Capitulo 10 - Industria 4.0 - Ana Liddy
Capitulo 10 - Industria 4.0 - Ana Liddy
Capitulo 10 - Industria 4.0 - Ana Liddy
10 A QUARTA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL E A INDÚSTRIA 4.0
10.1 Introdução
Desde o início do século XXI, o mundo tem se deparado com a mais extensa e profunda
transformação da paisagem tecnológica, que está alterando significativamente a
maneira como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam. Fomentada por grandes
transformações e grandes desafios, uma nova revolução se desenvolve a partir do
processo de digitalização da operação industrial, trazendo tecnologia de ponta para o
chão de fábrica, integração massiva de componentes em rede e inteligência para
objetos, gerando diversas oportunidades para pessoas, empresas e países, o que
culminará com a transformação de toda a sociedade.
Denominado Quarta Revolução Industrial, tal movimento envolve o uso de avanços da
tecnologia de comunicação e informação para aumentar o grau de automação e
digitalização em processos industriais, englobando a concepção, desenvolvimento e
fabricação de produtos. A informatização e conexão em rede de máquinas, aliada à
automação industrial, proporciona inteligência à manufatura, abrindo um universo de
possibilidades para diferentes fabricantes: máquinas interconectadas podem conversar
e trocar comandos entre si, armazenar dados na nuvem, identificar defeitos e fazer
correções sem precisar de ajuda. Dessa forma, busca-se gerir todos os processos da
cadeia de valor, em busca de maior eficiência no processo produtivo e obtenção de
produtos e serviços de qualidade superior, com ganhos que podem ir muito além de
questões financeiras, caso a oportunidade seja bem explorada.
O momento é desafiador, mas também, extremamente rico e estimulante. Mesmo nos
países que saíram à frente, o cenário como um todo ainda não é realidade. Para países
pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, os desafios se mostram ainda maiores,
porém abrem possibilidades de alavancar oportunidades pouco exploradas, utilizando
parcerias e colaboração entre empresas inovadoras de diversos segmentos, tanto
consolidadas quanto nascentes, em busca de formas para se reinventar a indústria.
1
Jovens que estão chegando ao mercado de trabalho e aqueles que ainda estão na
universidade correm um sério risco de ficarem com sua formação obsoleta caso não
busquem qualificações e aprendizado em consonância com as novas tecnologias.
Neste capítulo você compreenderá o que é a Quarta Revolução Industrial, também
conhecida como Indústria 4.0. Inicialmente será apresentada uma visão geral das
origens, conceitos, características, implicações e tendências deste movimento, seguida
de exemplos de aplicação. Na sequência, será explorado o perfil profissional desejado
para um engenheiro da Indústria 4.0, bem como a necessidade de mudanças para o
ensino da engenharia.
2
Revolução Origem e Características
Surge após a Segunda Grande Guerra, como “revolução digital”,
impulsionada pelo desenvolvimento da eletrônica, com o uso de
semicondutores, criação e disseminação dos computadores mainframe
(1960) e pessoal (1970-1980), bem como da internet (1990). A economia
internacional passou por profundas transformações decorrentes da
automação da produção, uso da eletrônica e da tecnologia da
Terceira: meados Séc. XX informação, com o lançamento contínuo de novos produtos, a elaboração
(década de 1960) de novas máquinas e o aprimoramento de equipamentos de informática
e de robôs.
Baseada na revolução digital, não diz respeito apenas a sistemas e
máquinas inteligentes conectadas, mas à fusão de diversas tecnologias e
sua interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos. Ocorre uma
fusão do mundo físico e do virtual com o uso da inteligência artificial e
outras tecnologias. Possibilita produção em rede mais precisa, de baixo
Quarta: Séc XXI custo, que permite personalização em massa com velocidade. A produção
(a partir de 2011) humana é aumentada pela potência aprimorada da cognição.
3
veículos autônomos, impressão em 3 dimensões, nanotecnologia, biotecnologia,
ciência dos materiais, computação quântica e uma variedade de formas de geração e
armazenamento de energia. Essas tecnologias acabam se fundindo nos mundos físico,
digital e biológico.
As características advindas da Quarta Revolução Industrial afetam profundamente
diversos setores da sociedade, trazendo novos modelos de negócio e descontinuidade
de outros, bem como reformulação da produção, do consumo, dos transportes, da
educação, da saúde, dos governos e das instituições, entre tantos outros. Tais
transformações acabam afetando o comportamento e o relacionamento das pessoas
no tocante à forma de trabalho, de diversão e lazer, de comunicação e expressão,
trazendo uma série de incertezas quanto aos desdobramentos decorrentes destas
transformações para a sociedade atual. Neste cenário, é importante que governos,
empresas, universidades e sociedade civil busquem, juntos, entender as tendências
emergentes.
condutor humano. Inclui não só carros, mas também caminhões, drones, aviões e barcos.
Veículos
Usam tecnologias que combinam sensores e processam grandes volumes de dados em tempo
real, possibilitando perceber o ambiente e reagir, otimizando percursos ou alterando rotas
para evitar colisões. Podem realizar diversas tarefas, como verificação de linhas transmissão
de energia elétrica, distribuição de adubo e água na agricultura e entrega de suprimentos.
Também conhecida como manufatura aditiva, é a capacidade de criar objetos utilizando a
Impressão
específicos. Pode ser produzido por unidade, personalizado, e usado tanto para artefatos de
grandes dimensões, como turbinas eólicas, quanto pequenas, como implantes médicos. É
principalmente utilizada nas indústrias automotiva, aeroespacial e médica.
Constituída por robôs com capacidade de tomada de decisão baseada em parâmetros
Robótica avançada
coletados por meio de instrumentação. Antes confinados a indústrias, robôs são cada vez mais
utilizados em todos os setores e para uma ampla gama de tarefas, sendo mais adaptáveis e
flexíveis. Avanços em sensores e em sua concepção estrutural e funcional permitem imitar
padrões e estratégias da natureza (denominado biomimetismo), bem como compreender e
responder melhor ao seu ambiente. Podem agora acessar informações remotas na nuvem e se
conectar a uma rede de outros robôs, enfatizando a colaboração humano-máquina.
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Materiais cada vez mais leves, resistentes, com maior capacidade de armazenamento de calor
ou mesmo de condução de energia chegam ao mercado, podendo ser também recicláveis e
Novos materiais adaptáveis. Reforçam a lista materiais inteligentes, com capacidade de autorreparação ou
autolimpeza, bem como metais com memória, que conseguem retornar à sua forma original,
além de cerâmicas e cristais que transformam pressão em energia. Modernos nanomateriais,
como o grafeno, precisam ainda se tornar financeiramente competitivos para uso mais amplo,
mas possuem potencial para revolucionar indústrias de fabricação e infraestrutura. Inovações
em plásticos termofixos permitem ainda transformar em materiais reutilizáveis aqueles antes
considerados não recicláveis.
Incluem os dispositivos conectáveis que podem ser levados junto com a pessoa, como por
Dispositivos
mundo físico às redes virtuais proliferam rapidamente. Principal ponte entre as aplicações
físicas e digitais, a Internet das Coisas (IoT) permite relacionar, por exemplo, produtos,
serviços, lugares e pessoas, usando diversas plataformas e tecnologias conectadas.
É uma rede de ativos digitais que tem como objetivo a descentralização da informação como
forma de mantê-la segura, pela qual todas as transações realizadas deverão ser validadas por
vários ativos diferentes. Constitui um “livro-razão distribuído” confiável, com um protocolo
Blockchain
e derrubando barreiras para que empresas e indivíduos criem riqueza, alterando ambientes
pessoais e profissionais. Emparelham oferta e demanda de forma acessível (com baixo custo),
semeiam confiança, permitem interação entre as partes e fornecem feedback. Como
exemplos, podem ser citados o Uber, o Airbnb, o Alibaba e o Netflix.
5
A capacidade de determinar a constituição genética individual de forma eficiente e
genética
Terapia
econômica irá revolucionar cuidados diversos com a saúde, possibilitando tratamentos
direcionados. O aumento da quantidade de dados fomentará a medicina de precisão, com
terapias ainda mais específicas, em busca de maior efetividade nos tratamentos.
A fabricação em 3D aliada à edição de genes permite não só produzir tecidos vivos, mas
Tecidos
técnica já está sendo utilizada para criar pele, osso, coração, tecido vascular e partes de
órgãos transplantáveis.
Consiste em monitorar a atividade do cérebro e verificar como ele muda e/ou se relaciona
tecnologia
Neuro-
6
Elemento fundamental nesta transformação, a TI (Tecnologia da Informação) será a
alma desta nova indústria, passando a ter uma a atuação muito mais abrangente. Dos
atuais service e help desks - estruturas que visam fornecer um canal de comunicação e
prestação de serviços entre usuários e equipe de TI, bem como informações e suporte
relacionados aos produtos e serviços de uma empresa ou instituição - passarão a atuar
também no chão de fábrica, auxiliando na implantação e desenvolvimento de
tecnologias de apoio tanto à produção quanto ao negócio.
Muitas das grandes corporações ao redor do mundo já estão se movimentando nesta
direção, redefinindo estratégias visando se antecipar a essa tendência e adquirir maior
competitividade. Na General Electric, por exemplo, a antiga área de TI se tornou DT
(Digital Technology) e foi responsável por entregar quase 1 bilhão de dólares em
ganhos de produtividade nos últimos anos.6
Tecnologias como Big Data, computação em nuvem, segurança cibernética e
integração de sistemas deixam de estar restritas a escritórios e irão contribuir também
com as linhas de produção7,8. Além das tecnologias citadas anteriormente, robôs
autônomos, internet das coisas, impressoras 3D e realidade aumentada são alguns
exemplos de tecnologias que já estão sendo aplicadas em plantas industriais por todo
o mundo1. A Figura 1010.5-1 ilustra algumas tecnologias relacionadas à Indústria 4.0
que estão ganhando mercado9.
7
No final dos anos 80, Mark Weiser criou o conceito “Computação Ubíqua”10, em que
pessoas são colocadas dentro do mundo gerado pelo computador, e é o computador
que se integra à vida das pessoas, de modo que elas não o percebem, mas o utilizam 11.
Já naquele tempo ele percebeu que a computação passaria a fazer parte do dia a dia
das pessoas sem, necessariamente, a presença de um computador, e que diversos
serviços estariam disseminados em uma série de dispositivos conectados entre si. Sua
previsão se mostrou acertada, e foi um prenúncio do que é conhecido atualmente
como Internet das Coisas, do inglês Internet of Things (IoT) 11, ilustrada na Figura 10-2.
Por definição, a Internet das Coisas nada mais é do que a conexão de objetos, pessoas
e utensílios à rede mundial de computadores, permitindo a identificação, o
reconhecimento e a comunicação entre eles, integrando o mundo físico ao mundo
digital. Em suma, é a computação ubíqua de Mark Weiser10 se concretizando. Base da
IoT, a possibilidade de conectar coisas unida à possibilidade de coletar e processar um
grande volume de dados sobre estas, trouxe inúmeras possibilidades de aplicação no
dia a dia das pessoas, já sendo possível perceber uma mudança na forma como as
pessoas vivem, consomem e se relacionam.
8
vantagem a ser considerada é a agilidade na resolução de problemas: a conexão de
diversos equipamentos em uma mesma rede permite diminuir tempo de inatividade,
melhorar a manutenção dos recursos e reduzir a ocorrência de incidentes.
Ao aplicar os conceitos da Internet das Coisas à indústria, obtém-se uma nova visão
sobre como coletar e processar informações de componentes, máquinas ou processos,
antes inviáveis econômica ou tecnicamente13. Essa automatização de todos os
processos da cadeia produtiva otimiza resultados, reduz custos e torna a indústria mais
segura e mais limpa.12
Nesse cenário, foi cunhado o termo “Indústria Inteligente” ou “Smart Manufacturing”
(SM), que corresponde à integração de dados e informações, em tempo real, obtidas a
partir de equipamentos em rede, permitindo automatizar o raciocínio, a compreensão,
o planejamento e a gestão de praticamente todos os aspectos de uma produção e/ou
cadeia de suprimentos de uma empresa.
Facilitada pelo uso de avançadas ferramentas de análise de dados baseadas em
sensores, modelagem e simulação em tempo real, a Indústria Inteligente possibilita
disponibilizar informações quando, onde e na forma que são necessárias ou mais úteis,
incorporando a noção de “inteligência” à fabricação de produtos durante todo o seu
ciclo de vida, incluindo projeto, engenharia, planejamento e produção.
Segundo Sujeet Chand e Jim Davies5, as transformações provocadas pelas tecnologias
da Indústria Inteligente ocorrerão em três fases rápidas e progressivas, conforme
apresentado no Quadro 10.5.
Quadro 10.5 – Transformações provocadas pelas tecnologias da Indústria Inteligente
9
produtos tóxicos poderão emitir sinais automáticos em diversas situações, entre elas:
ocorrência de vazamentos; incompatibilidade entre elementos químicos armazenados
em locais próximos; níveis máximos de determinado componente dentro de cada
compartimento.
Redução de custos: agilizar os processos e reduzir custos em cadeias produtivas mais
extensas. No controle de insumos, por exemplo, já existem tecnologias que permitem
ao gestor da fábrica ter uma visão em tempo real das quantidades armazenadas ou,
até mesmo, dispositivos que identificam em tempo real reservas críticas de insumos e
abastecem linhas de produção automaticamente.
Manutenção: utilizando dispositivos eletrônicos industriais (gadgets), prever o melhor
momento para a troca de determinado componente ou a manutenção de uma
máquina, bem como quais problemas podem afetar o maquinário em um futuro
próximo, evitando quebra e parada de produção.
Acompanhamento de linhas de produção: controlar e monitorar todas as fases,
acompanhando em tempo real motivos de parada de uma linha, identificando onde
está o problema e já apontando a solução. Áreas como logística e compras ganham
muito com dados em tempo real, reduzindo armazenamento de matéria prima e
custos de transporte.
Aplicação da manufatura enxuta (Lean Manufacturing): permitir o gerenciamento
contínuo dos desvios, como excesso de produção, tempo de espera, transporte
desnecessário, excesso de processamento, excesso de estoque, movimentação
desnecessária de insumos e quebras de qualidade. De nada adiantaria ter tecnologias
avançadas e coletar dados de um processo de manufatura mal estruturado, com
perdas, pois isso significaria a digitalização do desperdício. A Manufatura Enxuta (ou
Lean Manufacturing) é uma filosofia de gestão que busca reduzir o tempo entre o
pedido do cliente e a entrega, por meio da eliminação de desperdícios. A Internet
Industrial das coisas vem ao encontro dos preceitos da Manufatura Enxuta.
Produção sob demanda: de forma alinhada à manufatura enxuta, permitir que o
planejamento da produção seja realizado de acordo com a demanda dos clientes e
com o fluxo de materiais. Toda a produção é realizada considerando a quantidade de
produtos vendidos aos clientes e, somente aí, a quantidade a ser produzida é definida
pela fábrica. Nesse cenário, o processo de venda “puxa” os insumos necessários para
que a fábrica atenda a demanda real feita pelos clientes (o que é conhecido como
“produção puxada”), eliminando produção em excesso. Uma produção enxuta, sem
desperdícios, possibilita menores custos e melhores resultados, seja na lucratividade
para o empresário, seja no preço final para o cliente, seja na redução de impactos ao
meio ambiente.
10
10.6 Exemplos de aplicações da Indústria 4.0
A aplicação da IoT nos diversos setores da indústria mundial já é uma realidade.
Segundo a Gartner14, até 2020, o mercado de IoT movimentará cerca de US $ 300
bilhões, com mais de 26 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, gerando
negócios de, aproximadamente U$1,7 trilhões. Para se ter um parâmetro comparativo,
em 2014 existiam 7,3 bilhões de smartphones, tablets e PCs. Trata-se de um mercado
gigantesco e que só tende a crescer. Visando não ficar de fora destas oportunidades,
indústrias de todo o mundo estão se movimentando, como é possível constatar nos
exemplos apresentados a seguir.15
11
Entretanto, para se aproveitar de todos os dados gerados por estas transformações, a
indústria automobilística terá de fazer uma mudança estratégica. Um estudo da
KPMG19 relata que as montadoras tradicionais lidam com a enorme pressão temporal
para adequar seu modelo de negócios para a tendência móvel e conectada. Elas terão
que definir qual estratégia seguir: permanecer apenas como fornecedoras de veículos,
deixando que novos entrantes no mercado concorram entre si pelos dados do cliente,
ou serem protagonistas e expandir seu modelo de negócios para além da produção de
automóveis19. Tal estudo também indica quatro temas fundamentais para um
posicionamento estratégico bem-sucedido nos próximos anos: mudanças profundas no
modelo de relacionamento com os clientes; conectividade e data analytics como
plataforma para novos modelos de negócio; ciclos de inovação mais curtos e
customização como estratégia de fidelização; uso de padrões comportamentais
existentes em dados relacionados a IoT, em busca de informações ainda mais úteis
(Internet of Behaviour).20
12
10.6.2.2 No consumo – Ênfase no Comércio
A Internet das Coisas vai mudar radicalmente a forma como é consumida a energia. Ela
vai permitir aos consumidores entender melhor seu consumo de energia em tempo
real, para criar recomendações personalizadas baseadas nos dados coletados dos
usuários, utilizando big data e analytics.
Atualmente, a maioria das redes elétricas funcionam em sentido único, com energia
fluindo das centrais elétricas para casas e empresas. Com uma rede inteligente, seria
possível fluir de múltiplas formas, permitindo às pessoas e empresas controlarem sua
própria energia, incluindo a venda de energia produzida22. Uma rede inteligente
permite que os consumidores predefinam como e quando seus lares e empresas usam
energia, incluindo a capacidade de controle via plataformas móveis, como
smartphones.
13
45% 35% 20% 19% 13%
Para o caso das instalações médicas, em um futuro não muito distante existirão
hospitais com dispositivos habilitados para IoT, de forma a monitorar seus pacientes,
independentemente de onde eles estiverem, e ter a informação coletada, armazenada
e enviada para qualquer lugar e em qualquer momento.
Os “hospitais inteligentes” serão capazes de manter atenção contínua em cada sinal
vital dos pacientes e ajustar automaticamente as máquinas sem intervenção humana.
Um médico poderá tratar seus pacientes à distância, sem necessidade de
deslocamentos, espera em filas, etc. A casa de uma pessoa idosa poderá ser equipada
com sensores que alertem seu médico para qualquer intercorrência.
Para alguns especialistas, a aplicação da IoT na área da saúde irá ajudar a diagnosticar,
tratar e prevenir doenças de forma muito mais eficiente e, certamente, irá salvar um
número significativo de vidas.25
14
com outros equipamentos (smartphones, monitores, laptops, etc), por meio de
identificação por rádio frequência (Radio Frequency IDentification – RFID).
Ainda no varejo, atacado e indústria, sensores instalados nas caixas e embalagens de
produtos poderão informar sobre os níveis de umidade e temperatura nos locais de
armazenamento, que poderão, por sua vez, realizar o ajuste automático ou sinalizar
para uma intervenção humana.
Em shoppings e lojas de departamentos, será possível o envio de mensagens sobre
ofertas e promoções de produtos específicos, diretamente para os smartphones dos
consumidores, com base em seus padrões de compra e interesse. Por exemplo, poderá
ser informada a disponibilidade de determinado item que o próprio consumidor
assinalou como de seu interesse em uma ocasião em que o item não estava disponível.
15
10.6.6 Setor de transporte
A aplicação da IoT nos sistemas de trânsito e na logística dos transportes de carga
pode salvar vidas, reduzir o tráfego e minimizar o impacto dos veículos no meio
ambiente, como ilustrado na Figura 10.6. Atualmente já é possível ver aplicações de
IoT nos diversos segmentos da área de transporte. No transporte público, o uso de
sistemas integrados e de conectividade permite uma maior eficiência da engenharia de
tráfego, aumentando a segurança, melhorando os serviços e agilizando as operações
do setor. Com esses recursos é possível manter o tráfego em movimento, gerenciando
as infraestruturas de transporte, avaliando as condições de vias e estradas e aliviando
congestionamentos.29
16
10.6.7 Edifícios inteligentes
As casas e edifícios do futuro serão inteligentes e sustentáveis. O avanço da tecnologia
tem permitido, cada vez mais, investimentos e tendências em prédios e casas
inteligentes.15
A sustentabilidade e a interconectividade deverão ser os grandes propulsores da
construção civil em um futuro breve. O objetivo é empregar as tecnologias em
benefício de uma construção inteligente. Tudo deverá ser pensado de forma
sustentável e com o menor impacto ambiental possível: a gestão e o controle do
consumo de água e energia; a coleta de água das chuvas; o tratamento de esgotos; a
coleta e destinação do lixo; o controle de acesso.
Além disso, em um mundo no qual as pessoas estão, cada vez mais, conectadas, a
demanda por ambientes que ofereçam essas facilidades, com base nas preferências
dos moradores, deverá ser um ponto de atenção dos incorporadores.
Dentro das tendências para o setor estão a “aprendizagem automática” e a
“conectividade 5G”. A aprendizagem automática permite que os sistemas dos edifícios
recolham, processem e utilizem informações coletadas para fornecer uma visão em
tempo real aos gestores de edifícios, o que possibilita tomar decisões mais rápidas
sobre manutenção e operações gerais. Já a conectividade 5G promove uma troca de
dados mais avançada entre os edifícios inteligentes, que serão uma parte importante
de base para cidades inteligentes do futuro.30
No Brasil, um bom exemplo de edifício inteligente é o Eldorado Business Tower,
situado em São Paulo. O prédio, de 32 andares, possui uma fachada de vidro especial
que permite aproveitar 70% da luz natural, retendo apenas 28% do calor, o que gera
economia em iluminação e ar-condicionado.
Seus elevadores possuem um dínamo que, a cada chegada e partida, regenera e
reaproveita a energia. Isso gera uma economia de 50% em relação ao que é consumido
por um elevador comum.31
17
Figura 10.6 – Casa Conectada (https://br.freepik.com)
18
o potencial com a IoT está na sua pouca e/ou ainda escassa “Capacidade Nacional de
Absorção”35. Estudo realizado pela Accenture em 2015, ilustrado na Figura 10.7,
apontou que, entre as 20 economias cuja CNA foi calculada, o Brasil aparece em 17º
lugar.
Tal estudo constata que o Brasil sofre de escassez das capacidades que dão suporte à
CNA35, entre elas:
19
competitiva. No entanto, o Brasil se estabeleceu no mercado como fornecedor de
commodities, e precisa encarar a inovação de forma séria.
20
da engenharia para criar uma nova solução para uma necessidade ou um problema.
Em geral, a solução também é limitada pela realidade econômica, sendo necessário
não só atender à necessidade em questão, mas também fazê-lo com baixo custo.
21
de vendas
Engenheiros Necessários na indústria para coordenar as atividades da equipe tecnológica
gerentes
Engenheiros Especialistas contratados por empresas para complementar a competência em
consultores engenharia de seu corpo de funcionários
Engenheiros Ensinam a outros engenheiros os fundamentos de cada especialidade da
professores engenharia
Competência Descrição
• Matemática, ciência e engenharia
Conhecimentos • Temas contemporâneos, mais amplos, necessários para entender o impacto de
soluções de engenharia em um contexto global e social
• Projetar e conduzir experimentos
• Analisar e interpretar dados
• Projetar sistema, componente ou processo que atenda as especificações
Habilidades
• Identificar, formular e solucionar problemas de engenharia
• Comunicar eficientemente, trabalhando em equipes multidisciplinares
• Utilizar técnicas, aptidões e ferramentas modernas de engenharia
• Responsabilidades profissionais e éticas
Atitudes
• Consciência da necessidade de aprendizado contínuo
Segundo Schwab1, para enfrentar os desafios da Indústria 4.0, será necessário adaptar,
dar forma e aproveitar o potencial das rupturas pela aplicação de quatro tipos
diferentes de inteligência: a contextual (uso da mente para desenvolver uma
percepção holística, antecipar tendências emergentes e “ligar os pontos”); a emocional
(relacionada ao coração, busca processar e integrar pensamentos e sentimentos
visando aprimorar relacionamentos com os outros e consigo mesmo); inspirada
(enfoca a alma, explorando sentimentos de individualidade e de propósito
compartilhado, a confiança e outras virtudes pensando no bem comum); a física (cuida
do corpo, da saúde e do bem-estar pessoal, visando aplicar a energia necessária para a
transformação individual e dos sistemas). Além de visão técnica apurada, o profissional
da Indústria 4.0 precisa ter espírito colaborativo, desenvolver o senso crítico, saber se
comunicar em vários idiomas, estar aberto a mudanças, ter flexibilidade para se
22
adaptar às novas funções e se habituar a uma aprendizagem multidisciplinar
contínua.41
23
Apesar de os problemas a serem resolvidos serem de engenharia, a base para a sua
resolução está na ciência básica, incluindo, entre outros, matemática, física,
computação e química. Para tal, é necessário que o ciclo básico explore mais o
potencial de aplicação, de forma a possibilitar aos alunos entenderem com mais
clareza a aplicação do conteúdo que está sendo estudado.
Também é importante destacar que boa parte dos alunos atuais não farão parte do
futuro das empresas com a grade atual de ensino. A gestão de negócios atual tem
mostrado que o mundo digital passou a valer muito mais que o real, enfatizando a
servitização42, processo pelo qual a produção de bens industrializados tem evoluído
para uma visão mais abrangente, agregando serviços e permitindo um maior foco na
função do que no produto físico. Como exemplo, a rede de hotéis Hilton, fundada em
1919, atualmente com cerca de 2500 hotéis em 80 países e 130.000 colaboradores,
passou a valer muito menos que o Airbnb, solução que presta serviços de hospedagem
por meio do uso de redes e não é proprietária de nenhuma de suas acomodações.
Nesse contexto, a inclusão na grade curricular de disciplinas de empreendedorismo e
inovação passou a ser fundamental, uma vez que empreender vai muito além de abrir
uma empresa e obter um CNPJ. Engloba trabalhar competências fundamentais como
criatividade, resiliência, proatividade, trabalho em equipe, comunicação e
interpretação, bem como desenvolver uma visão diferenciada em tudo o que se faz,
encarar desafios, com foco principal no resultado. Inclui não só aprender, mas também
errar muito, até acertar. Hoje nas escolas o aluno é treinado para não errar, o que vai
na contramão do que ocorre no mercado.
Enfim, os modelos de negócio atuais requerem uma nova estruturação nos cursos,
sendo imprescindível repensar a educação. É necessário ter mais clareza em relação ao
que as empresas podem fazer pelas escolas e a escolas pelos futuros engenheiros. É
muito mais difícil desenvolver algo inovador tendo que trabalhar sozinho, importar
conceitos, tecnologias e equipamentos, sendo fundamental ter startups trabalhando
em tecnologias de ponta e praticando inovação aberta junto a escolas e outras
corporações. Seguindo essa mesma linha, o melhor profissional é aquele que entende
e encara as suas limitações e busca a complementação de seu perfil com seus colegas,
evidenciando a importância do trabalho em equipe. Ao final, as oportunidades
aparecem para aqueles que estão melhor preparados.
24
10.9 Resumo
Neste capítulo apresentamos uma visão geral das origens, conceitos, características,
implicações e tendências da Quarta Revolução Industrial, também denominada
Indústria 4.0, bem como exploramos o perfil profissional desejado para um engenheiro
capaz de atuar de forma efetiva neste cenário, chamando atenção para a necessidade
de mudanças no ensino da engenharia.
25
e desenvolver a capacidade de integrar inovações de ruptura à economia e
sociedade.
• Ser engenheiro requer combinar conhecimentos para solucionar problemas
técnicos com os quais se defronta a sociedade. Em geral ele atua como parte
de uma equipe tecnológica, que envolve vários perfis, e pode desempenhar
funções em várias áreas, trabalhando em alguma especialidade da engenharia.
• Para ter sucesso como engenheiro no cenário atual, além de conhecimento
técnico e domínio de programação, torna-se necessário: cultivar várias
habilidades, entre elas a criatividade, a comunicação e o senso crítico; saber
trabalhar em equipe, de forma proativa e ética; adaptar, dar forma e aproveitar
o potencial das mudanças pela aplicação dos quatro tipos de inteligência
(contextual, emocional, inspirada e física).
• O ensino da engenharia precisa evoluir para suprir a lacuna identificada entre
as demandas de engenharia científica e prática. Uma das iniciativas que tem
ganhado espaço entre as universidades é o padrão educacional CDIO -
Conceiving-(Conceber), Designing-(Projetar), Implementing-(Implementar) e
Operating-(Operar).
10.10 Referências
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2 PERASSO, V. O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas
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7 ITSA BRASIL. Indústria 4.0 exige foco maior em segurança (2016). Disponível
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8 CALVO, S. Siemens inaugura Centros de Operação de Segurança Cibernética
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26
http://www.bitmag.com.br/2016/04/siemens-inaugura-centros-de-operacao-
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10 WEISER, M. The computer of the 21st century. Disponível em
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11 DOMINGUES, F. L. Computação Ubíqua (2008). Disponível em
http://www.hardware.com.br/artigos/computacao-ubiqua. Acesso em
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30
IX. O movimento das pessoas em todo o mundo, conhecido como mobilidade
humana, tem um papel importante na sociedade e na economia,
transformando culturas e gerando riquezas. A revolução digital criou novas
possibilidades de comunicação e potencializou a mobilidade física. Qual será o
impacto da Quarta Revolução Industrial na mobilidade humana?
31