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Capitulo 10 - Industria 4.0 - Ana Liddy

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Capítulo de livro a ser publicado pela Fabrefactum Editora.

É proibida a sua cópia e distribuição


sem a permissão, por escrito, da referida editora.

10 A QUARTA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL E A INDÚSTRIA 4.0

Ana Liddy Cenni de Castro Magalhães


Bernardo Santos Suarez

10.1 Introdução
Desde o início do século XXI, o mundo tem se deparado com a mais extensa e profunda
transformação da paisagem tecnológica, que está alterando significativamente a
maneira como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam. Fomentada por grandes
transformações e grandes desafios, uma nova revolução se desenvolve a partir do
processo de digitalização da operação industrial, trazendo tecnologia de ponta para o
chão de fábrica, integração massiva de componentes em rede e inteligência para
objetos, gerando diversas oportunidades para pessoas, empresas e países, o que
culminará com a transformação de toda a sociedade.
Denominado Quarta Revolução Industrial, tal movimento envolve o uso de avanços da
tecnologia de comunicação e informação para aumentar o grau de automação e
digitalização em processos industriais, englobando a concepção, desenvolvimento e
fabricação de produtos. A informatização e conexão em rede de máquinas, aliada à
automação industrial, proporciona inteligência à manufatura, abrindo um universo de
possibilidades para diferentes fabricantes: máquinas interconectadas podem conversar
e trocar comandos entre si, armazenar dados na nuvem, identificar defeitos e fazer
correções sem precisar de ajuda. Dessa forma, busca-se gerir todos os processos da
cadeia de valor, em busca de maior eficiência no processo produtivo e obtenção de
produtos e serviços de qualidade superior, com ganhos que podem ir muito além de
questões financeiras, caso a oportunidade seja bem explorada.
O momento é desafiador, mas também, extremamente rico e estimulante. Mesmo nos
países que saíram à frente, o cenário como um todo ainda não é realidade. Para países
pobres ou em desenvolvimento, como o Brasil, os desafios se mostram ainda maiores,
porém abrem possibilidades de alavancar oportunidades pouco exploradas, utilizando
parcerias e colaboração entre empresas inovadoras de diversos segmentos, tanto
consolidadas quanto nascentes, em busca de formas para se reinventar a indústria.
1
Jovens que estão chegando ao mercado de trabalho e aqueles que ainda estão na
universidade correm um sério risco de ficarem com sua formação obsoleta caso não
busquem qualificações e aprendizado em consonância com as novas tecnologias.
Neste capítulo você compreenderá o que é a Quarta Revolução Industrial, também
conhecida como Indústria 4.0. Inicialmente será apresentada uma visão geral das
origens, conceitos, características, implicações e tendências deste movimento, seguida
de exemplos de aplicação. Na sequência, será explorado o perfil profissional desejado
para um engenheiro da Indústria 4.0, bem como a necessidade de mudanças para o
ensino da engenharia.

10.2 Breve histórico das revoluções industriais


Desde os primórdios da civilização, a sobrevivência do ser humano sempre esteve
ligada à sua capacidade de engenho e à sua criatividade para enxergar oportunidades e
promover mudanças em seu benefício - e a história da indústria não foge a esta regra.
Pautadas pela constante presença da criatividade e da busca por oportunidades, as
transformações sofridas pela indústria ao longo dos séculos podem ser resumidas
conforme apresentado no Quadro 10.2. O aspecto revolucionário destas
transformações está associado à mudança abrupta e radical decorrente da evolução de
novas técnicas, ao domínio de novas tecnologias e ao uso de novos instrumentos de
produção, que acabaram impactando não só a forma de se produzir e a escala de
produção, mas também a maneira como as pessoas se relacionam entre si e com o
meio em que vivem, desencadeando uma alteração profunda nas estruturas sociais e
nos sistemas econômicos.1,2
Quadro 10.2 – Transformações sofridas pela indústria ao longo dos séculos

Revolução Origem e Características


Surge na Inglaterra, decorrente da mecanização dos sistemas de
produção, com o uso de energia hidráulica e a invenção de máquinas a
vapor, aplicadas respectivamente na produção têxtil e no transporte
ferroviário. Levou ao aumento da quantidade de profissões, de unidades
de produção (fábricas) e de mercadorias produzidas. Algumas cidades
passaram a crescer de forma acelerada e também o campo passou por
Primeira: fim Séc XVIII a um processo de mecanização. Em poucas décadas se espalhou para a
início Séc XIX (1784) Europa Ocidental e os Estados Unidos.
Surge nos Estados Unidos, impulsionada pela disponibilidade de energia
elétrica, a divisão do trabalho e a produção em massa, tendo a Ford e seu
Modelo T como arquétipo. O uso de linhas de montagem possibilitou a
produção em série e em massa. Diversos inventos passaram a ser
Segunda: fim Séc. XIX a produzidos e comercializados, como automóveis, telefones, televisores,
início Séc. XX (1870) rádios e aviões.

2
Revolução Origem e Características
Surge após a Segunda Grande Guerra, como “revolução digital”,
impulsionada pelo desenvolvimento da eletrônica, com o uso de
semicondutores, criação e disseminação dos computadores mainframe
(1960) e pessoal (1970-1980), bem como da internet (1990). A economia
internacional passou por profundas transformações decorrentes da
automação da produção, uso da eletrônica e da tecnologia da
Terceira: meados Séc. XX informação, com o lançamento contínuo de novos produtos, a elaboração
(década de 1960) de novas máquinas e o aprimoramento de equipamentos de informática
e de robôs.
Baseada na revolução digital, não diz respeito apenas a sistemas e
máquinas inteligentes conectadas, mas à fusão de diversas tecnologias e
sua interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos. Ocorre uma
fusão do mundo físico e do virtual com o uso da inteligência artificial e
outras tecnologias. Possibilita produção em rede mais precisa, de baixo
Quarta: Séc XXI custo, que permite personalização em massa com velocidade. A produção
(a partir de 2011) humana é aumentada pela potência aprimorada da cognição.

10.3 A 4a Revolução Industrial e a Indústria 4.0


A Quarta Revolução Industrial teve início na Alemanha em 2011, a partir de um projeto
estratégico de alta tecnologia do Governo Alemão, batizado de “Indústria 4.0”, que
promovia a informatização da manufatura utilizando diversas inovações tecnológicas1.
Durante a Feira de Hannover, voltada para máquinas, ferramentas e automação
industrial, por iniciativa do próprio Governo Alemão, foi lançado o desafio de unir
empresas e universidades na busca de inovações tecnológicas que pudessem
beneficiar e transformar o setor industrial. Tal movimento contagiou o mundo e
passou a receber diversas denominações: na Europa, foi designado “Fábrica do Futuro”
(Factories of the Future); nos Estados Unidos, houve preferência pelo termo
“Manufatura Avançada” (Advanced Manufacturing); a General Electric (GE) cunhou o
termo “Internet Industrial” (Industrial Internet) e a IBM preferiu utilizar “Fábrica
inteligente” (Smart Factory) 1,2,3. O termo “Internet das Coisas” (Internet of Things) se
tornou popular, embora também englobe dados, serviços e pessoas, razão pela qual
existe uma tendência pelo termo “Internet de Tudo” (Internet of Everything).
Independentemente de sua denominação, a Quarta Revolução Industrial possui escala,
escopo, velocidade, amplitude e complexidade bem diferente das Revoluções
anteriores: bilhões de pessoas conectadas por dispositivos (móveis e fixos), gerando
um volume incomensurável de dados, usufruindo de recursos de armazenamento e
necessitando de um poder de processamento e geração de conhecimento em um
ritmo sem precedentes. Junta-se a isso a diversidade de tecnologias abrangendo
diversas áreas, entre elas, inteligência artificial (IA), robótica, internet das coisas (IoT),

3
veículos autônomos, impressão em 3 dimensões, nanotecnologia, biotecnologia,
ciência dos materiais, computação quântica e uma variedade de formas de geração e
armazenamento de energia. Essas tecnologias acabam se fundindo nos mundos físico,
digital e biológico.
As características advindas da Quarta Revolução Industrial afetam profundamente
diversos setores da sociedade, trazendo novos modelos de negócio e descontinuidade
de outros, bem como reformulação da produção, do consumo, dos transportes, da
educação, da saúde, dos governos e das instituições, entre tantos outros. Tais
transformações acabam afetando o comportamento e o relacionamento das pessoas
no tocante à forma de trabalho, de diversão e lazer, de comunicação e expressão,
trazendo uma série de incertezas quanto aos desdobramentos decorrentes destas
transformações para a sociedade atual. Neste cenário, é importante que governos,
empresas, universidades e sociedade civil busquem, juntos, entender as tendências
emergentes.

10.4 Tendências da Indústria 4.0


As descobertas científicas e as novas tecnologias derivadas de transformações
recentes parecem ilimitadas, podendo ser desdobradas em várias frentes. Os quadros
a seguir descrevem as megatendências físicas, digitais e biológicas considerando
alguns dos principais impulsionadores tecnológicos da Indústria 4.0, baseada em
pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial.1,4
Quadro 10.4 – Megatendências físicas da indústria 4.0

São veículos com capacidade de transporte de pessoas ou bens sem a utilização de um


autônomos

condutor humano. Inclui não só carros, mas também caminhões, drones, aviões e barcos.
Veículos

Usam tecnologias que combinam sensores e processam grandes volumes de dados em tempo
real, possibilitando perceber o ambiente e reagir, otimizando percursos ou alterando rotas
para evitar colisões. Podem realizar diversas tarefas, como verificação de linhas transmissão
de energia elétrica, distribuição de adubo e água na agricultura e entrega de suprimentos.
Também conhecida como manufatura aditiva, é a capacidade de criar objetos utilizando a
Impressão

impressão em camadas, a partir de modelos computacionais em 3D e utilizando compósitos


3D

específicos. Pode ser produzido por unidade, personalizado, e usado tanto para artefatos de
grandes dimensões, como turbinas eólicas, quanto pequenas, como implantes médicos. É
principalmente utilizada nas indústrias automotiva, aeroespacial e médica.
Constituída por robôs com capacidade de tomada de decisão baseada em parâmetros
Robótica avançada

coletados por meio de instrumentação. Antes confinados a indústrias, robôs são cada vez mais
utilizados em todos os setores e para uma ampla gama de tarefas, sendo mais adaptáveis e
flexíveis. Avanços em sensores e em sua concepção estrutural e funcional permitem imitar
padrões e estratégias da natureza (denominado biomimetismo), bem como compreender e
responder melhor ao seu ambiente. Podem agora acessar informações remotas na nuvem e se
conectar a uma rede de outros robôs, enfatizando a colaboração humano-máquina.

4
Materiais cada vez mais leves, resistentes, com maior capacidade de armazenamento de calor
ou mesmo de condução de energia chegam ao mercado, podendo ser também recicláveis e
Novos materiais adaptáveis. Reforçam a lista materiais inteligentes, com capacidade de autorreparação ou
autolimpeza, bem como metais com memória, que conseguem retornar à sua forma original,
além de cerâmicas e cristais que transformam pressão em energia. Modernos nanomateriais,
como o grafeno, precisam ainda se tornar financeiramente competitivos para uso mais amplo,
mas possuem potencial para revolucionar indústrias de fabricação e infraestrutura. Inovações
em plásticos termofixos permitem ainda transformar em materiais reutilizáveis aqueles antes
considerados não recicláveis.

Quadro 10.4 – Megatendências digitais da indústria 4.0

Incluem os dispositivos conectáveis que podem ser levados junto com a pessoa, como por
Dispositivos

exemplo um smartphone, smartwatch ou mesmo um tablet. O número de dispositivos


móveis

conectados à internet possivelmente atingirá a ordem de 1 trilhão nos próximos anos1,


alterando a forma de gerenciar a cadeia de fornecimento à medida que permite monitorar e
otimizar ativos e atividades de forma bastante granular.
A Identificação por Radiofrequência (Radio-Frequency Identification em inglês) tem a
capacidade de identificar vários itens de uma vez, a uma certa distância. Sensores e
RFID

transmissores menores, mais baratos e inteligentes, são instalados em objetos, pacotes,


paletes ou contêineres, possibilitando sua identificação e rastreamento em diversas
aplicações, como processos de fabricação, redes de transporte e cadeias de fornecimento.
Internet das Coisas pode ser entendida como redes de equipamentos móveis que são capazes
de armazenar e transmitir informações. Sensores e vários outros meios de conectar coisas do
IoT

mundo físico às redes virtuais proliferam rapidamente. Principal ponte entre as aplicações
físicas e digitais, a Internet das Coisas (IoT) permite relacionar, por exemplo, produtos,
serviços, lugares e pessoas, usando diversas plataformas e tecnologias conectadas.
É uma rede de ativos digitais que tem como objetivo a descentralização da informação como
forma de mantê-la segura, pela qual todas as transações realizadas deverão ser validadas por
vários ativos diferentes. Constitui um “livro-razão distribuído” confiável, com um protocolo
Blockchain

criptograficamente seguro utilizado em redes de computadores para verificar transações


financeiras realizadas em moedas digitais (como o Bitcoin), de forma coletiva, antes de
registrá-las e aprová-las. Cria confiança entre pessoas desconhecidas sem a necessidade de
passar por uma autoridade central neutra, como um banco. Não é controlado por nenhum
usuário único, podendo ser inspecionado por todos. Seu uso está se expandindo para outros
tipos de registros, como os de cartório.
Fáceis de usar em smartphones, permitem reunir pessoas, ativos e dados, criando formas
Plataforma de

novas de consumir bens e serviços, movimentando a economia compartilhada (sob demanda)


Serviços

e derrubando barreiras para que empresas e indivíduos criem riqueza, alterando ambientes
pessoais e profissionais. Emparelham oferta e demanda de forma acessível (com baixo custo),
semeiam confiança, permitem interação entre as partes e fornecem feedback. Como
exemplos, podem ser citados o Uber, o Airbnb, o Alibaba e o Netflix.

Quadro 10.4 – Megatendências biológicas da indústria 4.0

Com a redução de custos e maior facilidade do sequenciamento genético, já é possível


realizar a ativação ou edição de genes do DNA. Com a biologia sintética, será possível criar
DNA

organismos personalizados, escrevendo sua sequência de DNA, o que causará impacto


profundo e imediato na medicina, na agricultura e na produção de biocombustíveis.

5
A capacidade de determinar a constituição genética individual de forma eficiente e

genética
Terapia
econômica irá revolucionar cuidados diversos com a saúde, possibilitando tratamentos
direcionados. O aumento da quantidade de dados fomentará a medicina de precisão, com
terapias ainda mais específicas, em busca de maior efetividade nos tratamentos.

Potencialmente aplicável a qualquer tipo de célula, permite a criação de plantas ou animais


biológica
Edição

geneticamente modificados, bem como modificação de células de seres humanos. É mais


precisa, eficiente e fácil de usar que métodos desenvolvidos na década de 1980. Possibilitará
a revolução da pesquisa e tratamento médico, com lista de possíveis aplicações interminável.

A fabricação em 3D aliada à edição de genes permite não só produzir tecidos vivos, mas
Tecidos

também a reparação e regeneração de tecidos, o que é denominado bioimpressão 3D. Tal


vivos

técnica já está sendo utilizada para criar pele, osso, coração, tecido vascular e partes de
órgãos transplantáveis.

Consiste em monitorar a atividade do cérebro e verificar como ele muda e/ou se relaciona
tecnologia
Neuro-

com o mundo. Com a neurociência, aprende-se mais sobre o funcionamento do cérebro,


trazendo novas maneiras de incorporar e empregar dispositivos que monitorem os níveis de
atividade, composição sanguínea, saúde mental e bem-estar.

10.5 Características da Indústria 4.0


Na visão de teóricos que buscam delinear essa revolução5, as fábricas do futuro serão
constituídas por uma rede inteligente na qual máquinas, sistemas e ativos estarão
conectados, permitindo que todos os processos operacionais sejam totalmente
automatizados, o que acarretará:
• Descentralização de processos: tomada de decisões em tempo real mediante
necessidades apontadas pela produção, ou seja, as próprias máquinas fornecerão
dados a respeito de seu ciclo de trabalho, melhorando o processo de produção e
otimizando os resultados do negócio;
• Virtualização de sistemas: além dos processos operacionais, sistemas de produção,
máquinas, veículos e toda a planta da fábrica poderão ser rastreados, monitorados e
controlados de forma remota por meio de conexões existentes entre todos os
componentes;
• Versatilidade: construída em módulos de produção, estas fábricas se adequarão
conforme a necessidade e a produção se adaptará à demanda, trazendo agilidade e
economia ao processo produtivo.
Para atingir esse nível de maturidade e tomar decisões a partir de informações em
tempo real, todos os sistemas produtivos terão de ser controlados e monitorados e as
fábricas, necessariamente, deverão ser facilmente adaptáveis. Nesse sentido, as
indústrias ao redor do planeta terão que se reinventar e adotar as tendências
apresentadas anteriormente, sob o risco de perderem competitividade de mercado1.

6
Elemento fundamental nesta transformação, a TI (Tecnologia da Informação) será a
alma desta nova indústria, passando a ter uma a atuação muito mais abrangente. Dos
atuais service e help desks - estruturas que visam fornecer um canal de comunicação e
prestação de serviços entre usuários e equipe de TI, bem como informações e suporte
relacionados aos produtos e serviços de uma empresa ou instituição - passarão a atuar
também no chão de fábrica, auxiliando na implantação e desenvolvimento de
tecnologias de apoio tanto à produção quanto ao negócio.
Muitas das grandes corporações ao redor do mundo já estão se movimentando nesta
direção, redefinindo estratégias visando se antecipar a essa tendência e adquirir maior
competitividade. Na General Electric, por exemplo, a antiga área de TI se tornou DT
(Digital Technology) e foi responsável por entregar quase 1 bilhão de dólares em
ganhos de produtividade nos últimos anos.6
Tecnologias como Big Data, computação em nuvem, segurança cibernética e
integração de sistemas deixam de estar restritas a escritórios e irão contribuir também
com as linhas de produção7,8. Além das tecnologias citadas anteriormente, robôs
autônomos, internet das coisas, impressoras 3D e realidade aumentada são alguns
exemplos de tecnologias que já estão sendo aplicadas em plantas industriais por todo
o mundo1. A Figura 1010.5-1 ilustra algumas tecnologias relacionadas à Indústria 4.0
que estão ganhando mercado9.

Figura 1010.5-1 – Tecnologias relacionadas à Indústria 4.0

7
No final dos anos 80, Mark Weiser criou o conceito “Computação Ubíqua”10, em que
pessoas são colocadas dentro do mundo gerado pelo computador, e é o computador
que se integra à vida das pessoas, de modo que elas não o percebem, mas o utilizam 11.
Já naquele tempo ele percebeu que a computação passaria a fazer parte do dia a dia
das pessoas sem, necessariamente, a presença de um computador, e que diversos
serviços estariam disseminados em uma série de dispositivos conectados entre si. Sua
previsão se mostrou acertada, e foi um prenúncio do que é conhecido atualmente
como Internet das Coisas, do inglês Internet of Things (IoT) 11, ilustrada na Figura 10-2.

Figura 1010.5-2 – Internet das Coisas (https://br.freepik.com)

Por definição, a Internet das Coisas nada mais é do que a conexão de objetos, pessoas
e utensílios à rede mundial de computadores, permitindo a identificação, o
reconhecimento e a comunicação entre eles, integrando o mundo físico ao mundo
digital. Em suma, é a computação ubíqua de Mark Weiser10 se concretizando. Base da
IoT, a possibilidade de conectar coisas unida à possibilidade de coletar e processar um
grande volume de dados sobre estas, trouxe inúmeras possibilidades de aplicação no
dia a dia das pessoas, já sendo possível perceber uma mudança na forma como as
pessoas vivem, consomem e se relacionam.

10.5.1 Internet Industrial das Coisas e Indústria Inteligente


Um dos indícios de que a Indústria Inteligente está se tornando realidade é a chegada
da Internet das Coisas (IoT) e do Big Data ao setor de manufatura. A Internet das
Coisas aplicada à indústria, também conhecida como Internet Industrial das Coisas, é
uma rede de objetos físicos que contêm tecnologia incorporada para comunicar, sentir
e interagir com pessoas, softwares e outras máquinas. Ela permite também a
comunicação com outros dispositivos conectados, gerando uma rede inteligente, que
analisa dados, toma decisões e controla processos industriais em tempo real12. Outra

8
vantagem a ser considerada é a agilidade na resolução de problemas: a conexão de
diversos equipamentos em uma mesma rede permite diminuir tempo de inatividade,
melhorar a manutenção dos recursos e reduzir a ocorrência de incidentes.
Ao aplicar os conceitos da Internet das Coisas à indústria, obtém-se uma nova visão
sobre como coletar e processar informações de componentes, máquinas ou processos,
antes inviáveis econômica ou tecnicamente13. Essa automatização de todos os
processos da cadeia produtiva otimiza resultados, reduz custos e torna a indústria mais
segura e mais limpa.12
Nesse cenário, foi cunhado o termo “Indústria Inteligente” ou “Smart Manufacturing”
(SM), que corresponde à integração de dados e informações, em tempo real, obtidas a
partir de equipamentos em rede, permitindo automatizar o raciocínio, a compreensão,
o planejamento e a gestão de praticamente todos os aspectos de uma produção e/ou
cadeia de suprimentos de uma empresa.
Facilitada pelo uso de avançadas ferramentas de análise de dados baseadas em
sensores, modelagem e simulação em tempo real, a Indústria Inteligente possibilita
disponibilizar informações quando, onde e na forma que são necessárias ou mais úteis,
incorporando a noção de “inteligência” à fabricação de produtos durante todo o seu
ciclo de vida, incluindo projeto, engenharia, planejamento e produção.
Segundo Sujeet Chand e Jim Davies5, as transformações provocadas pelas tecnologias
da Indústria Inteligente ocorrerão em três fases rápidas e progressivas, conforme
apresentado no Quadro 10.5.
Quadro 10.5 – Transformações provocadas pelas tecnologias da Indústria Inteligente

Fases Transformações previstas


Fase 1 A integração dos dados de produção obtidos nas fábricas e o intercâmbio de
informações entre as empresas facilitarão melhorias imediatas e significativas na
produção e seus custos, na segurança e nos impactos ambientais.
Fase 2 Combinados com simulações computacionais e sistemas de modelagem, tais dados
permitirão criar uma inteligência de fabricação, produzindo efeitos de velocidade,
flexibilidade, produtividade e personalização.
Fase 3 Essa inteligência de fabricação inspirará inovações em processos e produtos que
revolucionarão o mercado, com preços muito mais baixos ao consumidor.

Neste contexto, as possibilidades de aplicação da Indústria Inteligente e da Internet


Industrial das Coisas se tornam infinitas, entre as quais podem ser vislumbradas
diversas vantagens, destacadas a seguir.
Segurança: permitir o monitoramento de plantas industriais para a redução do risco de
acidentes. Por exemplo, sensores acoplados a contêineres onde estão estocados

9
produtos tóxicos poderão emitir sinais automáticos em diversas situações, entre elas:
ocorrência de vazamentos; incompatibilidade entre elementos químicos armazenados
em locais próximos; níveis máximos de determinado componente dentro de cada
compartimento.
Redução de custos: agilizar os processos e reduzir custos em cadeias produtivas mais
extensas. No controle de insumos, por exemplo, já existem tecnologias que permitem
ao gestor da fábrica ter uma visão em tempo real das quantidades armazenadas ou,
até mesmo, dispositivos que identificam em tempo real reservas críticas de insumos e
abastecem linhas de produção automaticamente.
Manutenção: utilizando dispositivos eletrônicos industriais (gadgets), prever o melhor
momento para a troca de determinado componente ou a manutenção de uma
máquina, bem como quais problemas podem afetar o maquinário em um futuro
próximo, evitando quebra e parada de produção.
Acompanhamento de linhas de produção: controlar e monitorar todas as fases,
acompanhando em tempo real motivos de parada de uma linha, identificando onde
está o problema e já apontando a solução. Áreas como logística e compras ganham
muito com dados em tempo real, reduzindo armazenamento de matéria prima e
custos de transporte.
Aplicação da manufatura enxuta (Lean Manufacturing): permitir o gerenciamento
contínuo dos desvios, como excesso de produção, tempo de espera, transporte
desnecessário, excesso de processamento, excesso de estoque, movimentação
desnecessária de insumos e quebras de qualidade. De nada adiantaria ter tecnologias
avançadas e coletar dados de um processo de manufatura mal estruturado, com
perdas, pois isso significaria a digitalização do desperdício. A Manufatura Enxuta (ou
Lean Manufacturing) é uma filosofia de gestão que busca reduzir o tempo entre o
pedido do cliente e a entrega, por meio da eliminação de desperdícios. A Internet
Industrial das coisas vem ao encontro dos preceitos da Manufatura Enxuta.
Produção sob demanda: de forma alinhada à manufatura enxuta, permitir que o
planejamento da produção seja realizado de acordo com a demanda dos clientes e
com o fluxo de materiais. Toda a produção é realizada considerando a quantidade de
produtos vendidos aos clientes e, somente aí, a quantidade a ser produzida é definida
pela fábrica. Nesse cenário, o processo de venda “puxa” os insumos necessários para
que a fábrica atenda a demanda real feita pelos clientes (o que é conhecido como
“produção puxada”), eliminando produção em excesso. Uma produção enxuta, sem
desperdícios, possibilita menores custos e melhores resultados, seja na lucratividade
para o empresário, seja no preço final para o cliente, seja na redução de impactos ao
meio ambiente.

10
10.6 Exemplos de aplicações da Indústria 4.0
A aplicação da IoT nos diversos setores da indústria mundial já é uma realidade.
Segundo a Gartner14, até 2020, o mercado de IoT movimentará cerca de US $ 300
bilhões, com mais de 26 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo, gerando
negócios de, aproximadamente U$1,7 trilhões. Para se ter um parâmetro comparativo,
em 2014 existiam 7,3 bilhões de smartphones, tablets e PCs. Trata-se de um mercado
gigantesco e que só tende a crescer. Visando não ficar de fora destas oportunidades,
indústrias de todo o mundo estão se movimentando, como é possível constatar nos
exemplos apresentados a seguir.15

10.6.1 Setor automotivo


A alta capacidade de obtenção de dados e a possibilidade de realizar sua análise em
tempo real permite novos negócios para uma empresa, com a venda de serviços
gerados pelos dados ou a própria venda dos dados. Isso significa ganho em
produtividade e eficiência. Um exemplo básico é apresentado na Figura 10.6-3 e um
exemplo real pode ser obtido na fábrica da Volkswagen16: um modelo popular do novo
Golf tem 54 unidades computadorizadas, com quase 700 unidades de dados gerando
aproximadamente seis gigabytes de dados por hora por carro.

Figura 10.6-3 – Carro conectado com seus componentes trocando informações17

Quando conectado à IoT, o carro transforma dados em percepção, obtida pelo


tratamento dos dados contextualizados, gerando informação, tanto do interior do
veículo, quanto do mundo ao seu redor. Com isso, será possível acompanhar dados
sobre os motores, pressão dos pneus, consumo de combustível, localização,
velocidade, distância em relação a outros veículos, locais próximos para paradas e
necessidade de consertos, dentre outros aspectos18. Nesse cenário, o uso de
tecnologias de identificação em autopeças oferecerá à indústria, por exemplo,
possibilidades concretas de acompanhamento da utilização de cada componente,
informações para melhoria nos processos de produção e suporte proativo.

11
Entretanto, para se aproveitar de todos os dados gerados por estas transformações, a
indústria automobilística terá de fazer uma mudança estratégica. Um estudo da
KPMG19 relata que as montadoras tradicionais lidam com a enorme pressão temporal
para adequar seu modelo de negócios para a tendência móvel e conectada. Elas terão
que definir qual estratégia seguir: permanecer apenas como fornecedoras de veículos,
deixando que novos entrantes no mercado concorram entre si pelos dados do cliente,
ou serem protagonistas e expandir seu modelo de negócios para além da produção de
automóveis19. Tal estudo também indica quatro temas fundamentais para um
posicionamento estratégico bem-sucedido nos próximos anos: mudanças profundas no
modelo de relacionamento com os clientes; conectividade e data analytics como
plataforma para novos modelos de negócio; ciclos de inovação mais curtos e
customização como estratégia de fidelização; uso de padrões comportamentais
existentes em dados relacionados a IoT, em busca de informações ainda mais úteis
(Internet of Behaviour).20

10.6.2 Setor de energia


Segundo relatório da Intel Corporation15, as formas de geração, distribuição,
transmissão e consumo de energia deverão ser repensadas na era conectada. Novas
fontes de energia, direcionadores ambientais e regulatórios e novas demandas de
consumidores mostram que a rede elétrica deve se tornar uma infraestrutura
digitalizada, padronizada, automatizada e interoperável.

10.6.2.1 Na Geração e Distribuição - Ênfase na Indústria


Por meio da IoT, os vários dispositivos da rede de energia podem compartilhar
informações em tempo real para corrigir distorções e distribuir energia de maneira
mais eficiente, utilizando redes inteligentes, ou Smart Grids, que são sistemas de
distribuição e de transmissão de energia dotados de recursos de Tecnologia da
Informação (TI) e de elevado grau de automação, permitindo ampliar de forma
substancial a sua eficiência operacional. 21
A partir do conceito de Smart Grids, o fluxo de energia elétrica passa a ser bidirecional.
Assim, a energia tradicionalmente gerada, transmitida e distribuída de forma radial a
partir de instalações das concessionárias passa, também, a ser gerada e integrada às
redes elétricas a partir de casas, indústrias, prédios comerciais, entre outros. Os
setores de geração e distribuição de energia em que os dispositivos nas linhas de
distribuição são sensorizados e conectados à internet possibilitam controle, análise e
atuação na rede, a fim de otimizar a distribuição e aumentar a qualidade da energia
gerada.21

12
10.6.2.2 No consumo – Ênfase no Comércio
A Internet das Coisas vai mudar radicalmente a forma como é consumida a energia. Ela
vai permitir aos consumidores entender melhor seu consumo de energia em tempo
real, para criar recomendações personalizadas baseadas nos dados coletados dos
usuários, utilizando big data e analytics.
Atualmente, a maioria das redes elétricas funcionam em sentido único, com energia
fluindo das centrais elétricas para casas e empresas. Com uma rede inteligente, seria
possível fluir de múltiplas formas, permitindo às pessoas e empresas controlarem sua
própria energia, incluindo a venda de energia produzida22. Uma rede inteligente
permite que os consumidores predefinam como e quando seus lares e empresas usam
energia, incluindo a capacidade de controle via plataformas móveis, como
smartphones.

10.6.3 Setor de medicina e saúde


A indústria da saúde é hoje uma das que detém as maiores promessas para o uso da
IoT e será a força que vai revolucionar os tratamentos e melhorar a saúde dos
pacientes do século XXI 23.
Os chamados wearables clínicos (tecnologia vestível)24 já são usados amplamente no
controle de diversas patologias. Dados de saúde, como batimentos cardíacos, calorias,
passos e tempo de atividade física em cada momento do dia que, até então, eram
medidos apenas em consultórios, agora podem ser captados em tempo real, provendo
constante e simultaneamente informações até então nunca imagináveis. Estas
informações auxiliam o médico e o paciente no controle da redução de peso, redução
dos índices de glicemia e colesterol no sangue e a melhoria do quadro clínico de
diversas doenças crônicas.
Conforme ilustrado no gráfico da Figura 10.6-4, existem várias modalidades de
tecnologias vestíveis capazes de auxiliar no monitoramento de dados de saúde das
pessoas, sendo mais populares os acessórios, como óculos, relógios ou pulseiras.

13
45% 35% 20% 19% 13%

Figura 10.6-4 – Gráfico comparativo do uso de tecnologias vestíveis24

Para o caso das instalações médicas, em um futuro não muito distante existirão
hospitais com dispositivos habilitados para IoT, de forma a monitorar seus pacientes,
independentemente de onde eles estiverem, e ter a informação coletada, armazenada
e enviada para qualquer lugar e em qualquer momento.
Os “hospitais inteligentes” serão capazes de manter atenção contínua em cada sinal
vital dos pacientes e ajustar automaticamente as máquinas sem intervenção humana.
Um médico poderá tratar seus pacientes à distância, sem necessidade de
deslocamentos, espera em filas, etc. A casa de uma pessoa idosa poderá ser equipada
com sensores que alertem seu médico para qualquer intercorrência.
Para alguns especialistas, a aplicação da IoT na área da saúde irá ajudar a diagnosticar,
tratar e prevenir doenças de forma muito mais eficiente e, certamente, irá salvar um
número significativo de vidas.25

10.6.4 Setor de comércio


Uma área cujo potencial de aplicação de IoT apresenta oportunidades ilimitadas é o
comércio. A internet das coisas na indústria, atacado e varejo pode aumentar a
eficiência da cadeia de suprimentos, permitir novos serviços e mudar radicalmente a
experiência dos clientes.15
Um exemplo são as estantes inteligentes (Smart Shelves) que devem ser amplamente
utilizadas nos próximos anos. Com elas a indústria, atacado ou varejo terão
informações em tempo real sobre a disponibilidade dos produtos nas prateleiras e o
momento exato para reposição; terão ainda, alerta sobre deterioração de produtos,
necessidade de recolocação de material de merchandising, necessidades de aumento
ou redução de produção, dentre outros aspectos26. Tais estantes poderão interagir

14
com outros equipamentos (smartphones, monitores, laptops, etc), por meio de
identificação por rádio frequência (Radio Frequency IDentification – RFID).
Ainda no varejo, atacado e indústria, sensores instalados nas caixas e embalagens de
produtos poderão informar sobre os níveis de umidade e temperatura nos locais de
armazenamento, que poderão, por sua vez, realizar o ajuste automático ou sinalizar
para uma intervenção humana.
Em shoppings e lojas de departamentos, será possível o envio de mensagens sobre
ofertas e promoções de produtos específicos, diretamente para os smartphones dos
consumidores, com base em seus padrões de compra e interesse. Por exemplo, poderá
ser informada a disponibilidade de determinado item que o próprio consumidor
assinalou como de seu interesse em uma ocasião em que o item não estava disponível.

10.6.5 Setor de agronegócio


O agronegócio é um setor que já possui um grande avanço no uso de novas
tecnologias para o aumento e melhoria da produção, mas ele é, também, um dos que
mais deverá se apropriar, de forma muito intensa, dos recursos e possibilidades
advindas da Internet das Coisas.
Na pecuária já é possível ver hoje o monitoramento de bovinos. Com a utilização de
etiquetas RFID, é possível acessar uma série de informações sobre cada animal, como
sintomas de doenças em estágios iniciais, laudos de exames veterinários, doenças já
adquiridas e combatidas, histórico de vacinação, temperatura do corpo, dentre
outras27. Esses dispositivos auxiliam também na fiscalização da autenticidade,
rastreabilidade e controle do transporte, oferecendo mais segurança.
Na agricultura, o que se busca é a chamada agricultura de precisão: melhor produção
com o menor risco ambiental. Sensores instalados no campo enviam informações
precisas sobre temperatura, umidade do solo e do ar e permitem fazer análises em
tempo real para planejar o plantio e a colheita. 28
Com isso, será possível aumentar a produtividade, reduzindo os custos financeiros,
ambientais e sociais. Por exemplo, com o uso de sensores, será possível controlar o
nível de pesticidas e outras substâncias químicas utilizadas na produção. Outros
exemplos são as plantadeiras e semeadeiras conectadas a bancos de dados. Com
informações precisas sobre a qualidade do solo, elas podem liberar a quantidade e o
tipo de adubo para cada metro quadrado de solo, reduzindo o desperdício e
aumentando a produtividade. Como benefício adicional, tal tecnologia permitirá, ao
próprio agricultor, informar seus possíveis compradores sobre a disponibilidade de
produtos, fornecendo todos os detalhes pertinentes a cada produto. 28

15
10.6.6 Setor de transporte
A aplicação da IoT nos sistemas de trânsito e na logística dos transportes de carga
pode salvar vidas, reduzir o tráfego e minimizar o impacto dos veículos no meio
ambiente, como ilustrado na Figura 10.6. Atualmente já é possível ver aplicações de
IoT nos diversos segmentos da área de transporte. No transporte público, o uso de
sistemas integrados e de conectividade permite uma maior eficiência da engenharia de
tráfego, aumentando a segurança, melhorando os serviços e agilizando as operações
do setor. Com esses recursos é possível manter o tráfego em movimento, gerenciando
as infraestruturas de transporte, avaliando as condições de vias e estradas e aliviando
congestionamentos.29

Figura 10.6 – Logística dos transportes de carga conectada (https://br.freepik.com)

Já no transporte comercial, a IoT pode promover uma revolução. Com sistemas


conectados, as empresas poderão fazer uma gestão inteligente de frotas e veículos,
reduzindo custos, aumentando a segurança e melhorando a produtividade.
Com o uso dos dados captados por recursos de IoT é possível prever e monitorar
necessidades de manutenção, evitando problemas que levam à inatividade da frota,
com riscos e custos desnecessários. É possível, ainda, simplificar a logística usando
dados e alertas em tempo real para otimizar rotas de entrega, monitorar o
desempenho e responder rapidamente a atrasos e/ou problemas à medida que estes
acontecem.30

16
10.6.7 Edifícios inteligentes
As casas e edifícios do futuro serão inteligentes e sustentáveis. O avanço da tecnologia
tem permitido, cada vez mais, investimentos e tendências em prédios e casas
inteligentes.15
A sustentabilidade e a interconectividade deverão ser os grandes propulsores da
construção civil em um futuro breve. O objetivo é empregar as tecnologias em
benefício de uma construção inteligente. Tudo deverá ser pensado de forma
sustentável e com o menor impacto ambiental possível: a gestão e o controle do
consumo de água e energia; a coleta de água das chuvas; o tratamento de esgotos; a
coleta e destinação do lixo; o controle de acesso.
Além disso, em um mundo no qual as pessoas estão, cada vez mais, conectadas, a
demanda por ambientes que ofereçam essas facilidades, com base nas preferências
dos moradores, deverá ser um ponto de atenção dos incorporadores.
Dentro das tendências para o setor estão a “aprendizagem automática” e a
“conectividade 5G”. A aprendizagem automática permite que os sistemas dos edifícios
recolham, processem e utilizem informações coletadas para fornecer uma visão em
tempo real aos gestores de edifícios, o que possibilita tomar decisões mais rápidas
sobre manutenção e operações gerais. Já a conectividade 5G promove uma troca de
dados mais avançada entre os edifícios inteligentes, que serão uma parte importante
de base para cidades inteligentes do futuro.30
No Brasil, um bom exemplo de edifício inteligente é o Eldorado Business Tower,
situado em São Paulo. O prédio, de 32 andares, possui uma fachada de vidro especial
que permite aproveitar 70% da luz natural, retendo apenas 28% do calor, o que gera
economia em iluminação e ar-condicionado.
Seus elevadores possuem um dínamo que, a cada chegada e partida, regenera e
reaproveita a energia. Isso gera uma economia de 50% em relação ao que é consumido
por um elevador comum.31

10.6.8 Casas inteligentes


Se os edifícios estão cada vez mais inteligentes e tecnológicos, as casas não ficam
atrás. Do reconhecimento de voz para acesso à casa, até saber quem está batendo à
porta, a tecnologia de IoT está tornando realidade o sonho de uma casa segura e
inteligente. Como ilustrado na Figura 10.66, muitas já estão conectadas com sensores
capazes de controlar automaticamente a temperatura, ligar e desligar a iluminação,
tocar música, abrir ou fechar portas e janelas, disparar alarmes e enviar mensagens ao
morador se alguém aparecer, tudo isso apenas usando um Smartphone, um Tablet,
iPad ou o próprio computador como controle remoto.

17
Figura 10.6 – Casa Conectada (https://br.freepik.com)

Em um futuro não muito distante, as casas deverão atender o telefone e tomar


providências de emergência, como desligar o forno que alguém esqueceu ligado. No
Japão já existe protótipo de uma casa na qual sensores e controles, ligados em todas
as partes, além dos controles ambientais já citados, poderão verificar até a pressão
sanguínea e o ritmo cardíaco dos seus donos. Para isso, basta tocar os dedos em
medidores especiais, no banheiro, para obter as informações.32

10.7 A Indústria 4.0 no Brasil


Ao avançar pelo mundo, a indústria 4.0 despertou no Brasil a necessidade de
atualização de suas empresas Além de reinventar sua indústria, o Brasil necessita
corrigir distorções históricas de formação e capacitação da mão de obra, em geral
muito pouco qualificada, para trabalhar em ambientes com alto índice de tecnologia
embarcada. O país também enfrenta problemas básicos de infraestrutura, como o
acesso à internet de alta velocidade, que é a base dessa nova indústria. Existe muito a
ser realizado, com necessidade de investimentos e ações em diversas áreas, como
saúde, educação, transportes, habitação e saneamento. Visando desenvolver soluções
tecnológicas inovadoras que acelerem a caminhada do parque industrial brasileiro
rumo à Indústria 4.0, empresas mais consolidadas buscam parcerias com startups, pois
estas apresentam maior flexibilidade para discutir e evoluir soluções direcionadas34.
O sucesso de um país em aproveitar o potencial econômico de novas tecnologias
depende de sua “Capacidade Nacional de Absorção”, ou CNA, que mede a capacidade
existente para integrar inovações de ruptura à economia e sociedade, o que é
facilitado pela absorção do poder da IoT. O maior desafio para o Brasil aproveitar todo

18
o potencial com a IoT está na sua pouca e/ou ainda escassa “Capacidade Nacional de
Absorção”35. Estudo realizado pela Accenture em 2015, ilustrado na Figura 10.7,
apontou que, entre as 20 economias cuja CNA foi calculada, o Brasil aparece em 17º
lugar.

Figura 10.7 – Gráfico comparativo do para CNA em 20 países35

Tal estudo constata que o Brasil sofre de escassez das capacidades que dão suporte à
CNA35, entre elas:

• Capital humano: O sistema educacional fica em último lugar entre os 20 países


citados e em penúltimo no quesito taxa bruta de matrícula no ensino superior;

• Ambiente de negócios: A infraestrutura é ruim (incluindo a infraestrutura para


comunicações) e a economia brasileira tem pouca afinidade com a economia global. O
país possui a segunda taxa mais baixa de assinatura de internet de banda larga fixa e
possui uma economia ainda muito fechada. Dos 75 países incluídos no Índice de
Mercados Abertos 2015, calculado pela Câmara de Comércio Internacional, o Brasil
figurou em 70º lugar. 35

• P&D nacional: A capacidade de encontrar aplicações práticas para avanços


tecnológicos e transformá-los em produtos e serviços utilizáveis enfrenta o obstáculo
dos problemas estruturais no ambiente de P&D nacional. Os investimentos e o apoio
do governo à P&D são baixos se comparados aos demais países e, além disso, a
qualidade geral das instituições de pesquisa científica nacionais é fraca, ocupando o
19º lugar entre os 20 países. Além disso, deve ser observado ainda que o Brasil tem a
menor proporção de recém-formados nas áreas de ciências e engenharia entre os 20
países citados. Na agricultura brasileira existe muita inovação, o que a torna

19
competitiva. No entanto, o Brasil se estabeleceu no mercado como fornecedor de
commodities, e precisa encarar a inovação de forma séria.

A diversidade tecnológica exige não só agilidade, mas também pesquisa e


desenvolvimento, o que não tem sido a ênfase na indústria nacional. A grande maioria
das empresas brasileiras não tem iniciativa perene ligada à pesquisa, desenvolvimento
e inovação. Mais recentemente, as grandes empresas brasileiras passaram a perceber
as startups como laboratórios de pesquisa e fazer parcerias e cooperação, tendendo
para práticas de inovação aberta.34

Denomina-se ponto de inflexão tecnológico o momento no qual uma tecnologia


alcança massa crítica suficiente para se disseminar pela sociedade e causar impactos,
de forma exponencial 36. Toda inflexão em mudança tecnológica é oportunidade de dar
a volta por cima: com a Indústria 4.0, o Brasil está diante de uma janela de
oportunidade na qual ele poderá se qualificar e se inserir em cadeias globais de valor,
o que deve ser feito a partir de um planejamento estratégico para desenvolvimento e
implementação da Indústria 4.0. Infelizmente, o país não possui uma estratégia
nacional de inovação e tecnologia – e indústrias que não inovarem correm o risco de
ser engolidas pelo mercado, pois empresas que inovam mais rápido acabam
superando as mais lentas e ganhando espaço no mercado. 34

10.8 O perfil profissional esperado do


Engenheiro que irá atuar na Indústria 4.0
Tradicionalmente, Engenheiros são indivíduos que combinam conhecimentos da
ciência, da matemática e da economia para resolver problemas técnicos com os quais
a humanidade se depara. Tais problemas podem ser de diversas naturezas, entre elas:
de pesquisa, que exigem que uma hipótese seja comprovada ou refutada; falta de
conhecimento especializado, que ocorre ao se deparar com uma situação não
entendida; de defeitos, quando equipamentos se comportam de forma inesperada ou
imprópria; sociais, como escassez de mão de obra, preocupações com sustentabilidade
e o meio ambiente; de recursos, como falta de tempo, dinheiro, pessoal ou
equipamentos; matemáticos, que buscam descrever fenômenos físicos com modelos
matemáticos que, se descritos com exatidão, possibilitarão aplicar recursos poderosos,
como teoremas e algoritmos.

É o conhecimento prático que distingue Engenheiros de Cientistas: enquanto os


Cientistas estudam o que a natureza já criou, o Engenheiro busca criar, a partir da
natureza, o que ainda não existia. Em seu processo criativo, o engenheiro busca utilizar
suas aptidões de matemática, seu conhecimento de materiais e princípios específicos

20
da engenharia para criar uma nova solução para uma necessidade ou um problema.
Em geral, a solução também é limitada pela realidade econômica, sendo necessário
não só atender à necessidade em questão, mas também fazê-lo com baixo custo.

Os desafios técnicos atuais raramente são vencidos por um Engenheiro solitário,


sendo necessário o esforço coordenado de uma equipe tecnológica, que pode ser
formada por Cientistas, Engenheiros, Tecnólogos, Técnicos e Artesãos.

Independente de sua especialidade, os Engenheiros podem ser classificados pelas


funções que desempenham, conforme apresentado no Quadro 10.8. Já o Quadro 10.8
apresenta competências básicas esperadas de um Engenheiro37. No entanto, em
muitas vezes o sucesso é alcançado pelo domínio de diversas outras habilidades, além
da capacidade acadêmica, entre elas: habilidades interpessoais, de comunicação e de
planejamento; liderança, para coordenar atividades em uma equipe (o que inclui
aprender a ser também um bom seguidor); pensamento lógico e quantitativo;
persistência, motivação e continuidade, em projetos longos; educação continuada;
fiabilidade (cumprimento do que foi acordado); honestidade, organização e bom
senso; envolvimento com a comunidade; curiosidade e criatividade. Em relação a este
último item, se faz importante enumerar algumas posturas comuns em Engenheiros
com perfil mais criativo: ser persistente e curioso; ser irrequieto e estar sempre
buscando coisas novas; aprender com erros e acidentes; fazer analogias, generalizar
situações; desenvolver entendimentos qualitativos e quantitativos; ter boas aptidões
de visualização e desenho; possuir pensamentos sem fronteiras e interesses amplos;
colher informação especializada; trabalhar a favor da natureza e não contra ela;
manter e usar uma “caixa de ferramentas” de engenharia, incluindo conhecimentos
específicos, leis, softwares e recursos de apoio.

Quadro 10.8 – Possíveis classificações de engenheiros por função desempenhada

Possível Funções Desempenhadas


Classificação
Buscam novos conhecimentos para solucionar problemas complexos que não
Engenheiros
possuem uma solução imediata aparente. Geralmente possuem formação mais
pesquisadores
sólida (são mestres ou doutores)
Engenheiros de Aplicam conhecimentos novos e já existentes para desenvolver protótipos de
desenvolvimento novos dispositivos, estruturas e processos
Engenheiros Aplicam os resultados obtidos pelos engenheiros anteriores para produzir
de projeto projetos detalhados de dispositivos, estruturas e processos
Especificam cronogramas para produzir, em larga escala, dispositivos concebidos
Engenheiros
pelos engenheiros de projeto, otimizando linhas de montagem e uso de matéria
de produção
prima
Engenheiros Executam testes em produtos para determinar sua confiabilidade e adequação a
de testes aplicações específicas
Engenheiros Constroem grandes estruturas
de construção
Engenheiros Operam e mantêm estruturas de produção (ex: fábricas e instalações químicas)
operacionais
Engenheiros Possuem o conhecimento técnico necessário para vender produtos de tecnologia

21
de vendas
Engenheiros Necessários na indústria para coordenar as atividades da equipe tecnológica
gerentes
Engenheiros Especialistas contratados por empresas para complementar a competência em
consultores engenharia de seu corpo de funcionários
Engenheiros Ensinam a outros engenheiros os fundamentos de cada especialidade da
professores engenharia

Quadro 10.8 – Competências básicas esperadas de um Engenheiro

Competência Descrição
• Matemática, ciência e engenharia
Conhecimentos • Temas contemporâneos, mais amplos, necessários para entender o impacto de
soluções de engenharia em um contexto global e social
• Projetar e conduzir experimentos
• Analisar e interpretar dados
• Projetar sistema, componente ou processo que atenda as especificações
Habilidades
• Identificar, formular e solucionar problemas de engenharia
• Comunicar eficientemente, trabalhando em equipes multidisciplinares
• Utilizar técnicas, aptidões e ferramentas modernas de engenharia
• Responsabilidades profissionais e éticas
Atitudes
• Consciência da necessidade de aprendizado contínuo

Ao trabalhar em equipe, o Engenheiro busca obter realizações maiores do que a soma


do trabalho de cada um. Para que isso possa ocorrer, algumas habilidades adicionais
precisam ser desenvolvidas, entre elas: criar a partir de ideias incompletas ou ainda
fracamente formuladas; desenvolver a capacidade para transmitir e receber ideias;
deixar de lado críticas sobre uma ideia durante o processo inicial de formulação da
solução de um problema; ter aptidão para criticar adequadamente uma solução
proposta e analisá-la, à procura tanto de sua robustez quanto de suas fraquezas.
Quanto a atitudes esperadas, são fundamentais o respeito mútuo pelas ideias dos
companheiros de equipe e paciência para tentar novamente quando uma ideia falha
ou a solução ainda está incompleta.

Segundo Schwab1, para enfrentar os desafios da Indústria 4.0, será necessário adaptar,
dar forma e aproveitar o potencial das rupturas pela aplicação de quatro tipos
diferentes de inteligência: a contextual (uso da mente para desenvolver uma
percepção holística, antecipar tendências emergentes e “ligar os pontos”); a emocional
(relacionada ao coração, busca processar e integrar pensamentos e sentimentos
visando aprimorar relacionamentos com os outros e consigo mesmo); inspirada
(enfoca a alma, explorando sentimentos de individualidade e de propósito
compartilhado, a confiança e outras virtudes pensando no bem comum); a física (cuida
do corpo, da saúde e do bem-estar pessoal, visando aplicar a energia necessária para a
transformação individual e dos sistemas). Além de visão técnica apurada, o profissional
da Indústria 4.0 precisa ter espírito colaborativo, desenvolver o senso crítico, saber se
comunicar em vários idiomas, estar aberto a mudanças, ter flexibilidade para se
22
adaptar às novas funções e se habituar a uma aprendizagem multidisciplinar
contínua.41

10.8.1 A evolução do ensino de engenharia ao longo do tempo


Durante grande parte do século XX, programas de educação em engenharia
propiciaram aos alunos muita prática: engenheiros com experiência prática lecionavam
em disciplinas que se concentravam basicamente na resolução de problemas tangíveis.
Mas à medida em que o século avançava e o conhecimento científico e técnico se
expandia, de forma rápida, a educação em engenharia evoluiu para um ensino mais
voltado para a ciência da engenharia, fazendo com que o ensino prático de engenharia
passasse a ser cada vez menos enfatizado38. Recentemente, como resultado, a
indústria descobriu que os estudantes de graduação, embora tecnicamente aptos,
careciam de muitas habilidades necessárias em situações de engenharia do mundo
real 38,39.

Diante da lacuna identificada entre as demandas de engenharia científica e prática,


bem como visando incentivar as Universidades a satisfazerem as necessidades do
mundo real e repensar suas estratégias educacionais, o Conselho de Acreditação de
Engenharia e Tecnologia (www.abet.org), em parceria com o MIT (Massachusetts
Institute of Technology), relacionou um conjunto de expectativas para o perfil
esperado de engenheiros recém-graduados, que foi alinhado com as habilidades
requeridas por grandes corporações. Como resultado deste esforço, foi desenvolvida
uma iniciativa mundial para melhorar o ensino da Engenharia, denominada “CDIO”,
abreviação de Conceiving-(Conceber), Designing-(Projetar), Implementing-
39
(Implementar), Operating-(Operar). Segundo o CDIO , “os Engenheiros de graduação
devem ser capazes de: conceber-projetar-implementar-operar complexos sistemas de
engenharia que possuam valor agregado, em um ambiente moderno baseado em
equipe, além de serem indivíduos maduros e pensadores”. Como forma de se alinhar a
tal iniciativa, foram definidos padrões educacionais40 que são utilizados como
referência para orientar e avaliar (acreditar) escolas visando ensinar os futuros
engenheiros a obter produtos, processos e sistemas.

10.8.2 Mudanças no ensino de engenharia para a Indústria 4.0


A lentidão das mudanças no ensino de engenharia não reflete o ritmo de mudanças da
recente revolução. Com a multidisciplinaridade do mundo atual, urge pensar não só
em cada especialidade da Engenharia, mas também desenvolver uma visão mais
abrangente (holística), além de explorar mais a capacidade de cada aluno e buscar
maior engajamento no trabalho em equipe. Os seres humanos, e em especial os
professores, estão com dificuldades para acompanhar tal revolução e seu impacto na
sociedade e no mercado atual.

23
Apesar de os problemas a serem resolvidos serem de engenharia, a base para a sua
resolução está na ciência básica, incluindo, entre outros, matemática, física,
computação e química. Para tal, é necessário que o ciclo básico explore mais o
potencial de aplicação, de forma a possibilitar aos alunos entenderem com mais
clareza a aplicação do conteúdo que está sendo estudado.

Destaca-se a importância do conhecimento de recursos das tecnologias de informação


e comunicação, em especial na geração de código e tratamento de grande volume de
dados. Mais que redator de textos, o engenheiro do presente e do futuro precisa se
tornar um redator matemático, capaz de desenvolver projetos virtuais que integram e
manipulam objetos de naturezas diversas e seus dados associados, sendo fundamental
desenvolver habilidades relacionadas à programação, tornando-se um engenheiro
programador.

Também é importante destacar que boa parte dos alunos atuais não farão parte do
futuro das empresas com a grade atual de ensino. A gestão de negócios atual tem
mostrado que o mundo digital passou a valer muito mais que o real, enfatizando a
servitização42, processo pelo qual a produção de bens industrializados tem evoluído
para uma visão mais abrangente, agregando serviços e permitindo um maior foco na
função do que no produto físico. Como exemplo, a rede de hotéis Hilton, fundada em
1919, atualmente com cerca de 2500 hotéis em 80 países e 130.000 colaboradores,
passou a valer muito menos que o Airbnb, solução que presta serviços de hospedagem
por meio do uso de redes e não é proprietária de nenhuma de suas acomodações.
Nesse contexto, a inclusão na grade curricular de disciplinas de empreendedorismo e
inovação passou a ser fundamental, uma vez que empreender vai muito além de abrir
uma empresa e obter um CNPJ. Engloba trabalhar competências fundamentais como
criatividade, resiliência, proatividade, trabalho em equipe, comunicação e
interpretação, bem como desenvolver uma visão diferenciada em tudo o que se faz,
encarar desafios, com foco principal no resultado. Inclui não só aprender, mas também
errar muito, até acertar. Hoje nas escolas o aluno é treinado para não errar, o que vai
na contramão do que ocorre no mercado.

Enfim, os modelos de negócio atuais requerem uma nova estruturação nos cursos,
sendo imprescindível repensar a educação. É necessário ter mais clareza em relação ao
que as empresas podem fazer pelas escolas e a escolas pelos futuros engenheiros. É
muito mais difícil desenvolver algo inovador tendo que trabalhar sozinho, importar
conceitos, tecnologias e equipamentos, sendo fundamental ter startups trabalhando
em tecnologias de ponta e praticando inovação aberta junto a escolas e outras
corporações. Seguindo essa mesma linha, o melhor profissional é aquele que entende
e encara as suas limitações e busca a complementação de seu perfil com seus colegas,
evidenciando a importância do trabalho em equipe. Ao final, as oportunidades
aparecem para aqueles que estão melhor preparados.
24
10.9 Resumo
Neste capítulo apresentamos uma visão geral das origens, conceitos, características,
implicações e tendências da Quarta Revolução Industrial, também denominada
Indústria 4.0, bem como exploramos o perfil profissional desejado para um engenheiro
capaz de atuar de forma efetiva neste cenário, chamando atenção para a necessidade
de mudanças no ensino da engenharia.

• O mundo passa por mais um período de grande mudanças econômicas e


sociais. Usufruindo de conquistas anteriores, a ênfase agora está na inteligência
proporcionada à manufatura, com a informatização e conexão em rede de
máquinas, aliada à automação industrial, abrindo um universo de
possibilidades em diferentes setores.
• Tal movimento está proporcionando novos modelos de negócio e
descontinuando outros, bem como reformulando a produção, o consumo, os
transportes, a educação, a saúde, os governos e as instituições.
• Existem várias denominações relacionadas a esse movimento: Fábrica do
Futuro, Fábrica inteligente, Manufatura Avançada, Internet Industrial, Internet
das Coisas e Internet de Tudo são alguns deles, sendo mais utilizados os termos
Quarta Revolução Industrial e Indústria 4.0, sendo o termo Indústria 4.0 o mais
utilizado neste capítulo.
• A Indústria 4.0 traz como principais características a descentralização de
processos, a virtualização de sistemas e a versatilidade. Entre as principais
vantagens, podem ser citadas: maior segurança de plantas industriais; menores
custos em cadeias produtivas mais extensas, decorrentes da agilização de
processos; melhor acompanhamento da manutenção de componentes;
acompanhamento mais efetivo de linhas de produção; aplicação da manufatura
enxuta e produção sob demanda.
• As tecnologias que estão ganhando mercado incluem simulações, integração de
sistemas, Internet das Coisas, segurança cibernética, computação em nuvem,
manufatura aditiva (3D), realidade aumentada, big data e robôs autônomos.
• Diversos setores estão tirando proveito da aplicação da Internet das Coisas,
entre eles: automotivo, de energia (na geração, distribuição e consumo), na
medicina e saúde, no comércio, agronegócio, transportes, construção civil (com
casas e edifícios inteligentes).
• No Brasil, a Indústria 4.0 caminha ainda a passos lentos, sendo fundamental
tomar ações para melhorar a formação e a capacitação da mão de obra para
trabalhar em ambiente de alta tecnologia, reverter problemas de infraestrutura

25
e desenvolver a capacidade de integrar inovações de ruptura à economia e
sociedade.
• Ser engenheiro requer combinar conhecimentos para solucionar problemas
técnicos com os quais se defronta a sociedade. Em geral ele atua como parte
de uma equipe tecnológica, que envolve vários perfis, e pode desempenhar
funções em várias áreas, trabalhando em alguma especialidade da engenharia.
• Para ter sucesso como engenheiro no cenário atual, além de conhecimento
técnico e domínio de programação, torna-se necessário: cultivar várias
habilidades, entre elas a criatividade, a comunicação e o senso crítico; saber
trabalhar em equipe, de forma proativa e ética; adaptar, dar forma e aproveitar
o potencial das mudanças pela aplicação dos quatro tipos de inteligência
(contextual, emocional, inspirada e física).
• O ensino da engenharia precisa evoluir para suprir a lacuna identificada entre
as demandas de engenharia científica e prática. Uma das iniciativas que tem
ganhado espaço entre as universidades é o padrão educacional CDIO -
Conceiving-(Conceber), Designing-(Projetar), Implementing-(Implementar) e
Operating-(Operar).

10.10 Referências
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2 PERASSO, V. O que é a 4ª revolução industrial - e como ela deve afetar nossas
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the-industrial-internet/#6b376d2e6697. Acesso em 01/06/2017.
7 ITSA BRASIL. Indústria 4.0 exige foco maior em segurança (2016). Disponível
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em-seguranca. Acesso em 11/06/2017.
8 CALVO, S. Siemens inaugura Centros de Operação de Segurança Cibernética
para proteger instalações industriais (2016). Disponível em

26
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10 WEISER, M. The computer of the 21st century. Disponível em
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the operations practices and technologies that deliver advanced services.
International Journal of Operations & Production Management, Vol. 34, n.1,
p.2-35, 2014.

10.11 Para debater


I. A evolução da indústria, o avanço tecnológico contínuo e a modernização de
equipamentos e produtos podem contribuir para que as pessoas desvalorizem
o que não é “moderno”. As sociedades que têm uma grande riqueza cultural,
nas quais a criatividade humana está presente de forma marcante, como nas
diversas sociedades indígenas que habitam o Brasil, podem acabar se
perdendo. Como cuidar para que o avanço tecnológico não prejudique ou
comprometa a cultura de um país ou região?
II. Cada revolução industrial teve uma característica marcante. Por exemplo, a
primeira se caracterizou pelo uso de máquinas a vapor, enquanto a segunda
teve como ponto forte a produção em massa e a eletrificação. Para você, qual
seria a principal característica que torna a Quarta Revolução Industrial única,
fazendo com que ela seja um marco na história industrial? Justifique e cite
exemplos.
III. Reflita sobre o significado e a relevância das seguintes afirmações:
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho
original.” (Albert Einstein)
29
“O conhecimento e a informação são os recursos estratégicos para o
desenvolvimento de qualquer país, e os portadores desses recursos são as
pessoas.” (Peter Drucker)
“O futuro não existe, realmente. Ele é criado por nós, no presente.” (Tolstoi)
IV. Imagine um cenário no qual seja possível usar recursos que monitorem o seu
bem-estar, considerando horas de sono, alimentação, batimentos cardíacos,
pressão sanguínea, passos e exercícios físicos diários, etc. Reflita sobre as
vantagens e desvantagens da complexa questão decorrente do uso de
dispositivos vestíveis e da vigilância intrusiva, levando à falta de privacidade.
Por exemplo, seu provedor de seguros de saúde pode lhe oferecer descontos
progressivos em seu prêmio caso permita o envio e análise de seus dados. Da
mesma forma, seu empregador pode exigir o uso de tais dispositivos para
diminuir seus custos com seguros de saúde ou para melhorar a produtividade
média dos colaboradores. Tal escolha pode acabar se transformando em uma
conduta social, mesmo que algumas pessoas as considerem inaceitáveis.
V. Avanços tecnológicos acabam nos levando a novos desafios éticos. Será que
devemos usar os recentes avanços da biologia visando apenas curar doenças e
reparar lesões, ou aprimorar as condições do ser humano? E o que seria um
“ser humano melhor”?
VI. A Inteligência Artificial (IA) impõe questões complexas, como por exemplo, a
possibilidade de máquinas adquirirem conhecimento suficiente para antecipar
nossas percepções e pensamentos, e em alguns casos até nos ultrapassarem.
Por exemplo, empresas como a Netflix e a Amazon já conseguem prever filmes
e livros que podem nos interessar. Sites de namoro e colocação profissional
sugerem parceiros e empregos que parecem convenientes. Devemos confiar
mais em algoritmos ou conselhos dados por familiares, colegas e amigos? Em
caso de doenças, seria melhor consultar um robô “médico”, controlado por IA,
capaz de escanear nosso corpo e processar exames, fornecendo diagnósticos
baseados em vastas bases de conhecimento, ou um médico humano que nos
conhece há mais tempo, que nos tranquiliza e acolhe?
VII. Considerando que o comportamento das pessoas torna-se previsível em várias
situações, que existe uma grande influência no comportamento das pessoas
derivada da comunicação em massa e que existe poder de previsão derivado da
Inteligência Artificial e da aprendizagem automática, será que corremos os
risco de passar a agir como robôs? Como manter nossa individualidade,
enriquecer a nossa diversidade e fortalecer a democracia, na era digital?
VIII. Considerando as transformações decorrentes da Indústria 4.0, apresentadas ao
longo deste capítulo, você acredita que está ocorrendo um “empoderamento”
humano, decorrente por exemplo de mudanças tecnológicas que facilitam a
coleta de informações, ou um “desempoderamento” humano, decorrente por
exemplo da robotização e comportamento previsível?

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IX. O movimento das pessoas em todo o mundo, conhecido como mobilidade
humana, tem um papel importante na sociedade e na economia,
transformando culturas e gerando riquezas. A revolução digital criou novas
possibilidades de comunicação e potencializou a mobilidade física. Qual será o
impacto da Quarta Revolução Industrial na mobilidade humana?

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