6 Revista Brasileira de Viticultura e Enologia 2014 PDF
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DIRETORIA presidente
Presidente:
LUCIANO VIAN
Arquivo ABE
Vice-Presidente:
LEOCIR BOTTEGA
uando lançamos o projeto
1º Tesoureiro:
da Revista Brasileira de
Dario Crespi
Viticultura e Enologia em
2º Tesoureiro: 2009 assumimos um compromisso
GABRIEL CARISSIMI com a construção do conhecimento
dos profissionais que integram a
1º Secretário:
cadeia produtiva da uva e do vinho.
DIRCEU SCOTTÁ De lá para cá, já foram publicados
2ª Secretária: 50 trabalhos originais nas áreas da
JOICE SEIDENFUS Viticultura, Enologia, Legislação e
Mercado, e que agora com a sexta
Diretor Social: edição somam 60 artigos.
CHRISTIAN BERNARDI Luciano Vian
Presidente ABE Nas páginas a seguir, vocês encontram 10 trabalhos inéditos,
Diretores de Eventos:
seis deles em Enologia, nossa área mais difundida. Esta
JULIANO PERIN
iniciativa, hoje consolidada, não apenas estimula a pesquisa,
ANDRÉ PERES JÚNIOR
preenchendo uma lacuna existente no meio científico do
Diretores de Degustação: setor, como também aproxima o profissional de novos
GILBERTO SIMONAGGIO estudos, estimulando a atualização nas mais diversas áreas.
DANIEL SALVADOR
Aqui, queremos compartilhar o ineditismo de novas visões a
Diretor Cultural:
partir de uma metodologia científica capaz de elucidar temas,
ANTONIO CZARNOBAY aproximando a teoria da prática e, com isso, ampliando as
Diretores Técnicos em Viticultura: possibilidades para o avanço do setor vitivinícola. Este é o
CARLOS ABARZÚA nosso caminho.
JOÃO CARLOS TAFFAREL
Promovemos o vinho com eventos como a Avaliação
Diretores Técnicos em Enologia: Nacional de Vinhos, o Concurso Internacional de Vinhos do
EDEGAR SCORTEGAGNA Brasil e o Concurso do Espumante Brasileiro, mas também
SAMUEL CERVI damos suporte aos enólogos com palestras e visitas técnicas,
Diretores Regionais Centro-Sul: degustações e cursos.
ANDERSON DE CÉSARO
Entretanto, o fascínio que reside no mundo do vinho não
ÁTILA ZAVARIZE
reside apenas na sensibilidade, mas vive, principalmente,
Diretores Regionais Norte-Nordeste: no campo do conhecimento que se reconstrói a cada safra.
Giuliano Elias Pereira Sendo assim, convidamos todos a degustar cada artigo,
FLAVIO DURANTE harmonizando com goles de sabedoria na companhia de um
bom vinho.
Secretárias:
Eliane Cerveira Saúde!
Adriane Biasoli
sumário
Comissão Organizadora
• Enól. Luciano Vian
• Dr. Alberto Miele
• Enól. Carlos Abarzúa
Viticultura
Fenologia, produção e evolução da curva de
• Enól. Christian Bernardi 8
• Dra. Cláudia Stefenon maturação da videira Cabernet Franc cultivada
• Enól. Dario Crespi em clima úmido
• Enól. Dirceu Scottá
• Enól. Juliano Perin 16 Evolução da maturação fenólica de uvas
• Enól. Leocir Bottega nas regiões de Grave del Friuli e Serra Gaúcha
• Secretária: Adriane Biasoli
Comitê Editorial
• Dr. Alberto Miele (Editor-Chefe) Enologia
• Dr. Carlos Eugênio Daudt
24 Determinação de ocratoxina A em suco de uva
• Dr. Celito Crivellaro Guerra
integral por cromatografia líquida de alta eficiência
• Dr. Eduardo Giovannini
• Dr. Erasmo José Paioli Pires
• Dr. Jean Pierre Rosier 30 Evolução dos compostos fenólicos e da
• Dr. Luciano Manfroi cor de vinhos tintos da variedade Merlot
• Dr. Maurilo Monteiro Terra
• Dra. Regina Vanderlinde 40 Efeito do tipo de solo nos compostos fenólicos
• Dr. Sérgio Ruffo Roberto e na atividade antioxidante do vinho
• Dr. Vitor Manfroi
Resumo
oram avaliadas as características fenológicas, produtivas e químicas
do mosto da uva para vinho Cabernet Franc sustentada em espaldeira
e cultivada sob as condições de clima úmido da região vitícola de São
Roque (SP), durante os anos agrícolas de 2010/11, 2011/12 e 2012/13.
A duração total do ciclo para as diferentes safras foi, respectivamente, 172, 182
e 179 dias, enquanto o período de maturação foi de 46, 52 e 52 dias. Nessas
safras, foram obtidos os seguintes valores de produtividade: 13,5, 15,2 e 12,6
t.ha-1. As características do mosto, na época da colheita, foram: teor de sólidos
solúveis: 19,0, 19,8 e 20,0 °Brix; acidez titulável: 99, 79 e 98 meq.L-1 e pH: 3,35, 3,28
e 3,35. Observou-se, também, que a qualidade do mosto para a Cabernet Franc,
1
Instituto Agronômico cultivada em São Roque, foi comparável a das principais regiões vitivinícolas do
13012-970 Campinas, SP sul do país, portanto essa cultivar apresenta potencial de utilização em região de
2
Bolsista do CNPq
clima úmido, visando à elaboração de vinhos de qualidade.
3
Bolsista da Fapesp
Autor correspondente:
mpedro@iac.sp.gov.br
Palavras-chave: teor de sólidos solúveis, acidez titulável, uva para vinho.
8 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.8-15, 2014
Abstract
Introdução
30 90
20 60
10 30
0 0
50 150
Safra 2011/12
Início da
Poda Floração Maturação Colheita
40 120
Temperatura do ar (ºC)
30 90
Chuva (mm)
20 60
10 30
0 0
50 150
Safra 2012/13
Início da
Poda Floração Maturação Colheita
40 120
30 90
20 60
10 30
0 0
1/9
11/9
21/9
1/10
11/10
21/10
31/10
20/11
30/11
30/12
9/1
19/1
8/2
18/2
28/2
10/3
20/3
30/3
10/11
10/12
20/12
29/1
Data
Figura 1. Variação diária das temperaturas máxima, mínima e chuva e indicação das datas de ocorrência
de estádios fenológicos da uva Cabernet Franc para diferentes safras em São Roque (SP).
20 500
Safra 2010/11
400
15
300
10
200
5
100
0 0
Teor de sólidos solúveis (ºBrix) e pH
300
10
200
5
100
0 0
04/01 18/01 02/02 15/02 29/02
20 500
Safra 2012/13
400
15
pH
TSS 300
10
AT 200
5
100
0 0
03/01 17/01 06/02 14/02 28/02
Data amostragem
Figura 2. Evolução do teor de sólidos solúveis (TSS), pH e acidez titulável (AT) para a uva Cabernet Franc
em diferentes safras em São Roque (SP).
Data de ocorrência
Safra
Poda (P) Florescimento (F) Início Maturação (IM) Colheita (C)
2010/11 60 66 46 172
2011/12 50 80 52 182
2012/13 50 77 52 179
Média 53 74 50 178
Tabela 2. Médias do número de ramos e cachos, massa, comprimento e largura dos cachos, produção por planta e
produtividade da Cabernet Franc na região de São Roque (SP).
período, de valores entre 200 e 220 meq.L-1 até atingir o valor do TSS foi de 18,9 °Brix. Esse menor valor coincidiu
valores médios entre 80 e 100 meq.L-1 na ocasião da com a precipitação de 89 mm de chuva 10 dias antes da
colheita. Manfroi et al. (2004) obtiveram curvas da evolução colheita, enquanto durante as safras de 2011/12 e 2012/13
da maturação semelhantes aos obtidos nesse trabalho para os valores de TSS, média de 20 °Brix, foram estatisticamente
a Cabernet Franc conduzida no sistema lira aberta na região superiores aos obtidos para a safra de 2010/11. No caso das
de Bento Gonçalves (RS). safras de 2011/12 e 2012/13, foram observados menores
valores de ocorrência de chuvas no período precedente à
Na Tabela 3 são mostrados os valores médios de TSS, que colheita, registrando, respectivamente, 26 e 38 mm. Esses
variaram entre 18,9 e 20,0 °Brix, tendo sido estatisticamente valores evidenciam a influência da precipitação pluvial
diferentes na comparação entre safras. Valores de TSS da nos últimos dias que antecedem a colheita, mostrando
mesma ordem de grandeza dos obtidos nesse trabalho a necessidade de planejamento da poda, de forma que
foram considerados elevados para a Cabernet Franc na Serra a colheita coincida com períodos menos chuvosos,
Gaúcha (RIZZON; MIELE, 2001). Durante a safra de 2010/11, considerando uma série histórica de dados climáticos.
Referências
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Investigación Agraria, v.37, p.61-75, 2010.
Marcos Gabbardo1
Emilio Celotti2
Valmor César Rombaldi3
Resumo
nalisou-se a evolução da maturação de duas cultivares Vitis vinifera usadas
para produção de vinhos tintos (Merlot e Cabernet Sauvignon), em duas
regiões: a Serra Gaúcha (Brasil) e a região de Grave del Friuli (Itália). Para
monitorar a maturação, empregou-se um método baseado na absorção de luz,
que determina um índice de polifenóis das uvas, o PMI (Polyphenolic Meter
Index). Para testar a validade do uso da técnica em uvas da Região Sul do Brasil,
compararam-se testes em vinhedos italianos e brasileiros. Como esperado, o
uso do PMI apresentou-se como viável para uvas Merlot e Cabernet Sauvignon
produzidas na Serra Gaúcha. Dos 23 vinhedos de Cabernet Sauvignon estudados,
15 na Itália e oito no Brasil, verificou-se que o PMI foi de 223 (Itália) e 221 (Brasil);
1
Unipampa
96450-000 Dom Pedrito, RS as diferenças entre o PMI máximo e mínimo foi de 49 e 53, e o desvio-padrão
2
Università degli Studi di Udine de 13 e 14, respectivamente. Esses valores indicam que há boa uniformidade de
33100 Udine, Itália maturação e que há leve superioridade do Cabernet Sauvignon produzido na
3
UFPel
96010-900 Pelotas, RS Itália. Em relação ao cv. Merlot, a tendência foi inversa, ou seja, a uva produzida
Autor correspondente: na Serra Gaúcha apresentou maior PMI.
mgabbardo@yahoo.com.br
Palavras-chave: PMI, enologia, terroir.
16 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.16-22, 2014
Abstract
Introdução
Para as uvas tintas é conveniente diferenciar a maturação para a qualidade do vinho, acumulam-se em grande parte
tecnológica (açúcar e acidez) da maturação fenólica da mesma maneira que as antocianinas (RIBÉREAU-GAYON
(quantidade e qualidade dos compostos fenólicos), já et al., 2003). Entretanto, o método mais utilizado para
que nem sempre evoluem de modo correlato (ROSTI analisar esses componentes (GLORIES; AUGUSTIN, 1993) é
et al., 2011). A maturação tecnológica, mais fácil de ser moroso e, em muitos casos, o resultado obtido na análise
monitorada, é feita através da estimativa do teor de açúcar laboratorial não se reflete no vinho. Há casos em que se
e, por conseguinte, do teor de álcool potencial, da acidez obtêm elevados teores de antocianinas extraíveis, mas a
titulável e do pH. A determinação da maturação fenólica coloração do vinho deixa a desejar (COSME et al., 2009).
como instrumento de trabalho prático para os técnicos Isso se dá em função do método proposto por Glories e
oferece dois obstáculos principais: primeiro, os compostos Augustin (1993), que pode superestimar a extração dos
fenólicos das uvas são numerosos e complexos, por isso compostos que, dependendo da vinificação, resulta em
são difíceis de quantificar e identificar; em segundo lugar, menores teores de antocianinas nos vinhos.
mesmo que a sua influência sobre a qualidade do vinho
seja incontestável, a evolução durante a maturação e a Novas tecnologias que permitam uma boa correlação
determinação durante a colheita demandam métodos positiva entre o teor de polifenóis da uva com o teor
sofisticados e/ou de determinação demorada (BLOUIN; de polifenóis do vinho e que sejam de fácil realização
GUIMBERTEAU, 2004). no campo estão sendo desenvolvidos, aprimorados e
demandados pelo setor vitivinícola mundial (CELOTTI et
O monitoramento do teor de antocianinas na película das al., 2007). Dentre os métodos rápidos e não destrutivos
uvas constitui-se em variável importante, pois permite mais estudados estão o NIR (RODRÍGUEZ-PULIDO et al.,
inferir sobre o estádio de maturação e a qualidade do 2012), UV e fluorescência (MONTEALEGRE, 2006; FERRER-
vinho. Além disso, o teor de antocianinas serve como GALEGO et al., 2011). Ambos se constituem em boas
indicador para acompanhar a evolução dos outros alternativas, gerando bons resultados e permitindo inferir
compostos fenólicos no decorrer da maturação. Os taninos acerca da qualidade do vinho a partir dos dados obtidos na
da película, geralmente reconhecidos como importantes avaliação da uva (RODRÍGUEZ-PULIDO et al., 2012). Porém,
Tabela 1. Valores médios do PMI e da variação PMI máx – PMI mín de clones de Cabernet Sauvignon e Merlot,
produzidos na Itália (Friuli) e no Brasil.
PMI máximo
Cultivar Local PMI médio Desvio-padrão
PMI mínimo
Tabela 2. Valores de PMI (Polyphenolic Meter Index) em uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, de vários clones, produzidos
na Região de Friuli, Itália, safra 2011.
PMI máximo
Cultivar PMI médio PMI mínimo PMI máximo Desvio-padrão
PMI mínimo
Tabela 3. Valores de PMI (Polyphenolic Meter Index) em uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, de vários clones, produzidos
na Região da Serra Gaúcha, Brasil, safra 2012.
PMI máximo
Cultivar PMI médio PMI mínimo PMI máximo Desvio-padrão
PMI mínimo
Quando se avaliam os clones dentro de cada cultivar razoáveis quanto à diferença PMI máx – PMI mín (53,2 para
e região, detecta-se uma marcante variabilidade de Itália e 39,5 para Brasil) e desvio-padrão (15,3 para Itália e
resultados. Por exemplo, no caso do Cabernet Sauvignon 9,6 para Brasil).
produzido na região de Friuli, os melhores PMIs foram
obtidos com os clones R5 (231), VCR 492 (229) e ISV FV105 Por sua vez, o cv. Merlot e seus clones evidenciaram haver
(228), e os piores com os clones VCR 184, ISV FV 117 e VCR variabilidade de resultados em função da região. Para o
13 (Tabela 2). Para os clones avaliados no Brasil, os melhores Merlot produzido na região de Friuli, os melhores PMIs
PMIs foram detectados nos clones Cabernet Sauvignon ISV foram obtidos com os clones VCR 13 (225), VCR 494 (223) e
FV5 (226) e R5 (225), e os piores no Cabernet Sauvignon VCR 110 (222), e os piores com os clones VCR1, VCR 36 e 489
latada (218) e 169 latada (217). (Tabela 2). No Brasil, os melhores PMIs foram detectados
nos clones Merlot 181 espaldeira (229) e R3 espaldeira
Apesar das diferenças, o clone R5 se apresenta como de (221), e os piores no Merlot 343 espaldeira (212,5).
bom desempenho quanto aos valores de PMI, assim como
Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.16-22, 2014 21
Conclusão Merlot destacou-se na Serra Gaúcha, o que é embasado em
estudos vitícolas e enológicos anteriores.
Embora preliminar, com reduzido número de clones e
referindo-se apenas a uma safra, o método PMI se apresenta
como promissor para diferenciar a maturação de cultivares Agradecimentos
e clones produzidos na região da Serra Gaúcha. Além disso,
o PMI permite prever, com alguma segurança, o potencial À Capes, pela bolsa concedida pelo Programa Doutorando
enológico dos cultivares e clones, tendo em vista que o no Brasil com Estágio no Exterior – PDEE.
Referências
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approccio nella gestione della qualità delle uve rosse. (Vitis vinifera L. cv. Cabernet–Sauvignon) under contrasting
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NIR spectroscopy. LWT - Food Science and Technology,
v.44, p.847-853, 2011.
Marlei Baggio1
Fernanda Rodrigues Spinelli2
Sandra Valduga Dutra2
Regina Vanderlinde1,2
Resumo
produção e o consumo de sucos de uva no Brasil têm aumentado
consideravelmente a cada ano. O controle de qualidade destes produtos
é de extrema importância, devido à possível presença de micotoxinas
e outros compostos prejudiciais à saúde. Micotoxinas são metabólitos
secundários produzidos por fungos filamentosos durante o processo de
maturação da uva. Entre as micotoxinas destaca-se a ocratoxina A, pelas
suas propriedades carcinogênica, nefrotóxica, imunotóxica e teratogênica.
O objetivo deste trabalho foi determinar a concentração de ocratoxina A
em amostras de sucos de uva integrais por cromatografia líquida de alta
eficiência, com detector de fluorescência, após separação em colunas de
1
UCS imunoafinidade. Os sucos analisados apresentaram concentrações inferiores
95070-560 Caxias do Sul, RS
2
Laren e Ibravin
ao limite máximo estabelecido pela legislação brasileira para ocratoxina A em
95084-470 Caxias do Sul, RS sucos de uva, que é de 2 µg.L-1.
Autor correspondente:
marleibg@yahoo.com.br
Palavras-chave: micotoxina, imunoafinidade, controle de qualidade.
Determination of ochratoxin A in
whole grape juice by high performance
liquid chromatography
The production and consumption of grape juices in Brazil has been increasing significantly.
The quality control of these products is of extreme importance due to the possible
presence of mycotoxins and other compounds harmful to health. Mycotoxins are secondary
metabolites produced by filamentous fungi during grape ripening. Among the mycotoxins
the ochratoxin A stands out because of its carcinogenic, nephrotoxic, immunotoxic and
teratogenic characteristics. The objective of this study was to determine the concentration
of ochratoxin A in grape juice samples by high performace liquid chromatography with
fluorescence detector after separation by immunoaffinity columns. The analyzed juices
showed concentrations below the limit established by Brazilian legislation for ochratoxin A
in grape juices that is 2 µg.L-1.
Introdução
O suco de uva é uma bebida não fermentada, obtida do A OTA é uma micotoxina, definida como metabólito
mosto simples, sulfitado ou concentrado, de uva sã, fresca secundário produzido por fungos filamentosos que,
e madura, sendo tolerada a concentração de até 0,5 °GL. mesmo em pequenas concentrações, pode ser tóxica ao
Dependendo do processo de elaboração, o suco de uva homem e aos animais (RINGOT et al., 2006; ALMEIDA et
pode ser classificado como concentrado, reprocessado ou al., 2007; NUNES, 2008; PEREIRA, 2008; JORDÃO, 2009;
reconstituído, integral e adoçado. O suco integral é obtido ABREU et al., 2011). É produzida pelos fungos Penicillium
da uva por meio de processos tecnológicos adequados, verrucosum e Penicillium nordicum e um número variado
sem a adição de açúcares e na sua concentração natural de espécies do gênero Aspergillus, tais como: A. ochraceus,
(BRASIL, 1990). A. niger e A. carbonarius (WORLD, 1996; RINGOT et al., 2006;
VARGA; KOZAKIEWICZ, 2006; NUNES, 2008; PEREIRA, 2008;
Os sucos de uva são ricos em compostos fenólicos e vários ABREU et al., 2011).
estudos têm demonstrado que essas substâncias possuem
ação antitumoral, antimutagênica e antioxidante. Além As evidências de propriedades toxicológicas da OTA se
das propriedades funcionais, os benefícios nutricionais são devem a efeitos nefrotóxicos (WORLD, 1996; VARGA;
evidentes, dada a presença de açúcares e minerais (DANI, KOZAKIEWICZ, 2006, RINGOT et al.,2006; PEREIRA, 2008;
2006). ZHANG et al., 2009), ação teratogênica e imunotóxica(WHO,
1996; RINGOT et al., 2006; ZHANG et al., 2009) e neurotóxica
Os sucos de uva podem apresentar ocratoxina A (OTA) (ZHANG et al., 2009). Além disso, é classificada pela
pela contaminação da uva durante a sua maturação International Agency for Research on Cancer no grupo 2B,
(WORLD, 1996; GOLLUCHE; TAVARES, 2004; SHUNDO et ou seja, como substância possivelmente carcinogênica em
al., 2006; VARGA; KOZAKIEWICZ, 2006; ALMEIDA et al., humanos (IARC, 1993).
2007; BURDASPAL; LEGARDA, 2007). A presença de OTA
em vinhos e sucos de uva foi primeiramente relatada em O suco de uva pode ser uma importante fonte de
1996, em pesquisa realizada por Zimmerli e Dick (1996), contaminação por OTA, tendo em vista a tendência cada
que encontraram quantidades máximas de 0,45 µg.L-1 da vez maior de seu consumo. Segundo dados da União
micotoxina em vinhos e 0,33 ug.L-1 em sucos. Brasileira de Vitivinicultura, o consumo de sucos de uva
As amostras apresentaram concentrações de OTA de até A região geográfica pode influenciar na produção de OTA.
0,319 µg.L-1 (Tabela 1). Todas as concentrações foram Essa hipótese foi estudada por Shundo et al. (2006), em que
inferiores ao limite máximo estabelecido pela legislação foram analisados vinhos brasileiros e as amostras foram
brasileira, que é de 2 µg.L-1 (BRASIL, 2011). Esse fato é divididas em regiões Norte e Sul, sendo que a região Sul
positivo em termos de valorização dos sucos de uva apresentou apenas 7% de amostras contaminadas, com
integrais produzidos no Rio Grande do Sul. valores de OTA entre 0,1 e 0,24 µg.L-1; já a região Norte
apresentou 100% de amostras contaminadas, e o valor
Os resultados dessa pesquisa são semelhantes aos estudos máximo foi de 1,33 µg.L-1.
realizados no Brasil, com sucos de origem brasileira,
em 2004 e 2006. Em estudo realizado por Rosa et al. A OTA está presente na uva e tem como importante
(2004), foram analisadas 64 amostras de suco de uva e foi característica a estabilidade térmica e a resistência a
detectada a presença de OTA em 25% das amostras, nas diferentes formas de processamento da uva. Isso indica
concentrações de 0,021 a 0,1 µg.L-1. Já no estudo realizado que a remoção de ocratoxina A pode ser muito difícil, tendo
por Shundo et al. (2006) foram analisados 38 sucos de como melhor forma de proteção a prevenção à formação
uva, sendo que a OTA não foi detectada em nenhuma das de micotoxinas (SIMON, 2006; NUNES, 2008; DUARTE, 2010).
amostras analisadas. Portanto, um suco de uva de qualidade, sem a presença
de OTA, está diretamente relacionado à qualidade da uva
A baixa incidência de OTA nas amostras analisadas utilizada como matéria-prima.
pode estar relacionada à baixa presença de fungos
ocratoxicogênicos nas uvas utilizadas como matéria-prima,
à presença de fungos potencialmente produtores que não
produziram OTA e/ou às condições climáticas durante as Conclusões
safras de produção dos sucos (SHUNDO et al., 2006; SIMON,
2006; TEIXEIRA, 2011). O tipo de uva e as diferentes práticas 1. Todas as concentrações de ocratoxina A encontradas
utilizadas no cultivo destas também podem exercer nos sucos analisados são inferiores ao limite máximo
influência na produção de OTA (SHUNDO et al., 2006). estabelecido pela legislação brasileira.
Ainda, os resultados desse estudo podem ser devidos à 2. A determinação de OTA em sucos visa à qualidade
proteção fitossanitária das uvas utilizadas na produção de do produto, obtendo, assim a seguridade do ponto de
sucos, à remoção dos cachos que apresentaram fungos vista do consumidor e a conquista de novos mercados
(facilmente observados pela coloração característica) consumidores.
e à correta higienização dos recipientes utilizados no
transporte da fruta (SIMON, 2006; JORDÃO, 2009).
Número da amostra
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
OTA (µg.L-1) 0,32 NQ(1) NQ(1) 0,11 NQ(1) NQ(1) 0,04 NQ(1) NQ(1) 0,06 0,082 NQ(1)
(1)
Não quantificado.
ABREU, A.R.; ARMENDÁRIZ, C.R.; FERNÁNDES, A.J.G.; TORRE, DUARTE, T.L. Ocratoxina A em alimentos e bebidas: uma
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(Mestrado) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul.
Aline Fogaça1
Carlos Eugenio Daudt2
Florencia Sainz Perez1
Resumo
objetivo deste trabalho foi acompanhar as mudanças nos teores de
compostos fenólicos e na cor de vinhos da variedade Merlot, produzidos
em duas regiões, nas safras 2009 e 2010, analisados em tempos diferentes
de envelhecimento. Em todos os vinhos analisados, ocorreu um aumento
na quantidade de pigmentos poliméricos durante o seu envelhecimento, fato
comprovado pela redução na quantidade de antocianinas sensíveis ao bissulfito,
redução na porcentagem de cor devido às antocianinas monoméricas, aumento
na porcentagem de cor devido às antocianinas poliméricas e aumento da cor a
420 nm. Os vinhos elaborados com uvas da região da Campanha diferenciaram-
se dos elaborados com uvas da Serra Gaúcha por alguns fatores. Durante o
envelhecimento dos vinhos da Campanha, houve aumento da cor devido
à copigmentação e às antocianinas poliméricas, sendo que avelocidade de
polimerização foi maior nos vinhos da Campanha, mas a intensidade de cor e as
1
Unifra
97010-032 Santa Maria, RS antocianinas totais foram maiores nos vinhos da Serra Gaúcha. De maneira geral,
2
UFSM o tempo de maceração de 15 dias é o mais recomendado, por resultar em maior
97105-910 Santa Maria, RS intensidade de cor. No entanto, a influência do tempo de maceração diminui com
Autor correspondente: o envelhecimento do vinho.
alinefogaca@uol.com.br
Palavras-chave: antocianinas, taninos, copigmentação, uva.
Introdução
As reações químicas de polifenóis são particularmente poliméricos, com participação das antocianinas extraídas
importantes em vinhos tintos, uma vez que esses são da casca da uva (BAKKER et al., 1993). Essa mudança é
responsáveis pelas mudanças de cor e de sabor que atribuída à formação de pigmentos poliméricas novos
ocorrem durante o envelhecimento (CHEYNIER, 2005). A e mais estáveis, através de reações entre antocianinas
cor de um vinho é resultado de uma mistura interessante originárias da uva com outros compostos fenólicos, em
e desafiadora, composta por vários componentes (VERSARI particular os flavan-3-ols (JURD, 1969; SCOLLARY, 2010),
et al., 2007), incluindo a presença de antocianinas sendo que o primeiro estudo confirmando a reação direta
monoméricas livres (MAZZA, 1995), a influência do entre antocianinas e taninos em vinhos tintos foi realizado
fenômeno de copigmentação com outros compostos por Remy et al. (2000). Esses pigmentos poliméricos são
fenólicos não coloridos (BOULTON, 2001) e os pigmentos mais resistentes ao branqueamento com dióxido de enxofre
poliméricos (SOMERS, 1971). e menos sensíveis a variações de pH, quando comparados
às antocianinas (SCOLLARY, 2010). Vários fatores podem
Inúmeras reações de flavonóides ocorrem durante o influenciar a polimerização de uma vinho. Na ausência de
processo de vinificação e envelhecimento do vinho, acetaldeído, o dióxido de enxofre reduz a taxa de perda de
produzindo uma grande variedade de produtos antocianinas e reduz levemente a polimerização. Quando o
incolores e pigmentos (FULCRAND et al., 2006). Durante acetaldeído está presente, os efeitos do dióxido de enxofre
o envelhecimento, o vinho tinto sofre mudanças em não são mais observados (PICINELLI et al., 1994). Monagas
algumas de suas características: alguns vinhos envelhecem et al. (2005), trabalhando com vinhos das variedades tintas
rapidamente, alcançando uma qualidade superior já no Tempranillo, Graciano e Cabernet Sauvignon, observaram
primeiro ano, enquanto que outros requerem muitos anos que durante o envelhecimento na garrafa ocorreu uma
de estocagem antes de atingir sua qualidade máxima redução progressiva do conteúdo de antocianinas, sendo
(SOMERS; EVANS, 1977). essa mais pronunciada entre três e nove meses após o
engarrafamento.
Durante o processo de envelhecimento, a cor do vinho
tinto muda de vermelho brilhante para uma tonalidade A variedade Merlot é cultivada em várias regiões vitícolas
vermelho amarronado, devido à formação de pigmentos do Rio Grande do Sul, Brasil, e seu vinho tem grande
As análises foram realizadas utilizando cubetas de quartzo Os teores de taninos apresentados nas Tabelas 1 e 2
de 1 ou 10 mm de caminho ótico, de acordo com o representam, na verdade, uma estimativa do teor de
comprimento a ser lido, em um espectrofotômetro UV 11- procianidinas da amostra. Essa metodologia baseia-se no
000, marca Pró Análise (UV/Visível). fato de que, quando aquecidos em meio ácido, algumas
ligações desses compostos são quebradas, resultando
A intensidade de cor e a tonalidade dos vinhos foram em carbocátions, que são posteriormente convertidos
determinadas (RIBÉREAU-GAYON et al., 2006) através em cianidinas, desde que o meio permita essa oxidação
da leitura da absorbância das amostras, em pH natural, (RIBÉREAU-GAYON et al., 2006). Na safra 2009 (Tabela 1),
nos comprimentos de onda 420, 520 e 620 nm. A conforme esperado, com 15 dias de maceração foram
copigmentação foi avaliada de acordo com a metodologia encontrados os maiores valores de taninos, para todos os
proposta por Boulton (1996), através da determinação de vinhos estudados. Por outro lado, na safra 2010 (Tabela 2),
antocianinas copigmentadas, monoméricas, poliméricas e as diferenças entre os tempos de maceração foram pouco
totais. As seguintes metodologias também foram utilizadas: significativas. Em relação ao processo de envelhecimento,
polifenóis totais, expresso em mg.L-1 de ácido gálico em ambas as safras, observa-se uma tendência de redução
(SINGLETON; ROSSI, 1965); antocianinas, por descoloração no teor de taninos. Essa redução pode ser explicada
Tabela 1. Concentração de fenóis totais, antocianinas e taninos em vinhos da variedade Merlot, safra 2009, com
diferentes tempos de maceração. Vinhedo de Dom Pedrito.
12 meses 28 meses
Variável Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
FT = fenóis totais (mg.L-1 ácido gálico); ANT = antocianinas (mg.L-1 malvidina-3-glucosídeo); TAN = (g.L-1 cloreto de cianidina).
*Médias seguidas por letras iguais, na mesma linha, não apresentam diferença significativa pelo teste de Tukey (p>0,05).
Tabela 2. Concentração de fenóis totais, antocianinas e taninos em vinhos da variedade Merlot, safra 2010, com diferentes
tempos de maceração. Vinhedos localizados em Dom Pedrito (vinho 3) e Bento Gonçalves (vinhos 4 e 5).
6 meses 18 meses
Variável Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
Tabela 3. Antocianinas copigmentadas, monoméricas, poliméricas e antocianinas totais em vinhos Merlot, safra 2009,
com diferentes tempos de maceração, em duas épocas de estocagem.Vinhedos no município de Dom Pedrito.
12 meses 28 meses
Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
Tabela 4. Antocianinas copigmentadas, monoméricas, poliméricas e antocianinas totais em vinhos Merlot, safra 2010,
com diferentes tempos de maceração, em duas épocas de estocagem. Vinhedos localizados em Dom Pedrito
(vinho 3) e Bento Gonçalves (vinhos 4 e 5).
6 meses 18 meses
Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
Tabela 5. Intensidade de cor e tonalidade em vinho Merlot, safra 2009, com diferentes tempos de maceração.
Vinhedos localizados em Dom Pedrito.
12 meses 28 meses
Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
*Médias seguidas por letras iguais, na mesma linha, não apresentam diferença significativa pelo teste de Tukey (p>0,05).
Tabela 6. Intensidade de cor e tonalidade em vinhos Merlot, safra 2010, com diferentes tempos de maceração.
Vinhedos localizados em Dom Pedrito (vinho 3) e Bento Gonçalves (vinhos 4 e 5).
12 meses 28 meses
Vinho
4 dias 8 dias 15 dias 4 dias 8 dias 15 dias
Figura 1. Distribuição das amostras na Análise de Componentes Principais em vinhos da variedade Merlot:
duas safras (2009 e 2010); dois tempos de estocagem (A e B); e três tempos de maceração (4, 8 e 15 dias).
Vinhos 1, 2 e 3 – Dom Pedrito; vinhos 4 e 5 – Bento Gonçalves.
Figura 2. Pesos das variáveis na Análise de Componentes Principais em vinhos da variedade Merlot. FT
= fenóis totais (mg.L-1 ácido gálico); ANT = antocianinas (mg.L-1 malvidina glicosídeo); TAN = taninos (g.L-
1
cloreto de cianidina); IC = intensidade de cor; % C = antocianinas copigmentadas; % M = antocianinas
monoméricas; % P = antocianinas poliméricas; TA = antocianinas totais (unidades de absorbância); IPT
= índice de polifenóis totais; ApH 1 = antocianinas potenciais (mg.L-1 malvidina glicosídeo); ApH 3,2=
antocianinas extraíveis (mg.L-1 malvidina glicosídeo); IMC % = índice de maturidade celular; TC % =
proporção de taninos nas cascas; TS % = proporção de taninos nas sementes.
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p.745-751, 2000.
Alberto Miele1
Carlos Alberto Flores2
José Maria Filippini Alba2
Cristiane Bárbara Badalotti3
Resumo
onduziu-se este trabalho em 2012 com o objetivo de estudar o efeito do solo
sobre os compostos fenólicos do vinho Merlot. Amostrou-se uva de cada
tipo de solo e fez-se vinho em duplicata para cada um deles. Analisaram-se
14 variáveis, cujos parâmetros foram submetidos à análise de componentes
principais (ACP). Os resultados mostram que a ACP discriminou os vinhos
avaliados, onde os três componentes principais (CPs) representaram 95,01% da
variação total. O CP1 discriminou o vinho elaborado com uva proveniente do
Argissolo 2, o qual foi representado por valores mais elevados das absorbâncias
420, 520 e 620 nm, intensidade de cor, índice de polifenóis totais, antocianinas e
atividade antioxidante, e mais baixos de matiz. O CP2 discriminou o vinho da uva
produzida no Neossolo 1 e no Neossolo 2, os quais se caracterizaram por valores
1
Embrapa Uva e Vinho mais baixos de malvidina, resveratrol, kaempferol e quercetina, mas maiores de
95700-000 Bento Gonçalves, RS
2
Embrapa Clima Temperado taninos. O CP3 discriminou o vinho proveniente do Argissolo 1, que teve valores
96010-971 Pelotas, RS mais elevados de miricetina. Esses resultados evidenciam que o solo tem efeito
3
IFRS - Campus Bento Gonçalves sobre a composição fenólica do vinho Merlot e, por extensão, pode ter sobre sua
95700-000 Bento Gonçalves, RS qualidade, características sensoriais e tipicidade.
Autor correspondente:
alberto.miele@embrapa.br Palavras-chave: viticultura de precisão, polifenóis, flavonóis, resveratrol,
malvidina.
40 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.40-47, 2014
Abstract
Introdução
A utilização de tecnologias de agricultura de precisão em (ARNÓ et al., 2009). Ainda, segundo esses autores, as
viticultura iniciou na Austrália (BRAMLEY; PROFFITT, 1999) e pesquisas realizadas com tecnologias de viticultura de
nos Estados Unidos (WAMPLE et al., 1999) há pouco mais de precisão visam principalmente a quantificar e avaliar a
uma década. Posteriormente, foi adotada por viticultores variabilidade espacial do solo, determinar zonas de manejo
de países vitivinícolas da Europa, como França e Espanha, baseadas em análises e interpretação dessa variabilidade,
e da América do Sul. desenvolver tecnologias para aplicação de insumos por
taxa variável e avaliar as oportunidades para o manejo do
Essas tecnologias proporcionam condições para melhorar vinhedo em área específica.
a habilidade de se manejar o vinhedo, considerando-se
que há variabilidade espacial do solo que, com frequência, Os compostos fenólicos, juntamente com as substâncias
ocorre em espaços diminutos. Para atingir esse objetivo, aromáticas, são importantes para a determinação das
há equipamentos e tecnologias que proporcionam aos características e qualidade do vinho. Sua ação é mais
viticultores oportunidade de direcionar a produção de expressiva nos aspectos visuais, como intensidade de cor
uva de acordo com o desempenho do vinhedo, visando a e matiz, especialmente dos vinhos tintos, e no paladar,
harmonizar a produtividade do vinhedo e a qualidade da destacando-se a estrutura, a persistência, a longevidade
uva e a causar menor impacto negativo ao meio ambiente e as características organolépticas do produto. Mais
(BRAMLEY et al., 2001). recentemente, as pesquisas com vinho têm evidenciado
sua ação benéfica à saúde humana.
As tecnologias de viticultura de precisão relacionam-se
a vários aspectos, especialmente a sensores e monitores A presença desses compostos na uva depende dos mais
de produção, sensores proximais e remotos, sistemas de diversos fatores, todos eles relacionados ao cultivo da
posicionamento orientados por satélite, como o GPS, videira. Citam-se, especialmente, o efeito do cultivar, do
equipamentos e maquinaria para aplicação de insumos a clone e do porta-enxerto; das características físico-químicas
taxa variável e sistemas para espacialização, interpretação do solo; dos fatores climáticos que ocorrem durante o
e análise de dados, como os SIGs e aplicativos estatísticos ciclo vegetativo da videira, especialmente durante a fase
(A) (B)
Figura 1. Projeção dos vinhos (A) e das variáveis (B) nos planos formados pelos componentes principais 1 x 2. Legenda: ARG1= vinho do
Argissolo 1; ARG2= vinho do Argissolo 2; CAM= vinho do Cambissolo; NEO1= vinho do Neossolo 1; NEO2= vinho do Neossolo 2; MAV=
malvidina; RES= resveratrol; QUE= quercetina; MIR= miricetina; KAE= kaempferol; AOX= atividade antioxidante; 420= absorbância 420
nm; 520= absorbância 520 nm; 620= absorbância 620 nm; INC= intensidade de cor; MAT= matiz; IPT= índice de polifenóis totais; ANT=
antocianinas; TAN= taninos; AOX= atividade antioxidante.
(A) (B)
Figura 2. Projeção dos vinhos (A) e das variáveis (B) nos planos formados pelos componentes principais 1 x 3. Legenda: ARG1= vinho do
Argissolo 1; ARG2= vinho do Argissolo 2; CAM= vinho do Cambissolo; NEO1= vinho do Neossolo 1; NEO2= vinho do Neossolo 2; MAV=
malvidina; RES= resveratrol; QUE= quercetina; MIR= miricetina; KAE= kaempferol; AOX= atividade antioxidante; 420= absorbância 420
nm; 520= absorbância 520 nm; 620= absorbância 620 nm; INC= intensidade de cor; MAT= matiz; IPT= índice de polifenóis totais; ANT=
antocianinas; TAN= taninos; AOX= atividade antioxidante.
Referências
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António Jordão1
Ari de Mari2
Resumo
fetuou-se a avaliação do teor em taninos elágicos e da atividade antioxidante
de 14 aparas (chips) de madeira de carvalho (Quercus spp.), que podem
ser encontradas no mercado de produtos enológicos (incluindo o Brasil),
como produtos alternativos à utilização de barricas para a maturação de
vinhos. A atividade antioxidante total foi quantificada utilizando-se dois dos
principais métodos químicos: DPPH e ABTS, assim como o teor em fenóis totais.
Foram também quantificados, por HPLC, quatro taninos elágicos (vescalagina,
castalagina, roburina D e roburina E) e, ainda, o ácido elágico. As amostras de
aparas de madeira de carvalho da espécie Quercus petraea apresentaram valores
de atividade antioxidante significativamente mais elevados que as amostras
1
Instituto Politécnico de Viseu -
da espécie Quercus alba. No geral, a atividade antioxidante decresceu com o
Escola Superior Agrária aumento do nível de tosta das amostras de aparas analisadas. Efeito similar foi
3500-606 Viseu, Portugal detectado nos teores em taninos elágicos estudados. Por outro lado, o processo
2
AEB - Bioquímica Portuguesa S.A. de tosta induziu a um aumento dos teores em compostos fenólicos totais e ainda
3500-618 Viseu, Portugal
da concentração em ácido elágico.
Autor correspondente:
antoniojordao@esav.ipv.pt Palavras-chave: aparas de madeira, atividade antioxidante, compostos fenólicos,
taninos elágicos.
50 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.50-57, 2014
Abstract
Key words: oak wood pieces, antioxidant activity, phenolic compounds, ellagitannins.
Introdução
Atualmente, ao se pretender obter vinhos tintos com uma dos vinhos tintos, sendo tal fato explicado pela extração a
maior capacidade de envelhecimento, associada a uma partir da madeira de grandes quantidades de compostos
maior complexidade de sabores e aromas, as opções do fenólicos. Nesse âmbito, os taninos elágicos presentes
enólogo passam pela utilização de uvas em bom estado na madeira de carvalho desempenham um papel
sanitário e com bom nível de maturação (em particular fundamental (GONÇALVES; JORDÃO, 2009). Os taninos
em termos fenólicos), pela realização de macerações mais elágicos encontram-se presentes em várias espécies de
prolongadas para favorecer a extração de compostos madeira de carvalho, pertencendo ao grupo dos taninos
fenólicos e, ainda, pelo estágio dos vinhos em barricas de hidrolisáveis e representando um valor acima de 10%
madeira, nomeadamente de carvalho (JORDÃO et al., 2006). da matéria seca da madeira (SCALBERT et al., 1988). A
vescalagina e a castalagina são os taninos elágicos que se
O contato do vinho com a madeira de carvalho permite encontram predominantemente nas madeiras de carvalho
a difusão da madeira para o vinho de vários compostos, (ALAÑÓN et al., 2011).
induzindo a um incremento qualitativo destes (DE
CONINCK et al., 2006). Os componentes da madeira que De acordo com vários autores (MOUTOUNET et al., 1989;
podem ser transferidos para o vinho incluem vários tipos VIVAS; GLORIES, 1996), esses compostos estão envolvidos
de compostos, como sejam taninos (VIRIOT et al., 1993; nos processos de oxidação que ocorrem nos vinhos ao
VIVAS; GLORIES, 1996; JORDÃO et al., 2007), compostos longo do tempo, desempenhando um importante papel
voláteis presentes naturalmente na madeira ou resultantes ao nível da capacidade em absorverem o oxigênio presente
da termodegradação da lignina (ORTEGA-HERAS et al., nos vinhos, facilitando a estabilidade da cor, além de
2004; JORDÃO et al., 2005), hemiceluloses e, ainda, outros aumentar o potencial antioxidante existente.
componentes macromoleculares (CHATONNET, 1995).
Nos últimos anos, o contato do vinho com a madeira deixou
Alguns autores têm referido que a conservação dos de ser única e exclusivamente associado à maturação dos
vinhos em contato com a madeira de carvalho contribui vinhos em barricas. Assim, surgiram outras alternativas
positivamente para o aumento da capacidade antioxidante a essa metodologia tradicional, nomeadamente através
Figura 1. Aspecto visual de algumas das aparas de madeira para uso enológico analisadas.
recorreu-se a duas das principais metodologias: métodos o ácido elágico. Os picos cromatográficos relativos a cada
ABTS e DPPH. O método ABTS é baseado na descoloração tanino elágico foram identificados de acordo com dados
que ocorre quando o radical do cátion ABTS+ é reduzido a de referência previamente publicados (VIRIOT et al., 1994;
ABTS (RE et al., 1999). A coloração produzida é quantificada JORDÃO et al., 2007). Para o ácido elágico, a identificação
a uma absorvância de 734 nm após 15 min de reação. foi efetuada por comparação do tempo de retenção do
No método DPPH, seguiu-se a metodologia descrita por respectivo padrão externo.
BRAND-WILLIAMS et al. (1995). A coloração resultante da
reação produzida entre o DPHH e o extrato é quantificada Análise estatística
após 20 min a uma absorvância de 515 nm. Em ambos os Para a análise das diferenças entre os resultados das
métodos, os resultados foram expressos em equivalentes diferentes variáveis, efetuou-se uma análise de variância e
de Trolox, com elaboração prévia das respetivas curvas de comparação das médias, usando o programa SPSS versão
calibração. 11.0 (SPSS Inc., Chicago, EUA). As diferenças das médias
foram analisadas recorrendo ao teste de Duncan (α < 0,05).
Determinação dos taninos elágicos e do ácido elágico
A partir de 2 mL de cada extrato, efetuou-se a sua
concentração sob corrente de nitrogênio para remover a
acetona, tendo depois o resíduo sido redissolvido com 3 mL Resultados e Discussão
de água destilada. Retiraram-se, em seguida, 10 µL do extrato
de forma a serem analisados os taninos elágicos através da Pela análise da Figura 2A, verifica-se que houve uma
cromatografia líquida de alta performance (HPLC). No caso elevada variação no teor em fenóis totais entre as amostras
da determinação do ácido elágico, a análise cromatográfica de aparas estudadas (variação entre 128,3 e 824,8
foi feita diretamente a partir dos extratos de madeira. As mg.L-1, respectivamente, na amostra DTF e F2F). Tal como
condições de preparação dos extratos para análise e as seria esperado e confirmando a bibliografia (DOUSSOT
condições cromatográficas (nomeadamente os solventes et al., 2002), no geral as aparas de madeira da espécie
e respectivos gradientes) seguiram a metodologia descrita Quercus petraea (carvalho francês) apresentaram valores
por Jordão et al. (2007). O equipamento de HPLC usado significativamente mais elevados de fenóis totais e de
foi um Dionex Ultimate 3000 equipado com uma bomba ácido elágico comparativamente às amostras de aparas da
quaternária modelo LPG-3400A e um injetor automático madeira da espécie Quercus alba (carvalho americano).
modelo ACC-3000, sendo a coluna utilizada uma C18
Acclain® 120 (250 x 4.6 mm) mantida a uma temperatura de Para a maior parte dos resultados, o aumento do nível
25 ºC. Os comprimentos de onda utilizados foram de 280 de tosta das aparas também influenciou o teor em fenóis
e 370 nm, respetivamente, para os taninos elágicos e para totais presentes, sendo que o aumento do nível da tosta
763.0 A
Fenóis totais (mg.L-1 eq. ác. gálico)
723.9 A
700
641.0 B
592.1 B
512.9 F
483.4 F
500
427.6 F
360.8 E
333.7 E 333.9 E
284.7 C
300
244.7 C
128.3 D
100
FB SCH DTM DTF A2M A2F A8M A8F F2L F2M F2F F8L F8M F8F
Amostras de aparas
Ácido elágico B
19
14.7c
Ácido elágico (mg.g-1 madeira seca)
16
12.6 e
13
9.6 a 9.7 a 10.5 a
8.6 a
10
6.9 c
6.0 c
7
4.7 b
4.2 b 3.4 b 4.0 b
3.2 b
4
2.3 d
1
FB SCH DTM DTF A2M A2F A8M A8F F2L F2M F2F F8L F8M F8F
Amostras de aparas
50
Taninos elágicos C
Taninos elágicos (mg.g-1 madeira seca*)
Roburina E
Roburina D
40
Castalagina
30 Vescalagina
20
10
0
FB SCH DTM DTF A2M A2F A8M A8F F2L F2M F2F F8L F8M F8F
Amostras de aparas
Figura 2. Valores médios em fenóis totais, ácido elágico e taninos elágicos individuais das aparas de madeira de carvalho analisadas.
(Ver tabela 1 para decodificação de cada amostra; os valores médios com diferentes letras são significativamente diferentes, α < 0,05).
*Valores expressos em equivalentes de ácido elágico.
177.8 A
170
158.4 A
(TEAC µmol.g-1 madeira seca)
150.2 A
Atividade antioxidante
130 122.3 A
90.5 D
90 85.8 D
78.6 D
67.6 D
59.4 E
56.4 E
45.5 B
50
38.0 B
16.9 C
10
FB SCH DTM DTF A2M A2F A8M A8F F2L F2M F2F F8L F8M F8F
Amostras de aparas
169.5 E
(TEAC µmol.g-1 madeira seca)
160
Atividade antioxidante
120.1 A 121.0 A
120 111.9 A
86.4 F
81.8 F
80
53.6 D
47.1 D 47.2 D
40 30.9 B 28.6 B
28.8 B
8.8 C
0
FB SCH DTM DTF A2M A2F A8M A8F F2L F2M F2F F8L F8M F8F
Amostras de aparas
Figura 3. Valores médios da atividade antioxidante total das aparas de madeira de carvalho analisadas por dois métodos.
(Ver tabela 1 para decodificação de cada amostra; os valores médios com diferentes letras são significativamente diferentes, α < 0,05).
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Laércio Spadari1,2
Ana Paula L. Delamare1
Alejandro Cardozo3
Regina Vanderlinde1,4
Sergio Echeverrigaray1
Resumo
Serra Gaúcha apresenta uma excelente aptidão enológica para produzir
vinhos espumantes de qualidade. O desenvolvimento de algumas tecnologias
como, por exemplo, o uso de leveduras selecionadas, tem contribuído em
aportar maior complexidade e tipicidade aos espumantes. Neste trabalho
foram avaliadas as características físico-químicas e organolépticas de vinho base
e de vinhos espumantes naturais, elaborados com diferentes cepas de leveduras,
pelo Método Tradicional, e com oito cepas de leveduras secas ativas comerciais
Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces cerevisiae rf. bayanus. O vinho base e
os vinhos espumantes foram analisados quanto à composição básica e avaliados
1
UCS sensorialmente. Os resultados das análises básicas dos espumantes mostraram
95070-960 Caxias do Sul, RS que, independente da levedura utilizada, a segunda fermentação foi concluída
2
Veneto Mercantil de forma adequada. Os espumantes exibiram uma tendência geral de redução na
95270-000 Flores da Cunha, RS intensidade de frutado, floral e vegetal, e aumento na intensidade de levedura em
3
Vinícola Piagentini relação ao vinho base. Foram detectadas importantes diferenças nas características
95020-183 Caxias do Sul, RS sensoriais entre os espumantes obtidos com distintas leveduras, especialmente
4
Ibravin/Laren
no que diz respeito à qualidade de espuma, intensidade e fineza de aromas,
95084470 Caxias do Sul, RS
persistência e qualidade geral, destacando-se as leveduras SP665, X5 e X16.
Autor correspondente:
selaguna@ucs.br Palavras-chave: levedura, espumante, segunda fermentação, características
sensoriais.
58 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.58-64, 2014
Abstract
Key words: yeast strains, sparkling wines, second fermentation, sensory characteristics.
Introdução
A região da Serra Gaúcha é a principal produtora de vinhos componentes voláteis majoritários são formados durante
espumantes do Brasil. Atualmente, são produzidos mais de a fermentação e dependem da cepa de levedura (POZO-
onze milhões de litros de vinho espumante natural. Entre os BAYÓN et al., 2009). Claras evidências de influência da cepa
fatores que determinam a aptidão enológica e a tipicidade de levedura no perfil sensorial e compostos voláteis do
do vinho espumante da Serra Gaúcha, destacam-se: (1) os vinho base foram obtidas por Torrens et al. (2008).
relacionados ao vinho base (cultivares, maturação, clima,
solo, processo de extração, clarificação e fermentação) e Segundo Zambonelli (2003), a cepa de levedura
(2) os relacionados com a tomada de espuma (cepas de responsável pela segunda fermentação tem influência
leveduras, temperatura, tempo de fermentação e autólise marcante na qualidade dos vinhos espumantes, já que
das leveduras). essa etapa é conduzida em ambiente fechado, que impede
a dispersão de alguns compostos voláteis e apresenta
Os vinhos espumantes produzidos pelo método tradicional condições particularmente estressantes para as leveduras,
ou champenoise têm suas características particulares o que tem levado à utilização de cepas de Saccharomyces
determinadas por processo fermentativo duplo. Numa bayanus, atualmente S. cerevisiae rf. bayanus. Se, por um
primeira fermentação é obtido o vinho base, o qual, após lado, a capacidade de autofagia/autólise de leveduras tem
clarificação e filtração, recebe açúcar e levedura e procede sido claramente associada à qualidade de espuma, aroma
a uma segunda fermentação em garrafa para tomada de e sabor de espumantes (ALEXANDRE; GUILLOUX-BENATIER,
espuma e maturação (POZO-BAYÓN et al., 2009). 2006; POZO-BAYÓN et al., 2009), ainda não é clara a
contribuição de distintas leveduras, usadas na segunda
As características organolépticas de vinhos brancos e fermentação, na composição de compostos voláteis (POZO-
espumantes são decorrentes de diversos fatores, entre BAYÓN et al., 2003).
os quais sobressaem as variedades de uvas empregadas,
as cepas de leveduras e as condições utilizadas durante Nesse contexto, no presente trabalho foi avaliada a
a elaboração (UBEDA et al., 2000). Apesar de um grande influência de distintas cepas de leveduras comerciais
número de componentes aromáticos ser oriundo da uva, os (Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces cerevisiae
Tabela 1. Análises básicas do vinho base e dos espumantes obtidos com oito cepas de leveduras.
Médias seguidas por letras distintas, na coluna, são significativamente diferentes pelo teste de Tukey (P≤0,05).
1,50
Grupo 1
7
1,00 2 3
0,50
CP 1
0,00
6
Grupo 3
5
-0,50
1
-1,00 Grupo 2
4
8
-1,50
1,0 FINPAL
FINAROM INTAROM
INEFER PERSIST
QUALESP
INTPAL INTFRUT
QUALGERAL CORPO
INTFLOR
0,5 DOC
ACID
INTLEV
CP 1
0,0
GOSTIND
INTCOR BORB
-0,5
INTVEG AMARG
ODINDES
-1,0
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Trends in Food Science and Technology, v.20, p.289-299,
2009.
Sheila Canossa1
Diane Lenz Mossmann1
Bruna Dachery1
Vitor Manfroi1
Resumo
m volume considerável de uva do grupo das americanas é destinado para
a produção de suco de uva caseiro. Considerando-se que o consumo de
produtos derivados de frutas vem crescendo consideravelmente devido
ao seu valor nutricional, a produção de sucos e produtos derivados de uva
deve ser estimulada. Assim sendo, este trabalho teve por objetivo avaliar o suco de
uva elaborado a partir das variedades Concord, Niágara Branca e Niágara Rosada,
por extração a vapor, bem como estudar sua estabilidade físico-química durante
0, 120, 240 e 360 dias de armazenamento em três diferentes cores de garrafas. As
análises físico-químicas realizadas foram: pH, sólidos solúveis totais expressos em
1
UFRGS °Brix e absorbâncias em comprimento de ondas de 420, 520 e 620 nm. Os valores
91509-900 Porto Alegre, RS de pH, °Brix e absorbância apresentaram diferentes comportamentos durante o
armazenamento, entretanto não variou significativamente quanto às três cores
Autor correspondente: das garrafas empregadas.
sheilacssa@gmail.com
Palavras-chave: caracterização físico-química, armazenamento, cor.
Introdução
Suco de uva é a bebida não fermentada e não diluída, cultivares são submetidos (MARZOTO, 2005). De acordo
obtida da parte comestível da uva (Vitis ssp.) através de com Miele et al. (1990), o suco de uva possui compostos
processo tecnológico adequado (BRASIL, 2010). fenólicos responsáveis pela cor, adstringência e estrutura.
Os principais compostos fenólicos são as antocianinas, os
As variedades de Vitis labrusca constituem a base na taninos e os ácidos fenólicos. Os polifenóis agem contra
elaboração de vinho de mesa e suco de uva no Brasil. o envelhecimento do organismo e reduzem a oxidação
Concord, Isabel e Bordô são os principais cultivares utilizados de outras moléculas, sendo os maiores responsáveis pela
na produção de suco de uva. Esses cultivares possuem diminuição dos radicais livres (CHIVA-BLANCH et al., 2012).
elevada capacidade produtiva e baixa susceptibilidade
às principais doenças fúngicas que atacam a videira. Diferentes equipamentos são utilizados na elaboração
Os cultivares como Niágara Branca e Niágara Rosada de sucos de uva (FULEKI; SILVA, 2003). O método mais
destacam-se como uvas de mesa, por sua tolerância às empregado pelos produtores de suco de uva caseiro é
doenças fúngicas e apresentarem boa adaptação ao clima realizado por um equipamento simples denominado de
úmido (DETONI et al., 2005). panela extratora. Nesse método de elaboração, o suco é
engarrafado a quente para garantir a estabilidade biológica
O suco de uva vem despertando interesse devido às suas sem aditivos químicos (RIZZON et al., 1998). Nas empresas
características nutricionais e sua capacidade antioxidante, de maior porte é muito comum o emprego de trocadores
já que apresenta quantidades significativas de flavonóides, de calor. Nesse caso, as uvas são desengaçadas, aquecidas
onde se destacam as catequinas, as epicatequinas e as e, por fim, são adicionas as enzimas. O engarrafamento é
antocianinas (WANG et al., 1996). Segundo Dani et al. realizado por um trocador de calor tubular ou de placas
(2011) os sucos tintos e brancos são ricos em compostos onde é pasteurizado. Segundo Rizzon e Meneguzzo (2007),
bioativos, e esses, por sua vez, auxiliam na prevenção nesse processo não há contato com vapor de água utilizado
de câncer e doenças cardíacas. A composição química para aquecer e pasteurizar o suco.
do suco de uva depende da variedade, da maturação,
do clima e dos tratamentos fitossanitários em que os Na matriz produtiva, com exceção dos sucos concentrados,
Material e Métodos
Resultados e Discussão
A extração do suco de uva dos cultivares Niágara Branca,
Niágara Rosada e Concord foi realizada no laboratório de pH
Enologia e Bebidas do Instituto de Ciências e Tecnologia
de Alimentos da Universidade Federal do Rio Grande do Apesar de o pH não ser uma variável exigida pela legislação,
Sul, seguindo o protocolo descrito por Rizzon et al. (1998). ela é importante, pois exerce influência principalmente na
As uvas utilizadas no experimento foram provenientes da forma pela qual as antocianinas encontram-se presentes no
Estação Experimental Agronômica da UFRGS, localizada no produto (WROLSTAD et al., 2005). O pH corresponde à acidez
município de Eldorado do Sul, RS, e também dos vinhedos real e representa a concentração de íons de hidrogênio que
da Vitivinícola Jolimont, em Canela, RS. provêm da dissociação dos ácidos (CABANIS, 2000).
Os sucos foram obtidos através do sistema semi-industrial Pode-se perceber que em se tratando de pH, o
de extração, designado de panela extratora, que procede a comportamento dos sucos armazenados nas diferentes
extração do mesmo por vapor d’água. Esse equipamento garrafas não obteve diferença significativa (Tabela 1). Os
apresenta capacidade de aproximadamente 18 kg de uva. sucos dos três cultivares mantiveram o pH estável nos
Foram utilizadas apenas uvas inteiras, desengaçadas e primeiros 240 dias, apresentando uma pequena queda
selecionadas manualmente. O envase do suco foi realizado quando armazenados a 360 dias. Segundo Pinheiro
a quente, com temperatura superior a 75 °C, para garantir et al. (2009), o suco da variedade Benitaka também
a estabilidade biológica sem adição de conservantes apresentou uma redução do pH no período de 180 dias de
químicos. O “head space” deixado foi o mínimo possível para armazenamento.
evitar a contaminação e o desenvolvimento microbiano.
Sólidos solúveis totais (°Brix)
O experimento teve como objetivo avaliar a influência da
garrafa durante o armazenamento, sendo que o processo Os principais açúcares encontrados na uva são glicose e
Verde 3,05 3,16 3,26 2,98 3,17 3,20 2,98 3,175 3,19 2,80 3,13 3,01
Âmbar 3,05 3,16 3,26 2,96 3,17 3,21 2,96 3,17 3,22 3,38 3,04 2,85
Transparente 3,05 3,16 3,26 2,96 3,19 3,20 2,97 3,19 3,17 2,84 2,935 3,02
Tabela 2. °Brix dos sucos de uva Concord, Niágara Rosada e Niágara Branca.
Verde 11 11,7 11,2 12,2 12,5 11,7 11,1 11,7 10,8 10,8 11,5 11
Âmbar 11 11,7 11,2 12,0 12,5 11,8 11,2 11,8 11,0 10,8 11,5 11
Transparente 11 11,7 11,2 12,4 12,5 12,1 11,1 11,7 10,8 10,8 11,5 11
Tabela 3. Absorbância em 420nm dos sucos de uva Concord, Niágara Rosada e Niágara Branca.
Verde 0,958 0,898 2,240 0,902 1,761 1,472 1,367 1,633 1,569 1,655 2,001 1,973
Âmbar 0,958 0,898 2,240 1,382 1,741 0,146 1,249 1,596 1,401 1,643 1,571 1,808
Transparente 0,958 0,898 2,240 1,683 1,687 1,523 1,481 1,757 1,370 1,814 2,152 2,055
1. As três cores de garrafa utilizadas para armazenar o suco 2. O processo com panela extratora apresentou bons
de uva não mostraram diferença significativa entre si, de resultados quanto ao pH, °Brix e cor nos três comprimentos
modo geral os sucos podem ser armazenados em qualquer de onda analisados, 420, 520 e 620 nm).
cor de garrafa, seja ela âmbar, transparente ou verde.
Tabela 4. Absorbância em 520nm dos sucos de uva Concord, Niágara Rosada e Niágara Branca.
Verde 1,051 0,607 0,480 1,282 0,945 0,824 1,212 0,678 0,868 1,307 1,128 0,868
Âmbar 1,051 0,607 0,480 1,253 0,944 0,817 1,119 0,714 0,855 1,308 0,890 0,855
Transparente 1,051 0,607 0,480 1,440 0,955 0,880 1,231 0,719 1,006 1,366 1,195 1,006
Tabela 5. Absorbância em 620 nm dos sucos de uva Concord, Niágara Rosada e Niágara Branca.
Verde 0,333 0,259 0,250 0,410 0,453 0,419 0,388 0,400 0,429 0,489 0,554 0,518
Âmbar 0,333 0,259 0,250 0,405 0,453 0,421 0,341 0,387 0,358 0,485 0,443 0,471
Transparente 0,333 0,259 0,250 0,507 0,461 0,461 0,413 0,445 0,369 0,541 0,580 0,532
Referências
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Bento Gonçalves. Anais. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e
Vinho, 2005.
Resumo
xplorar os fatores motivadores e inibidores do consumidor de vinhos
espumantes no mercado brasileiro foi o objetivo central deste trabalho.
Utilizou-se uma metodologia de pesquisa exploratória através de um
questionário aplicado em um ambiente online, disponibilizado em um
website, a consumidores de vinho espumante no mercado brasileiro. Foram
utilizados dados de 222 respondentes no território nacional, que afirmaram
consumir vinhos espumantes. Verificou-se uma nova tendência de consumidores
nesse mercado, onde, além de um público com elevado nível de instrução e de
renda, o público jovem universitário, com renda de até três salários mínimos, já
se faz presente. As maiores motivações para esse consumidor são o prazer e a
companhia de amigos, mesmo que ainda possa se considerar esta como uma
bebida motivada por comemorações. Dentre as maiores inibições para o aumento
de consumo, uma grande fatia dos respondentes afirmou já consumir o suficiente,
1
Centro Universitário Franciscano sendo que, além do preço, a falta de hábito demonstra ser um importante fator
97010-491 Santa Maria, RS inibidor. Tais informações podem ser exploradas quando se visa a estimular o
2
UFSM aumento de consumo nesse mercado. Esse estudo traz novas perspectivas em
97105-900 Santa Maria, RS relação ao consumidor brasileiro de espumantes, indicando novas ações para a
Autor correspondente: gestão do marketing.
francielenunesmarques@hotmail.com Palavras-chave: comportamento do consumidor, vinhos espumantes, fatores
motivadores e inibidores.
74 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.74-79, 2014
Abstract
Introdução
Nesses tempos de grande consumismo, o que há algumas que apesar de representar apenas uma pequena fatia
décadas era considerado supérfluo e fútil, ou sequer nem desses dois litros, vem apresentando as maiores taxas de
existia, tornou-se uma necessidade primária e essencial na crescimento dentre os tipos de vinho fabricados no Brasil
vida de muitas pessoas e, nesse contexto, as preferências (HOLANDA, 2012). De acordo com Mello (2011), os vinhos
dos consumidores mudaram e se tornaram altamente espumantes, cujo mercado tem absorvido toda a produção
diversificadas. De acordo com Schiffman e Kanuk (2000), gaúcha, pelas características e elevada qualidade, em 2011
esses novos consumidores passaram a preferir produtos continuaram sua trajetória crescente, com uma ascensão
diferenciados, que pudessem refletir suas necessidades de 6,26% nas vendas. Em Santa Catarina, conforme Protas
próprias e especiais, personalidades e estilos de vida. e Camargo (2011), alguns produtores já estão revendo
suas estratégias mercadológicas, substituindo parte da
No mercado de vinhos, essa mudança ocorreu na mesma produção de vinho tinto pela produção de espumantes,
proporção. Com a internacionalização desse mercado e a cujo mercado interno continua firme e crescente. Todas
entrada dos países considerados do novo mundo vinícola, as questões relativas ao comportamento de consumo
estabeleceu-se uma competição acirrada no setor com um merecem ser estudadas, com o objetivo de fornecer
consequente aumento no portfólio de produtos (GARCIA- elementos elucidativos para os agentes que atuam na
PARPET, 2004). O Brasil faz parte desse novo mundo e a cadeia produtiva do vinho no Brasil.
produção brasileira vem crescendo, tanto nos aspectos
de produtividade quanto de qualidade, destacando-se O estudo do comportamento do consumidor é uma função
especialmente os vinhos espumantes, para os quais o Brasil essencial do marketing, contribuindo efetivamente para
apresenta elevado potencial (ALBERT, 2008). o sucesso do negócio (SAMARA; MORSCH, 2005). Em
conformidade com Kotler e Keller (2006), uma vez que o
Apesar da expansão da indústria vitivinícola brasileira, propósito do marketing centra-se em atender e satisfazer
o consumo de vinho ainda é baixo quando comparado a às necessidades e aos desejos dos consumidores, torna-se
outros países, situando-se na faixa de dois litros per capita fundamental conhecer o seu comportamento de consumo.
(SATO, 2009). Entretanto, o consumo de vinhos espumantes, A resposta do consumidor é o teste decisivo para verificar se
A metodologia consistiu em uma pesquisa exploratória a Para o processamento dos dados, primeiramente foi
partir da aplicação de um questionário a consumidores de analisado o perfil da amostra atingida pelo questionário,
vinhos espumantes no mercado brasileiro. Para a coleta de de forma a verificar se foi alcançada uma amostra
dados, utilizou-se um questionário estruturado, adaptado representativa do público alvo objetivado. Foram recebidas
para um ambiente online. O uso da internet para coleta cerca de 300 respostas no site, sendo que 290 no território
de dados através da disponibilização de um questionário brasileiro. Dessas, 222 afirmaram consumir vinhos
para que quaisquer usuários acessem e respondam-no espumantes, sendo essa a amostra considerada para esse
foi justificada por diversos autores, como Evans e Mathur estudo. A distribuição geográfica da amostra abrangeu 15
(2005) e Gonçalves (2008). estados brasileiros, sendo eles Rio Grande do Sul (54,1%),
São Paulo (13,5%), Santa Catarina (8,1%), Rio de Janeiro
O questionário foi disponibilizado aos respondentes, (6,8%), Paraná (4,5%), Distrito Federal (3,6%), Minas Gerais
utilizando uma tecnologia de desenvolvimento de (2,7%), Pernambuco (1,8%), Maranhão (0,9%), Rio Grande
formulários da plataforma Google Drive® 2013, durante do Norte (0,9%), Bahia (0,9%), Ceará (0,9%), Espírito Santo
três semanas, a partir de 15 de setembro de 2013, em um (0,5%), Goiás (0,5%) e Mato Grosso (0,5%).
site desenvolvido para a pesquisa, no endereço: www.
ProjetoConsumidordeEspumante.webnode.com. Em seguida, os porcentuais das frequências de cada opção
de resposta às questões foram calculados e comparados
Ele foi estruturado e aplicado em duas partes, sendo entre si em tabelas elaboradas no programa informático
a primeira com a finalidade de delinear o perfil Microsoft Office Excel® 2007, apresentadas a seguir.
socioeconômico dos consumidores de vinhos espumantes,
com questões sobre dados pessoais, e a segunda, acerca
dos fatores motivadores e/ou inibidores do consumo desse
produto. Nessa segunda parte, duas questões de múltipla Resultados e Discussão
escolha foram propostas: uma sobre as motivações de
consumo e a outra sobre as inibições onde, em cada uma, Perfil socioeconômico dos consumidores
variados fatores foram listados e o indivíduo poderia de espumantes
selecionar aqueles que consideraria os mais relevantes Na análise do perfil socioeconômico dos respondentes,
para cada tema. não houve diferença de gênero (masculino e feminino, 50%
cada).
No último campo, o entrevistado tinha a opção de enviar
Tabela 1. Faixa etária dos consumidores de vinho Tabela 2. Faixa de renda mensal dos consumidores
espumante. de vinho espumante.
Tabela 3. Nível de escolaridade dos consumidores Tabela 4. Estado civil dos consumidores de
de vinho espumante. vinho espumante.
Referências
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KOTLER, P.; KELLER, K.L. Administração de marketing. 12.
ed. São Paulo: Pearson, 2006.
Resumo
s agricultores familiares têm enfrentado, particularmente no setor
vitivinícola, diversos obstáculos para se manter no mercado, abrir novas
frentes e criar possibilidade de expansão. Um de seus grandes problemas
refere-se à legislação vigente. Diante desse cenário, busca-se verificar como
se deu a construção, tramitação e sanção da lei do vinho artesanal no Brasil. A
partir da pergunta problema, o presente artigo tem como objetivo analisar quais
conteúdos foram trabalhados no âmbito jurídico, referentes à regulamentação
do vinho artesanal, bem como quais perspectivas e desafios foram enfrentados
pelos atores da cadeia produtiva, para que a construção dessa nova norma fosse
realizada, em que contexto se deu sua discussão e que possíveis resultados
podem ser esperados de sua publicação. Pode-se concluir que houve um grande
1
Inedi/Cesuca
concerto no âmbito do setor vitivinícola, com participação de diversos atores,
94935-630 Cachoeirinha, RS
na elaboração dessa norma, o que resultou em um texto final possível, mas que
2
Unesc
88806-000 Criciúma, SC acabou sendo vetado em um ponto relevante quando da sanção presidencial.
3
Unicamp
O resultado final é a Lei Federal nº 12.959/2014, que alterou a Lei do Vinho –
13083-970 Campinas, SP Lei Federal nº 7.678/1988, com o objetivo de tipificar o vinho produzido por
agricultor familiar.
Autor correspondente:
kellybruch@gmail.com Palavras-chave: vitivinicultura, agricultura familiar, tradição, desenvolvimento,
vinho colonial.
80 Rev. Bras. Vitic. Enol., n.6, p.80-88, 2014
Abstract
Introdução
Os agricultores familiares produtores de vinhos têm vinícola brasileira, em fase de expansão e modernização,
enfrentado diversos obstáculos no novo mercado global. e dos vinhos importados de todas as partes do mundo,
De um lado, os produtos artesanais tradicionais tendem a com especiais facilidades para os provenientes dos países
ser desvalorizados pela grande distribuição, e o artesanato integrantes do Mercosul e de outros com os quais esse
tende a ser eliminado pela concorrência de escala, que bloco regional mantém acordo de preferência tarifária.
coloca nos mercados produtos mais baratos e tem maior
capacidade para inovar e atender às demandas cada vez A viabilidade econômica dos produtores rurais,
mais diversificadas dos mercados contemporâneos. De particularmente de menor porte, está necessariamente
outro lado, alguns produtos artesanais logram se valorizar correlacionada ao seu contexto local (BUAINAIN; GARCIA,
justamente pela natureza diferenciada de seus produtos 2013), e essas condições não têm sido muito favoráveis
que, apesar da tradição que o acompanha, precisa ser aos produtores artesanais de vinho. Tradicionalmente os
construída para ser reconhecida no e pelo mercado. agricultores familiares lograram explorar as vantagens
Uma alternativa comum tem sido estender o período de associadas à disponibilidade de mão de obra familiar e
sobrevivência, aceitando a desvalorização e vendendo o baixo custo de gestão do trabalho familiar em setores
a produção artesanal por preços relativos cada vez mais intensivos em trabalho, como é o caso da produção de
baixos. É isso que explica a forte correlação, observável vinho (BUAINAIN et al., 2009). Esse quadro vem mudando
empiricamente, entre comunidades de artesões e pobreza radicalmente no período mais recente, com a saída dos
no meio rural, notadamente no Nordeste e Norte do Brasil. jovens filhos dos agricultores familiares para as cidades. Em
muitos casos, o que era vantagem virou desvantagem, uma
Os vitivinicultores artesanais, que têm potencial para vez que o custo da mão de obra assalariada elevou-se e os
valorizar seu produto, necessitam apoio de politicas agricultores familiares não se capitalizaram para aumentar
públicas para se inserir em nichos de mercado do setor de a produtividade do trabalho por meio da mecanização e de
forma competitiva. Sem o reconhecimento da condição processos poupadores de mão de obra, que sempre fora
econômica especial que os caracteriza, dificilmente um recurso abundante.
poderão enfrentar a crescente concorrência da indústria
Diante desse contexto, pergunta-se: como se dá a Por um lado, aparentemente é necessário que o produtor
construção, tramitação e sanção da lei do vinho artesanal de vinhos possua empresa legalmente constituída e
no contexto da vitivinicultura brasileira? possuidora do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)
para obter o registro de estabelecimento no Mapa, bem
A partir da pergunta problema, o presente artigo tem como o registro de seus produtos. Por outro lado, possuir
Outra consequência, bastante onerosa, é que essa produção I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4
artesanal hoje é equiparada à produção industrial, o que (quatro) módulos fiscais; II - utilize predominantemente
torna obrigatório o recolhimento de todos os tributos e mão de obra da própria família nas atividades econômicas
cumprimento das demais obrigações legais, notadamente do seu estabelecimento ou empreendimento; III - tenha
sanitárias e ambientais, e que contribuem para inviabilizar percentual mínimo da renda familiar originada de atividades
a produção. econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento,
na forma definida pelo Poder Executivo; IV - dirija seu
Do direito societário ao direito social: a obrigatoriedade estabelecimento ou empreendimento com sua família.
do CNPJ leva à perda da seguridade social?
No âmbito da seguridade social, segundo dispõe o artigo 12, Dessa forma a industrialização rudimentar, que compreende
inciso VII, da Lei n° 8.212/1991 (BRASIL, 1991), considerando- a fermentação, permite englobar a produção de vinhos
se as alterações feitas pela Lei n° 11.718/2008 (BRASIL, e derivados. Todavia, o § 11 do Artigo 25 considera o
2008), considera-se segurado obrigatório da Previdência processo de beneficiamento ou industrialização artesanal
Social o segurado especial. Entende-se, nessa condição, “a aquele realizado diretamente pelo próprio produtor rural
pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado pessoa física, desde que não esteja sujeito à incidência do
urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Ao contrário
em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio do anterior, este parágrafo, ao excluir os produtos que
eventual de terceiros a título de mútua colaboração”, que estejam sujeitos ao IPI, exclui os vinhos e derivados.
seja produtor, podendo ser este “proprietário, usufrutuário,
possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgado, Da maneira como se encontra a legislação vigente, o
comodatário ou arrendatário rural”, desde que explore trabalhador rural segurado especial, apenas poderia
atividade: (1) “agropecuária em área de até 4 (quatro) legalizar a sua produção se constituísse uma empresa –
módulos fiscais”. De outra forma, não descaracteriza (§9) perdendo, nesse caso, sua condição de segurado especial,
a condição de segurado especial: (V) a utilização pelo ou se constituísse uma cooperativa – não perdendo
próprio grupo familiar, na exploração da atividade, de essa condição. Deve-se recordar, todavia, que para se
processo de beneficiamento ou industrialização artesanal, constituir uma Cooperativa, conforme dispõe a Lei Federal
na forma do § 11 do art. 25 desta Lei; e (VI) – a associação nº 5.764/1971 (BRASIL, 1971) e todas as posteriores
em cooperativa agropecuária. O § 3do Art. 25 disciplina alterações, é necessário, primeiramente, a concordância de
que integram a produção, para os efeitos deste artigo, 21 cooperados. Depois disso, todos os custos envolvidos na
os produtos de origem animal ou vegetal, em estado constituição da referida empresa, posto que a cooperativa
natural ou submetidos a processos de beneficiamento ou em termos constitutivos é tão ou mais complexa que esta, e
industrialização rudimentar, assim compreendidos, entre após toda a tributação que, embora diferenciada, também
outros, os processos de lavagem, limpeza, descaroçamento, incide sobre a produção (KRUEGER, 2009).
pilagem, descascamento, lenhamento, pasteurização,
resfriamento, secagem, fermentação, embalagem, Ocorre que para muitos trabalhadores rurais a produção
cristalização, fundição, carvoejamento, cozimento, de vinho não é a atividade principal da propriedade
destilação, moagem, torrefação, bem como os subprodutos rural, nem tão pouco se constitui em um volume ou valor
e os resíduos obtidos através desses processos. considerável, o que inviabilizaria a constituição de uma
empresa. Todavia, há outras formas de beneficiamento ou
Entende-se por economia familiar “a atividade em que o industrialização artesanal que permitem ao trabalhador
trabalho dos membros da família é indispensável à própria rural conservar a sua condição e, legalmente, colocar o
subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico seu produto no mercado, como a produção de queijos e
Nesse sentido, um dos questionamentos se dirige à Dessa forma, estaria em tese superada a necessidade de
possibilidade de estender essa exceção a esses produtores uma forma mais simplificada de se obter o licenciamento
por meio de uma alteração na Lei n° 8.212/1991 (BRASIL, ambiental para o agricultor familiar. Mas seu requerimento
1991), na qual se excetuaria a restrição prevista no parágrafo não está dispensado.
11 do art. 25, para englobar na definição de processo de
beneficiamento ou industrialização artesanal a elaboração
de vinhos e derivados da uva e do vinho. Resultados: a construção da lei
do vinho artesanal
Em resposta, visando resolver essa questão, foi publicada a
Lei Federal nº 12.873/2013 (BRASIL, 2013), a qual, entre seus Considerando o que foi levantado pelo grupo de estudo,
inúmeros dispositivos esparsos e destinados a assuntos verificou-se que alguns aspectos já se encontravam ou
bastante diferenciados, estabeleceu em seu artigo 4°, que vieram a ser sanados. No entanto, outros aspectos ainda
“não perderá a condição de segurando especial desde precisavam de uma regulamentação. Estes se focam
que, mantido o exercício da sua atividade rural, o qual haja especialmente na questão da obrigatoriedade de se
incidência de IPI”. Nesse caso, o problema foi resolvido estabelecer uma Pessoa Jurídica e, consequentemente,
por meio da alteração da legislação da seguridade social exigir-se o CNPJ desta, bem como em suas consequências.
vigente.
Segundo divulgado pelo GT, o objetivo foi focado na
Direito ambiental e vinho artesanal construção de um documento referente ao tema, no
Com relação à legislação ambiental, segundo passo para qual ficasse claro que se buscava uma regulamentação
garantir a perfeita regularização do produtor, verificou- diferenciada para o produtor do vinho artesanal, dentro
se que foi editada a Resolução Conama n° 385, de 27 de de seu contexto da agricultura familiar (EMBRAPA, 2012).
dezembro de 2006 (MINISTÉRIO, 2006), a qual “estabelece Todavia, o GT buscava deixar claro que não se abriria
procedimentos a serem adotados para o licenciamento mão de: a) respeitar a legislação em termos sanitários,
ambiental de agroindústrias de pequeno porte e baixo ambientais e tributários; b) resguardar a venda direta do
potencial de impacto ambiental”. produtor ao consumidor; c) definir uma forma de limitar
o volume máximo de produção; d) levar em consideração
Segundo dispõe a resolução, a agroindústria de pequeno os aspectos culturais desse produtor que vem fazendo
porte e baixo potencial de impacto ambiental é todo o o vinho na colônia – para que continue a fazê-lo, sendo
estabelecimento que: I - tenha área construída de até 250 valorizado, mas com os devidos controles e legalizado; e)
m²; II - beneficie e/ou transforme produtos provenientes respeitar os padrões de identidade e qualidade – inclusive
de explorações agrícolas, pecuárias, pesqueiras, aquícolas, com a possibilidade de criar um padrão de identidade e
extrativistas e florestais não-madeireiros, abrangendo qualidade específico para o vinho colonial/artesanal; f )
desde processos simples, como secagem, classificação, produção própria da uva; g) atender às exigências sanitárias;
limpeza e embalagem, até processos que incluem h) ter obrigatoriamente responsável técnico, embora sem
operações físicas, químicas ou biológicas, de baixo impacto exclusividade; i) ter um cadastro de todos os produtores
sobre o meio ambiente. e produtos; j) ter assistência técnica obrigatoriamente;
k) fornecer capacitação e treinamento aos produtores,
Para requerer a sua licença ambiental de forma especialmente boas práticas agrícolas e de fabricação; l)
simplificada, o empreendedor deverá apresentar a definir que tipo de vinho poderá ser denominado como
seguinte documentação ao órgão ambiental responsável artesanal e garantir-se a viabilidade da produção artesanal e
pelo licenciamento: I - requerimento de licença ambiental; sua sustentabilidade, mas dentro da legalidade. Alguns dos
II - projeto contendo descrição do empreendimento, participantes, inclusive, argumentavam que não haveria
contemplando sua localização, bem como o detalhamento necessidade de se alterar a Lei do Vinho, posto que os
do sistema de Controle de Poluição e Efluentes, maiores problemas encontravam-se na legislação tributária
acompanhado da Anotação de Responsabilidade Técnica e previdenciária, ou ainda na interpretação estadual acerca
(ART); III - certidão de uso do solo expedida pelo município; do enquadramento da atividade de elaboração do vinho
e IV - comprovação de origem legal quando a matéria (EMBRAPA, 2012).
prima for de origem extrativista, quando couber. Ressalte-
se que as agroindústrias de pequeno porte e baixo impacto Concomitante a isso, foram apresentados dois Projetos de
ambiental já existentes, poderão se regularizar mediante a Lei junto à Câmara dos Deputados. O primeiro, o Projeto
Primeiramente, verificou-se que a legislação ambiental BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República
já se encontrava, de certa forma, em conformidade com Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.
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