reconheço que em
verdade posso querer a mentira, mas que não posso querer uma lei univer-
sal de mentir” (KANT, 2007, p. 34). Porque propor uma lei universal que ti-
vesse a mentira como fiadora inviabilizaria qualquer promessa. Para Kant,
só a verdade garantir a universalidade.
Um diálogo entre Pinóquio e o Grilo-Falante diz bastante a respeito
do horizonte interpretativo que sustenta a ficção. O projeto em jogo faz
coro com os propósitos pedagógicos kantianos.
7
Em 1797, Benjamim Constant escreve um artigo contestando sobre o dever de se dizer à verda-
de e/ou o direito de mentir. Dado o célebre exemplo: um assassino bate à sua porta com a inten-
ção de matar seu amigo, abrigado em sua casa. Você deve dizer a verdade quando o assassino
perguntar sobre o paradeiro do seu amigo, abrigado em sua casa, ou deve mentir e dizer que
desconhece o lugar onde está o seu amigo? De acordo com Constant, junto ao conceito de dever
está a noção de direito e onde não existem direitos, também não pode haver deveres. Ou seja,
se o assassino tem a intenção de infringir a lei e matar seu amigo, tirando-lhe a liberdade, você
não tem o dever de dizer a verdade porque o assassino não tem o direito a ela.
112
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
113
Renato Noguera
pode ser conquistada com disciplina rígida, imposta o mais cedo possível.
A coação inicial será transformada em liberdade. Porque a disciplina
retira o ser humano de sua natureza selvática, a selvageria, as inclinações
e a arbitrariedade são corrigidas através de rigorosa implementação da
verdadeira educação, desenvolvendo o que temos de melhor: a razão.
8
Infância na língua zulu, com o sentido de fase em que as crianças habitam.
9
Infância na língua zulu, com o significado de sentido humano ou condição de experiência para
reinventar o mundo.
114
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
115
Renato Noguera
116
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
117
Renato Noguera
118
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
Conclusões parciais
De um lado, a infância entendida como infantia – ausência de lin-
guagem. De outro, a infância é dita no plural: infâncias; recobrindo, ao
menos, duas faces como ubungane e ubuntwana. Se a doutrina kantia-
na propõe e sustenta práticas educativas de superação da infância; a fi-
losofia ubuntu não se ocupa da “verdade”, mas, dos sentidos possíveis
para ressignificação e reinvenção da vida e do mundo. Em linhas gerais,
podemos fazer dois grandes quadros. Um modelo de educação que inclui
coisas como: disciplina, trabalho (dever) de casa, tutela e superação da
infantilidade para a maioridade da razão. No caso da perspectiva Kiriku
encontramos coisas como: brincadeira de casa10, ao invés de educar com
dever, a brincadeira é a tônica que incentiva cada pessoa a mergulhar em
sua infância. O mais importante está em reconhecer interesses, tempos e
habilidades diferentes, tudo isso descortina a possibilidade de que apenas
o reconhecimento da infância (ubuntwana) como sinônimo contingente;
10
Expressão conceitual que se propõe como alternativa ao “trabalho de casa”, assentada na ideia
de que ser-brincante pode criar condições de aprendizagem mais notáveis do que aquelas que
passam pela categoria ser-trabalhador.
119
Renato Noguera
mas, suficiente para ser pessoa através de outras pessoas pode basear as
estratégias educativas.
Para relembrar e enfrentar algumas implicações do “Pinóquio he-
terônimo de Kant” vale a pena insistir na ideia de que o alvo da educação
está em desenvolver a criança e melhorar o futuro, tanto o seu como o da
sociedade. Dito de outro modo, essa compreensão guarda relação com
uma formulação endereçada para crianças que foi muito recorrente no
século XX: “o que você quer ser quando crescer?”. Ora, o pressuposto é
simplório: a criança ainda não é nada; mas, virá a ser, quando crescer. O
que em termos de temporalidade: é uma desqualificação do presente. Vem
embutida uma compreensão de que só o futuro será “verdadeiramente”
perfeito. Walter Benjamin faz uma denúncia interessante em Teses sobre a
filosofia da história (1987), Giorgio Agamben dedica um capítulo do livro
Infância e História: destruição da experiência e origem da história (2008).
Agamben ressalta que parte da concepção de tempo ocidental é devedo-
ra do filósofo Aristóteles. Mas, o tempo moderno precisa ser entendido
como uma laicização do tempo cristão “retilíneo e irreversível, dissocia-
do, porém, de toda ideia de um fim esvaziado de qualquer sentido que não
seja o de um processo estruturado conforme o antes e o depois” (AGAM-
BEN, 2008, p. 117). De onde, conclui-se que o futuro será sempre melhor
do que o presente. Essa “ideia, em si desprovida de qualquer fundamento
racional, de um progresso contínuo e infinito” (Idem, p. 118) é uma regra
do modelo moderno de tempo. Daí, a defesa de um desses três conceitos,
amadurecimento, crescimento ou desenvolvimento. Com efeito, um dos
graves problemas da ideia de superar da infância está nessa projeção do
tempo futuro. O que é bom estaria porvir.
No caso de “Kiriku heterônimo de Ramose” encontramos possibili-
dades diversas, o tempo presente permanece exaltado. Nós estamos mais
próximos de um “envolvimentismo educativo” com táticas de “brincadei-
ras de casa”, usos estruturais da roda como recurso teórico-metodológico.
No princípio, era a roda de Roberto Moura publicado em 2004 tem muito
a ver com isso. As rodas de candomblé, capoeira, jongo, samba, umbanda,
dentre outras, são alguns exemplos de matriz e motriz africanas que aju-
dam a entender um pouco da perspectiva Kiriku. A educação é um exer-
cício que propõe intervir no presente, distante da ideia de um “futuro”
melhor, compromete-se mais com o presente possível. Por isso, a filoso-
120
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Infância e História: destruição da experiência e origem da his-
tória. Tradução Henrique Burico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: In-
trodução à Filosofia. 5ª ed. São Paulo. Moderna, 2013.
121
Renato Noguera
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia: Ensino Médio. Volume único. 2ª ed. São
Paulo: Ática, 2013.
DELEUZE, Gilles. Conversações, 1972 -1990. Tradução Peter Pál Pelbart. Rio de
Janeiro: Editora 34, 1996.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto
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DIOP, Cheikh Anta. Antériorité des civilisations nègres: mythe ou vérité historique?
Paris: Présence Africaine, 1967.
______. Crítica da razão pura. Tradução Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fra-
dique Morujão. 5ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2002.
122
Pinóquio e Kiriku: infância(s) e educação nas filosofia de Kant e Ramose
MOSTAFA, Solange Mustel; CRUZ, Denise Viunisk da Nova. Para ler a filosofia de
Gilles Deleuze e Félix Guattari. Campinas: Alínea, 2009.
OBENGA, Théophile. Ancient Egypt and Black Africa. Chicago, IL: Karnak House, 1992.
Oruka, Henry Odera (1990) Sage Philosophy: Indigenous Thinkers and Modern De-
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______. “Una perspectiva africana sobre la justicia y la raza”. In: Polylog. Foro para
filosofia intercultural. http://them.polylog.org/3/frm-es.htm
FILMOGRAFIA
123
Renato Noguera
124
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
Joana Tolentino
(COLÉGIO PEDRO II)
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 125
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 125-142, 2017
Joana Tolentino
1
SPIVAK, Pode o subalterno falar?, p. 25.
126
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
2
Esse é o discurso que impera nas diretrizes globais para a educação, o a da preparação para o
êxito no mundo do trabalho. Isso está presente nos discursos e políticas da UNESCO, do Banco
Mundial, em avaliações como o PISA (Programme for International Student Assessment), da
OCDE, cuja sigla significa Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, e seu
slogan: “better policies for better lives”.
3
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, p. 263.
127
Joana Tolentino
Por que a boa nova não poderia partir de dentro da sala de aula, de
dentro da própria escola, com classes, projetos, atividades, fazeres eman-
cipatórios de ensinar e aprender? Por que estas propostas, que visam a
“boa nova da emancipação”, não podem surgir no interior do ensinar e do
aprender a filosofar, tão apta nos parece a filosofia aos questionamentos
de suas práticas, finalidades e fundamentos?
Partindo do pressuposto de que no “seio de toda educação se as-
sume constantemente decisões políticas sob a aparência de opções
pedagógicas”5, proponho orientarmos o olhar de nossas escolhas filosófi-
co-pedagógicas para uma conscientização do potencial político que lhes é
inerente. Refiro-me aqui às escolhas, sempre complexas, cujos fundamen-
tos remontam às nossas opções filosóficas e políticas mais intrínsecas, às
questões primordiais às quais devemos periodicamente retornar: o que é
filosofar? O que é ensinar filosofia? O que é ser filósofa/o e professor/a de
filosofia? Mas me refiro também, e principalmente, às decisões simples,
cotidianas, diárias, como, por exemplo, as escolhas de programas, auto-
res, autoras, matrizes filosóficas, fontes, recortes de pesquisas. Por um
lado essa prática pode significar, em sua dimensão mais crítica, “ressaltar
o fato de que questionar o lugar do investigador permanece sendo uma
crença sem sentido em muitas críticas recentes ao sujeito soberano”6. Com
essa afirmação, Spivak estabelece a crítica e os limites da própria capaci-
dade crítica do sujeito ocidental. Numa dimensão mais propositiva, essa
prática de significação consciente de nossas escolhas simples e cotidianas
no ensinar e aprender a filosofar provoca resistências, alterações, ruptu-
ras. Essas mudanças ocorrem não somente no conteúdo daquilo que se
entende por filosofia, como também influencia na forma filosófica, puma
vez que entendemos forma e conteúdo como intrinsecamente ligados. Os
diferentes modos de elaboração e disseminação dos discursos e saberes
filosóficos, o modus operandi do filosofar, reforçando sua dialogicidade
e seu efeito, sempre renovado, de espanto e admiração da, contrários a
qualquer ideal hierarquizado de padronização.
4
CEPPAS, “Antinomias no ensino de filosofia”, p. 13.
5
CERLETTI, Repetición, novedad y sujeto en la educación: un enfoque filosófico y político, p. 22.
6
SPIVAK, Pode o subalterno falar?, p. 23.
128
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
Ainda que saibamos que essa ação só é possível como algo à mar-
gem do ensino tradicional institucionalizado, dos sistemas de ensino em
sua tensão de subserviência e questionamento a um projeto de Estado que
os institui. Ao repensar o modus operandi do filosofar, tal como propomos
aqui, pensamos ser possível abrir pequenas fendas em suas dobras e ru-
gosidades, um tanto aleatórias e assistemáticas, o que não inviabiliza, nem
desqualifica, essa vereda micropolítica. Essa atitude é importante e surge
como fruto de uma decisão tomada após uma interrogação pessoal de cada
professora e professor de filosofia a si mesmo, questionando-se sobre sua
prática, sua profissão e sobre suas escolhas no que se refere ao ensinar que,
em última instância, são o que constituem sua atividade, que é prática e teó-
rica. Para que eu ensino? Por que eu ensino? A valorização dessa dimensão
política do con-viver, que compartilhamos na escola, na universidade, se
parece não ser ação prioritária para o modelo de educação hegemônico da
atualidade, podemos, ainda assim, como atores sociais dessa cena política,
atuar criando fissuras nesse modelo, agindo micropoliticamente. “Assim, a
educação filosófica, desde o microespaço da aula, se constitui em dispo-
sitivo de resistência, habilitador de práticas de liberdade que se despren-
dem nos interstícios do sistema hegemônico e o debilitam”7. Desse modo,
valorizamos as ações nas instâncias localizadas em que atuamos, como
agentes fertilizadores, polinizadores, mas também procurando ao máximo
estabelecer outros pontos de contato e troca, disseminando assim um olhar
descolonizador, emancipatório sobre o conhecimento filosófico, bem como
sobre suas práticas de ensino e pesquisa.
7
BERTTOLINI, “La educación filosófica como dispositivo de resistencia”, p. 510.
129
Joana Tolentino
8
NOGUERA, O ensino de filosofía e a lei 10.639, p. 27-28.
9
DUSSEL, Política da libertação: história mundial e crítica (vol.1), p. 402.
130
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
10
BONILLA, Alcira, “Filosofía y violencia”, p. 1.
11
BEAUVOIR, Simone, O segundo sexo, p. 12.
131
Joana Tolentino
12
KOHAN, Filosofia: o paradoxo de ensinar e aprender, p. 85.
13 CERLETTI, “Filosofia/ Educação: os desafios políticos de uma relação complicada”, p. 17.
132
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
(...) não existe real em si, mas sim configurações daquilo que nos
é dado como o nosso real, como objeto de nossas percepções, dos
14
BERTTOLINI, “La cuestión del interlocutor filosófico como problema en la enseñanza de la filo-
sofía”, p. 77-78.
15
PELLEJERO, “A lição do aluno: uma introdução à obra de Jacques Rancière”, p. 24.
16
Idem, p. 21.
17
KOHAN, Filosofia: o paradoxo de ensinar e aprender, p. 83.
133
Joana Tolentino
18
RANCIÈRE, O espectador emancipado, p. 35.
19
HOOKS, Bell, Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, p. 263-264.
134
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
20
SPIVAK, Pode o subalterno falar?, p. 25.
135
Joana Tolentino
136
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
137
Joana Tolentino
138
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
139
Joana Tolentino
Referências21
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo, trad. Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2009.
___________ “Aprendendo a ser um animal racional (I)”. In: HUSSAK, P.; RIZO, G. Pen-
sando a formação: escritos de filosofía e educação. Rio de Janeiro: EDUR: NAU,
2009(a), p.71-80.
___________ OLIVEIRA, Paula R.; SARDI, Sérgio (orgs.). Ensino de filosofia: formação
e emancipação. Campinas: Editora Alínea, 2009(b).
21 Todas as traduções de livros e artigos cuja referência bibliográfica está em espanhol foi feita
pela própria autora.
140
“Dossiê filósofas” – outras filosofias:
compartilhando vozes filosóficas femininas
___________ Política da libertação: história mundial e crítica (vol.1), trad. Paulo Ce-
sar Carbonari (org.). Passo Fundo: IFIBE, 2014.
KOHAN, Walter Omar (org.). Políticas do ensino de filosofia. Rio de Janeiro: DP&A,
2004(a).
141
Joana Tolentino
142
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo
de ensino
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 143-156, 2017
Thomaz Estrella de Bettencourt
1
O termo é aqui empregado em sentido menos rigoroso e faz referência a todos que se encon-
tram mais ou menos envolvidos na questão da educação.
144
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
2
Cf. KANT. “Que significa orientar-se no pensamento?”, p. 59.
145
Thomaz Estrella de Bettencourt
Autonomia e Emancipação
3
Cf. KANT. Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p. 85.
4
Cf. KANT. “Resposta à pergunta: Que é Esclarecimento?”, pp. 64-65.
5
A ideia da liberdade é fundamental para justificar o livre arbítrio humano. Se houvesse apenas
a causalidade segundo as leis da natureza para reger os acontecimentos no mundo dos sentidos,
todos os fenômenos e, nesta medida, as ações do homem, seriam determinados por uma lei
necessária. Mas, esta lei seria a causalidade da natureza que obriga que todo acontecimento
seja resultado de um estado antecedente, e assim não haveria uma liberdade prática, uma vez
que toda ação já estaria previamente determinada pela sua causa e seria consequência de séria
regressiva infinita de causas. O homem sem a liberdade no sentido transcendental não poderia
ser considerado como capaz, por sua ação, de dar início a um acontecimento e nem mesmo a
uma série deles, e, não teria também nenhuma responsabilidade sobre os seus atos.
6
A distinção kantiana acerca do uso público e do uso privado da razão será abordada na seção
final deste trabalho.
146
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
nos chama atenção para três circunstâncias que impedem o exercício ple-
no da liberdade de pensar. A primeira seria a coação civil:
7
KANT. “Que significa orientar-se no pensamento?”, p. 59.
8
Ibid.
147
Thomaz Estrella de Bettencourt
rem guiadas pela razão, são acatadas por causa do medo de inquirição
pessoal. O terceiro entrave que se opõe à liberdade de pensar é resistên-
cia de seguir a lei que a própria razão dá a si:
A insociável insociabilidade
9
Ibid. pp. 59-60.
148
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
que age encontra o fundamento de sua ação fora de si. Segundo a perspec-
tiva da filosofia prática, a educação tem de contribuir para formar seres
autônomos e qualquer contexto e estrutura que promovam o oposto não
podem ter lugar no processo de ensino.
Do ponto de vista da filosofia teórica, vislumbra-se o mesmo cami-
nho. A revolução copernicana operada por Kant sinaliza a necessidade de
se repensar a dinâmica escolar, pois ratifica o papel ativo do educando
na produção do conhecimento. Tendo em vista que tratamos do ensino
médio ─ etapa propícia ao estímulo das formas abstratas do pensar ─, a
metodologia de ensino não pode fundar-se sobre a mera recepção pas-
siva de conteúdos pelo aluno. O sujeito do conhecimento há de ser ativo
no processo pedagógico, ele tem de pôr em movimento o pensamento e
tem de fazê-lo autonomamente, sob o risco de manter-se, doutro modo,
dependente da tutela do professor.
Observa-se que, em ambos enfoques, a organização e as relações
vigentes no espaço escolar são absolutamente relevantes no que diz res-
peito às condições exigidas para permitir e incentivar a autonomia dos
estudantes. A constatação ratifica a premência de nos debruçarmos sobre
as condições e a dinâmica próprias das instituições de ensino na contem-
poraneidade. Avançar nessa investigação exige, todavia, que se tenha cla-
reza acerca do princípio que rege, de acordo com Kant, as relações entre
homens em geral.
Kant, em Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmo-
polita , indica que as relações entre homens são marcadas por um anta-
10
10
Cf. KANT, Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita.
11
O homem tende a associar-se, pois assim se sente mais como homem, pelo desenvolvimento
de suas disposições naturais, diz Kant, mas também tem uma tendência a se separar, visto que
encontra em si uma qualidade isolável que o leva a fazer tudo em proveito próprio e, consequen-
temente, esperar oposição de todos os lados, como ele está disposto a fazer aos outros. A todo
impulso de socialização é contraposto um impulso de in-socialização.
149
Thomaz Estrella de Bettencourt
O outro
12
DERRIDA, “Questão do estrangeiro: vinda do estrangeiro”, p. 39.
150
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
13
Tentando seguir o fio do pensamento derridiano, Édipo não poderia mesmo reconhecer sua
mãe, pois não a conheceu originalmente, nascera já estrangeiro, sua língua natal nunca fora sua.
Por isso é essencialmente estrangeiro, mas também porque nunca retorna à sua casa, nunca vol-
ta ao seu abrigo ─ Édipo é enterrado longe de seus filhos e em um lugar que eles não conhecem
e nunca saberão encontrar. Por desejo do próprio Édipo, especialmente suas filhas, não poderão
jamais conhecer o caminho para a sua última morada. Esta é a questão do estrangeiro, a mesma
de Antígona filha de Édipo quando ele decide morrer em terra estrangeira, e ela deseja chorar o
luto mas não pode, porque não sabe onde é a tumba de seu pai. Antígona decide se suicidar pois
só assim poderá encontrar a última morada de Édipo, tem assim de aceitar a lei do outro que não
permitiu que soubesse onde fora inumado e tem de ir para terra estrangeira.
151
Thomaz Estrella de Bettencourt
152
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
A hospitalidade
14
DERRIDA, “Questão do estrangeiro: vinda do estrangeiro”, p. 43.
15
KANT, “Resposta à pergunta: Que é ‘Esclarecimento’”, p. 56.
153
Thomaz Estrella de Bettencourt
Mais adiante no texto, Kant dirá que o uso que um “professor em-
pregado16 faz diante de sua comunidade” é um uso privado, pois, nessa
condição, ele profere um juízo que expõe a perspectiva da função e da
instituição que representa. Nessa medida, somente ser-nos-ia facultada
a liberdade de questionar a legitimidade de uma lei ou de uma prática
vigente quando nos manifestássemos no uso público de nossa razão. Isto
é, críticas e propostas de mudança teriam lugar apenas fora da instituição
e direcionadas para o grande público do mundo letrado. O argumento kan-
tiano pressupõe a liberdade do sujeito no uso público de sua razão, mas
limita sua autonomia no uso privado. Por um lado, espera-se que o Estado
garanta essa liberdade, por outro, assevera-se que o homem tem de res-
peitar a lei determinada pela sociedade. As duas premissas, no entanto,
parecem não se coadunar com a nossa realidade.
Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento das técnicas e dos
meios de comunicação proporciona uma ampliação da “sociabilidade pri-
vada” para além do território nacional, o Estado é enfraquecido. O Estado,
em contrapartida, se esforça para alcançar algum tipo de controle, para
vigiar e retomar a autoridade que lhe escapa. A censura, a interceptação
de ligações telefônicas, as escutas, as varreduras em caixas de email, a
análise de extratos de cartão de crédito e a reorganização legislativa para
permitir um maior exercício da autoridade policial são os recursos que o
Estado encontra para manter o controle. Em face dos recentes aconteci-
mentos, podemos acrescentar sob o título da “reorganização legislativa”
a investida explícita para cercear a liberdade do educador e, mesmo, de
retirar-lhe ferramentas essenciais para a promoção do ensino de qualida-
de voltado para construção da cidadania e para a emancipação do aluno.
A pergunta que nos preocupa é se seria possível para o professor
abrir a fronteira da verdadeira hospitalidade ao mesmo tempo em que lhe
é negada a autonomia. Como oferecer a nossa casa, como hospedar, como
ser hospitaleiro quando a nós não é dado o direito de um lar, do estar em-
-casa, dos limites do nosso privado, o que oferecer então? Este problema
está intimamente ligado à questão do estrangeiro, do hóspede, na me-
dida em que evidencia as bases sobre as quais se pretende construir ou
promover a hospitalidade. Por essa linha, ao refletir sobre a realidade do
16
Vale ressaltar que o termo está relacionado com o exercício do sacerdócio, mas pode, por ana-
logia, ser empregado para pensar o papel do professor.
154
A autonomia como princípio de emancipação
Uma perspectiva kantiana acerca do processo de ensino
Referências
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. São Paulo: Editora Martins Fontes,
2003.
______. Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita. São Pau-
lo: Editora Martins Fontes, 2003.
17
Cf. KANT, O conflito das faculdades, pp. 30-34.
155
Thomaz Estrella de Bettencourt
156
Nietzsche leitor de Montaigne:
educação e valores para a vida.
Introdução
Nietzsche, principalmente em seus escritos de juventude, cita mais
de uma vez Montaigne. São grandes laços que ligam esses dois pensadores
que não temos a menor pretensão de esgotá-los, pois à medida que
vamos avançando na pesquisa, encontramos tantos outros que residem
nos detalhes e meandros da filosofia de cada um. Dessa forma, a urdidura
desses laços resulta em uma tapeçaria colorida e com pontos muito bem
trabalhados, sem, no entanto, finalizá-la. Tal tapeçaria se restringirá ao
espaço destinado para esse artigo, mas que poderá ser estendida para
outros momentos, caso a oportunidade se apresente. Em ambos encon-
tramos, antes de tudo, um amor pela vida, o que implica em desenvolver
certos valores que terão por fim, não apenas suportar as suas vicissitu-
des, mas amá-la. Na linguagem do pensador alemão: amor fati. Ora, isto
envolve também um grande aprendizado – a construção de si mesmo. Não
se preocupam com a opinião alheia, para eles, o outro tem um valor se-
cundário. Estão ocupados consigo mesmos – autoconhecimento e crítica.
1
Agradeço ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia – CEFT/MACKENZIE, na pessoa do prof.
Dr. Marcelo Martins Bueno, que oportunizou as condições de possibilidade para a apresentação
deste trabalho.
2
NIETZSCHE, F., “Schopenhauer Educador”, p. 148.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 157-173, 2017
Angela Zamora Cilento
Montaigne não faz uma filosofia que procure mudar o status quo
– seu objetivo primeiro é o de educar um nobre, embora seus princípios
possam ser transpostos para todos os homens na contemporaneidade sem
distinção de classe, mesmo com tantas mudanças ocorridas. O fato é que
Montaigne quer criar um homem munido de fortaleza – coragem ainda
hoje tão necessária para nossos dias atuais, onde é tão fácil esmorecer, ado-
ecer e sucumbir. Se cada homem é fruto do seu tempo, Montaigne também
o é: o que subjaz para a educação dessa criança é a moral cavalheiresca, al-
guém que esteja de corpo e alma preparado para a guerra que pode chegar
a qualquer momento. Por outro lado, Montaigne continua tão atual – não
estaríamos hoje também voltados para uma tática de sobrevivência?
3
Id., Ecce Homo, p. 33 (Porque sou tão sagaz, 3).
158
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
4
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 82.
159
Angela Zamora Cilento
I – Nietzsche e Montaigne
5 Ibid., p. 80.
6
NIETZSCHE, F., Ecce Homo, p. 34 (EH, Porque sou tão sagaz, 4)
160
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
7
Id., Sobre a Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral, p. 78.
8
Id., Genealogia da Moral, p. 43.
161
Angela Zamora Cilento
9
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 87.
10
NIETZSCHE, F. Humano Demasiado Humano, p. 122 (HDH, 176).
11
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 76.
162
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
não menos que saber, duvidar me apraz. Porque se por reflexão pró-
pria abraçar as opiniões de Xenofonte e Platão, elas deixarão de ser
deles e se tornarão suas. Quem segue outrem não segue coisa nenhu-
ma; nem nada encontra, mesmo porque não procura. Não estamos
sob o domínio de um rei; que cada qual governe a si próprio.14
12
Ibid., p. 82.
13
NIETZSCHE, F., Aurora, p. 37 (A, 46).
14
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças, p. 76.
15
NIETZSCHE, F. 2ª Extemporânea, p. 6.
163
Angela Zamora Cilento
Há tantas coisas que poderiam ser extraídas desse texto que po-
deríamos parafraseá-lo sem, no entanto, esgotá-lo devido às múltiplas
reflexões que suscita. Não é por acaso que Nietzsche admira Montaigne.
Selecionamos algumas passagens que ressaltam a sua atualidade. No oi-
tavo parágrafo do Da Educação das Crianças:
16
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 76.
17
Ibid., p. 74.
164
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
165
Angela Zamora Cilento
18
NIETZSCHE, F., Para além de Bem e Mal, p. 176. (PABM, 262)
166
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
não cessam de nos gritar aos ouvidos (...), o que nos querem ensi-
nar, e o nosso trabalho consiste em repetir. Gostaria que ele cor-
rigisse este erro, e desde logo, segundo a inteligência da criança,
começasse a indicar-lhe o caminho, fazendo-lhe provar as coisas, e
as escolher e discernir por si próprio, indicando-lhe por vezes o ca-
minho certo ou lhe permitindo escolher. Não quero que fale sozinho
e sim que deixa também o discípulo falar por seu turno.20
19
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 82.
20
Ibid., p. 75.
167
Angela Zamora Cilento
21
Ibid., p. 87.
22
Ibid., p. 75.
168
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
169
Angela Zamora Cilento
170
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
Considerações finais
Considerando as três partes desse trabalho, podemos inferir que
não há como sabermos como e o quê alguém aprende conosco, enquanto
atuamos na prática docente. Talvez, tenhamos que admitir que, por fim,
cada um é um universo particular, que dança uma música própria que é
o de sua própria vida. O que podemos pretender é, primeiramente, com-
partilhar: saberes, cores, dores e amores desta vida. Dirá Nietzsche: “Que
agradável é que existam palavras e sons: palavras e sons não são por aca-
so, arco-íris e pontes ilusórias estendidas entre o eternamente separado?
A cada alma pertence um mundo distinto; para cada alma, qualquer alma
é um ultramundo.”24
Em segundo, o quê exatamente cada aluno recolhe para si é abso-
lutamente pessoal e intransferível, como já afirmava Montaigne – “cada
um liba as flores e fabrica um mel que lhe é próprio”.25
Certamente, devemos ressaltar que, diferentemente das abelhas e
das formigas – lembrando-nos da oposição que Hobbes faz a Aristóteles
23
GAGNEBIN, Jeanne Marie, “O Método Desviante”.
24
NIETZSCHE, F., Assim Falou Zaratustra, p. 206. (Z, O Convalescente).
25
MONTAIGNE, M., “Da Educação das Crianças”, p. 83 (nota).
171
Angela Zamora Cilento
Referências
172
Nietzsche leitor de Montaigne: educação e valores para a vida.
____________. Humano, Demasiado Humano. São Paulo, Cia das Letras, 2000.
___________. Para Além De Bem E Mal. São Paulo: Cia Das Letras, 1992.
___________. Assim Falava Zaratustra. São Paulo: Cia das Letras, 2011.
173
Entre moscas e viandantes: uma
finalidade do conhecimento para
o espírito criança na praça pública?
Sérgio de Oliveira Santos
(UNESP – Rio Claro)
Introdução
A única espécie de curiosidade que vale a pena ser praticada com
um pouco de obstinação: não aquela que procura assimilar o que
convém conhecer, mas a que
permite separar-se de si mesmo.
Michel Foucault
1
FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas, p. 13.
2
Cumpre destacar que tal teoria não será adensada no presente trabalho, mas que é mais bem de-
limitada noutros a partir, sobretudo, da relação entre o pensamento nietzschiano e spinoziano.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 174-189, 2017
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
como uma “centelha entre duas espadas, mas que não é do mesmo
ferro que as duas espadas”.3
3
FOUCAULT, 1996, pp. 16-17.
4
GIACÓIA JUNIOR, O. Nietzsche, p. 24.
5
FOUCAULT, M. História da sexualidade 2 – o uso dos prazeres, p. 11.
175
Sérgio de Oliveira Santos
Nesse ponto, será que é lícito destacar que cada ser humano é con-
vidado a pensar sobre a função e a finalidade do conhecimento em sua
vida singular? De certo que nosso “barco”, nosso corpo e mente, segue
fortuitamente o espírito do seu tempo (Zeitgeist). O que do nosso tempo
é possível apreender? Pois, tal como expresso no aforismo supra, o barco
tem uma direção, mas não, necessariamente, um piloto.
A nosso ver, são os processos educativos, a experiência de si no co-
nhecimento ou a falta dela, que podem legitimar um piloto para o barco.
O que numa acepção foucaultiana pode ser tomada como uma ontologia
crítica de nós mesmos, uma crítica permanente de nosso ser histórico, uma
atitude experimental feita por meio daquilo que dizemos, pensamos e
6
NIETZSCHE, F. A gaia ciência, p. 262. Aforismo 360.
176
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
7
FOUCAULT, M. O que são as Luzes?, p. 347.
8
Ibidem.
9
FOUCAULT, 1998, pp.11-2.
10
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral, p. 67.
11
Ibidem.
177
Sérgio de Oliveira Santos
Esse tipo de solidão tido como refúgio pode ser mais bem apreen-
dido nos últimos passos da figura do viandante encontrado também no
Zaratustra de Nietzsche:
Desenvolvimento
12
NIETZSCHE, F., Assim falava Zaratustra – um livro para todos e para ninguém, p. 77.
13
Idem, pp. 205-6.
178
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
Por sua vez, alguns críticos apontam que a doutrina do eterno retor-
no constitui uma aporia no pensamento nietzschiano, posto que, se a Vida
se consome e se repete (tal como já promulgavam os estoicos) não haveria
ou seria dada ao sujeito a possibilidade de um tipo de liberdade nesse ciclo
sem fim. Tudo, inclusive os modos de conhecer e produzir conhecimento,
bem como, os hábitos e processos de subjetivação dos seres humanos, já
estaria escrito, consagrado e delimitado numa ordem eterna e imutável.
14
NIETZSCHE, F., A gaia ciência, p. 230. Aforismo 341.
179
Sérgio de Oliveira Santos
A educação da força
15
O Caderno MIII1, organizdo por Colli e Montinari, deflagra a elaboração da doutrina do eterno
retorno a partir de perspectivas científicas delineadas entre 1878 e 1883 por cientistas e filóso-
fos, em especial, Boussinesq, Du Bois-Reymond e Renouvier.
180
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
outro modo, é possível dizer que o eterno retorno não ocorre em uma reta
com eventos sequenciais.
Se tudo vai retornar, visto que o tempo é infinito e as coisas são
finitas16, a sequência não é dada à priori e linearmente. A cada retorno, o
ser humano pode escolher a direção de sua descarga. A possibilidade da
liberdade está no posicionamento e relacionamento com os elementos e
perspectivas que constituem um lugar ou cultura. A vida humana não se
manifesta na condição de já ter sido arquitetada (determinada) por ou-
trem ou por outra vida passada. A vida humana ou os tipos de processos
de subjetivação se fazem no presente, nos jogos de força, nas condições
de trajetórias e descargas.
Cumpre fazermos uma digressão nesse momento e destacarmos
que quando falamos de forças, falamos de “vontades de poder”, de uma
dinâmica do mundo em movimento eterno, um vir-a-ser que se faz por
meio de jogos de forças espontâneos para além das leis determinísticas
da Física Clássica, como já apontado alhures. Nesses jogos as forças au-
mentam ou diminuem o seu poder na busca pela efetivação de suas pers-
pectivas de valor e concepção de mundo. O ser humano pode ser com-
preendido, então, como algo constituído por uma pluralidade de forças.
Forças estas que, como visto, não estão necessariamente determinadas,
mas que podem ser mobilizadas, direcionadas e terem suas qualidades
modificadas a partir do estabelecimento de alguns tipos de relações e or-
ganizações. Por sua vez, neste mesmo veio, “o mundo visto desde nosso
interior, o mundo determinado e definido em seu caráter inteligível, seria
justamente ‘a vontade de potência”, e nada mais17.
16
Cf. Ibidem, p. 136. Aforismo 109.
17
NIETZSCHE, F., Além do bem e do mal, p. 48, aforismo 36.
181
Sérgio de Oliveira Santos
18
Id., Nachgelassene Fragmente 1884-1885, pp. 292-3. (tradução livre)
19
Id., Nachgelassene Fragmente 1881-1882, Früjahr-Herbst, MIII1.
182
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
O artigo definido “a” está disposto aqui apenas de modo didático, visto que Nietzsche não define
21
o que é força, pois isso seria deveras metafisico. Nietzsche fala em relações de força.
183
Sérgio de Oliveira Santos
22
NIETZSCHE, A gaia ciência, p. 251, aforismo 355.
23
Vale ressaltar que, grosso modo, o conhecimento é em si problemático, posto que seja apenas
um recorte, uma imagem da força infinita e em movimento infinito.
24
NIETZSCHE, A gaia ciência, p. 137, aforismo 110.
25
Ibidem.
26
Cf. Id., Ecce Homo, pp. 54-5. Por que escrevo tão bons livros.
27
Id., A gaia ciência, pp. 201-2, aforismo 297.
184
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
A boa consciência, aquela que não é atravessada pela culpa e pelo ressen-
timento, aquela que sabe que errar é a condição para viver28, surge desse
movimento – um movimento de “mais de força”, de afirmação da própria
vontade. Um encolerar-se com o que é culturalmente tido como necessá-
rio na existência. Um lançar-se na fenda da metáfora petrificada e agora
partida e transvalorá-la. Uma superação de si a partir da superação da
sólida reputação.29
28
Cf. MIII1 - 11[162].
29
Cf. NIETZSCHE, A gaia ciência, pp.200-1, aforismo 296.
30
Ibidem.
185
Sérgio de Oliveira Santos
186
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
32
FOUCAULT, História da sexualidade 2 – o uso dos prazeres, p. 11.
33
Ibidem.
187
Sérgio de Oliveira Santos
senão, como quererias subir mais alto? Sobre tua própria cabeça e por cima
do teu próprio coração.34 Então, encontrará a criança o seu destino. E con-
jugará em si o camelo e o leão. E dirá, assim como disse o viandante: Seja!
Estou pronto! Entrei na minha última solidão.35
Conclusão
Referências
34
NIETZSCHE, Assim falava Zaratustra – um livro para todos e para ninguém, p. 206.
35
Ibidem.
36
FOUCAULT, A verdade e as formas jurídicas, p. 22.
188
Entre moscas e viandantes: uma finalidade do
conhecimento para o espírito criança na praça pública?
_____________ Além do bem e do mal. Tradução: Mário Ferreira dos Santos. Rio de
Janeiro: Vozes, 2009b.
_____________ Assim falava Zaratustra – um livro para todos e para ninguém. Tra-
dução e notas Mário Ferreira dos Santos. 2ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.
_____________ Ecce Homo. Tradução, notas e posfácio: Paulo César de Souza. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009c.
189
Educação e encontro em Dostoievski:
uma leitura a partir de Otto Bollnow
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 198-208, 2017
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
1
É importante notar que a noção de espiritualidade é concebida nesse período ou como um apelo
ao desenvolvimento da consciência (projeto iluminista) ou como referido ao desenvolvimento
do espírito do povo (projeto romântico). Cf. Cuche, 2002, pp. 14-33. Espiritual, para nosso pro-
pósito, é tomado aqui como uma dimensão da existência humana; aquela com capacidade de
“guiar nossa vida” (RÖHR, 2013, p. 29).
191
Adriana Maria Ferreira Coutinho
Note que o autor insiste que o rumo das condições de vida do in-
divíduo dependerá do modo com o qual este sujeito conduzirá tal pro-
cesso, ou seja, tendo consciência de sua condição de sujeito imerso em
sociabilidade deverá estabelecer um percurso de formação no qual deve
se responsabilizar, mas que também sofrerá injunções de um determina-
do contexto.
Do mesmo modo, assumimos aqui uma perspectiva de formação
humana muito próxima daquela apresentada por Röhr, quando nos lem-
bra que a formação de um indivíduo deve estar assentada em sua própria
multidimensionalidade. Em sua ótica, a formação humana compreende
todos os aspectos que se fazem presentes na experiência de vida dos indi-
víduos, desde o biológico até o espiritual, pois,
192
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
193
Adriana Maria Ferreira Coutinho
194
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
195
Adriana Maria Ferreira Coutinho
qual não podemos nos furtar, visto que seria a morte de nosso próprio
existir. Ele toma Rilke como indicador, em sua obra poética, desse movi-
mento decorrente do encontro:
196
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
197
Adriana Maria Ferreira Coutinho
198
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
Aviso, antes de tudo, que esse rapaz, Aliócha, não era absoluta-
mente um fanático e, a meu ver, nem chegava a ter nada de místi-
co. Antecipo minha opinião completa: era somente imbuído de um
precoce amor ao ser humano, e se lançou no caminho do mosteiro,
foi apenas porque, na ocasião, só ele lhe calou fundo e lhe ofere-
ceu, por assim dizer, o ideal para a saída de sua alma, que tentava
arrancar-se das trevas da maldade mundana para a luz do amor. E
esse caminho só lhe calou fundo por que aí ele encontrou naquele
momento um ser que achava extraordinário – o nosso famoso Zós-
sima, stárietz do mosteiro (...) (DOSTOIÉVSKI, 2008, p. 32).
199
Adriana Maria Ferreira Coutinho
Talvez digam que Aliócha era obtuso, atrasado, que não concluíra
seu curso, etc. Que não concluíra seu curso era verdade, mas dizer
era obtuso ou tolo era uma grande injustiça. Vou simplesmente re-
petir o que já disse: ele só se enveredou por esse caminho porque
foi o único que o fascinou naquele momento e ao mesmo tempo lhe
ofereceu todo o ideal para a saída de sua alma, que tentava arran-
car-se das trevas para a luz. Acrescenta-se que ele já era, em parte,
um jovem do nosso tempo, ou seja, honesto por natureza, que recla-
mava a verdade, que a procurava e acreditava nela e, uma vez tendo
acreditado, exigia participar imediatamente dela com toda a força
de sua alma, reivindicava um feito urgente, movido pelo premente
200
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
desejo de doar tudo de si, até mesmo a própria vida, para realizar
esse feito. (...) Aliócha apenas escolheu um caminho oposto ao de
todos outros, mas com a mesma sede de um feito imediato (DOS-
TOIÉVSKI, 2008, p. 44-46).
201
Adriana Maria Ferreira Coutinho
Ocorre que, logo após sua morte, seu corpo começa a manifestar
sintomas de decomposição muito rapidamente e a irmandade, de ime-
diato, começa a duvidar da santidade de Zóssima. A reverência que antes
e via dá lugar a uma grande desconfiança, chegando mesmo ao gracejo.
Era como se tivessem guardado uma vingança pelo fato do stari-
étz parecer inigualável em suas práticas de santidade quando em vida.
Embora o mosteiro tivesse outros monges respeitados, já velhos, pie-
dosos e que jejuavam, a fama de santidade de Zóssima era vastíssima.
Mesmo que não fosse de indicar práticas de penitência severas àqueles
que o procuravam, consigo agia diferente, pois todos os dias praticava a
confissão. Isso, por certo, gerava incômodo nos outros monges. Daí que
o narrador comenta:
Por exemplo, ele nunca fizera mal a ninguém, mas eis o que se ouvia:
“Por que o consideravam tão santo?”. E só essa pergunta, que foi pou-
co a pouco, se repetindo, acabou redundando num turbilhão de mal-
dades das mais insaciáveis. Por isso eu acho que muitos dos que sen-
tiram o cheiro deletério exalado por seu corpo, e ainda por cima tão
depressa – porque ainda não havia transcorrido nem um dia de sua
morte –, não cabiam em si de alegria (DOSTOIEVSKI, 2008, p. 448).
202
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
203
Adriana Maria Ferreira Coutinho
204
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
205
Adriana Maria Ferreira Coutinho
206
Educação e encontro em Dostoievski: uma leitura a partir de Otto Bollnow
Considerações finais
Referências
207
Adriana Maria Ferreira Coutinho
CUCHE, Denis. O conceito de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2002.
ID-ORCID: http://orcid.org/0000-0002-2271-3787
208
A perda da aura da obra de arte e a influência
da indústria cultural no gosto
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 209-219, 2017
Eloisa de Souza Santos
210
A perda da aura da obra de arte e a influência da indústria cultural no gosto
211
Eloisa de Souza Santos
1
Gravura em madeira.
2
Arte de se reproduzir sobre o papel, por impressão, o que se escreveu ou desenhou sobre uma
pedra calcária ou sobre chapa de zinco ou alumínio.
212
A perda da aura da obra de arte e a influência da indústria cultural no gosto
213
Eloisa de Souza Santos
das no chamado ‘ao vivo’ pois uma encenação teatral jamais será tal qual
uma outra encenação, mesmo que com a mesma equipe na direção e no
elenco. Diversos outros meios poderiam ser citados como indutores de
perda da aura: as joias, os produtos de designer de interiores, souvenirs,
utensílios pessoais de grifes (bolsas, sapatos, relógios etc.), aparelhos ele-
troeletrônicos, dentre outros, todos passíveis de reprodutibilidade e, por
conta disso, passíveis de perda da aura, da singularidade e autenticidade.
Nesse entremeio e com o objetivo de alcançar um público maior
e ao mesmo tempo diferenciar-se das massas, pequenos nichos são for-
mados para estabelecer o “bom gosto”, gosto entendido pela capacidade
de trazer subjacente um julgamento (DUFRENNE, 2011). Por isso ocorre
a busca incessante dos grupos favorecidos por produtos de alto luxo. As
camadas intermediárias que buscam imitar o gosto das camadas ditas su-
periores, expressando incapacidade de justificar o próprio gosto, acabam
por alimentar o mercado das cópias, comprando produtos de qualidade
inferior, porém similar. De modo inverso ao processo industrial dos idos
do século XVIII, valoriza-se o artesanal (que compreende as etapas do
processo produtivo acompanhadas pelo mesmo artesão) e a não produ-
ção em larga escala, o que contribui para potencializar a arte como mer-
cadoria artesanal supervalorizada no fator monetário.
Como exemplo desse fenômeno e apropriando-se desse nicho,
grandes empresários criam cooperativas em regiões brasileiras que con-
tratam a mão-de-obra das rendeiras a baixo custo. O produto artesanal
decorrente dessas cooperativas geram altas cifras que nem sempre são
compartilhadas dignamente entre as autoras desses produtos. O que vem
ocorrendo é que o indivíduo moderno tem sua percepção alterada e a
experiência aurática torna-se incompatível com uma percepção genui-
namente artística, porque não mais reconhece semelhanças, associações,
rememorações (AVELAR, 2008).
Atualmente o caráter de ineditismo, singularidade e autenticidade
das obras de arte sofrem interferência direta da Indústria Cultural que
quase invariavelmente dita o que deve ser consumido, interfere na es-
sência da arte como um advento do mundo extremamente tecnológico e
digital e influencia no gosto, visto que, por vezes, a cultura se transformou
em instrumento de dominação e a arte em mercadoria estandardizada. A
indústria cultural passou a transformar tudo em semelhança, por razão
214
A perda da aura da obra de arte e a influência da indústria cultural no gosto
215
Eloisa de Souza Santos
Considerações finais
Analisar a perda da aura na era da reprodutibilidade técnica nas
aulas de Filosofia no Ensino Médio pode representar um avanço no estí-
mulo à criticidade dos jovens desse segmento escolar. Considerando que
o desenvolvimento moral desses jovens ainda está em formação, que em
geral é decorrente da sociogênese (influência cultural) mais do que pela
psicogênese (aprendizagem espontânea) e que a vulnerabilidade quanto
à mídia em geral é um fato incontestável, sobretudo nas redes sociais, tra-
zer para a sala de aula tal temática é apostar na capacidade que os estu-
dantes têm de romper com as respostas prontas e acabadas e fortemente
influenciadas pela grande mídia e pelas massas e apostar na autonomia,
independência e reflexão do estudante.
Em tempos de banalização da arte pela indústria cultural a atitude
estética indica a possibilidade de um olhar aprofundado para a produção
artística que permite o vislumbre do que não é visível monetariamente,
buscando perscrutar os efeitos que a obra de arte e seu autor produzem
no espectador, sem intencionalidade ou premeditação, visto que a arte
serve para produzir efeitos de sentido tanto no criador, quanto no crítico
e no público.
Destarte, a arte não parece ser algo tão próximo das discussões es-
colares ou da vida cotidiana dos estudantes das escolas públicas brasi-
leiras, a rigor. Talvez falte à escola o estímulo à apreciação das artes em
geral, ocasionado pelo transbordamento pelo qual passa o currículo esco-
lar (NÓVOA, 2009), mesmo sabendo da capacidade que o espaço escolar
possui para a discussão de temáticas artísticas. Contudo, a possibilidade
216
A perda da aura da obra de arte e a influência da indústria cultural no gosto
Referências
ABREU, Fabrícia de Castro. Sobre o ensaio “A obra de arte na era de sua reprodu-
tibilidade técnica. In.: Cadernos Walter Benjamin — revista do grupo de pesquisa
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ABREU, Wesley Carlos. Benjamin e Adorno: Um debate sobre a arte no século XX.
In.: Cadernos Walter Benjamin — revista do grupo de pesquisa Walter Benjamin e
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de 2013.
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Eloisa de Souza Santos
ADORNO, Theodor W. Teoria Estética. Trad. port. Artur Morão. Lisboa: Edições
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AVELAR, Sylvia Maria Marteleto. Benjamin e a aura. In. Revista Exagiun, Vol. 1,
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A perda da aura da obra de arte e a influência da indústria cultural no gosto
PAIVA, Ylfa Ariadne; MELO, Marco César de Souza. O declínio da aura na idade
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Benjamin — revista do grupo de pesquisa Walter Benjamin e a Filosofia Contem-
porânea— publicação periódica — V.06 — janeiro a julho de 2011.
RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática. Campinas, SP:
Autores Associados, 2009.
219
Ensino de filosofia e o cinema como recurso
didático
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 220-237, 2017
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
221
Diego Augusto Doimo
222
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
223
Diego Augusto Doimo
224
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
Que fique claro então que a criação (ou recriação) do conceito não é
uma tarefa impossível: não se cria no vazio, com base em nada; são
os próprios [...] elementos constitutivos que nos darão a matéria-
-prima para nossa atividade de criação ou recriação a partir de nos-
so próprio problema.
225
Diego Augusto Doimo
226
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
227
Diego Augusto Doimo
228
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
229
Diego Augusto Doimo
Isso nos mostra que a relação empírica com o mundo, num deter-
minado momento, nos conduz à produção de ideias a partir das experi-
ências sensoriais, sendo que, ao assistirmos um filme, é possível refletir
a respeito do mesmo e, ao mesmo, tempo criar conceitos por meio das
imagens experenciadas ao longo da sua exibição, ou seja, o ato de pensar-
mos o cinema favorece a associação entre a imagem em movimento e a
conceituação daquilo que podemos ver, ouvir e sentir.
É nesse momento que, segundo Cabrera (2006, p 21):
230
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
231
Diego Augusto Doimo
232
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
233
Diego Augusto Doimo
Momentos e Objetivos
Elementos
Fonte: Organizado pelos autores, a partir de elementos sugeridos por (NAPOLITANO, 2009, p. 82).
234
Ensino de filosofia e o cinema como recurso didático
Considerações Finais
Referências
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PERISSÉ, Gabriel. Estética & Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
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THIEL, Grace Cristiane. Movie takes: a magia do cinema na sala de aula. Curitiba:
Aymará, 2009.
237
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 238-254, 2017
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
239
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
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O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
241
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
242
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
243
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
244
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
245
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
246
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
Considerações Finais
247
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
Referências
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O lugar de gênero no componente curricular
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251
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
APÊNDICE
252
O lugar de gênero no componente curricular
de Filosofia no Ensino Médio
Rondônia Estruturação
1o ano – Introdução ao estudo da Filosofia: do mito à razão.
Secretaria de anual de
2o ano – 2 blocos de conteúdos: a – conhecimento; b – ética,
Educação conteúdos, com
moral e estética.
2012 garantia do
3o ano – 2 blocos de conteúdos: a – ética, moral e estética; b –
aspecto crítico-
Filosofia política e cidadania.
reflexivo.
1º Ano (compreensão acerca da natureza do conhecimento
filosófico)
Eixo Temático: Teoria Geral do Conhecimento
Temas Estruturantes: 1. Estrutura epistemológica do mito; 2.
Mito como visão de mundo na Europa, África, Ásia e América;
3. Estrutura epistemológica do senso comum; 4. Estrutura
epistemológica do conhecimento filosófico; 5. Estrutura
epistemológica do conhecimento científico; 6. Estrutura
epistemológica do conhecimento teológico; 7. Estrutura
epistemológica do conhecimento artístico; 8. Relação homem
x natureza na antiguidade.
Eixo temático 2º Ano (compreensão do conhecimento e concepção de
anual, ensino verdade como filhos do tempo, não existindo verdade
centrado na absoluta)
teoria do Eixo Temático: Teoria do Conhecimento na Idade Antiga e
Tocantins conhecimento Medieval
Secretaria de (tema), a fim Temas Estruturantes: 1. Estrutura epistemológica do
Educação de superar o conhecimento na antiguidade; 2. Idealismo platônico; 3.
2007 imediatismo do Realismo aristotélico; 4. Racionalidade socrática; 5. Estrutura
senso comum epistemológica do conhecimento medieval; 6. Sobreposição
em direção ao da fé sobre a razão; 7. Filosofia Escolástica; 8. São Tomás de
senso crítico. Aquino; 9. Santo Agostinho; 10. Teoria do conhecimento dos
povos nativos e americanos na Antiguidade e Idade Média;
11. Relação homem x natureza na Idade Antiga e Medieval.
3º Ano (leitura reflexiva da realidade, pensamento cartesiano
e pós–cartesiano)
Eixo Temático: Teoria do Conhecimento na Idade Moderna e
Contemporânea
Temas Estruturantes: 1. Antropocentrismo racionalista; 2.
Racionalismo cartesiano/René Descartes; 3. Empirismo/
David Hume; 4. Articulação entre empirismo e racionalismo
no pensamento de Immanuel Kant; 5. Eurocentrismo e
Etnocentrismo europeu moderno; 6. O Existencialismo.
Goiás Escolha do
1. Filosofia: as diversas concepções; 2. Conhecimento:
Secretaria de currículo por
divergências e aproximações; 3. Justiça e Estado; 4. Ética:
Educação problemas
Discussão das oposições e coincidências das mais influentes
2009 tratados por
teorias éticas; 5. Linguagem; 6. Filosofia e Arte.
muitos autores.
• O ensino de Filosofia e suas indagações na atualidade.
• Temas e áreas tradicionais da Filosofia: História da Filosofia,
Metafísica, Ética, Filosofia Política, Epistemologia, Teoria do
São Paulo Misto de
Conhecimento, Lógica e Filosofia da Arte ou Estética.
Secretaria de conteúdos
• Técnica e Ciência.
Educação com aspecto
• O pensamento filosófico e as concepções de política.
2010 cronológico.
• O racionalismo ético e seus críticos.
• História da Filosofia; Filosofia e religião; Os direitos
humanos • ideal e histórico.
253
Rosemary Marinho da Silva; Maria Eulina Pessoa de Carvalho
254
A importância da Filosofia - Educação para o
pensar - na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental: “Desenvolvendo Seres
Reflexivos e Dialógicos” no Projeto Piloto da
Rede Municipal de Santa Rita Do Sapucaí – MG
Introdução
1
Este termo, cunhado por Matthew Lipman (1990,1995), filósofo norte americano do século XX,
nos mostra que a “Educação para o Pensar” almeja a formação da autonomia do pensar nos alunos
e acredita que o trabalho com a filosofia é um caminho para despertar a consciência e a prática do
mesmo. O trabalho da “Educação Para o Pensar” caracteriza-se pelo estímulo à reflexão, desvincu-
lando-se do ensino-aprendizagem como emprego meramente conteudista da educação.
2
A metodologia empregada no programa é a da comunidade de investigação, que funciona basi-
camente da seguinte maneira: inicialmente, as crianças são dispostas em círculo e solicitadas
a se alternarem na leitura em voz alta do episódio do romance que estiver sendo trabalhado.
Finda a leitura, o professor se encarrega de registrar na lousa os assuntos escolhidos por cada
aluno para serem debatidos. Em seguida, a turma seleciona os mais relevantes, e tem início a
discussão. Todos são estimulados a falar com liberdade o que pensam dos assuntos abordados
e das opiniões dos colegas. Ao professor, cabe coordenar a discussão, atento ao desempenho
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 255-272, 2017
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
argumentativo (lógico) dos alunos. Através dessa “investigação dialógica cooperativa” (LIPMAN,
1990, p. 121), as crianças vão aprendendo a distinguir um argumento bom de um ruim, a exigir
dos outros e de si mesmas coerências nas argumentações e a se autocorrigir ou seja, através
da comunidade de investigação, elas aprendem a “pensar melhor”, tornando-se mais racionais.
Vê-se, portanto, que o diálogo tem papel fundamental na metodologia do programa, fundada no
pressuposto de que o pensamento se desenvolve paralelamente à aquisição da linguagem. Não
se trata, porém, de um diálogo qualquer, um mero bate-papo descomprometido. Antes, precisa
ser criterioso e logicamente disciplinado (LIPMAN, 1995, pp. 31-32, 342).
256
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
257
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
258
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
259
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
260
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
A importância do professor
no processo reflexivo/dialógico
261
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
262
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
263
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
264
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
265
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
Inferências:
B2 – Quando o B9 disse AMOR o B6 riu e disse que o B9 estava apai-
xonado, mas não é porque o B9 disse AMOR que quer dizer que ele
esteja apaixonado.
B3 – Existem vários tipos de amor. Quando tem uma pessoa cega e
eu dou o braço para ela, isso é amor. Por exemplo, a P4 gosta do B6,
isso é um amor de carinho, de respeito.
B10: Gentileza - Quando a gente ajuda uma pessoa ela fala: Que
gentileza sua.
266
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
267
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
268
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
269
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
mente até este momento não lhes foram dadas, ou que não lhes foi de-
monstrado a importância.
Considerações finais
270
A importância da Filosofia - Educação para o pensar -
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental:
Referências
271
Diane dos Santos Machado; Rita de Cassia de Campos Andery
272
Entre a epimeleia heautou e a formação
para a politeia: o embate pedagógico
da Grécia Clássica
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 273-278, 2017
Aelton Leonardo Santos Barbosa –
274
Natureza e História em Hannah Arendt
275
Aelton Leonardo Santos Barbosa –
276
Natureza e História em Hannah Arendt
277
Aelton Leonardo Santos Barbosa –
278
Repensando o papel da filosofia
no Ensino Médio: uma visão integralizadora
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 279
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 279-282, 2017
Bruno Rafael Camargos de Oliveira
280
Repensando o papel da filosofia no Ensino Médio: uma visão integralizadora
essa tarefa. Não queremos aqui introduzir uma visão de meritocracia nes-
sa questão. Mas o professor-filósofo, conhecedor da história e dos pro-
blemas consagrados pela filosofia, é capaz de ter uma visão sintética da
mesma. É esse mesmo professor aquele que é capaz de filosofar acerca
de tais problemas. Já os demais professores das outras disciplinas, ao se
inserirem nessa discussão, não estarão fazendo ou discutindo matemá-
tica, português, física ou sociologia, por exemplo, mas estarão filosofan-
do sobre a educação, ou seja, fazendo desta um problema genuinamen-
te filosófico. Não podemos e não devemos pensar que somente alguns
privilegiados possam praticar a filosofia. Pensar sobre os problemas que
enfrentamos na vida implica em nossa capacidade, de uma forma mais
ou menos duradoura, de filosofar. Não existe pensamento sem o uso de
conceitos. Mas, não podemos negar também que os filósofos se dedicam à
filosofia de modo mais radical e rigoroso. Daí a importância de se dialogar
com os textos filosóficos que se propõem a refletir filosoficamente sobre
a educação, afim de proporcionar ao professor, de qualquer área do saber,
a capacidade filosófica necessária para se pensar os problemas que se
inserem na “filosofia da educação”.
Mas o que é, como e por que a construção de um currículo integral
e que consequentemente seja capaz de formar um ser um ser humano
na sua integralidade? Por Formação integral entendemos uma formação
humana em sua totalidade. Isso significa que essa formação deva ser ca-
paz de integrar ciência, cultura, humanismo e tecnologia para o desenvol-
vimento das potencialidades humanas, proporcionando uma formação
humana ampla e integral, respeitando e abordando todos os aspectos
ontológicos do ser humano, ou seja, considerando nessa formação tudo
o que diz respeito à natureza e à condição humana. Um currículo integral
deve ser pensado e construído em consonância com o desenvolvimento
do sujeito. Desenvolvimento esse que é marcado por estados diferencia-
dos, formados e também unificados. Uma formação integral deve alcançar
um grau de unidade e de solidariedade entre as várias partes constituti-
vas. Isso significa uma relação coerente e de interdependência entre essas
partes. Assim sendo, esse grau de unificação deve estar em consonância
com o grau de unidade do desenvolvimento do ser humano.
Um sujeito é constituído pelas suas experiências. A experiência não
é estática. Ela é puro movimento. E as experiências constituem a própria
281
Bruno Rafael Camargos de Oliveira
Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.
WILBER, Ken. O Olho do Espírito: uma visão integral para um mundo que ficou
ligeiramente louco. São Paulo: Cultrix, 2001.
282
Deleuze e a desterritorialização do ensino
[...] não se trata de afirmar que é uma ideia (conceito) que funda a
realidade, num sentido completamente outro, o conceito é imanen-
te à realidade, brota dela e serve justamente para fazê-la compre-
ensível. E, por isso, o conceito pode ser ferramenta, tanto de
conser-vação quanto de transformação. 1
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 283
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 283-290, 2017
Ana Flávia Costa Eccard; Rafaela Francisco da Nobrega
2
DELEUZE, G. GUATTARI, F. O que é a filosofia?.
3
GALLO, Deleuze & a educação, p. 45.
4
Idem, p. 41.
284
Deleuze e a desterritorialização do ensino
5
Importante salientar que usamos os deslocamentos de acordo com o autor em sua obra: GALLO,
S. Deleuze & a educação.
6
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. Kafka – por uma literatura menor, p. 27.
285
Ana Flávia Costa Eccard; Rafaela Francisco da Nobrega
286
Deleuze e a desterritorialização do ensino
7
GALLO, Deleuze & a educação, p. 79.
287
Ana Flávia Costa Eccard; Rafaela Francisco da Nobrega
Pode-se prever que a educação será cada vez menos um meio fe-
chado, distinto do meio profissional – um outro meio fechado –,
mas que os dois desaparecerão em favor de uma terrível formação
permanente, de um controle contínuo se exercendo sobre o operá-
rio-aluno ou o executivo-universitário. Tentam nos fazer acreditar
numa reforma da escola, quando se trata de uma liquidação.11
8
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão, p. 118.
9
Idem, p. 120.
10
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976), p. 290.
11
DELEUZE, Gilles. Conversações, 1972-1990, p. 216.
288
Deleuze e a desterritorialização do ensino
Conclusão
Referências
BOUNDAS, Constantin V. & OLKOWSKI, Dorothea (eds.). Gilles Deleuze and the
12
Idem, p. 217.
289
Ana Flávia Costa Eccard; Rafaela Francisco da Nobrega
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix. Kafka – por uma literatura menor. Rio de Ja-
neiro: Imago Editora, 1977.
GALLO, S. Deleuze & a educação. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
HARDT, Michel. Gilles Deleuze – um aprendizado em filosofia. São Paulo: Ed. 34,
1996.
NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a lei 10.639. Rio de Janeiro: Pallas: Bi-
blioteca Nacional, 2014.
290
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e
Adultos – EJA: desafios e perspectivas
Lindoaldo Campos
(IFRN)
O homem só pode ensinar bem aquilo que para ele tem poesia.
Rabindranath Tagore
1. Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 291
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 291-301, 2017
Lindoaldo Campos
2. O aluno da EJA
1
CE – Câmara de Educação Básica / CEB – Conselho Nacional de Educação.
2
Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo, Caderno das Diretrizes da Educação de Jo-
vens e Adultos, p. 17, apud Moacir Garcia, Educação de Jovens e Adultos.
292
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e Adultos – EJA:
desafios e perspectivas
3. Períodos da EJA
293
Lindoaldo Campos
a) Primeiro período
Em um primeiro momento, a EJA destinou-se, fundamentalmente, à
erradicação do analfabetismo
b) Segundo período
Em um segundo momento, trabalhou-se com a preparação dos alu-
nos para ingresso qualificado no mercado de trabalho, a teor da criação
de programas como o Programa Nacional de Integração da Educação Pro-
fissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e
Adultos – PROEJA3
c) Terceiro período
Atualmente – e certamente cada vez mais – é preciso considerar
também a questão relativa ao crescente interesse manifestado pelos alu-
nos no sentido de continuar seus estudos no nível de graduação (nos Ins-
titutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e nas universidades)
Pois bem: entrevistas tais questões e delimitados os parâmetros da
atual vivência da EJA, é preciso vislumbrar de que forma a Filosofia pode
se inserir de forma mais cabal neste âmbito.
Para uma nova EJA voltada a alunos que pretendem continuar seus
estudos e para a Filosofia como parte dessa realidade, faz-se mister uma
nova técnica de ensino e aprendizagem: a Andragogia, que literalmente
significa “ensino de adultos” (do grego andros = adulto e gogia = ensino).
Trata-se de um termo que remete a um conceito de educação voltada ao
adulto, em contraposição a Pedagogia, que se refere à educação de crian-
ças (do grego paidós = criança).
Segundo estudiosos, a Andragogia consiste na “arte ou ciência que
estuda as melhores práticas para orientar adultos a aprender, conside-
rando a experiência como fonte mais rica de aprendizagem para adultos”4.
Nesse sentido,
3
O PROEJA é regulamentado pelo Decreto nº 5.840/2006.
4
Malcom Knowles (1970), apud SEDUC, 2013, p. 13.
294
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e Adultos – EJA:
desafios e perspectivas
295
Lindoaldo Campos
4.1. Ambientação
A ambientação envolve tanto a instituição como um todo quanto a
sala de aula.
a) Ambiente escolar
A escola deve ser vista como um ambiente propício às relações so-
ciais, pois a salutar interação no âmbito geral da instituição é condição
sine qua non para a produção e ampliação do conhecimento.
296
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e Adultos – EJA:
desafios e perspectivas
7
Hölderlin, Patmos, apud Martin Heidegger, A questão da técnica, p. 391.
297
Lindoaldo Campos
5.3. Metodologia
Por outro lado, uma perspectiva pedagógica de Filosofia (e, de res-
to, para as demais disciplinas) para a EJA deve ter em conta a preocupa-
ção (que não deve ser pequena) de construir materiais e práticas atrati-
vas, que mantenham o alunado em sala de aula, tendo em vista, ademais,
os altos índices de evasão observados.
Neste sentido, o referido Plano Nacional de Educação prevê, para
a EJA, a necessidade de “estabelecer programa nacional de fornecimento
(...) de material didático-pedagógico adequado”.
Por seu turno, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
de Educação editou a Resolução nº 1/2000, onde faz constar:
Art. 17. A formação inicial e continuada de profissionais para a Edu-
cação de Jovens e Adultos terá como referência as diretrizes curri-
culares nacionais para o ensino fundamental e para o ensino médio
e as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professo-
res, apoiada em:
(...)
IV – utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e
linguagens apropriados às situações específicas de aprendizagem.
(grifou-se)
8
PCN+ (Ciências Humanas e suas Tecnologias), p. 47 e 51.
298
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e Adultos – EJA:
desafios e perspectivas
6. Conclusões
Referências
299
Lindoaldo Campos
_______. A construção de uma educação básica para jovens e adultos. Disponível em:
<http://educador.brasilescola.com/politica-educacional/a-construcao-uma-
-educacao-basica.htm>.
300
O ensino de Filosofia na Educação de Jovens e Adultos – EJA:
desafios e perspectivas
301
O discurso parlamentar sobre a presença
obrigatória da Filosofia no ensino médio
entre 1997 e 2008
Introdução
1
Fiz o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGCP) da Universidade Fe-
deral Fluminense (UFF) entre 2012 e 2014. Produzi a dissertação “Sociologia no ensino médio:
uma trajetória político-institucional (1982-2008)” sob a orientação da Profª Cristina Buarque
de Hollanda. O texto completo está disponível em www.labes.fe.ufrj.br. Acesso em 07/11/2016.
2
Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposic
ao=19225. Acesso em 07/11/2016.
3
Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposic
ao=127294. Acesso em 07/11/2016.
4
Minha pesquisa de mestrado concentrou-se no retorno da Sociologia ao ensino médio. E, como
os dois projetos de lei federal receberam comentários uniformes sobre as duas disciplinas, acre-
dito que esse trabalho seja também do interesse da comunidade de filósofos, o que motivou
minha ida à ANPOF/2016 e a escrita desse trabalho.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 302-318, 2017
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
5
Boletins sindicais do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo (SINDSESP) defenderam
a inclusão da Sociologia no ensino médio no sentido de garantir milhares de vagas para profes-
sores de Sociologia via concurso público. Há pouca bibliografia sobre a atuação dos sindicatos
de sociólogos estaduais na luta nacional pela inclusão das disciplinas, por isso, foram citadas
apenas a entidade nacional e a entidade estadual de São Paulo. Desconheço como foi a atuação
dos filósofos.
6
O primeiro manifesto, de 2001, foi intitulado como Manifesto em defesa da Sociologia e Filosofia
no ensino médio e pela aprovação do PLC 9/00. O segundo manifesto, de 2006, foi chamado de
Manifesto Apoiamos Sociologia e Filosofia no ensino médio para ampliarmos a cidadania no
Brasil. Ambos tiveram apoios de diversas entidades dentre movimentos sociais, associações de
classe, associações acadêmicas, associações estudantis e etc.
303
Gustavo Cravo de Azevedo
7
Mesmo com a aprovação de lei federal que garante a presença, cabe aos estados decidirem o
currículo estadual, a carga horária, e sobre a inclusão da disciplina nos sistemas de avaliação
estaduais, dentre outros.
304
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
8
O parecer está disponível através do link: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/
pceb038_06.pdf
9
O texto da lei pode ser visualizado através do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm. Acesso em 07/11/2016.
10
O GT Sociologia no Ensino Médio da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) existe desde 2005.
Há o Encontro Nacional Sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica (ENESEB), desde
2009. Há também alguns encontros estaduais, entre os quais cito o Encontro Estadual do Ensino
de Sociologia (ENSOC), que acontece no Rio de Janeiro desde 2008.
11
A produção acadêmica sobre o tema não parou mesmo com o longo período da Sociologia lon-
ge do ensino médio. E, com o retorno, houve um aumento considerável de trabalhos inscritos.
Sobre o tema, ver Handfas, Anita; Maiçara, Julia Polessa. O estado da arte na produção científica
sobre o ensino de sociologia na educação básica. BIB, São Paulo, n. 74, 2.º semestre de 2012.
12
Atualmente, periódicos das áreas da Educação e também da Sociologia fazem dossiês temáticos
sobre o tema. O periódico eletrônico Café com Sociologia é uma referência para a subárea Socio-
logia no ensino médio: http://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista. Acesso
em 07/11/2016.
305
Gustavo Cravo de Azevedo
13
O artigo 36 da LDB traz diretrizes sobre o ensino médio.
14
Existem dois diferentes tipos de leis: leis complementares e leis ordinárias. As leis complemen-
tares têm esse nome porque são leis complementares à Constituição Federal (CF) de 1988. Ou
seja, elas existem para regulamentar assuntos específicos conforme previsto no texto constitu-
cional. Já as leis ordinárias são leis que regulamentam ordinariamente os assuntos de relevância
do cotidiano nacional. São aquelas que a CF/88 não determinou expressamente que fossem re-
gulamentados por leis complementares.
15
Outras maneiras, ainda, são: que o Poder Executivo apresente ao Congresso proposta de lei; ou
que haja um projeto de lei de iniciativa popular.
306
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
16
Há uma diferença de nomenclatura entre as duas Casas no parecer que aprova o projeto de
lei sem necessidade de passar pelo Plenário, embora seja possível que deputados e senadores
apresentem recurso contra o projeto. Na Câmara dos Deputados, esse instrumento é chamado
parecer conclusivo. Já no Senado, o mesmo instrumento é chamado parecer terminativo.
307
Gustavo Cravo de Azevedo
308
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
17
É necessário que qualquer projeto passe pela Comissão que avalie sua constitucionalidade ape-
nas uma vez. Como já passou por essa Comissão na Câmara dos Deputados, não será necessário
passar novamente no Senado.
309
Gustavo Cravo de Azevedo
310
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
311
Gustavo Cravo de Azevedo
312
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
313
Gustavo Cravo de Azevedo
314
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
18
As acusações sobre o mensalão, por exemplo, ilustram essas pressões.
315
Gustavo Cravo de Azevedo
a única que pede a palavra para opinar sobre o projeto. A senadora Ide-
li defende três argumentos. Primeiro, ela afirma que a ditadura militar
retirou as disciplinas do currículo e as substitui por Educação Moral e
Cívica. Em seguida, a defesa se dá pelo argumento de que as disciplinas,
no ensino médio, colaboram para a formação de uma visão humanista nas
novas gerações “para que se formem conceitos, caráter, moral”. O terceiro
argumento é que o projeto já tramita há onze anos no Congresso Nacional
e já foi bem discutido tanto que chegou até a etapa da sanção presidencial
da outra vez.
O projeto é aprovado e, logo depois, sancionado pelo presidente em
exercício, o Vice-Presidente da República José Alencar. Com isso, dá-se a
aprovação da lei nº 11.684/2008 de 2 de junho de 2008.
Considerações Finais
316
O discurso parlamentar sobre a presença obrigatória da Filosofia
no ensino médio entre 1997 e 2008 desafios e perspectivas
Referências
CARVALHO. Lejeune Mato Grosso de. (Org.). Sociologia e ensino em debate: expe-
riências e discussão de sociologia no ensino médio. Ijuí, Rio Grande do Sul. Ed.
Unijuí, 2004.
317
Gustavo Cravo de Azevedo
318
Aprendizagem colaborativa: interfaces
entre as disciplinas Práticas Investigativas I
e Estágio de Docência I da Universidade
Federal do Maranhão
1 Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 319
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 319-334, 2017
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
320
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
321
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
322
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
323
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
324
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
325
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
326
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
327
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
328
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
329
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
4 Estágio de docência I
1
Projeto Político Aprovado no Concepe, Resolução 661, 09 de janeiro de 2009.
330
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
2
O currículo foi estruturado de acordo com os eixos interligados de formação, cada um deles deve
garantir a construção de um determinado grupo de conhecimentos teóricos e práticos necessá-
rios ao exercício profissional, interagindo ao mesmo tempo com os demais, na medida em que
não tem a pretensão da autosuficiência.
331
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
Considerações Finais
332
Aprendizagem colaborativa: interfaces entre as disciplinas Práticas
Investigativas I e Estágio de Docência I da Universidade Federal do Maranhão
333
Marly Cutrim de Menezes; Judite Eugenia Barbosa Costa
Referências
334
Ensino Médio e Filosofia:
conhecimento e emancipação
Introdução
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 335-346, 2017 335
Maria de Lourdes Bastos
1
SKLIAR, 2003, p. 238.
2
RANCIÈRE, 1987/2010, p. 27
3
RANCIÈRE, 1987/2010, p. 31 a 33
336
Ensino Médio e Filosofia: conhecimento e emancipação
4
RANCIÈRE & REVEL, 2010
5
LOPES, 2008, p. 09.
6
LOPES, 2008, p. 19.
337
Maria de Lourdes Bastos
O Método emancipador
7
KOHAN, 2009 pp 9-17 e 67-91.
8
KOHAN, 2009, p.11.
338
Ensino Médio e Filosofia: conhecimento e emancipação
339
Maria de Lourdes Bastos
14
VERMEREN et al., 2003, p. 200.
15
COLELLA, 2012.
16
COLELLA, 2012, p.180.
340
Ensino Médio e Filosofia: conhecimento e emancipação
17
VERMEREN et al., 2003, p. 191.
341
Maria de Lourdes Bastos
ma. [...] Há sempre alguma coisa que o ignorante sabe e que pode servir
de termo de comparação, ao qual é possível relacionar uma coisa nova a
ser conhecida.”18
Em segundo lugar acreditar que cada homem possui a faculdade de
aprender sozinho. O aluno deve ver tudo por ele mesmo, comparar inces-
santemente (p. 44). Precisa encontrar os meios de dizer o que vê; o que
pensa sobre isso e o que se faz com isso (p.41). O requisito para alcançar
o conhecimento é o seu desejo de aprender. “Esse método da igualdade
era, antes de mais nada, um método da vontade”. (p. 30). A aprendizagem
requer uma transformação subjetiva, o estudante encontra com o conhe-
cimento, o assimila como parte de sua experiência e contesta a si mesmo,
questionando sua relação com os saberes e com o outro.19
Outro princípio importante: Podemos ensinar o que não sabemos:
“É o discípulo que faz o mestre”. (p. 39). O mestre emancipador por meio
do vínculo entre vontades ensina o estudante a exercer sua própria inteli-
gência. Ele apresenta o conhecimento acumulado pela tradição não como
um saber cristalizado, mas como base para uma ação criativa.20 O papel do
professor é apenas a verificação da igualdade. Ele não explica, mas instiga
a manifestação de uma inteligência que ignorava a si própria. O mestre
verifica a atenção do aluno em seu estudo. “Somente essa verificação faz,
do ponto de vista intelectual, efeito”. [...] “O que é o “mestre ignorante”?
É um mestre que se retira empiricamente do jogo [...] é o mestre que não
quer saber das razões da desigualdade”.21
Pensamos então que ainda que não se institucionalize, a educação
universal é capaz de instaurar o círculo da emancipação e esse se expande
de pessoa à pessoa, ocupando pouco a pouco o lugar do círculo da expli-
cação. Para que esse processo ocorra, partimos da igualdade das inteli-
gências e nos propomos a um trabalho coletivo que instigue o autoco-
nhecimento. O trabalho filosófico será efetuado a partir do uso da razão
pública e envolvendo cada um em seu tempo presente, em um esforço de
produção de conhecimento e de subjetividade.
18
RANCIÈRE, 2010, p. 50, 51.
19
COLELLA, 2012, p. 180.
20
COLELLA, 2012, p. 180
21
VERMEREN et al., 2003, p. 191, 192.
342
Ensino Médio e Filosofia: conhecimento e emancipação
22
ARAÚJO, 2009, p. 12.
343
Maria de Lourdes Bastos
Considerações Finais
23
GALLO; ASPIS, 2009.
344
Ensino Médio e Filosofia: conhecimento e emancipação
Referências
24
RANCIÈRE, 2010, p. 183.
345
Maria de Lourdes Bastos
GALLO, S.; ASPIS, R. P. L. Ensinar Filosofia. Um livro para professores. São Paulo:
Atta Mídia Educação, 2009.
346
O olhar filosófico do aluno através da câmera
do seu celular
Introdução
1
Outros dois textos foram apresentados sobre o mesmo tema, “A [dis]posição do saber filosófico
ao secundarista da era digital” e “Upgrade da leitura e reflexão filosófica”, ambos em 2016.
2
Conceito de Yves Chevallard, um didata francês do campo do ensino das matemáticas.
3
Tecnologias digitais de informação, comunicação e expressão.
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar. 347
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 347-363, 2017
Fabrício David de Queiroz
Discussão
4
O conceito de Zeitgeist foi introduzido por Johann Gottfried Herder e outros escritores român-
ticos alemães. Em 1769, Herder escreveu uma crítica ao trabalho do filósofo Christian Adolph
Klotz, introduzindo a palavra Zeitgeist.
5
Tecnologias da inteligência é o tema que leva o título da obra de Pierre Lévy, As tecnologias da
inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. (2010)
6
O uso deste termo está desenvolvido no texto “A [dis]posição do saber filosófico ao secundarista
da era digital” e se refere à concretização do processo de ensino-aprendizagem, cujo êxito se
encontra na contextualização do saber com a realidade do aprendiz. Uma aula que mantém o
saber fora do alcance do aluno não pode ser considerado um lugar, é um engodo, uma utopia que
deturpa o conhecimento na falta de sentido e significação.
348
O olhar filosófico do aluno através da câmera do seu celular
Para, em 2011, nos depararmos com o que parece ser uma continui-
dade da frágil existência da instituição escolar na sociedade tecnocientífi-
ca, “A escola virou fábrica de aulas insossas, reprodutivas, medíocres, no
fundo tipicamente imbecilizantes.” (DEMO, 2011, p. 50). Desta monta, não
tem sentido falar em inovação quando aparentemente a escola se mostra
anacrônica e intenta embarcar no bonde da história para se atualizar7, pois
7
A título de nota, chamamos a atenção para o cuidado que se deve tomar com a negligência de
questões fundamentais no juízo que se faz da escola - sua razão de ser, seu papel na sociedade,
sua concepção de formação humana - ao justificar mudanças / inovações tão somente a partir da
evidência de resultados insatisfatórios, sob o risco de instituir a escola como resultado de uma
re-forma, sempre atrasada e sustentada sobre seus próprios escombros, com o brilho da velha
marca de verniz que representa a qualidade na educação. Em todo caso, interessa-nos saber ob-
jetivamente que parâmetros podem determinar a experiência didática da disciplina de filosofia
como produtora do saber que constitui a base epistemológica sobre a qual se justifica o lugar da
escola na sociedade contemporânea. Como mensurar a responsabilidade da formação filosófica
em relação à falência da escola?
8
Categorização usada na sociologia para identificar características comuns ou padrão entre indi-
víduos nascidos em épocas determinadas, fundamentadas no conceito de gerações que remonta
Auguste Comte e Karl Mannhein.
9
Um estudo mais amplo da relação homem-máquina deverá contribuir na compreensão de limi-
tação ou até mesmo perda da referência do espírito, isto é, mensurar até que ponto a máquina
afeta nossa faculdade de conhecer, até mesmo podendo assumi-la.
349
Fabrício David de Queiroz
10
O conceito, criado pelo educador e pesquisador norte-americano Marc Prensky, compreende a
geração de jovens nascidos no tempo das tecnologias digitais e, portanto, propensos natural-
mente ao seu uso e influências.
11
Profa. Lúcia Santaella agrega três perfis cognitivos de leitores no conceito de leitor ubíquo: o
leitor contemplativo, o movente e o imersivo.
12
Cf. A [dis]posição do saber filosófico ao secundarista da era digital.
13
Cf. RODRIGO, 2009.
350
O olhar filosófico do aluno através da câmera do seu celular
351
Fabrício David de Queiroz
352
O olhar filosófico do aluno através da câmera do seu celular
353
Fabrício David de Queiroz
Referências
CHAUÍ, Marilena. Janela da alma, espelho do mundo. In: NOVAES, A. [et. al.]. O
Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, pp. 31-64.
ILLICH, Ivan. Sociedade Sem Escolas. 7ª ed. Trad. Lúcia Mathilde Endlich Orth.
Petrópolis: Vozes, 1985.
QUEIROZ, Fabrício David de. Upgrade da leitura e reflexão filosófica. In: SUANNO,
M. V. R. [et. Al.]. Veredas Escolares II: Partilhando Experiências Criativas de Ensino
354
O olhar filosófico do aluno através da câmera do seu celular
RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino
médio. Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
SANTAELLA, Lucia. “Os jovens como termômetro do Zeitgeist”, in: ROCHA, Cleo-
mar; SANTAELLA, Lucia. (Orgs.) A onipresença dos jovens nas redes. Goiânia, GO:
FUNAPE: MEDIA LAB/CIAR UFG/ GRÁFICA UFG, 2015. pp. 31-45.
355
Relato de orientação de pesquisas em filosofia
no ensino médio
Introdução
Panorama teórico
356
Relato de orientação de pesquisas em filosofia no ensino médio
tos superficiais sobre vários assuntos e que, por isso, supostamente, têm
condições de opinar sobre qualquer tema que seja tratado. Essa caracte-
rização é bastante exagerada e estereotipada, mas de forma recorrente
aparece na fala e nas demandas atribuídas ao professor de filosofia na
vida escolar, por colegas de escola de outras áreas, estudantes e equipe
diretiva, ainda que de forma mais sutil ou implícita.
A formação para o exercício da cidadania foi uma das atribuições le-
gais atreladas ao ensino de filosofia e sociologia, segundo a legislação bra-
sileira, estabelecida na formulação original da Lei de Diretrizes e Bases da
educação (inc. III do § 1º do art. 36, da versão da lei de 1996): “domínio
dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício
da cidadania”. Esse dispositivo foi revogado em 2008, quando da inclu-
são da obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia em todas as
séries do EM. Contudo essa concepção não deixou de existir junto com a
revogação do dispositivo, permanecendo no discurso público e em alguns
documentos. É importante notar que a ligação do ensino de filosofia com
o exercício da cidadania, foi definida como uma ligação de necessidade. E,
apesar de se manter muitas vezes essa relação, nem sempre se mantém
a propriedade de necessidade ao atribuir à filosofia um papel no ensino.
O pensamento crítico pode ter vários significados, dependendo de
qual autor tomarmos como referência. Contudo, alguns elementos per-
passam todas as definições, tais como “racionalidade, reflexividade, dis-
cernimento e razoabilidade” (VELASCO, 2015, p. 235). Em filosofia, essas
são características amplamente trabalhadas, independente do tema ou
abordagem. Contudo, para fins de precisão conceitual, seguindo Velasco
(2015), podemos entendê-la como “critical thinking”, influência da escola
norteamericana surgida no século XX, que tem como foco avaliação argu-
mentativa a partir do contexto específico dos estudantes (e.g.: RAINBOLT,
2010). Essa concepção é fruto de um movimento acadêmico e tem como
vantagens o trabalho argumentativo, que é imprescindível para todo tra-
balho filosófico e crítico, mesmo em outras disciplinas.
A concepção de filosofia com um papel destacado no currículo es-
colar é tomada a partir de Rocha (2015). Ele utiliza o conceito de “trans-
versalidade pedestre” para combater o que chamou de princípio do pre-
sépio. O princípio configura-se na crença de que basta a justaposição das
disciplinas escolares, cada qual planejada pelo professor responsável de
357
Thiago Rafael Santin
358
Relato de orientação de pesquisas em filosofia no ensino médio
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que faze-
res se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei,
porque indago e me indago. Pesquiso para constatar e constatando,
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.
359
Thiago Rafael Santin
360
Relato de orientação de pesquisas em filosofia no ensino médio
361
Thiago Rafael Santin
rigorosa poderia identificar as causas dessa falta, bem como sua relação
com o ensino de filosofia.
Discussão
Perspectivas
362
Relato de orientação de pesquisas em filosofia no ensino médio
Referências
ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo. 2ª ed. Santa Maria: Editora
da UFSM, 2015.
363
Metodologias ativas e tecnologias móveis no
ensino de Filosofia Política
I-Introdução
364
Alencar, M. V. de.; Carneiro, S.; Correia, A.; Paschoal, A. E. Filosofar e ensinar a filosofar.
Coleção XVII Encontro ANPOF: ANPOF, p. 364-374, 2017
Metodologias ativas e tecnologias móveis no ensino de Filosofia Política
II- Desenvolvimento
A. Fundamentação teórico-filosófica
É muito comum que o estudante de graduação em Filosofia, em cer-
to momento do seu curso, atravesse uma crise em relação ao sentido do
estudo da Filosofia para a vida. É muito comum que se produza no estu-
dante de graduação em Filosofia uma sensação de que ele vive em dois
mundos, o da teoria e o da prática, mundos estes separados um do outro
por um profundo “abismo”. Os cursos de Filosofia produzem nos estudan-
365
Carolina Violante Peres
366
Metodologias ativas e tecnologias móveis no ensino de Filosofia Política
367
Carolina Violante Peres
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Metodologias ativas e tecnologias móveis no ensino de Filosofia Política
369
Carolina Violante Peres
taz, sem apontar para qual seria o cartaz produzido pelo grupo.
Todos os estudantes do grupo foram motivados a falar. A classe
então tentou adivinhar a qual cartaz correspondia aquele re-
gime político. Depois disso, os grupos explicaram como cons-
truíram as imagens de seus cartazes. O professor aproveitou a
explicação do grupo e as imagens dos cartazes para fornecer
mais dados aos estudantes sobre as formas de governo ou regi-
mes políticos abordados pelos grupos (ver figuras 1 e 2 abaixo).
370
Metodologias ativas e tecnologias móveis no ensino de Filosofia Política
371
Carolina Violante Peres
III- Conclusão
372
Metodologias ativas e tecnologias móveis no ensino de Filosofia Política
FINI, M. I. (Coord. geral) Proposta Curricular do Estado de São Paulo (PCESP). São
Paulo: SEE, 2008.
373
Carolina Violante Peres
mudanca-pedagogica-o-celular-pode-ser-o-melhor-aliado-do-professor-
47961/#ixzz3kP4uWFBr. 2015.
RODRIGO, L.M. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio. Co-
leção Formação de Professores. Editora Autores Associados: Campinas, SP, 2013.
SALLES FILHO, N.A. (indicador do artigo) Fonte: site Educação e Direito à justiça.
http://uepg.vwi.com.br/noticia/66/Diretrizes+Nacionais+para+a+Educacao+e
m+Direitos+Humanos). 2012.
374